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7/23/2019 Lyotard Jean-Francois O Pos-moderno 3a Ed
1/73
JEAN-FRANOI
o PS-MOU 11111111111U) 066963
\ Contribuio discusso internacional sobre aquesto da legitimidade: o que permite dizer, hoje,que uma lei justa, um enunciado verdadeiro? Exis-tiram os grandes relatos, a emancipao do cida-do, a realizao do esprito, a sociedade semclasses. A idade moderna recorreu a eles para legi-timar ou criticar seussaberes e seus atos.
O homem ps-moderno no acredita mais nisto.Osdecisores lhe oferecem como per$pectiva o au-mento do poder e a pacificao pela transparn-cia comunicacional. Mas ele sabe que o saber,
. qu,ando se torna mercadoria informacional, uma ~:
foMe de lucros e um meio de decidir e controlar.Onde reside a legitimidade, ap9s os relatos? Namelhor operatividade do sistema? Eum critrio tec-nolgico, ele no permite julgar o verdadeiro e o
justo. No consenso? Masa inveno sefaz no dissen- ,timento. ~
Porque no neste ltimo? A sociedade que vemergue-se menos de uma antropologia newtoniana(como.o estruturalismo ou a teoria dos sistemas) emais de uma pragmtica das partculas de lingua-gem. . .
. O saber ps-moderno no somente o instru-mento dos poderes: ele nos refina'a senSib;.i1idade
para as diferenas e nos refora a capacid de desuportar o incomensurvel. Ele mesmo no ncon-tra sua razo na homologia dosexperts, mas na pa- Iralogia dos inventores. (
f agora: uma legitimao do vnculo, sociaf, .uma sociedade justa,seria praticv:!fseQundo umparadoxo anlogo? Emque este co~istina?
JEAN-FRANCOIS LYOTARD
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066963
JEAN FRANC06
FOARD
O
POS
MODERNO
Contribuio
discusso
internacional sobre a
questo
da
legitimidade:
o
que permite
dizer, hoje,
que um a
lei
justa,
um enunciado verdadeiro?
Exis
t iram os
grandes
relatos,
a emancipao do cida
do,
a
realizao do esprito, a
sociedade
sem
classes.
A idade
moderna recorreu
a
eles
para
legi
timar
ou criticar
seus
saberes e
seus
atos.
Ohomem
ps-moderno
noacreditamais nisto.
Os decisores lhe
oferecem
como perspectiva
o au
mento do
poder
e a
pacificao
pela transparn
cia comunicacional. Mas ele sabe que
o
saber,
quando se
torna
mercadoria
informacional,
um a
fonte
de
lucros
e
um
meio
de
decidir
e
controlar.
Onde
residea
legitimidade,
aps
os relatos?
Na
melhor
operatividade
do
sistema?
um
critrio tec-
nolgico, ele no
permite
julgar o
verdadeiro
e
o
justo.
No consenso? Masa inveno se faz
no
dissen
timento.
Por
que
no
neste
ltimo? A
sociedade
qi
ergue-se menos
de um a
antropologia
newt
como
o estruturalismo
ou
a teoria dos
sistemas
e
mais
de um a pragmtica das
partculas
de
lingua
gem.
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? edio
ue
vem
oniana
saber
ps-moderno
no
somente o
instru
mento dos
poderes:
ele nos refina
a
sensibilidade
para
as
diferenas
e
nos
refora
a
capacidade
de
suportar
o
incomensurvel.
Ele mesmo
no
ncon-
tra sua razo
na
homologia dos
experts
mas
na
pa
ralogia
dos
inventores.
E
agora:
uma legitimao
do vnculo
social,'
um a
sociedade
justa,
seria
praticvel
segundo
um
paradoxo
anlogo? Em
que
este consistiria?
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7/23/2019 Lyotard Jean-Francois O Pos-moderno 3a Ed
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Jean-Franois Lyotard poucoconhecido entre nos. Ativo, contes-tador, adversrio declarado dosmodismos orquestrados pelos massmedia, provavelmente um dosmais brilhantes filsofos da sua gera-
N id 1924 i iti
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M
Jean-Franois
Lyotard
pouco
conhecido
entre nos.
Ativo,
contes-
tador,
adversrio
declarado
dos
modismos
orquestrados pelos
mass
media
provavelmente
um
dos
mais
brilhantes
filsofos da
sua
gera
7/23/2019 Lyotard Jean-Francois O Pos-moderno 3a Ed
3/73
tica radical: a abolio definitiva daidia de verdade que durante mui--tos sculos tem sido uma das princi-pais ferramentas do poder. Para Lyo-tard, portanto, a tarefa principal do ~filsofo contemporneo a de I,."acelerar" a decadncia dessaidia, e nesse sentido defende um"Niilismo ativo". Nietzsche, por con-seguinte, est no horizonte dessas
reflexes.
EmO ps-moderno,'importante li-vro publicado na Frana em 1979,Lyotard leva adiante o projeto de
acelerar a decadncia da idia deverdade, pelo menos tal como ela
tica radical:
a
abolio definitiva
da
idia
de
verdade
que
durante
mui
tos
sculos
tem
sido
uma
das
princi
pais
ferramentas
do
poder.
Para
Lyo
tard,
portanto,
a
tarefa
principal
do
filsofo
contemporneo
a de
ac elerar
a decadncia
dessa
idia,
e
nesse
sentido
defende
um
Niilismo ativo.
Nietzsche,
por
con
seguinte,
est
no horizonte
dessas
reflexes.
Ir!
Em O
ps-moderno, importante
li
vro
publicado
na
Frana
em
1979,
Lyotard
leva
adiante o
projeto
de
acelerar
a
decadncia da
idia
de
verdade,
pelo
menos tal
como ela
7/23/2019 Lyotard Jean-Francois O Pos-moderno 3a Ed
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Jean-Franois Lyotard
o ps-moderno
TraduoRICARDO CORRA BARBOSA
J_o-JOS OLYMPIO EDITORARIO DE JANEIRO/1988
)
l
Jean-Franois
Lyotard
O
ps-moderno
T r ad u o
RICARDO
CORRA BARBOSA
3.a
edio
LO.
JOS
OLVMPIOJ
EDITORA
RIO
DE
JANEIRO/1988
1
/
7/23/2019 Lyotard Jean-Francois O Pos-moderno 3a Ed
5/73
Ttulo do origina! francs:LA CONDITION POSTMODERNE
'reitos adql:liridos para a lngua portuguesa, no Brasil, pelarOM. D RIA JOS OLYMPIO EDITORA S.A.
"I,/9 ~ Rua Marqus de Olinda, 12"'llio de neiro, RJ - Repblica Federativa do Brasil
ROQ. (' (
7/23/2019 Lyotard Jean-Francois O Pos-moderno 3a Ed
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"A verdade qu e a cincia favorecelI; aidia de uma fora intelectual rude e s-bria que torna francamente insuportveltodas as velhas representaes metafsicas
e morais da raa humana."
(Robert Musil,O homem sem qualidades, 11
COM o incio) por volta dos anos 50) da chamada "eraps-industrial))) assistimos a modificaes substantivas nos
estatutos d a cincia e da universidade. O mais importante
nesse processo de modificao) cuja origem encontra-se na"crise da cincia)) (e da verdade) ocorrida nos ltimos decnios do sc. XIX) no foi apenas a eventual substituiode uma "m)) concepo da cincia (a empirista) por exem-
plo) por outra qualquer. O que de fato vem desde entoocorrendo uma modificao na natureza mesma da cin-cia (e da universidade) provocacla pelo impacto das trans-
LOt'~aes tecnolgicas sobre o saber. A cot1JEincia maisimediata d esse novo cenriO/oi tornar ineficaz;o quadroterico proporcionado pelo filsofo (leia-se: metafsico)moderno que) como sabemos) elegeu como s~a questo aproblemtica do conhecimento) secundarizando as ques-tes ontolgicas em face s gnoseolgica s. M as) ao proce-der dessa maneira) fez da filosofia um metadiscurso delef.!,itimao da prpria cincia. A modernidade do quadro
terico em questo encontra-se exatamente no fato de con-ter certos rcits aos quais a cincia moderna teve que re-correr para legitimar-se como saber: dialtica do esprito)emancipao do sujeito razovel. ou do trabalhador) cres-
TEMPOS
PS-MODERNOS
A
verdade
que
a
cincia
favoreceu
a
id i a d e
uma fora intelectual rude
e
s
bria que
torna francamente
insuportvel
todas as velhas
representaes
metafsicas
e
morais da
raa
humana.
Robert
Musil,
O
homem
sem
qualidades,
E
CoAf
o
incio,
por
volta dos anos
50,
da
chamada
era
ps-industrial
,
assistimos
a
modificaes
substantivas
nos
estatutos
da
cincia
e da
universidade. O
mais
importante
nesse processo
de
modificao, cuja origem
encontra-se
na
crise
da
cincia
(e
da
verdade
)
ocorrida
nos
ltimos
de
cnios do
sc. XIX,
no
foi
apenas
a
eventual
substituio
de
uma
m
concepo
da cincia
(a
empirista,
por
exem
plo)
por
outra qualquer.
O
que
de
fato
vem desde ento
ocorrendo
uma
modificao
na natureza mesma
da cin
cia
(e
da
universidade
)
provocada
pelo
impac to das trans
formaes tecnolgicas
sobre o
saber.
A
consequncia
mais
imediata
desse
novo
cenrio
foi
tornar
ineficazA quadro
terico
proporcionado
pelo
filsofo
(leia-se: metafsico)
moderno que,
como
sabemos,
elegeu como
sua
questo
a
problemtica
do conhecimento,
secundarizando
as
ques
tes
ontolgicas em
face
s gnoseolgicas. Mas,
ao
proce
der dessa
maneira,
fez
da
filosofia
um
metadiscurso
de
legitimao da
prpria
cincia.
A modernidade
do
quadro
terico
em
questo encontra-se
exatamente
no
fato
de
con
ter
certos rcits aos
quais
a cincia
moderna
teve
que
re
correr
para
legitimar-se
como
saber: dialtica
do esprito,
emancipao
do sujeito
razovel
ou
do
trabalhador,
cres-
l
vii
7/23/2019 Lyotard Jean-Francois O Pos-moderno 3a Ed
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7/23/2019 Lyotard Jean-Francois O Pos-moderno 3a Ed
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(C'lIljico" certo tipo de informao traduzvel na lingua-W'!II (Iue essas mquinas utilizam ou ento compatvel comc/ri, () que se impe com o tratamento informtico da"mensagem" cientfica na verdade uma concepo ope-racional da cincia. Nesse contexto) a pesquisa cientficapassa a ser condicionada pelas possibilidades tcnicas damquina informtica) e o que escapa ou transcende tais
possibilidades tende a no ser operacional) j que no podeser traduzido em bits. Assim sendo) a atividade cientficadeix de ser aquela praxis que) segundo a avaliao hu-manstico-liberal) especulativa) investia' a formao do ((es-
prito") do "sujeito razovel") da ((pessoa humana" e atmesmo da "humanidade". Com ela) o que vem se impondo a concepo da cincia como tecnologia intelectual, ouseja) como valor de troca e) por isso mesmo) desvincula-da do produtor (cientista) e do consumidor. Uma prticasubmetida ao capital e ao Estado) atuando como essa par-ticular mercadoria chamada fora de produo.
Esse processo) fruto da corroso dos dispositivos mo-dernos de explicao da cincia) muito apropriadamentedesignado por Lyotard pela expresso "deslegitimao". Noentanto) ele no se d apenas em funo da corroso do((dispositivo especulativo" (Idealismo alemo) Hegel) oudo ((dispositivo de emancipao" (Iluminismo) Kant) Marx).Essa corroso (que Nietzsche entendeu ser uma das ra
zes do "Niilismo europeu")) muito bem captada em nar-rativas como Pais e filhos (Ivan Turgueniev)) O homemsem qualidades (Robert Musil) e Sonmbulos (Herman
Broch)) fez surgir novas linguagens que escapam s deter.minaes tericas dos dispositiv.os modernos e aceleram suaprpria deslegitimao. Da segunda lei da termodinmicil teoria da catstrofe) de Ren Thom; do simbolismo qu-mico s lgicas no-denotativas; da teoria dos quanta fsica ps-quntica; do uso do paradigma.._cibemtico-il1jor-mtico no estudo do cdigo gentico ao ressurgimento dacosmologia de observa~o; da crise da Weltanschauung
newtoniana recuperao da noo de ((acontecimento")"acaso"I na fsica) na biologia) na histria) o que temos a crise de uma noo central nos dispositivos de legiti-mao e no imaginrio modernos: a noo de ordem. Ecom ela assistimos rediscusso da noco de "desordem"/o qUf!por sua vez torna impossvel submeter todos os dis-cursos (ou iogos de lingHqgm..s) Uu.toridLlde. de um -meta-
dis.cur-s-o_quese-p~etendeaJl11.2e. do.llgJ1jJifl1te)J!g tg:~o e da p.rJ2l!rjq!.~~o) )sto l.-li1Jjl!frsg1...~_consistente.
Por isso mesmo que as delimitaes clssicas doscampos cientficos entram em crise) se desordenam. Desa-
parecem disciplinas) outras surgem da fuso de antigas;as velhas faculdades do lugar aos institutos de ensino e/oupesquisa jinanciadospela iniciativa privada) pelo poder p-blico ou por ambos. A universidade) por sua vez) enquan-to produtora de cincia) torna-se uma instituio sempre
mais importante no clculo estratgico-poltico dos Esta-dos atuais. Se a revoluo industrial nos mostrou que semriqueza no se tem tecnologia ou mesmo cincia) a condi-o ps-moderna nos vem mostrando que sem saber cien-tfico e tcnico no se tem riqueza. Mais do que isto: mos-tra-nos) atravs da concentrao massiva) nos pases ditos
ps-industriais) de bancos de dados sobre todos os sabereshoje disponveis) que a competio econmico-polticaentre as naes se dar daqui para frente no mais ,em
funo primordial da tonelagem anual de matria-prima ou
de manufaturados que possam eventualmente produzir.Dar-se-) sim) em funo da quantidade de informao
1 Cf. Communications, n. 18, 1972 (nmero especial sobre a retomadada noo de acontecimento pelas cincias contemporneas).2 Sobre a centralidade dessa rediscusso na atual fase da pesquisa cient-fica, cf. Edgar Morin, La methode I: La nature de Ia nature; La methode11: La vie de Ia vie e Le paradigme perdu: Ia nature humaine, todospela Bditions du Seuil, Paris em 1977, 1980 e 1973, respectivamente.
cientfico
certo tipo
de
informao
traduzvel
na
lingua
gem que
essas
mquinas
utilizam
ou
ento
compatvel
com
ela.
O
que se
impe
com
o
tratamento
informtico
da
mensagem
cientfica
na
verdade
uma
concepo
ope
racional
da
cincia. Nesse
contexto,
a
pesquisa
cientfica
passa
a ser
condicionada pelas
possibilidades
tcnicas
da
mquina informtica,
e o
que escapa
ou transcende tais
possibilidades
tende
a
no ser
operacional,
j
que
no
pode
ser
traduzido em bits.
Assim
sendo,
a
atividade cientfica
deixa
de ser
aquela praxis
que,
segundo
a avaliao
hu-
manstico-liberal,
especulativa,
investia
a
formao
do
es
prito
do sujeito
razovel
da pessoa
humana
e at
mesmo da
humanidade Com
ela,
o que vem
se impondo
a
concepo
da
cincia como
tecnologia intelectual,
ou
seja,
como
valor
de
troca
e,
por
isso
mesmo, desvincula
da do
produtor
(
cientista
)
e
do
consumidor . Uma
prtica
submetida
ao
capital
e ao
Estado,
atuando
como
essa
par
ticular
mercadoria
chamada
fora
de produo.
Esse processo,
fruto da
corroso
dos
dispositivos
mo
dernos de explicao
da
cincia,
muito apropriadamente
designado por
Lyotard
pela
expresso
deslegitimao
.
No
entanto, ele
no se
d
apenas em
funo
da
corroso
do
dispositivo
especulativo
(
Idealismo
alemo,
Hegel)
ou
do
dispositivo
de
emancipao
(
Iluminismo
,
Kant,
Marx).
Essa
corroso (que
Nietzsche entendeu ser um a
das ra
zes
do
Niilismo
europeu,
muito bem captada
em nar
rativas
como Pais
e
filhos
(Ivan
Lurgueniev),
O homem
sem qualidades
(Robert
Musil)
e Sonmbulos
(Herman
Broch),
fez
surgir novas
linguagens
que
escapam
as
deter
minaes
tericas
dos dispositivos
modernos
e aceleram sua
prpria
deslegitimao.
Da
segunda
lei
da
termodinmica
teoria
da catstrofe,
de
Ren
Thom;
do
simbolismo
qu
mico
as
lgicas
no-denotativas;
da
teoria dos
quanta
fsica
ps-quntica;
do
uso
do
paradigma
ciberntico-infor
mtico no
estudo do cdigo
gentico
ao ressurgimento
da
cosmologia
de
observao;
da
crise
da
Weltanschauung
newtoniana
recuperao da
noo
de
acontecimento
,
acaso na
fsica,
na
biologia,
na histria,
o
que
temos
a crise de
uma
noo
central
nos dispositivos de
legiti
mao e no
imaginrio
modernos: a
noo
de
ordem.
E
com ela
assistimos
rediscusso da
noo
de desordem
/
o que
por
sua
vez
torna impossvel
submeter
todos os
dis
cursos
(ou OQOS
de linguagens)
_autoridade
de
um meia
-
discurso
que.
se
-
pretende
a_sntese
do
significante.
do
sig:
nificado
e
da
prpria
significao,
isto
,
universal
_
e
consistente.
Por
isso
mesmo
que
as
delimitaes clssicas
dos
campos cientficos
entram
em
crise,
se
desordenam.
Desa
parecem
disciplinas,
outras
surgem
da
fuso
de
antigas;
as
velhas
faculdades
do lugar
aos
institutos de ensino
e/
ou
pesquisa
financiados
pela iniciativa
privada,
pelo
poder p
blico
ou
por
ambos. A
universidade,
por
sua vez,
enquan
to
produtora
de
cincia, torna-se
uma
instituio
sempre
mais
importante
no clculo
estratgico-poltico
dos
Esta
dos atuais.
Se a revoluo
industrial
nos mostrou
que
sem
riqueza
no se tem tecnologia ou
mesmo
cincia,
a condi
o
ps-moderna
nos
vem
mostrando
que sem
saber
cien
tfico
e tcnico
no
se
tem riqueza. Mais
do
que
isto: mos
tra-nos,
atravs da
concentrao
massiva,
nos
pases
ditos
ps-industriais,
de bancos
de dados
sobre todos
os
saberes
hoje disponveis,
que a
competio
econmico-poltica
entre as
naes
se dar
daqui para
frente
no
mais
,em
funo primordial da
tonelagem
anual
de
matria-prima
ou
de
manufaturados
que possam eventualmente produzir.
Dar-se-, sim,
em
funo
da
quantidade
de
informao
% 4
i
1
Cf.
Communications, n.
18,
1972
(nmero especial
sobre
a
retomada
da
noo
de
acontecimento
pelas
cincias
contemporneas).
2
Sobre
a centralidade dessa
rediscusso na
atual
fase da
pesquisa
cient
fica,
cf. Edgar
Morin,
La
methode
I:
La
nature de
la
nature;
La methode
II: La
vie de la vie
e
Le
paradigme perdu: la nature
humaine, todos
pela
Editions
du
Seuil,
Paris em
1977,
1980 e
1973, respectivamente.
xi
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7/23/2019 Lyotard Jean-Francois O Pos-moderno 3a Ed
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ESTE estudo tem por objeto a pOSlao do saber nas
sociedades mais desenvolvidas. Decidiu-se cham-Ia de
"ps-moderna". A palavra usada, no continente ameri-
ano, por socilogos e crticos. Designa o estado da cul-
tura aps as t!.illlsf9J::maes_que afetaram as regras dos
jogos da cind, da literatura e das artes a partir do final
do sculo XIX. Aqui, essas transformaes sero situadas
em relao crise d-_}"~ltgs.Originalmente, a cincia entra em conflito com os
relatos. Do ponto de vista de seus prprios critrios, a
maior parte destes ltimos revelam-se como fbulas. Mas,
na medida em que no se limite a enunciar regularidades
teis e que busque o verdadeiro, deve legitimar suas re-
gras de jogo. Assim, exerce sobre seu prprio estatuto
um discurso de legitimao, chamado filosofia. Quando
este metadiscurso recorre explicitamente a algum grande
relato, como a dialtica do esprito, a hermenutica do
sentido, a emancipao do sujeito racional ou trabalhador,
o desenvolvimento da riqueza, decide-se chamar "mo-derna" a cincia que a isto se refere para se legitimar.
E assim, por exemplo, que a regra do consenso entre o re-
metente e destinatrio de um enunciado com valor de
verdade ser tida como aceitvel, se ela se inscreve na
perspectiva de uma unanimidade possvel de mentalidades
racionais: foi este o relato das Luzes, onde o heri d o
saber. trabalha por um bom fim tico-poltico, a paz uni-
;
IN TRODU O
ESTE
estudo
tem
po r
objeto
a p osi o
do
saber
nas
sociedades
mais
desenvolvidas.
Decidiu-se
cham-la
de
ps-moderna.
A
palavra
usada,
no continente
ameri
cano, po r
socilogos
e
crticos.
Designa
o estado da cul
tura
aps as
transformaes
que
afetaram
as regras
dos
jogos da
cincia,
da
literatura
e
das
artes a partir do
final
do sculo
XIX.
Aqui,
essas
transformaes
sero
situadas
em
relao
crise
dos relatos.
Originalmente,
a
cincia
entra
em conflito
com os
relatos.
Do
ponto
de
vista de seus
prprios
critrios,
a
maior
parte
destes ltimos
revelam-se como fbulas.
Mas,
na
medida em
que
no se
limite
a
enunciar
regularidades
teis e
que
busque
o verdadeiro,
deve
legitimar
suas
re
gras de
jogo.
Assim,
exerce
sobre seu
prprio
estatuto
um
discurso
de legitimao,
chamado filosofia.
Quando
este
metadiscurso recorre
explicitamente a
algum grande
relato,
como
a
dialtica do esprito,
a
hermenutica do
sentido,
a emancipao
do sujeito racional ou
trabalhador,
o
desenvolvimento da
riqueza,
decide-se
chamar
mo
derna
a
cincia
que
a
isto
se
refere
para
se
legitimar.
assim, por exemplo,
que
a
regra
do
consenso entre
o re
metente e
destinatrio de um enunciado com
valor
de
verdade ser tida como aceitvel,
se ela se inscreve
na
perspectiva de uma
unanimidade
possvel de mentalidades
racionais:
foi
este
o
relato
das Luzes,
onde
o
heri
do
saber,
trabalha
por
um
bom
fim
tico-poltico,
a
paz
uni-
xv
7/23/2019 Lyotard Jean-Francois O Pos-moderno 3a Ed
11/73
7/23/2019 Lyotard Jean-Francois O Pos-moderno 3a Ed
12/73
Resta dizer que o_~pQsitQr ...~Ufl1_JiJ~f, e__n_YIllexpert. Este sabe o qu~..bee o que no sabe,aql.lel:no.Um conclui, o outro interroga; so dois jogos de lingua-gem. Aqui eles se encontram misturados, de modo quenenhum dos dois prevalece.
O filsofo ao menos pode se consolar dizendo quea anlise formal e pragmtica de certOs discursos de legi-
timao, filosficos e tico-polticos, que sustenta nossaExposio, ver a luz depois desta. Ela a ter introduzido,
por um atalho um pouco sociologizante, que, embora a re-duzindo, a situa.
Tal como est, ns a dedicamos ao Instituto Poli-tcnico de Filosofia da Universidade de Paris VIII (Vin-cennes), neste momento muito ps-moderno em que estauniversidade corre o risco de desaparecer e o institutode nascer.
o ps-moderno
Resta dizer que o
expositor
ura
filsofo,
e
no um
expert. Este sabe o
que sabe
e
o que
no
sabe,
aquele
no.
Ura
conclui,
o
outro
interroga; so
dois jogos de
lingua
gem.
Aqui
eles
se encontram
misturados,
de modo
que
nenhum dos dois prevalece.
O filsofo
ao
menos
pode se
consolar
dizendo
que
a anlise formal e
pragmtica
de
certos
discursos
de
legi
timao,
filosficos
e
tico-polticos,
que
sustenta
nossa
Exposio, ver
a
luz
depois
desta.
Ela
a
ter
introduzido,
por
um
atalho
um
pouco
sociologizante,
que,
embora
a
re
duzindo, a
situa.
Tal como est, ns
a
dedicamos
ao
Instituto
Poli
tcnico de
Filosofia
da Universidade
de Paris
VIII
(Vin
cennes), neste
momento
muito
ps-moderno
em
que
esta
universidade
corre o
risco
de
desaparecer
e o instituto
de
nascer.
O
ps-moderno
xviii
7/23/2019 Lyotard Jean-Francois O Pos-moderno 3a Ed
13/73
o CAMPO: O SABER NAS SOCIEDADESINFORMATIZADAS
NaSSA hiptese de trabalho a de que o saber, mudade estatuto ao mesmo tempo que as sociedades entram naidade dita ps-industrialeas. lJJturas na idade dita ps-moderna.l Esta passagem comeou desde pelo menos ofinal dos anos 50, marcando para a Europa o fim de suareconstruo. Foi mais ou menos rpida conforme os pa-ses e, nos pases, conforme os setores de atividade: donde
uma discronia geral, que no torna fcil o quadro deconjunto.2 Uma parte das descries no pode deixar deser conjectural. E sabe-se que imprudente conceder umcrdito excessivo futurologia.3
Em lugar de organizar um quadro que no poderser completo, partiremos de uma caracterstica que de-termina imediatamente nosso objeto. O saber cientfico uma espcie de discurso. Ora, pode-se dizer que h qua-renta anos as cincias e as tcnicas ditas de vanguardaversam sobre a linguagem: a fonologia e as teorias lin-
gsticas,4 os problemas da comunicao e a ciberntica,5as matemticas modernas e a informtica,6 os computadorese suas linguagens,? os problemas de traduo das lingua-gens e a busca de compatibilidades entre linguagens-mquinas,8 os problemas de memorizao e os bancos dedados,9 a telemtica e a instalao de terminais "inteli-
"10 dI' 11 , 1 .gentes, a para oxo ogIa: eIS aI a gumas provas eVI-dentes, e a lista no exaustiva.
1
O CAMPO :
O
SABER
NAS
SOCIEDADES
INFORMATIZADAS
NOSSA
hiptese
de trabalho
a
de que o
saber,
muda
de
estatuto ao
mesmo
tempo
que
as sociedades entram
na
idade
dita
ps-industrial
e
as
culturas
na idade
dita
ps-
moderna.1 Esta
passagem
comeou desde
pelo
menos
o
final
dos
anos
50,
marcando para a Europa
o
fim
de sua
reconstruo.
Foi
mais ou
menos
rpida conforme
os pa
ses e, nos
pases, conforme
os setores
de
atividade:
donde
uma
discronia
geral,
que
no
torna
fcil
o
quadro
de
conjunto.2
Uma
parte
das
descries
no
pode
deixar de
ser
conjectural.
E
sabe-se
que imprudente conceder
um
crdito excessivo
futurologia.3
Em lugar de
organizar
um
quadro
que
no
poder
ser
completo,
partiremos
de uma
caracterstica
que
de
termina imediatamente nosso
objeto.
O
saber
cientfico
uma
espcie
de discurso.
Ora,
pode-se dizer que h
qua
renta
anos
as cincias e as tcnicas
ditas
de
vanguarda
versam
sobre
a
linguagem:
a
fonologia e
as
teorias
lin
gusticas,4
os
problemas da
comunicao
e
a
ciberntica,5
as
matemticas
modernas
e a
informtica,6
os
computadores
e
suas
linguagens,7
os
problemas de
traduo
das lingua
gens
e a busca
de
compatibilidades entre linguagens-
mquinas,8
os problemas
de
memorizao
e
os bancos
de
dados,9
a telemtica
e a
instalao
de
terminais
inteli
gentes,10
a
paradoxologia:11
eis
a
algumas
provas
evi
dentes,
e a lista no
exaustiva.
3
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(: () I'~sl:Ido ser suplantada medida que seja reforado op"incpio inverso, segundo o qual a sociedade no existel' no progride a no ser que as meflsagens que nela cir-culem sejam ricas em informao e fceis. de decodificll~'O Estado comear a aparecer como um fator de opaCI-dade e de "rudo" para uma ideologia da "transparncia"comunicacional, que se relaciona estritamente com a comer-
cializao dos saberes. sob este ngulo que se arriscaa apresentar-se com uma nova acuidade o problema dasrelaes entre as instncias econmicas e as instnciasestatais.
J nos decnios anteriores, aquelas puderam pr emperigo a estabilidade destas graas s novas formas decirculao de capitais, s quais deu-se o nome genricode empresas multinacionais. Estas formas implicam qu~ asdecises relativas ao investimento escapam, pelo menos em
parte, ao controle dos Estados-naes.ll Com ~ tecnologiainformacional e telemtica, a questo corre o rISCOde tor-
nar-se ainda mais espinhosa. Admitamos, por exemplo,que uma firma como a IEM seja autorizada a ocupar umafaixa do campo orbital da Terra para implantar satlitesde comunicao e/ou de banco de dados. Quem ter acessoa isto? Quem definir os canais ou os dados proibidos? OEstado? Ou ele ser um usurio como os outros? Nova-mente, surgem problemas de direito, e atravs deles aquesto: querp saber?
A transformao da natureza do saber pode assim tersobre os poderes pblicos estabelecidos um efeito de re-torno tal que os obrigue a reconsiderar suas relaes de
direito e de fato com as grandes empresas e mais generi-camente com a sociedade civil. A reabertura do mercadomundial, a retomada de uma competio econmica ativa,o desaparecimento da hegemonia exclusiva do capitalismoamericano, o declnio da alternativa socialista, a abertura
provvel do mercado chins s trocas, e muitos outrosfatores, vm preparar os Estados, neste final dos anos 70,
6
para uma reVIsao serIa do papel que se habituaram a de-sempenhar desde os anos 30, que era de proteo e guia,e at de planificao dos investimentos.22 Neste contexto,as novas tecnologias, pelo fato de tornarem os dados teiss decises (portanto, os meios de controle) ainda maisinstveis e sujeitas pirataria, no podem seno exigirurgncia deste reexam~.
Em vez de serem difundidos em virtude do seu valo.r"formativo" ou de sua importncia poltica (administra-tiva, diplomtica, militar), pode-se imaginar que os conhe-cimentos sejam postos em circulao segundo as mesmasredes da moeda, e que a clivagem pertinente a seu res-
pei to deixa de ser saber/ignorncia para se tornar comono caso da moeda, "conhecimentos de pagamento/conhe-cimentos de investimento", ou seja: conhecimentos tro-cados no quadro da manuteno da vida cotidiana (recons-tituio da fora de trabalho, "sobrevivncia") versus cr-ditos de conhecimentos com vistas a otimizar as perfor-
mances de um programa.Neste caso, tratar-se-ia tanto da transparncia como
do liberalismo. Este no impede que nos fluxos de di-nheiro uns sirvam para decidir, enquanto outros no sejam
bons seno para pagar. Imaginam-se paralelamente fluxosde conhecimentos passando pelos mesmos canais e demesma natureza, mas dos quais alguns sero reservadosaos "decisores", enquanto outros serviro para pagar advida perptua de cada um relativa ao vnculo social.
1. A. Touraine. La Socit postindustrie/le, Denoel, 1969; D. Bell, The Co-ming of Post-Industria/ Society, New York, 1973; Iha~ Hassan. The
Dismemberment of Orpheus: Toward a Postmodern Llterature, NewYork, Oxford U. P.,.1971; M. Benamou & Ch. Caramello ed., Perfor-mance in Postmodern Cu/ture, Wisconsin. Center for XXth CenturyStudies & Coda Press. 1977; M. K01er. "Postrriodernismus: einbe-griffgeschichtlicher Ueberblick". Amerikastudien 22,1 (1977).
2. Uma expresso literria doravante clssica dada por M. Butor, Mo-bile. Etude pour une' reprsentation des Etats-Unis, Gallimard, 1962.
7
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logias contemporneas poderiam tomar que fosse uma al-tcmativa informatizao da socied~de.
Isto significa que a hiptese banal. Mas ela o so-mente na medida em que no coloca em causa o paradigmageral do progresso das cincias e das tcnicas, ao qual pa-recem evidentemente orresponder o crescimento econ-mico e o desenvolvimento do. poder sociopoltico. Admite
se como ponto pacfico que saber cit;ntfico e tcnico seacumulaI' discute-se quando muito forma desta acumu-lao, que alguns imaginam regular., contnua e unnime,e outros como sendo peridica, descontnua e conflitual.24
Estas evidncias so falaciosas. Para comear,
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vem evidenciar serem saber e poder as duas faces de umamesma questo: quem decide o que saber, e quem sabeo que convm decidir? O problema do saber na idade dainformtica mais do que nunca o problema do governo.
23. La nouvelle informatque et ses utilisateurs, annexe lU, "L'informati-sation, etc.", loe. eit.
24. B. P . Lcuyer, "Bilan et perspectives de Ia sociologie des sciencesdans les pays occidentaux", Arehives europennes de sociologie XIX(1978) (bibliog.), 257-336. Boa informao sobre as correntes anglo-sax-nicas: hegemonia da escola de Merton at incio dos anos 1970, dis-
perso atual, notadamente por influncia de Kuhn; pouc,a informaosobre a sociologia alem da cincia.
25. O term o foi difundido por Ivan Illich, Tools for Conviviality, N.Y.,Harper & Row, 1973; t.f. La eonvivialit, Seuil, 1974.
26. S obre esta "desmoralizao", ver A. Jaubert e J .-M. Lvy-Leblond ed.(Auto)eritique de Ia scienee, Seuil, 1973, parte I.
27. J. Habermas, Legitimationsprobleme im Spiitkapitalismus, Frankfurt,Suhrkamp, 1q73; t.f. Lacoste, Raison et lgitimit, Payot, 1978 (bi-bliog.).
PELO que antecede, j/se observou que, para analisareste problema no 1V,dro que determinamos, preferimosum procedimento: o de enfatizar os fatos de linguageme, nestes fatos, seu aspecto pragmtico.28 A fim de facili-tar o desenvolvimento da leitura, til apresentar umaviso, mesmo que sumria, do que entendemos por estetermo.
Um enunciado denotativ029
como: A universidadeest doente, proferido no quadro de uma conversao oude um colquio, posig()_~_~l1_r.ems:le.nt~, (aquele que oenuncia), seu 4~tIii.trio (aquele que o recebe) e seu re-ferente (aquiI(; de que trata o enunciado) de uma maneiraespedfica: o remetente colocado e exposto por esteenunciado na posio de quem sabe (sachant) (ele sabecom>Vaia universidade), o destinatrio colocado napostura de ter de conceder ou recusar seu assentimento,e o prprio referente apreendido de uma maneira pr-pria aos denotativos, como qualquer coisa que precisa sercorretamente identificada e expressa no enunciado quea ele se refere.
Se se considera uma declarao como: A universida-de est aberta, pronunciada por um decano ou um reitorquando do incio do ano letivo, v-se que as especifica-es precedentes desaparecem. Evidentemente, precisoque o significado c:l0 enun
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isto uma condio geral da comunicao, que no per-mite distinguir os enunciados ou seus efeitos prprios. Osegundo enunciado, chamado de desempenho 3f~..,possuia particularidade de seu efeito sobre o referente coincidircom sua enunciao: a universidade encontra-se abertapelo fato de que declarada como tal nestas condies.Isto no est ento sujeito a discusso nem a verificao
pelo destinatrio, que encontra-se imediatamente coloca-do no novo contexto assim criado. Quanto ao' remetente,deve ser dotado da autoridade de proferi-Ia; mas pode-sedescrever esta situao de modo inverso: ele no decanoou reitor, isto , algum dotado de autoridade para pro-ferir este gnero d enunciados, seno quando os profere,obtendo o efeito imediato que dissemos, tanto sobre seureferente, a universidade, quanto sobre seu destinatrio,
o corpo docente.Um caso diferente o dos enunciados do tipo: Dem
meios universidade, que so prescries. Estas podemser moduladas em ordens, comandos, instrues, recomen-daes, pedidos, solicitaes, splicas, etc. V-se que o re-metente aqui colocado na posio de autoridade, no sen-tido mais amplo do termo (incluindo a autoridade que o
pecador tem sobre um deus que se declara misericordio-so), o que significa que ele espera do destinatrio a reali-zao da ao referida. Estas duas ltimas posies sofrema seu turno, na pragmtica prescritiva, efeitos concomi-tantes.31
Outra ainda a eficincia de uma interrogao, deuma promessa, de uma descrio literria, de uma narra"o, etc. Resumindo. Quando Wittgenstein, recomeandoo estudo da linguagem a partir do zero, centraliza suaateno sobre os efeitos dos discursos, chama os diversostipos de enunciados que ele caracteriza desta maneira, edos quais enumerou-se alguns, de jogos de linguagem.32
Por este termo quer dizer que cada uma destas diversas
16
rat~gorias de enunciados deve poder ser determinada porregras que especifiquem suas propriedades e o uso quedelas se pode fazer, exatamente como o jogo de xadrezse define como um conjunto de regras que determinam:lS propriedades das peas, ou o modo conveniente ded~sIoc-las.
Trs observaes precisam ser feitas a respeito dos
jogos de linguagem. A primeira que suas regras nopossuem sua legitimao nelas mesmas, mas constituemobjeto d~ _U.1l1~011tEatoexplcito ou n9~!ltreQS jogadores(o que no quer dizer todavia que estes as inventem). Asegunda que na ausncia de regras no existe jogo,33que uma modificao, por mnima que seja, de uma regra,modifica a natureza do jogo, e que um "lance" ou umenunciado que no satisfaa as regras, no pertence aojogo definido por elas. A terceira observao acaba de serinferida: todo enunciado deve ser considerado como um
"lance" feito num jogo.Esta ltima observao leva a admitir um primeiroprincpio que alicera todo o nosso mtodo: que falar combater, no sentido de jogar, e que os atos de lingua-gem34provm de uma agonstica gera1.35Isto no significanecessariamente que se joga para ganhar. Pode-se realizarum lance pelo prazer de invent-Io: no este ocaso dotrabalho de estrnuloda lngua prqvocado--petfl __popu-lar ou pela literatl.!ta'? A inveno contnu de--onstruesnovas, de- palvras e de sentidos que, no nvel da palavra, o que faz evoluir a lngua, proporciona grandes alegrias.Mas, sem dvida, mesmo este prazer no independentede um sentimento de sucesso, sobre um adversrio pelomenos, mas de envergadura: a lngua estabelecida, a cono-
~ 36laao.
Esta idia de uma agonstica da linguagem (tanga-.~icre) no deve ocultar o segundo princpio que lhe com-plementar e que norteia nossa anlise: que o vnculo social
isto
um a condio geral da
comunicao,
que no per
mite
distinguir
os enunciados
ou
seus
efeitos prprios.
O
segundo
enunciado, chamado de desempenho 3
O'}
-possui
a
particularidade de seu efeito
sobre o referente
coincidir
com
sua enunciao:
a
universidade
encontra-se aberta
pelo
fato
de
que
declarada
como tal
nestas
condies.
Isto no
est
ento
sujeito a
discusso nem
a
verificao
pelo
destinatrio, que
encontra-se
imediatamente
coloca
do no no vo
contexto
assim
criado.
Quanto
ao
remetente,
deve
ser
dotado da
autoridade
de
proferi-la;
mas
pode-se
descrever
esta
situao
de
modo inverso:
ele no
decano
ou
reitor,
isto
,
algum dotado
de autoridade
para
pro
ferir este
gnero de
enunciados,
seno
quando
os
profere,
obtendo
o efeito
imediato
que
dissemos,
tanto
sobre
seu
referente,
a
universidade,
quanto
sobre
seu
destinatrio,
o corpo
docente.
Um caso
diferente o dos
enunciados
do
tipo:
Deem
meios
universidade,
que
so
prescries.
Estas podem
ser
moduladas
em
ordens,
comandos, instrues,
recomen
daes,
pedidos,
solicitaes, suplicas,
etc.
V-se
que
o re
metente aqui
colocado
na posio
de
autoridade,
no
sen
tido mais
amplo
do
termo
(incluindo
a
autoridade
que
o
pecador tem
sobre um
deus qu e
se
declara
misericordio
so),
o que
significa
que ele
espera
do destinatrio
a
reali
zao
da ao
referida.
Estas duas
ltimas posies
sofrem
a seu turno,
na pragmtica
prescritiva,
efeitos
concomi
tantes.31
categorias de
enunciados deve
poder ser
determinada por
regras
que
especifiquem suas propriedades e
o uso
que
delas se pode
fazer,
exatamente
como
o
jogo
de xadrez
se
define
como um
conjunto
de
regras
que
determinam
as
propriedades das
peas, ou o modo
conveniente
de
desloc-las.
Trs
observaes
precisam
ser
feitas
a respeito dos
jogos
de linguagem.
A
primeira
que
suas regras no
possuem sua
legitimao
nelas
mesmas, mas
constituem
objeto de
um
contrato
explcito ou no entre
os
jogadores
(o
que
no
quer dizer
todavia
que
estes as
inventem).
A
segunda
que
na ausncia de
regras
no exis te
jogo,33
que uma modificao,
por mnima
que
seja, de
uma
regra,
modifica
a
natureza
do
jogo, e que um lance
ou um
enunciado
que
no
satisfaa
as
regras,
no
pertence
ao
jogo definido
por elas.
A
terceira
observao
acaba de
ser
inferida: todo
enunciado deve ser considerado
como
um
lance feito
num
jogo.
Esta
ltima
observao
leva
a admitir um
primeiro
princpio
que
alicera
todo o nosso mtodo:
que falar
combater, no
sentido de
jogar,
e
que
os
atos
de lingua
gem34
provm
de
uma
agonstica
geral.35
Isto no
significa
necessariamente que se
joga
para ganhar.
Pode-se
realizar
um
lance
pelo
prazer
de invent-lo:
no
este
o caso
do
trabalho
de
estmulo
da lngua
provocado
pela
fala popu
lar ou pela
literatura?.
A
inveno
contnua
de
construes
novas, de palavras
e de sentidos que, no
nvel da palavra,
o que
faz
evoluir
a lngua, proporciona
grandes alegrias.
Mas,
sem
dvida,
mesmo
este
prazer
no
independente
de um
sentimento de
sucesso,
sobre um
adversrio
pelo
menos,
mas de envergadura: a
lngua estabelecida,
a cono
tao.36
i
Outra
ainda
a
eficincia
de
uma
interrogao,
de
uma promessa ,
de
um a
descrio
literria, de uma
narra
o,
etc. Resumindo.
Quando
Wittgenstein,
recomeando
o estudo
da linguagem a
partir
do
zero, centraliza
sua
ateno
sobre
os
efeitos
dos
discursos,
chama
os diversos
tipos
de
enunciados que
ele caracteriza
desta
maneira,
e
dos
quais enumerou-se
alguns, de jogos
de
linguagem.32
Po r
este termo
quer dizer
que
cada
um a
destas
diversas
Esta
idia
de
uma
agonstica da
linguagem
(
langa
-
gicre)
no deve ocultar
o
segundo
princpio
que lhe
com
plementar
e
que norteia nossa
anlise: que
o vnculo
social
16
17
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i',. agol11stlca est no princIpIo da ontologia de Herclito e da dial-tica dos sofistas. sem falar dos primeiros trgicos. Aristteles reser-va-lhe uma grande parte de sua reflexo sobre a dialtica in Tpicosc Heluta'es solsticas. Ver F. Nietzsche, "La joute chez Homere', in"Cinq prfaces cinq livres qui n'ont pas t crits" (1872). Ecrits
J!osthul1les 1870-1873, t.f. Backes, Haar & de Launay. Gallimard, 1975,IQ2-200.
\b. No sentido estabelecido por L. Hjelmslev, Prolegol1lenll to a Theory01 Language, t. inglesa Whitfield, Madison, U. Wisconsin Press, 1963;LI'. Una Canger, Prolgol1l(!I1es une thorie du langage, Minuil, 1968.
E retomado por R. Barthes, Ell1lents de sl11i%gie (1964), Seuil, 1966 IV. I.
obscrvve1 feito de "lances" de linguagem. Elucidandoesta proposio entraremos no ceme do nosso tema.
28. Na esteira da semitica de Ch, A. Peirce. a distino dos domniossinttico, semntico e pragmtico feita por Ch. W. Morris, "Foun-dations of the Theory of Signs", in O. Neurath, R. Carnap & Ch.Morris ed., International Encyclopedia 01 Unilied Science, I, 2 (1938),77-137. Ns nos referimos sobre este termo sobretudo a; L. Wittgen-stein, Philosophical Investigations, 1945 (Lf. Klossowski, Investigations
philosophiques, Gallimard, 1961); J. L. Austin, How to Do Thingswith Words, OxIord, 1962 (t.f. Lane, Quand dire c'est faire, Seuil,1970); J. R. Searle, Speech Acts, Cambridge U.P .. 1969 (LI. Pauchard,
Les actes de langage, Hermann, 1972); J. Habermas, VorbereitendeBemerkungen zu einer Theorie der kommunikativen Kompetens, inHabermas & Luhmann, Theorie der Gese/lschaft oder Sozialtechnologie,Stuttgart, Suhrkamp, 1971; O. Ducrot, Dire et ne pas dire, Hermann,1972; J. Puclain, "Vers une pragmatique ncleaire de Ia communica-tion", datilog., Universit de Montral, 1977. Ver tambm Watzlawicket aI. op. cito
29. Denotao corresponde aqui descrio conforme uso clssico dos l-gicos. Quine substitui denotation por true of (verdade de). Ver W.V. Quine, t.f. Dopp e Gochet, Le mot et Ia chose, Flammarion, 1977,140, n. 2. Austin, op. cit., 39, prefere constatif a descriptif.
30. Em teoria da linguagem, performativo assumiu desde Austin um sen-tido preciso (op. cit., 39 e passim). Iremos reencontr-Io mais adianteassociado aos termos performance e performatividade (de um sistema,notadamente) no sentido que se tornou corrente de eficincia mensu-rvel na relao input/output. Os dois sentidos no so estranhos umao outro . O performativo de Austin realiza a perlormance tima.
Na traduo para o portugus preferiram-se as palavras desempenho oueficincia mensurvel como traduo de performativit e performatif(N. do Ed.)
31. Uma anlise recente destas categorias foi feita por Habermas, "Vor-bereitende Bemerkungen ... ", e discutida por J. Poulain, art. cito
32. Investigations philosophiques, loc. cit., 23.33. J. von Neumann & Morgenstern, Theory of Games and Economic
Behavior, Princeton U.P., 1944, 3: ed., 1954; 49: "O jogo consiste noconjunto das regras que o descrevem." Frmula estranha ao espritode Wittgenstein, para quem o conceito de jogo escaparia aos ditames'de uma definio, visto que esta j um jogo de linguagem (op. cit., 65-84 sobretudo). .
34. O termo de J. H.' Searle: "Os atos de linguagem so as unidadesmnimas de base da comunicao lingstica" (op. cit., d., 52). Ns ascolocamos de preferncia sob a gide do agn (a polmica) que dacomunicao.
A
agonstica
est
no
princpio
da
ontologia
de
Herclito c da dial
tica
dos
sofistas,
sem
falar
dos primeiros trgicos.
Aristteles
reser
va-lhe uma
grande
parte
de sua
reflexo
sobre
a dialtica
in Tpicos
c
Refutaes
sofsticas.
Ver F.
Nietzsche,
La joute
chez
Homre
,
in
Cinq prefaces
cinq
livres
qui
nont pas
etc
crits
(1872),
crits
posthumes
1870-1873,
t.f.
Backs.
Haar &
de
Launay, Gallimard,
1975,
192-200.
No
sentido estabelecido por
L.
Hjelmslev.
Prolegomena
to a
Theory
of
Language,
t.
inglesa Whitfield,
Madison.
U.
Wisconsin Press,
1963;
t.f.
Una
Canger,
Prolgomnes
une thorie
du langage,
Minuit,
1968.
F.
retomado
por
R.
Barthes,
Elements de
smiologie
(1964),
Seuil, 1966
IV. 1.
th.
observvel
feito de
lances
de linguagem.
Elucidando
esta
proposio
entraremos
no cerne
do nosso tema.
NOTAS
6 .
Na
esteira
da
semitica
de Ch. A.
Peirce,
a
distino dos domn io s
sinttico, semntico
e
pragmtico
feita por Ch .
W.
Morris,
Foun
dations
of
the
Theory
of
Signs
in
O.
Neurath,
R.
Carnap
&
Ch.
Morris
ed., International
Encyclopedia of Unified
Science,
I,
2
(1938),
77-137.
Ns nos re fe r imos sobre
este termo sobretudo
a: L.
Wittgen
stein,
Philosophical
Investigations,
1945
(t.f.
Klossowski,
Investigations
philosophiques,
Gallimard,
1961);
J.
L.
Austin, How
to Do
Things
with
Words,
Oxford,
1962
(t.f.
Lane,
Quand
dire
eest
faire,
Seuil,
1970);
J.
R.
Searle,
Speech
Acts,
Cambridge
U.P.,
1969
(t.f.
Pauchard,
Les actes
de
langage,
Hermann, 1972);
J.
Habermas, Vorbereitende
Bemerkungen zu einer
Theorie
der
kommunikativen
Kompetens,
in
Habermas &
Luhmann,
Theorie der
Gesellschaft
oder
Sozialtechnologie,
Stuttgart,
Suhrkamp, 1971;
O.
Ducrot,
Dire
et ne
pas
dire,
Hermann,
1972;
J.
Puclain,
Vers une
pragmatique ncleaire
de la communica
tion, datilog.,
Universit
de
Montral,
1977. Ver tambm
Watzlawick
et al.,
op.
cit.
Denotao
corresponde aqui
descrio
conforme
uso c l ssico
dos
l
gicos.
Quine
substitui
denotation por true
of
(verdade
de).
Ver W.
V.
Quine,
t.f.
Dopp
e
Gochet,
Le mot
et la
chose,
Flammarion,
1977,
140,
n.
2.
Austin,
op.
cit.,
39, prefere
constatif
a
descriptif.
Em
teoria da
linguagem,
performativo
assumiu
desde Austin
um
sen
tido
preciso
(op. cit., 39 e
passim).
Iremos
reencontr-lo
mais
adiante
associado
aos
termos
performance
e
performatividade
(de
um
sistema,
notadamente)
no sentido
que
se
tornou corrente de
eficincia mensu
rvel
na
relao input/output.
Os dois
sentidos
no
so estranhos
um
ao outro. O
performativo
de Austin realiza a
performance
tima.
Na
traduo
para
o
portugus
preferiram-se
as
palavras desempenho
ou
eficincia mensurvel como
traduo
de
performativit
e
performatif.
(N.
do
Ed.)
Uma anlise recente destas
categorias foi feita
por
Habermas,
Vor
bereitende
Bemerkungen.
.
., e
discutida
por
J.
Poulain, art.
cit.
Investigations
philosophiques,
loc.
cit.,
23.
J.
von
Neumann & Morgenstern,
Theory
of Games
and
Economic
Behavior,
Princeton
U.P.,
1944, 3.
ed., 1954;
49: O
jogo
consiste no
conjunto
das
regras que
o descrevem.
Frmula
estranha
ao
esprito
de
Wittgenstein,
para quem
o
conceito de
jogo escaparia aos ditames'
de uma definio,
visto
que
esta
j
um
jogo
de
linguagem
(op.
cit.,
65-84
sobretudo).
O
termo
de
J.
H.
Searle;
Os
atos de
linguagem so as
unidades
mnimas
de
base
da
comunicao
lingustica
(op. cit.,
t.f.,
52).
Ns
as
colocamos
de
preferncia
sob
a
gide
do
agn
(a
polmica)
que da
comunicao.
28.
29.
li,
30.
31.
32.
33.
34.
19
8
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24/73
UU, antes, as possibilidades tcnicas impem a utilizao que delasse faz." Habermas ope a esta lei o fato dos conjuntos de meiostcnicos e dos sistemas de ao racional completa jamais se desen-volverem de maneira autnoma: "Consquences pratiques du progresscientifique et technique" (1968), in Theorie und Praxis, Neuwied,Luchterhand, 1963; t.f. Raulet, Thorie et Praxis, Payot, 11. 115-136.Ver tambm J. Ellul, La technique et l'enjeu de Ia science, Paris, Ar-mand Colin, 1954; id., Le systeme technicien, Paris, Calmann-Lvy.Que as greves e em geral a forte presso exercida pelas poderosasorganizaes de trabalhadores produzem uma tenso finalmente ben-fica para a eficincia mensurvel do sistema, o que Ch. Levinson,
dirigente sindical, declara claramente; explica ele esta tenso como oavano tcnico e gestionrio da indstria americana (citado por H.-F.de Virieu, Le Matin, dcembre 1978, n.Ospcial "Que veut GiscardT').
40. T. Parsons, Essays in Sociological Theory Pure and Applied, Glencoe,Free P., 1957 (reed.), 4647.
11. A palavra tomada aqui segundo a aeepo que J. K. Galbraith deuao termo tecnoestrutura em Le nouvel .tat industriel. Essai sur lesysteme conomique amricain, Gallimard, 1968, ou R. Aron ao deestrutura tecno-burocrtica nas Dix-huit leons sur Ia socit indus-tielle, Gallimard, 1962, de preferncia ao sentido evocado pelo termoburocracia. Este ltimo muito mais "duro", porque tanto socio-
poltico quanto econmico, procedendo inicialmente de uma crticafeita pela Oposio operria (Kollontai:) ao poder bo1chevique, depois
pela oposio trotskista aO estalinismo. Ver a este respeito CI. Lefort,
Elments d'une critique de Ia bureaucratie, Genebra, Droz, 1971,onde a crtica se estende sociedade burocrtica em seu conjunto.
12. Eclipse de Ia raison, loco cit., 183.
4"). M. Horkheimer, "Traditionelle und kritische Theorie" (1937) int.f. Maillard & Muller, Thorie traditionnelle et thorie critique, Galli-mard, 1974. Ver tambm: 1,f. Collectif du College de philosophie,Thorie critique, Payot, 1978. E a bibliografia comentada sobre aEscola de Frankfurt (francesa, interrompida em 197.8) in Esprit 5 (mai1978), por Hoehn & Raule1,
44. Ver CI. Lefort, op. cit.; id.. Un homme en trop, Seuil, 1976; C. Cas-toriadis, La socit bureaucratique, 10/18, 1973.
4'5. Ver por exemplo J. P. Garbier, Le marxisme lnifiant, Le Sycomore,1979.
'Ib. t o ttulo que tinha o "rgo de crtica e de orientao revolucionria"
publicado de 1949 a 1965 por um grupo cujos principais redatores(com diversos pseudnimos) foram C. de Beaumont, D. Blanchard,C. Castoriadis, S. de Diesbach, CI. Lefort, J.-F. Lyotard, A. Maso,D. Moth, B. Sarrel, P. Simon, P. Souyri.
17. E. Bloch, Das Prinzip Hoffnung (1954-1959). Frankfurt, 1967. Ver G.Raulet ed., Utopie-Marxisme selon E. Bloch, Payot, 1976.
,11'. r:: um!i aluso s obstrues tericas provocadas pelas guerras daArglia e do Vietn, e pelo movimento estudantil dos anos 1960. Um
panorama histrico dado por A. Schnapp e P. Vidal-Naquet, Jour-/lal de Ia Commune tudiante, Seuil, 1969, Apresentao.
nativa parece clara - homogeneidade ou dualidade in-trnsecas do social, funcionalismo ou criticismo do saber- mas a deciso parece difcil de tomar. Ou arbitrria,
Tentou-se dela escapar distinguindo duas espcies desaber: um positivista, que encontra facilmente sua aplica-o s tcnicas relativas aos homens e aos materiais e quese presta a tornar-se uma fora produtiva indispensvel ao
sistema, e uma espcie crtica ou reflexiva ou hermenu-tica que, interrogando-se direta ou iridiretamente sobreos valores ou os fins, ope um obstculo a qualquer"recuperao" .51
37. Ver em particular Ta1cott Parsons, The Social System, Glencoe Free,P., 1967; id., Sociological Theory and Modem Society, N.Y., Free P.,1967. A bibliografia da teoria marxista da sociedade contemporneaocuparia mais de cinqenta pginas. Pode-se consultar a til catalo-gao (dossis e bibliografia crtica) feita por P. Souyri, Le marxismeopres Marx, Flammarion, 1970. Uma viso interessante do conflitoentre estas duas grandes correntes da teoria social e de sua mixagem apresentada por A. W. Gouldner, The Coming Crisis of WesternSociology (1970), Londres, Heineman, 2: ed., 1972. Este conceitoocupa um lugar importante no pensamento de J. Habermas, simulotaneamente herdeiro da Escola de Frankfurt e polemizando com ateoria alem do sistema social, sobretudo a de Luhmann.
38. Este otimismo aparece claramente nas concluses de R. Lynd, Know-ledge for What?, Princeton U.P., 1939, 239, que so citadas por M.Horkheimer, Eclipse of Reason, Oxford U.P., 1947; t.f. Laiz, Eclipsede Ia raison, Payot, 1974, 191: na sociedade moderna, a cincia deversubstituir a religio "usada at a exausto" para definir a finalidadeda vida.
39. H. Schelsky. Der Mensch in der wissenschaftlichen Zeitalter, Col'nia, 1961, 24 sq.: "A soberania do Estado no se manifesta mais pelosimples fato de que ele monopoliza o uso da violncia (Max Weber) oudecide sobre o estado de exceo (Car! Schmitt), mas antes de tudo
pelo fato de que decide sobre o grau de eficcia de todos os 1l1j:iostcnicos existentes em seu seio, que reserva para si aqueles cuja eficcia for mais elevada e pode praticamente colocar-se ele mesmo forado campo de aplicao destes meios tcnicos que impe aos outros."Dir-se- que uma teoria do Estado, no do sistema. Mas Schelskyacrescenta: "O prprio Estado v-se submetido, em funo da prpriacivilizao industrial: a saber, so os meios que determinam os fins,
ou,
antes,
as
possibilidades
tcnicas impem
a
utilizao
que
delas
se
faz.
Habermas
ope
a
esta lei
o fato dos
conjuntos
de
meios
tcnicos e dos sistemas
de
ao
racional completa
jamais
se
desen
volverem
de maneira
autnoma: Consquences
pratiques
du
progrs
scientifique
et
technique
(1968),
in Theorie
und Praxi s, Neuwied,
Luchterhand, 1963;
t.f.
Raulet,
Thorie et
Praxis,
Payot,
II,
115-136.
Ve r
tambm
J.
Ellul,
La
technique
et
Ienjeu
de la science,
Paris,
Ar-
mand Colin, 1954;
id., Le
systme
technicien,
Paris, Calmann-Lvy.
Que
as
greves
e em
geral
a
forte
presso
exercida pelas poderosas
organizaes de
trabalhadores
produzem
uma
tenso finalmente
ben
fica
para
a
eficincia
mensurvel do sistema,
o
que
Ch.
Levinson,
dirigente sindical,
declara
claramente;
explica ele esta tenso
como
o
avano
tcnico e gestionrio
da
indstria americana
(citado
por
H.-F.
de
Virieu,
Le Matin, dcembre 1978,
n. spcial
Que
veut
Giscard?).
T. Parsons,
Essays
in
Sociological
Theory
Pure and
Applied,
Glencoe.
Free
P.,
1957
(reed.),
46-47.
A
palavra
tomada aqui
segundo
a
acepo
que
I.
K.
Galbraith
deu
ao
termo tecnoestrutura
em Le
nouvel tat
industriei. Essai
sur le
systme
conomique
amricain, Gallimard,
1968,
ou R. Aron
ao
de
estrutura
tecno-burocrtica
na s Dix-huit leons sur
la socit
indus-
tielle,
Gallimard,
1962,
de
preferncia
ao
sentido
evocado
pelo
termo
burocracia. Est e lt imo muito
mais
duro,
porque
tanto socio-
poltico
quanto
econmico, procedendo
inicialmente
de
uma crtica
feita
pela
Oposio
operria
(Kollontai)
ao poder
bolchevique,
depois
pela
oposio
trotskista a
estalinismo. Ve r
a
este
respeito Cl.
Lefort,
lments
d
une critique
de
la
bureaucratie,
Genebra,
Droz,
1971,
onde a
crtica se estende
sociedade
burocrtica em
seu
conjunto.
Eclipse
de la raison,
loc. cit.,
183.
M. Horkhemer,
Traditionelle
und kritische
Theorie
(1937)
in
t.f. Maillard &
Muller,
Thorie
traditionnelle
et thorie
critique,
Galli
mard,
1974. Ve r
tambm:
t.f.
Collectif du
Collge
de
philosophic,
Thorie critique,
Payot,
1978. E
a
bibliografia
comentada sobre
a
Escola de Frankfurt
(francesa,
interrompida
em
1978)
in
Esprit 5
(mai
1978),
por
Hoehn
&
Raulet.
V er C l.
Lefort, op.
cit.;
id.,
Un
homme
en
trop, Seuil,
1976;
C. Cas-
toriadis,
La socit
bureaucratique, 10/18,
1973.
Ve r
por
exemplo
J.
P.
Garbier,
Le marxisme
lnifiant,
Le
Sycomore,
1979.
o
ttulo
que
tinha
o
rgo
de
crtica
e
de orientao
revolucionria
publicado
de
1949
a
1965
por
um
grupo
cujos
principais
redatores
(com
diversos
pseudnimos)
foram
C.
de
Beaumont,
D.
Blanchard,
C.
Castoriadis,
S. de
Diesbach,
Cl .
Lefort,
J.-F.
Lyotard,
A.
Maso,
D. Moth,
B.
Sarrel,
P.
Simon,
P.
Souyri.
E.
Bloch,
Das
Prinzip
Hoffnung
(1954-1959), Frankfurt,
1967. Ve r G.
Raulet
ed., Utopie-Marxisme
selon
E. Bloch,
Payot,
1976.
F.
uma
aluso s
obstrues
tericas
provocadas
pelas guerras da
Arglia
e
do
Vietn,
e
pelo
movimento
estudantil dos
anos
1960.
Um
panorama
histrico dado por A.
Schnapp
e P.
Vidal-Naquet,
Jour
nal
de la
Commune tudiante,
Seuil,
1969, Apresentao.
homogeneidade
ou dualidade
in-
ou criticismo
do
saber
nativa
parece
clara
trnsecas
do
social, funcionalismo
mas
a
deciso
parece
difcil de
tomar. Ou arbitrria.
Tentou-se dela
escapar
distinguindo
duas espcies
de
saber:
um
positivista,
que
encontra facilmente
sua
aplica
o
s
tcnicas
relativas
aos
homens e
aos
materiais
e que
se
presta
a
tornar-se
uma
fora
produtiva
indispensvel ao
sistema, e
uma
espcie
crtica
ou
reflexiva
ou
hermenu
tica
que,
interrogando-se direta ou
iridiretamente
sobre
os valores ou os
fins,
ope
um obstculo
a
qualquer
recuperao.51
7/23/2019 Lyotard Jean-Francois O Pos-moderno 3a Ed
25/73
49.
11'
I
1;111
50."1
,I
51.
Lcwis Mumford, T he Myth of the Machine. Tecnics and HumanDevelopment, Londres, Secker & Warburg, 1967; t.f. Le m yt he d eIa machine, Fayard, 1974.
A hesitao entre estas duas hipteses se evidencia, no entanto, noapelo destinado a obter a participao dos intelectuais no sistema:Ph. Nemo, "La nouvelle responsabi li t d es deres", L e M on de , 8 septembre 1978.
A oposio entre Naturwissenschaft e Geistwissenschaft tem sua orig em em W. Dilthey (1863-1911), t.f. Rmy, Le monde de l'esprit,Aubier-Mon taig ne, 1947.
A NATUREZA DO VNCULO SOCIAL:A PERSPECTIVA PS-MODERNA
NO seguimos uma soluo de diviso como esta. Pos-
tulamos que a alternativa que ela busca resolver, mas que
no faz seno reproduzir, deixou de ser pertinente em
relao s sociedades que nos interessam, e que ela mesma
pertence a um pensamento por oposies que no corres-
ponde s manifestaes mais doqentes do saber ps-moderno. O "redesdobramento" econmico na fase atualdo capitalismo, auxiliado pela mutao das tcnicas e das
tccnologias segue em paralelo, j se disse, com uma
mudana de funo dos Estados: a partir desta sndromeforma-se uma imagem da sociedade que obriga a revisar
seriamente os enfoques apresentados como alternativa. Di-
gamos sumariamente 'que as funes de regulagem e, por-tanto, de reproduo, so e sero cada vez mais retiradas
dos administradores e confiadas a autmatos. A grandequesto vem a ser e ser a de dispor das informaes queestes devero ter na memria a fim de que boas decisessejam tomadas. O acesso s informaes e ser da aladados experts de todos os tipos. A classe dirigente e sera dos decisores. Ela j no mais constituda pela classe
poltica tradicional, mas por uma camada formada por di-rigentes de empresas, altos funcionrios, dirigentes de
wandes rgos profissionais, sindicais, polticos, confes- 52
SlonalS.
A novidade que, neste contexto, os antigos plosde atrao formados pelos Estados-naes, os partidos, os
27
49.
Lewis
Mumford,
The
Myth
of
the
Machine.
Teenies
and Human
Development,
Londres,
Seeker
&
Warburg,
1967; t.f.
Le
mythe
de
la
machine,
Fayard, 1974.
50.
A
hesitao
entre
estas
duas
hipteses se
evidencia,
no
entanto,
no
apelo
destinado
a obter
a
participao
do s
intelectuais no sistema:
Ph.
Nemo, La
nouvelle
responsabilit
des
eleres
Le
Monde,
8
septembre 1978.
51. A
oposio
entre
NaturwissenSchaft
e
Geistwissenschaft
tem sua
ori
gem em W.
Dilthey (1863-1911),
t.f.
Rmy,
Le monde de
1esprit,
Aubier-Montaigne,
1947.
5
A
NATUREZA
DO
VNCULO
SOCIAL:
A PERSPECTIVA PS-MODERNA
NAO
seguimos
uma
soluo
de
diviso
como
esta.
Pos
tulamos
que
a alternativa
que
ela busca
resolver, mas
que
no
faz
seno
reproduzir,
deixou
de
ser
pertinente
em
relao
s sociedades que
nos
interessam, e que
ela
mesma
pertence
a um
pensamento
po r
oposies
que no
corres
ponde
s
manifestaes
mais
eloquentes do saber
ps-
moderno. O
redesdobramento
econmico
na fase
atual
do
capitalismo,
auxiliado
pela mutao das
tcnicas
e das
tecnologias
segue
em
paralelo,
j
se
disse,
com
uma
mudana
de
funo dos
Estados:
a
partir desta
sndrome
forma-se uma
imagem
da
sociedade que
obriga
a
revisar
seriamente
os enfoques apresentados
como alternativa.
Di
gamos
sumariamente
que
as funes
de regulagem e, por
tanto,
de reproduo,
so
e
sero
cada vez
mais
retiradas
dos
administradores e
confiadas a
autmatos.
A
grande
questo
vem
a
ser
e
ser
a
de
dispor
das
informaes
que
estes
devero ter
na
memria a fim
de
que boas decises
sejam
tomadas. O acesso s informaes
e
ser da
alada
dos
experts
de todos
os
tipos.
A
classe
dirigente e ser
a
dos decisores.
Ela
j
no
mais
constituda
pela
classe
poltica
tradicional, mas
por
uma camada
formada
por di
rigentes
de
empresas,
altos funcionrios, dirigentes
de
grandes
rgos
profissionais,
sindicais,
polticos, confes
sionais.52
'1
l
A
novidade
que,
neste
contexto, os antigos
plos
de
atrao
formados
pelos
Estados-naes,
os
partidos,
os
27
6
7/23/2019 Lyotard Jean-Francois O Pos-moderno 3a Ed
26/73
profissionais, as instituies e as tradies histricas per-dem seu atrativo. E eles no parecem dever ser substitu-dos, pelo menos na escala que lhes prpria. A Comissotricontinental no um plo de atrao popular. As "iden-tificaes" com os grandes nomes, com os heris da hist-ria atual, se tornam mais difceis.53 No entusiasmanteconsagrar-se a "alcanar a Alemanha", como o presidente
francs parece oferecer cpmo finalidade de vida a seuscompatriotas. Pois no se trata verdadeiramente de umafinalidade de vida. Esta deixada diligncia de cadacidado. Cada qual entregue a- si mesmo. E cada qualsabe que este si mesmo muito pOUCO.54
Desta decomposio dos grandes Relatos, que anali-saremos mais adiante, segue-se o que alguns analisam comoa dissoluo do vnculo social e a passagem das coletivi-dades sociais ao estado de uma massa composta de tomosindividuais lanados num absurdo movimento browniano.55
Isto no relevante, um caminho que nos parece obs-
curecido pela representao paradisaca de uma sociedade"orgnica" perdida.
O si mesmo pouco, mas no est isolado; tomadonuma textura de relaes mais complexa e mais mvel doque nunca. Est sempre, seja jovem ou velho, homem oumulher, rico ou pobre, colocado sobre os "ns" dos cir-cuitos de comunicao, por nfimos que sejam.56 prefe-rvel dizer: colocado nas posies pelas quais passam men-sagens de natureza diversa. E ele no est nunca, mesmo ~o mais desfavorecido, privado de poder sobre estas men- \sagens que o atravessam posicionando-o, seja na posio
de remetente, destinatrio ou referente., Pois seu deslo-camento em relao a estes efeitos de jogos de linguagem(compreende-se que deles que se trata) tolervel pelomenos dentro de certos limites (e mesmo estes so ins-tveis) e ainda suscitado pelas regulagens, sobretudo pelosreajustamentos atravs dos quais o 'sistema afetado afim de melhorar suas performances, Convm mesmo dizer
28
que o sistema pode e deve encorajar estes deslocamentos,na medida em que luta contra sua prpria entropia e quelima novidade correspondente a um "lance" no esperadoe ao deslocamento correlato de tal parceiro ou de tal grupode parceiros que nele se encontra implicado, pode forne-cer ao sistema este suplemento de desempenho que eleno cessa de requisitar e de consumir .57
Compreende-se atualmente em que perspectiva forampropostos acima os jogos de linguagem como mtodo geralde enfoque. No pretendemos que toda relao social sejadesta ordem; isto permanecer aqui uma questo penden.te; mas que os jggos ..de.linguagem~,sejam,~_poru11l1l:lg,.omnimo de rdao exigido para qu~ hja "osQci~clacl~.1.no necessrio que I~e recorra a uma robinsonada para quese faa admiti-Io; desde antes do seu nascimento, haja vistao nome que lhe dado, a criana humana j colocadacomo referente da histria contada por aqueles que a cer-cam58 e em relao qual ela ter mais tarde de se deslo
car. Ou mais simplesmente ainda: ~_~e~~xnculosocial, enquntQCnl~t~~ 19:o,jQgQ,de ..liugJlagem., o dainterrogao, que posiciona imediatamente aquele que aapresenta, aquele a quem ela se dirige, e o referente queela interroga: esta questo j assim o vnculo social.
-, --'-' _._.....~---..,.,.~,".,,~""~... ,~"~-....,-_..-~."""-..
Por outro lado, numa sociedade em que a componentecomunicacional torna-se cada dia mais evidente, simulta-neamente como realidade e como problema,59 certo que() aspecto de linguagem (langagier) adquire uma nova im-portncia, que seria superficial reduzir alternativa tra-dicional da palavra manipuladora ou da transmisso uni-lateral de mensagem, por um lado, ou da livre expressoou do dilogo, por outro lado.
Uma palavra sobre este ltimo ponto. Expondo-seeste problema em termos simples de teoria da comunica-(,"o,se estaria esquecendo de duas coisas: ~s.!p~~~,-so dotadas de formas e de efeitos bastante diferentes,conforme forem, por exemplo, denotativas, prescritiv,a,s,
_~ __ .~,_.,,_.. 0.0 , .. ,.~. ' . ' ..
que o
sistema pode e
deve
encorajar estes
deslocamentos,
na
medida
em
que luta
contra
sua prpria entropia e
que
uma
novidade
correspondente
a um
lance
no
esperado
e
ao
deslocamento correlato
de tal parceiro ou de tal
grupo
de
parceiros
que
nele se encontra
implicado,
pode
forne
cer ao sistem a este suplemento de
desempenho que
ele
no cessa
de
requisitar e
de
consumir.57
Compreende-se
atualmente
em
que
perspectiva
foram
propostos
acima
os
jogos
de
linguagem
como
mtodo
geral
de
enfoque.
No pre tendemos que
toda
relao
social
seja
desta
ordem; isto permanecer
aqui
uma questo
penden
te;
mas que
os
jogos
de
linguagem sejam, por um
lado,
o
mnimo
de relao
exigido
para
que
haja
sociedade, no
necessrio
que
se
recorra
a
uma robinsonada
para
que
sc
faa
admiti-lo;
desde
antes
do seu
nascimento,
haja
vista
o
nome que lhe
dado,
a
criana
humana
j
colocada
como
referente da
histria
contada
po r aqueles
que
a
cer
cam58
e em relao
qual ela
ter mais
tarde
de se
deslo
car.
Ou
mais
simplesmente
ainda:
a
questo
do
vnculo
social,
enquanto
quest
um
jogo
tie
Jinguagem,
o
da
interrogao,
que
posiciona
imediatamente
aquele
qu e a
apresenta,
aquele
a
quem ela
se
dirige, e o referente
que
ela interroga: esta
questo
j
assim
o
vnculo social.
Por
outro
lado,
numa
sociedade em
que
a
componente
comunicacional
torna-se
cada
dia mais evidente,
simulta
neamente
como realidade
e
como
problema,59
certo
que
o
aspecto
de linguagem
(
langagier
)
adquire uma
nova
im
portncia,
que
seria
superficial
reduzir
alternativa
tra
dicional
da
palavra
manipuladora
ou
da
transmisso
uni
lateral
de
mensagem,
po r
um
lado,
ou
da
livre
expresso
ou do dilogo,
po r
outro
lado.
Uma palavra
sobre
este ltimo
ponto.
Expondo-se
este problema
em termos
simples de teoria
da
comunica
o,
se estaria
esquecendo
de
duas coisas:
as
mensagens
so
dotadas de
formas
e
de
efeitos
bastante
diferentes,
conforme
forem,
por
exemplo,
denotativas,
prescritivas,
profissionais, as
instituies
e
as
tradies
histricas
per
dem
seu
atrativo.
E eles
no
parecem
dever
ser substitu
dos,
pelo
menos
na
escala
que
lhes
prpria.
A
Comisso
tricontinental no
um
plo de atrao
popular.
As iden
tificaes
com os
grandes
nomes,
com os heris
da
hist
ria
atual,
se tornam mais
difceis.53
No
entusiasmante
consagrar-se
a
alcanar
a
Alemanha,
como o
presidente
francs
parece
oferecer
cpmo
finalidade
de
vida
a
seus
compatriotas. Pois no
se
trata
verdadeiramente
de
uma
finalidade
de
vida.
Esta
deixada
diligncia de cada
cidado.
Cada
qual
entregue
a-
si
mesmo. E
cada
qual
sabe
que este
si
mesmo
muito
pouco.54
Desta decomposio
dos
grandes
Relatos,
que
anali
saremos mais
adiante,
segue-se
o que
alguns
analisam como
a
dissoluo
do
vnculo social
e a passagem
das coletivi
dades sociais ao
estado
de um a
massa
composta
de
tomos
individuais
lanados
num absurdo
movimento
browniano.55
Isto
no
relevante,
um
caminho
que
nos
parece obs
curecido
pela representao paradisaca de
um a
sociedade
orgnica
perdida.
O
si
mesmo
pouco,
mas
no
est
isolado;
tomado
numa
textura
de
relaes
mais
complexa
e mais mvel
do
que
nunca. Est
sempre, seja
jovem
ou
velho,
homem ou
mulher,
rico
ou
pobre,
colocado
sobre os
ns dos
cir
cuitos
de comunicao,
por
nfimos
que
sejam.56
prefe
rvel
dizer:
colocado
nas posies
pelas quais
passam
men
sagens de
natureza diversa. E ele no
est
nunca,
mesmo
o
mais
desfavorecido,
privado
de
poder sobre
estas men
sagens que o
atravessam
posicionando-o,
seja
na
posio
de
remetente,
destinatrio
ou
referente.
Pois
seu
deslo
camento
em
relao a
estes
efeitos
de jogos
de
linguagem
(compreende-se
que
deles
que
se
trata)
tolervel
pelo
menos dentro
de certos
limites
(e
mesmo
estes so
ins
tveis)
e
ainda
suscitado
pelas regulagens,
sobretudo
pelos
reajustamentos atravs
dos
quais
o
sistema
afetado
a
fim
de
melhorar suas performances.
Convm
mesmo
dizer
0
%
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o nas filosofias, de desempenho nas empresas ... A bu-rocratizao o limite extremo desta tendncia.
Contudo, esta hiptese sobre a instituio aindamuito "pesada"; ela parte de uma viso "coisista" do ins-titudo. Hoje, sabemos que o limite que a instituio opeao potencial da linguagem em "lances" nunca estabele-cido (mesmo quando ele o formalmente).63 Ele mesmo ,
antes, o resultado provisrio e a disputa de estratgias delinguagem travads dentro e fora da instituio. Exemplos:o jogo de experimentao sobre a linguagem (a potica)ter seu lugar numa universidade? Pode-se contar hist-rias no conselho de ministros? Reivindicar numa caserna?As respostas so claras: sim, se a universidade abrir seusateliers de criao; sim, se os superiores aceitarem deli-
berar com os soldados. Dito de outro modo: sim, se oslimites da antiga instituio forem ultrapassados.64 Reci-procamente, dir-se- que eles no se estabilizam a no serque deixem de ser um desafio.
Acreditamos que neste esprito que convm abor-dar as instituies contemporneas do saber.
M. Albert, comlssano do Plano francs, escreve: "O Plano umarepartio de estudos do governo ( ... ). I! tambm uma grande en-cruzilhada da nao, encruzilhada onde se agitam idias, onde :econfrontam pontos de vista e onde se formam as mudanas ( ... ). Naopodemos fic-ar sozinhos. I! preciso que outros nos esclaream ( ... )"(L'Expansion, novembre, 1978). Ver, sobre o problema da declsao