Língua, linguagem e variabilidade

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LINGUAGEM, LÍNGUA E VARIABILIDADE

LINGUAGEM

É um fenômeno social de interação por meio do qual as pessoas se comunicam.

Todo e qualquer ato de linguagem envolve a produção de sentido.

LINGUAGEM VERBAL

Sua unidade básica é a palavra, falada ou escrita.

LINGUAGEM NÃO VERBAL

Dispensa a palavra.

LINGUAGEM MISTA

A palavra depende da linguagem não verbal e vice-versa para que haja sentido.

LÍNGUA

É um código verbal, ou seja, um sistema de signos (um conjunto de sinais) que se estrutura a partir de certas regras.

Além da língua portuguesa, são códigos: braile, LIBRAS,código de trânsito etc.

É produto social que organiza as experiências comuns aos membros de uma mesma comunidade linguística.

Conhecer o código é importante...

...mas nem sempre é suficiente.

VARIABILIDADE LINGUÍSTICA

As línguas variam (principalmente):

NO TEMPO

NO ESPAÇO

Capa de revista para adolescentes portuguesas

NO ESPAÇO

Campanha moçambicana

“Assina tu também.”

NO ESPAÇO

Dicionário pernambuquês:

http://www.simplescoisasdavida.com/dicionario-pernambuques/

- Gente alta é galalau;

- Se é muito miúdo é pixototinho;- Se for resto é cotôco;- Tudo que é bom é massa ;- Tudo que é ruim é peba;- Rir dos outros é mangar;- Faltar aula é gazear;- Quem é franzino (pequeno e magro) é xôxo;- O bobo se chama leso;- E o medroso se chama frouxo;

- “Caba”(homem) sem dinheiro é liso;- Pernilongo é muriçoca;- Quem entra sem licença, emburaca;- Sinal de espanto é “vôte”, “vixe”, “ôxe”;- Quando está folgado, tá folote ou afolozado;- Pedaço de pedra é xêxo;- Quem dá furo (não cumpre o prometido ou compromisso) é fulêro;- Briga pequena é arenga;- Desarrumado é malamanhado;- Pessoa triste é borocoxô;- “É mesmo” é “Iapôis”;

NO ESPAÇO

Campanha de incentivo ao voto do jovem no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro:

DE ACORDO COM A CLASSE SOCIAL/ GRAU DE INSTRUÇÃO

Tiro ao Álvaro (Adoniran Barbosa)

Ouça a música em: http://letras.terra.com.br/elis-regina/101410/

De tanto leva frechada do teu olharMeu peito até parece sabe o quê?Táubua de tiro ao ÁlvaroNão tem mais onde fura.

Teu olhar mata mais do que bala de carabinaQue veneno estriquininaQue peixeira de baianoTeu olhar mata mais que atropelamento de automóverMata mais que bala de revórver

DE ACORDO COM A CLASSE SOCIAL/ GRAU DE INSTRUÇÃO

DE ACORDO COM O GRAU DE FORMALIDADE (registro culto x registro coloquial)

REGISTRO CULTO (LINGUAGEM FORMAL): É a linguagem que utilizamos em situações não familiares, em que há um distanciamento entre os interlocutores. Em situações formais:

Falamos de modo mais cuidadoso, seguindo a norma culta. Evitamos gírias, abreviações e expressões de intimidade.

Usamos a linguagem formal em: palestras, reunião de negócios, redação de documentos, entrevista de emprego, audiência em tribunal, publicações científicas etc.

NORMA CULTA: Uso que os falantes mais escolarizados, que têm mais contato com a modalidade escrita, fazem da língua. Alguns autores usam Norma padrão como sinônimo de norma culta.

DE ACORDO COM O GRAU DE FORMALIDADE (registro culto x registro coloquial)

REGISTRO COLOQUIAL (LINGUAGEM INFORMAL): É a linguagem que utilizamos em situações familiares, do dia a dia, em que há intimidade entre os interlocutores. Em situações informais:

Falamos de modo mais espontâneo, sem nos preocuparmos com a norma culta. Usamos gírias, abreviações e expressões de intimidade.

Usamos a linguagem informal: no meio familiar, entre amigos, em cartas e e-mails pessoais.

Embora marcas de oralidade sejam comuns na linguagem informal (“né”, “pra”, “tá”, “tava” etc), LINGUAGEM INFORMAL NÃO É SINÔNIMO DE ORALIDADE. Ou seja, podemos ser formais quando falamos (ex. entrevista de emprego) ou informais quando escrevemos (ex. bilhete na porta da geladeira para um parente).

Exemplo de registro culto

Exemplo de registro informal

DE ACORDO COM A MODALIDADE (escrita x fala)

Língua oral Língua escrita

É adquirida no lar, desde que a pessoa nasce. É adquirida sobretudo na escola.

Há contato direto entre emissor e receptor, no ato

da comunicação.

Não há, normalmente, contato direto entre emissor e

receptor.

Conta com o reforço de entonação de voz e gestos.Utiliza pontuação, letra maiúscula e outros sinais

para substituir a entonação e os gestos.

Pode apresentar truncamento de palavras, como cê,

né, pra e tá, assim como repetições.Evita o truncamento de palavras e a repetição.

Não planejada e pouco elaborada. Planejada e elaborada.

Predominância de frases curtas. Predominância de frases complexas (períodos).

Emprega os sons da fala (fonemas). Emprega as letras (sinais gráficos).

VARIABILIDADE LINGUÍSTICA

 ”A língua é como um grande guarda-roupa, onde é possível encontrar todo o tipo de vestimenta. Ninguém vai só de maiô fazer compras num shopping-center, nem vai entrar na praia, num dia de sol quente, usando terno de lã, chapéu de feltro e luvas. (...) Quando falamos ou escrevemos, tendemos a nos adequar à situação de uso da língua em que nos encontramos: se é uma situação formal, tentaremos usar uma linguagem formal; se é uma situação descontraída, uma linguagem descontraída e assim por diante”.

Marcos Bagno. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. São Paulo: Edições Loyola, 1999, p.130.

ERRO E ADEQUAÇÃO

As variedades linguísticas devem ser adequadas à situação de comunicação: lugar, tempo, grupo social, intenção comunicativa. Por isso, não cabe falarmos em erro, mas em inadequação. A eficácia da comunicação depende do uso adequado da variedade.

PRECONCEITO LINGUÍSTICO

É a discriminação contra os indivíduos que usam variedades linguísticas de pouco prestígio social. Fundamenta-se na ideia equivocada de que existe uma única forma “correta” de se falar e escrever.

ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO

Vamos considerar cinco elementos essenciais para o ato comunicativo:

1. Emissor ou locutor : envia a mensagem.2. Receptor ou interlocutor: recebe a mensagem.3. Mensagem: informação/ conteúdo que se quer

comunicar.4. Código: sistema de signos (conjunto de sinais)

utilizado para elaborar a mensagem.5. Canal: meio pelo qual a mensagem é transmitida.

Observações importantes

Os interlocutores estão em constante interação, construindo juntos a mensagem.

Essa interação não acontece em um “vazio” social. Isso quer dizer que o CONTEXTO influencia no ato comunicativo.

Vamos considerar o CONTEXTO como sendo a situação em que se encontram os interlocutores: onde eles estão? Em que época? A que classe social pertencem? Que idade têm? O que pretendem comunicar e por quê?

OBSERVAÇÕES IMPORTANTES

Todos nós nos comunicamos por meio de TEXTOS, ou seja, unidades de sentido.

Todo texto pertence a um GÊNERO, ou seja, um “tipo” de texto com características formais e temáticas comuns, que circulam socialmente, ordenando as atividades comunicativas do dia a dia.

EXEMPLIFICANDO COM TEXTOS

Gênero: propaganda Objetivo comunicativo: vender

um produto Registro: informal

Emissor: fabricante da farinha láctea

Receptor (público-alvo): mães de crianças pequenas

Mensagem: Crianças pequenas gostam do produto, ele tem qualidade e por isso as mães deveriam comprá-lo.

Código:) verbal (língua portuguesa)e não verbal (fotografia)

Canal: revista feminina de classe média (Claudia)

Gênero: notíciaObjetivo comunicativo: informar sobre fato recenteRegistro: informal

Emissor: Jornal Meia-horaReceptor (público-alvo): leitores de classes menos privilegiadas economicamente e com pouca instruçãoMensagem: Criminosos de favela carioca fogem da polícia. Código: verbal e não verbal Canal: jornal impresso

Gênero: notícia Objetivo comunicativo:

informar sobre fato recente Registro: formal

Emissor: Jornal O Globo Receptor (público-alvo):

leitores de classes privilegiadas social e economicamente e com maior grau de instrução

Mensagem: Criminosos de favela carioca fogem da polícia.

Código: verbal e não verbal Canal: jornal impresso

Gênero: artigo de revista Objetivo comunicativo: dar

dicas sobre a volta às aulas Registro: informal

Emissor: Revista Atrevidinha Receptor (público-alvo):

meninas pré-adolescentes Mensagem:Com o fim das

férias, as meninas devem se organizar para a volta às aulas..

Código: verbal e não verbal Canal: internet

BIBLIOGRAFIA

BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: o queé, como se faz. São Paulo: Loyola, 1999.

BORGATTO, Ana; BERTIN, Therezinha e MARCHEZI, Vera. Tudo é linguagem. Sexto ano. São Paulo: Ática, 2010.

CEREJA, William Roberto. E MAGALHÃES, Thereza Cochar. Português: linguagens. São Paulo: saraiva, 2009.

JAKOBSON, Roman. Linguistica e comunicação.São Paulo: Cultrix, 2003.

PLATÃO, Francisco e FIORIN, José Luiz. Lições de texto: leitura e redação. São Paulo: Ática, 1998.

TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e interação. São Paulo: Cortez, 1996.

Professora Raquel Souza – Rio de Janeiro