Post on 30-Dec-2015
LITERATURA BRASILEIRA: DO ROMANTISMO AOMODERNISMO
Maria Suely de Oliveira LopesSilvana Maria Pantoja dos Santos
UESPI 2010
Licenciatura Plena em Letras EspanholModalidade a Distância
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Literatura Brasileira II
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UESPI/NEAD Letras Espanhol
UAB – UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASILUESPI – UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍNEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIALICENCIATURA PLENA EM LETRAS ESPANHOL
UESPI2010
LITERATURA BRASILEIRA: DO ROMANTISMO AOMODERNISMO
Maria Suely de Oliveira LopesSilvana Maria Pantoja dos Santos
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Literatura Brasileira II
Lopes, Maria Suely de Oliveira. Literatura Brasileira: do Romantismo aoModernismo. Maria Suely de Oliveira Lopes; Silvana MariaPantoja dos Santos. – Teresina:UAB/UESPI, 2010.155 p. (Licenciatura em Letras Espanhol)
1. Literatura Brasileira. 2. Romantismo na literatura.3. Realismo na literatura. 4. Naturalismo na literatura.5. Parnasianismo na literatura. 6. Simbolismo naliteratura. I. Santos, Silvana Maria Pantoja dos. II Título.
CDD: B869.09
L864l
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UESPI/NEAD Letras Espanhol
Presidente da RepúblicaLuiz Inácio Lula da Silva
Vice-presidente da RepúblicaJosé Alencar Gomes da Silva
Ministro da EducaçãoFernando Haddad
Secretário de Educação à DistânciaCarlos Eduardo Bielschowsky
Diretor de Educação à Distância CAPES/MECCelso José da Costa
Governador do PiauíWilson Nunes Martins
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Pró-reitor de Administração e Recursos Humanos – PRADProf. Acelino Vieira de Oliveira
Pró-reitor de Planejamento e Finanças – PROPLANProf. Raimundo da Paz Sobrinho
Coordenadora do curso de Licenciatura Plena em Letras Espanhol – EADProfª. Margareth Torres de Alencar Costa
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Literatura Brasileira II
EdiçãoUAB - FNDE - CAPESUESPI/NEAD
Diretora do NEADProfª. Dra. Bárbara Olímpia Ramos de Melo
Coordenador AdjuntoProf. M.Sc. Raimundo Isídio de Sousa
Coordenadora do Curso de LicenciaturaPlena em Letras – EspanholProfª. M.Sc. Margareth Torres de Alencar Costa
Coordenador de T utoriaProf. Esp. Omar Mário Albornoz
Coordenação de Produção de MaterialDidáticoProf. Esp. Marivaldo de Oliveira Mendes
Autoras do LivroProfª. M.Sc. Maria Suely de Oliveira LopesProfª. M.Sc. Silvana Maria Pantoja dos Santos
RevisãoProfª. M.Sc. Leonildes Pessoa FacundesProf. M.Sc. Raimundo Isídio de SousaProfª. M.Sc. Teresinha de Jesus Ferreira
DiagramaçãoLuiz Paulo de Araújo Freitas
CapaLuiz Paulo de Araújo FreitasFonte da imagem: <http://inss.nireblog.com>
UAB/UESPI/NEAD
Campus Poeta Torquato Neto (Pirajá),NEAD, Rua João Cabral, 2231, bairroPirajá, Teresina (PI). CEP: 64002-150,
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MATERIAL PARA FINS EDUCACIONAISDISTRIBUIÇÃO GRATUITA AOS CURSISTAS UAB/UESPI
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SUMÁRIO
Apresentação .................................................................................................... 9
UNIDADE 1 ROMANTISMO
1.1 A FICÇÃO ROMÂNTICA NO BRASIL: UMA INTRODUÇÃO ....................... 13
1.2 CARACTERÍSTICAS DA PROSA ROMÂNTICA ........................................ 18
1.3 OS ROMANCISTAS ROMÂNTICOS .......................................................... 29
1.3.1 Joaquim Manuel de Macedo ............................................................... 29
1.3.2 Vida e obra de José de Alencar:alma brasileira ................................. 36
1.3.3 Franklin Távora ..................................................................................... 54
1.3.4 Visconde de T aunay ............................................................................. 55
1.3.5 Martins Pena ........................................................................................ 56
1.3.6 O Romance de costumes: Manuel Antonio de Almeida ..................... 58
UNIDADE 2 REALISMO-NATURALISMO
2.1 CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL DO REALISMO/NATURALISMO ..... 67
2.2 O ROMANCE REALISTA/NATURALISTA BRASILEIRO ............................. 71
2.2.1 Machado de Assis ................................................................................. 72
2.2.2 Aluízio Azevedo .................................................................................... 80
2.2.3 Raul Pompéia ........................................................................................ 86
UNIDADE 3 PARNASIANISMO E SIMBOLISMO NO BRASIL
3.1 PARNASIANISMO ..................................................................................... 93
3.2 SIMBOLISMO ............................................................................................ 96
UNIDADE 4 PRÉ-MODERNISMO
4.1 MODERNISMO NO BRASIL .................................................................... 106
4.2 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA ........................................................ 108
4.3 CARACTERÍSTICAS DA LITERATURA MODERNISTA............................ 109
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Literatura Brasileira II
4.4 A SEMANA DE ARTE MODERNA ........................................................... 115
4.5 A PRIMEIRA FASE MODERNISTA (1922 a 1930) .................................... 117
4.6 SEGUNDA FASE MODERNISTA NO BRASIL (1930-1945) - PROSA ...... 128
4.7 A SEGUNDA FASE MODERNISTA-POESIA (1930 a 1945) ..................... 133
4.8 TERCEIRA FASE MODERNISTA NO BRASIL (1945- +/- 1960) ............... 140
REFERÊNCIAS ............................................................................................. 149
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APRESENTAÇÃO
O presente livro integra o material de apoio pedagógico
desenvolvido pela Universidade Estadual do Piauí-UESPI,
correspondente à disciplina Literatura Brasileira II. Compõe a
estrutura curricular do Curso de Licenciatura Plena em Língua
Espanhola, na modalidade de educação a distância.
O material foi organizado com a proposta de contribuir com
os seus estudos e reflexões acerca da prosa, estendendo-se do
Romantismo às tendências contemporâneas. Vale ressaltar que
embora a ênfase seja maior na prosa, teve-se o cuidado de abordar
também as estéticas Parnasiana e Simbolista que se destacam na
poesia, a fim de não romper com linearidade da periodização literária.
Para melhor aplicação dos conteúdos programáticos e
eficácia nos estudos, o trabalho foi sistematizado a partir de
pressupostos teóricos formadores da história da literatura brasileira
que discutem os elementos que constituintes dos fatos literários.
Os conteúdos estão distribuídos em quatro unidades, a saber: a
primeira unidade denominada: O Romantismo, que aborda o
contexto histórico, as características gerais e a prosa romântica
brasileira e seus principais representantes; a segunda: O Realismo
e o Naturalismo, envolvendo o contexto histórico, as características
gerais, bem como a prosa realista-naturalista brasileira e os
respectivos representantes; a terceira: Parnasianismo e o
Simbolismo que trata da poesia são abordados de modo mais
geral, haja vista que os objetivos desta disciplina estão mais
voltadas para a prosa. Por fim, a disciplina traz, ainda, breves
referências ao Pré-modernismo, dando maior ênfase no
Modernismo com destaque ao contexto histórico, característica e
principais representantes de cada geração.
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Literatura Brasileira II
Visando colaborar com a metodologia de estudo, sugerem-
se alguns passos: observe os objetivos das unidades e faça as
atividades propostas no final de cada texto, isto ajudará você a
aprofundar o assunto; empenhe-se nos trabalhos de grupo tanto
quanto nas reflexões individuais; compartilhe ideias; consulte os
sites sugeridos; atente para as referências bibliográficas e, se
necessitar, recorra a elas para aprofundar seus conhecimentos.
Por fim, leia, reflita, analise criticamente cada ideia e/ou
teoria aqui apresentada. Suas dúvidas poderão ser colocadas junto
ao seu tutor. Aproveite! Bons estudos!
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UNIDADE 1
CONTEÚDOS:
• A Ficção romântica brasileira
• Contexto Histórico
• Características
• O Romantismo no Brasil
• Autores representativos
• Leitura interpretativa de textos
OBJETIVO:
√ Reconhecer a ficção romântica, destacando suas características
essenciais, seu contexto e seus principais representantes na prosa
brasileira.
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Literatura Brasileira II
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1.1 A FICÇÃO ROMÂNTICA NO BRASIL - UMA INTRODUÇÃO
O Romantismo
no que se refere à
poesia foi estudado no
livro anterior.
Para dar
continuidade ao estudo
desse movimento,
iremos fazer uma abordagem sobre a ficção com seus principais
representantes. Antes é necessário fazermos uma introdução sobre
o movimento em destaque. Foi observado que o Romantismo, de
acordo com Coutinho (2002), tendo inovado, completa e
sistematicamente, a poesia e o drama, substituindo por um ideal
novo superado dos clássicos, não se configurando assim a ficção,
principalmente desenvolvida na França, Inglaterra, e Alemanha onde
a existência de importante tradição levaria o romance romântico à
condição de mero prolongamento do romance dos séculos
precedentes e, em especial, das obras mais significativas dos pré-
românticos. A única exceção, como acentua Paul Van Tieghen, viria
a ser o romance histórico.
Entretanto, foi no romance que o Romantismo encontrou o
melhor veículo para a divulgação de suas idéias. O Romance, forma
definitiva moderna, surgiu como resposta a necessidades de
expressão, da parte do escritor, e como resposta a determinadas
aspirações, da parte do leitor. A partir dessas necessidades, o
Romantismo, proflifera-se. Os movimentos revolucionários dessa
época fizeram ruir a velha estrutura social, emergindo em
consequência elementos novos das camadas inferiores da
estratificação sócioeconômica.
www.infomenews.com. Acesso em 20.02.2010
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Literatura Brasileira II
O industrialismo, com o progresso da técnica, pôs em
vigor novas formas de trabalho, baseadas na especialização.
Uma nova atitude em face da vida, os valores novos, novos
anseios surgiram, ao mesmo tempo, para o homem atordoado
do início do século XIX. O frio equilíbrio racional das idéias, dos
sentimentos neoclássicos e uma linguagem estranha a esses
novos valores a se debaterem na maré revolta de anseios por
justiça e por aspirações reivindicatórias.
Todos esses acontecimentos nos permitem
compreender o que tem sido apontado como característica
fundamental do Romantismo, ou seja, a sua atitude de
permanente oposição, de luta contra o que até então vigorava
e, ao mesmo tempo, de protesto contra as novas formas de
existência. Ao ideal renascentista de uma cultura integral, o
liberalismo burguês respondia com o processo de
individualização derivado dos novos métodos de trabalho, o que,
em última análise, desligava o homem da sociedade. Daí o
sentimento de solidão que domina o Romantismo. Ao destruir
as bases da sociedade, o liberalismo burguês impedia a
estruturação da atmosfera necessária à arte de expressão
extensa. O Romantismo sempre permaneceu atento às lutas
políticas, não obstante sua tendência à embriaguez metafísica,
e fez dos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, sua
inspiração e seu motivo.
Surgia, dessa forma, uma nova temática para a literatura:
as camadas que os movimentos revolucionários haviam trazido
para a realidade social emergiriam, também, para as páginas
dos romances e para os versos do poema. Seriam nas primeiras
que elas encontrariam sua melhor expressão. O romance mais
do que a poesia e o teatro era o meio adequado à difusão das
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ideias românticas, pelo menos daquelas tendências mais profundas
e, por isso mesmo, universais.
O romance romântico europeu, conforme Coutinho (2002,
p. 233), apresenta uma série de características gerais que pouco
variam nas diversas literaturas nacionais, sendo mais importantes
aquelas já indicadas por Van Tieghen: a) o predominante papel
que exerce a personalidade do autor, e cujas origens residem na
nouvelle Héloíse, de Rousseau; b) a importância conferida à paixão,
que já agora não só proclama seu valor intrínseco, como reclama
seus direitos e sua liberdade em face de restrições ou preconceitos
de ordem moral e social; c) o amor ao exotismo, ao maravilhoso, à
aventura; d) a evocação do passado, de regra o nacional; e) o
sentimento da natureza e a pintura de paisagens nas quais se
desenvolve a ação, o que confere às emoções das personagens
ressonâncias mais profundas; g) certo realismo na adaptação e
fixação de aspectos do mundo objetivo, de detalhes da vida familiar;
h) ao lado da narrativa impessoal, a narrativa pessoal, em forma
de romance epistolar e autobiográfico, técnica que apresenta certas
vantagens para a
expressão direta das
grandes paixões; i)
quanto ao estilo,
geralmente este era
mais concreto e mais
colorido do que os dos
romancistas do século
XVIII e, com frequência,
apaixonado, impetuoso, brilhante e sonoro, declamatório para o
gosto atual, abundante no uso de hipérboles, exclamações e
imagens.
A maja desnuda, Goya, Museu doFonte: <www.historiadaarte.com.br>. Acesso
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Literatura Brasileira II
O ROMANCE ROMÂNTICO
Destaque especial teve, no movimento romântico, a
narrativa romanesca. Foi por meio dos romances que a Europa
marcou seu reencontro com o mundo medieval em que repousavam
as raízes das modernas nações europeias. Ali floresceram os ideais
cavalheirescos que resgatavam, na origem heróica, a dignidade
da pátria e se expressaram nos romances históricos. Encontram-
se também as narrativas apoiadas no embate entre o bem e o mal,
com a vitória do primeiro.
No Brasil, o romance histórico se fez indianista na busca
das raízes da nacionalidade (não esqueçamos que a
independência, há pouco tempo alcançada, legou aos intelectuais
românticos o compromisso de construir a identidade nacional).
O primeiro romance bem-sucedido, na história da literatura
brasileira foi A moreninha , de Joaquim Manuel de Macedo,
publicado em 1844. Seu reconhecimento se deve ao fato de ter
sido a primeira narrativa centrada em personagens brasileiros, com
ambiência local. Vale lembrar que, na Europa e nas traduções
brasileiras as narrativas românticas eram editadas sob a forma de
capítulos, aumentando extraordinariamente a tiragem dos
periódicos. Os leitores se entusiasmavam pelo desenvolvimento das
histórias, eram seduzidos pela riqueza de acontecimentos
bombásticos, pelas emoções desenfreadas, pela linguagem acessível,
pela ausência de qualquer abstração, que suscitava expectativa e
ansiedade pelo penúltimo quando tudo se ajustava e se explicava.
Tais romances, na concepção de Gonzaga (2002, p. 64),
receberam o nome de folhetins. Ao escrever um folhetim, o artista
submetia-se às exigências do público burguês e dos diretores de
jornais. Sue, romancista francês, ressuscitou um personagem
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UESPI/NEAD Letras Espanhol
porque os leitores não se conformavam com sua morte, e isso
ameaçava a venda do periódico no qual a narrativa era publicada.
Além disso, os folhetins não podiam criticar os valores da época,
reivindicar o verdadeiro humanismo, pois obrigatoriamente tinha de
se sujeitar aos valores ideológicos do público, constituindo-se assim
numa arte de evasão e de alienação da realidade. Quase todo
romance romântico assume a estrutura de folhetim, que é a seguinte :
(HARMONIA) -> (DESARMONIA) -> (HARMONIA FINAL)
O sucesso do folhetim europeu possibilitou o surgimento
de vulgares adaptações, feitas por escritores de segunda categoria,
até que vão surgindo autores do nível de Joaquim Manuel de
Macedo. Surgia o romance brasileiro. E o nosso romance
começava sob a dimensão do Romantismo.
Os romances do período romântico foram construídos em
torno de quatro grandes núcleos:
· O romance histórico, voltado para as relações que
fizeram o Brasil colônia;
· O romance indianista , com a intenção de estabelecer
nossas raízes históricas, construiu-se em torno da idealização da
figura do índio, transformado em herói nacional;
· O romance urbano , com ênfase nas relações amorosas,
foram o espaço de revelação das preocupações burguesas, sua
noção de honra e o significado do dinheiro nas relações estabelecidas;
· O romance sertanista ou regionalista , voltado para o
mundo rural, veio configurou a abertura para uma das temáticas
mais significativas a desenvolver-se na literatura brasileira nos
movimentos literários que se seguiram ao Romantismo. Embora
encontrados em muitos dos escritores do período, os romances
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Literatura Brasileira II
assim caracterizados foram preocupação especial de José de
Alencar, que se propôs, através de sua obra, representar o Brasil
em todas as suas facetas.
1.2 CARACTERÍSTICAS DA PROSA ROMÂNTICA
Grande é o número de características que marcaram o
movimento romântico, características essas que, centradas sempre
na valorização do eu e da liberdade, vão-se entrelaçando, umas
conjugadas às outras, umas desencadeando outras e formando
um amplo painel de traços reveladores. Para aqui discuti-las, vamos
seguir os aspectos considerados os mais significativos por Proença
Filho (1985) em sua análise dos Estilos de Época na Literatura.
Contraste entre os ideais divulgados e a limitação imposta
pela realidade vivida
O universo conhecido se alarga, o Século das Luzes deixa
um rastro de anseios libertários, desloca-se o centro do poder; a
Fonte: <www.portalartes.com.br>. Acesso em 21.02.2010
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dependência social e econômica, a inconsciência, o
desconhecimento estabelecem para a imensa maioria, no entanto,
uma existência marcada por limitações de toda ordem.
Imaginação criadora
Num movimento de escapismo, o artista romântico evade-
se para os universos criados em sua imaginação, ambientados no
passado ou idealizados no futuro idealizados, em terras distantes
envoltas na magia e no exotismo, nos ideais libertários alimentados
nas figuras dos heróis. A fantasia leva os românticos a criar em
tanto mundos de beleza que fascinam a sensibilidade, como
universos em que a emoção se realiza no belo associado ao
terrificante vejam-se, as figuras do Drácula, do Frankstein e a
ambiência que os rodeia.
Subjetivismo
Retrata o mundo pessoal, interior, os sentimentos do autor
que se ou são o espaço central da criação. Com plena liberdade
Fonte: <www.pipocabloq.pop.com.br>
Fonte: <Antigravidade.wordpress.com>
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Literatura Brasileira II
de criar, o artista romântico não se acanha em expor suas emoções
pessoais, em fazer delas a temática sempre retomada em sua obra,
conforme trecho abaixo, extraído.
(...) O hálito ardente de Peri bafejou-lhe a face. Fez-se no
semblante da virgem um ninho de castros rubores e lânguidos
sorrisos: os lábios abriram como as asas purpúrea de um beijo
saltando vôo (GONZAGA, 2002, p. 72).
O artista romântico, com plena liberdade de criar, não se
nvergonha de expor suas emoções pessoais, em fazer delas a
temática sempre retomada em sua obra.
Evasão
O escapismo romântico manifesta-se tanto nos processos
de idealização da realidade circundante como na fuga para
mundos imaginários. Quando acompanhado de desesperança,
sucumbe ao chamado da morte, companheira desejada por muitos
e tema recorrente em grande número de poetas.
(...) Cecília abriu os olhos e, vendo seu amigo junto dela,
ouvindo ainda suas palavras, sentiu o enlevo que deve ser o gozo
da vida eterna (GONZAGA, 2002, p. 72).
No fragmento acima a evasão se manifesta por meio da
expressão gozo da vida eterna conduzindo a personagem Cecília
a sonhar mesmo estando de olhos abertos.
Senso de mistério
A valorização do mistério, do mágico e do maravilhoso
acompanha a criação romântica. É também esse senso de mistério
que leva grande número de autores românticos a buscar o
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UESPI/NEAD Letras Espanhol
sobrenatural e o terror. Vejamos o excerto abaixo, retirado da obra
Noite na Taverna, de Álvares de Azevedo.
(...) Uma noite, e após uma orgia, eu deixara dormida no
leito dela a condessa Bárbara. Dei um último olhar àquela forma
nua e adormecida com a febre nas faces e a lascívia nos lábios
úmidos, gemendo ainda nos sonhos como na agonia voluptuosa
do amor. Saí. Não sei se a noite era límpida ou negra; sei apenas
que a cabeça me escaldava de embriaguez. As taças tinham ficado
vazias na mesa: aos lábios daquela criatura eu bebera até a última
gota o vinho do deleite… (www.passeiweb.com.Acesso em
21.02.2010)
O senso de mistério é identificado neste trecho
principalmente através das expressões noite, orgia, lábios
úmidos, negra, embriaguez utilizadas pelo autor no sentido de
criar uma sensação quase sobrenatural.
Consciência da solidão
A consciência da solidão é consequência do exacerbado
subjetivismo, que dá ao autor romântico um sentimento de
inadequação e o leva a sentir-se deslocado no mundo real e, muitas
vezes, a buscar refúgio no próprio eu.
(...) Na fronte calma e lisa como mármore polido, a luz do
ocaso esbatia um róseo e suave reflexo; di-la-eis misteriosa
lâmpada de alabastro guardando no seio diáfano o fogo celeste
da inspiração. Tinha a face voltada para as janelas, e o olhar vago
pairava-lhe pelo espaço (MOISÉS, 1971, p.177).
O romântico abre espaço para a individualidade, definidas
por várias emoções e sentimentos. Podemos notar pelos termos
que denotam solidão, como por exemplo, o olhar vago.
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Literatura Brasileira II
Reformismo
Esta característica manifesta-se na participação de autores
românticos em movimentos contestadores e libertários, com grande
influência em sua produção, como foi a campanha abolicionista
abraçada por Castro Alves e o movimento republicano assumido
por Sílvio Romero. Observe o fragmento abaixo da obra A Escrava
Isaura, que aborda o tema da liberdade:
(...) - Deixe-se disso, senhora; eu não penso em amores e
muito menos em liberdade; às vezes fico triste à toa, sem motivo
nenhum...
- Não importa. Sou eu quem quero que sejas livre, e hás
de sê-lo. (MOISÉS, 1971, p.179).
A ânsia pela liberdade é uma das tônicas que acentuamos
neste item. O artista romântico idealiza a liberdade tanto no plano
sentimental quanto no plano social.
Sonho
O sonho revela-se na idealização do mundo, na busca por
verdades diferentes daquelas conhecidas, na revelação de anseios.
Leiamos o exemplo a seguir para focalizar essa característica.
(...) As notas sentidas e maviosas daquele cantar
escapando pela janela abertas e escoando ao longe em derredor,
dão vontade de conhecer a sereia, que tão lindamente canta. Se
não é sereia, somente um anjo pode cantar assim (MOISÉS, 1971,
p.177).
No sonho, o artista cria um mundo segundo os seus
sentimentos e interesses pessoais que podem ser atestados nas
expressões ao longe e em derredor.
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Fé
É a fé que conduz o movimento romântico crença na própria
verdade, crença na justiça procurada, crença nos sentimentos
revelados, crença nos ideais perseguidos, crença que se revela
ainda em diferentes manifestações de religiosidade cristã – fé. Não
podemos esquecer a profunda influência do medievalismo na
construção do mundo romântico, dele fazendo parte a religiosidade
cristã. A título de exemplo, vejamos o trecho abaixo:
(...) Bem sabes, quanto minha sogra antes de expirar te
recomendava a mim e ao meu marido.Hei de respeitar sempre as
recomendações daquela santa mulher, e tu bem vês, sou mais tua
amiga que tua senhora. (MOISÉS, 1971, p. 179)
Ilogismo
O ilogismo conduz o artista romântico para uma
instabilidade emocional traduzida em atitudes antiéticas ou
paradoxais: alegria e tristeza, entusiasmo e depressão.
(...) Não quero que cantes mais, ouvistes Isaura?...Se não,
fecho-te o meu piano.
- Mas senhora, apesar de tudo isso, que sou eu mais que
uma simples escrava? Essa educação que me deram, e essa
beleza, que tanto me gabam, de que me servem? (MOISÉS, 1971,
p. 179).
Aqui, neste trecho, a personagem Isaura tendo aprendido
a tocar piano é impedida, às vezes de tal atividade pela condição
de se sentir escrava. As idéias são de ordem contraditória.
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Literatura Brasileira II
Culto à natureza
A natureza adquire especial significado no mundo
romântico. Testemunha e companheira das almas sensíveis é,
também, refúgio, proteção, mãe acolhedora. Costumamos afirmar
que, para os românticos, a natureza foi também personagem, com
papel ativo na trama. Podemos perceber o culto à natureza através
do fragmento abaixo:
(...) Era por uma linda e calmosa tarde de outubro. O sol
não era posto, e parecia boiar no horizonte suspensos sobre rolos
de espumas de cores cambiantes orlados de efênvera de ouro.
(MOISÉS, 1971, p.178)
O fragmento acima aponta para os elementos da
natureza,como o sol, horizonte confirmando dessa forma o
envolvimento do artista ao cantá-la.
Retorno ao passado
Tal retorno deu origem a diversas manifestações: a)
saudosismo voltado para a infância, o passado individual; b)
medievalismo e indianismo, na busca pelas raízes históricas, as
origens que dignificam a pátria. Observemos o trecho retirado da
obra Inocência de Taunay.
(...) Ia com o coração cheio de apreensões e olhos se lhe
arrasavam de lágrimas, de cada vez que contemplava o
melancólico buriti (MOISÉS, 1997, p. 198)
O buriti é o termo poético que transpõem o artista para
um mundo distante, mas presente em seu seio.
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UESPI/NEAD Letras Espanhol
Gosto do pitoresco, do exótico
(...) Ainda a procura de novas situações conduz o romântico
às terras distantes, às florestas virgens, às paisagens orientais
ainda não exploradas.
Diante dela e todo a contemplá-la, está um guerreiro,
estranho, se é guerreiro e não algum mau espírito da floresta. Tem
nas faces o branco da areias que bordam o mar; nos olhos o azul
triste das águas profundas. Ignotas armas e tecidos ignotos cobrem-
lhe o corpo (GONZAGA, 2002, p. 72).
Exagero
É presente, recorrente o exagero nas emoções, nos
sentimentos, nas figuras do herói e do vilão, na visão maniqueísta
ao dividir o bem e o mal, exagero que se manifesta nas
características já listadas.
(...) Há anos raiou no céu fluminense uma nova estrela.
Desde o momento de sua ascensão ninguém lhe disparou
o cetro; foi proclamada a rainha dos salões.
Tornou-se a deusa dos bailes; a musa dos poetas e o ídolo
dos noivos em disponibilidade.
Duas opulências, que se realçam como a flor em vaso de
alabastro; dois esplendores que se refletem , como raio de sol no
prisma do diamante.
Quem não se recorda de Aurélia Camargo, que atravessou
o firmamento da Corte como brilhante meteoro, e apagou-se de
repente no meio do deslumbramento que produzia o seu fulgor?
(MOISÉS, 1997, p. 133)
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Literatura Brasileira II
A característica acima é percebida quando o artista utiliza
expressões que remetem exagero. A título de exemplo, destacamos
o enunciado a seguir: raiou no céu fluminense uma nova estrela.
Liberdade criadora
Contra todas as regras dos clássicos, o romântico
proclama a independência pessoal para julgar o que era belo ou
verdadeiro, valoriza o gênio criador e renovador do artista. A regra
das regras é a inspiração.
(...) A graciosa ará, sua companheira e amiga, brinca junto
dela. Às vezes sobe aos ramos da árvore e de lá chama a virgem
pelo nome; outras remexem o uru de palha matizado, onde traz a
selvagem seus perfumes, os alvos fios do crautá, as agulhas da
juçara com que tece a renda, e as tintas de que matiza o algodão
(GONZAGA, 2002, p. 72).
No romantismo o autor tem liberdade para criar de acordo
com sua imaginação, ainda que tenha que infringir algumas regras
da norma culta.
Sentimentalismo
A poesia do eu, do amor e da paixão. O amor, mais que
qualquer outro sentimento, é o estado de fruição estética que se
manifesta em extremos de exaltação ou de cinismo e libertinagem,
mas sempre o amor.
(...) O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a
baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado
(GONZAGA, 2002, p. 72) .
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UESPI/NEAD Letras Espanhol
O romântico é um eterno confessor de seus sentimentos.
Sabe combinar as palavras para expressar suas emoções.
Ânsia por glória
Outra característica marca o escritor romântico é seu
desejo manifesto de ser o centro da sociedade em que vive. O
artista quer ver-se reconhecido e admirado.
(...) - Mas, senhora, apesar de tudo isso, que sou
eu mais do que uma simples escrava? Essa educação, que me
deram e essa beleza, que tanto me gabam, de que me
servem?...São trastes de luxo colocados na senzala do africano. A
senzala nem por isso deixa de ser o que é: uma senzala (MOISÉS,
1997, p. 133).
As palavras de Isaura, a seguir, remetem á característica
citada anteriormente: Essa educação, que me deram e essa
beleza, que tanto me gabam, de que me servem?...
Importância da paisagem
A paisagem é tecida de acordo com as emoções dos
personagens e a temática das obras literárias.
(...) A cúpula da palmeira, embalançando-se
graciosamente, resvalou pela flor d’água como um ninho de garças
ou alguma ilha flutuante,formadas pelas vegetações aquáticas
(GONZAGA apud ALENCAR, 2002, p. 72).
No Romantismo, a natureza interage com o eu-lírico e
funciona quase como a expressão mais pura do estado de espírito
do poeta.
28
Literatura Brasileira II
Gosto pelo noturno
O gosto pelo noturno encontra-se em harmonia com a
atmosfera de mistério, tão próxima do gosto de todos os
românticos. Leiamos o trecho de Alexandre Herculano.
(...) Porque te havia eu de amar, ó sol, se tu és o inimigo
dos sonhos do imaginar; se tu nos chamas á realidade, e a realidade
é tão triste?
Pela escuridão da noite, nos lugares ermos e às horas
mortas do silêncio a fantasia do homem é mais ardente e robusta
(PROENÇA, 1985, p. 185).
Idealização da mulher
Anjo ou prostituta, a figura da mulher para o romântico é
sempre capaz de mudar a vida do próprio homem.
‘’ (...) Eu o escrevi logo depois do nosso casamento; pensei
que morresse naquela noite, disse Aurélia com gesto sublime.
Seixa contemplava-a com os olhos rasos de lágrimas.
- Esta riqueza causa-te horror? Pois faz-me viver, meu
Fernando. É o meio de a repelires. Se não for bastante, eu a
dissiparei’’ (ALENCAR, José. Senhora In:http://
www.lotecultural.com/26/12/2007/200.
Aurélia, com seu gesto de amor transforma a vida de
Fernando e consequentemente a sua também.
Função sacralizadora da arte
O poeta sente-se como guia da humanidade e vê na arte
uma função redentora.
29
UESPI/NEAD Letras Espanhol
Acrescentemos a essas características os novos
elementos estilísticos introduzidos na arte literária: a valorização
do romance em suas muitas variantes; a liberdade no uso do ritmo
e da métrica; a confusão dos gêneros, dando lugar à criação de
novas formas poéticas; a renovação do teatro.
Agora passaremos a identificar os principais romancistas
do romantismo com suas obras e a caracterização dentro da
proposta da literatura nacional.
1.3 OS ROMANCISTAS ROMÂNTICOS
1.3.1Joaquim Manuel de Macedo
Nasceu em Itaboraí, 1820,
e faleceu no Rio de Janeiro, 1882.
Formou-se em Medicina pela
Faculdade do Rio de Janeiro, mas
não chegou a exercer a profissão.
Autor do primeiro romance urbano
do Brasil, A Moreninha (1844) [ver
Antologia], que obteve um
estrondoso sucesso entre os
leitores da classe média, dedicou
parte de seu tempo escrevendo
outros romances que seguiam os
moldes do primeiro, além de peças de teatro e outros gêneros
literários, acabando por consolidar sua popularidade como escritor.
Também foi jornalista, deputado eleito várias vezes pelo Partido
Liberal. Exerceu também o magistério, sendo professor de História
do Brasil no Colégio D. Pedro II, além de preceptor dos netos do
http://www.cce.ufsc.br/~nupill/literatura/
macedo.html
30
Literatura Brasileira II
imperador. Nos últimos anos de sua vida, veio a sofrer de alguns
problemas mentais, vindo a falecer na capital. Foi jornalista, político
militante e professor de História e Coreografia do Brasil no Colégio
Pedro II, foi Sócio-fundador, secretário e orador do Instituto Histórico
e Geográfico. Brasileiro, desde 1845. Deputado à Assembléia
Provincial do Rio de Janeiro e deputado geral (legislatura 1864-68
e 1878-81) como representante do partido liberal. Ligou-se por
laços de amizade à família Imperial, tanto que foi professor dos
filhos da Princesa Isabel.
Romancista, poeta, autor dramático, é fecunda a sua obra.
Abusou do derramamento sentimental do gosto popular, daí seu
enorme sucesso. É reputado bom cronista do Rio antigo, sendo
um dos patronos da Academia Brasileira de Letras.
Joaquim Manuel Macedo é um dos fundadores do romance
no Brasil e um dos criadores do teatro brasileiro. Descreveu com
senso de - observação à vida familiar e os usos e costumes da
sociedade carioca de seu tempo: as cenas triviais da rua os
preconceitos da sociedade, as festas, - os saraus familiares, as
conversas de comadre, as pequenas Intrigas, os ingênuos ciúmes,
os namoros piegas de estudantes os quais sempre acabavam em
feliz casamento.
Fonte: <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/romantismo/imagens/romantismo>
31
UESPI/NEAD Letras Espanhol
Características Literárias da prosa de Joaquim Manuel de
Macedo
Autor do primeiro romance urbano do Romantismo
brasileiro, Joaquim Manuel de Macedo teve também o mérito de
popularizar esse novo gênero entre os leitores, principalmente da
classe média, além de contribuir para propagar de forma
considerável a circulação dos folhetins, verdadeiros veículos
literários do século XIX. Mais do que isso, a fidelidade com que o
romancista descreve os ambientes e costumes serve como um
verdadeiro documentário sobre a vida urbana na capital do Império.
No entanto, Macedo pecou, ao ter como único objetivo, escrever
seus romances para agradar a classe média brasileira, principal
consumidora dos folhetins. Suas publicações seguem sempre a
mesma fórmula empregada em A Moreninha, que o consagrou
como um dos escritores mais lidos do Romantismo. Suas narrações
e descrições, apesar de possuírem uma linguagem muitas vezes
bem elaborada, perdem em muito para o lirismo encontrado nas
obras de José de Alencar. Suas personagens são sempre
superficiais, com diálogos construídos numa linguagem simples.
Não possuem uma penetração psicológica. O enredo sempre gira
em torno dos mesmos temas: amores impossíveis, dúvidas e
segredos, namoricos, festas, brincadeiras estudantis, entre outros.
Tudo é recheado por um tom doméstico, convergindo todas as
tramas sempre para um final feliz.
O crítico Antonio Cândido diz que ele parece ceder a uma
irresistível tagarelice que pode podendo ser comprovada pela
quantidade de sua produção: em pouco mais de trinta anos de
carreira, escreveu dezoito romances, quinze peças de teatro, dois
livros de poemas e ainda sete volumes de variedades.
32
Literatura Brasileira II
Ainda que tenha sido dessa forma, ele forneceu as bases
para a criação do romance brasileiro. Podemos visualizar, nas suas
obras, certos traços singulares - presentes na vida social -, como é
o caso do patriarcalismo. Ideologia estreita e moralista, o
patriarcalismo abranda a passionalidade do romantismo europeu.
Embora o tema predileto de Macedo fosse o amor, as aventuras
sentimentais que imaginava nunca tiveram a violência e o
amoralismo dos folhetins estrangeiros. Macedo, em sua narrativa,
faz o possível, para não ferir os leitores com o trágico e o desmedido.
Nada de vulcões ou desobediências. Até os vilões adaptam-se às
conveniências. Só praticam a vilania quando o enredo exige. No
final, as donzelas casadoiras enfrentam problemas, como a falta
de dinheiro, ausência de identidade etc., mas que tudo se resolve
satisfatoriamente. A felicidade volta a reinar através do conveniente
casamento.
Vejamos um fragmento da obra A Moreninha, retirada do
capítulo XVI, intitulado O Sarau. Apresentado em Literatura através
dos textos para ser lido. Logo em seguida, faremos uma atividade.
Capítulo XVI
Neste momento a orquestra assinalou o começo do sarau. E
preciso antecipar que nos não vamos dar ao trabalho de descrever
este; é um sarau como todos os outros, basta dizer o seguinte:
Os velhos lembraram-se do passado, os moços aproveitaram o
presente, ninguém cuidou do futuro. Os solteiros fizeram por
lembrar-se do casamento, os casados trabalharam por esquecer-
se dele. Os homens jogaram, falaram em política e requestaram
as moças; as senhoras ouviram finezas, trataram de modas e
criticaram desapiedadamente umas às outras. As filhas deram
33
UESPI/NEAD Letras Espanhol
carreirinhas ao som da música, as mães, já idosas, receberam
cumprimentos por amor daquelas e as avós, por não terem que
fazer nem que ouvir, levaram todo o tempo a endireitar as toucas e
a comer doces. Tudo esteve debaixo destas regras gerais; só basta
dar conta das seguintes particularidades:
D. Carolina sempre dançou a terceira contradança com Augusto,
mas, para isso, foi preciso que a sra. d. Ana empenhasse todo o
seu valimento; a tirana princesinha da festa esteve realmente
desapiedada. e não quis passear com o estudante.
A interessante d. Violante fez o diabo a quatro: tomou doze sorvetes,
comeu pão-de-ló como nenhuma, tocou em todos os doces, obrigou
alguns moços a tomá-la por par, e até dançou uma valsa corrupio.
Augusto apaixonou-se por seis senhoras com quem dançou; o
rapaz é incorrigível. E assim tudo mais.
Agora são quatro horas da manhã; o sarau está terminado, os
convidados vão retirando-se e nós, entrando no toilette, vamos ouvir
quatro belas conhecidas nossas, que conversam com ardor e fogo.
— É possível?!... exclamou d. Quinquina, dirigindo-se à sua mana;
pois é verdade que esse sr. Augusto lhe fez uma declaração de
amor?...
— Como quer que lhe diga, maninha!... Asseverou que meus olhos
pretos davam à sua alma mais luz do que aos seus olhos todos os
candelabros da sala nesta noite, e mesmo do que o sol nos dias
mais brilhantes... palavras dele.
— Que insolente!... tornou d. Quinquina, ele mesmo, que me jurou
ser a mais bela a seus olhos e a mais cara ao seu coração, porque
meus cabelos eram fios de ouro e a cor das minhas faces o rubor
de um belo amanhecer!... Palavras dele.
— Que atrevido!... bradou d. Clementina; o próprio que afirmou
ser-lhe impossível viver sem alentar-se com a esperança de possuir-
34
Literatura Brasileira II
me, porque eu sabia ferir corações com minhas vistas e curar
profundas mágoas com meus sorrisos!... Palavras dele.
— Oh! Que moço abominável, disse, por sua vez, d. Gabriela; e
ousou dizer-me que me amava com tão subida paixão que, se fora
por mim amado e pudesse desejar e pedir algum extremo, não me
pediria como a outras, para beijar-me a face, porque das virgens
do céu somente se beijam os pés, e de joelho! Palavras dele.
— Mas isto é um insulto feito a todas nós!
— Como se estará ele rindo!
— Qual! Se ele está apaixonado... Apaixonado?... E por quem?...
— Por nós quatro... talvez por outras mais: ele pensa assim.
— Que maldito brasileiro com alma de mouro!...
— E havemos de ficar assim?...
— Não, acudiu d. Joaninha: vamos ter com ele, desmascaremo-lo.
— Isto é nada para quem não tem vergonha!...
— Pois troquemos os papéis: finjamos que estávamos tratadas
para desafiar-lhe os requebros, e... ridicularizemo-lo como for
possível.
— Sim... obriguemo-lo a dizer qual de nós é a mais bonita; cada
uma lhe pedirá um anel de seus cabelos... uma prenda... uma
lembrança... ponhamo-lo doido.
— Muito bem pensado! Vamos!
— Deus nos livre!... A vista de tanta gente!...
— Então, quando e aonde?
— Uma idéia... seja a zombaria completa: escreva-se uma carta
anônima, convidando-o para estar ao romper do dia na gruta.
— Bravo! Então escreva...
— Eu, não, escreva você...
— Deus me defenda! ... escreva d. Gabriela, que tem boa letra...
— Então, nenhuma escreve? Pois tiremos por sorte.
35
UESPI/NEAD Letras Espanhol
A idéia foi recebida com aprovação e a sorte destinou para
secretária d. Clementina, que tirando de seu álbum um lápis uma
tira de papel, escreveu sem hesitar:
“Senhor: — Uma jovem que vos ama e que de vós escutou palavras
de ternura tem um segredo a confiar-vos: ao ralar da aurora a
encontrareis no banco de relva da gruta; sede circunspecto e vereis
a quem, por meia hora ainda, quer ser apenas — Uma incógnita”.
— Bem, disse d. Quinquina, eu me encarrego de fazer-lhe receber
a carta. Saiamos.
As quatro moças iam sair, quando um suspiro as suspendeu; mais
alguém estava no toilette. D. Joaninha, medrosa de que uma
testemunha tivesse presenciado a cena que se acabava de passar,
voltou-se para o fundo do gabinete e o susto logo se dissipou.
— Vejam como ela dorme! ... disse.
Com efeito, recostada em uma cadeira de braços, d. Carolina
estava profundamente adormecida.
A Moreninha se mostrava, na verdade, encantadora no mole
descuido de seu dormir, e à mercê de um doce resfolegar, os
desejos se agitavam entre seus seios; seu pezinho bem à mostra,
suas tranças dobradas no colo, seus lábios entreabertos e como
por costume amoldados àquele sorrir cheio de malícia e de encanto
que já lhe conhecemos e, finalmente, suas pálpebras cerradas e
coroadas por bastos e negros supercílios, a tornavam mais feiticeira
que nunca.
D. Clementina não pôde resistir a tantas graças: correu para ela...
dois rostos angélicos se aproximaram... quatro lábios cor-de-rosa
se tocaram e este toque fez acordar D. Carolina.Um beijo tinha
despertado um anjo, se é que o anjo realmente dormia.
Fonte: <http://pt.wikisource.org/wiki/A_Moreninha/XVI>.
36
Literatura Brasileira II
Tendo lido e respondido as questões, passaremos a
apresentar a prosa de José de Alencar.
A Propósito do autor
1.3.2 Vida e Obra de José de Alencar – Alma brasileira
José de Alencar nasceu em Mecejana, no Ceará em 1829,
apenas sete anos depois da Independência do Brasil, em Mecejana,
ATIVIDADE
Agora que você já leu o fragmento sobre obra A moreninha,
discuta com os colegas e responda as seguintes perguntas:
1 - Identifique características da prosa românticas.
2 - Contextualize o período romântico sob a perspectiva histórica.
3 - Que tipo de narrativa essa obra apresenta?
http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/jose-de-alencar
37
UESPI/NEAD Letras Espanhol
no Ceará. Filho de um ex-padre, que se tornou presidente da
Província do Ceará e Senador do Império, o jovem Alencar é transferido,
com a família, aos nove anos de idade para a cidade do Rio de Janeiro.
Em 1844, aos quinze anos, matricula-se nos cursos preparatórios ao
ingresso na Faculdade de Direito de São Paulo.
Em São Paulo, Alencar cursa os primeiros anos da
Faculdade de Direito e começa a publicar seus primeiros textos
em algumas revistas estudantis. Transfere-se, em 1848, para a
Faculdade de Direito de Olinda, em Pernambuco. Em Olinda, na
velha biblioteca do Mosteiro de São Bento, encontra a literatura
dos antigos cronistas coloniais, Anos mais tarde, Alencar ainda se
recorda da emoção que foi a descoberta desses autores do século
XVI, que nos dão as primeiras impressões dos europeus ao
encontrarem a natureza e o índio do Brasil:
“Uma coisa vaga e indecisa, que devia parecer-secom o primeiro broto do Guarani ou de Iracema,flutuava-me na fantasia. Devorando as páginas dosalfarrábios de notícias coloniais, buscava comsofreguidão um tema para o meu romance; ou pelomenos um protagonista, uma cena e uma época.”(GONZAGA, 2001, p.68).
Voltando a São Paulo, após contrair tuberculose, forma-
se em Direito no final de 1850. No ano seguinte, retorna à capital
do país e lá começa a advogar. Não se esquece, porém, da
literatura. Em 1854, começa a escrever uma seção diária no Correio
Mercantil, intitulada Ao Correr da Pena, em que comenta os mais
variados assuntos da vida do Rio de Janeiro e do país. Esses textos
leves de temática cotidiana podem ser considerados os
precursores da crônica moderna, em que se haveriam de destacar,
no século seguinte, escritores, como Rubem Braga, Fernando
Sabino e Carlos Drummond de Andrade.
38
Literatura Brasileira II
Em 1855, Alencar é um dos fundadores do jornal O Diário
do Rio de Janeiro, do qual é editor-chefe. É através desse jornal
que vai publicar os textos que, logo, o tornarão conhecido em todo
o país. No final de 1856, Alencar decide publicar um folhetim como
“brinde” aos leitores do jornal. Inicia, assim, sua carreira de
romancista. Publica o curto romance Cinco Minutos , que é
recebido por seus leitores com grande simpatia. Estimulado pelo
sucesso do primeiro, logo começa a publicar um segundo romance,
A Viuvinha , cuja publicação interrompe quando, por engano, um
companheiro seu publica o final da história na Revista de Domingo.
Inicia, a seguir, a publicação de O Guarani . Eis que surge, com
essa obra, a figura do índio como uma nova estrela colorida e
brilhante, como lembra Caetano Veloso na canção Um índio
quando diz que uma estrela que há de escrever, “numa velocidade
estonteante”, os capítulos do romance do qual descerá um índio
“mais avançado que a mais avançada das mais avançada as
tecnologias” - o apaixonado Peri.
Entre 1857 e 1870, além de publicar diversos romances,
como Lucíola (1862) e Iracema (1865), Alencar foi eleito várias
vezes deputado estadual no Ceará, Ministro da Justiça entre 1868
e 1870, e dedicou-se também ao teatro, escrevendo O Demônio
Familiar (1857), As Asas de um Anjo (1858) e A Mãe (1860),
entre outras peças.
Em 1870, abandona a política. Inicia, então, uma fase de
recolhimento: poucos amigos e nenhum sorriso. Sua produção
novelística é intensificada, agora norteada pelo projeto de descrição
do Brasil, anunciado no prefácio do livro Sonhos d’Ouro (1872).
Em 1875, publica Senhora , um de seus romances mais
complexos. Ao morrer, em 1877, Alencar era considerado o maior
escritor brasileiro de todos os tempos, principalmente por Machado
39
UESPI/NEAD Letras Espanhol
de Assis, seu amigo e mais fiel admirador, e que logo o destronaria.
O próprio Alencar aponta que seus romances se encaixam em um
projeto de descrição global do Brasil. Divide-os em quatro tipos:
· Romance urbano, como Lucíola e Senhora ;
· Romance regionalista, como O Gaúcho e O Sertanejo ;
· Romance indianista, como Iracema e Ubirajara ;
· Romance histórico, como O Guarani e As Minas de
Prata .
A crítica posterior haveria de relativizar esta classificação.
Tanto Iracema quanto O Guarani são considerados, ao mesmo
tempo, romance histórico e indianista. http://pt.wikipedia.org/wiki/
Jos%C3%A9_deAlencar. Acesso em 22.02.2010.
Importância da obra de José de Alencar
A obra de Alencar, conforme Gonzaga (2002, p. 67), se
insere na linha nacionalista do romantismo, procurou construir uma
obra romanesca que abrangesse todo o Brasil, principalmente em
sua totalidade física e, por isso, escreveu O Gaúcho sem conhecer
o Rio Grande do Sul. Mas o seu projeto atingia também as
coordenadas históricas do país, através de relatos históricos e
indianistas, situados na era colonial. Buscou também a vida
cotidiana do Rio de Janeiro, em seus romances urbanos. Cogitou
fazer aqui o que Balzac fizera na França: um painel gigantesco dos
múltiplos aspectos da realidade nacional. Mas entre o seu projeto
e a realização do mesmo há no vácuo, do que resultam vários
equívocos.
Equívocos nascidos de suas ligações com os modelos
literários europeus que, juntamente com suas próprias ideias a
40
Literatura Brasileira II
respeito da sociedade, acabaram por anular parte da eficácia e
da vitalidade das narrativas.
Ainda de acordo com Gonzaga (2002, p. 68), a estrutura
do folhetim, o nacionalismo ufanista, a visão ideal da existência já
não nos fascinam. E Alencar é a junção desses elementos,
insustentáveis diante da realidade em que vivemos.
Não obstante, o autor cearense continua tendo a
importância histórica extraordinária. Ele consolidou o romance
brasileiro ao escrever movido por um sentimento de missão
patriótica. Questionou os problemas de autonomia de nossa
literatura, procurando separá-la definitivamente das influências
portuguesas. Problematizou a questão da língua brasileira e,
durante toda sua carreira, quis descobrir a essência da
nacionalidade. Enfim, abriu caminhos para escritores que se
seguiriam.
Foi o primeiro ficcionista a perceber a vastidão e a
diversidade do país, intuiu algumas especificidades regionais e
se preocupou em realizar um painel, o mais abrangente possível,
da realidade brasileira. Seu esforço de totalização fracassou,
porém a ideia de um romance ou de um conjunto de romances
capazes de representar a nação e o povo ainda perturbou
escritores do século XX.
Romances urbanos
Romances ambientados no Rio de Janeiro, protagonizados
por personagens femininos, mostravam o luxo e a pompa das
atividades sociais burguesas; no entanto, apresentavam uma critica
sutil aos hábitos hipócritas da burguesia e ao seu caráter capitalista.
São exemplos de romances urbanos de José de Alencar:
41
UESPI/NEAD Letras Espanhol
Senhora - faz crítica ao casamento por interesse, à
hipocrisia, à cobiça e à soberba burguesa;
Lucíola - critica o fato de a burguesia, que financia a
prostituição durante a noite, ter aversão a esta durante o dia.
Diva - ressalta a beleza das jovens e ricas burguesas, o
virtuosismo e a pureza e, em contrapartida, critica o casamento
por interesse financeiro.
Para exemplificar esse tipo de narrativa, utilizamos aqui
um fragmento retirado da obra Senhora de José de Alencar.
‘’ (...) Tinha ela dezoito anos quando apareceu pela primeira
vez na sociedade. Não a conheciam; e logo buscaram todos com
avidez informações acerca da novidade do dia.
Dizia-se muita coisa que não repetirei agora, pois a seu
tempo saberemos a verdade, sem os comentos malévolos de que
usam vesti-la os noveleiros.
Aurélia era órfã; tinha em sua companhia uma velha
parenta, viúva, D.Firmina Mascarenhas, que sempre acompanhava
na sociedade.
Mas essa parenta não passava de mãe de encomenda
para condescender com os escrúspulos da sociedade brasileira,
que naquele tempo não tinha admitido ainda certa emancipação
feminina’’ (ALENCAR, 1968, p. 23).
Romances Regionalistas
Os chamados romances regionalistas são também
construídos a partir daquele nacionalismo que constitui uma das
ideias-chaves do autor. Alencar vê as regiões de fora, mesmo
quando escreve O Sertanejo, cuja realidade desencadeia o cerne
de um mundo diferenciado do litoral. Pelo contrário, quer integrar
42
Literatura Brasileira II
as regiões ao corpo de uma nação centralizada, sob o comando
das elites imperiais. Alencar torna-se porta-voz artístico da unificação
nacional, e o resultado é uma literatura mítica, celebratória dos
elementos regionais, porém insuficiente para descrever as
peculiaridades e o atraso das províncias periféricas do país.
Os romances que se enquadram nessa classificação são:
O Gaúcho, O Sertanejo e O Tronco do Ipê. Esses romances
aproximam-se da experiência dos leitores urbanos, ao mostrarem
a vida em fazendas cuja ligação orgânica com a capital federal era
mais nítida. Mesmo assim, o escritor não nos dá um quadro realista
da ambientação rural, sacrificando os costumes dos fazendeiros
ao convencionalismo de histórias folhetinescas. Observemos agora
um fragmento da obra O Gaúcho.
I
O PAMPA
Como são melancólicas e solenes, ao pino do sol, as vastas
campinas que cingem as margens do Uruguai e seus afluentes! A
savana se desfralda a perder de vista, ondulando pelas sangas e
coxilhas que figuram as flutuações das vagas nesse verde oceano.
Mais profunda parece aqui a solidão, e mais pavorosa, do que na
imensidade dos mares.
É o mesmo ermo, porém selado pela imobilidade, e como
que estupefato ante a majestade do firmamento.
Raro corta o espaço, cheio de luz, um pássaro erradio,
demandando a sombra, longe na restinga de mato que borda as
orlas de algum arroio. A trecho passa o poldro bravio, desgarrado
do magote; ei-lo que se vai retouçando alegremente babujar a
grama do próximo banhado.
43
UESPI/NEAD Letras Espanhol
No seio das ondas o nauta sente-se isolado; é o átomo
envolto numa dobra do infinito. A âmbula imensa tem só duas faces
convexas, o mar e o céu. Mas em ambas a cena é vivaz e palpitante.
As ondas se agitam em constante flutuação; têm uma voz,
murmuram. No firmamento as nuvens cambiam a cada instante ao
sopro do vento; há nelas uma fisionomia, um gesto.
A tela oceânica, sempre majestosa e esplêndida,
ressumbra possante vitalidade. O mesmo pego insondável abismo,
exubera de força criadora; miríades de animais o povoam, que
surgem à flor d’água.
O pampa ao contrário é o pasmo, o torpor da natureza.
O viandante perdido na imensa planície fica mais que
isolado, fica opresso. Em torno dele faz-se o vácuo: súbita paralisia
invade o espaço, que pesa sobre o homem como lívida mortalha.
Lavor de jaspe, embutido na lâmina azul do céu, é a nuvem.
O chão semelha a vasta lápida musgosa de extenso pavimento.
Por toda a parte a imutabilidade. Nem um bafo para que essa
natureza palpite; nem um rumor que simule o balbuciar do deserto.
Pasmosa inanição da vida no seio de um alúvio de luz!
O pampa é a pátria do tufão. Aí, nas estepes nuas, impera
o rei dos ventos. Para a fúria dos elementos inventou o Criador as
rijezas cadavéricas da natureza. Diante da vaga impetuosa colocou
o rochedo; como leito de furacão estendeu pela terra as infindas
savanas da América e os ardentes areais da África.
Arroja-se o furacão pelas vastas planícies; espoja-se nelas
como o potro indômito; convole a terra e o céu em espesso
turbilhão. Afinal a natureza entra em repouso; serena a tempestade;
queda-se o deserto, como dantes plácido e inalterável.
Fonte: <http://www.sacocheio.com/livros-gratis/jose-de-alencar-o-
gaucho.pdf.>
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Literatura Brasileira II
Os Romances Históricos e Indianistas
O romance histórico se inicia com a temática limitada do
indianismo, na concepção de Coutinho (2002), e evolui no sentido
de ampliar o seu mundo no tempo e no espaço. Ao criticar A
confederação dos tamoios, de Magalhães, Alencar já acreditava
que a vida primitiva dos nossos indígenas fosse excelente material
para o romance histórico brasileiro. Dir-se-á que tal como criou
Goethe o Romantismo europeu, o romance histórico pretendia fixar
caracteres e sentimentos verossímeis num ambiente histórico
exato, ou tido como exato pelo autor e pelo leitor. E continua a afirmar
“que se atentarmos paro o sucesso de Scot, sobretudo em
Waverley Novels, veremos que o que aí se encontra é uma intriga
ATIVIDADE
1 - Faça a leitura do fragmento retirado de O Gaúcho e aproveite
para caracterizar a prosa regionalista de José de Alencar.
2 - Qual é a proposta da prosa regionalista de José de Alencar.
Fonte: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Iracema>
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UESPI/NEAD Letras Espanhol
sentimental situada em quadro histórico e local bem estudado,
dando lugar à descrição de costumes, às cenas de um pitoresco
realista e frequentemente familiar, reconstituição de paisagens
exatas, à evocação de figuras lendárias ou históricas com maior
precisão psicológica possível, todos esses elementos combinados
por mão de mestre e de modo a alcançar o objetivo precípuo do
romance histórico, que é o de afirmar e exaltar o processo nacional.
Enquanto isso, o indianismo de Alencar pouco ou nada teria de
historicamente exato, a não ser o local, os fatos, as personagens
de modo geral, e os índios, de modo particular, sendo mais fantasia
de sua imaginação do que tentativa de autêntico levantamento de
nossas raízes mais profundas.
Ainda que esses comentários fossem uma certeza, e não
é o caso, o romance indianista de Alencar não deixaria de ser,
como é, legítimo romance histórico brasileiro. É possível que a vida
dos selvagens esteja demasiadamente poetizada, que os costumes
indígenas tenham sido algo deturpados pela fértil imaginação do
romancista e que as personagens históricas não confiram muito
com os comprovantes reais, acaso existam. Mas isso nada altera
o sentido e a significação do romance alencariano e coloca em
destaque a intuição do autor. Isso se explica porque a tendência
universal do romantismo visa rebuscar o passado nacional por
meios dos escombros medievais, o que de melhor aí ficara da alma
e da tradição de cada nação. Encontraria no Brasil a melhor
receptividade, pois um dos nossos problemas era o de afirmar
diante de a Portugal o espírito nacional, brasileiro, graças ao qual
queríamos ser independentes, não só do ponto político, mas também
do ponto de vista cultural. A nossa idade média, o mais recôndito e
autêntico do nosso passado teria de ser, pelo poeticamente, a
civilização primitiva, pré-cabralina. Seria, através da valorização
46
Literatura Brasileira II
poética das raças primitivas no cenário grandioso da natureza
americana, é que nós alcançaríamos, conforme Coutinho (2002),
aquele nível mínimo de orgulho nacional de que carecíamos para
uma classificação em face do europeu. Era o europeu quem
afirmava que essas raças representavam a decadência dos
primitivos troncos, que eram preguiçosos e pouco inteligentes,
sendo raros os cronistas que se manifestavam em sentido contrário.
E havia sido o europeu, o descobridor e o invasor, quem
massacrava grande parte dessas raças, suas lendas e tradições
não podendo sobreviver nem mesmo, por meio dos catecúmenos,
pelos repetidos exorcismos que estes sofriam até a completa
descaracterização.
Outro argumento que percebemos é que, por outro lado, o
negro, no caso, não se prestava ao papel de valorizador da
nacionalidade; não só porque representava o trabalho, numa
sociedade em que o trabalho era motivo de desclassificação social,
mas porque não era filho da terra, para aqui tinha vindo escravizado
e aviltado. O índio, ao contrário do negro, era a escravidão e a
invasão, não era escravo nem representava o trabalho; era
americano e queria ser livre. Tudo isso era o que convinha, sob
medida, ao idealismo romântico. Era o que convinha a Alencar,
que criou o romance indianista, tendo estudado os velhos cronistas,
ver a vida dos nossos selvagens só iria aproveitar o que se fosse
favorável ao índio ou conviesse aos seus propósitos de romancista
e de não historiador e de romancista romântico,que elevou o
indianismo a uma posição consequente e significativa,
anteriormente ainda não alcançada.
Dessa forma, Alencar criou, com base mais lendária do que
histórica, o mundo poético e heróico de nossas origens, para afirmar
a nossa nacionalidade, para provar a existência de nossas raízes
47
UESPI/NEAD Letras Espanhol
legitimamente americanas. E, nascia, assim, a nova tendência
revolucionária do romantismo, já identificada como de tons
cepusculares, cândidos e pastorais, qual a de projetar um mundo
de sentimentos e virtudes ideais.
Por todos esses argumentos, é certo incluir sua obra
indianista nos limites do romance histórico. E não apenas O
guarani, por ele próprio assim, também Iracema e Ubirajara, que
dele não mereceram senão a rotulação de lendas. Pertencem todos
eles, ao domínio do romance histórico, não da forma como
realizaram os europeus, mas como o idealizou e praticou o nosso
Romantismo.
O conceito alencariano emprestou a vários romances um
caráter mítico e poético, que procurou, que encontrou perfeito
ajustamento com a estética de Chateaubriand por ele assimilada,
resultando disso o tipo de romance poemático. Afirma Coutinho
(2002, p. 260) que muitas das criações desses romances
participam da natureza do mito e do símbolo, nos quais pretendeu
integrar aspirações e ideais da alma brasileira. Em alguns desses,
se é falha por vezes a realização técnica, avultam justamente o
valor do símbolo e o conceito poético. Tanto As minas de prata,
como Iracema, como O guarani encerram mitos de significação
nacional. No primeiro, o mito do tesouro escondido, que arrastou
para os sertões brasileiros a onda de aventureiros e bandeirantes
a que se deve o seu povoamento. Nos outros dois, o mito do bom
selvagem, da pureza do americano, em contraste com a rude e
ambição desenfreada sem escrúpulos do branco europeu. São o
próprio conceito de indianismo e sua visão de índio que têm para
ele o valor mítico.
Além dos romances citados anteriormente, pertencem ao
grupo dos romances históricos: O garatuja, O ermitão da glória e
48
Literatura Brasileira II
A guerra dos mascastes. Veja o excerto do romance Indianista O
guarani de Alencar.
I I
O Guarani
‘’ (...) A habitação que descrevemos, pertencia a D. Antônio
de Mariz, fidalgo português de cota d’armas e um dos fundadores
da cidade do Rio de Janeiro.
Era dos cavalheiros que mais se haviam distinguido nas
guerras da conquista, contra a invasão dos franceses e os ataques
dos selvagens.
Em 1567 acompanhou Mem de Sá ao Rio de Janeiro, e
depois da vitória alcançada pelos portugueses, auxiliou o
governador nos trabalhos da fundação da cidade e consolidação
do domínio de Portugal nessa capitania.
Fez parte em 1578 da célebre expedição do Dr. Antônio
de Salema contra os franceses, que haviam estabelecido uma
feitoria em Cabo Frio para fazerem o contrabando de pau-brasil.
Serviu por este mesmo tempo de provedor da real
fazenda, e depois da alfândega do Rio de Janeiro; mostrou
sempre nesses empregos o seu zelo pela república e a sua
dedicação ao rei.
Homem de valor, experimentado na guerra, ativo, afeito a
combater os índios, prestou grandes serviços nas descobertas e
explorações do interior de Minas e Espírito Santo. Em recompensa
do seu merecimento, o governador Mem de Sá lhe havia dado uma
sesmaria de uma légua com fundo sobre o sertão, a qual depois
de haver explorado, deixou por muito tempo devoluta.
A derrota de Alcácer-Quibir, e o domínio espanhol que se
lhe seguiu, vieram modificar a vida de D. Antônio de Mariz.
49
UESPI/NEAD Letras Espanhol
Português de antiga têmpera, fidalgo leal, entendia que
estava preso ao rei de Portugal pelo juramento da nobreza, e que
só a ele devia preito e menagem. Quando pois, em 1582, foi
aclamado no Brasil D. Felipe 11 como o sucessor da monarquia
portuguesa, o velho fidalgo embainhou a espada e retirou-se do
serviço.
Por algum tempo esperou a projetada expedição de D.
Pedro da Cunha, que pretendeu transportarão Brasil a coroa
portuguesa, colocada então sobre a cabeça do seu legitimo
herdeiro, D. Antônio, prior do Crato.
Depois, vendo que esta expedição não se realizava, e que
seu braço e sua coragem de nada valiam ao rei de Portugal, jurou
que ao menos lhe guardaria fidelidade até a morte. Tomou os seus
penates, o seu brasão, as suas armas, a sua família, e foi
estabelecer-se naquela sesmaria que lhe concedera Mem de Sá.
Aí, de pé sobre a eminência em que ia assentar o seu novo
solar, D. Antônio de Mariz, erguendo o vulto direito, e lançando um
olhar sobranceiro pelos vastos horizontes que abriam em torno,
exclamou:
- Aqui sou português! Aqui pode respirar à vontade um
coração leal, que nunca desmentiu a fé do juramento. Nesta terra
que me foi dada pelo meu rei, e conquistada pelo meu braço, nesta
terra livre, tu reinarás, Portugal, como viverás n’alma de teus filhos.
Eu o juro!
Descobrindo-se, curvou o joelho em terra, e estendeu a
mão direita sobre o abismo, cujos ecos adormecidos repetiram
ao longe a última frase do juramento prestado sobre o altar da
natureza, em face do sol que transmontava.
Isto se passara em abril de 1593; no dia seguinte,
começaram os trabalhos da edificação de uma pequena habitação
50
Literatura Brasileira II
que serviu de residência provisória, até que os artesãos vindos do
reino construíram decoraram a casa que já conhecemos.
D. Antônio tinha ajuntado fortuna durante os primeiros anos
de sua vida aventureira; e não só por capricho de fidalguia, mas
em atenção à sua família, procurava dar a essa habitação
construída no meio de um sertão, todo o luxo e comodidades
possíveis.
Além das expedições que fazia periodicamente à cidade
do Rio de Janeiro, para comprar fazendas e gêneros de Portugal,
que trocava pelos produtos da terra, mandara vir do reino alguns
oficiais mecânicos e hortelãos, que aproveitavam os recursos dessa
natureza tão rica, para proverem os seus habitantes de todo o
necessário.
Assim, a casa era um verdadeiro solar de fidalgo português,
menos as ameias e a barbacã, as quais haviam sido substituídas
por essa muralha de rochedos inacessíveis, que ofereciam uma
defesa natural e uma resistência inexpugnável.
Na posição em que se achava isto era necessário por
causa das tribos selvagens, que, embora se retirassem sempre
das vizinhanças dos lugares habitados pelos colonos, e se
entranhassem pelas florestas, costumavam, contudo fazer correrias
e atacar os brancos à traição.
Em um circulo de uma légua da casa, não havia senão
algumas cabanas em que moravam aventureiros S pobres,
desejosos de fazer fortuna rápida, e que se tinham animado a se
estabelecer neste lugar, em parcerias de dez e vinte, para mais
facilmente praticarem o contrabando do ouro e pedras preciosas,
que iam vender na costa.
Estes, apesar das precauções que tomavam contra os
ataques dos índios, fazendo paliçadas e reunindo-se uns aos outros
51
UESPI/NEAD Letras Espanhol
para defesa comum, em ocasião de perigo vinham sempre abrigar-
se na casa de D. Antônio de Mariz, a qual fazia as vezes de um
castelo feudal na idade Média .
Fonte: <http://www.fuvest.br/download/livros/guarani.pdf.>
De posse das informações sobre os romances históricos
e indianistas, faremos uma pausa para refletir sobre algumas
indagações sobre a obra em estudo.
ATIVIDADE
1 - Leia o trecho, retirado de O guarani, em seguida discuta
com seus colegas sobre as características dentro de uma
perspectiva histórica e indianista.
2 - Qual é a contribuição dessa obra para a formação da
Literatura Brasileira?
3 - Acesse o site www.youtube.com.br para assistir ao filme
O guarani e, em seguida, faça uma discussão com seus
colegas destacando as passagens interessantes.
ATIVIDADE - O guarani
Em que se fundamenta o Projeto Nacionalista de José de
Alencar?
Quais os autores que influenciaram a estrutura romântica?
Por que o Romantismo tende ao estilo poético? Justifique sua
resposta.
52
Literatura Brasileira II
Vamos fazer, a partir de agora, uma abordagem sobre a
prosa sertanista apresentando seus principais autores.
Os sertanistas românticos
O romance regionalista de Alencar, de acordo com o
pensamento de Gonzaga (2002), abriu uma viés para o surgimento
de escritores menores, todos eles sertanistas, ou seja, preocupados
em revelar o Brasil não-litorâneo, não europeu, o Brasil rural. O
ponto de partida dessa literatura é o ufanismo e, nesse sentido, as
manifestações sertanistas dificilmente adquirem maior
autenticidade poética e documental. Há uma intenção realista
inclusive, mas é um realismo que se detém em descrição da natureza,
acento linguístico particular da região, os costumes. Todavia, essa débil
busca de realismo é prejudicada na construção dos personagens, que
bedecem aos esquemas românticos do folhetim.
Bernardo Guimarães
Nasceu em Ouro Preto, onde passou a infância e os
primórdios da adolescência, indo depois para São Paulo estudar
53
UESPI/NEAD Letras Espanhol
Direito. Foi colega de Álvares de Azevedo e, na faculdade, tinha
fama de boêmio e satírico, tendo inclusive praticado uma poesia
(Cantos Da solidão) identificada com o satanismo byroniano e
com o humorismo. Retirou-se para o interior de Minas, exercendo
a função de juiz e professor secundário, e de lá não mais se afastaria
até a morte.
Obras principais: - O ermitão de muquém (1864)
- O garimpeiro (1872)
- O seminarista (1872)
- A escrava Isaura (1875)
Nenhum autor expressou, na visão de Gonzaga (2002, p.
73-74), tão bem a tendência sertanista como Bernardo Guimarães.
Suas obras oscilam entre este modesto realismo e o melodrama
pouco convincente, exceção feita a O seminarista.
Em O seminarista, vemos narrado o drama de Eugênio e
Margarida, que, na infância, passada no sertão mineiro,
estabelecem uma amizade que logo se transforma em paixão. O
pai de Eugênio o obriga a ir para um seminário, e ele vai, oscilante
entre o amor e a religiosidade. Mesmo sofrendo pela perda,
Eugênio ordena-se sacerdote. O destino é a favor que ele volte a
sua à aldeia natal e encontre Margarida à beira da morte. Os dois
não resistem e mantêm relações, mas a jovem morre e o padre
enlouquece de dor sentimental e moral: o desaparecimento da
amada e a quebra do voto de castidade. A obra revela uma forte
crítica ao patriarcalismo.
Em a Escrava Isaura, a ideologia abolicionista teve de
pretexto para o desenvolvimento de um melodrama passional,
envolvendo a escrava Isaura e qual nossa surpresa ao verificar que
Isaura é moça branca”e para nossa surpresa Isaura é uma moça
branca, que vive presa numa fazenda de café a Baixada
54
Literatura Brasileira II
Fluminense. O fazendeiro pérfido, Leôncio, tem as piores intenções
com a moça, e o herói, Álvaro, salva Isaura das garras do vilão.
1.3.3 Franklin Távora
Nasceu no interior do Ceará. Formou-se em Direito, em
Pernambuco, mudando-se depois para o Rio de Janeiro, onde
ingressou na vida burocrática.
Obras Principais: - O cabeleira (1876)
- O matuto (1878)
- Lourenço (1881)
Em Franklin Távora, o regionalismo mais do que assunto
é polêmica:
As letras têm, como a política, um certo caráter
geográfico; mais no Norte porém, do que no Sul, abundam os
elementos para a formação de uma literatura propriamente
brasileira, filha da terra. A razão é óbvia: o Norte ainda não foi
invadido como está sendo o Sul de dia em dia pelo estrangeiro
(GONZAGA, 2002, p. 74).
E arrematava no prefácio de O Cabeleira: “Temos o dever
de levantar ainda com luta e esforço os nobres foros dessa região,
exumar seus tipos legendários, fazer conhecidos seus costumes,
suas lendas, sua poesia máscula, nova, vívida e louçã...’’
(GONZAGA, 2002, p. 74).
Os projetos de Távora não no entanto se realizaram,( no
entanto). Suas intenções naturalistas satisfazem a reconstituição
do ambiente e a escolha do tema: um caso de cangaço no século
XVIII. Mas nem o motivo nem a distância histórica garantem realismo
à narrativa, perturbada pela contradição permanente dos
55
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sertanistas românticos: observações realistas dentro de um
arcabouço de folhetim.
1.3.4 Visconde de T aunay
Nasceu no Rio de Janeiro e cursou a Escola Militar.
Participou da Guerra do Paraguai. Dedicou-se à política, chegou a
ser senador.Com a queda da monarquia, afastou-se do senado.
Obras Princip ais : - A retirada da laguna (1871)
- Inocência (1872)
A obra Inocência talvez seja a menos enfática entre as
obras do romantismo regionalistas. A cor local surge com os desvios
do exotismo ou do estilo. O autor concentra seu olhar parado e frio
em torno dos mesmos detalhes. Por isso mesmo, o romance de
observador quase preciosista é o menos idealizado do período.
Não que a trama central não pertença ao folhetim; ao contrário,
trata-se de um melodrama típico: a jovem sertaneja Inocência, por
imposição paterna, não pode desposar o seu destino amor, o falso
médico Cirino. E ambos sucumbem à adversidade, numa espécie
de Romeu e Julieta. Ressaltamos a crítica que o romance faz ao
patriarcalismo, a exemplo do que ocorre em O seminarista, de
Bernardo Guimarães.
A retirada da laguna é um documento dramático sobre o
episódio ocorrido na guerra do Paraguai.
O Romantismo não se destacou somente na prosa e
poesia, mas também no teatro. Por isso, faremos uma significativa
abordagem.
O teatro Romântico do século XIX está comprometido com
a dependência cultural de nossas elites. Os textos procediam, em
quase totalidade, da Europa; as companhias vinham de Portugal;
56
Literatura Brasileira II
respirava-se uma atmosfera dissociada da realidade local. A
questão da dramaturgia não foi verdadeiramente problematizada,
ao contrário do que aconteceu no romance e na poesia. Gonçalves
Dias (Leonor de Mendonça), José de Alencar (O demônio familiar),
Castro Alves (Gonzaga) e outros criaram obras esparsas e inspiradas
em modelos europeus. Caberia a Martins Pena a elaboração de um
conjunto de peças capazes de refletir a realidade nacional.
1.3.5 Martins Pena
Nasceu no Rio de Janeiro, numa família sem posses.
Estudou comércio e ingressou na vida diplomática, a princípio como
amanuense e depois como adido, viajando para Londres, em 1847.
Atacado pela tuberculose, morreu no estrangeiro.
Obras Principais:
- O juiz de paz na roça (1842)
- O judas em sábado de aleluia (1846)
- Quem casa quer casa (1847)
- O noviço (1853)
- Os dois ou o inglês maquinista (1871)
Martins Pena optou pelo único teatral que poderia se adaptar
às circunstâncias históricas sobre o Brasil, na primeira metade do
século XIX: a comédia de costumes. Como o faria Manuel Antonio de
Almeida mais tarde, o jovem teatrólogo intuiu que o drama não se
adaptaria ao universo que propunha retratar. Tudo isso porque os
grupos burgueses urbanos careciam de tragédia humana, e suas
contradições eram limitadas ou inexistentes. Apenas o riso poderia
dar-lhe interesse (o drama real era o dos escravos, mas os negros
quando surgiam nos palcos, faziam parte de uma mitologia racista:
o pai João, a mãe Joana o moleque endiabrado).
57
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Martins Pena iniciou a carreira satirizando os costumes
rurais, os costumes na roça. A novidade de suas peças deve-se ao
jeito caboclo, aos hábitos curiosos, da fala simples e de extrema
candura que envolve os seres da roça.
Já as comédias urbanas efetivam uma leitura da vida cotidiana
do Rio de Janeiro, em especial do mundo da classe média.
Vejamos um fragmento da peça Juiz de paz na roça, para
leitura e análise.
‘’(...) Sala com uma porta no fundo. No meio uma mesa, junto à
qual estarão cosendo MARIA ROSA e ANINHA.
MARIA ROSA - Teu pai tarda muito.
ANINHA - Ele disse que tinha hoje muito que fazer.
MARIA ROSA - Pobre homem! Mata-se com tanto trabalho! É quase
meio-dia e ainda não voltou. Desde as quatro horas da manhã que
saiu; está só com uma xícara de café.
ANINHA - Meu pai quando principia um trabalho não gosta de o
largar, e minha mãe sabe bem que ele tem só a Agostinho.
MARIA ROSA - É verdade. Os meias-caras agora estão tão caros!
Quando havia valongo eram mais baratos.
ANINHA - Meu pai disse que quando desmanchar o mandiocal
grande há-de comprar uma negrinha para mim.
MARIA ROSA - Também já me disse.
ANINHA - Minha mãe, já preparou a jacuba para meu pai?
MARIA ROSA - É verdade! De que me ia esquecendo! Vai aí fora e
traz dous limões. (ANINHA sai.) Se o MANUEL JOÃO viesse e
não achasse a jacuba pronta, tínhamos campanha velha. Do que
me tinha esquecido! (Entra ANINHA.)
ANINHA - Aqui estão os limões.
MARIA ROSA - Fica tomando conta aqui, enquanto eu vou lá dentro.
(Sai.)
58
Literatura Brasileira II
ANINHA, só - Minha mãe já se ia demorando muito. Pensava que
já não poderia falar com o senhor José, que está esperando-me
debaixo dos cafezeiros. Mas como minha mãe está lá dentro, e
meu pai não entra nesta meia hora, posso fazê-lo entrar aqui’’.
(PENA, Martins. Juiz de Paz na Roça.In:http://biblio.com.br/
defaultz.asp?link=http://biblio.com.br/conteudo/MartinsPena/
ojuisdepaznaroca.htm.Acesso em 22.02.2010.
Partiremos, agora, para o romance de costumes.
1.3.6 O Romance de Costumes: Manuel Antonio de Almeida
No Romance de
costumes, destacamos o autor
Manuel Antonio de Almeida.
Nascido no Rio de Janeiro, de
família pobre, frequentou curso de
Medicina, o qual não concluiu por
ter se dedicado exaustivamente
ao jornalismo. Redator e revisor
do Correio Mercantil, lá publicou
em livros o seu único romance, escrito aos vinte e três anos de
idade. Nomeado diretor da Tipografia Nacional, tornou-se amigo e
protetor de um jovem funcionário chamado Machado de Assis.
Obra
- Memórias de um sargento de milícias (1853)
Fonte: <www.chapadadosguimaraes.com.br/>
59
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Memória de um sargento de milícias
O público leitor, ainda acostumado ao sentimentalismo
piegas, não poderia aceitar um romance que rompia com o tipo de
narrativa praticado na época, antecipando formas realistas no
momento em que a literatura padrão era a de a Joaquim Manuel
de Macedo. Por isso mesmo, Gonzaga afirma que Memórias de
um sargento de milícia foi a obra mais adulta e envolvente da
época. A critica que fazemos ao Romantismo é evidência da ironia
direta do narrador que se diverte não apenas com os personagens,
recurso comum aos românticos em geral.
Obras:
• Romance
Memórias de um Sargento de Milícias
• Outros Gêneros
Tese de doutoramento em Medicina
Libreto da ópera Dois Amores (“imitação do italiano de
Piave”), com música da Condessa Rosawadowska, representada
sem êxito após a morte do autor.
• Os Costumes
O início da história é proposto como uma narrativa de
costumes. Observe:
‘’(...) Uma das quatro esquinas que formam as ruas do
Ouvidor e da Quitanda, cortando-se mutuamente, chamava-se
nesse tempo - O canto dos meirinhos-; e bem lhe assentava o
nome, porque era aí o lugar de encontro favorito de todos os
indivíduos dessa classe (que gozava então de não pequena
consideração). Os meirinhos de hoje não são mais do que a sombra
caricata dos meirinhos do tempo do rei; esses eram gente temível
e temida, respeitável e respeitada; formavam um dos extremos da
60
Literatura Brasileira II
formidável cadeia judiciária que envolvia todo o Rio de Janeiro no
tempo em que a demanda era entre nós um elemento de vida: o
extremo oposto eram os desembargadores. Ora, os extremos se
tocam, e estes, tocando-se, fechavam o círculo dentro do qual se
passavam os terríveis combates das citações, provarás, razões
principais e finais, e todos esses trejeitos judiciais que se chamava
o processo.
Daí sua influência moral.” (ALMEIDA, Manuel Antonio de
Memórias de um Sargento de Milícias. In: http://
www.culturatura.com.br/obras/Memorias.Acesso em.22.02.2010.)
O livro começa por deflagrar um processo de realismo
exato e minucioso dos usos dos hábitos sociais e das figuras
típicas, do Brasil no tempo do rei, isto é, O Brasil de D. João VI.
Trata-se de um realismo tão minucioso, tão detalhado, tão
corriqueiro que, às vezes, os personagens parecem existir apenas
para evidenciar os costumes da época. Vários costumes são
arrolados pelo autor, como: procissões e vida religiosa festas,
danças, músicas, a organização policia e administrativa:
(...) Mas voltemos à esquina. Quem passasse por aíem qualquer dia útil dessa abençoada época veriasentado em assentos baixos, então usados, de couro,e que se denominavam-cadeiras de campanha. Umgrupo mais ou menos numeroso dessa nobre genteconversando pacificamente em tudo sobre que eralícito conversar: na vida dos fidalgos, nas notícias doReino e nas astúcias policiais do Vidigal (ALMEIDA,1963, p. 02).
O romance descreve uma sequência de situações
cômicas, que são unificadas pelo personagem Leonardo, que é
acompanhado pelo romancista desde seu nascimento, filho de uma
pisadela e de um beliscão, passando pela infância, adolescência
e início da idade adulta até o ingresso na Milícia. Quase todos os
61
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personagens das Memórias pertencem às classes populares do
Rio de Janeiro, mais precisamente à pequena burguesia.
O autor deixou escapar da sua obra a burguesia latifundiária
e a aristocracia lusa, as classes dominantes, enfim. Mesmo, assim,
um fidalgo aparece na história e é uma mistura ridícula, delimitando
o que o jovem pensava de nossa nobreza. Na opinião de Gonzaga
(2002), talvez o aspecto mais revolucionário dessa narrativa seja a
construção do personagem central. Leonardo é uma espécie de
marginal vadio e meio estúpido.
A proposta de apresentar, nas narrativas românticas,
personagens certinhos, sem defeitos, que subverte o sistema
literário do folhetim, que exige herois excepcionais e subverte
também os próprios valores da sociedade. A vida de Leonardo se
dá na dimensão da malandragem, como diz o crítico Cândido apud
Gonzaga (2002). E quando Leonardo esgota todas as
possibilidades de aventuras picarescas, só lhe resta o casamento
e o emprego de soldado. No Romantismo, o casamento é o início
da felicidade; mas, em Memórias de um sargento de milícias, é o
fim de tudo. Leia o fragmento abaixo e responda às questões
sugeridas:
‘’(...) Sua história tem pouca coisa de notável. Fora
Leonardo algibebe em Lisboa, sua pátria; aborrecera-se, porém
do negócio, e viera ao Brasil. Aqui chegando, não se sabe por
proteção de quem, alcançou o emprego de que o vemos
empossado, e que exercia, como dissemos, desde tempos
remotos. Mas viera com ele no mesmo navio, não sei fazer o quê,
uma certa Maria da hortaliça, quitandeira das praças de Lisboa,
saloia rechonchuda e bonitota. O Leonardo, fazendo-se-lhe justiça,
não era nesse tempo de sua mocidade mal apessoado, e,
sobretudo era maganão. Ao sair do Tejo, estando a Maria encostada
62
Literatura Brasileira II
à borda do navio, o Leonardo fingiu que passava distraído por junto
dela, e com o ferrado sapatão assentou-lhe uma valente pisadela
no pé direito. A Maria, como se já esperasse por aquilo, sorriu-se
como envergonhada do gracejo, e deu-lhe também em ar de
disfarce um tremendo beliscão nas costas da mão esquerda. Era
isto uma declaração em forma, segundo os usos da terra: levaram
o resto do dia de namoro cerrado; ao anoitecer passou-se a mesma
cena de pisadela e beliscão, com a diferença de serem desta vez
um pouco mais forte; e no dia seguinte estavam os dois amantes
tão extremosos e familiares, que pareciam sê-lo de muitos anos.
Quando saltaram em terra começou a Maria a sentir certos
enojos: foram os dois morar juntos: e daí a um mês manifestaram-
se claramente os efeitos da pisadela e do beliscão; sete meses
depois teve a Maria um filho, formidável menino de quase três
palmos de comprido, gordo e vermelho, cabeludo, esperneador e
chorão; o qual, logo depois que nasceu, mamou duas horas
seguidas sem largar o peito. E este nascimento é certamente de
tudo o que temos dito o que mais nos interessa, porque o menino
de quem falamos é o herói desta história.
Chegou o dia de batizar-se o rapaz: foi madrinha a parteira;
sobre o padrinho houve suas dúvidas: o Leonardo queria que fosse
o Sr. juiz; porém teve de ceder a instâncias da Maria e da comadre,
que queriam que fosse o barbeiro de defronte, que afinal foi
adotado. Já se sabe que houve nesse dia função: os convidados
do dono da casa, que eram todos dalém-mar, cantavam ao desafio,
segundo seus costumes; os convidados da comadre, que eram
todos da terra, dançavam o fado. O compadre trouxe a rabeca,
que é, como se sabe, o instrumento favorito da gente do ofício. A
princípio o Leonardo quis que a festa tivesse ares aristocráticos, e
propôs que se dançasse o minuete da corte. Foi aceita a idéia,
63
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ainda que houvesse dificuldade em encontrarem-se pares. Afinal
levantaram-se uma gorda e baixa matrona, mulher de um convidado;
uma companheira desta, cuja figura era a mais completa antítese
da sua; um colega do Leonardo, miudinho, pequenino, e com
fumaças de gaiato, e o sacristão da Sé, sujeito alto, magro e com
pretensões de elegante. O compadre foi quem tocou o minuete na
rabeca; e o afilhadinho, deitado no colo da Maria, acompanhava
cada arcada com um guincho e um esperneio. Isto fez com que o
compadre perdesse muitas vezes o compasso, e fosse obrigado
a recomeçar outras tantas.’’
(ALMEIDA, José Américo de. Memórias de um Sargento
de Milícias In:sitehttp://www.stockler.com.br/vestibulares/eventos/
LIT.Acesso em 22.02.2010.)
Estamos terminando esta unidade, mas, antes, caros
alunos, vocês deverão responder às questões que propomos sobre
o romantismo na prosa.
ATIVIDADE
1 - Quais as características das narrativas de costumes?
2 - Compare os personagens das obras de Alencar com os de
José Américo de Almeida.
3 - Leia outros fragmentos da obra A moreninha para fazer a
descrição da paisagem.
4 - Pesquise sobre como era a vida no Rio de Janeiro naquela
época. Se possível, estabeleça também diferenças e semelhanças
entre os vários tipos de personagens criados pelos autores.
64
Literatura Brasileira II
5 - Faça uma crítica sobre a obra Memórias de um sargento de
milícias.
6 - Com algumas modificações, o drama vivido por Senhora, de
José de Alencar, é retomado pelo cineastra Adrian Lyne, através
do filme Proposta Indecente (1993). Assista ao filme e, em
seguida, discuta com seus colegas sobre pontos em comum
entre a obra e o citado filme.
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UNIDADE 2
CONTEÚDOS:
• Realismo-Naturalismo
• Contexto histórico-cultural
• A prosa Realista/Naturalista brasileira
OBJETIVOS:
√ Compreender o contexto histórico-cultural do Realismo-
Naturalismo.
√ Identificar tendências estéticas e ideológicas do Realismo-
Naturalismo brasileiro.
√ Ler e analisar textos representativos de autores brasileiros do
Realismo-Naturalismo.
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Literatura Brasileira II
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2.1 CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL DO REALISMO-
NATURALISMO
O Realismo é uma reação contra o Romantismo: ORomantismo era a apoteose do sentimento; - oRealismo é a anatomia do caráter. É a crítica dohomem. É a arte que nos pinta a nossos própriosolhos – para condenar o que houver de mau na nossasociedade. (Eça de Queiroz)
Como vimos, o Romantismo extremou-se no culto ao
sentimentalismo e à exaltação da natureza, deixando espaço aberto
para a estética seguinte a missão revolucionária. Surge, então o
Realismo-Naturalismo que firma-se na segunda metade do século
XIX, período em que o poder político da burguesia já está
consolidado. A classe Burguesa deste momento tinha o seu gosto
estético orientado para uma arte racional, pautada no experimentalismo
e na observação, no entanto é preciso compreender, pelo menos em
linhas gerais, o contexto cultural da época.
O Realismo reflete as profundas transformações
econômicas, políticas, sociais e culturais da segunda metade do
século XIX. A Revolução Industrial, iniciada no século XVIII, entra
numa nova fase. O capitalismo se estrutura em moldes modernos,
com o surgimento de grandes complexos industriais; por outro lado,
a massa operária urbana aumenta, formando uma população
marginalizada que não partilha dos benefícios gerados pelo
progresso industrial, mas sim explorada e sujeita a condições
sub-humanas de trabalho.
Augusto Comte (1798-1857) cria o Positivismo em que
defende a importância fundamental da Ciência para a vida do
homem em sociedade, para tanto, propunha o abandono da
Teologia e da Metafísica em favor de uma atitude de espírito voltado
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Literatura Brasileira II
para o conhecimento “positivo” da realidade.
Contemporaneamente, Charles Darwin publica A Origem das
Espécies (1859), uma verdadeira revolução no campo das ciências
biológicas. Ainda como relevante neste contexto surge as ideias
de Hipolite Taine que considera o homem condicionado ao
ambiente e à herança, a chamada teoria determinista.
Com Karl Marx e Friedrich Engel, surge o socialismo
científico, a partir da publicação do Manifesto do Partido Comunista,
em 1848, definindo o materialismo histórico (o modo de produção
da vida material condiciona o processo de vida social).
E como se encontrava o Brasil entre 1850 e 1900?
O Brasil também passava por mudanças radicais. A
monarquia vivia uma vertiginosa decadência; a campanha
abolicionista intensificava-se a partir de 1850; a Lei Áurea de 1888
não resolveu o problema dos negros, mas criou uma nova realidade:
o fim da mão de obra escrava e a substituição pela mão-de-obra
assalariada, representada por levas de imigrantes europeus.
Na década de 70, surge, no Brasil, a chamada Escola de
Recife, com Tobias Barreto, Sílvio Romero e outros, aproximando-se
das ideias europeias ligadas ao Positivismo Evolucionismo e,
principalmente, à filosofia alemã. São os ideais do Realismo que
encontravam ressonância no conturbado momento histórico vivido pelo
Brasil.
Diante desse quadro, a obra literária passa a ser
considerada mecanismo de combate, de reforma e de ação social.
Repudiando a característica da “Arte pela arte”, a arte passa a
funcionar como espelho da sociedade.
O Realismo surge primeiramente nas artes plásticas em
meados do século XIX, tendo como destaque Gustave Coubet que
teve as telas O enterro em Ornans e As Banhisas recusadas na
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UESPI/NEAD Letras Espanhol
Exposição Universal de 1855, entendidas como escandalosas. O
pintor manifesta sua indignação conta a pintura imaginativa do
Romantismo e justifica que seu objetivo era “traduzir os costumes,
as idéias, o aspecto de sua época segundo sua apreciação, em
suma, fazer arte viva” (MOISES, 2004, p. 12).
O ano de 1857, além de
corresponder ao ápice das polêmicas em
favor das ideias realistas, marca a
consolidação da estética no campo
literário, com o aparecimento de duas
obras definidoras: As Flores do Mal, de
Charles Baudelaire, de cunho poético, e
Madame Bovary (1857), de Gustave
Flaubert, que, com seu estilo conciso,
inaugura o romance realista, desnudando
a hipocrisia da sociedade burguesa. Após dez anos, Emile Zola
introduz o romance naturalista, com Therese Raquin.
O Enterro em OrnansFote: <http://www.art-wallpaper.com/4949/Courbet+Gustave/Funeral+at+Ornans-1024x768-4949.jpg>
As BanhistasFonte: <http://3.bp.blogspot.com/_XG8>
Fonte: <http://images.google.com.br/images?hl=pt-BR&source=hp&q=Madame+Bovarry.>
70
Literatura Brasileira II
Na renovação temática, destacam-se como temas o
adultério e a critica ao clero e os temas político-sociais, em que os
escritores procuraram traçar diagnósticos da sociedade burguesa
em crise.
O Naturalismo surgiu como um desdobramento do
Realismo, fundamentado, principalmente, na valorização da ciência
como instrumento para uma reflexão crítica da sociedade, assim
os romances naturalistas apresentam temas voltados à análise do
comportamento patológico do ser humano, de suas taras sexuais,
de seu lado animalesco. Em 1865, Claude Bernard publica
Introdução à Medicina Experimental com uma tese sobre a
hereditariedade. Essa nova tendência faz surgir o romance
experimental, ou de tese, como explica Moisés
A semelhança do cientista que, no laboratório,empreende seguidas experiências objetivando oconhecimento positivo de um fato, o romancista sevaleria da narrativa para demonstrar que a situaçãodramática, protagonizada pó figurantes aos fatoreshereditários, ambientais e de momento, fatalmentedeveria resolver-se de acordo com as forcas empresença (MOISÉS, 2004, p. 16).
É necessário salientar que, entre o Realismo e o
Naturalismo, há pontos em comum, no entanto existem diferenças
nítidas entre as duas tendências. A primeira vê esteticamente os
problemas sociais como um expectador, detendo-se a explicações
filosóficas e científicas de modo implícito ou indireto. Por outro lado;
a segunda, de maneira direta e cientificamente, se detém aos
problemas, procurando de forma minuciosa expor os sintomas do
caso clínico analisado.
O adultério, por exemplo, no romance realista, é explicado
como decorrência de causas predominantemente educacionais e
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UESPI/NEAD Letras Espanhol
morais: vício social, fruto de convenções, ainda que com bases
patológicas; já no romance naturalista, ele resulta de distúrbios
fisiológicos e psiquiátricos, não impedindo que as relações sociais
estejam presentes.
Enquanto o Realismo se preocupa com os aspectos
sociológicos e apresenta romance de tese documental, o
Naturalismo se preocupa com os aspectos patológicos e apresenta
romance de tese experimental.
Em 1881, consolidou-se o Realismo/Naturalismo no Brasil
com a publicação de dois romances fundamentais que modificaram
o curso de nossas letras: O Mulato de Aluízio, de Azevedo, primeiro
romance naturalista brasileiro e Memórias Póstumas de Brás
Cubas, de Machado de Assis, primeiro romance realista de
nossa literatura.
2.2 O ROMANCE REALISTA/NATURALISTA BRASILEIRO
A prosa dos fins do século XIX torna-se instrumento de
ataque e demolição de valores sociais, mas, ao mesmo tempo, de
defesa de ideais filosóficos e científicos.
Cultivado por Machado de Assis, o romance realista
concentra-se na análise psicológica, acrescida de crítica à
sociedade, a partir do comportamento de determinados
personagens. No entanto, a análise da sociedade é feita “por
cima”.
A narrativa naturalista é marcada pela forte análise social
a partir de grupos humanos marginalizados, valorizando o coletivo,
além disso, os naturalistas construíram romances experimentais,
fazendo sentir a influência da teoria de Darwin, segundo a qual o
homem é conduzido por instinto animalesco.
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Literatura Brasileira II
2.2.1 Machado de Assis
Joaquim Maria Machado de
Assis nasceu no Rio de Janeiro em 21
de junho de 1839, filho de um mulato e
de uma lavadeira portuguesa. Após os
estudos elementares, dedica-se a vários
empregos a fim de auxiliar no sustento
da família.
Com dezessete anos, ingressa
como aprendiz de tipógrafo na
Imprensa Nacional, onde ganha a
amizade de Manuel Antônio de Almeida. Em 1858, trava contato
com expoentes literários do seu tempo, e deles recebe estímulo
para continua a escrever.
Em 1869, casa-se com Carolina Xavier de Novais, e quatro
anos mais tarde é nomeado primeiro oficial da Secretaria de
Estado do Ministério da Agricultura, Comercio e Obras Públicas.
Alcançada a estabilidade econômica, entrega-se à criação de sua
obra, numa sucessão apenas interrompida pela morte.
Em 1897, Machado de Assis é eleito presidente da recém-
fundada Academia Brasileira de Letras (também chamada “Casa
de Machado de Assis”), concretizando o velho sonho de reunir a
elite dos escritores da época em um clube literário.
Costuma-se dividir a obra machadiana em duas fases
distintas: a primeira, chamada de fase romântica, porque ligada
aos princípios da estética, enfeixa os romances Ressurreição, A
Mão e a Luva, Helena, Iaiá Garcia; a segunda, fase realista,
envolve as obras Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas
Borba, Dom Casmurro, Esaú e Jacó, Memorial de Aires. Os
Fonte: <http://images.google.com.br/images>
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romances da segunda fase apresentam as seguintes
características:
- Acentuado gosto pela análise e investigação dos motivos
do comportamento humano: suas fraquezas, egoísmo,
dissimulação, vaidade, luxúria, hipocrisia, orgulho etc.
- Visão profunda da realidade interior e do aspecto moral
do homem.
- Pessimismo e ironia fina e certo humor.
- Interrupções na ordem linear das narrativas e o gosto
pelos monólogos interiores.
Apesar de pertencerem a estéticas distintas, as duas fases
não se excluem, ao contrário, se ligam por osmose, nas palavras
de Moisés (2001), não só aparecem aspectos da primeira
transitando na segunda como nesta já se divisam pormenores
caracterizados daquela. E acrescenta que
os momentos da trajetória do escritor seriamassinalados por uma unidade ou continuidade (sic),nada surpreendente se lembrarmos que a obra dequalquer escritor, por mas variação que apresente, ésempre dominada pelas mesmas forças-motrizes. Asfases machadianas refletiriam, à luz dessaobservação, as modulações ascendentes da mesmacosmovisão (MOISÉS, 2001, p. 80).
Machado foi romancista, contista e poeta, além de deixar
algumas peças de teatro e inúmeras críticas, crônicas e
correspondências.
Com a obra Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881),
Machado marca o início do realismo no Brasil e inaugura uma
modalidade romanesca original que se tornaria marcante no século
XX: o romance na primeira pessoa e o romance de memórias: o
próprio título já é sugestivo para a inovação do autor: Brás Cubas,
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Literatura Brasileira II
personagem que, após a morte, narra as peripécias de sua
passagem na terra.
O estranhamento dos leitores começa já com a dedicatória
do romance: “Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu
cadáver dedico como saudosa lembrança estas memórias
póstumas”. E certamente continua durante a leitura do prólogo “Ao
Leitor”, em que um narrador bastante ousado afirmava não
pretender mais do que cinco leitores para sua obra, escrita “com a
pena da galhofa e a tinta da melancolia”.
Tem assim o início uma obra em que, autorizado pela
condição de “defunto”, Brás Cubas permite-se falar sobre o que
quer, da maneira que melhor lhe convier.
O romance Dom Casmurro surge como momento único
de recolhimento das experiências com a técnica narrativa e,
simultaneamente, da ficcionalização de tudo aquilo que caracteriza
a estética realista. A obra traz, como foco, a desconfiança de traição
da esposa Capitu. Bentinho, narrador-personagem, vê no filho o
rosto do seu melhor amigo, Escobar.
Muitos críticos da obra de Machado de Assis advertem
para a necessidade de o leitor de Dom Casmurro manter-se
independente das sugestões e insinuações do narrador. A questão
básica parece ser a seguinte: até que ponto a narrativa de um
homem certo de ter sido traído pela esposa é confiável? Como
saber o que de fato aconteceu entre Capitu e Escobar (se é que houve
mesmo envolvimento amoroso entre ambos)? Apenas Bentinho,
amargurado e só decide o que deve ou não ser relatado ao leitor.
A grande questão do livro deixa de ser, assim, se Capitu
cometeu ou não adultério. Na verdade, o que importa é perceber
como Machado de Assis foi capaz de tecer a trama ficcional sem
deixar provas da concretude ou não da traição.
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Bosi, no livro de ensaios Machado de Assis: O enigma do
olhar, vê a obra machadiana como um reflexo do seu tempo,
oferecendo “linhas de resistência” ideológica. Para Bosi, o
processo de composição literária realista do escritor recorre a
personagens-tipo - representantes de categorias sociais – que
embora remetam a figuras do passado oferecem dialeticamente
ao presente uma representação que se ajusta perfeitamente a
tempos modernos. Acrescenta Bosi que
O romance é o reino do possível: inclui não só o realhistoricamente testemunhável, mas o que poderia teracontecido ou vir a acontecer. (...) O olho crítico doescritor penetra o seu objeto e o transcende. Aconfiguração local – no caso, a estreita esfera daburguesia fluminense – não teria sido representadacomo foi, com os seus limites e mazelas, se o olharque a intuiu não houvesse sido trabalhada por valoresque diferiam, em mais de um aspecto, dos reinantesnaquele pequeno mundo observado.
Desse modo, a ficção trata das coisas possíveis,
probabilidade do real que se instaura pela linguagem.
Machado de Assis passou a infância no Morro do
Livramento, morou no Centro e perto do Largo do Machado; em
1884, mudou-se para o Cosme Velho, bairro tranquilo, onde viveu
até a morte, em 1908. Quase nunca saiu do Rio de Janeiro, assim
também na ficção, em raríssimas vezes, se afasta da “cidade
maravilhosa”, isso justifica a familiaridade com os espaços da
cidade que serviram de ambientações para as suas tramas
ficcionais. John Gledson, no álbum Rio de Assis: imagens
machadianas do Rio de Janeiro, de Aline Carrer, afirma sobre a
obra machadiana que
Romances, contos e crônicas estão cheios dereferências a detalhes concretos, a ruas, becos,
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Literatura Brasileira II
praias, largos, igrejas, teatros, lojas, etc. Aprópria simplicidade dessas referências ea falta de descrições detalhadamente“realistas” podem fazer com que nem asnotemos. (CARRER,1999, p.11)
“Bruxo de Cosme Velho”, “homem subterrâneo” e “monstro
de lucidez” são alguns dos epítetos com que a crítica vem
procurando rotular o enigma machadiano.
A posição de Machado de Assis, no panorama da
Literatura Brasileira, é a de um renovador, não apenas
porque realmente revolucionou a narrativa brasileira,
imprimindo nela um tom mais verossímel e menos
supérfluo, mas também porque foi além de seu tempo,
atribuindo-lhe um senso psicológico notável.
Para saber mais sobre Machado de Assis, acesse
www.dominiopublico.gov.br. Sugerimos o Vídeo “Machado
de Assis – um mestre na periferia” que você localiza no
site em questão. Bom proveito!
Fonte: <http://www.starnews2001.com.br/marcferrez.html.>
Antigo Cais Pharoux (Praça XV), em 1880, um dos locaispreferidos de Machado de Assis. Nove anos depois dessafotografia, saíram de lá os ferry-boats com os 5000 convidadospara o Baile da Ilha Fiscal, o último do Império.
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ATIVIDADES
Reveja as peculiaridades do realismo, bem como as do
seu maior representante, Machado de Assis, para interagir conosco.
1) Leia o romance Memórias Póstumas de Brás Cubas,
de Machado de Assis, e analise a postura do narrador no que se
refere às denúncias da sociedade do século XIX. Você localiza a
obra em www.dominiopublico.gov.br.
2) Analise a crítica à família, especificamente à mulher, no
conto Missa do Galo, de Machado de Assis.
3) O capítulo que segue é parte integrante da obra Dom
Casmurro, após a leitura, responda ao que se pede.
Capítulo XXXII/ Olhos de ressaca
Tudo era matéria às curiosidades de Capitu. Caso houve,
porém, no qual não sei se aprendeu ou ensinou, ou se fez ambas
as coisas, como eu. É o que contarei no outro capítulo. Neste direi
somente que passados alguns dias do ajuste com o agregado, fui
ver a minha amiga; eram 10 horas da manhã. Dona Fortunata, que
estava no quintal, nem esperou que lhe perguntasse pela filha.
- Está na sala penteando o cabelo – disse-me -; vá
devagarzinho para lhe pregar um susto.
Fui devagar, mas ou o pé ou o espelho traiu-me. Este pode
ser que não fosse; era um espelhinho de pataca (perdoai a barateza),
comprado a um mascate italiano, moldura tosca, argolinha de latão,
pendente da parede, entre as duas janelas. Se não foi ele, foi o pé.
Um ou outro, a verdade é que, apenas entrei na sala, pente, cabelos,
toda ela voou pelos ares e só lhe ouvi esta pergunta:
- Há alguma coisa?
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Literatura Brasileira II
- Não há nada – respondi - ; vim ver você antes que o Padre
Cabral chegue para a lição. Como passou a noite?
- Eu, bem. José Dias ainda não falou?
- Parece que não.
- Mas então quando fala?
- Disse-me que hoje ou amanhã pretende tocar no assunto;
não vai logo de pancada, falará assim por alto e por longe, um
toque. Depois, entrará na matéria. Quer primeiro ver se mamãe
tem a resolução feita...
- Que tem, tem – interrompeu Capitu. – E, se não fosse
preciso alguém para vencer já, e de todo, não se lhe falaria. Eu já
nem sei se José Dias poderá influir tanto; acho que fará tudo, se
sentir que você realmente não quer ser padre, mas poderá
alcançar? ... Ele é atendido; se, porém... É um inferno isto! Você
teime com ele, Bentinho.
- Teimo; hoje mesmo ele há de falar.
- Você jura?
- Juro! Deixe ver os olhos, Capitu.
Tinha-me lembrado a definição que José Dias dera deles,
“olhos de cigana oblíqua e dissimulada”. Eu não sabia o que era
oblíqua, mas dissimulada sabia, e queria ver se se podiam chamar
assim. Capitu deixou-se fitar e examinar. Só me perguntava o que
era, se nunca os vira; eu nada achei extraordinário; a cor e a doçura
eram minhas conhecidas. A demora da contemplação creio que
lhe deu outra idéia do meu intento; imaginou que era um pretexto
para mira-los mais de perto, com os meus olhos longos, constantes,
enfiados neles, e a isso atribuo que entrassem a ficar crescidos,
crescidos e sombrios, com tal expressão que...
Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata
e poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. Não me
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acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo,
o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca.
É o que me dá idéia daquela feição nova. Traziam não sei que
fluido misterioso e energético, uma força que arrastava para dentro,
como a vaga que se retira da praia, nos dia de ressaca. Para não
ser arrastado, agarrei-me às outras partes vizinhas, às orelhas, aos
braços, aos cabelos espalhados pelos ombros, mas tão depressa
buscava as pupilas, a onda que saia delas vinha crescendo, cava
e escura, ameaçando envolver-me, puxar-me e tragar-me. Quantos
minutos gastamos naquele jogo? Só os relógios do céu terão
marcado esse tempo infinito e breve. A eternidade tem as suas
pêndulas; nem por não acabar nunca deixa de querer saber a
duração das felicidades e dos suplícios. Há de dobrar o gozo aos
bem-aventurados do céu conhecer a soma dos tormentos que
já terão padecido no inferno os seus inimigos; assim também a
quantidade das delícias que terão suplício escapou ao divino
Dante; mas eu não estou aqui para emendar poetas. Estou para
contar que, ao cabo de um tempo não marcado, agarrei-me
definitivamente aos cabelos de Capitu, mas então com as mãos,
e disse-lhe – para dizer alguma coisa – que era capaz de os
pentear, se quisesse.
- Você?
- Eu mesmo.
- Vai embaraçar-me o cabelo todo, isso sim.
- Se embaraçar, você desembaraça depois.
- Vamos ver.
Que tal refletirmos agora sobre o texto?!
a) Caracterize psicologicamente Capitu com base no
comentário de José Dias a respeito dos olhos dela, no diálogo
que Capitu mantém com Bentinho e na narração de Bentinho.
80
Literatura Brasileira II
b) Por que o narrador caracteriza os olhos de Capitu como
“olhos de ressaca”?
c) Bentinho é considerado um personagem de caráter frágil,
em detrimento de Capitu. Justifique com passagem do texto.
2.2.2 Aluísio Azevedo
Considerado o pioneiro do naturalismo no Brasil, o
romancista Aluísio de Azevedo nasceu em São Luís, Maranhão,
em 14 de abril de 1857. Após os primeiros estudos em sua terra
natal, vai para o Rio de Janeiro estudar pintura e desenho; trabalha
como caricaturista na imprensa. Com a morte de seu pai, retorna
ao Maranhão; na época, escreve alguns artigos de caráter político,
influenciado pelo materialismo positivista, atacando os
conservadores, a tradicional sociedade maranhense e o clero. Em
1880, inicia-se no romance, publicando Uma lágrima de mulher.
No ano seguinte, choca a sociedade do Maranhão ao publicar O
Mulato, primeiro romance naturalista de nossa literatura.
Em 1895, o romancista presta concurso para o cargo de
cônsul. Aprovado, ingressa na vida diplomática e abandona de vez
a literatura. Falece em 21 de janeiro de 1913, em Buenos Aires.
Fonte: <http://images.google.com.br/images.>
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UESPI/NEAD Letras Espanhol
Por tentar profissionalizar-se como autor, Aluísio produziu
uma obra propositalmente diversificada: de um lado, os romances
românticos, que o próprio autor chamava de “comerciais”; de outro,
os romances naturalistas, chamados de “artísticos”. Ao primeiro
grupo pertencem Memórias de um Condenado, Mistérios da
Tijuca, Filomena Borges, O Esqueleto e A Mortalha de Alzira. Ao
segundo grupo, entre outros, pertencem os três romances maiores
de Aluísio: O Mulato, Casa de Pensão e O Cortiço. Importante é
notar que essa divisão não constitui fases, como no caso de
Machado de Assis, os romances românticos eram alternados, com
os naturalistas.
Seguindo as lições de Émile Zola e de Eça de Queirós, o
autor escreve romances de tese, com clara conotação social.
Percebemos nitidamente a preocupação com as classes
marginalizadas pela sociedade, a crítica ao conservadorismo e ao
clero, aliado à classe dominante. Destacamos ainda a defesa do
ideal republicano assumida pelo autor: em O Cortiço, a República
é proclamada em pleno decurso da narrativa, permitindo, assim,
ao autor explicitar sua posição quanto ao acontecimento. E, na
melhor postura materialista positivista, Aluísio valoriza os instintos
naturais, comparando constantemente seus personagens a
animais: Bertoleza “tinha ancas de vaca do campo”, seu marido
morreu “estrompado como uma besta”, puxando uma carroça.
Já dissemos que Aluísio Azevedo inaugura o Naturalismo
entre nós com a publicação de O Mulato em 1881. No entanto, seu
mais bem acabado romance naturalista é o último que escreveu: O
Cortiço. Neste livro, o autor não está mais tão preocupado com as
personagens; concentra-se em demonstrar a tese de que o ser
humano é fruto do meio em que vive. Essa narrativa não relata
dramas individuais, mas coletivos, consistindo numa observação
82
Literatura Brasileira II
direta da realidade, ressaltando a influência que o meio exerce
sobre o homem.
Leia o Fragmento do Capítulo I da obra O Cortiço em que
é narrada a relação entre Miranda e sua esposa Estela.
O CORTIÇO
Odiavam-se. Cada qual sentia pelo outro um profundo
desprezo, que pouco a pouco se foi transformando em repugnância
completa. O nascimento de Zulmira veio agravar ainda mais a
situação; a pobre criança, em vez de servir de elo aos dois infelizes,
foi antes um novo isolador que se estabeleceu entre eles. Estela
amava-a menos do que lhe pedia o instinto materno por supô-la
filha do marido, e este a detestava porque tinha convicção de não
ser seu pai.
Uma bela noite, porém, o Miranda, que era homem de
sangue esperto e orçava então pelos seus trinta e cinco anos, sentiu-
se em insuportável estado de lubricidade. Era tarde já e não havia
em casa alguma criada que lhe pudesse valer. Lembrou-se da
mulher, mas repeliu logo esta idéia com escrupulosa repugnância.
Continuava a odiá-la. Entretanto este mesmo fato de obrigação
em que ele se colocou de não servir-se dela, a responsabilidade
de desprezá-la, como que ainda mais lhe assanhava o desejo da
carne, fazendo da esposa infiel um fruto proibido. Afinal, coisa
http://grimoiredomago.blogspot.com.Acesso em 20.fev.2010.
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UESPI/NEAD Letras Espanhol
singular, posto que moralmente nada diminuísse a sua repugnância
pela perjura, foi ter ao quarto dela.
A mulher dormia a sono solto. Miranda entrou pé ante pé e
aproximou-se da cama. “Devia voltar!... pensou. Não lhe ficava bem
aquilo!...” Mas o sangue latejava-lhe, reclamando-a. ainda hesitou
um instante, imóvel, a contemplá-la no seu desejo.
Estela, como se o olhar do marido lhe apalpasse o corpo,
torceu-se sobre o quadril da esquerda, repuxando com as coxas o
lençol para a frente e patenteando uma nesga de nudez estofada e
branca. O Miranda não pôde resistir, atirou-se contra ela, que, num
pequeno sobressalto, mais de surpresa que de revolta, desviou-
se, tornando logo e que continuava a dormir, sem a menor
consciência de tudo aquilo.
Ah! Ela contava como certo que o esposo, desde que não
teve coragem de separar-se de casa, havia mais cedo ou mais
tarde, de procurá-la de novo. Conhecia-lhe o temperamento, forte
para desejar e fraco para resistir ao desejo.
Consumado o delito, o honrado negociante sentiu-se
tolhido de vergonha e arrependimento. Não teve ânimo de dar
palavra, e retirou-se tristonho e murcho para seu quarto de
desquitado.
Oh! Como lhe doía agora o que acabava de praticar na
cegueira da sua sensualidade.
- Que cabeçada!... dizia de agitado. Que formidável
cabeçada!...
No dia seguinte, os dois viram-se e evitaram-se em
silêncio, como se nada de extraordinário houvera entre eles
acontecido na véspera. Dir-se-ia até que, depois daquela
ocorrência, o Miranda sentia crescer o seu ódio contra a esposa.
E, à noite desse mesmo dia, quando se achou sozinho na sua cama
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Literatura Brasileira II
estreita, jurou mil vezes aos seus brios nunca mais, nunca mais
praticar semelhante loucura.
Mas, daí a um mês o pobre homem, acometido de um novo
acesso de luxúria, voltou ao quarto da mulher.
Estela recebeu-o desta vez como da primeira, fingindo que
não acordava; na ocasião, porém, em que ele se apoderava dela
febrilmente, a leviana, sem se poder conter, soltou-lhe contra o
rosto uma gargalhada que a custo sopeava. O pobre-diabo
desnorteou, deveras escandalizado, soerguendo-se, brusco, num
estremunhamento de sonâmbulo acordado com violência.
A mulher percebeu a situação e não lhe deu tempo para
fugir; passou-lhe rápido as pernas por cima e, grudando-se-lhe ao
corpo, cegou-o com uma metralhada de beijos.
Não se falaram.
Miranda nunca tivera, nem nunca a vira, assim tão violenta
no prazer. Estranhou-a. afigurou-se-lhe estar nos braços de uma
amante apaixonada; descobriu nela o capitoso encanto com que
nos embebedam as cortesãs amestradas na ciência do gozo
venéreo. Descobriu-lhe no cheiro da pele e no cheiro dos cabelos
perfumes que nunca lhe sentira; notou-lhe outro hálito, outro som
nos gemidos e nos suspiros. E, gozou-a loucamente, com delírio,
com verdadeira satisfação de animal no cio.
E ela também, ela também gozou, estimulada por aquela
circunstância picante do ressentimento que os desunia; gozou a
desonestidade daquele ato que a ambos acanalhava aos olhos
um do outro; estorceu-se toda, rangendo os dentes, grunindo,
debaixo daquele seu inimigo odiado, achando-o também agora,
como homem, melhor que nunca, sufocando-o nos seus abraços
nus, metendo-lhe pela boca a língua úmida e em brasa. Depois um
arranco de corpo inteiro, com um soluço gutural e estrangulado,
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UESPI/NEAD Letras Espanhol
arquejante e convulsa, estatelou-se num abandono de pernas e braços
abertos, a cabeça para o lado, os olhos moribundos e chorosos, toda
ela agonizante, como se a tivessem crucificado na cama.
A partir dessa noite, da qual só pela manhã o Miranda se
retirou do quarto da mulher, estabeleceu-se entre eles o hábito de
uma felicidade sexual, tão completa como ainda não a tinham
desfrutado, posto que no íntimo de cada um persiste contra o outro
a mesma repugnância moral em nada enfraquecida. (AZEVEDO,
Aluísio. O Cortiço. São Paulo. Ática, 1975)
ATIVIDADE
1) Comente o estilo de Aluísio Azevedo, a partir da adjetivação
atribuída a Miranda e a Estela.
2) Aponte três passagens tipicamente naturalistas presentes
no texto.
3) No fragmento apresentado, aparece a caracterização do
homem e da mulher como animais instintivos. Justifique.
4) Leia o texto abaixo, em seguida, justifique os pontos comuns
com o Naturalismo.
Uma moça bonita
de olhar agateado
deixou em pedaços
o meu coração
Uma onça pintada
e seu tiro certeiro
86
Literatura Brasileira II
deixou os meus nervos
de aço no chão
Foi mistério e segredo
e muito mais
foi divino brinquedo
e muito mais
se amar como dois animais
Meu olhar vagabundo
de cachorro vadio
olhava a pintada
e ela estava no cio
Era um cão vagabundo
e uma onça pintada
se amando na praça
como os animais.
(VALENÇA, Alceu. “Como dois animais”. In: Cavalo de Pau)
2.2.3 Raul Pompéia
Raul d’Ávila Pompéia nasceu em Angra dos Reis, Rio de
Janeiro, em 12 de abril de 1863. Após os anos de internato, no
Fonte: <http://images.google.com.br/
87
UESPI/NEAD Letras Espanhol
Colégio Abílio, que lhe inspirariam mais tarde a obra O Ateneu
(1888), fez o curso secundário no Colégio Pedro II. Em São Paulo,
iniciou estudos de Direito, ocasião em que abraçou ideais
republicanos e abolicionistas, mas terminou no Recife (1885). De
volta ao Rio, exerceu cargos públicos no Diário Oficial e na
Biblioteca Nacional, e o magistério, na Escola Nacional de Belas-
Artes. Além de O Ateneu, deixou obra esparsa, como Uma tragédia
no Amazonas e As jóias da coroa, os contos Microscópicos e o
poema em prosa Canções sem metro, no entanto, Raul Pompéia
pertence à classe dos escritores de um livro só: O Ateneu. Tudo o
mais que criou, apesar do muito engenho, não passou de exercício,
preparação para a sua obra-prima.
O Ateneu é um misto de ficção e memória, deixa
transparecer a complexidade do espaço do internato, onde são
representados os vários protótipos humanos. Quando o pai de
Sérgio, personagem central da obra, lhe diz à porta do internato
“vais encontrar o mundo”, certamente se referia à projeção do
mundo no universo do internato. Moisés acrescenta que
A ambivalência da obra, que o subtítulo “Cônica dasaudade”, igualmente se manifesta no vaticíniopaterno, abrindo caminho ás dicotomias em que orelato vai transcorrer: o que se mostra não é o que sevê, é o que se esconde, e o que se esconde é, afinalde contas, o que deve ser visto. O mundo que o paidescortina ao filho se limita às paredes da escola;para encontrar o mundo, o menino é alheado, qualdelinqüente, da realidade cotidiana da família, comose o mundo não fosse o dia-a-dia doméstico, mas odo internato (MOISÉS, 2001, p. 104)
A obra foi considerada de cunho autobiográfica pela
crítica e isso gerou um escândalo que, no entendimento de Mário
de Andrade, é uma vingança do escritor contra a sociedade. O
88
Literatura Brasileira II
romance ressalta instintos, patologias sexuais, ao lado de enfoques
subjetivos e psicológicos, situa-se entre o realismo e o naturalismo.
O Ateneu também na feitura era complexo: oscilava entre as
insinuações de Machado de Assis e as ousadias dos naturalistas,
variava no estilo da sobriedade ao rebuscamento; a julgar-se pelo
tema, pela caricatura de um colégio famoso na época, o Colégio
Abílio.
A obra O Ateneu, ao mesmo tempo em que representa o
mundo infantil, deixa de sê-lo. A criança não tem condições de
protagonizar dramas, já que o seu universo existencial ainda não
apresenta os conflitos próprios da fase adulta. Por outro lado, cada
figura do internato, além de adulto em miniatura, é símbolo de um
tipo de vício ou de ser social, nesse caso o atrito entre os internos
representa o dos adultos, mas sem configurar-se em drama. Além
disso, há uma distância temporal entre o adulto que narra e a criança
que fora um dia; desse modo, fica patente a vacilação de O Ateneu
entre o diário íntimo e a ficção, entre a memória e a narrativa.
ATIVIDADE
Leia o fragmento do Capítulo I, de O Ateneu, para responder
ao que se pede.
“Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, à porta do
Ateneu. Coragem para a luta!”
Bastante experimentei depois a verdade deste aviso, que
me despia, num gesto, das ilusões de criança educada
exoticamente na estufa de carinho que é o regime do amor
doméstico, diferente do que se encontra fora, tão diferente, que
parece o poema dos cuidados maternos um artifício sentimental,
com a vantagem única de fazer mais sensível a criatura à impressão
89
UESPI/NEAD Letras Espanhol
rude do primeiro ensinamento, têmpera brusca da vitalidade na
influência de um novo clima rigoroso. Lembramo-nos, entretanto,
com saudade hipócrita, dos felizes tempos; como se a mesma
incerteza de hoje, sob outro aspecto, não nos houvesse perseguido
outrora e não viesse de longe a enfiada das decepções que os
ultrajam.
Eufemismo, os felizes tempos, eufemismo, apenas, igual
aos outros que nos alimentam a saudade dos dias que correram
como melhores. Bem considerando, a atualidade é a mesma em
todas as datas. Feita a compensação dos desejos que variam,
das aspirações que se transformam, alentadas perpetuamente do
mesmo ardor, sobre a mesma base fantástica de esperanças, a
atualidade é uma. Sob a coloração cambiante das horas, um pouco
de ouro mais pela manhã, um pouco mais de púrpura ao crepúsculo
– a paisagem é a mesma de cada lado beirando a estrada da
vida.
Eu tinha onze anos.
(POMPÉIA, Raul. O Ateneu : Crônica de Saudades. São
Paulo, Ática, 1976, p.11)
A propósito do texto:
1) Como o personagem vê a educação familiar?
2) Comente as reflexões do narrador-
personagem acerca das palavras do pai à porta do internato.
Por questões de periodização literária, vamos agora dar
ênfase no Parnasianismo e Simbolismo no Brasil, no entanto, não
demoraremos nessas estéticas, uma vez que o foco desta disciplina
é a prosa, e sabemos que as duas tendências destacam-se na
poesia.
90
Literatura Brasileira II
91
UESPI/NEAD Letras Espanhol
UNIDADE 3
CONTEÚDOS:
• Parnasianismo e Simbolismo no Brasil
• Estudo das características e temas
• Autores representativos
OBJETIVO:
√ Reconhecer as Estéticas Parnasiana e Simbolista a partir de suas
características peculiares e de seus autores representativos
92
Literatura Brasileira II
93
UESPI/NEAD Letras Espanhol
3.1 PARNASIANISMO
O Parnasianismo foi outra vítima dainteligência que construiu a prisão ondequis encarcerar o poeta.(Rubens Borba de Morais)
O Parnasianismo é a manifestação poética do realismo,
embora ideologicamente não mantenha pontos de contato com os
romancistas realistas e naturalistas. É uma estética preocupada
com a “arte pela arte”, com seus poetas à margem das grandes
transformações do final do século XIX e início do século XX.
O movimento parnasiano nasceu na França, por volta de
1865. Reagia contra a lírica de confissão fortemente sentimental, a
sensibilidade romântica, a forma às vezes demasiadamente solta
do romantismo, e valorizando a impassibilidade, o culto da forma,
da rima perfeita, da metrificação rigorosa, de um vocabulário escolhido
nobre, fazendo do poema quase uma escultura. Para os parnasianos,
a estética era mais importante do que a ética, a arte se justificava pela
própria arte e não por um possível alcance moral, ou didático.
Parnasianismo no Brasil
A instalação do Parnasianismo no Brasil como movimento
poético ocorre em 1882 com a publicação do livro Fanfarras, de
Teófilo Dias. É representada, sobretudo, por Olavo Bilac, Raimundo
Correia, Alberto de Oliveira, Francisca Júlia e Vicente de Carvalho.
A poesia parnasiana não alcança a popularidade que teve a poesia
romântica, entretanto, muitos poemas parnasianos conseguiram
tornar-se conhecidos do grande público, como é o caso de Vaso
Grego (Alberto de Oliveira) e As Pombas (Raimundo Correia).
94
Literatura Brasileira II
Dos poetas parnasianos, Olavo Bilac é o mais popular.
Nasceu no Rio em 1865, foi jornalista, grande orador, inspetor
escolar. Como poeta, soube cultivar as características da sua
estética: desenvolveu com perfeição a rima e a métrica, fez uso do
mot juste, isto é, do termo preciso; a “arte pela arte” apresentou
correção da língua e do verso. Bilac soube articular como ninguém
a firme economia do poema com a rigorosa adequação das partes
ao todo. Além disso, o seu patriotismo o levou a cantar a paisagem
brasileira e a possível grandeza da nação. Publicou Poesias (1888)
e, um ano após sua morte, ocorrida em 1918, foi publicado Tarde.
ATIVIDADE
1) O poema de Bilac não perpassa apenas a frieza da
lapidação da palavra. Há um Bilac emotivo – quase romântico –
presente no volume de Poesias, que inaugura sua obra. É de notar
Tríade Parnasiana: Alberto de Oliveira, Raimundo Correia e Olavo BilacFonte: <http://palavrastodaspalavras.files.wordpress.Acesso em 20.fev.2010.>
95
UESPI/NEAD Letras Espanhol
na parte do livro, denominada Via Láctea, o soneto, uma das formas
prediletas dos parnasianos. Busque o poema na íntegra no site
http://www.culturabrasil.pro.br/vialactea.htm e discuta, em sala de
aula, os traços do romantismo nele presentes.
Faça um levantamento dos aspectos formais do fragmento
do poema “Profissão de fé”, de Olavo Bilac, que permitem
classificá-lo como parnasiano.
................................................
Quero que a estrofe cristalina,
Dobrada ao jeito
Do ourives, saia da oficina
Sem um defeito;
................................................
Assim procedo. Minha pena
Segue esta norma,
Por te servir, Deusa serena,
Serena Forma!
.............................................
Celebrarei o teu ofício
No altar; porém,
Se inda é pequeno o sacrifício,
Morra eu também!
Caia eu também, sem esperança,
Porém tranquilo,
Inda, ao cair, vibrando a lança
Em prol do Estilo!
(Olavo Bilac)
96
Literatura Brasileira II
3.2 SIMBOLISMO“Sugerir, eis o sonho”(Stéphane Mallarmé – poeta simbolistafrancês)
O Simbolismo surge dentro de uma crise no fim do século
XIX, resultado dos malefícios advindos da revolução industrial e da
descrença nos métodos de abordagens do real através da razão e
dos pressupostos científicos e positivistas. O progresso material
provocou instabilidade, porque o rápido desenvolvimento das
técnicas não só acelera a mudança das modas, mas também as
variações nos critérios do gosto estético e os métodos positivistas
utilizados para captar a realidade mostram-se ineficientes para a
compreensão global do universo.
Schopenhauer, filósofo alemão, em sua obra O mundo como
vontade e representação contesta o princípio positivista de que o
real pode ser apreendido através de uma aproximação objetiva e
experimental dos fenômenos. A realidade é mera ilusão, “o véu de
Maya” e, como tal, inacessível à aproximação racional e positiva.
Schopenhauer acaba por desmitificar o esforço, a luta e a ideia de
competição. Em consequência, ao desestimular a busca, a
conquista, põe em xeque o princípio do progresso, essencial à
ideologia positivista e base da Revolução Industrial.
A crise finissecular é marcada por fundo pessimismo,
devido à crença de que tudo reside em algo inacessível aos
homens. Assim, autores como Spencer, em sua obra Primeiros
princípios, denominava a estética simbolista de “Desconhecida”
uma potencia inescrutável do universo e Hartman em Filosofia
do Inconsciente identificava-a com “O inconsciente”, um espírito
possante, alma de tudo quando existe e inatingível ao
conhecimento humano.
97
UESPI/NEAD Letras Espanhol
As filosofias pessimistas, por sua vez, estão diretamente
ligadas a um estado de espírito que caracteriza pela sensação
apocalíptica de fim dos tempos, pelo cansaço e envelhecimento
precoce, como se a civilização ocidental tivesse chegado a seu
término, provocando nos homens desalento mortal, que não pode
ser mitigado nem pelo prazer, nem pelas formas de conhecimento.
A sensação de desalento, de dor irremediável e de descrença
absoluta em valores é experimentada pelo herói do fim do século,
o dandy, como exemplo, podemos citar Dorian Gray, de Oscar
Wilde. É, pois, dentro dessa crise de valores, que leva ao grande
pessimismo e à sensação de decadência da civilização, que surge
o simbolismo.
Se os simbolistas muito devem às novidades românticas,
como o idealismo, a teoria das correspondências, a busca de
sugestões, o senso de mistério, também se transformaram em
críticos do romantismo. Isto porque repudiavam-no pelo
emocionalismo e pela ideia de que o acaso interferia no ato de
criação poética. Opondo-se aos românticos, os simbolistas
supunham o controle não só dos estados afetivos, mas também do
fazer poético. Quanto à atitude mística, ou ao que se convencionou
chamar de
“evangelho das
correspondências”,
ela também sofreu
modificações entre
os simbolistas.
Enquanto os
românticos a
concebiam a partir
da dicotomia Fonte: <http://images.google.com.br/
98
Literatura Brasileira II
mundo imanente e mundo transcendente, concebendo a divindade
como algo além da realidade terrestre, entre os poetas do
simbolismo, este espiritualismo circunscrevia-se “aos limites da
natureza terrena”. A divindade, tal qual a concebiam os simbolistas,
estaria agregada às coisas.
Simbolismo no Brasil
O início do Simbolismo no Brasil não pode ser entendido
como término da escola antecedente, o realismo. Como vimos, no
final do século XIX e início do século XX, temos três tendências
que caminham paralelas: o Realismo e suas manifestações
(romances realistas e naturalistas e a poesia parnasiana); o
Simbolismo, situado à margem da literatura acadêmica da época;
e o Pré-Modernismo, preocupado em denunciar a realidade
brasileira. Só mesmo um movimento com a amplitude da Semana
de Arte Moderna poderia acabar com todas essas estéticas e traçar
novos rumos para a nossa literatura.
Consideramos que o simbolismo chega ao Brasil com a
publicação, em 1893, de dois livros, ambos de autoria de Cruz e
Sousa: Missal (prosa) e Broquéis (poesia), mas o Brasil não
disseminou a estética, sendo ela mais europeia. A produção
literária brasileira envolve mais especificamente a arte de Cruz e
Sousa – Obras: Tropos e Fantasias; Missal e Broquéis;
Evocações, 1898 (prosa); Faróis, 1900 (poesias); Últimos
Sonetos, 1905 (poesia) e Alphonsus de Guimarães – Obras: Dona
Mística (1899), Câmara Ardente (1899), Centenário das Dores
de Nossa Senhora (1899), Kyriale (1899), Mendigo (1920), entre
outras.
99
UESPI/NEAD Letras Espanhol
Vamos à atividade?!
Busque, no site http://www.revista.agulha.nom.br/
csousa.html#antifona, o poema Antífona de Cruz e Sousa, em
seguida compare-o com a poesia de Olavo Bilac, levantando
semelhanças e/ou diferenças quanto à forma e ao conteúdo.
100
Literatura Brasileira II
101
UESPI/NEAD Letras Espanhol
UNIDADE 4
CONTEÚDOS:
• Pré-modernismo
• Modernismo brasileiro
• Estudo das características e temas
• Autores representativos do Modernismo brasileiro
OBJETIVO:
√ Reconhecer o modernismo brasileiro com suas características e
autores mais significativos.
102
Literatura Brasileira II
103
UESPI/NEAD Letras Espanhol
Depois de termos estudado a prosa romântica, realista,
naturalista, os poetas parnasianos e simbolistas, passaremos a
abordar o modernismo com os autores que se destacaram nesse
movimento literário.
Mas antes destacaremos O Pré-Modernismo como
antecedente do Modernismo.
Bosi (2008) crê que se podemos chamar pré-modernista
(no sentido mais específico de período que antecipa idéias práticas
e modernistas dos temas vivos em 22) tudo o que problematiza a
nossa realidade social e cultural.
O Pré-Modernismo, no Brasil, não constitui uma escola
literária. Na realidade, Pré-Modernismo é um termo genérico que
designa toda uma vasta produção literária correspondente aos
primeiros vinte anos do século XX.
Enquanto a Europa se prepara para a Primeira Guerra
Mundial, o Brasil vive a República do café-com-leite, dos grandes
Fonte: <www.mac.usp.br/mac/templates/projetos/seculoxx/modulo2/modernismo/artistas/tarsila/images/efcb.jpg.>
104
Literatura Brasileira II
proprietários rurais. É a época áurea da economia cafeeira no
Sudeste, é o momento da entrada de grandes. Levas de imigrantes,
notadamente os italianos, é o esplendor da Amazônia; com o ciclo
da borracha, é o surto da urbanização de São Paulo.
Mas toda essa prosperidade vem deixar cada vez mais
claros os fortes contrastes da realidade brasileira. É, também, o
tempo de agitações sociais. Do abandonado Nordeste, partem os
primeiros gritos de revolta. Em fins do século XIX, na Bahia, ocorre
a revolta de Canudos, tema de Os Sertões, de Euclides da Cunha;
nos primeiros anos do século XX, em todo o Sertão, assolado por
constantes secas, vive-se o tempo do cangaço, com a figura
lendária de Lampião.
Essas agitações são sintomas da crise na república do
café-com-leite, que se tornaria mais evidente na década e 1920,
servindo de cenário ideal para os questionamentos da Semana de
Arte Moderna.
Panorama Histórico
O Imperialismo;
Os barões do café;
O atentado de Sarajevo;
O Cangaço.
Apesar de o Pré-Modernismo não constituir uma escola
literária, apresenta traços característicos que evidenciam:
• Obras inovadoras que rompem com o passado , com
o academicismo , a exemplo da poética de Augusto dos Anjos,
cuja tônica literária aponta palavras não-poéticas, como cuspe,
escarro, vômito, vermes.
105
UESPI/NEAD Letras Espanhol
• A denúncia da realidade brasileira, do Brasil não-oficial
do sertão nordestino, dos caboclos interioranos, dos subúrbios.
• O regionalismo : o Norte e o Nordeste, com Euclides da
Cunha; o vale do Paraíba e o interior paulista, com Monteiro Lobato;
o Espírito Santo, com Graça Aranha; o subúrbio carioca, com Lima
Barreto.
• Os tipos humanos marginalizados: o sertanejo
nordestino, o caipira, os funcionários públicos, os mulatos.
• Fatos políticos, econômicos e sociais
contemporâneos, diminuindo a distância entre a realidade e a
ficção.
A “descoberta de um Brasil desconhecido dos outros
movimentos literários” é a principal herança do movimento pré-
moderno.
A seguir listamos os principais autores.
√ Augusto dos Anjos (1884 – 1914): Eu (poesia)
√ Euclides da Cunha (1864 – 1909): Os Sertões,
contrastes e confrontos
√ Graça Aranha (1868 – 1931): Canaã
√ Lima Barreto (1881 – 1922): Recordações do Escrivão
Isaias Caminha, Triste Fim de Policarpo Quaresma, Numa e
Ninfa, Clara dos Anjos.
√ Monteiro Lobato (1882 – 1948): Urupês, Cidades
Mortas, Reinações de Narizinho, O Poço do Visconde.
Atenção! Vamos fazer a leitura do poema de Augusto dos
Anjos e fazer uma análise, focalizando a temática sob a perspectiva
pré-modernista.
106
Literatura Brasileira II
Psicologia de um vencido
“Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.
Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme - este operário das ruínas -
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!
4.1 MODERNISMO NO BRASIL
O Modernismo eclodiu no Brasil em fevereiro de 1922,
tendo como marco a Semana de Arte Moderna realizada no teatro
Municipal de São Paulo. O evento pretendia fazer com que a
população, de modo geral, tomasse consciência da realidade
brasileira. Este movimento cultural foi idealizado e liderado por um
grupo de artistas, chamado Grupo dos Cinco, integrado pelos
escritores Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Menotti Del
Picchia e pelas pintoras Tarsila do Amaral e Anita Malfatti entre
107
UESPI/NEAD Letras Espanhol
outros. É considerado um movimento não só artístico como também
político e social, já que se opunha à política totalitária da época,
bem como à contradição social entre os proletários e imigrantes e
as oligarquias rurais.
A Semana de Arte Moderna foi o ponto de encontro das
várias correntes que desde a I Guerra vinham se firmando em São
Paulo e no Rio, ao mesmo tempo, a plataforma que permitiu a
consolidação de grupos, a publicação de livros, revistas e
manifestos, numa palavra, o seu desdobrar-se em viva realidade
cultural. A necessidade de fundar a nova estética, de direcionar
seus rumos, de romper com os antigos padrões literários conferiu
ao Modernismo do primeiro momento um alto grau de radicalismo.
Mário de Andrade afirmou, a respeito da violência com que se
processou a ruptura com o passado:
(...) se alastrou pelo Brasil o espírito destruidor domovimento modernista. Isto é, o seu sentidoverdadeiramente específico. Porque, embora
Abaporu de Tarcila do AmaralFonte: <http://images.google.com.br/images>
108
Literatura Brasileira II
lançando inúmeros processos e idéias novas, omovimento modernista foi essencialmente , porque,mesmo que os autores tenham divulgado novaspropostas literárias, o modernismo brasileiro foi nadamais que destruidor.http://www.slinestorsantos.seed.pr.gov.br/redeescola/escolas/11/2590/17/arquivos/File/Biblioteca/semana_da_arte_moderna.pdf. Acesso em28.03.2010)
A primeira fase modernista também é marcada pelos
manifestos nacionalistas: do Pau-Brasil, da Antropofagia, do Verde-
Amarelismo e o da Escola da Anta. Através das características
desses manifestos, temos por análise a identificação de duas
posturas nacionalistas distintas: de um lado o nacionalismo
consciente, crítico da realidade brasileira, e de outro um
nacionalismo ufanista, utópico, exacerbado.
4.2 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA
A I Guerra Mundial (1914-1918) representou o colapso do
universo europeu. Gonzaga diz (2002.p.157) que, durante quatro
anos, os principais países da Europa envolveram-se num conflito
sem precedentes, causado pela ambição imperialista de suas
burguesias e pela manipulação do Nacionalismo chauvinista das
camadas populares. Interminável, a I Guerra estendeu-se nas
trincheiras, onde os soldados morriam como moscas. O morticínio, a
brutalidade, o sacrifício inútil de milhões de vítimas, além da ruína
econômica, levaram à bancarrota todos os valores. Os códigos, os
http://www.mac.usp.br/mac/templates/projetos/seculoxx/modulo2/modernismo/anteced/index.htm
109
UESPI/NEAD Letras Espanhol
padrões, a moral, a filosofia, a religião não podiam explicar a violência
e a desintegração que impregnavam a realidade. A própria linguagem
artística parecia ultrapassada diante da ferocidade dos eventos. E
também com ela – a exemplo do mundo que significava - era destruída
e substituída por novas tendências. Veja as palavras abaixo.
Aquilo que entendemos por arte moderna já sepresentificara na primeira década do século XX, massua expansão e vitalidade deu-se na segunda década,quando a guerra, as crises sociais e existenciais, aRevolução na Rússia, o fim do grande ciclo burguês,favoreceram o desenvolvimento de uma arte polêmicae destruidora. Por romper com uma série de cânones,essa arte recebeu o nome de vanguarda, a que estáà frente do tempo (CARPEAUX apud GONZAGA,2002. p.175).
Neste contexto turbulento, os vários grupos inovadores se
multiplicaram, levando suas ousadias formais e temáticas até a
negação da possibilidade da arte de comunicar qualquer coisa.
Constituíram muitas vanguardas. No conjunto, não legaram obras
primas, mas contribuíram para a liberdade de expressão e para a
pesquisa estética.
Pesquise sobre os movimentos de Vanguarda Europeia,
dando certa importância ao futurismo e dadaísmo e discuta com a
turma a repercussão delas aqui no Brasil.
4.3 CARACTERÍSTICAS DA LITERATURA MODERNISTA
A - A liberdade de Expressão
A importância maior das vanguardas residiu no triunfo de
uma concepção inteiramente libertária da criação artística. Aqui o
artista é regido pelas leis da sua própria interioridade. Picasso
110
Literatura Brasileira II
não pintará o mais o real, mas sim a sua interpretação do real. A
liberdade só poderá ser cerceada por regimes autoritários que
proíbem a circulação dos objetos artísticos. Em suma, todas as
normas foram abolidas. Poética, de Manuel Bandeira, é um
exemplo dessa nova postura:
Poética
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. Diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o
cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de excepção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora
de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário
do amante exemplar com cem modelos de cartas
e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc.
111
UESPI/NEAD Letras Espanhol
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
(www.astormentas.com/bandeira.htm)
B - Incorporação do cotidiano
Uma das maiores conquistas do modernismo, a
valorização da vida cotidiana traz para a arte uma abertura temática
sem precedentes, pois, até então, apenas assuntos sublimes
tinham direito indiscutível ao mundo literário. O prosaico, o diário,
o grosseiro, o vulgar, o resíduo e o lixo tornam-se os motivos
centrais da estética modernista. À grandiosidade da paisagem,
Manuel Bandeira sobrepõe o beco:
“Que importa a paisagem, a Glória, a linha do horizonte?
- o que eu vejo é um beco’’ (GONZAGA, 2002, p. 160).
C - Linguagem coloquial
Este anticonvencionalismo temático, essa
dessacralização dos conteúdos encontra correspondência na
linguagem. Expressões da língua culta mesclam-se com a língua
popular. Veja abaixo o poema de Bandeira citado por Gonzaga
(2202, p.162)
A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros
Vinha da boca do povo
112
Literatura Brasileira II
Língua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil (...)
D - Inovações técnicas
Com o rompimento dos padrões culturais do século XIX, o
modernismo apresenta novas técnicas tanto na poesia como na
ficção. As principais conquistas foram:
- o verso livre : o verso não se assujeita aos rigores dasmétricas e da formas fixas de versificação. Vejamos o poema de
Carlos Drummond de Andrade A flor e a náusea:
A flor e a náusea
Preso à minha classe e a algumas roupas,vou de branco pela rua cinzenta.Melancolias, mercadorias espreitam-me.Devo seguir até o enjôo?Posso, sem armas, revoltar-me?Olhos sujos no relógio da torre:Não, o tempo não chegou de completa justiça.O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.Fonte: <http://leaoramos.blogspot.com/2008/01/preso-sua-classe-e-algumas-roupas.html>
- a destruição dos nexos : as preposições os nexos
sintáticos, as conjunções etc, são eliminados da poesia moderna,
que a torna mais solta, mais descontínua e fragmentária e,
fundamentalmente mais sintética. Veja o poema de Décio Pignatari:
Beba coca cola
babe cola
113
UESPI/NEAD Letras Espanhol
beba coca
babe cola caco
caco
cola
c l o a c aFonte: <http://www.jayrus.art.br/Apostilas/LiteraturaBrasileira/VanguardasPoeticas/Decio_Pignatari_poesia.htm>
- O fluxo da consciência-técnica narrativa estabelecida
por Edouard Dujardin e sacramentada por James Joyce. Trata-se
de um monólogo interior levando para o texto de ficção sem qualquer
obediência á normalidade gramatical, à lógica ou mesmo à
coerência. É a mente da personagem revelada por ele próprio,
sem nenhum tipo de barreira racional. Observemos o monólogo
de Molly Bloom no Ulisses de Joyce:
(...) que alívio onde quer que seja teu vento despejaquem sabe se aquela costeleta de porco que comicom minha xícara de chá depois estava boa com ocalor ou não cheirei nada eu certa que aquele sujeitoafrescalhado na charuteria é um grande maroto euespero que essa lamparina não esteja fumegando prame encher o nariz de fuligem (...)(http://educaterra.terra.com.br/literatura/modernismo/modernismo_14.htm Acesso em 28.03.2010)
- Colagem e mont agem cinematográfica - Ainda no
campo da narrativa, valoriza-se a fragmentação do texto, sua
montagem em blocos e a colagem - a exemplo do que tinham feito
os pintores cubistas - de notícias de jornais, cartazes, telegramas,
etc., no corpo dos romances, truque utilizado por John dos Passos
na trilogia U.S.A. No Brasil, eventualmente, Jorge Amado vale-se
da colagem em seus primeiros romances, como em Jubiabá e
Capitães de areia.
114
Literatura Brasileira II
- Ampliação das vozes narrativas - No século XIX, os
romances eram narrados em primeira ou terceira pessoa. A estética
modernista, sobremodo depois das experiências do americano
William Faulkner (Enquanto agonizo, O som e a fúria, 1929), passa
a admitir uma multiplicidade de perspectivas, vários narradores,
mescla de primeira, terceira e até de segunda pessoa,
possibilitando um complexo conjunto de ângulos sobre os
acontecimentos e os protagonistas dos relatos.
F - Paródia
Os modernistas realizaram uma releitura de textos famosos
do passado, reescrevendo em termos de paródia. A crítica literária
enquadra A escrava que não é Isaura, numa evidente alusão ao
escritor Bernardo Guimarães. Outro exemplo é de Oswald de
Andrade que se baseia na Canção do Exílio. Veja.
Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá
Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra
Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá
115
UESPI/NEAD Letras Espanhol
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte pra São Paulo
Sem que veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo
ATIVIDADE
Compare este poema de Oswald de Andrade com A Canção do
Exílio de Gonçalves Dias. Comente com a turma. Em seguida,
procure ver essa técnica da paródia em outros poemas.
4.4 A SEMANA DE ARTE MODERNA
A Semana de Arte Moderna ocorreu no Teatro Municipal
de São Paulo, em 1922, tendo como objetivo mostrar as novas
tendências artísticas que já vigoravam na Europa. Esta nova forma
de expressão não foi compreendida pela elite paulista, que era
influenciada pelas formas estéticas europeias mais conservadoras.
O idealizador deste evento artístico e cultural foi o pintor DI Cavalcante.
Em um período repleto de agitações, os intelectuais
brasileiros se viram em um momento em que precisavam
abandonar os valores estéticos antigos, ainda muito apreciados
em nosso país, para dar lugar a um novo estilo completamente
contrário, e do qual, não se sabia ao certo o rumo a ser seguido.
No Brasil, o descontentamento com o estilo anterior foi bem
mais explorado no campo da literatura, com maior ênfase na poesia.
Fonte: <http://www.releituras.com/oandrade_menu.asp>.
Fonte: <http://www.releituras.com/oandrade_menu.asp>.
116
Literatura Brasileira II
Entre os escritores modernistas destacam-se: Oswald de Andrade,
Guilherme de Almeida e Manuel Bandeira. Na pintura, destacou-se
Anita Malfatti, que realizou a primeira exposição modernista brasileira
em 1917. Suas obras, influenciadas pelo cubismo, expressionismo e
Futurismo, escandalizaram a sociedade da época. Monteiro Lobato
não poupou críticas à pintora, contudo, este episódio serviu como
incentivo para a realização da Semana de Arte Moderna.
A Semana, na verdade, foi a explosão de idéias inovadoras
que aboliam por completo a perfeição estética tão apreciada no
século XIX. Os artistas brasileiros buscavam uma identidade própria
e a liberdade de expressão; com este propósito, experimentavam
diferentes caminhos sem definir nenhum padrão. Isto culminou com
a incompreensão e com a completa insatisfação de todos que foram
assistir a este novo movimento. Logo na abertura, Manuel Bandeira,
ao recitar seu poema Os sapos, foi desaprovado pela plateia
através de muitas vaias e gritos.
Embora tenha sido alvo de muitas críticas, a Semana de
Arte Moderna só foi adquirir sua real importância ao inserir suas
idéias ao longo do tempo. O movimento modernista continuou a
expandir-se por divulgações através da Revista Antropofágica e
da Revista Klaxon, e também pelos seguintes movimentos:
Movimento Pau-Brasil, Grupo da Anta, Verde-Amarelismo e pelo
Movimento Antropofágico.
Todo novo movimento artístico é uma ruptura com os
padrões utilizados pelo anterior, isto vale para todas as formas de
expressões, sejam elas através da pintura, literatura, escultura,
poesia, etc. Ocorre que nem sempre o novo é bem aceito, isto foi
bastante evidente no caso do Modernismo, que, a principio, chocou
por fugir completamente da estética europeia tradicional que
influenciava os artistas brasileiros.
117
UESPI/NEAD Letras Espanhol
A seguir, apresentamos a primeira fase modernista,
destacando apenas os autores mais representativos.
4.5 A PRIMEIRA FASE MODERNISTA (1922 a 1930)
OSWALD DE ANDRADE
Biografia, obras e estilo literário
Um dos principais literatos do modernismo no Brasil, José
Oswald de Sousa Andrade, nasceu em São Paulo, no ano de 1890,
e viveu até 1954, quando faleceu.
Em 1916, deu início ao livro Memórias Sentimentais de
João de Miramar. Em 1917, conheceu Mario de Andrade e a partir
de então, passaram a trabalhar juntos iniciando movimentos que
visavam à Semana de Arte Moderna, que ocorreu em 1922.
Ainda no ano de 1922, o escritor modernista Oswald de
Andrade escreveu o romance Trilogia do Exílio. A partir de então,
escreveu outras obras: Estrela de Absinto, A Escada Vermelha,
Primeiro Caderno do Aluno de Poesia etc.
No ano de 1924, Oswald lançou, na Europa, o movimento
nativista Pau-Brasil. Para dar continuidade a este movimento, ele
fundou, em 1927, a Revista de Antropologia com seu Manifesto
Antropofágico.
Fonte: <http://www.suapesquisa.com/biografias/oswalddeandrade>
118
Literatura Brasileira II
Com A Crise da Filosofia Messiânica, ele passou a ser
livre docente de Literatura Brasileira na Universidade de São Paulo.
Além dos livros escritos por ele, Oswald de Andrade foi o precursor
de perspectivas totalmente inexploradas pelo teatro brasileiro.
PRINCIPAIS OBRAS:
Romances
Os Condenados (1922), Memórias Sentimentais de João
Miramar (1924), Estrela de Absinto (1927), Serafim Ponte Grande
(1933), A Escada Vermelha (1934), Os Condenados (l941) - reunindo
os livros de 1922,1927 e 1934, constituindo a Trilogia do Exílio, Marco
Zero I - Revolução Melancólica (1943), Marco Zero II - Chão (1946).
Poesia
Pau-Brasil (1925), Primeiro Caderno de Poesia do Aluno
Oswald de Andrade (1927), Poesias Reunidas (1945).
Teatro
O Homem e o Cavalo (1943), Teatro (A Morta e O Rei da
Vela (1937).
Ensaio
Ponta de Lança (1945?), A Arcádia e a Inconfidência (1945),
A Crise da Filosofia Messiânica (1950), A Marcha das Utopias
(1966).
119
UESPI/NEAD Letras Espanhol
Memórias
Um Homem sem Profissão (1954).
Os Romances da Destruição
De acordo com Gonzaga (2002), Oswald de Andrade foi o
criador e principal divulgador da orientação Primitivista, com o Pau-
Brasil e com a Antropofagia; escreveu os textos mais corrosivos
da estética modernista. Com efeito, os seus dois romances
desobedecem aos padrões tradicionais da narrativa, diluindo a
separação entre os gêneros. A título de exemplo, citamos Memórias
sentimentais de João Miramar, no qual não distinguimos a prosa
da poesia. Essa mesma observação vale para Serafim Ponte
Grande.
Apresenta uma fragmentação total que implica uma ruptura
com o narrativo e com o descritivo. São capítulos relâmpagos que
formam uma colagem com outros capítulos, igualmente curto, numa
condensação telegráfica.O clima é de inversão permanente.
Mário de Andrade
http://www.suapesquisa.com/biografias/mariodeandrade/
120
Literatura Brasileira II
Mario de Andrade é natural de São Paulo, nasceu no ano
de 1893. Foi professor, crítico, poeta, contista, romancista e músico,
formou-se pelo Conservatório Dramático e Musical de São Paulo,
ministrou aulas neste mesmo local posteriormente. Participou da
Semana de Arte Moderna, no Teatro Municipal de São Paulo.
Durante sua trajetória acadêmica Mário de Andrade fundou
a Sociedade de Etnografia e Folclore e exerceu também vários
cargos públicos, entre estes, foi diretor do Departamento Municipal
de Cultura de São Paulo.
Mário de Andrade teve várias ocupações, este artista
modernista sempre tinha tempo para ajudar os escritores que ainda
não eram conhecidos pela crítica acadêmica. Durante sua vida lutou
pela arte com seu estilo de escrita requintado e verdadeiro. Seguro
de que a inteligência brasileira necessitava de atualização, este
escritor modernista nunca abandonou suas maiores virtudes: a
consciência artística e a dignidade intelectual.
Escreveu os versos de Paulicéia Desvairada considerada
o marco inicial da poesia modernista no Brasil. Uma outra obra
deste autor foi aceita por sua contribuição ao movimento
modernista. Essa obra tem como título Macunaíma, romance onde
é focalizado um heroi que tem as qualidades e defeitos de um
brasileiro comum.
Suas obras são:
Poesia
Há uma Gota de Sangue em Cada Poema (1917),
Paulicéia Desvairada (1922), Losango Cáqui (1926), Clã do Jabuti
121
UESPI/NEAD Letras Espanhol
(1927), Remate de Males (1930), Poesias (1941), Lira Paulistana
(1946), O Carro da Miséria (1946), Poesias Completas (1955).
Romance
Amar, Verbo Intransitivo (1927), Macunaíma (1928).
Contos
Primeiro Andar (1926), Belasarte (1934), Contos Novos
(1947).
Crônicas
Os filhos da Candinha (1943).
Ensaios
A Escrava que não é Isaura (1925), O Aleijadinho de Álvares
de Azevedo (1935), O Movimento Modernista (1942), O Baile das
Quatro Artes (1943), O Empalhador de Passarinhos (1944), O
Banquete (1978).
A Poesia
Conforme Gonzaga (2002, p.178), se Há uma gota de
sangue em cada poema, Poesias completas, 1972, escrito em
1917, sob a influência da I Guerra, é um livro adolescente, sem
qualquer valor estético, a publicação, em 1922, de Pauliceia
desvairada implica o surgimento de um poeta adulto, e muito jovem
122
Literatura Brasileira II
cronologicamente. Um poeta incapaz de teorizar sobre sua própria
poesia sobre as tendências modernistas do novo lirismo. No
prefácio de Paulicéia desvairada ele afirma:
“Quando sinto a impulsão lírica, escrevo sem pensar tudo
o que meu inconsciente me grita. Penso depois: não só para corrigir,
como para justificar o que escrevi. Daí a razão desse Prefácio
Interessantíssimo”.
Assim, percebemos, na elaboração lírica de Mário de
Andrade, uma espécie de a fórmula:
LIRISMO + ARTE = POESIA
Ou seja, o poeta parte de fleches de subconsciente e os
reelabora através de uma adequada técnica rítmica e semântica.
Portanto, não tematiza a máquina pela máquina, a exemplo
de Marinetti, embora percebamos que, em Paulicéia desvairada,
há os indícios da modernidade estejam presentes.
Em outros poemas, ele ironiza e destroi as cidades e seus
habitantes:
Ode ao burguês
Mário de Andrade
Eu insulto o burguês! O burguês-níquel
o burguês-burguês!
A digestão bem-feita de São Paulo!
O homem-curva! O homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!
Eu insulto as aristocracias cautelosas!
123
UESPI/NEAD Letras Espanhol
Os barões lampiões! Os condes Joões! Os duques zurros!
Que vivem dentro de muros sem pulos,
e gemem sangue de alguns mil-réis fracos
para dizerem que as filhas da senhora falam o francês
e tocam os “Printemps” com as unhas!
Eu insulto o burguês-funesto!
O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições!
Fora os que algarismam os amanhãs!
Olha a vida dos nossos setembros!
Fará Sol? Choverá? Arlequinal!
Mas à chuva dos rosais
o êxtase fará sempre Sol!
Morte à gordura!
Morte às adiposidades cerebrais!
Morte ao burguês-mensal!
Ao burguês-cinema! Ao burguês-tiburi!
Padaria Suíssa! Morte viva ao Adriano!
”— Ai, filha, que te darei pelos teus anos?
— Um colar... — Conto e quinhentos!!!
Más nós morremos de fome!”
Come! Come-te a ti mesmo, oh! gelatina pasma!
Oh! purée de batatas morais!
Oh! cabelos nas ventas! Oh! carecas!
Ódio aos temperamentos regulares!
Ódio aos relógios musculares! Morte à infâmia!
Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados
Ódio aos sem desfalecimentos nem arrependimentos,
sempiternamente as mesmices convencionais!
124
Literatura Brasileira II
De mãos nas costas! Marco eu o compasso! Eia!
Dois a dois! Primeira posição! Marcha!
Todos para a Central do meu rancor inebriante!
Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio!
Morte ao burguês de giolhos,
cheirando religião e que não crê em Deus!
Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico!
Ódio fundamento, sem perdão!
Fora! Fu! Fora o bom burguês!...
Fonte: <http://www.revista.agulha.nom.br/and.html#ode Acesso em.28.03.2010.>
A Ficção
Sua ficção gira em torno de núcleos: o universo familiar da
burguesia paulista e o primitivismo de fundo folclórico e o popular.
Ao primeiro tipo de narrativa – mais próximo da vida do
autor - pertencem Amar, verbo intransitivo e Contos novos. O
primeiro aborda um caso de amor entre o adolescente de família
tradicional com preceptora encarregada de realizar sua educação
sentimental. Essas governantas eram contratadas para evitar que
os rapazes se iniciassem com as prostitutas e contraíssem doença.
No romance dá tudo trocado. O texto naufraga num psicologismo
duvidoso e nas intervenções contínuas e nem sempre oportunas
ao narrador.
O segundo (Contos novos) é mais eficiente como literatura.
Há, no livro, o conto O peru de natal, entre outros, que merecem ser
lido pela inovação no plano da escrita literária e pela temática
ugerida quanto ao aspecto erótico e psicanalítico.
125
UESPI/NEAD Letras Espanhol
O Herói sem nenhum caráter
Macunaíma representa a identificação de Mário com a
questão nacional primitivista. Desde o começo do romance apela
para o suporte mitológico: a lenda indígena de Macunaíma
transfigurada pelo escritor:
No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói da
nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um
momento em que silêncio foi tão grande escutando o murmurejo
do Uraricoera, que a índia tapanhumas pariu uma criança feia. Essa
criança é que chamaram de Macunaíma.
Já na meninice fez coisas de sarapantar. De primeiro passou
mais de seis anos não falando. Si o incitavam a falar exclamava:
- Ai que preguiça!...
e não dizia mais nada. Ficava no canto da maloca, trepado
no jirau de paxiúba, espiando o trabalho dos outros e principalmente
os dois manos que tinha, Maanape já velhinho e Jiguê na força do
homem. O divertimento dele era decepar cabeça de saúva. Vivia
deitado mas si punha os olhos em dinheiro, Macunaíma dandava
pra ganhar vintém. E também espertava quando a família ia tomar
banho no rio, todos juntos e nus. Passava o tempo do banho dando
mergulho, e as mulheres soltavam gritos gozados por causa dos
guaiamuns diz-que habitando a água-doce por lá. No mucambo si
alguns cunhatã se aproximava dele pra fazer festinha, Macunaíma
punha a mão nas graças dela, cunhatã se afstava. Nos machos
guspia na cara. Porém respeitava os velhos e freqüentava com
aplicação a murua a poracê o torê o bacorocô a cucuicogue, todas
essas danças religiosas da tribo.ANDRADE,Mário.Macunaima,Oheroi sem nenhum caráter In: http://www.jayrus.art .br /Apost i las/Li teraturaBrasi le i ra/Modernismo22/Mario_de_AndradeMacunaima_resumo2.htm.
126
Literatura Brasileira II
O esforço de Mário foi ao intuito de configurar o herói de
nossa gente. As andanças de Macunaíma da selva à cidade, a
própria origem étnica delimita o caráter do brasileiro. Os traços
definidos do romance para a irreverência, o deboche e uma
sensualidade forte como elementos estruturadores da vida de
Macunaíma.
Manuel Bandeira (1886-1968)
É uma das figuras mais importantes da poesia brasileira e um dos
iniciadores do Modernismo. Do penumbrismo pós-simbolista de A
Cinza das Horas às experiências concretas da década de 60 de
Composições e Ponteios, a poesia de Bandeira destaca-se pela
consciência técnica com que manipulou o verso livre. Participa
indiretamente da SAM, quando Ronald de Carvalho declama seu
poema Sapos.
Sempre pensando que morreria cedo (tuberculoso), acabou vivendo
muito e marcando a literatura brasileira. Morte e infância são as
molas propulsoras de sua obra. Ironizava o desânimo provocado
pela doença, mas em Cinza das Horas apresenta melancolia e
sofrimento por causa da “dama branca”. Além de ser um poeta
fabuloso, também foi ensaísta, cronista e tradutor. O próprio autor
define sua poesia como a do “gosto humilde da tristeza”.
Pneumotórax
Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
127
UESPI/NEAD Letras Espanhol
Mandou chamar o médico:
— Diga trinta e três.
— Trinta e três . . . trinta e três . . . trinta e três . . .
— Respire.
...............................................................................................................
— O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão
direito infiltrado.
— Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
— Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.Fonte: <http://www.revista.agulha.nom.br/manuelbandeira02.html#pneumotorax>
Ritmo Absoluto e Libertinagem são frutos de um processo
de integração com o Rio. Sua poesia contagia-se de uma visão
erótico-sentimental, resultante da forma de encarar o amor a partir
da experiência do corpo. Libertinagem usa lirismo solto, repleto
de cenas do cotidiano. Em Estrela da Manhã, atinge a plenitude
de seu lirismo libertário, mostrando que tudo pode ser matéria
poética: um clássico esquecido, uma frase de criança, uma notícia
de jornal, a casa em que morava e até mesmo uma propaganda
de três sabonetes (Baladas das três mulheres do sabonete Araxá).
Obras principais:
• Poesia:
o A Cinza das Horas (1917)
o Carnaval (1919)
o O Ritmo Dissoluto (1924)
o Libertinagem (1930)
o Estrela da Manhã (1936)
128
Literatura Brasileira II
o Lira dos Cinquent’Anos (1940)
o Belo, Belo (1948)
o Mafuá do Malungo (1948)
o Opus 10 (1952)
o Estrela da Tarde (1963)
o Estrela da Vida Inteira (1966)
• Prosa:
o Crônicas da Província do Brasil (1937)
o Guia de Ouro Preto (1938)
o Noções de História das Literaturas (1940)
o Literatura Hispano-Americana (1949)
o Gonçalves Dias (1952)
o Itinerário de Pasárgada (1954)
o De Poetas e de Poesia (1954)
o Flauta de papel (1957)
o Andorinha, Andorinha (seleção de Carlos Drummond de
Andrade, 1966)
o Colóquio Unilateralmente Sentimental (1968)
4.6 SEGUNDA FASE MODERNISTA NO BRASIL (1930-1945) -
PROSA
Essa fase modernista se caracteriza de forma madura
porque leva em consideração o documento da realidade brasileira
como matéria para a ficção. Os escritores nordestinos merecem
destaque especial, pela denúncia que faz da região pouco
conhecida nos grandes centros. O 1° romance nordestino foi A
Bagaceira, de José Américo de Almeida. Esses romances retratam
129
UESPI/NEAD Letras Espanhol
o surgimento do capitalismo, a exploração das pessoas,
movimentos migratórios, miséria, fome, seca etc. Autores Principais:
Rachel de Queiroz (1910 - )
Cearense, viveu na infância o problema da seca que atingiu
uma propriedade de sua família. Em 1930 (aos 20 anos) publica o
romance O Quinze, que lhe angaria um prêmio e reconhecimento
público. Participa ativamente da política, militando no Partido
Comunista Brasileiro e é presa em 1937, por suas idéias
esquerdistas. A partir de 1940, dedica-se à crônica e ao teatro.
Quebrou uma velha tradição, ao tornar-se (1977) a primeira mulher
a ingressar na Academia Brasileira de Letras.
Sua literatura caracteriza-se, a princípio, pelo caráter
regionalista e sociológico, com enfoque psicológico, que tende a
se valorizar e a aprofundar-se à proporção que sua obra
amadurece. Seu estilo é conciso e descarnado, sua linguagem
fluente, seus diálogos vivos e acessíveis, o que resulta numa
narrativa dinâmica e enxuta.
Em O Quinze e João Miguel há coexistência do social e
psicológico. Caminho de Pedras é o ponto máximo de sua literatura
engajada e de esquerda (mais social e político). As Três Marias
abandona o aspecto social, enfatizando a análise psicológica.
Obras:
• Romances: O Quinze (1930) e João Miguel (1932) - seca;
coronelismo; impulsos passionais / Caminho de Pedras (1937) e
As Três Marias (1939) - literatura engajada, esquerdizante, social
e política, trata ainda da emancipação feminina / O Galo de Ouro
130
Literatura Brasileira II
(folhetim em “O Cruzeiro”) / Memorial de Maria Moura (1992;
surpreende seu público e é adaptado para a televisão)
· Teatro: Lampião (1953), A Beata Maria do Egito (1958, raízes
folclóricas), A Sereia Voadora.
· Crônica: A Donzela e a Moura Torta (1948), Cem Crônicas
Escolhidas (1958), O Brasileiro Perplexo (1963, Histórias e
Crônicas), O Caçador de Tatu (1967)
Literatura Infantil: O Menino Mágico, Andira.
José Lins do Rego (1901 - 1957)
Paraibano, é considerado um dos melhores
representantes da literatura regionalista do Modernismo. Em Recife,
aproximam-se de José Américo de Almeida e Gilberto Freire,
intelectuais responsáveis pela divulgação do modernismo no
nordeste e pela preocupação regionalista. Mais tarde também
conhece Graciliano Ramos, e depois para o Rio de Janeiro, onde
participa ativamente da vida literária. Sua infância no engenho
influenciou fortemente sua obra.
Suas obras Menino de Engenho, Doidinho, Bangüê,
Moleque Ricardo, Usina e Fogo Morto compõem o que se
convencionou chamar de “ciclo da cana de açúcar”. Nestas obras
J. L. Rego narra a gradativa decadência dos engenhos e a
transformação pela qual passam a economia e a sociedade
nordestina. Sua técnica narrativa se mantém nos moldes
tradicionais da literatura realista: linearidade, construção do
personagem baseado na descrição dos caracteres, linguagem
coloquial, registro da vida e dos costumes. O tom memorialista é o
fio condutor de uma literatura que testemunha uma sociedade em
desagregação: a sociedade do engenho patriarcalista,
131
UESPI/NEAD Letras Espanhol
escravocrata. As obras mais representativas desta fase são Menino
de Engenho e Fogo Morto. A primeira é a história de um menino,
órfão de pai e mãe, que é criado no Engenho Santa Rosa, de seu
avô José Paulino, típico representante do latifundiário nordestino.
Há momento de grande emoção na obra, como a descrição da
enchente, o castigo dos escravos, a descoberta da própria
sexualidade.
Fogo Morto é considerada sua melhor obra: dividida em
três partes que se interrelacionam, compõe um quadro social e
humano do Nordeste. Mestre José Amaro, seleiro, orgulhoso de
sua profissão, sofre as pressões do coronel Lula de Holanda, senhor
do Engenho Santa Fé, em decadência econômica. Antônio Silvino,
cangaceiro, é o terror da região e ataca os engenhos. O capitão
Vitorino Carneiro da Cunha, lunático, é uma espécie de místico e
profeta do sertão.
José Lins ainda escreveu: Pedra Bonita e Cangaceiros,
onde continua a traçar um quadro da vida nordestina, aproveitando
agora elementos do folclore e do cordel. Estes romances pertencem
ao “ciclo do cangaço, misticismo e seca”. Além destes, escreveu
também Água-mãe e Eurídice, de ambientação urbana.
Obras:
- Romances: Menino de Engenho (1932), Doidinho (1933),
Bangüê (1934), O Moleque Ricardo (1935), Usina (1936), Pureza
(1937), Pedra Bonita (1938), Riacho Doce (1939), Água-mãe
(1941), Fogo Morto (1943), Eurídice (1947), Cangaceiros (1953).
- Literatura infantil, memórias e crônicas: Histórias da Velha
Totônia (1936), Gordos e Magros (1942), Seres e Coisas (1952),
Meus Verdes Anos (1956).
132
Literatura Brasileira II
Graciliano Ramos (1892-1953)
Alagoano, faz jornalismo e política estreando com Caetés
(1933). Em Maceió conheceu alguns escritores do grupo
regionalista: José Lins, Jorge Amado, Raquel de Queirós. Nessa
época redige S. Bernardo e Angústia.
Envolvendo-se em política, é preso e acusado de comunista,
essas experiências pessoais são retratadas em Memórias do
Cárcere. Em 1945 ingressa no Partido Comunista e empreende uma
viagem aos países socialistas, narrada no livro Viagem.
Luta pela sobrevivência é o ponto de ligação entre seus
personagens, onde a lei maior é a lei da selva. A morte é uma
constante em suas obras como final trágico e irreversível (suicídios
em Caetés e São Bernardo, assassinato em Angústia e as mortes
do papagaio e da cadela Baleia em Vidas Secas).
A crítica propõe uma divisão da obra em 3 partes:
- Romances em 1ª pessoa (Caetés, São Bernardo e Angústia)
- pesquisa da alma humana e retrato e análise da sociedade.
- Romances em 3ª pessoa (Vidas Secas) - enfoca modos
se der e as condições de existência no meio da seca.
- Autobiografias (Infância e Memórias do Cárcere) - coloca-
se como caso humano, como uma necessidade de depor, denuncia.
- Suas personagens são seres oprimidos e moldados pelo
meio. Tanto Paulo Honório (personagem de São Bernardo), quanto
Luís da Silva (de Angústia) são o que se chama de “herói
problemático”, em conflito com o meio e consigo mesmo, em luta
constante para adaptar-se e sobreviver, insatisfeitos e irrealizados.
Linguagem sintética e concisa.
Obras : Caetés (1933), São Bernardo (1934), Angústia
(1936), Vidas Secas (1938), Dois Dedos (1945), Insônia (1947),
133
UESPI/NEAD Letras Espanhol
Infância (1945), Memórias do Cárcere (1953), Histórias de
Alexandre (1944), Viagem (1953), Linhas Tortas (1962)
Dando continuidade ao estudo do Modernismo,
destacaremos a geração de 30.
4.7 A SEGUNDA FASE MODERNISTA-POESIA (1930 a 1945)
Estende-se de 1930 a 1945, sendo um período rico na
produção poética e também na prosa. O universo temático se amplia
e os artistas passam a preocupar-se mais com o destino dos
homens, o estar-no-mundo.
Durante algum certo tempo, a poesia das gerações de 22 e 30
conviveram. Não se trata, portanto, de uma sucessão brusca. A maioria
dos poetas de 30 absorveria parte da experiência de 22: liberdade temática,
gosto da expressão atualizada ou inventiva, verso livre, anti-academicismo.
A poesia prossegue a tarefa de purificação de meios e
formas iniciada antes, ampliando a temática na direção da
inquietação filosófica e religiosa, com Vinícius de Moraes, Jorge
de Lima, Augusto Frederico Schmidt, Murilo Mendes, Carlos
Drummond de Andrade, ao tempo em que a prosa alargava a sua
área de interesse para incluir preocupações novas de ordem
política, social e econômica, humana e espiritual. À piada sucedeu
a gravidade de espírito, a seriedade da alma, propósitos e meios.
Uma geração grave, preocupada com o destino do homem e com
as dores do mundo, pelos quais se considerava responsável, deu
à época uma atividade excepcional.
O humor quase piadístico de Drummond receberia
influencias de Mário e Oswald de Andrade. Vinícius, Cecília, Jorge
de Lima e Murilo Mendes apresentam certo espiritualismo que vinha
do livro de Mário Há uma gota de Sangue em cada Poema (1917).
134
Literatura Brasileira II
A geração de 30 não precisou ser combativa como a de
22. Eles já encontraram uma linguagem poética modernista
estruturada. Passaram então a aprimorá-la e extrair dela novas
variações, numa maior estabilidade.
O Modernismo já estava dinamicamente incorporado às
praticas literárias brasileiras, sendo assim os modernistas de 30 estão
mais voltados ao drama do mundo e ao desconcerto do capitalismo.
Características
• Repensar a historia nacional com humor e ironia - “Em outubro
de 1930 / Nós fizemos — que animação! — / Um pic-nic com
carabinas.” (Festa Familiar - Murilo Mendes)
• • • • • Verso livre e poesia sintética - “Stop. / A vida parou / ou foi o
automóvel?” (Cota Zero, Carlos Drummond de Andrade)
• • • • • Nova postura temática - questionar mais a realidade e a si mesmo
enquanto indivíduo
• • • • • Tentativa de interpretar o estar-no-mundo e seu papel de poeta
• • • • • Literatura mais construtiva e mais politizada.
• • • • • Surge uma corrente mais voltada para o espiritualismo e o
intimismo (Cecília, Murilo Mendes, Jorge de Lima e Vinícius)
• • • • • Aprofundamento das relações do eu com o mundo
• • • • • Consciência da fragilidade do eu - “Tenho apenas duas mãos / e
o sentimento do mundo” (Carlos Drummond de Andrade -
Sentimento do Mundo)
• • • • • Perspectiva única para enfrentar os tempos difíceis é a união, as
soluções coletivas - “O presente é tão grande, ano nos afastemos,
/ Ano nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.” (Carlos
Drummond de Andrade - Mãos dadas)
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UESPI/NEAD Letras Espanhol
Autores Principais – Poesia
Carlos Drummond de Andrade (1902 - 1987)
Mineiro, trabalha lecionando em Itabira e, em 45, trabalha
na diretoria de um jornal comunista. Maior nome da poesia
ontemporânea, registrando a realidade cotidiana e os
contecimentos da época. Ironia fina, lucidez, e calma, traduzidos
uma linguagem flexível, rica, mas rica de dimensões humanas. Suas
poesias refletem os problemas do mundo e do ser humano diante
dos regimes totalitários, da 2a GM e da guerra fria; apresenta uns
momentos de esperança, mas prevalece a descrença diante do
mundo dos acontecimentos. Nega formas de realidade, volta-se
para o presente. A partir de Lição das Coisas (1962), há maior
preocupação maior com objetos, valorizando mais os aspectos
visuais e sonoros - tendência concreto-formalista.
Carlos Drummond de Andrade propõe a divisão temática
de sua obra, numa seleção que faz para sua Antologia Poética:
1. O indivíduo
2. A terra natal
3. A família
4. Os amigos
5. O choque social
6. O conhecimento amoroso7. A própria poesia8. Exercícios lúdicos
9. Uma visão, ou tentativa de, da existência.
136
Literatura Brasileira II
Obras:
Poesia:
Alguma Poesia (1930)
Brejo das Almas (1934)
Sentimento do Mundo (1940)
Poesias (1942)
A Rosa do Povo (1945)
Poesia até agora (1948)
Claro Enigma (1951)
Viola de Bolso (1952)
Fazendeiro do Ar e Poesia até Agora (1953)
Viola de Bolso Novamente Encordoada (1955)
Poemas (1959)
A Vida Passada a Limpo (1959)
Lição de Coisas (1962)
Versiprosa (967)
Boitempo (1968)
Menino Antigo (1973)
As Impurezas do Branco (1973)
Discurso da Primavera e outras Sombras (1978)
Prosa:
Confissões de Minas (ensaios e crônicas, 1944)
Contos de Aprendiz (1951)
Passeios na Ilha (ensaios e crônicas, 1952)
Fala, Amendoeira (1957)a Bolsa e a Vida (crônicas e poemas, 1962)Cadeira de Balanço (crônicas e poemas, 1970)
O Poder Ultrajovem e mais 79 Textos em Prosa e Verso (1972)
137
UESPI/NEAD Letras Espanhol
Cecília Meireles (1901- 1964)
De acordo com Gonzaga (2001) é órfã, carioca, foi criada
pela avó e fez magistério e lecionou Literatura em várias
universidades. Estreia com o livro Espectros (1919), participando
da corrente espiritualista, sob a influência dos poetas que formariam
o grupo da revista Festa (neo-simbolista). Suas principais
características são sensibilidades, forte, intimismo, introspecção,
viagem para dentro de si mesma e consciência da transitoriedade
das coisas (tempo = personagem principal). Para ela, as realidades
não são para se filosofar, são inexplicáveis, basta vivê-las.
Murmúrio
Traze-me um pouco das sombras serenas
que as nuvens transportam por cima do dia!
Um pouco de sombra, apenas,
- vê que nem te peço alegria.
Traze-me um pouco da alvura dos luares
que a noite sustenta no teu coração!
A alvura, apenas, dos ares:
- vê que nem te peço ilusão.
Traze-me um pouco da tua lembrança,
aroma perdido, saudade da flor!
- Vê que nem te digo - esperança!
- Vê que nem sequer sonho - amor!
Fonte: <http://www.revista.agulha.nom.br/ceciliameireles01.html#cancao2/>
138
Literatura Brasileira II
Assim sua obra apresenta uma atmosfera de sonho,
fantasia, em contraste com solidão e padecimento. Linguagem
simbólica, com imagens sugestivas e constantes apelos sensoriais
(metáforas, sinestesias, aliterações e assonâncias).
Obras:
• Poesia : Espectros (1919), Nunca mais... e Poema dos Poemas
(1923), Baladas para EI-rei (1925), Viagem (1939), Vaga Música
(1942), Mar Absoluto (1945), Retrato Natural (1949), Ama em
Leonoreta (1952), Doze Noturnos de Holanda e o Aeronauta (1952)
Romanceiro da Inconfidência (1953), Pequeno Oratório de Santa
Clara (1955) Pistóia, Cemiério Militar Brasileiro (1955) Canções
(1956), Romance de Santa Cecília (1957), A Rosa (1957), Metal
Rosicler (1960), Poemas Escritos na Índia (1962) Antologia Poética
(1963) Solombra (1963), Ou isto ou Aquilo (1965), Crônica Trovada
da Cìdade de San Sebastian (1965) Poemas Italianos (1968)
• Teatro : O Menino Atrasado (1966)
• Ficção : Olhinhos de Gato (s/d)
• Prosa poética : Giroflê, Giroflá (1956), Evocação Lírica de
Lisboa (1948) Eternidade de Israel (1959)
• Crônica : Escolha o seu Sonho (1964) Inéditos (1968)
Leia agora o poema retrato para identificar o projeto
poético da poetisa em estudo.
Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
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UESPI/NEAD Letras Espanhol
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
a minha face?
Fonte: http://www.revista.agulha.nom.br/ceciliameireles01.html#retrato.>
Assim sua obra apresenta uma atmosfera de sonho,
fantasia, em contraste com solidão e padecimento. Linguagem
simbólica, com imagens sugestivas e constantes apelos sensoriais
(metáforas, sinestesias, aliterações e assonâncias).
RÔMULO REMA
Cecília Meirelles
Rômulo rema no rio.
A romã dorme no ramo,
A romã rubra.
(E o céu)
O remo abre o rio
O rio murmura.
A romã rubra dorme
Cheia de rubis.
(E o céu)
140
Literatura Brasileira II
Rômulo rema no rio.
Abre-se a romã
Abre-se a manhã.
Rolam rubis rubros do céu.
No rio,
Rômulo rema.
Fonte: <http://artes.com/sys/sections.php>
4.8 TERCEIRA FASE MODERNISTA NO BRASIL (1945- +/- 1960)
Autores Principais
A literatura brasileira, assim como o cenário sócio-político,
passa por transformações.
A prosa tanto no romance quanto nos contos busca uma
literatura intimista, de sondagem psicológica, introspectiva, com
destaque para Clarice Lispector. Ao mesmo tempo, o regionalismo
adquire uma nova dimensão com Guimarães Rosa e sua recriação
dos costumes e da fala sertaneja, penetrando fundo na psicologia
do jagunço do Brasil central. Um traço característico comum a
Clarice e Guimarães Rosa é a pesquisa da linguagem, por isso
são chamados instrumentalistas. Enquanto Guimarães Rosa
preocupa-se com a manutenção do enredo com o suspense,
Clarice abandona quase que completamente a noção de trama e
detém-se no registro de incidentes do cotidiano ou no mergulho
para dentro dos personagens.
Na poesia, surge uma geração de poetas que se opõem
às conquistas e inovações dos modernistas de 22. A nova proposta
141
UESPI/NEAD Letras Espanhol
foi defendida, inicialmente, pela revista Orfeu (1947). Assim,
negando a liberdade formal, as ironias, as sátiras e outras
“brincadeiras” modernistas, os poetas de 45 buscam uma poesia
mais “equilibrada e séria”. Os modelos voltam a ser os Parnasianos
e Simbolistas. Principais autores (Ledo Ivo, Péricles Eugênio da
Silva Ramos, Geir de Campos e Darcy Damasceno). No fim dos
anos 40, surge um poeta singular, pois não está filiado
esteticamente a nenhuma tendência: João Cabral de Melo Neto.
Guimarães Rosa (1908 - 1967)
Mineiro, formou-se em Medicina e clinicou pelo interior, foi
ministro e pela carreira diplomática esteve em Hamburgo, Bogotá e
Paris. Foi eleito membro da ABL e faleceu 3 dias depois de sua posse.
A obra de G. Rosa é extremamente inovadora e original.
Seu livro, Sagarana (1946), vem colocar uma espécie de marco
divisor na literatura moderna do Brasil: é uma obra que se pode
chamar de renovadora da linguagem literária. Seu experimentalismo
estético, aliando narrativas de cunho regionalista a uma linguagem
inovadora e transfigurada, veio transformar completamente o
panorama da nossa literatura.
O livro Grande Sertão: Veredas (1956), romance narrado
em primeira pessoa por Riobaldo num monólogo ininterrupto onde
o autor e o leitor parecem ser os ouvintes diretos do personagem,
G. Rosa recuperou a tradição regionalista, renovando-a. Há um
clima fantástico na narrativa: Riobaldo conta suas aventuras de
jagunço que quer vingar a morte de seu chefe, Joca Ramiro,
assassinado pelo bando de Hermógenes.
Sua narrativa é entremeada por reflexões metafísicas em
torno dos acontecimentos e dois fatos se repropõem
142
Literatura Brasileira II
constantemente: seu pacto com o Diabo e seu amor por Diadorim
(na verdade, Deodorina, filha de Joca Ramiro, disfarçada de
jagunço). As dúvidas de Riobaldo têm raízes místicas e sua narrativa
torna-se então não mais um documento regionalista, mas uma obra
de caráter universal, que toca em problemas que inquietam todos
os homens: o significado da existência, as dimensões da
realidade. Mas não é só isto que é novo em G. Rosa: sua linguagem
é extremamente requintada.
Recuperando as matrizes arcaicas da língua portuguesa
e fundindo-as com a fala sertaneja, G. Rosa chega a criar um
linguajar mítico, onde o novo e o primitivo perdem as dimensões
tornando-se um linguajar ao mesmo tempo real e irreal, pessoal e
universal. Arcaísmos, neologismos, rupturas, fusões, toda uma
técnica elaboradíssima que torna seu discurso literário ímpar em
toda a nossa literatura.
Grande Sertão: Veredas e as novelas de Corpo de Baile
incluem e revitalizam recursos da expressão poética: células rítmicas,
aliterações, onomatopéias, ousadias mórficas, elipses, cortes e
deslocamentos de sintaxe, vocabulário insólito, arcaico ou neológico,
associações raras, metáforas, anáforas, metonímias, fusão de estilos.
Obras : Sagarana (1946), Corpo de Baile (depois
desdobrado em Manuelzão e Miguilim, No Urubuquaquá no Pinhém,
Noites do Sertão, 1956), Grande Sertão: Veredas (1956),
Primeiras Estórias (1962), Tutaméia - Terceiras Estórias (1967):
Estas Estórias (1969), Ave, Palavra (1970).
Clarice Lispector (1925 - 1977)
Ucraniana, veio com meses para o Brasil - por isso, sentia
se “brasileira”. Tem por formação Direito. Em 1944 forma-se e
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UESPI/NEAD Letras Espanhol
publica o livro que escreveu durante o curso - Perto do Coração
Selvagem surpreendendo a crítica e agradando ao público.
Casa-se com um diplomata, afastando-se do Brasil durante
longos períodos, mas sem interromper a produção artística.
Principal nome da poesia intimista da moderna literatura
brasileira, questionamento do ser, “estar-no-mundo”, a pesquisa
do ser humano, resultando no romance introspectivo.
Características de sua produção literária:
• Sondagem dos mecanismos mais profundos da mente
humana;
• Técnica “impressionista” de apreensão dessa realidade
interior (predominância de impressões, de sensações);
• Ruptura com a seqüência linear da narrativa;
• Predomínio do tempo psicológico e, portanto, subversão
do tempo cronológico;
• Características físicas das personagens diluem-se: muitas
nem nome apresentam;
• As ações passam a ter importância secundária, servindo
principalmente como ilustração de características psicológicas das
personagens (introspecção psicológica);
• Introdução da técnica do fluxo da consciência - quebra os
limites espaço-temporais e o conceito de verossimilhança, fundindo
presente e passado, realidade e desejo na mente dos personagens,
cruzando vários eixos e planos narrativos sem ordem ou lógica
aparente;
• Presença da epifania (“revelação”): aparentemente
equilibradas e bem ajustadas, subitamente as personagens sentem
um estranhamento frente a um fato banal da realidade. Nesse
momento, mergulham num fluxo de consciência, do qual emergem
sentindo-se diferentes em relação a si mesmas e ao mundo que
as rodeia; esse desequilíbrio momentâneo por certo mudará sua vida
definitivamente;
• Suas principais personagens são mulheres, mas não se limitam
ao espaço do ambiente familiar: Clarice visa a atingir valores essenciais
humanos e universais tais como a falsidade das relações humanas, o
jogo das aparências, o esvaziamento do mundo familiar, as carências
afetivas e as inseguranças delas decorrentes, a alienação, a condição
da mulher, a coexistência dos contrastes, das ambigüidades, das
contradições do ser, num processo meio “barroco”;
• Fusão de prosa e poesia, com emprego de figuras de
linguagem: metáforas, antíteses (eu x não-eu, ser x não ser), paradoxos,
símbolos e alegorias, aliterações e sinestesias;
• Uso de metalinguagem - “Algumas pessoas cosem para fora;
eu coso para dentro”- em associação com os processos intimistas e
psicológicos, político-sociais, filosóficos e existenciais (A Hora da Estrela,
1977). “Depois que descobri em mim mesma como é que se pensa,
nunca mais pude acreditar no pensamento dos outros”.
Obras:
Romances : Perto do Coração Selvagem (1944); O Lustre (1946); A
Cidade Sitiada (1949); A Maçã no Escuro (1961); A Paixão segundo G.
H. (1964); Uma Aprendizagem ou Livro dos Prazeres (1969); Água Viva
(1973); A Hora da Estrela (1977).
Contos : Alguns Contos (1952); Laços de Família (1960); A Legião
Estrangeira (1964); Felicidade Clandestina (1971), Imitação da Rosa
(1973), A Via - Crucis do Corpo (1974); A Bela e a Fera (1979).
Entrevista : De Corpo Inteiro
Literatura infantil : Mistério do Coelhinho Pensante (1967); A Mulher
que Matou os Peixes (1969); A Vida Íntima de Laura (1974), Quase de
Verdade.
145
UESPI/NEAD Letras Espanhol
‘’ (...) No momento em que a tia foi pagar a compra, Joana tirou
o livro e meteu cuidadosamente entre os outros, embaixo do braço.
A tia empalideceu. Na rua a mulher buscou as palavras com
cuidado: — Joana... Joana, eu vi.”
Fonte: <http://www.graudez.com.br/literatura/modernismo.html>
João Cabral de Melo Neto (1920 -1999)
Pernambucano, passa a infância em engenhos de açúcar
em contato com a terra e o povo (o que despertou seu interesse
pelo folclore nordestino e pela literatura de cordel), com a palavra
escrita (livros e jornais, desde os dois anos de idade) e a parentela
ilustre e culta (primo de Manuel Bandeira e Gilberto Freire). É eleito
por unanimidade para a ABL (1969).
Estreou em 1942 com Pedra do Sono de forte influência
de Carlos Drummond de Andrade e Murilo Mendes. Ao publicar O
Engenheiro, em 1945, traça os rumos definitivos de sua obra. Em
1956, escreve o poema dramático Morte e Vida Severina, que,
encenado em 1966, com músicas de Chico Buarque, consagra-o
definitivamente.
Só pertenceria à Geração de 45 se levado em conta o
critério cronológico; pois esteticamente afasta-se da proposta do
grupo.
Características de sua produção literária: no início da
carreira, apresenta uma tendência à objetividade, convivendo com
imagens surrealistas e oníricas (relativas aos sonhos): aos poucos,
afasta-se da influência surrealista e aprofundam a tendência à
substantivação, à economia da linguagem, submetendo as palavras
a um processo crescente de depuração, com uso de metáforas,
personificações, alegorias e metonímias (a pedra; a faca; o cão);
146
Literatura Brasileira II
a partir de 1945, influenciado por uma concepção arquitetônica,
procede à geometrização do poema, aproximando a arte do Poeta
à do Engenheiro; a preocupação com o descarnamento, com a
confecção da poesia dessacralizada, afastada cada vez mais do
subjetivismo e da introspecção, leva-o à elaboração do poema
objeto.
Nele, o fruir poético atinge-se através da lógica do
raciocínio, da razão, eliminando-se emoções superficiais (ruptura
total com o sentimentalismo); o Poeta questiona o próprio ato de
escrever e a função da poesia; na década de 50, surge e amadurece
a preocupação política e principalmente a denúncia social do
Nordeste e sua gente: os “severinos” retirantes, as tradições e o
folclore regional, a herança medieval, a estrutura agraria canavieira,
injusta e desigual... Aparece ainda a paisagem da Espanha, que
apresenta pontos em comum com o cenário nordestino. Continua
viva e atuante a reflexão sobre a Arte em suas várias manifestações,
desde a pintura (Miró, Picasso, Vicente do Rego Monteiro), a
literatura (Paul Valéry, Cesário Verde, Augusto dos Anjos, Graciliano
Ramos, Drummond), passando pelo futebol e fechando com a sua
própria maneira de poetar: “Sempre evitei falar de mim, falar-me.
Quis falar de coisas. Mas na seleção dessas coisas não haverá
um falar de mim?” (Morte e Vida Severina - Auto de Natal
Pernambucano).
Morte e Vida Severina, obra mais popular de João Cabral,
é um auto de Natal do folclore pernambucano. Sua linha narrativa
segue dois movimentos que aparecem no título: “morte” e “vida”.
No primeiro movimento, há o trajeto de Severino, personagem-
protagonista, que segue do sertão para Recife, em face da
opressão econômico-social. Severino tem a força coletiva de um
personagem típico: representa o retirante nordestino. No segundo
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UESPI/NEAD Letras Espanhol
movimento, o da “vida”, o autor chama a atenção para a confiança
no homem e em sua capacidade de resolver problemas.
Obras:
Prosa : Considerações sobre a Poeta Dormindo (1941); Juan Miró
(1950)
Poesia : Pedra do Sono (1942); Engenheiro (1945); Psicologia da
Composição (1947); O cão sem Plumas (1950); Rio (1954);
Poemas reunidos (os livros anteriores mais Os Três Mal-Amados,
1954); Duas Águas (os livros anteriores mais Morte e Vida
Severina, Paisagens com figuras e Uma Faca só Lâmina, 1956);
Quaderna (1960); Dois Parlamentos (1961); Terceira Feira (os dois
livros anteriores mais Serial, 1961); A Educação pela Pedra (1966),
Poesias Completas (1968); Museu de Tudo (1975); Escola das
Facas (1987); Auto do Frade (1984); Agrestes (1985); Crime na
Calle Relator (1987); Sevilha Andando (1987-1993).
Vejamos um fragmento da Perto do Coração
selvagem
(...) No momento em que a tia foi pagar a compra, Joana
tirou o livro e meteu cuidadosamente entre os outros, embaixo do
braço. A tia empalideceu. Na rua a mulher buscou as palavras
com cuidado: — Joana... Joana, eu vi...
Joana lançou-lhe um olhar rápido. Continuou silenciosa: — Mas
você não diz nada? — não se conteve a tia, a voz chorosa. —
Meu Deus, mas o que vai ser de você? — Não sé assuste, tia.
— Mas uma menina ainda... Você sabe o que fez? — Sei...
— Sabe... Sabe a palavra...?
— Eu roubei o livro, não é isso?
148
Literatura Brasileira II
— Mas, Deus me valha! Eu já nem sei o que faço, pois ela ainda
confessa!
— A senhora me obrigou a confessar.
— Você acha que se pode... que se pode roubar? — Bem...
talvez não.— Por que então...? — Eu posso.— Você?! — gritou a tia. — Sim, roubei porque. quis. Só roubarei quando quiser. Não fazmal nenhum. — Deus me ajude quando faz mal Joana? — Quando a gente rouba e tem medo. Eu não estou contentenem triste.
(LISPECTOR,Clarice.In: http://enemnota100.blogspot.com/2007/08/
perto-do-corao-selvagem-fragmento.html )
ATIVIDADE
1-Caracterize a poesia modernista.
2- Em que os movimentos de Vanguarda influenciaram nossa
literatura modernista?
3- Discuta com sua turma sobre as propostas da Semana de Arte
Moderna.
4- Caracterize os movimentos primitivos
5- Qual é o projeto ideológico da geração e 22 a 30?
6- Caracterize a ficção modernista.
7- Analise o poema Retrato de Cecília Meirelles sob existencialista.
Para isso, leia sobre o existencialismo para responder essa
questão.
8- Qual é atemática da segunda geração modernista?
9- Leia o conto O amor de Clarice Lispector e analise a narrativa 60.
149
UESPI/NEAD Letras Espanhol
REFERÊNCIAS
ABDALA JÚNIOR, Benjamin; CAMPEDELLI, Samira Youssef.Tempos da literatura brasileira . São Paulo: Círculo do Livro S.A.,1990
ASSIS, Machado. Várias histórias . São Paulo: Martin Claret, 2002
BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. São
Paulo: Cultrix, 2008.
CARRER, Aline. Rio de Assis: imagens machadianas do Riode Janeiro . Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 1999.
CANDIDO, Antonio. O romantismo no Brasil. São Paulo:Humanitas/FFLCH/SP, 2004.
COUTINHO, Afrânio. A Literatura no Brasil. 5. ed.rev. e atual. SãoPaulo: Global, 1999. vol.3 e vol.5
GONZAGA, Sergius. Manual de Literatura Brasileira . ed. rev.Ampl. Porto Alegre: Mercado Aberto, 2001. 272 p.
MOISÉS, Massaud. História da Literatura Brasileira. vl. II.Realismo e Simbolismo. São Paulo: Cultrix, 2001.
PROENÇA, Filho. Estilos de Época na Literatura . 9. ed. SãoPaulo: Ática, 1985.
SODRÉ, Nélson Werneck. O Naturalismo no Brasil . BeloHorizonte: Oficina do Livro, 1992
150
Literatura Brasileira II
Fichamento do Livro
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AUTORAS DO LIVRO
MARIA SUELY DE OLIVEIRA LOPESPossui graduação em Letras Português pela UniversidadeEstadual do Piauí (1991) e mestrado em Letras pela UniversidadeFederal de Pernambuco (2002). Atualmente é professora doInstituto de ensino supeior múltiplo e professor asistente i daUniversidade Estadual do Piauí. Tem experiência na área deLetras, com ênfase em Literatura Brasileira, atuandoprincipalmente nos seguintes temas: literatura e gênero, literatura
brasileira, crítica, teoria literária, crítica literária, teoria literária e literatura popular.
SILVANA MARIA PANTOJA DOS SANTOSDoutoranda em Teoria da Literatura pela Universidade Federalde Pernambuco - UFPE. Mestra em Letras pela UniversidadeFederal de Pernambuco - UFPE (2002), com área deconcentração em Teoria da Literatura. Graduada em Letraspela Universidade Estadual do Maranhão - UEMA(1997).Atualmente é professor titular da Universidade Estadual doPiauí - UESPI desde 2003, ministrando disciplinas de Teoria
Literária, Literatura Portuguesa e Brasileira. Pesquisadora integrante dos gruposINTERLIT da referida universidade na linha Literatura e Memória. Professoracolaboradora da Universidade Estadual do Maranhão - UEMA desde 2004,ministrando disciplinas de Literatura Portuguesa e Brasileira. Professora deLíngua Portuguesa de cursos da Faculdade Santo Agostinho - FSA.
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AVALIAÇÃO DO LIVRO
Prezado(a) cursista:
Visando melhorar a qualidade do material didático, gostaríamos querespondesse aos questionamentos abaixo, com presteza e discernimento.Após, entregue a seu tutor. Não sendo necessário assinar
Unidade:____________ Município: _________________
Disciplina:___________ Data: ____________________
1. No que se refere a este material, à qualidade gráfica está visualmente
clara e atraente
( ) ÓTIMO ( ) BOM ( ) RAZOÁVEL ( ) RUIM
2. Quanto ao conteúdo, está coerente, contextualizado à sua prática de
estudos
( ) ÓTIMO ( ) BOM ( ) RAZOÁVEL ( ) RUIM
3. Quanto às atividades do material, estão relacionadas aos conteúdos
estudados, e compreensíveis para possíveis respostas.
( ) ÓTIMO ( ) BOM ( ) RAZOÁVEL ( ) RUIM
4. Coloque abaixo suas sugestões para melhorar a qualidade deste e de
outros materiais.
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