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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
Departamento de Oceanografia
TROPICAL OCEANOGRAPHY
Revista online
Contatos: 1. Mestranda do PRODEMA (CFCH-UFPE). e-mail: silvia_elicia@hotmail.com; 2. Departamento de Oceanografia e Limnologia da UFRN. e-mail: mcbaraujo@yahoo.com.br
193
ISSN: 1679-3013
D.O.I.: 10.5914/to.2012.0070
LIXO MARINHO NA PRAIA DE TAMANDARÉ (PE–BRASIL): CARACTERIZAÇÃO, ANÁLISE
DAS FONTES E PERCEPÇÃO DOS USUÁRIOS DA PRAIA SOBRE O PROBLEMA
Silvia Elicia Fragoso MAGALHÃES1
Maria Christina Barbosa de ARAÚJO2
Recebido em: 07/11/2011
Aceito em: 26/04/2012
RESUMO
O estudo teve como objetivo identificar os tipos e as fontes do lixo presentes na praia de
Tamandaré-PE, sua relação com o número de usuários, e a percepção desses usuários em
relação ao problema. As amostragens ocorreram em agosto e outubro de 2009. A coleta do lixo
foi realizada em um transecto com 250m² e em uma faixa com 100m², (linha do deixa). A
aplicação dos questionários ocorreu para 10% dos usuários presentes na área. A quantidade de
usuários foi 1,75 vezes maior no período seco do que no chuvoso. A quantidade de lixo total
coletada nos dois períodos foi de 2.254 itens, sendo também maior no período seco (duas vezes
mais em relação ao chuvoso), porém não houve diferença qualitativa do lixo entre os dois
períodos, nem entre os locais de amostragem. O lixo relacionado com usuários foi maioria
(80,5%). Vinte e oito por cento (28%) dos usuários estão mais preocupados com a
infraestrutura e serviços prestados no local e 48% com a própria saúde e conforto e não com a
limpeza da área. Há necessidade de projetos de educação ambiental e melhoria dos sistemas de
limpeza urbana em Tamandaré.
Palavras-chave: ambientes costeiros; lixo marinho; percepção ambiental; gestão ambiental.
ABSTRACT
The study aimed to identify the sources of marine litter in Tamandaré beach (PE), its
relation to the number of users, and the perception of users about the problem. Sampling
carried out in August and October 2009. The litter was collected in one transect with 250m²,
and a belt-transect with 100 m² in the strandline. Questionnaires were applied to 10% of the
users in the area. The number of users was 1.75 times higher in the dry season than in rainy
season. The total amount of litter collected in the two periods was 2,254 items, is also higher in
the dry period (two times more than in the rainy season), but there was no qualitative
difference between the two periods and between sampling sites. The litter was mostly related to
users (80.5%). 28% of users are more concerned with infrastructure and services provided on
site and 48% of their own health and comfort and not with cleaning the area. There is the need
for environmental education projects and improvement of urban sanitation systems in
Tamandaré.
Key words: coastal environments; marine litter; environmental perception; environmental
management.
INTRODUÇÃO
O Brasil apresenta 8.500km de linha de costa, com alta potencialidade turística. No
Nordeste as praias são intensamente utilizadas praticamente durante o ano todo graças às
condições climáticas que favorecem essa prática. A ocorrência de lixo em áreas costeiras tem
sido reportada por pesquisadores em vários países, inclusive no Brasil, e destacada como uma
ameaça crescente (ARAÚJO e COSTA, 2007 a,b; COE e ROGERS, 2000; MOORE, 2008; SANTOS
et. al., 2005). Diversos autores retratam a importância das fontes ribeirinhas e dos próprios
usuários na contaminação de praias por resíduos sólidos (SILVA et al. 2008a; ARAÚJO e COSTA,
2007a,b; WILLIAMS e SIMMONS, 1997, 1999; SANTOS et al., 2004, 2005). Usuários de praia
são todas as pessoas que usufruem do ambiente praial, incluindo banhistas, comerciantes da
MAGALHÃES, S. E. F.; ARAÚJO, M. C. B. de. Lixo marinho na praia de Tamandaré (PE–Brasil): caracterização, análise das fontes e percepção dos usuários da praia sobre o problema.
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orla, moradores do bairro e turistas, entre outros (DIAS-FILHO et al., 2011a). Em uma pesquisa
realizada por BALLANCE et al. (2000), na África do Sul, foi constatado que mesmo os usuários
que admitem terem jogado os resíduos na praia em local inapropriado, afirmam que a limpeza
do lugar é um fator importante na escolha da praia para frequentar.
O lixo pode ser responsável por diversos prejuízos econômicos, sociais e ambientais, que
vão desde os gastos despendidos na limpeza das praias pelos órgãos públicos, verba que
poderia ser aplicada para outras finalidades; perda do potencial estético e turístico do local;
contaminação da areia por agentes patogênicos; danos causados a biota marinha, como
ingestão acidental e enredamento pelo lixo, o que pode causar sufocamento, ferimentos,
doenças e até a morte do animal (MOORE, 2008). Juntamente com outras formas de poluição
extremamente danosas, os plásticos presentes no lixo, compõem umas das maiores
preocupações em termos de poluição marinha; este fato se deve às suas propriedades
intrínsecas, como baixa densidade (que facilita sua flutuação, e consequente dispersão),
acumulação lenta, persistência, aporte crescente com o tempo e ampla disseminação do uso
(COE e ROGERS, 2000; MOORE, 2008). Ligar o lixo presente nas praias à suas fontes mais
prováveis é o ponto chave para efetuar o seu controle, segundo COE e ROGERS (2000).
Segundo TUDOR e WILLIAMS (2006), a qualidade da praia é extremamente relevante na
valorização da zona costeira para ambos, residentes e visitantes, fazendo com que a satisfação
do usuário tenha se tornado um termômetro do potencial da praia como recurso turístico, já
que existe uma tendência de abandono de locais degradados. Para BRETON et al. (1996),
conhecer o perfil social dos usuários, além de suas percepções e expectativas em relação ao
ambiente, é essencial para melhorar a função ecológica e social das praias. Inúmeras pesquisas
têm sido realizadas em várias partes do mundo investigando as preferências e prioridades dos
usuários de praias (MACLEOD et al., 2002; ROCA e VILLARES, 2008; ROCA et al.,2009; TRAN et
al., 2002).
O estudo teve como objetivo estabelecer a principal fonte do lixo presente na praia de
Tamandaré, através da análise qualiquantitativa, sua relação com o número de usuários, e a
percepção desses usuários em relação ao problema, contribuindo assim como uma importante
ferramenta para gestão ambiental.
METODOLOGIA
Área de estudo
A praia de Tamandaré localiza-se no município do mesmo nome, inserido no litoral sul de
Pernambuco – Brasil (8º 47’20” S e 35º06’45” W ), a 110 Km da cidade de Recife (Fig. 1). O
município possui uma população fixa em torno de 20.000 habitantes, porém durante a alta
estação (novembro a fevereiro) ocorre um significativo aumento no número de pessoas
presentes, chegando a aproximadamente 60 mil, ou seja, um aumento em torno de 3,5 vezes
(ARAÚJO e COSTA, 2006). A praia está inserida em duas unidades de conservação, uma federal
e outra estadual, ambas na categoria de Área de Proteção Ambiental – APA, tornando-a alvo de
maior controle e fiscalização ambiental por parte dos órgãos competentes.
Vários rios contribuem na dinâmica costeira da região estudada, os principais são: o rio
Formoso que se localiza ao norte, e os rios Ilhetas, Mamucabas e Una que ficam ao sul. O rio
Una é um dos maiores responsáveis pelo aporte de sedimento terrígenos para a região de
Tamandaré e também um importante veículo da poluição por resíduos sólidos, pelo fato de suas
águas cortarem na Zona da Mata extensas áreas de monocultura de cana-de-açúcar, áreas
urbanas sem saneamento básico, matadouros, curtumes, usinas e destilarias (ARAÚJO e
COSTA, 2006). A corrente litorânea na região se dirige para o norte (MOURA, 1991).
A área delimitada para o estudo fica localizada ao norte do rio Una, próxima aos quiosques
da orla de Tamandaré (Fig. 1), sendo o local de maior concentração de usuários, provavelmente
por apresentar os melhores locais para banho de mar com águas calmas, além da presença de
salva-vidas e infraestrutura.
A amostragem foi feita em dois períodos: chuvoso (dias 21, 22 e 23 de agosto/2009) e seco
(dias 02, 03 e 04 de outubro/2009), durante marés de sizígia.
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Determinação do número de usuários
Foi realizada através de contagem das pessoas na praia durante os períodos das coletas,
somente nos sábados ao meio dia. O sábado foi escolhido por apresentar o maior número de
usuários do final de semana de acordo com os comerciantes da área.
A contagem considerou apenas os usuários presentes em uma área de praia com extensão
de aproximadamente 400 metros, a qual incluiu tanto a área destinada à coleta do lixo como a
área mais ao sul onde se localizam quiosques (Fig.1). Foram considerados tanto os usuários que
estavam na areia como os que estavam no mar.
Coleta do lixo
Foi realizada em duas áreas adjacentes de um mesmo trecho da praia: um transecto
amostral com 10 metros de extensão e 25 metros de largura (início da vegetação até o nível da
linha d’água da maré mais baixa), totalizando 250m² de área; e uma faixa com 100 metros de
extensão por 1 metro de largura (área de 100m²) correspondente à linha do deixa (Fig.1). Os
resíduos foram coletados, triados e agrupados nas categorias: plástico, vidro, metal, papel,
madeira e orgânico.
Avaliação da percepção dos usuários
Foi realizada durante o período das coletas, somente aos sábados a partir do meio dia, em
uma amostra de 10% do total de usuários previamente contados na área.
A coleta de dados foi realizada através da aplicação de um questionário estruturado
dividido em duas partes (análise do perfil e percepção/sugestões de medidas mitigadoras). Os
entrevistados foram recrutados de maneira aleatória dentro da área utilizada para contagem
dos usuários. A abordagem foi feita de maneira amistosa com a identificação dos
entrevistadores e explicação dos objetivos do estudo, conforme sugestão de BASTOS (1999).
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N
PE
N
Oceano Atlântico
TAMANDARÉ
Figura 1 ─ Vista aérea da área de estudo com detalhamento das áreas de coleta de lixo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Número de usuários presentes na área
Como esperado, o período chuvoso apresentou um número menor de frequentadores
(184) do que o seco (323), ocorrendo, portanto, um aumento de frequentadores em 1,75 vezes
de um período para o outro. Obviamente este fato está relacionado com o início da alta estação
e à presença de uma maior quantidade de dias ensolarados, o que funciona como um convite
para as pessoas frequentarem as praias, fato também observado por DIAS-FILHO et al. (2011a)
e SILVA et al. (2008b).
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Avaliação do lixo
Análise quali-quantitativa
Foi encontrado um total de 2.254 itens, considerando-se o lixo recolhido no transecto e na
linha do deixa em ambos os períodos. Destes, os plásticos (itens identificáveis e fragmentos),
contribuíram sozinhos com 50,17% (Fig.2). Do total restante, os itens orgânicos foram maioria
(35,14%).
0
200
400
600
800
1000
1200
Itens plásticos identificáveis
Fragmentos plásticos
Outros
Nú
mero
de ite
ns
Figura 2 ─ Quantidade total de itens plásticos em relação ao total do lixo coletado.
Em relação à maior representatividade dos plásticos, o resultado seguiu a tendência já
observada em outros trabalhos (ARAÚJO e COSTA, 2006; ARAÚJO e COSTA, 2007a,b; DIAS-
FILHO et al., 2011b; SANTOS et al., 2004; SILVA et al., 2008a), fato justificado pelo baixo
custo de fabricação e flexibilidade de formas, o que incentiva o uso. Aliado a este fato, o
plástico é extremamente durável, de difícil degradação e de fácil flutuação, características que
acabam favorecendo sua dispersão pelo ambiente.
Dentre os itens plásticos identificáveis, as embalagens metalizadas de picolés, biscoitos
etc., e os canudos, tampas e copos foram os itens mais frequentes. Dos quatro tipos citados,
três estão relacionados com os usuários da praia. Este resultado também foi encontrado por
DIAS-FILHO et al. (2011b) e SILVA et al. (2009), onde os itens típicos de usuários de praia
foram encontrados com maior frequência.
Além dos itens plásticos identificáveis, foi coletado um total de 334 fragmentos plásticos,
correspondendo a um percentual em torno de 29% desta categoria ou quase um terço do total
de plásticos, número bastante expressivo. A medição do tamanho dos fragmentos, realizada
apenas no período seco, mostrou uma predominância de itens com tamanho entre 5,1 a 10cm
(Fig. 3).
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0
20
40
60
80
100
120
< 2 cm 2 – 5 cm 5,1 – 10 cm > 10 cm
Nú
mero
de ite
ns
Tamanho dos fragmentos
Figura 3 ─ Tamanho e quantidade dos fragmentos coletados no período seco.
A tendência dos plásticos com o passar dos tempos é a fragmentação em pedaços cada
vez menores. A baixa porcentagem de fragmentos menores que 2 cm pode ser explicada pela
facilidade com que esses itens se misturarem à areia dificultando a visualização e amostragem.
Esses fragmentos pequenos se constituem um perigo para a biota aquática, já que podem ser
ingeridos inadvertidamente, causando obstrução do aparelho digestivo, com riscos de morte
para o animal (COLE et al. (2011).
Nos dois períodos amostrados ocorreu a presença de esférulas plásticas (pellets), porém
apenas oito foram coletadas, mas isto não significa que não haja mais destes itens na praia,
pois assim como os fragmentos plásticos muito pequenos, o diminuto tamanho dos pellets os
deixa quase imperceptíveis na areia.
Com relação aos itens orgânicos, as cascas de amendoim foram maioria (69%), sendo que
80% foram coletadas no período seco. O grande percentual de itens orgânicos encontrados
(>35%) pode indicar que há uma recarga constante deste tipo de resíduo, pois ele é de fácil
degradação, desaparecendo do ambiente num curto espaço de tempo. O risco potencial desse
tipo de resíduo é principalmente para usuários da praia, devido à atração de vetores de doenças
nas áreas onde eles se acumulam.
As tampas de alumínio (cerveja, refrigerante, etc.) foram os itens mais coletados entre os
metais, já as pontas de cigarro foram os itens mais representativos dentro da categoria “papel”,
e por fim, os pedaços de madeira, colheres de sorvetes e palitos de picolés apresentaram maior
representatividade entre os itens de madeira.
Também foram coletados itens como potes de margarina, cotonetes, garrafas de produtos
de limpeza doméstica e higiene pessoal e outros itens “de casa”, indicando a ocorrência de
outras fontes além dos usuários da praia. Provavelmente esses itens chegam à praia
principalmente através do rio Una (ao sul da localidade) cujas águas são direcionadas para o
norte por influência das correntes marinhas que se dirigem para essa região (MOURA, 1991).
Considerado o total de lixo coletado independente de sua constituição, 10 tipos se
destacaram em quantidade (Fig.4), sendo que a maior parte está provavelmente associada ao
uso da praia (Tab.1) e tem origem, portanto, em seus usuários.
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0
100
200
300
400
500
600
Figura 4 ─ Itens mais comuns no lixo coletado na praia de Tamandaré-PE, considerando as
quatro fontes analisadas.
A grande quantidade de pedaços de isopor encontrada é oriunda provavelmente das
jangadas de pescadores presentes na localidade, que utilizam esse material como
preenchimento nas jangadas, visando uma melhor flutuação.
Para possibilitar uma melhor visualização qualitativa do lixo encontrado na praia e
investigar sua principal fonte, os resíduos coletados foram separados de acordo com a origem
mais provável (Tab. 1). Foram considerados como de fonte mista aqueles itens que tanto
podem ter sido largados na areia por usuários, como podem ter vindo através dos rios ou do
mar.
Tabela 1 ─ Classificação dos itens encontrados, de acordo com a origem mais provável.
POSSÍVEIS
FONTES
ITENS
USUÁRIOS
Canudos
Copos, pratos e talheres plásticos
Palitos de sorvetes e de pirulitos
Embalagens de bronzeador/protetor solar/água
oxigenada
Embalagens metalizadas (de picolé, biscoito
etc.)
Garrafas de água
Restos de comida/cocos /cascas de amendoim
Pontas de cigarro
Tampas e latinhas de metal
Isopor/linhas de pesca
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APORTE DE RIO
Potes de margarina e outros alimentos
Cotonetes
Frascos de produtos de limpeza doméstica
Frascos de produtos de higiene pessoal
Pedaços de borracha
Frascos de remédio
Folhas plásticas
Outros itens de casa
MISTA
Garrafas PET/anéis de garrafa
Garrafas de vidro
Embalagens tetra pack /sacolas plásticas
Fios/fitas de nylon
Tampas plásticas
Calçados/pedaços de espuma
Fraldas /absorventes
Brinquedos
Seringas/protetores de seringas
A análise da quantidade total de cada item classificado de acordo com a fonte mais
provável demonstrou que a contribuição dos usuários tem uma influência preponderante na
poluição da praia, já que correspondeu a aproximadamente 80% do total coletado (Fig.5).
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
Usuários Aporte de rio Mista
Período chuvoso
Período Seco
Figura 5 ─ Quantificação dos itens do lixo coletado em cada período, segundo sua fonte mais
provável.
Comparação entre os locais amostrados: transecto X linha do deixa
Era esperado que o transecto (250m²) por ter uma área maior que a linha do deixa
(100m²), apresentasse uma maior quantidade de itens coletados, porém este fato não foi
observado. O número total de itens foi de 804 no transecto e 1450 na linha do deixa, ou seja,
1,8 vezes maior. O número de itens por m² ficou em torno de 3 no transecto e 14 na linha do
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deixa. Isto significa que a linha do deixa funciona como um local de grande concentração de
resíduos, já nas outras áreas do ambiente praial, os resíduos embora presentes, encontram-se
espalhados.
Apesar da diferença na quantidade, os tipos de itens encontrados foram bastante
semelhantes nas duas áreas amostrais, com os plásticos correspondendo a aproximadamente
50% dos itens.
Caso extrapolássemos a quantidade de itens encontrada no transecto (804/250m²) para
todo o ambiente praial no restante da área de coleta (2.500m²), o total seria de 8.844 itens
coletados em 2.750m² (250 + 2.500) da praia. Este valor pode ser considerado alto para uma
praia, principalmente quando a mesma está inserida em áreas de conservação como é o caso
da praia de Tamandaré.
Comparação entre os períodos amostrados (chuvoso e seco)
Houve um aumento na quantidade total de itens do lixo do período chuvoso para o seco
(Fig.6). No período seco a categoria "outros" (vidro, metal, papel, madeira e orgânico) foi
elevada principalmente por conta da quantidade de itens orgânicos coletados. Entre todos os
resíduos, os itens plásticos foram maioria para ambos os períodos.
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
Período Chuvoso Período Seco
Plásticos
Outros
Figura 6 ─ Quantidade total de itens do lixo por período amostral.
Quando se analisa os resíduos de acordo com a fonte (Fig.5) observa-se que a ocorrência
de chuvas provoca um incremento da poluição na praia por itens que não se relacionam com o
uso da praia, mas que chegaram até ela através dos rios. Com as chuvas, há um maior aporte
de água dos rios (pelo aumento da vazão) para o mar e o lixo descartado indevidamente acaba
sendo carregado para os ambientes costeiros. A quantidade desses itens foi 1,8 vezes maior no
período chuvoso em relação com o seco. Com a diminuição no número de usuários nos meses
mais chuvosos, é esperado que a quantidade de lixo oriunda dessa fonte também diminua, fato
comprovado para Tamandaré. O número de itens com fonte no usuário foi 2,4 vezes maior no
período seco em relação ao chuvoso, embora o número de usuários tenha aumentado apenas
1,7 vezes. Como a área de coleta encontrava-se muito próxima da principal área de
concentração dos usuários, provavelmente a retirada diária dos resíduos pelos donos dos
quiosques e por garis, não é suficiente para diminuir sua quantidade na praia e o lixo acaba
acumulando de um dia para o outro no período seco.
Para saber se houve diferença significativa entre a quantidade de itens coletados e o
número de usuários presentes nos períodos seco e chuvoso foi realizado o teste Qui-quadrado,
porém antes de sua aplicação foi feita uma média do número de itens coletados durante os três
dias de cada período. No período chuvoso foi encontrada uma média de 245,99, já no período
seco a média foi de 505,32 itens.
Para o número de itens foi encontrado o seguinte valor: (χ (1;0,05) = 89,322) p<0,0001,
este resultado mostra que houve diferença significativa entre a quantidade de itens presentes
nos dois períodos. Também houve diferença significativa entre o número de usuários para
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ambos os períodos, pois foi encontrado um valor de Qui-quadrado de (χ (1;0,05) = 38,108)
p<0,0001.
A significância da relação entre o número de usuários e a quantidade de lixo, não pôde ser
feita, pois a quantidade de amostras foi insuficiente para este tipo de análise, porém através de
covariância foi visto que:
N° usuários = 52,15 + 0,53 N° de
itens.
Esse cálculo mostra que a cada dois usuários presentes no local de estudo, um descartou
o lixo indevidamente na praia. Usando estes dados para uma simulação do número de pessoas
que jogou lixo na areia da praia durante o período de estudo, temos um número de 92 usuários
para o período chuvoso e 161 para o período seco, ou seja, metade dos usuários de cada
período.
Avaliação dos usuários
Perfil
Foram entrevistados um total de 18 usuários no período chuvoso e 32 no período seco,
correspondente a 56% do sexo masculino e 44% do sexo feminino. A faixa salarial mais
frequente foi de 1 a 4 salários mínimos.
Com relação à faixa etária, durante a estação chuvosa a maior frequência foi entre 30-40
anos (55,55%), já na estação seca foi de usuários entre 18-30 anos (43,75%). A presença de
um público mais jovem na estação seca se deve provavelmente ao fato de que as pessoas de
maior idade procuram tranquilidade, situação difícil de encontrar nos períodos de alta estação.
Para uma melhor compreensão da escolaridade foram criados dois grupos: o Grupo 1, que
compreende os usuários com escolaridade do ensino fundamental incompleto até ensino médio
incompleto e o Grupo 2, que diz respeito aos com ensino médio completo à superior completo
(Tab.2).
Tabela 2 ─ Divisão dos usuários por nível de escolaridade.
Escolaridade Grupo 1 Grupo 2
Quantidade de usuários 17 33
Percentual 34% 66%
Dentro do Grupo 2, a categoria de ensino médio completo foi a que teve maior
representatividade. Já no Grupo 1, a categoria mais frequente foi a do ensino fundamental
incompleto. O tipo de usuário que vai a praia de Tamandaré, apresenta em sua maioria um bom
conhecimento escolar, visto que boa parte das pessoas possui, no mínimo, escolaridade de nível
médio completo; porém os extremos de escolaridade apresentaram o mesmo percentual de
18%.
Como a faixa salarial mais frequente foi de 1 a 4 salários mínimos, há coerência entre os
resultados, já que a faixa salarial de quem tem somente ensino médio completo tende a ser
esta que foi observada.
A maioria dos frequentadores da área é do próprio Estado de Pernambuco, sendo 16% do
município de Tamandaré e 72% de outras cidades; 12% vieram de outros estados. A presença
de turistas estrangeiros foi pouco significativa. Dentre os usuários de Pernambuco, a maior
presença foi de frequentadores vindos de cidades do interior (43,18%), sendo a maioria da
zona da mata. Esta maior frequência de visitantes vindos de cidades do interior de Pernambuco
pode ser explicada pelo fato de Tamandaré ser a praia da região mais próxima com melhor
infraestrutura, serviços e elevado caráter paisagístico, encantando as pessoas que visitam esta
praia. A baixa frequência de usuários do próprio município também foi observada no estudo de
MAGALHÃES, S. E. F.; ARAÚJO, M. C. B. de. Lixo marinho na praia de Tamandaré (PE–Brasil): caracterização, análise das fontes e percepção dos usuários da praia sobre o problema.
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DIAS-FILHO et al. (2011a), para a praia de Boa Viagem – PE, onde a maioria dos usuários era
de outro bairro ou cidade.
O principal critério de escolha da praia de Tamandaré pelos usuários foi a presença de
uma boa infraestrutura e serviços (28%). As opções “ponto de encontro com os amigos”,
“limpeza da área” e “proximidade com a residência” apresentaram o mesmo percentual (24%).
Este tipo de opinião foi semelhante ao encontrado por DIAS-FILHO et al. (2011a), segundo o
qual, as pessoas estão preocupadas em primeiro lugar com seu conforto, com a qualidade do
atendimento e com sua diversão.
Em relação à frequência dos usuários na praia, foi visto que a maior parte deles (42%) a
utiliza com regularidade, 30% vai raramente e 28% a frequentam mais nos períodos de férias e
feriados (Fig.7). Esses resultados mostram que a praia de Tamandaré consegue manter os
turistas que a frequentam, fazendo com que estes voltem outras vezes, e serve de atrativo para
novos usuários.
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
Raramente 2 a 3 vezes por mês
Todos os finais de semana
Durante a semana e finais
de semana
Nos períodos de férias e
feriados
Figura 7 ─ Frequência com que os usuários visitam a praia de Tamandaré.
Percepção
Tamandaré, em comparação com outras praias visitadas, foi considerada limpa por 58%
dos entrevistados. Porém a opção suja foi a segunda mais abordada pelos usuários (24%),
enquanto as outras opções, “muito limpa” e “muita suja” obtiveram percentuais de 16 e 2%
respectivamente. É válido destacar que esse tipo de opinião é muito subjetivo, portanto, uma
praia suja para uma pessoa pode ser considerada limpa para outra. O curioso em relação a esta
pergunta é que muitas pessoas as quais alegavam que a praia era suja, o faziam porque
achavam que sargaço era lixo. Isto mostra a falta de informação de que o sargaço é um
composto natural do ambiente, enquanto que o lixo é um poluente com consequências graves.
O plástico foi o tipo de lixo citado como o mais frequente na praia (75%), seguido pelos
restos de alimentos (12,5%), embora este último sendo bem menos citado, em comparação
com o volume encontrado durante a análise qualitativa dos resíduos. Os itens de vidro e
alumínio foram pouco citados pelas pessoas (2 e 6% respectivamente), concordando com o
coletado durante a análise dos resíduos. Já os itens de papel e de madeira não foram citados
nenhuma vez, apesar de terem sido coletados durante o estudo. O coco, apesar de não ter sido
colocado dentre as opções de escolha, foi citado por alguns usuários como um dos tipos de lixo
mais frequentes encontrados na praia, os quais alegaram que a praia fica cheia deles
principalmente nas férias e feriados. No entanto os cocos só corresponderam a apenas 4,6% do
montante de itens coletados.
Apenas duas pessoas das que citaram a praia de Tamandaré como muito limpa
reafirmaram não ver nenhum tipo de lixo na praia, as demais citaram a presença de itens,
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mostrando assim uma discordância entre suas opiniões, ou seja, a praia de Tamandaré
apresenta lixo em seu litoral.
Os resultados encontrados de um modo geral concordaram com a análise quali
quantitativa dos resíduos, porém o lixo orgânico também foi muito coletado e pouco marcado
pelos entrevistados, provavelmente pelo fato dos restos de alimentos serem de menor tamanho
e de fácil decomposição, ficando assim pouco visíveis para as pessoas, ou então considerados
de pouco impacto.
Com relação ao comportamento com relação ao próprio lixo produzido, a maioria dos
usuários assumiu que descarta o lixo em lixeiras próximas e/ou coloca em sacos plásticos e
entrega ao comerciante do quiosque (Fig.8), porém se de fato esta fosse a atitude da maioria
dos usuários da praia, a quantidade de lixo coletada seria bem menor.
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
Descarta em lixeiras próximas
Coloca em sacos plásticos e
entrega ao barraqueiro
Leva para descartar em casa
Abandona na areia
Figura 8 ─ Comportamento dos usuários com relação ao lixo que produzem.
O abandono do lixo na areia foi pouco citado provavelmente pelo constrangimento por
parte dos usuários em assumir que descartam o lixo inadequadamente com receio de levarem
repreensões por parte dos entrevistadores.
Em relação aos principais problemas que o lixo pode causar ao ambiente, a maior
preocupação demonstrada pelos usuários foi com o risco de doenças que a contaminação da
areia pode trazer (37,7%)(Fig.9), fato também observado na pesquisa de DIAS-FILHO et al.
(2011a). Ficou claro que estes usuários não têm uma idéia concreta sobre as consequências
que o descarte inadequado de lixo pode trazer para o meio ambiente, como riscos aos animais
marinhos e perda do potencial turístico de um local, com consequente prejuízos econômicos.
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%Contaminação da areia
Atração de vetores de doenças
Danos causados aos animais
marinhos
Gasto do dinheiro público
c/limpeza
Perda do potencial turístico da
praia
Maior importância
Menor importância
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Figura 9 ─ Opinião dos usuários sobre os problemas decorrentes da presença de lixo na praia
de Tamandaré.
A maioria das pessoas (59%) opinou que a manutenção de uma praia sem lixo é
responsabilidade de todos (Fig. 10).
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
Órgãos Públicos Comerciantes Usuários Todos que frequentam
Figura 10 ─ Opinião dos usuários sobre a responsabilidade na manutenção da praia limpa.
Este resultado mostra que há uma espécie de “falsa conscientização” das pessoas, pois a
maioria alega que todos que frequentam a praia têm responsabilidade por sua limpeza, mas na
prática acabam por descartar o lixo de maneira inadequada. Isto leva a crer que é preciso
incrementar programas de educação/conscientização ambiental para que realmente os usuários
incorporem a necessidade e importância do descarte adequado do lixo.
Como observado na figura 10, os órgãos públicos realmente têm grande relevância na
manutenção de uma praia limpa, visto que o lixo também tem origem em outras fontes. As
pessoas que alegavam ser responsabilidade dos comerciantes a manutenção da praia limpa
comentavam que os mesmos deveriam disponibilizar sempre uma lixeira para os clientes e
limpar a área em que eles se localizam.
Entre as medidas citadas pelos entrevistados como as mais importantes para a redução do
lixo na praia de Tamandaré três se destacaram, porém a maioria citou a “obrigatoriedade para
que os barraqueiros recolham o lixo produzido pelos clientes” como a mais importante (Tab.3).
Tabela 3 ─ Opções mais citadas como medidas para redução de lixo na praia.
Rank Medidas para redução do lixo Citações
1º. Obrigatoriedade para que os barraqueiros recolham o lixo 35
2º. Campanhas de educação ambiental para usuários 33
3º. Distribuição de sacolas plásticas aos usuários 30
4º. Aumento do número de lixeiras fixas 27
5º. Aumento do número de garis 16
De fato é importante que os comerciantes da área ajudem na manutenção da limpeza da
área, mas isto contradiz o que foi falado na questão anterior, onde segundo os próprios
usuários, a responsabilidade de uma praia sem lixo é de todos.
A distribuição de sacolas plásticas realmente é uma medida interessante, porém deve-se
ter certa cautela com relação a isto, pois foi visto que em alguns pontos da praia, havia sacolas
plásticas abandonadas na areia com lixo dentro, com grande chance de serem carregadas para
o mar com o aumento da maré, acabando por espalhar todo lixo novamente pela praia.
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Apesar do litoral de Tamandaré apresentar poucas lixeiras fixas no calçadão e garis para
limpeza da areia, os quais atuam apenas em poucos trechos da praia, as opções “aumento do
número de lixeiras fixas” e “aumento do número de garis” foram as menos citadas pelos
usuários, divergindo com as opiniões encontradas por SOUZA (2008) em Porto de Galinhas
(PE), onde os frequentadores apontaram a implantação de lixeiras fixas como uma das
principais medidas a ser tomada.
A preocupação dos usuários com relação a campanhas de educação ambiental como
ferramenta para redução do lixo na praia (Tab.3), demonstra que eles têm consciência que na
praia pode haver lixeiras, sacolas plásticas, etc., mas se o usuário não tiver uma consciência
ambiental, nada disto adianta.
CONCLUSÃO
Apesar do município de Tamandaré estar inserido em áreas de conservação ambiental,
não tem recebido a devida atenção com relação à poluição de suas praias. A análise quali-
quantitativa do lixo marinho na praia mostrou que ele é abundante e composto principalmente
por itens plásticos. A quantidade de lixo coletado variou entre os períodos, porém o tipo de lixo
encontrado foi semelhante, indicando que as fontes são semelhantes, mudando apenas a
contribuição e a intensidade de cada uma delas. A quantidade de lixo coletado foi diretamente
proporcional ao número de usuários presentes em cada período, correspondendo à maior
quantidade em relação às outras fontes avaliadas, o que pode indicar que no trecho de praia
estudado, os usuários são os principais responsáveis pela poluição da área. Como o período
seco escolhido correspondeu ao mês de outubro, é provável que nos períodos de alta estação a
contribuição do lixo com origem nos usuários da praia seja ainda maior. É recomendável novas
avaliações nesse período.
Embora a presença de resíduos tipicamente de origem ribeirinha tenha sido menor, esta
fonte não pode ser desconsiderada. É fato que em eventos de grande vazão dos rios, uma
grande quantidade de resíduos pode chegar até as praias, portanto é essencial ações de
controle dos resíduos domésticos em toda a área da bacia hidrográfica.
A presença de esférulas plásticas ou pellets indica que esse tipo de resíduo tem se
difundido em ambientes costeiros de Pernambuco, apresentando mais um risco para a fauna
marinha.
A amostragem realizada na linha do deixa mostrou ser suficiente para a caracterização da
poluição por lixo, pelo fato de ser a área de maior concentração dos resíduos. Esta metodologia
poupa esforço amostral, reduzindo o tempo que seria gasto para coleta dos resíduos em todo o
ambiente praial.
Grande parte dos itens encontrados é potencialmente reciclável, o que poderia se
constituir numa possível forma de renda complementar para os moradores do município e
melhoria da qualidade do meio ambiente, caso fossem coletados. Incentivo às cooperativas de
catadores gerando mais uma fonte de renda para a população local seria uma iniciativa bem
vinda. Ações educativas realizadas nas comunidades ribeirinhas do rio Una seriam de grande
importância, já que uma parcela do lixo encontrado na praia de Tamandaré pode estar vindo de
outros municípios.
Pela análise da percepção dos usuários da praia de Tamandaré foi visto que a maioria
destes está satisfeita com a limpeza da mesma, porém 42% sentem-se incomodados com a
sujeira do local. É importante que esta mesma pesquisa seja realizada no período de alta
estação e que estudos relacionando a quantidade de lixo por m² e a satisfação em relação à
limpeza da área seja feito.
Embora uma grande parcela dos frequentadores de Tamandaré tenha um bom nível de
escolaridade, não foi observado um entendimento mais abrangente sobre os problemas que o
descarte inadequado de lixo pode causar; a maior parte dos entrevistados está mais
preocupada com sua saúde e conforto decorrente da infraestrutura presente na área do que
com problemas ambientais. Em contrapartida, estes mesmos usuários acham que campanhas
de educação ambiental, distribuição de sacolas plásticas, juntamente com o recolhimento do
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lixo por parte dos barraqueiros devem ser medidas a serem adotadas para ajudar na redução
do lixo da praia. Estes resultados mostram que embora pouco conscientes sobre a problemática
do lixo, os usuários cobram ações para sua redução.
Como Tamandaré é uma das praias mais badaladas do litoral sul de Pernambuco, há
riscos de perda da qualidade ambiental em curto prazo com consequente redução do turismo,
caso não sejam tomadas medidas pra minimizar ou solucionar o problema do lixo costeiro. São
necessários investimentos em infraestrutura, saneamento básico e campanhas educativas.
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