Marcel Mauss

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Marcel Mauss foi um autor chave na tradição francesa de antropologia. Ele impulsionou o deslocamento do eixo da etnologia (comparativa), para o trabalho de campo, desenvolvido pelos seus alunos e discípulos.

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Marcel Mauss (1872-1950)

A tradição Francesa de Antropologia

Prof. Gabriel O. AlvarezMétodo Etnográfico

Emile Durkheim1858-1917

Discípulo de Saint Simon

Formado na École Normale Supérieure

Da divisão do trabalho social, 1893;

Regras do método sociológico, 1895;

O suicídio, 1897;

As formas elementares de vida religiosa, 1912;

Karl Marx (1818-1883)

A ideologia alemã, 1845-1846;

Manifesto comunista, 1848

O 18 brumário de Luís Bonaparte, 1852

Grundrisse, 1857-1858;

O Capital: crítica da economia política (Livro I: O processo de produção do capital),  1867

Max Weber (1864-1920)

A ética protestante e o espírito do capitalismo, 1904-1905

Economia e Sociedade

Ciência e Política : duas vocações.

Lucien Lévy-Bruhl (1857-1939)

Robert Hertz (1881-1915)

Emile Durkheim1858-1917

Formas elementares da vida religiosa -

Formas elementares

Fato social

Totalidade

Valores

Categorias do espírito humano

Crítica a Kant, a partir de Renouvier e Hamelin.

Categorias do entendimento

• Kant (1724-1804)

– Dados do sensível (apriori)• Espaço• tempo

– Categorias do entendimento• Quantidade• Qualidade• Reação• modalidade

• Método– Anatomia comparada– Filologia– Fato social (social x social)– Fato social total

• Tradição cultural

Categorias

• Aristóteles: substância, quantidade, qualidade, relação, lugar, tempo, estado, hábito, ação e paixão.

• Classificação • Totalidade, espaço, tempo• Dádiva, pessoa, técnicas do corpo• Direita/esquerda• Morte

• Fato social total• Tradição cultural

• Etnografia/Etnologia

Manuel d´Ethnographie (Marcel Mauss, 1947)

• Observar e classificar os fenômenos sociais

• A teoria oferece um valor heurístico, de descoberta

• Os fatos sociais são de abordagem histórica; os fenômenos sociais são outro fenômeno, à luz do ideal e da regra.

• Etnografia comparada como comparação de fatos e não de culturas.

Dificuldades da enquete etnográfica

• Dificuldades subjetivas• Perigo da observação superficial

• Dificuldades materiais– Falso apelo das informações conscientes– Coleção e catalogação dos objetos. Um catalogo de

encantamentos é um dos melhores meios de construir um catálogo de rituais

Princípios de observação

• Expor os fatos sociais como são observados. Evitar hipóteses históricas ou outras que são perigosas e inúteis.

• Método filológico. Colecionar as variantes e comparar

• Exaustividade. Não negligenciar nenhum detalhe. (x ex. na preparação de uma poção, notar a as condições de qualidade e as partes das ervas mágicas).

• Não só descrever todo, mas proceder a uma analise profunda. Estudar a lexicografia, as relações entre as classes nominais e os objetos; fenômenos jurídicos, animais heráldicos, etc. Interdições rituais.

• Elaborar gráficos e mapas• Levantar o parentesco, com árvores

genealógicas, com as nomenclaturas de parentesco.

Métodos de observação

• Enquete extensiva (critica caráter superficial).• Etnografia intensiva

– Três ou quatro anos para o estudo intensivo de uma tribo.

Crítica a caricaturas etnográficas – estudos parciais.

Plano de estudo de uma sociedade

• Morfologia social• Fisiologia social• Fenômenos generais

• Morfologia social– Demografia– Geografia humana– tecnomorfologia

• Fisiologia social– Técnicas– Estética– Economia– Direito– Religião– Ciências

• Fenômenos Generais– Língua– Fenômenos nacionais– Fenômenos internacionais– Etologia coletiva

Métodos de observação

• Missão de pesquisa• Jornal de route (diário de campo)• Inventários• Fichas descritivas

– Uso e fabricação do objeto, acompanhado de anexo fotográfico e anexo cinematográfico (objeto em movimento).

• Método genealógico– Permite remontar 100 a 150 anos com quatro

gerações, inclusive localizações geográficas.– Sub grupos, tribos, clãs, fratrias.– Método genealógico consiste em desenhar a

genealogia dos indivíduos censados. Os nomes dos parentes e dos aliados aparecerá imediatamente. Se recuperam as historias individuais, os termos de parentesco.

Morfologia Social

• Uma sociedade é um grupo social, geralmente nomeado por sim mesmo e pelos outros, mais ou menos grande, pode conter grupos secundário, no mínimo de dois, vivendo ordinariamente num lugar determinado, com uma linguagem, uma constituição e sobretudo uma tradição que lhe é própria.

Uma Categoria do Espírito Humano: a noção de Pessoa, a de

“Eu”.

• Marcel Mauss. 2003. “Uma categoria do Espírito Humano: a noção de pessoa, a de Eu”. In Sociologia e Antropologia. São Paulo: Cosac & Naify. [1938]

• A idéia de “pessoa”, do “Eu”, como uma das categorias do espírito humano que surgiu e cresceu ao longo dos séculos, (ou seja, não é inata).

• Categorias do espírito humano.• Ponto de partida, lista de categorias

aristotélicas.• Mana (como causalidade).• Gênero, todo, tempo, espaço, substância• Pre-lógico (Lévy-Bruhl)

II. O personagem e o lugar da pessoa

• Pueblo Zuñi (Frank Hamilton Cushing). Existência de um número determinado de prenomes por clã; definição do papel exato que cada um desempenha na figuração do clã, e expresso por esse nome

• Nome do clã, parte do totem, hierarquia• “(...) os termos de parentesco, (...) são

dispositivos para determinar a posição ou autoridade relativa como significados pela relação de idade, mais velho ou mais novo, da pessoa tratada ou referida pelo termo de parentesco”.

• Sistema de ordenamento para cerimônia, rituais, conselho.

• O clã é concebido como constituido de um certo número de pessoas, na verdade personagens; e, por outro, o papel de todos esses personagens é realmente figurar, cada um por sua parte, a totalidade prefigurada do clã.

Uma noção de pessoa, do individuo, confundido com seu clã mas já destacado dele, pela máscara, por seu titulo, sua posição, seu papel, sua propriedade, sua sobrevivência e seu reaparecimento na terra num dos seus descendentes dotados das mesmas posições, prenomes, títulos, direitos e funções

Mauss, 2003:375.

Noroeste Americano: Kwakiutl, Tiling, Haida• Sistema social e

religioso no qual, numa imensa troca de direitos, de prestações, de bens, de danças, de cerimônias, de privilégios, de posições, as pessoas e os grupos sociais são simultaneamente satisfeitos

• Vê-se muito nitidamente como, a partir das classes e dos clãs, ordenam-se as “pessoas humanas”, e como, a partir destas ordenam-se os gestos dos atores num drama.

• Mas desta vez, o drama é mais do que estético. É religioso, e ao mesmo tempo cósmico, mitológico, social e pessoal” (Mauss, 2003:376)

• Basta matar seu possuidor – ou apoderar-se de um dos aparatos do ritual, vestes, máscaras- para herdar seus nomes, seus bens, seus cargos, seus antepassados, sua pessoa –no sentido pleno da palavra.

• Mascaras com portinholas revela vários seres (totens superpostos) que o portados da máscara personifica.

• “Tudo é brasonado, animado, faz parte da persona do proprietário e da família, da res de seu clã”– Totem poles.

Austrália• Clã ou totem é representado pela espécie animal e não pelos indivíduos. Sob seu aspecto homem, ele é o fruto das reencarnações dos espíritos dispersos que renascem perpetuamente no clã.

• As máscaras temporárias são simplesmente cerimônias de máscaras não permanentes. Nelas, o homem fabrica-se uma personalidade sobreposta, verdadeira no caso do ritual, fingida no caso do jogo.

• Um imenso número conjunto de sociedades chegou á noção de personagem, de papel cumprido pelo indivíduo em dramas sagrados, assim como ele desempenha um papel na vida familiar.

III. A persona latina

• Noção de persona latina: máscara, máscara trágica, máscara ritual, máscara ancestral.

• Duas sociedades a inventaram para dissolvê-la. A Índia bramânica e búdica e China antiga.

A Índia• Ahamkara, a fabricação do

eu. Aham = Eu (ego).• O Samkhyla, considera que

o “Eu” é algo ilusório. O Budismo decretava ser esse apenas um composto, divisível, separável do skandha e buscava seu aniquilamento no monge.

China• A ordem dos nascimentos, a

hierarquia e os jogos das classes sociais fixam os nomes, a forma de vida do indivíduo, sua “face”.

• O nome, o ming, é um coletivo, é uma coisa vinda de alhures: o antepassado correspondente o usou, assim como voltara a usá-lo o descendente do portador.

IV. A persona

• Romanos, latinos• A “pessoa” é mais do que um elemento de

organização, mais do que um nome ou direito a um personagem e a uma máscara ritual, ela é um fato fundamental do direito.

• Juristas: há somente as personae, as res e as actiones.

• Etimologistas latinos. Persona vindo de per/sonare. Máscara.

Etruria, (etruscos)

• Mascaras de ancestrais

• Personae, máscaras e nomes, direitos individuais a ritos, privilégios.

• Daí à noção de pessoa há somente um passo.

• Direito do pater de matar seus filhos, seus sui, traduzem a aquisição da persona pelos filhos, ainda em vida do pai.

• Todos os homens livres de Roma foram cidadãos romanos, todos tiveram persona civil, alguns tornaram-se personae religiosas; algumas máscaras, nomes e rituais permaneceram ligados a algumas famílias.

• Cidadão romano tinha direito ao nomen, ao praenomen e ao cognomem, que sua gens lhe atribui.

• Prenomem, traduz ordem de nascimento (ex. Primus, Secundus)

• Nome (nomen-numen) sagrado da gens.• Cognomen, sobrenome, (não apelido). Não

havia o direito de tomar, de usar o prenomem de outra gens que não a sua.

• O cognomen, tem outra história, acabou-se por confundir o cognomen, o sobrenome, com a imago, a máscara de cera moldada sobre a face do ancestral morto.

• Senado romano concebeu-se como composto por um número determinado de patres que representavam as pessoas, as imagens dos seus antepassados.

• Paralelamente, a palavra persona, personagem artificial, máscara e papel da comédia e da tragédia, representando o embuste, a hipocrisia –o estranho ao “Eu”- prosseguia seu caminho. Mas o caráter pessoal do direito estava fundado, e persona também havia se tornado sinônimo da verdadeira natureza do individuo (Maus, 2003: 389).

A pessoa: fato moral

• Grécia• Estóicos, moral voluntarista, moral

voluntarista, podia enriquecer a noção romana de pessoa.

• A palavra πρόσωπον tinha o mesmo sentido que persona máscara, e pode significar também o personagem que cada um quer ser, seu caráter, a verdadeira face.

• No século II antes de nossa era, adquire o sentido de persona.

• Estende-se a palavra πρόσωπον ao individuo em sua natureza nua, arrancada toda máscara, conservando-se, em contraposição, o sentido do artifício: o sentido do que é a intimidade dessa pessoa e o sentido do que é personagem.

• Entre o sec. II A.C. a séc. IV D.C. πρόσωπον será tão somente persona.

• Se acrescenta o sentido moral ao sentido jurídico , um sentido de ser consciente, independente, autônomo, livre, responsável.

• A consciência moral introduz a consciência na concepção jurídica do direito.

A pessoa cristã

• Foram os cristãos que fizeram da pessoa moral uma entidade metafísica, depois de terem sentido sua força religiosa.

• Passagem da noção de persona, homem investido de um estado, à noção de homem simplesmente, de pessoa humana.

• A noção de pessoa moral se impunha a todas as personalidades fictícias que chamama-mos ainda com esse nome de pessoas morais: corporações, fundações religiosas, etc.

• “Já não sois, um frente ao outro, nem judeu, nem grego, nem escravo, nem livre, nem homem, nem mulher pois todos um, εζς, em Jesus Cristo” (Galatas, 3, 28).

• “Já não sois, um frente ao outro, nem judeu, nem grego, nem escravo, nem livre, nem homem, nem mulher pois todos um, εζς, em Jesus Cristo” (Galatas, 3, 28).

• Estava colocada a questão da unidade da pessoa, da unidade da Igreja, em relação à unidade de Deus, εζς.

• Unita in tres personas, uma persona in duas naturas (Concilio de Nicea).

• A partir da noção de uno que a noção de pessoa é criada, (...) a propósito das pessoas divinas, mas simultaneamente da pessoa humana, substância e modo, corpo e alma, consciência e ato.

• Casiodoro: Persona – substantia rationalis individua. A pessoa é uma substancia racional indivisível, individual.

VII. A pessoa, ser psicológico

• Categoria do Eu, identificar-se com o conhecimento de si, com a consciência psicológica.

• Descartes. Cogito ergo sum.• Movimentos sectários (séc. XVII e XVIII). Questão

dada liberdade individual, da consciência individual e do direito de comunicar-se diretamente com deus.

• Irmãos Morávios, puritanos, wesleyanos, pietistas., Noção de pessoa = o Eu; o Eu = a consciência.

• Hume. Na alma havia apenas estados de consciência, percepções. A noção de Eu como categoria fundamental da consciência.

• Kant (pietista). O Eu indivissível. Colocou a questão de saber se o “Eu” é uma categoria.

• Fitche fez da categoria do “Eu”, condição da consciência e da ciência.

• “Eu”, eco das Declarações dos Direitos.

Conclusão

• De uma simples mascarada à mascara; de um personagem a uma pessoa, a um nome, a um indivíduo; deste a um ser com valor metafísico e moral; de uma consciência moral a um ser sagrado; deste a uma forma fundamental do pensamento e da ação; foi assim que o percurso se realizou (Mauss, 2003:397).

• Quem pode mesmo dizer que essa “categoria”, que todos aqui acreditamos estabelecida, sera sempre reconhecida como tal....

Sigmund Freud (1856-1939)

André Breton1896-1966

1916 – Dadaismo

1924 – Manifesto Surrealista

Antonine Artaud (1896-1948)

• Quem pode mesmo dizer que essa “categoria”, que todos aqui acreditamos estabelecida, será sempre reconhecida como tal....