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v. 3, n. 1, p. 17-37, jan./jul. 2017
Lodo de estação de tratamento de água (LETA): resíduo ou
insumo?
Viviane Teles Goulart Moreira
Bacharel em Engenharia Ambiental e Sanitária pelo Centro Universitário Izabela Hendrix
(CEUNIH), vivianeteles@gmail.com
Gabriela Santos de Paiva
Bacharel em Engenharia Ambiental e Sanitária pelo Centro Universitário Izabela Hendrix
(CEUNIH), gabi_santospaiva@hotmail.com
Alexandra Fátima Saraiva Soares
Doutora em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos (UFMG), docente do Centro
Universitário Metodista Izabela Hendrix (CEUNIH), alexandra.soares@izabelahendrix.edu.br
Resumo Um dos problemas enfrentados pelas indústrias modernas é a busca pela redução da geração
de resíduos, seu reaproveitamento e destinação adequada, conforme legislação vigente que
regula atividades com potencial poluidor. O maior desafio da indústria de produção de água
potável está na disposição final do lodo sob os pontos de vista técnico, ambiental e
econômico. No Brasil, o lodo gerado na indústria da água é enquadrado como resíduo sólido
pela NBR 10.004/2004, portanto, não deve ser lançado nos corpos d’água sem tratamento
prévio. Diante dessa preocupação com a disposição do Lodo de Estações de Tratamento
(LETA), vêm sendo estudadas aplicações (reuso) para esse resíduo (subproduto da produção
de água potável). Assim, buscou-se identificar alternativas viáveis e soluções existentes de
disposição final e de aplicação do LETA, praticadas no Brasil, transformando-os em insumos,
a partir de sua viabilidade econômica, técnica e ambiental.
Palavras-chave: Lodo de ETA. Reuso de lodo. Indústria da água. Resíduo industrial. Estação
de tratamento de água.
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1 Introdução
A pressão antrópica devido ao desenvolvimento das atividades econômicas e ao crescimento
exponencial da população urbana vem ocasionando danos aos recursos hídricos. Em virtude
disso, a qualidade da água está cada dia pior, exigindo maior quantidade de produtos químicos
para promover sua potabilização (SARAIVA SOARES et al., 2009).
Produzir água potável de qualidade para o consumo humano tem sido o objetivo fundamental
das estações de tratamento de água para abastecimento público. Dessa forma, são utilizados
diversos processos que, mediante a adição de produtos químicos como os coagulantes,
transformam a água bruta, normalmente inadequada nas condições naturais, em água potável.
O tratamento adéqua a qualidade da água aos padrões de potabilidade estabelecidos na
Portaria do Ministério da Saúde. O processo da indústria de produção de água potável gera
como efluente o subproduto denominado “Lodo de ETA ou LETA”, que apresenta potencial
para degradar a qualidade dos corpos de águas receptores (SARAIVA SOARES et al., 2009).
Os Estados Unidos estabeleceram que essas estações de tratamento de água para
abastecimento são classificadas como indústrias e, portanto, devem ter seus resíduos tratados
e dispostos convenientemente (CORDEIRO, 2001). Esse também é o entendimento do
Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), que considera as estações de tratamento de
água (ETAs) como indústrias e, dessa forma, devem atender aos padrões de lançamento
exigidos na legislação como qualquer outro empreendimento. Além disso, o lodo gerado no
processo de produção de água potável é classificado como resíduo sólido, havendo, portanto,
a necessidade de sua disposição adequada (ABNT, 2004).
Um dos problemas enfrentados pelas indústrias modernas está na redução da geração de
resíduos, seu reaproveitamento e destinação adequada, tendo em vista a legislação vigente que
regula atividades com potencial poluidor (PAIVA; PARREIRA, 2012). Baseando-se em tal
premissa, o maior desafio da indústria de produção de água potável está na disposição final do
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lodo sob os pontos de vista técnico, ambiental e econômico (JANUÁRIO; FERREIRA
FILHO, 2007).
Existem diversos estudos referentes às alternativas de disposição e/ou reaproveitamento do
LETA, tais como: insumo na agricultura (condicionador de solo), disposição em aterro
sanitário, incineração, uso na fabricação de cerâmica, recuperação de área degradada e
recuperação do coagulante. No entanto, ainda existem lacunas sobre a melhor maneira de
dispor esses resíduos, de forma a causar menor impacto ambiental devido à variação das
características do lodo gerado (CORNWELL, 1999; BIDONE et al.,2001; RICHTER 2001;
DI BERNARDO E DANTAS, 2005). Assim, buscou-se identificar alternativas viáveis e
soluções existentes de disposição final e de aplicação dos LETAs, praticadas no Brasil,
transformando-os em insumos, verificando sua viabilidade econômica, técnica e ambiental.
2 Processos do tratamento de água
Nas Estações de Tratamento de Água (ETAs) brasileiras, o tratamento convencional é o mais
utilizado para remoção das impurezas presentes na água bruta e é composto por três processos
básicos: clarificação (coagulação, floculação e decantação/flotação), filtração e desinfecção
(LIBÂNIO, 2010; SOARES et al., 2009b).
Uma das principais etapas é a coagulação, que resulta de ações físicas e reações químicas
entre o coagulante, usualmente o sulfato de alumínio, a água e as impurezas presentes, sendo
um processo muito rápido, com duração de segundos (SANTOS et al., 2011). Desse modo, a
coagulação assume o objetivo de proporcionar os mecanismos necessários para a
desestabilização das partículas coloidais, promovendo uma aproximação entre as mesmas, a
fim de agregá-las formando flocos, que devido suas dimensões e densidades irão se separar
seja por flotação, sedimentação ou filtração (LIBÂNIO, 2010).
A floculação é o processo físico que tem por finalidade promover a aglutinação das partículas
já coaguladas, facilitando o choque entre elas devido à agitação lenta imposta à água
(BRASIL, 2002).
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Os decantadores são unidades onde a água permanece retida para que os flocos, que contém
algas, ovos de parasitas e alguns tipos de micro-organismos, se sedimentem e formem o lodo
(CAVINATTO, 2003). Essa etapa é também considerada uma operação unitária e constitui a
última fase da clarificação, fornecendo condições que permitam a deposição dos flocos por
ação da gravidade. Tal processo reflete a eficiência das etapas que o precedem (LIBÂNIO,
2010).
2.1 Caracterização do lodo de ETA nas estações brasileiras
Segundo Souza et al. (1999) e Soares et. al. (2009b) é nos decantadores que ocorre a remoção
dos sólidos presentes na água e por tal motivo, são nessas unidades que se gera o lodo. As
características quantitativas e qualitativas desse resíduo variam de acordo com a qualidade da
água bruta, o tipo e a quantidade de coagulante adicionado na etapa de coagulação, da
eficiência dos floculadores e decantadores. O LETA pode também ser composto por resíduos
provenientes dos clarificadores, lavagem de filtros, recuperação da água de lavagem ou uma
combinação dessas operações.
Os lodos provenientes de decantadores possuem alto teor de umidade, geralmente superior a
95%, apresentando-se em estado fluido, podendo também, conter elevada concentração de
matéria orgânica (CORDEIRO, 1999). Dessa forma, o LETA é desidratado antes da
disposição final, podendo esse processo ocorrer em leitos de secagem, adensadores, dentre
outros mecanismos.
As características do lodo de decantador estão diretamente relacionadas com o tipo de unidade
empregada e suas características operacionais. Os decantadores convencionais, que não
possuem equipamento de extração do lodo, comumente são limpos em intervalos de tempo de
1 a 4 meses, implicando na geração de resíduos mais concentrados, em comparação com
aqueles provenientes de decantadores de alta taxa, que utilizam mecanismo de extração do
resíduo, onde a limpeza é mais frequente (SABOGAL-PAZ; DI BERNARDO, 2005;
SOARES et al. 2009b).
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De acordo com Reali (1999) o lodo que contém sulfato de alumínio apresenta coloração
marrom e possui difícil sedimentação ou flotação em seu estado natural.
Richter (2001) ressalta que os lodos são predominantemente inorgânicos e que a concentração
de sólidos totais no lodo, derivado de tanques de decantação, situa-se na faixa de 1.000 a
40.000 mg/L e o lodo proveniente da lavagem de filtros, apresenta menor teor de sólidos, em
torno de 40 a 1.000 mg/L. De forma genérica, a Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO)
varia entre 30 a 300 mg/L. A Tabela 1Erro! Fonte de referência não encontrada. apresenta
as porcentagens e taxas que compõem o lodo derivado de coagulação com sulfato de
alumínio.
Tabela 1- Características de LETA utilizando-se sulfato de alumínio como coagulante.
Sólidos
Totais (%)
Al2O3.5H2O
(%)
Inorgânicos
(%)
Matéria
Orgânica
(%)
pH DBO
(mg/L)
DQO*
(mg/L)
0,1-4 15-40 35-70 15-25 6-8 30-300 30-5000
DQO*: Demanda Química de Oxigênio.
Fonte: Richter, 2001.
No entanto, as características do lodo são muito variáveis, evidenciando, a necessidade de se
analisar, em cada caso o lodo proveniente das ETAs. Essa determinação é de suma
importância, pois a partir dela é que se definem a magnitude e o tipo de impacto ambiental
gerado e relacionado à disposição do resíduo (subproduto) do tratamento de água.
Além das características supracitadas, há também outros compostos presentes no lodo,
decorrentes de processos que antecedem a coagulação, bem como compostos de outros
coagulantes, seja produtos auxiliares do processo de coagulação. No estudo de Cordeiro
(1993) foram realizados testes para se determinar a concentração dos metais no lodo na fase
sólida. Os lodos analisados foram gerados em três ETAs, localizadas no Estado de São Paulo.
Os Resultados da caracterização apresentam-se na Tabela 2, a seguir:
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Tabela 2- Presença de Metais no Lodo oriundo de ETA em Fase Sólida.
Metais ETA 1 ETA 2 ETA 3
(mg/L) (mg/L) (mg/L)
Alumínio 3965,00 391 325
Bário - 0,22 0,18
Cádmio 0,14 0,02 0,02
Cálcio 142,00 - 0,08
Chumbo 2,32 0,20 0,30
Cloreto - 35,00 36,30
Cobre 1,47 0,12 0,20
Cromo Total 3,82 0,06 0,09
Ferro Total 3381,00 129 166
Ferro Solúvel 0,00 6,14 0,12
Magnésio 27,00 2,87 1,38
Manganês 1,86 7,80 3,44
Manganês Solúvel - 4,57 1,00
Níquel 2,70 0,14 0,12
Potássio 49,97 7,37 7,55
Sódio 311,00 29,30 63,00
Zinco 2,13 0,70 0,98
Fonte: Cordeiro, 1993 (adaptada).
Cordeiro (1999) considera que, além das proposições determinantes na formação do lodo
como a qualidade da água bruta, tipo de coagulante e eficiência da coagulação, é também
necessário que a quantidade utilizada de coagulantes seja adequada e determinada de forma
experimental e não de forma empírica, como se realiza em muitas ETAs.
Rodrigues (2012) relata que normalmente, há maior produção de lodo no período chuvoso,
época em que há piora na qualidade geral das águas dos mananciais, representada pelos
parâmetros turbidez e cor, necessitando, consequentemente, da aplicação de maiores
quantidades de produtos químicos para o tratamento.
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2.2 Impactos do LETA
No processo de tratamento convencional, o uso de insumos contendo metais, como o sulfato
de alumínio, pode aumentar a concentração desse metal. Devido a isso, surge a grande
preocupação em dispor corretamente o LETA, além do aumento do volume de chorume
gerado quando o lodo é disposto em aterros, contribuindo para a geração de impactos
negativos ao meio ambiente, quando depositados de forma inadequada (FONTES, 2008).
O sulfato de alumínio é o coagulante mais utilizado nas ETAs brasileiras, pois possui baixo
custo em relação aos outros coagulantes utilizados em escala comercial (como, p.ex., cloreto
férrico), facilidade de manuseio e transporte, além de eficiência comprovada (FRANCO,
2009). O alumínio (Al) é um componente que afeta a qualidade organoléptica da água, e que
tem seu valor máximo permissível de 0,2 mg/L de acordo com o Padrão de Potabilidade do
Ministério da Saúde (BRASIL, 2011).
Contudo, apresenta desvantagens como as destacadas por Clayton (1989) e McLachan (1995).
Clayton op.cit. demonstrou que caso o sulfato de alumínio esteja em concentração acima de
0,2 mg/L na água tratada, o mesmo oferece riscos à saúde. McLachan op. cit. relatou que
portadores de Alzheimer possuem grande quantidade de sais de alumínio no organismo, o que
pode ser uma causa para desenvolvimento dessa doença.
Além de problemas que acarretam a saúde humana, constatou-se que por não ser
biodegradável, o sulfato de alumínio traz inconvenientes quanto à disposição final do lodo
gerado e por tais motivos, países como Japão e China têm adotado com mais frequência o uso
de coagulantes naturais nos processos de potabilização da água (KAWAMURA et al.,1991).
Outro inconveniente no lodo gerado é que ele é menos suscetível à desidratação e o seu
lançamento inadequado em corpos d’água tem grande probabilidade de comprometer
negativamente a camada bentônica, causando impactos à vida aquática (CAMPOS;
CORDEIRO, 1999).
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Além desses lodos conterem metais pesados, apresentam também alta turbidez e elevadas
concentrações de sólidos e de DQO. Os sólidos contribuem para o assoreamento de cursos
d'águas, criação de bancos de lodo, alterações na cor e na composição química, além da
interferência na atividade fotossintética, podendo também ocasionar asfixia nos peixes por
entupimento das vias respiratórias (CORNWELL et al.,1987).
2.3 Classificação segundo a NBR 10.004/2004
Os Estados Unidos estabeleceram que estações de tratamento de água para abastecimento
público são classificadas como indústrias e, portanto, devem ter seus resíduos tratados e
dispostos convenientemente (CORDEIRO, 2001).
No Brasil, o entendimento do Ministério Público de Minas Gerais não é diferente dos Estados
Unidos, uma vez que as ETAs devem ser consideradas como indústrias e dispor
adequadamente seus resíduos (SARAIVA SOARES et al., 2009).
De acordo com a norma técnica NBR 10.004/2004 (ABNT, 2004), que classifica os resíduos
sólidos quanto aos seus riscos potenciais ao meio ambiente e à saúde pública, o lodo gerado
na indústria de produção de água potável é enquadrado como resíduo sólido. Ainda segundo
essa norma, os resíduos sólidos podem ser definidos como resíduos nos estados sólidos ou
semissólidos, que resultam de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar,
comercial, agrícola, de serviços e de varrição.
Os resíduos sólidos podem ser classificados quanto aos potenciais riscos ao meio ambiente e à
saúde pública, conforme diretrizes estabelecidas na NBR 10004 (ABNT, 2004):
- Resíduos Classe II A – resíduos não inertes: são aqueles que não apresentam periculosidade,
mas apresentam características tais como biodegradabilidade, combustibilidade ou
solubilidade em água;
- Resíduos Classe II B – resíduos inertes: são aqueles que, submetidos a um contato dinâmico
e estático com água destilada ou deionizada, à temperatura ambiente, não tiveram nenhum de
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seus constituintes solubilizados a concentrações superiores aos padrões de potabilidade da
água, executando-se aspecto, cor, turbidez, dureza e sabor.
Para que possa ser gerenciado adequadamente como resíduo sólido, ensaios permitiram
definir que o LETA se enquadra como Classe II A, não inerte, portanto, não deve ser lançado
nos corpos d’água sem prévio tratamento (PORTELA et al., 2003).
2.4 Disposição do lodo em Minas Gerais e aplicações
De acordo com Saraiva Soares et al. (2009) que analisaram dados apresentados pela
Concessionária Mineira de Saneamento, observou-se que das 175 ETAs de municípios
mineiros, 87% das estações lançavam o lodo em corpos d’água sem nenhum tratamento
prévio, 6% não informaram, e apenas 3% possuíam unidade de tratamento de resíduos (UTR).
Os estudos indicaram, ainda, que 2% das estações avaliadas lançavam seus efluentes brutos
(resíduos) na rede pluvial, 1% em ETE e 1% no solo, conforme pode ser visualizado no
Gráfico 1:
Gráfico 1-Destinação do Lodo nas ETAs Mineiras.
Fonte: SARAIVA SOARES et al., 2009 (Adaptado).
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A reciclagem de resíduos pode ser considerada uma prática ambientalmente correta, pois
torna possível o reaproveitamento ou utilização dos resíduos sólidos provenientes de diversas
atividades, até então considerados inúteis e problemáticos (ANDREOLI, 2006).
Devido à preocupação com a disposição do LETA, vêm sendo estudadas aplicações para este
resíduo. A disposição no solo deve ser avaliada, principalmente em função das características
físicas e químicas do lodo e o tipo de aplicação ou cultura agrícola a qual este resíduo será
adicionado, por existir nutrientes benéficos às diversas culturas como também por apresentar
teores mais elevados de alguns metais, principalmente o alumínio (COUTO, 2011; SOARES
et. al, 2009c). As características ambientais (da área onde se pretende dispor o LETA)
também devem ser avaliadas, tais como propriedades do solo e relevo, nível do lençol
freático, distância de cursos d’água, dentre outros (SOARES et. al., 2009a).
Conforme suas características, o LETA pode ser utilizado para recuperação de áreas
degradadas (condicionador de solo), fabricação de materiais da construção civil como tijolos e
fabricação de materiais cerâmicos (SOARES et al., 2009a; CORNWELL, 1999; BIDONE et
al.,2001; DI BERNARDO; DANTAS, 2005). Além disso, segundo Richter (2001), pode ser
utilizado na pavimentação de estradas e na produção de cimento. Tsutuya e Hirata (2001)
citam que o lodo também pode ser utilizado no cultivo de grama comercial, sendo aplicado na
fase líquida ou após sua desidratação proporcionando aumento na aeração e na capacidade de
retenção de líquido no solo, além de fornecer nutrientes às plantas.
2.5 Análise da destinação do lodo em diversos estados brasileiros
No Quadro 1 foi apresentado a compilação de dezenove estudos acerca da destinação e do
reuso do LETA em vários estados brasileiros, principalmente da região sudeste. Os relatos
datam dos últimos dezoito anos, sendo o mais antigo de 1999. Foram descritos o local de
estudo, as vantagens e desvantagens das tecnologias estudadas para disposição do lodo, e os
autores.
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Quadro 1 - Compilação produzida com base em informações obtidas sobre diversos estudos
relativos a disposição do LETA no Brasil, nos últimos 18 anos. (continua)
LOCAL
TÉCNICAS DE DISPOSIÇÃO DO LODO
FONTE VANTAGENS DESVANTAGENS
REDUÇÃO DO LODO
São
Cristóvão,
SE
Baixo custo do coagulante sulfato
de alumínio. Controle de dosagem
de coagulante, reduzindo também
a carga de resíduos.
Parâmetros de sólidos acima dos
previstos na CONAMA 357/2005.
Grandes variações de DBO e DQO.
Al, Pb, Mn sofreram variações de
concentração. Caracterizado como
potencial poluidor, por possuir altas
concentrações de metais pesados.
SOUZA (2009)
REVESTIMENTO RODOVIÁRIO
Ponta
Grossa, PR
Comprovada a possibilidade de
emprego do lodo para aplicação
em revestimento rodoviário.
Lodo mais frágil e com menor
resistência. A adição como parte do
solo reduz a qualidade do mesmo, sendo necessária adicionar mais
cimento para obter um desempenho
ideal, encarecendo o material solo
cimento.
FADANELLI e
WIECHETECK
(2010)
ENCAMINHAMENTO PARA ETE / ATERRO
Belo
Horizonte,
MG
Possui baixo custo e é de melhor
gestão. Transformando o lodo em
insumo, há redução dos efeitos
impactantes no meio ambiente e
gera renda e redução de custos na
produção.
O destino final do lodo desidratado
ainda constitui uma incógnita. O
aterro ainda parece ser o caminho
natural, desde que executado
levando em conta as peculiaridades
referentes a cada lodo.
MOREIRA
FILHO e
VIANNA (2012)
INCORPORAÇÃO EM CERÂMICA VERMELHA
Ouro Preto,
MG
Possibilidade de aproveitamento do
LETA em cerâmica vermelha para
adições de até 10% do lodo à
argila.
Partículas de lodo atuam como
inclusões que favorecem a fratura
do corpo causando diminuição dos
valores de Tensão de Ruptura à
Flexão dos corpos de prova.
PAIXÃO (2005)
Presidente
Prudente, SP
O lodo pode ser inserido no
material de fabricação da cerâmica.
É preciso que haja estudo aplicado
ao lodo a ser utilizado, pois as
variações influenciam diretamente
na qualidade do material produzido, principalmente na resistência,
plasticidade e absorção de água.
TEIXEIRA et al.
(2006)
Campos dos
Goytacazes,
RJ
Pode ser incorporado o LETA no
processo, uma vez que a
composição do lodo estudado é
semelhante à mineralogia das
argilas utilizadas na fabricação da
cerâmica.
A incorporação do lodo de até 10%
em peso com uma argila aumenta
ligeiramente a absorção de água e
diminui a resistência mecânica após
a fase de queima da argila.
MARGEM
(2008)
Rio de
Janeiro, RJ
Reaproveitado como matéria-prima
na indústria cerâmica, na proporção
máxima de 10% em massa de lodo.
A incorporação do lodo altera as
propriedades físicas e tecnológicas
do material levando a uma redução
na qualidade das peças obtidas.
COUTO (2011)
São Paulo,
SP
Produzir tijolos pelo processo de
extrusão foi viável ao receber porcentagens admissíveis de lodo à
massa nas condições de umidade
reais de saída da centrífuga.
Adições de lodo superiores a 8%
alteram negativamente as propriedades físico-mecânicas nas
peças cerâmicas.
TARTARI et al.
(2011)
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Quadro 1 - Compilação produzida com base em informações obtidas sobre diversos estudos
relativos a disposição do LETA no Brasil, nos últimos 18 anos. (continuação) LOCAL TÉCNICAS DE DISPOSIÇÃO DO LODO FONTE
VANTAGENS DESVANTAGENS
INCORPORAÇÃO EM CERÂMICA VERMELHA
Rio de
Janeiro,
RJ
Potencial para incorporar o lodo
em massas argilosas na fabricação
de cerâmica.
Pode ser incorporado em quantidades
moderadas devido ao seu elevado
valor de limite plástico.
PINHEIRO et al.
(2014)
INCORPORAÇÃO EM MATERIAL DE CONSTRUÇÃO CIVIL
São
Carlos,
SP
Viabilidade do LETA como
agregado miúdo em concretos para
recomposição de calçada, além de
ter potencial para utilização em concreto para fins mais nobres.
Sugere-se que a quantidade de lodo
utilizada em torno de 10% e que a
espessura do concreto para calçadas
deve ser de aproximadamente 5 cm.
COSTA (2011)
Salvador,
BA
LETA tem potencial como matéria
prima para confecção de blocos.
Não teve pontos negativos no artigo
estudado.
SANTOS (2011)
São
Paulo, SP
Tijolos ecológicos foram
confeccionados com a
incorporação de cinzas de carvão
de usinas termelétricas e de LETA
atendendo aos requisitos quanto a
compressão e absorção de água.
As partículas do LETA evidenciaram
frágil desagregação quando seco e
com baixa interação química entre si.
SILVA (2011)
São
Paulo, SP
Alternativa em substituição parcial
em peso de solo na fabricação de
tijolo solo-cimento.
Dificuldade em incorporar grande
quantidade do LETA na mistura solo-
cimento. Tende a aumentar o teor de
partículas finas, matéria orgânica e
plasticidade da mistura solo-cimento, interferindo na hidratação do
cimento.
RODRIGUES e
HOLANDA
(2013)
RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS - RAD
Brasília,
DF
O LETA pode ser disposto em
áreas degradadas, visto que eleva
os teores de macronutrientes e o
valor de pH do solo.
Em altas doses pode causar a
salinidade do solo. Para fins de
recuperação, sua aplicação deve estar
associada a um resíduo.
TEIXEIRA et al.
(2005)
RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS
Brasília,
DF
O LETA torna-se promissor ao se
avaliar os teores de P e de
matéria orgânica.
Não foi determinado pelo autor. MOREIRA et al.
(2007)
Brasília,
DF
O LETA é compatível com o uso
em RAD situadas em regiões
com características geológicas e
hidroquímicas semelhantes.
A lixiviação do LETA contribuiu com
o aumento da concentração de sólidos
dissolvidos para o lençol freático.
Porém, após 10 anos de disposição de LETA, o impacto ambiental nas águas
subterrâneas pode ser considerado
pequeno, pois não houve sequer
alteração da fácies da água subterrânea.
MOREIRA et al.
(2009)
Rio de
Janeiro,
RJ
O LETA não alterou as
características do solo quanto às
variáveis analisadas. Na presença
do lodo de esgoto, a aplicação de
LETA foi favorável à dinâmica
do N no solo até a dose de 37
Mg.ha-1; A aplicação do lodo de
ETE neutralizou o Al e alterou pH, Ca, H+Al, C, P e V% do solo.
A aplicação do LETA não apresentou
potencial de melhoria nos atributos de
fertilidade do solo.
BITTENCOURT
et al. (2012)
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Quadro 1 - Compilação produzida com base em informações obtidas sobre diversos estudos
relativos a disposição do LETA no Brasil, nos últimos 18 anos. (conclusão)
REMOÇÃO DO FÓSFORO EM EFLUENTES DE ETE
São
Paulo, SP
Reaproveitamento e
encaminhamento do LETA
utilizando sulfato de alumínio
para remoção de fósforo do
efluente final.
A presença de polímeros no LETA
ocasionou redução da capacidade de
adsorção do fósforo do efluente da
ETE.
CHAO et al.
(2009)
REUTILIZAÇÃO DO SULFATO DE ALUMÍNIO
Vitória, ES
Para as populações de 20.000 e 50.000 habitantes, a regeneração
de coagulantes e sua reutilização
na própria ETA ou em ETE é
economicamente viável.
Para ETAs de grande porte os processos de regeneração em reatores
em batelada possivelmente não serão
econômicos, devendo ser avaliada a
utilização de reatores em regime
contínuo.
GONÇALVES et al. (1999)
3 Metodologia
Para realização deste trabalho realizou-se vasto levantamento bibliográfico contemplando as
etapas geradoras de LETA no processo produtivo de água potável; caracterização desses
resíduos; possíveis impactos ambientais do LETA disposto inadequadamente; investigação do
cenário mineiro de disposição do LETA e análise das alternativas para disposição correta ou
reuso, passando-os do status de resíduo para insumo.
Pesquisou-se na literatura técnica brasileira e estrangeira pertinentes, normas da ABNT,
trabalhos acadêmicos e estudos realizados por Analistas do Ministério Público de Minas
Gerais.
4 Resultados e discussão
As técnicas de disposição de resíduos descritas no Quadro 1 podem ser visualizadas na Figura
2.
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Figura 2 - Formas e Quantidade de estudos para disposição do LETA.
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Redução do Lodo
Revestimento Rodoviário
Incorporação à cerâmica Vermelha
Incorporação em material de construção civil
Recuperação de Áreas Degradadas
Remoção de Fosfóro em efluente de ETE
Encaminhamento para ETE/Aterro
Recuperação do Sulfato de Alumínio
Quantidade de Estudos
Tip
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e D
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ão
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Lo
do
Fonte: Elaborado a partir das informações constantes no Quadro 1.
A forma de disposição do LETA mais contemplada nos estudos apresentados foi a aplicação
na construção civil (incorporação em materiais como cerâmica).
Como pontos positivos, as principais abordagens foram baixo custo na incorporação do
material, substituindo de 8 a 10% da argila utilizada na fabricação do produto, além de
contribuir para a economia na adição de água no processo de produção de cerâmica vermelha
por extrusão.
Entretanto, as variações nas características do lodo produzido nas ETAs, influenciam na
qualidade do material a ser produzido caso a incorporação não seja conduzida em proporções
corretas e aplicando-se a metodologia adequada, os lodos tornam a cerâmica pouco resistente,
favorecendo surgimento de trincas e deformações nas peças, tornando o material poroso
(absorvente), com consequente perda de qualidade.
Em seguida, os artigos científicos apresentaram a incorporação do LETA em materiais
agregados na construção civil, apresentando bons desempenhos nos resultados, já que o lodo é
similar à granulometria e às características dos demais componentes. Porém, como a
composição do LETA é variável, a logística de incorporação desse resíduo é complicada, por
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não se ter sempre a mesma composição e qualidade oriunda dos processos de tratamento de
água. Outro fator interessante no estudo de incorporação do LETA em materiais da construção
civil é que além do lodo, podem ser incorporados resíduos de outros setores, como as cinzas
de uma usina termelétrica, reduzindo assim, o volume de material descartado na natureza.
Cabe esclarecer que a aplicação de resíduos na fabricação de materiais para construção civil,
embora bastante contemplada nos estudos científicos, deve ser avaliada com cautela para não
trazer inconvenientes à saúde especialmente dos moradores dos imóveis edificados com esses
materiais. Essa avaliação justifica-se pelo contato frequente com esses materiais que,
dependendo do caso, podem liberar substâncias maléficas à saúde.
Na mesma quantidade de estudos, encontram-se as aplicações de LETA em áreas degradadas,
enaltecendo o potencial para tal aplicação. Contudo, Bittencourt et al. (2012), destacou que o
LETA não modificou nem positiva e nem negativamente os parâmetros estudados em sua
aplicação do solo, fazendo referência, mais uma vez, no tocante da variação das
concentrações químicas componentes do LETA.
O estudo de Moreira Filho e Vianna (2012) cita o encaminhamento do LETA para aterros
sanitários e para estações de tratamento de efluentes. No que diz respeito a dispor o lodo em
aterro sanitário, é necessário enfatizar que o lodo, em muitos casos, é encaminhado para ser
aterrado em discordância com os parâmetros vigentes na legislação ambiental, o que vem a
acarretar em impactos ambientais posteriores. Já o encaminhamento para ETEs faz com que o
lodo seja equalizado com o efluente resultante, fazendo com que sejam atendidos os
parâmetros ambientais. Embora essa metodologia atenda aos critérios ambientais, a mesma
não trata o lodo como insumo e, assim, não traz benefícios econômicos e acarreta em maior
acúmulo de resíduos dispostos no meio ambiente.
Já no estudo apresentado para a aplicação do lodo no revestimento rodoviário, embora
Fadanelli e Wiechetech (2010) tenham comprovado a possibilidade da utilização do lodo para
este uso, concluíram que para que seja eficiente a adição do mesmo, será necessário um
consumo muito maior de cimento, elevando os custos finais. O mesmo inconveniente
econômico foi constatado no estudo da extração do sulfato de alumínio do LETA, no qual
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para ETAs de grande porte, também foi inviável. Chao et al. (2009) demonstrou viabilidade
para se utilizar o lodo na remoção do fósforo em ETEs, desde que não sejam adicionados
polímeros, pois os mesmos reduzem a capacidade de adsorção do fósforo.
4 Considerações finais
O estudo demonstrou que no cenário mineiro predomina o lançamento in natura do LETA nos
corpos de água, ocasionando dano ambiental, devido sua composição química.
Foram apresentadas diversas alternativas para disposição e reuso do LETA, que pode passar
de resíduo a insumo de outro processo produtivo. A forma de disposição do LETA mais
contemplada nos estudos apresentados foi aplicação na construção civil (incorporação em
materiais como cerâmica), sendo que a escolha da solução mais adequada ao caso concreto
deverá ser realizada após sua caracterização.
Sludge from water treatment plant: waste or input?
Abstract
A problem faced by modern industries is the purpose for a decreasing generation of waste, its
reuse and proper disposal, in view of the current legislation that regulates activities with
polluting potential. The biggest challenge of drinking water treatment plants is on final
disposal of sludge generated in technical, environmental and economical questions. In Brazil,
the sludge from water treatment plant, by the ABNT Regulations NBR 10.004/2004, so it
should not be released in watercourse without an appropriate treatment. In view of this
concern regarding water treatment sludge, some other destinations have studied for this
residue. This way, some viable alternatives and existing solutions have identified for the
treatment and disposal of water treatment sludge, practiced in Brazil, transforming them into
inputs, checking its economical, technical and environmental feasibility.
Keywords: Sludge from water treatment. Reuse of sludge. Drinking water treatment plant.
Industrial waste.
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