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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA DEPARTAMENTO DE ECONOMIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO MACROECONÔMICO
PROFESSOR DR. : JOSÉ LUIS OREIRO
ALUNO: Allan Silveira dos Santos
Primeira Lista de Questões para Discussão
1° Questão: No capítulo 2 da Teoria Geral, Keynes aceita o primeiro postulado da teoria
clássica do emprego, mas rejeita o segundo. Ao expor as razões pelas quais ele rejeita o
segundo postulado, Keynes apresenta dois argumentos, um que ele chama de
“teoricamente não-fundamental” e o segundo que ele denomina de “teoricamente
fundamental”. Apresente detalhadamente ambos os argumentos, mostrando de que
forma a validade dos mesmos permite o surgimento de desemprego involuntário da força
de trabalho.
Keynes afirmou que a abordagem clássica do mercado de trabalho está baseada
em dois postulados fundamentais. O primeiro é que “o salário é igual ao produto
marginal do trabalho”, e este postulado é usado para que se obtenha a curva de demanda
do trabalho. O segundo postulado apresentado é que em situações em que o salário real
diverge do salário de equilíbrio, a negociação entre trabalhadores e firmas, faz com que
os salários reais voltem ao seu nível de equilíbrio, sendo ofertada apenas a quantidade
de trabalho condizente com o nível de salários reais vigentes.
A primeira parte deste segundo postulado, o qual especifica a relação causal
entre a quantidade de trabalho disponível para ocupação e a taxa de salário real para o
trabalho foi aceito por Keynes e usado na sua definição de pleno emprego. Mas Keynes
rejeita a segunda parte (e então a composição do postulado como um todo), pois ele não
permite a existência do “desemprego involuntário” que Keynes apresentou como o
maior problema das economias capitalistas dos anos 1930s. Ele disse que desemprego
involuntário existe quando a oferta agregada de trabalho na economia é maior que o
volume corrente empregado, mesmo mediante uma ligeira redução nos salários reais.
Para os clássicos, algum desemprego que existisse deveria ser friccional, que é
devido ao lag de tempo dos indivíduos que estão procurando e saindo de empregos
anteriores para novos empregos, ou voluntário, devido à falta de vontade dos indivíduos
em aceitar as menores taxas de salário real as quais eleas poderiam encontrar trabalho.
É através de suas negociações nos salários nominais que os trabalhadores tentam
proteger as suas posições relativas. Em outras palavras, a luta sobre salário nominal
afeta principalmente a distribuição do salário real agregado entre os diferentes grupos de
trabalho. Isso não significa que as taxas de salário nominal não podem ser reduzidas
quando há uma quantidade considerável de desemprego ou quando determinadas
indústrias estão em situação económica difícil. Elas foram reduzidas durante a Grande
Depressão, enquanto Teoria Geral estava sendo escrita, mas apenas que as tentativas de
reduzi-las pode ser muito prejudicial para as relações de trabalho.
Para Keynes, os reajustes de salários nominais que ocorrem como resultado do
desemprego não pode mover a economia para o pleno emprego. Seria necessária uma
compensação na demanda agregada a fim de que a economia voltasse às condições de
pleno emprego.
Nesse caso, a visão a qual Keynes entende o equilíbrio do mercado de trabalho é
substancialmente diferente da visão clássica. Para Keynes, a um determinado nível de
salário real, a "oferta agregada de mão de obra disposta a trabalhar para aos salários
atuais pode ser maior do que o volume existente de emprego”.
Por todo o exposto, percebemos haver uma relação fundamental entre a rejeição
do segundo postulado apresentado pelos clássicos (de que as negociações entre
trabalhadores e firmas levariam ao salário real de equilíbrio e ao pleno emprego) e a
existência do desemprego involuntário o qual, para Keynes, é resultado de desequilíbios
no mercado de bens, dadas as curvas de oferta e demanda de trabalho, e não o resultado
imediato da rigidez de preços ou da ilusão monetária dos trabalhadores.
2° Questão: Uma crítica comum dos autores neo-ricardianos a teoria keynesiana é que a
mesma permitiu que a “lei de Say” retornasse a cena “pela porta dos fundos” devido ao
conceito de eficiência marginal do capital. Isso porque tal conceito re-estabeleceu a
existência de uma relação inversa entre a quantidade demandada do fator de produção
capital e a taxa de juros, condição sine qua non para a tendência ao pleno-emprego no
sistema neoclássico. Você concorda com essa crítica? Mais especificamente, você
concorda que o conceito de eficiência marginal do capital é equivalente ao conceito de
produtividade marginal do capital? Se não, quais os fundamentos microeconômicos para
a existência de uma relação inversa entre o volume de investimento e a taxa de juros na
Teoria Geral de Keynes? Qual o papel que a intensidade de fatores (entendido como a
relação K/L) desempenha para esse resultado?
Ora, não é correto tratar como sinônimos o conceito de eficiência marginal do
capital e o conceito de produtividade marginal do capital. A eficiência marginal do
capital é caracterizada como a taxa de desconto que equaliza o fluxo de caixa que se
espera obter com a compra de um bem de capital em comparação com o preço de oferta
do mesmo.
Quanto a produtividade marginal do capital, esta não está associada a
expectativas de fluxos monetários futuros e sim a quantidade física de produto adicional
que dado equipamento pode gerar. Além disso, a produtividade marginal do capital, ao
contrário da eficiência marginal do capital, não está sujeita a incerteza. Ainda
comparando-se os dois conceitos acima, perceba que enquanto a produtividade marginal
do capital não está sujeito a alterações nas taxas de juros, a eficiência marginal do
capital, que pode ser comparada a taxa interna de retorno do equipamento, é fortemente
influenciada pelas alterações nas taxas de juros o que implica que ela não pode ser
considerada como uma variável puramente real. Estas diferenças são primordiais para
que fique claro que os dois conceitos expostos acima são distintos e que a crítica dos
autores neo-ricardianos não é, de modo algum, procedente.
Quanto aos fundamentos microeconômicos que fundamentam a existência de
uma relação inversa entre o volume de investimento e a taxa de juros, Keynes, na Toeria
Geral, explica que a elevação do investimento, aumenta o estoque de capital, que faz
com haja uma redução da escassez do capital, esse fator, por sua vez, diminui o fluxo de
quase-rendas esperadas dos bens de capital recentemente produzidos.
Além disso, a elevação do investimento, ao ampliar a quantidade produzida dos
bens de capital, eleva o preço de oferta desses bens, e isso ocorre devido aos
rendimentos marginais decrescentes na indústria produtora de bens de capital.
A partir da análise dos dois argumentos acima, perceba que quanto maior a
intensidade de fatores (K/L) menor será a eficiência marginal do capital, pois um maior
coeficiente (K/L) contribui com a redução dos fluxos de quase-renda dos bens de capital
e faz com que haja um aumento do preço de oferta dos bens de capital.
3° Questão: Uma proposição comum na teoria pós-keynesiana é que a posição final de
equilíbrio do sistema econômico é dependente da trajetória que a economia descreveu ao
longo do tempo. Utilizando os conceitos de equilíbrio estático, equilíbrio estacionário e
equilíbrio movente desenvolvido por Kregel (1976) mostre como o equilíbrio de curto-
período (o ponto de demanda efetiva) pode ser dependente da história de erros de
previsão que os agentes econômicos cometeram ao longo de uma sequência de períodos
de produção. Nesse caso, podemos afirmar, tal como Kalecki, que o longo-prazo é apenas
uma sequência de curtos-prazos, não tendo existência independente dos mesmos?
Explique.
A fim de responder ao questionamento, é interessante caracterizar o que foi
considerado por Kregel (1976) como equilíbrio estático, equilíbrio estacionário e
equilíbrio movente.
No modelo de equilíbrio estático, as expectativas de curto-período, que são as
principais balizadoras da quantidade a ser produzida pelos empresários, são sempre
realizadas, ou seja, as expectativas coincidem com os resultados realizados. Assim, o
ponto de demanda efetiva sempre coincide com o ponto de demanda realizada. Isso, no
entanto, não quer dizer que não há incerteza. Além disso, as expectativas de curto e
longo período são independentes entre si. Nesse caso, a economia está sempre operando
em equilíbrio, que pode ser abaixo do nível de pleno emprego dos fatores produtivos.
No modelo de equilíbrio estacionário, as expectativas de curto e de longo prazo
continuam independentes. Entretanto, nem sempre há a coincidência dos expectativas de
curto prazo com os resultados realizados, o que pode ocasionar pequenas diferenças
entre a demanda realizada e o ponto de demanda efetiva.
Assim, por meio do processo de tentativa e erro, as expectativas de curto período
conduzem a revisões graduais no nível de emprego ofertado e na quantidade produzida,
levando a alterações na demanda realizada até o ponto em que ela coincide com a
demanda efetiva e reestabelece as condições de pleno emprego. Dessa forma, há
deslocamentos graduais da curva de demanda agregada até que ela se iguale à demanda
realizada.
Dada a independência entre as expectativas de curto e de longo prazo, os erros
de previsão não levam a mudança do nível de investimento desejado, o que, por sua vez,
implica que não há alteração na capacidade produtiva e na curva de oferta agregada.
Posto isso, neste modelo, há apenas variações ao redor do ponto de demanda efetiva de
curto prazo. Nesse modelo, o estado de expectativas é mantido constante de uma forma
geral.
O modelo de equilíbrio movente, por sua vez, relaxa as hipóteses dos modelos
de equilíbrio estático e estacionário. Nesse modelo de equilíbrio, não há sempre
igualdade entre os resultados esperados e os resultados realizados. Além disso, o estado
geral de expectativas não é mantido constante de uma forma geral e as expectativas de
curto e longo prazo não são independentes. As decisões de curto prazo podem implicar
em alterações nas expectativas de longo prazo. Nesse sentido, adota-se nesse modelo o
conceito de dependência de trajetória. Nesse sentido, pode haver alterações na
capacidade produtiva da economia a partir do deslocamento da curva de oferta agregada
em função da mudança de expectativas. Somente nesse modelo de equilíbrio movente,
pode-se dizer que o longo-prazo é influenciado pelos níveis de demanda efetiva
verificados no curto prazo, sendo válida a afirmação de Kalecki de que o longo prazo
consiste em sucessões de curto prazo.
4° Questão: Comente e explique a seguinte afirmação de Possas (1987) a respeito da
teoria do investimento de Kalecki :
“(...) A concepção de Keynes sobre os determinantes do investimento revela-se
bastante próxima a de Kalecki – surpreendentemente, talvez, para as leituras
convencionais dos dois autores - , exceto por seu nível de generalidade e
densidade conceitual incomparavelmente maiores, que, por isso mesmo podem
dar lugar, como foi sugerido antes, a uma teoria da instabilidade do
investimento mais do que a sua dinâmica” (Possas, 1987, p.145).
Possas (1987, p. 132) trata a teoria do investimento de Keynes como conducente
a uma teoria geral da instabilidade capitalista que abarca os determinantes da dinâmica
associados a demanda efetiva, tratados por Kalecki como um de seus momentos
possíveis.
Keynes e Kalecki buscaram diferenciar suas visões das apresentadas pelos
clássicos. Os autores desejavam entender a economia de sua época e corrigir suas
deficiências, opondo-se aos postulados sugeridos pela Lei de Say e libertando-se do
antigo modo de pensar que foi proposto pela economia clássica, corrigindo a falácia dos
clássicos identificarem quais eram as variáveis que determinavam o sistema, atribuindo
conceitos indevidos. Keynes (1982) mostra que tal teoria inverteu a ordem de
determinação de algumas variáveis, inserindo a poupança e investimento como
variáveis determinantes e não como variáveis determinadas.
De acordo com Possas (1987) a teoria do investimento de Keynes é mais geral
que a de Kalecki, porém tal afirmação não implica que as teorias são incompatíveis,
pois teoria de investimento de Kalecki é uma representação provinda da teoria de
Keynes o que as tornam teorias complementares que analisam a dinâmica específica da
demanda efetiva. Assim, embora a teoria de Kalecki não tenha sido tão completa e
sofisticada quanto a de Keynes, o autor teve o mérito de formula-la diretamente aos seus
efeitos dinâmicos, porém não tratou das expectativas em sua obra.
Para entendimento inicial das duas teorias sobre determinantes de investimento,
é indispensável um breve resumo. Em ambas, os limites do investimento são da mesma
natureza ainda que na teoria de Kalecki possua um formato modelístico voltado para o
processo dinâmico do mecanismo do ciclo econômico.
O principal determinante do investimento para Kalecki são os lucros retidos
(lucro bruto esperado), os componentes autônomos e os componentes de investimento
induzido. O autor considera que o montante do investimento a ser efetuado é limitado
pela dimensão do capital da própria firma, assim, o que influencia a decisão do
capitalista é: acumulação interna de capital, a variação no lucro, as variações no estoque
de capital fixo e um último fator que reflete as mudanças tecnológicas. Inovações
tecnológicas exercem papel fundamental na variação do investimento.
Na teoria kaleckiana a taxa de juros de curto prazo possui grandes oscilações,
porém a de longo prazo permanece estável, por isso, possui pouca influência no
processo de investimento. O longo prazo é o período determinante para sua teoria pois é
baseado em estímulos fora do ciclo econômico (fatores de desenvolvimento).
A acumulação dos lucros também está presente na teoria de Keynes mediante a
eficiência marginal do capital (EMC). Ela é um fator determinante para o investimento,
pois vai determinar quanto um novo investimento vai proporcionar de lucro, ou seja,
cada indivíduo vai se preocupar com seu lucro, tomando o quanto vai custar o
investimento e quanto de renda vai gerar o ativo. Para Keynes, a EMC determina a
procura pelos fundos de investimento enquanto a taxa de juros determina como esses
fundos são oferecidos.
A taxa da EMC é uma expectativa e é a partir da expectativa que o investidor vai
realizar o investimento, porém, o investimento não ocorre a altas taxas de juros. Sendo
assim, diferente de Kalecki, a teoria de Keynes considera que taxa de juros também é
fator determinante do investimento. É a taxa de juros de mercado que vai equilibrar o
fluxo dos recursos dos agentes deficitários, fazendo com que não faltem (e nem sobrem)
recursos para nenhuma das partes, pois o dinheiro que é poupado no banco é o
investimento de um outro agente. Assim, o nível da renda também é importante para tal
análise.
Analisando os efeitos da taxa de juros sobre a atividade econômica, Keynes
destacou que, o aumento da quantidade de moeda, mantida a preferência pela liquidez
constante, faz cair a taxa de juros. Esta queda, por sua vez, faz aumentar os
investimentos, considerando que a eficiência marginal do capital se mantenha constante.
Como a demanda agregada é composta de consumo mais investimento, um aumento do
investimento faz com que a demanda agregada aumente, com consequente aumento da
demanda efetiva e do nível de emprego.
As condições de concorrência e de crescimento vigentes de mercado são
aspectos negligenciados por Keynes, mas na opinião de Possas (1987) possuem
importância crucial para uma primeira aproximação à análise dinâmica.
Segundo Possas (1987), no que se refere à omissão, o trabalho de Kalecki possui
dois pontos a serem destacados:
1. Kalecki desconsidera a taxa de juros como determinante do investimento;
2. Em seu trabalho há a ausência de um tratamento que se possa considerar
explícito a respeito das expectativas.
5° Questão: Apresente e explique as vantagens modelísticas da teoria do ciclo econômico de Kalecki relativamente aos modelos de ciclo do tipo Multiplicador-Acelerador.
A teoria do ciclo econômico de Kalecki considera que os ciclos são baseados em
variáveis como lucros, investimentos, demanda e renda recebida, ou seja, promove a
interação entre a determinação da renda (e dos lucros) mediante multiplicador com a
decisão de investir tomada por base na variação do nível de atividade e das variações do
acelerador. Kalecki expôs sua teoria com diversos modelos com a finalidade de
aperfeiçoa-los e visando seu progresso, expondo modelos matemáticos, com parâmetros
explicados teoricamente.
Quanto aos modelos de multiplicador-acelerador, eles partem da hipótese de que
o investimento responde a variações do nível de renda da economia com determinação
do investimento, do consumo e da renda. Os modelos de interação entre os componentes
de multiplicador e acelerador não conseguem explicar o crescimento de longo prazo,
apenas a existência de flutuações em torno de uma tendência estacionária, com isso, as
tentativas anteriores de explica-los não são satisfatórias, pois os modelos são
interpretados com diversas diferenciais e com diferenças finitas, já Kalecki utiliza o
período de tempo discreto, que é mais adequado ao tratamento das variáveis
econômicas.
Kalecki desenvolve a sua teoria de ciclos a partir da função de investimento em
capital fixo, derivado de um modelo econométrico, onde os parâmetros mostram as
sensibilidades, as respostas, ou as magnitudes dessa resposta. A função é dada por:
onde:
F = investimento bruto agregado em capital fixo;
τ = retardo da decisão de investir em relação ao período t (incluindo o
período de construção dos equipamentos e o período das reações empresariais), com
isso propondo existir uma separação entre as decisões de investir e a realização do
investimento. É uma defasagem temporal (timming), pois é necessário um “tempo” para
que o investimento se efetive.
S = poupança bruta total;
ΔP = variação nos lucros brutos ocorrida no período;
ΔK = variação no estoque de capital fixo;
d = termo constante sujeita a mudanças a longo prazo (representa
investimentos de reposição, investimento publico e de inovação). Para Possas (1987) a
importância dessa variável é maior do que a sugerida pelo tratamento lacônico dado por
Kalecki
ΔP/ Δt = variação dos lucros por unidade de tempo (modificações nos
lucros). Quanto maior for o volume de lucros, mais forte será a decisão de investimento.
Essa variável juntamente com ∆P/∆K (modificações no estoque de capital) determinam
a taxa de lucro no sistema econômico.
A vantagem modelística da teoria do ciclo econômico de Kalecki consiste no
termo aSt não significa que a poupança determina o investimento e sim representa a
influência da acumulação interna de lucros sobre as decisões de investimento das
firmas. Essa variável faz com que o investimento seja dependente do nível da renda e
não apenas de sua variação, o que suaviza a instabilidade do acelerador. Contudo seria
melhor trata-la como uma restrição e não como uma variável aditiva
Assim, ela reflete a possibilidade de tomada de crédito para que novos
investimentos sejam realizados. Esses novos investimentos serão maiores, quanto maior
for o estoque de capital disponível. Representa, então, um elemento inercial ao modelo
de ciclos contribuindo para que a dinâmica não possua um comportamento explosivo.
Quanto a introdução da poupança bruta total S1 como uma variável determinante
de investimento, ela introduz ao modelo condições de risco e exibe que o investimento
depende da variação e do próprio nível de atividade (ΔP e S). Com isso é possível
verificar a instabilidade associada ao multiplicador que aumenta a probabilidade de que
o modelo pode produzir flutuações cíclicas para valores razoáveis dos parâmetro.
Os termos ∆P e ∆K refletem variações na rentabilidade do capital fixo aplicado
que afetam a de lucro que consequentemente geram variações no grau de utilização da
capacidade produtiva instalada. Essas variáveis captam a necessidade da empresa
ajustar a capacidade produtiva ao crescimento que é esperado das vendas, projetado a
partir de um crescimento verificado recentemente.
Dessa forma, a contribuição de Kalecki quanto a função de investimento possui
importante característica modelística considerando tanto a capacidade de o investimento
multiplicar a renda, sendo avaliado como uma fonte de prosperidade, quanto sua
habilidade acelerar o aumento adicional do próprio investimento dado o estoque
existente de capital, ou seja, delineia uma interação entre o volume de investimento e o
nível da renda.
6° Questão: Qual o papel que a propensão marginal a consumir inferior a unidade
desempenha na negação da Lei de Say e na tendência ao pleno-emprego da força de
trabalho? O que aconteceria se a propensão marginal a gastar fosse igual a um? A
economia tenderia a operar com pleno-emprego da força de trabalho? Explique.
A fim de explicar porque a Lei de Say não é a verdadeira lei relacionada à demanda
agregada e função de oferta, Keynes desenvolve um novo esquema de classificação para
manter os fatores de demanda em comparação com a maneira que é categorizada na
economia clássica. A lei Say especifica que o total de todos os gastos com produtos da
indústria (demanda agregada) é sempre exatamente igual ao total de custos (incluindo
crescimento dos lucros) da produção agregada. Além disso, quanto mais trabalhadores
1 Não é todo volume de poupança que é importante para a tomada de decisões, o volume de poupança
interna que é considerado no modelo.
empregados, maior será o custo total da produção pari passu com o total de gastos. Pegando
Dw para simbolizar a demanda agregada e Zw a oferta agregada, ambos medidos em
unidades de salário, que é, valores nominais deflacionados pela taxa de salários nominais,
então podemos especificar:
Dw = fd(N);
e,
Zw = fz(N).
A lei de Say assegura que
fd(N) = fz(N)
Para todos os valores de N, isto é, para todos os valores do produto e emprego. Em
uma economia sujeita a Lei de Say, o custo total da produção agregada da firma é
recuperado pela venda da produção. Na Lei de Say não há nunca um lack de demanda
efetiva. Além disso, nunca há obstáculo ao pleno emprego, não interessa qual o grau de
flexibilidade dos preços no sistema. Os dois gráficos a seguir representam primeiro, a Lei de
Say, segundo, a explicação de Keynes que garante que a Lei de Say é apenas uma
particularidade do caso geral.
Gráfico 1 – Proposta da Lei de Say Gráfico 2 – Abordagem Keynesiana
Como pode-se ver através do gráfico 2, a abordagem Keynesiana demonstra que não
necessariamente Z = D, conforme proposição da Lei de Say. Para Keynes, as condições de
demanda agregada e oferta agregada não necessariamente são as mesmas, para ele a
demanda agregada e oferta agregada tende a ser igual somente em um único ponto de
interseção entre essas duas curvas. Keynes diferiu da teoria clássica ao dividir todos os
gastos em duas classes de demanda, que é:
Dw = Dw1 + Dw
2 = fd(N)
Dw1 definida como representando todos os gastos que depende do nível corrente de renda e,
além disso, do nível de emprego N.
Dw1 = f1(N)
Em outras palavras, a primeira classe de gastos, Dw1, é determinada por todos os
fatores que determinam a oferta agregada. No entanto, há uma segunda classe de gastos,
Dw2, que representa todos os gastos não relacionados à renda corrente e, além disso,
determinado pelos diferentes fatores que afetam a oferta agregada, isto é,
Dw2 ≠ f(N)
Para demonstrar que sua dicotômica classificação de demanda foi uma análise geral
que poderia levar ao equilíbrio com desemprego, Keynes tinha que explicar a segunda
categoria de gastos Dw2, não é relacionado a renda corrente e emprego por ser igual à
poupança planejada onde a primeira é definida como fz(N) – f1(N).
Se, como a teoria clássica assume, Dw2 gastos é sempre igual à poupança planejada
Dw2, de qualquer nível de renda atual, então
Dw2 = fz(N) – f1(N) e,
Dw = Dw
1 + Dw2 = Dw
2 = f1(N) + fz(N) – f1(N) = fz(N)
Assumindo mais alguns pressupostos chegamos a seguinte conclusão:
Dw1 = f1(N) = fz(N) = Z
Nesse caso, se poupança planejada é assumida ser igual ao investimento planejado,
então a demanda e a oferta agregada são idênticos e então a Lei de Say é aplicável.
Keynes proclama a “lei psicológica fundamental” associada com os “fatos
estilizados pela experiência” onde a propensão marginal a gastar da renda corrente em
produtos da indústria é sempre menor que a unidade. De acordo com a última equação, se a
propensão marginal a consumir é sempre menor que a unidade, então f1(N) nunca deveria
coincidir com fz(N), até mesmo se Dw2 = 0.
A mensagem básica do princípio Keynesiano de demanda efetiva é que (para um
dado nível de gastos com investimento) uma maior demanda por poupança na forma de
ativos líquidos pode impedir "poupança" (isto é, não utilizados ou desempregados
involuntários) recursos reais de ser empregado para ampliar estoque de instalações
produtivas da economia. O problema do desemprego é basicamente sempre um
problema de liquidez.
De um modo geral, a única possibilidade em que a Lei de Say é aplicável, é
quando a propensão marginal a consumir é igual 1 e Dw2 = 0. Para quaisquer valores
menores que 1, a Lei de Say não se aplica e consequentemente não tenderia a com
pleno-emprego das forças de trabalho. Por fim, conforme os argumentos apresentados
por Keynes, a Lei de Say é apenas um caso particular da Teoria Geral.
7° Questão: Considere o modelo de determinação do nível de emprego de equilíbrio de
curto-período apresentado na Teoria Geral, mas suponha que as expectativas de curto-
período não são realizadas. Tomando as expectativas de longo-período como dadas e
independentes dos erros de previsão de curto-período, analise o processo pelo qual os
empresários reagem ao desapontamento inicial de expectativas e como esse processo pode
conduzir a economia em direção ao equilíbrio de curto-período. Qual o papel a
flexibilidade de preços desempenha nesse processo? Os preços variam antes das
quantidades ou as quantidades se ajustam primeiro? Justifique sua resposta por
intermédio dos gráficos necessários.
Antes de definir qual o papel das expectativas de curto-período para o ajuste do
modelo em direção ao equilíbrio convém destacar o papel que Keynes atribuiu às
expectativas em seus estudos. Keynes distinguiu as expectativas entre duas grandes
categorias, expectativas de curto-período e expectativas de longo-período. A produção e o
emprego são decisões tomadas ponto a ponto no tempo, dado a planta e o equipamento,
dependem somente de expectativas de curto-período dos preços, no tempo quando os
resultados da produção estiverem prontos para a venda.
Os resultados realizados e preços atuais são relevantes somente para as decisões na
medida em que eles influenciam as expectativas. A análise de Keynes tende a ignorar as
diferenças entre expectativas de curto-período de preços e os preços atuais que são
recebidos pelos bens produzidos como uma consequência dessas expectativas. O efeito de
dessas ideias é tratar as decisões de curto prazo pensando nelas como sendo determinadas
em um contexto estático onde é não é necessário distinguir entre resultados e expectativas.
Para Keynes, as expectativas de curto período tem um papel secundário, pois para
ele, a diferença entre as expectativas de curto-período e os resultados realizados não
deveriam mudar o teor das conclusões da teoria geral.
Já o tratamento das expectativas de longo prazo é sempre consistente com o
contexto temporal histórico do modelo. Os resultados relevantes para as expectativas de
longo-período serão os retornos para os gastos de investimento ao longo dos intervalos de
tempo futuros. Expectativas de longo prazo são usualmente consideradas como exógenas na
teoria geral. O motivo é que a base do conhecimento destas expectativas na visão de Keynes
são extremamente precárias e passíveis de mudanças repentinas. Essa imprevisibilidade,
aliada a importância do investimento confere às expectativas de longo prazo um papel
importante na teoria de Keynes.
As decisões de produção feitas pelas firmas competitivas em Keynes devem ser
baseadas nas expectativas de preços, por causa do gap de tempo entre quando as decisões
são tomadas e quando o resultado da produção está disponível para a venda. Keynes
também nota que algum tempo deve decorrer ante que a firma possa revisar seus planos de
produção. Este intervalo de tempo é denotado por o adjetivo “diário” e se refere para ele
como “a mínima unidade de tempo efetiva”. Ele não discute essa relação para o curto
período no qual a sua análise é feita, mas claramente o intervalo diário é mais curto que o
curto período.
Keynes frequentemente usa como nós temos visto os resultados realizados para
representar as expectativas de curto prazo, pois, o “teste” das expectativas de curto-período
não é feito depois de um longo período de tempo e as revisões que aparentam serem
necessárias são baseadas nos resultados realizados. Desse modo, as expectativas de curto-
prazo são mais fáceis de serem comparadas com os resultados realizados em comparação
com as expectativas de longo prazo.
Para o caso em que as expectativas de curto prazo não são realizadas, ou seja, o
ponto em que os empresários não antecipam corretamente o ponto de demanda efetiva, os
empresários, por meio de um processo de tentativa e erro, revisam as suas decisões de
produção ao ponto em que as expectativas de curto prazo se ajustam aos resultados
efetivamente realizados. Esse processo de ajustamento é de fundamental importância para a
condução da economia para o equilíbrio de curto-período.
Para entender o processo de ajustamento da economia para o equilíbrio de curto
período, primeiro é necessário supor, como Keynes, que as expectativas de longo prazo são
tomadas como exógenas. Para esta situação, o caso mais geral implica que:
De
D
Z
N
D,Z
A
B
𝑁0∗ 𝑁1
∗
O ponto A é o ponto inicial de equilíbrio de curto-período, mas os empresários
ficam momentaneamente mais pessimistas acreditando que o ponto de demanda efetiva é B.
Temos então que p > e, o que irá levar a uma mudança no estado de expectativas de curto-
período (deslocamento da curva de demanda esperada para cima) e de longo-período
(deslocamento da curva de demanda realizada para cima). A partir de então, dada a
mudança na demanda esperada, em função da diferença nos preços, percebe-se que
primeiro, há a modificação nos níveis de preços para depois, uma vez conhecidos os preços,
mudança nas quantidades.
8° Questão: Segundo Minsky existe uma tendência inerente as economias capitalistas de
se moverem de estados de robustez financeira para estados de fragilidade financeira.
Qual o papel que as expectativas e o estado de confiança desempenham nesse processo?
A tendência a fragilização financeira crescente guarda alguma relação com o fato de que
na formação de expectativas os agentes econômicos dão uma importância – talvez
excessiva – aos eventos correntes? Por que razão a fragilização financeira não é
percebida pelos agentes econômicos? O processo de secutirização dos empréstimos pode
contribuir para a “miopia” dos agentes econômicos? Por que?
A contribuição de Minsky consiste na teoria monetária e financeira. O
autor adota a teoria de preferencia pela liquidez de Keynes e possui uma postura pós-
keynesiana partindo de um critica a visão clássica/neoclássico. Minsky observou que
investimentos em ativos de capital envolve a troca de algo certo por algo incerto. A
incerteza afeta fortemente a determinação deste comportamento nas decisões de
alocação das aplicações dos agentes, através das expectativas de rentabilidade dos ativos
de capital, condicionando toda a dinâmica sistêmica.
Minsky reconheceu a importância da formação das expectativas dos agentes.
Quando o empresário adquirir um ativo de capital, ele espera que este ativo lhe forneça
um fluxo de caixa que exceda, em alguma margem, o preço que foi pago inicialmente,
mas essa expectativa esta sujeita a desapontamento.
A importância das expectativas dos agentes é resultado da incerteza que cerca as
firmas quanto aos projetos de investimento em ativo de capital fazendo com que os
agentes sejam influenciados por convenções no processo de tomada de decisão.
Considerando que as firmas se endividam para adquirir os ativos de capital, Minsky
analisa as relações entre os pagamentos contratuais (juros + amortizações) e os fluxos
de caixa (primários) definiu três posturas financeiras:
1. Hedge: o fluxo de caixa esperado pelos agentes excede em muito os encargos
contratuais a cada período, ou seja, as firmas não precisam recorrer ao
refinanciamento de posições, assim, possui maior margem de segurança em sua
operação;
2. Especulativa: o fluxo de caixa esperado pelos agentes é menor do que os
encargos contratuais para certos períodos (pagamento de juros + amortizações),
mas a longo prazo é suficiente para o pagamento do juros. Sob esta postura, as
firmas recorrer recorrer ao refinanciamento periódico de suas posições para que
possam honrar os seus compromissos contratuais;
3. Ponzi: o fluxo de caixa esperado pelos agentes é menor do que os encargos
contratuais, sendo insuficiente sequer para o pagamento dos juros, resultando na
incapacidade de pagamento de suas obrigações financeiras.
A formação de crises parte de um processo de instabilidade econômica, com
isso, a fragilidade financeira da economia como um todo depende da composição entre
as três posturas propostas por Minsky: hedge, especulativa e ponzi. A partir dessas
definições o autor afirmou que quanto maior a participação de unidades especulativas e
ponzi no total de empresas, mais vulnerável será uma economia quando houver uma
variação na taxa de juros.
Se o nível de fragilidade financeira for muito alto, então uma pequena variação
na taxa de juros pode tornar uma grande parte das firmas insolventes, ou seja, não
liquidam suas dividas, fazendo com que elas necessitem buscar outras fontes de caixa
para poder honrar seus compromissos.
Portanto, uma economia que é dominada por posições economicamente frágeis,
se ocorre um aumento repentino da taxa de juros pode gerar uma crise de deflação nos
ativos, isso ocorre caso o aumento nos juros seja grande o suficiente para transformar
uma proporção significativa das unidades em unidades ponzi que podem ser obrigadas a
vender ativos para honrar suas dividas no curto prazo.
Informações imperfeitas não permitem que os agentes percebam a fragilidade
financeira da economia, ou seja, as firmas não conseguem averiguar a situação
financeira de todas as demais firmas e os agentes econômicos não possuem toda a
informação necessária para avaliar os possíveis resultados de suas decisões.
Além disso, a incerteza existente na economia leva o agente a tomar decisões de
acordo com a média do mercado, uma vez que este acredita que os outros agentes
possuem informações relevantes para a tomada de decisões e prefere usufruir dos
mesmos ganhos pela maioria a ser o único a não usufruí-los. O estado de confiança dos
agentes faz com que haja uma redução da percepção do risco, conduzindo o agente a
operações mais arriscadas.
Quanto ao processo securitização da dívida, a possibilidade de emissão desses
ativos com consequente transferência de risco ao investidor aumentou o risco sistêmico
da economia. Em um ambiente de otimismo, a percepção dos riscos dos tomadores de
empréstimo e dos emprestadores é diminuída, levando ao financiamento de projetos de
investimento com retornos mais incertos, por meio de produtos financeiros mais
arriscados. A assimetria de informações no mercado de derivativos, por exemplo, pode
ser um dos fatores que causa a “miopia” dos agentes econômicos. Nesse sentido, a
“miopia” dos agentes pode ser influenciada pelo processo de securitização da dívida.
9° Questão: A teoria convencional da escolha em condições de incerteza apresenta duas
vertentes principais, a saber: a utilidade esperada Von-Neumman-Morgenstern e a teoria
da probabilidade subjetiva de Savage. Apresente e explique detalhadamente as críticas
que os autores pós-keynesianos fazem a essas formulações convencionais da tomada de
decisão em condição de incerteza. Qual o papel que o conceito de experimento crucial de
Shackle tem na crítica a teoria convencional? E qual a relevância do conceito de “evento
inesperado”? De que forma o mesmo pode invalidar a teoria da probabilidade subjetiva?
Começando dos conceitos de Keynes de probabilidade e incerteza, Pós-
Keynesianos postularam que o comportamento das relações que são afetadas pela
incerteza tendem a ser contudentemente diferentes daquilo que é geralmente aceito pela
teoria neoclassica.
Economistas neoclássicos raramente são claros ao mostrar como agentes
aprendem sobre as funções de distribuição de probabilidade que descrevem os processos
sociais. Entre autores neoclássicos há também a ideia de processo social ergódico, que
significa que eles são replicáveis e obedecem as estáveis leis da distribuição estatística.
Este também é, claramente, um ponto divergente do pensamento em Keynes e dos Pós
Keynesianos.
Na abordagem desenvolvida por von Neumann e Morgenstern (1953), agentes
escolhem não somente os bens, mas a probabilidade atual dos bens. Neste sentido, se o
conhecimento sobre a probabilidade é verdadeiro, no longo prazo, não há incerteza
sobre o que podemos ganhar no jogo, então o agente, através do estudo da probabilidade
dos bens, faz o seu processo de maximização de escolhas em sua maneira usual.
Para Pós-Keynesianos, este procedimento não é aceitável, pelo menos como uma
teoria geral do comportamento sob incerteza, porque é baseado sobre a replicabilidade
dos experimentos os quais requerem estabilidade ao longo do tempo, que é ser ergódico.
Para exemplificar a questão da repetibilidade e a importância dos experimentos
cruciais, suponha um processo de lançamento de moedas. Nesse processo, as condições
iniciais são sempre restauradas após cada lance, independentemente da face que
apareceu no lance anterior. Quando os experimentos são cruciais, conforme visão de
Shackle, as condições mudam de acordo com as decisões que são tomadas. O agente
não pode sempre contar com ambientes estáveis e esperar conhecê-los apenas através de
experiências repetidas. O agente saberia que ao tomar uma decisão, estaria moldando o
contexto em que ele estava inserido, de modo que os eventos raramente poderiam ser
repetidos sobre o mesmo ambiente.
Desse modo, decisões cruciais, seriam muito complexas para ser apreendidas
apenas com a experiência passada. Por exemplo, experiências passadas, no caso de
investimentos não indicam com segurança a direção do futuro. Para as decisões de
investimento, a lógica humana domina a lógica formal e a indução é impossível. A
existência de “experimentos cruciais” é uma das críticas fundamentais dos Pós
Keynesianos à teoria convencional.
Quanto à existência de “eventos inesperados”, os pós-keynesianos demonstram
que sob condições de incerteza, dificilmente pode-se inferir precisamente as funções de
distribuição de probabilidade que presidem os processos sociais. Esta constatação
invalida a visão neoclássica, que reduz a incerteza a uma função de probabilidades
supostamente conhecida pelos agentes e consequentemente invalida a teoria da
probabilidade subjetiva.
10° Questão: Apresente o conceito Kaleckiano de “grau de monopólio”. É correta a
crítica de Kaldor segunda a qual o “grau de monopólio” seria uma simples tautologia? É
possível construir uma teoria macroeconômica da distribuição de renda a partir desse
conceito? Explique.
Kalecki atribui aos fatores de distribuição um papel importante no sistema
econômico. Dentre outros aspectos, Kalecki lida com a questão da formação dos preços e o
impacto desta formação na distribuição de renda e a sua dinâmica ao longo do ciclo
econômico. Dentro dessa perspectiva, em seu artigo em 1938 “The determinantes of the
distribuition of national income” surge o tratamento mais bem elaborado no que concerne a
sua teoria de formação de preços. Aparece também, pela primeira vez o “grau de
monopólio” o qual pode ser discriminado pela seguinte equação:
m = (p – cmg)/p
Sendo p = preço e cmg = custo marginal. Para Kalecki, a participação dos salários na renda
nacional é diretamente influenciada pelo grau de monopólio.
Tal conceito de grau de monopólio foi alvo de críticas contundentes por parte de
Kaldor, 1956. Para Kaldor, se o grau de monopólio for determinado pela elasticidade de
demanda, o grau de monopólio estaria sendo explicado pelos próprios fatores que
determinam o monopólio e portando a abordagem de Kalecki seria puramente tautológica.
Claramente, essa crítica de Kaldor não é procedente. Kaldor não considerou a dupla
natureza do conceito de grau de monopólio. O primeiro é que este é o resultado das decisões
de preço das firmas. A segunda é que o grau de monopólio representa as condições de
mercado que permite as empresas fazer a sua própria política de preços representando assim
o seu poder de mercado.
Kalecki classifica ainda o “grau de monopólio” como a situação de mercado que
permite as empresas implementarem a sua própria política de preços em virtude
principalmente da estrutura de concentração da indústria, desenvolvimento de estratégia de
promoção de vendas e pressão dos sindicatos.
Quanto ao poder de mercado das firmas, este é limitado pela expansão das perdas
advindas das reações dos competidores às mudanças de preços e pela resposta do público à
diferenciação de preços. Assim, o primeiro conjunto de fatores é influenciado pela
concentração industrial, existência de acordos tácitos ou cartéis; barreiras a entrada,
diferenciação de produto. O segundo é influenciado pela disseminação das informações,
diversidade de produtos e hábitos dos consumidores.
Deste modo, a partir da consideração da segunda dimensão do conceito de grau de
monopólio constata-se que o mesmo não é tautológico, mas se baseia na ideia de que a
concorrência que importa no mercado é a concorrência entre as firmas estabelecidas.
Quanto ao questionamento de que seria ou não possível construir uma teoria
macroeconômica da distribuição de renda a partir desse conceito, a resposta é que sim. Foi
justamente isso que fez Kalecki. Após as devidas substituições e considerações Kalecki
chega a seguinte equação de determinação da renda:
Yt = {(A + It)/[(1 – q)(1 – a)]} + B/(1 – a)
Observa-se então que o nível de renda no período t depende do investimento
realizado no período t, da propensão marginal a consumir dos capitalistas (q), da
distribuição da renda entre salários e lucros (a) e do consumo autônomo dos capitalistas
chegando assim a uma representação teórica da distribuição de renda a partir do conceito de
monopólio.
Por todo o exposto, não se mostra procedente a crítica de Kaldor quanto a afirmação
de que o “grau de monopólio” seria apenas uma simples tautologia, além disso, percebe-se
que Kalecki conseguiu construir uma teórica macroeconômica da distribuição da renda
consistente a partir do conceito de grau de monopólio.
Referências Biliográficas
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análise comparativa entre Veblen e Minsky. XVIII ENCONTRO NACIONAL DE
ECONOMIA POLÍTICA, Belo Horizonte, 2013.
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KEYNES, J.M. (1982). A teoria geral do emprego, do juro e da moeda. São Paulo,
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