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Leitura e Interpretação de TextosSandra de Pádua Castro
Leitura e Interpretação de Textos
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Diretora Geral: Débora Cristina Brettas Andrade Guerra
Diretor Acadêmico: Gustavo Hoffmann Leão Coelho
Vice Diretora Acadêmica: Samira Maria Araújo
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CASTRO, Sandra de Pádua
Leitura e Interpretação de Textos. 1ª ed. Bom Despacho;
FACEB – Cursos de graduação. 120p.
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SUMÁRIO
UNIDADE 1......................................................................................................................7
Módulo 1: A linguagem humana e o código língua............................................................7
Módulo 2: Variação Linguística.........................................................................................13
Módulo 3: Texto e textualidade........................................................................................22
Módulo 4: Coesão............................................................................................................30
UNIDADE 2....................................................................................................................39
Módulo 5: Coerência e Intertextualidade.........................................................................39
Módulo 6: Tipos e gêneros textuais: a construção textual..............................................45
Módulo 7: Tipos e gêneros textuais: a construção textual...............................................48
Módulo 8: Tipos e gêneros textuais: a construção textual..............................................52
UNIDADE 3....................................................................................................................56
Módulo 9: Tipos e gêneros textuais: a construção textual..............................................56
Módulo 10: Estrutura do texto dissertativo argumentativo e o parágrafo padrão............63
Módulo 11: Métodos para leitura e interpretação: sublinhar, resumir e esquematizar....67
Módulo 12: Leitura de implícitos......................................................................................73
UNIDADE 4....................................................................................................................81
Módulo 13: Ambiguidade.................................................................................................81
Módulo 14: Conotação e denotação................................................................................92
Módulo 15: Figuras de Linguagem..................................................................................98
Módulo 16: Interpretando um texto...............................................................................109
Referências..................................................................................................................117
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APRESENTAÇÃO Todo leitor deve ter como objetivos ler e não somente decodificar, mas
compreender, interpretar e manter uma postura crítica frente a qualquer texto.
Estamos em constante processo de alfabetização, pois a leitura é uma habilidade que
se desenvolve durante toda a vida, na medida em que temos contatos com diferentes
tipos e gêneros textuais.
Somos seres falantes e devemos valorizar esta característica, aumentando
nosso conhecimento sobre a língua. Isso é condição necessária para melhorarmos
nossaspráticasprofissionaiseatendermosànecessidadedecomunicaçãoemqualquer
contexto de interlocução. Este conhecimento é adquirido através de muita leitura e,
sobretudo, de muita vontade e de muita afetividade.
A disciplina “Leitura e Interpretação de Textos” foi elaborada em vinte módulos, com
os quais pretendemos favorecer e dinamizar o processo de aquisição da competência
textual.Procuramos,nodecorrerdaapresentaçãodosmódulos,despertarareflexão
sobre a língua e as várias possibilidades que ela oferece para a interação.
Priorizamos o texto por entendê-lo, seja visual seja acústico, como concretização
de toda forma de linguagem na comunidade humana. Por reconhecermos a língua
comoorganismovivoeemconstantesmudanças,umareflexãosobreasvariedades
linguísticas precede o estudo do texto e dos elementos que o constituem.
Ler ou escrever, falar ou ouvir são formas importantes de nos inscrevermos no
mundo, de participarmos dele; são formas de doação para que outro nos leia. Todos
somos livros transitando pela biblioteca vida. Uma vez que a relação leitor / texto é
vivificanteparaambasaspartesequeostextosserealizamentreoslocutores,ficao
convite de participação em “Leitura e Interpretação de Textos”.
Sandra de Pádua Castro1
1 Graduada em Letras pelo Centro Universitário de Patos de Minas; Especialista em Português e Literatura e Mestre em Letras – Estudos Literários, pela UFMG. Leciona em cursos a distância e presenciais. Trabalha com tutoria, revisão e elaboração de cursos na área de Português, Literatura e Produção de Textos.
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UNIDADE 1MÓDULO 1 - A LINGUAGEM HUMANA E O CÓDIGO LÍNGUA
Convém estabelecermos nosso objeto de estudo, aquele sobre o qual trataremos
no decorrer de toda a disciplina: a língua.
Língua:
Idioma; sistema de códigos; conjunto de sistemas que encerra várias tradições;
fenômeno cultural, histórico, social, variável, heterogêneo e sensível aos
contextos de uso.
Lendo estas definições, certamente vamos comprovar que normalmente não
refletimossobrealíngua,sobreosmodosqueausamos,nosbenefíciosqueelanostraz;
nãorefletimosassimcomonãopensamosnoarquerespiramos:apenasrespiramos.
Normalmente entendemos a língua como algo tão natural e óbvio que, por isso mesmo,
nãorequermaioresreflexões.
Vamos começar a pensar diferente: vamos pensar este nosso objeto como uma
das faculdades mais ricas que o homem possui; vamos pensar este nosso objeto como
um tesouro hiper, megaprecioso, fonte de todas as possibilidades na comunidade
humana.
Verdade é que a língua (idioma) é apenas um dos códigos utilizados pelo homem
na sua atividade comunicativa; apenas um dos códigos da linguagem. Mas isso não
diminui a sua importância.
Nosso objetivo é uma maior proximidade com a linguagem por meio de
conhecimentos sobre a língua e de sua forma de materialização na comunidade
humana, ou seja, o texto. Falaremos sobre ele mais adiante. Por ora, vamos aprofundar
nos conceitos de língua e linguagem.
Vamos começar pelo termo de significado mais amplo, mais abrangente:
linguagem.Deixemo-nosconduziraumareflexãopelaspalavrasdo linguistaMarcos
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Bagno:[...] não existimos fora da linguagem, não conseguimos sequer imaginar oqueénãoterlinguagem–nossoacessoàrealidadeémediadoporela de forma tão absoluta que podemos dizer que para nós a realidade não existe, o que existe é a tradução que dela nos faz a linguagem, implantada em nós de forma tão intrínseca e essencial quanto nossas células e nosso código genético. Ser humano é ser linguagem. (BAGNO in ANTUNES, 2010, p.11)
Poderíamos, em linguagem matemática, traduzir o enunciado de Bagno assim:
Sujeito + linguagem = realidade
Assim como:
Sujeito + linguagem = sujeito transformado pela linguagem +
linguagem transformada pelo sujeito
Ou ainda:
Sujeito menos linguagem = (?) (incógnita!)
Concordando, portanto, com a importância da linguagem, vamos defini-la.
Segundo Luiz Carlos Travaglia (1997), um estudioso de nossa língua e da forma de
ensiná-la,hátrêsconcepçõesdistintasdelinguagem:
1. Linguagem como expressão do pensamento.
2. Linguagem como instrumento de comunicação.
3. Linguagem como forma ou processo de interação.
De fato, a linguagem é expressão do pensamento e é instrumento de comunicação.
Mas é mais que isso. Nós nos expressamos e nos comunicamos por meio dela assim
comointeragimos,realizamosações,atuamossobreooutroesobrenósmesmos:
A linguagem é pois um lugar de interação humana, de interação comunicativa pela produção de efeitos de sentido entre interlocutores, em uma dada situação de comunicação e em um contexto sócio-histórico e ideológico. [...] o diálogo em sentido amplo é que caracteriza a linguagem. (TRAVAGLIA, 1997, p.23)
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Esta forma de expressão, de comunicação e de interação pode ocorrer por meio
da dança, da música, da arte em geral; pode ocorrer por meio de comportamentos, de
olhares, do silêncio, dos gestos, das roupas e do perfume que usamos. São inúmeras
as formas de linguagem que utilizamos para atravessar, a cada instante, o espaço que
nos liga ao outro e a nós mesmos.
Todasas formassãomaravilhosasporque têmestefim: interação.Uma
dessas formas de manifestação da linguagem é a língua.
1.1 A língua
A língua é um fator social, pertencente ao social e que serve ao social. Ela é,
portanto, ao mesmo tempo, de uso individual e um bem comum. Pela língua estabelecemos
e mantivemos a comunidade humana.
A língua pode ocorrer por meio da fala ou da escrita. Não há como saber quando
nossos ancestrais desenvolveram a capacidade de agregar sons às ideias, ou seja,
quando surgiu a fala e a sua relação com a realidade. Também não há como saber
acerca das primeiras línguas faladas. Só sabemos daquelas que já existiam na época
da invenção da escrita, aproximadamente a
4000 a.C.
Talvez devido a essa impossibilidade de conhecer as origens e as primeiras
línguas, haja tanta especulação: o homem não se conforma com os mistérios!
Mistériosaparteeciênciaàfrente:alínguaportuguesa,aespanhola,afrancesa
e a italiana derivaram do latim. O latim derivou do itálico e este do Indo-europeu. Fim
da linha? Não. As línguas continuam se transformando porque são vivas. Mais a frente,
quando estudarmos variação linguística, conheceremos melhor esta dinâmica. Por
enquanto, observe, no diagrama a seguir, a variedade de idiomas originários do indo-
europeu:
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Seria ele, o indo-europeu, um idioma falado por todos?
Será que houve um dia em que os homens falavam a mesma e única língua?
As línguas podem se unir e se transformar em única língua?
As línguas podem se subdividir sucessivamente até que cada um possua sua
própria língua?
Estas são apenas perguntas para aguçar sua curiosidade. Nem tente
respondê-las.Bastasabermosqueouniversodaspossibilidadeséinfinito.
Figura 1 - A origem da Língua PortuguesaFonte:http://www.falemosportugues.com/semana_da_lingua/historia_da_lingua_final/index_historia_da_
lingua.html
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1.2 Língua falada X língua escrita
Retomando: são duas as modalidades da língua: a falada e a escrita; cada uma
temsuasespecificidadeseservemaopropósitocomunicativoemconformidade
com a situação, com a intenção e com os interlocutores. Apesar de ambas se originarem
de um mesmo código, a escrita não é simples transcrição da fala.
Vamos entender as diferenças e semelhanças entre estas modalidades?
Fala:Produção textual-discursiva oral.UsodesonsarticuladosesignificativosedeaspectosprosódicosEnvolveoutros cursos expressivos tais como gestualidade, movimentos, mímica.
Escrita:Produçãotextual-discursivagráficaModalidadecomplementaràfalaDesenvolvida e utilizada pelo homem em muitas culturas. Línguas ágrafas: línguas que não possuem escrita
Fala e escrita diferenciam-se conforme o uso e assemelham-se por
pertencerem ao mesmo sistema linguístico.
Tanto uma quanto a outra se estruturam por meio de uma gramática, são organizadas e contextualizadas de acordo com a intenção comunicativa e o contexto de produção, bem como se manifestam por meio de um determinado gênero textual (aula, palestra, notícia, resenha, artigo, etc.) (GERALDY, 1997)
Há gêneros escritos que se aproximam da oralidade, por exemplo, um bilhete
paraumamigo;outrossãooraise,noentanto,resultamdeleituras,anotações,como
uma aula expositiva presencial; outros, como os jornais televisos, são falados, mas os
textospertencemàmodalidadeescrita.
Portanto, os usos aproximam ou distanciam as duas modalidades. A questão do
usomodificandotantoafalaquantoaescrita,estudaremosemnossopróximomódulo
sobreasVariaçõesLinguísticas.
Escrevendo ou falando, é importante ressaltar que é assim que nos inscrevemos
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no mundo, que participamos dele. Escrever e falar são formas de doação para que outro
nos leia. Todos somos livros transitando pela biblioteca vida.
1.3 Texto 1 - A linguística e a linguagem
Durante o século XIX, o estudo da linguagem ou linguística tinha como preocupação
encontrar a origem da linguagem e das línguas, considerando o estado presente ou
atual de uma língua como resultado ou efeito de causas situadas no passado.
[...]
A partir do século XX, desenvolve-se a linguística, cujas principais ideias
podem ser resumidas:
-alinguageméconstituídaporduasdimensões:alínguaeafalaoupalavra.A língua é uma instituição social e um sistema, ou uma estrutura objetiva que existe com suas regras e princípios próprios, enquanto a fala ou a palavra é o ato individual de uso da língua, tendo existência subjetiva por ser o modo como os sujeitos falantes se apropriam da língua e a empregam. Assim, por exemplo,temosalínguaportuguesaeapalavraoufaladeCamões,Machadode Assis, Fernando Pessoa, Guimarães Rosa, a do leitor e a minha;- a língua é uma totalidade ou uma estrutura, isto é, nela o todo não é mera soma das partes e sim a articulação e organização de partes que são suas e que só possuem sentido e função por serem partes desse todo;- numa língua, distinguem-se o significante e o significado: o signo é oelementoverbalmaterialdalíngua(r,l,p,b,q,g,porexemplo)eosignificanteéumacadeiaouumgrupoorganizadodesignos(palavras,frases,orações,proposições, enunciados) que permitem a expressão dos significados egarantemacomunicação;osignificadosãoosconteúdosousentidosimateriais(afetivos,volitivos,perceptivos,imaginativos,evocativos,literários,científicos,retóricos,filosóficos,políticos,religiosos,etc.)veiculadospelosigno;- a necessário para todos os falantes da língua;- a língua é um código (conjunto de regras que permitem produzir informação e comunicação) e se realiza por meio de mensagens, isto é, pela fala/palavradossujeitosqueveiculaminformaçõesesecomunicamdemodoespecífico e particular (amensagem possui um emissor, aquele que emiteou envia a mensagem, e um receptor, aquele que recebe ou decodifica amensagem, isto é, entende o que foi emitido.- o sujeito falante possui duas capacidades: a competência (isto é, saber usar a língua) e o desempenho (a performance, o jeito pessoal e individual de usar a língua); a competência é a participação do sujeito em uma comunidade linguística e o desempenho são os atos de linguagem que ele realiza.
CHAUÍ,Marilena.ConviteàFilosofia.13.ed.São Paulo: Ática, 2003, p.153-154.
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MÓDULO 2 - VARIEDADES LINGUÍSTICAS
Vimos no módulo anterior que a mudança é uma peculiaridade das línguas.
Vamos conhecer um pouco mais desta característica.
As línguas se diferem porque procedem de ramos distintos ou porque, mesmo
precedentes do mesmo ramo, os falantes se localizam em regiões diferentes com
culturas próprias. Há semelhanças e diferenças entre elas e dentro delas. Todas as
línguas do mundo vivem mudanças em seu interior, que podem acontecer, inclusive,
devido ao contato com outras línguas.
Umexemplo:alínguaportuguesa,faladapormaisde220milhõesdepessoas,
élínguaoficialemoitopaíseseemnenhumdelesháigualdadetotalemrelaçãoàfala
eàescrita.Hámudançasnapronúncia(fonológicas),naspalavras(lexicais)enas
relaçõesentreelas(morfossintática)enossignificados(semânticas).
Interessantenotarque,apesardeseralínguaoficial,empaísescomoCaboVerde,
Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe, o português não é utilizado pela população no seu
cotidiano. Eles utilizam, comumente, os crioulos2, de base portuguesa. No entanto, a
línguaportuguesaestánosdocumentosoficiaiseadministrativosenazonacomercial.
Em São Tomé e Príncipe, o português
está associado à condição sociocultural: é falado pela população culta, pela classe
média e pelos donos de propriedade.3
Mesmo entre o português de Portugal e o do Brasil há diferenças imensas. Isso
acontece porque, apesar de o português brasileiro descender do europeu, a interação
que houve aqui – entre a língua do colonizador, as numerosas línguas indígenas
eafricanaseaslínguasdosemigrantes–modificouoportuguêsdePortugaleresultou
na língua que utilizamos hoje. Também há um dado importante: não há língua que
permaneça a mesma, depois de quinhentos anos de uso!
2 Crioulos: línguas mistas que nasceram do contato entre o idioma europeu e determinada língua nativa, conservando características das duas línguas. Disponível em http://www.instituto- camoes.pt/cvc/hlp/index.html3 informação disponível no Portal do Museu da Língua Portuguesa: http:// www.estacaodaluz.org.br
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É isso! A língua é diferente entre os países, mesmo quando é a mesma língua
faladaporeles.Elasemodificanocontatocomoutraslínguasesemodificanotempo.
Emais:elasemodificadentrodeummesmopaís,emfunçãodaspessoasqueausam
e em função do uso que se faz dela. Vejamos estas mudanças um pouco mais de perto.
Variação, mudança é mais que uma característica da língua: é uma condição de
existência. Poderíamos dizer: há muitas variedades na língua portuguesa do Brasil, logo
ela é uma língua viva.
Quando ela varia em função das pessoas que a usam, dizemos que ocorre
variação dialetal; quando varia em função do uso que se faz dela, ocorre variação
estilística, também chamada de variação de registro.
2.1Variaçãodialetal:regional,histórica,social,profissionaleetária.
2.1.1Variaçãoregionalougeográfica:ousoconformeolugaremquenasceu.
Como exemplo, leia trechos do texto no qual, Kleidir Ramil, músico e escritor
gaúcho, brinca com os diferentes dialetos:
No Rio é “e aí merrmão! CB, sangue bom! Vai rolá umach paradach”. Até eu entender que merrmão era “meu irmão” levou um tempo. Em São Paulo eles botam um “i” a mais na frente do “n”: “ôrra meu! Tô por deintro, mas não 12r inteindeindo”. E no interiorrr falam um erre todo enrolado: “a Ferrrnanda marrrcô a porrrteira”. Dá um nó na língua. A vantagem é que a pronúncia deles no inglês é ótima.Em Mins, quer dizer em Minas, eles engolem letras e falam Belzonte, Nossenhora e qualquer objeto é chamado de trem. Lembrei daquela história do mineirinho na plataforma da estação. Quando ouviu um apito, falou apontando as malas: “Muié, pega os trem que o bicho tá vindo”.No nordeste é tudo meu rei, bichinho, ó xente. Pai é painho, mãe é mainha, vó é vóinha. E pra você conseguir falar com o acento típico da região, é só cantar sempre a primeira sílaba de qualquer palavra numa nota mais aguda que as seguintes. As frases são sempre em escala descendente, ao contrário do sotaque gaúcho.Mas o lugar mais interessante de todos é Florianópolis, um paraíso sobre a terra, abençoado por Nossa Senhora do Desterrro. Os nativos tradicionais, conhecidos como Manezinnhos da Ilha, têm o linguajar mais simpático da nossa Língua Brasileira. Chamam lagartixa de crocodilinho de parede. Helicóptero é avião de rosca (que deve ser lido rôchca). Carne moída é boi ralado. Se você quiser um pastel de carne precisa pedir um envelope de boi ralado. Telefone público, o popular orelhão, é conhecido como poste de prosa eafichadetelefoneépastilhadeprosa.Ovo,eleschamamdesementedegalinha, e motel é lugar de instantinho.”
(Para ler este texto na íntegra, acesse http://www.cantadoresdolitoral.com.br/k/index.html)
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2.1.2Variaçãohistórica:sãoastransformaçõesocorridasnodecorrerdotempo.
Para comprovar este tipo de variação, leia abaixo o fragmento do texto de Carlos
DrummonddeAndradeevejaseépossíveldecodificá-lo.
Antigamente
Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas mimosas
e muito prendadas. Não faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os
janotas, mesmo sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando a asa, mas
ficavamlongosmesesdebaixodobalaio.[...]
Carlos Drummond de Andrade
2.1.3 Variação Social: conforme o meio social em que foi criada e o nível de escolaridade.
Leia um trecho do poema “Aos poetas clássicos” de Patativa do Assaré, poeta cearense
que só passou seis meses na escola:
Poetas niversitário,Poetas de Cademia,De rico vocabularoCheio de mitologia;
Se a gente canta o que pensa, Eu quero pedir licença,
Pois mesmo sem portuguêsNeste livrinho apresentoO prazê e o sofrimento
De um poeta camponês.
Eu nasci aqui no mato,Vivi sempre a trabaiá,
Neste meu pobre recato,Eu não pude estudá.
No verdô de minha idade,Só tive a felicidade
De dá um pequeno insaioIn dois livro do iscritô,
O famoso Filisberto de Carvaio.[...]
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Vale, pelo encanto da leitura, você ler o restante deste poema que está disponível
em http://www.tanto.com.br/patativa-classicos.htm. Procure também conhecer mais
sobre este poeta.
2.1.4Variaçãoprofissionaloudefunçãocertasprofissõespossuemalgumalinguagem
técnica (ou jargões) específica a elas. No entanto, quando os falantes utilizam esta
variedade fora do grupo a que lhe deu origem, pode parecer pedantismo ou forma de
intimidaçãodointerlocutorquenãoconheceovocabuláriodaprofissão.
2.1.5 Variação etária: conforme a idade do falante. A gíria é um exemplo típico desta
variação.VejacomoestetextodeMárioQuintanatambémexplicaeexemplificabema
relação entre a idade e a forma de uso da língua pelo falante:
Há palavras que ninguém emprega. Apenas se encontram nos dicionários como velhas caducas num asilo. Às vezes uma que outra se escapa e vem luzir-se desdentadamente, em público, nalguma oração de paraninfo. Pobres velhinhas...Pobre velhinho!
QUINTANA, Mário. Triste História, em Porta Giratória.São Paulo: Globo, 1988, p. 20.
Vimos anteriormente que existem duas formas de variação da língua: em função
das pessoas que a usam – variação dialetal; e em função do uso que se faz dela –
variação estilística, também chamada de variação de registro. Estudaremos agora esta
segunda forma de variação.
2.2 Variação estilística ou de registro
São variedades que ocorrem em função do uso que se faz da língua
(dependem do emissor, do receptor, da mensagem ou da situação). São de três tipos:
• graudeformalismo(comgradaçõesentreoformaleoinformal);
• modalidade (língua falada ou escrita);
• sintonia (de acordo com o status, a cortesia e a norma).
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2.1.1 Grau de formalismo: a maior formalidade decorre de um maior cuidado e apuro no
uso e na variedade dos recursos da língua, “aproximando-se cada vez mais da língua
padrão e culta em seus usos mais ‘sofisticados’ (literários, obras científicas, etc.)”.
(TRAVAGLIA, 1997, p.51)
Os recursos da língua são aqueles do nível fonológico, sintático, lexical e estilístico.
2.1.2 Modalidade: são os modos – falado ou escrito – de expressão linguística.
Já vimos um pouco desses modos em aulas anteriores. Vamos recapitular
algumas diferenças entre eles:
Língua falada Língua escrita
Intercâmbio entre falante e ouvinte.A comunicação se dá, normalmente, na
ausência de um dos participantes.A produção e a execução acontecem
simultaneamente, por isso é pontilhada
de marcações tais como pausas,
interrupções,retomadas,correções.
A produção acontece antes da interação.
Houve tempo para a elaboração, por isso,
normalmente, são desnecessárias as
mesmasmarcaçõesdafala.
Grau de formalidade nos modos falado e escrito: em ambos podem-se empregar
diferentes graus de formalidade. Logo, não podemos associar língua falada à
informalidadenemlínguaescritaàformalidade.
O grau de formalidade, em qualquer modo, irá variar de acordo com o falante /
escritor, com o ouvinte / leitor, com o grau de intimidade entre os interlocutores e com o
contexto gerador da comunicação.
Bowen, citado por Travaglia (1997, p.53) considera que são cinco os graus de
formalismodistintos,tantonalínguaoralquantonaescritaepropõeoseguintequadro:
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VARIEDADES DE MODO
VARIANTES DE GRAU DE FORMALISMO
Língua falada Língua escritaOratório
Formal (deliberativo)Hiperformal
FormalColoquial Semiformal
Coloquial distensoFamiliar
InformalPessoal
De oratório (discurso muito elaborado) a familiar (fala particular, íntima), assim
como de hiperformal (equivalente escrito de oratório) a pessoal (notas para uso próprio,
bilhetes para conhecidos), a língua nos oferece inúmeros recursos. O que temos de
fazer é aplicar estes recursos adequadamente ao contexto e ao nosso interlocutor. (Leia
Texto 2, página 27: “Variedades de modo e de grau de formalismo”)
Seria inadequado, por exemplo, enviar um bilhete para o diretor de sua faculdade
com o grau de formalismo pessoal; ou utilizar uma escrita hiperformal em uma
cartaaumamigo.Adequaçãoéapalavra-chaveparaabrirasportasdeumaeficiente
comunicação.
2.1.3 Sintonia: “é o ajustamento na estruturação de seus textos que o falante faz, com
baseem informaçõesespecíficasque temsobreoouvinte”. (TRAVAGLIA,1997,56).
Este ajustamento, segundo Travaglia (1997), ocorre em função:
• do status do interlocutor;
• dovolumedeinformaçõesouconhecimentosqueofalantesupõetero
ouvinte sobre o assunto;
• dacortesia:variaçãoqueocorredevidoàdignidadequeofalante
consideraapropriadaaoouvinteouàocasião;
• da norma: ocorre quando se dirige a determinado ouvinte considerando
o que ele julga bom em termos de linguagem.
Deste estudo sobre variações linguísticas, podemos concluir que tanto
podemos conhecer a língua pelo uso que as pessoas fazem dela, como conhecer as
culturas das pessoas pelo uso que estas fazem da língua. Podemos também concluir
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que não podemos considerar certo ou errado o uso de uma variedade distinta da
nossa. Tudo é uma questão de adequação, ou seja, do melhor uso dos recursos em
conformidade com a situação e com os interlocutores.
No entanto, é comum em nosso meio, devido ao prestígio da norma padrão culta,
o preconceito contra o uso de outras variedades não padrão. O próprio fato de nomear
a variedade como Norma Culta traz o pressuposto de que a outra variedade é inculta.
Eissonãoéumaverdade.Éimportantesabermosquetodavariedadeconfigura-seem
regras e possui sua complexidade.
Não se trata de desprestigiar a norma padrão ou de transformar a não padrão em
padrão (inclusive estamos aqui para aprender e exercitar a variedade padrão): trata-se
de defender os vários usos da língua e de promover o respeito aos usuários de
qualquer variedade.
Voltemos ao poema de Patativa do Assaré: este poeta não conheceu os bancos
de uma faculdade, no entanto escreveu poemas como uma roseira produz rosas. Se
fôssemos desprezar seus versos porque não estão de acordo com a norma culta, não
sentiríamos o perfume de suas palavras. Perde cada um que, pelo preconceito, não
escuta o outro ou não permite que ele fale e, consequentemente, perde a comunidade
humana, que se forma e se sustenta na linguagem.
2.2 Texto 2 - Os graus de formalismo nas variedades de modo
A) Língua Falada
1. Oratório: elaborado, intrincado, enfeitado, inteiramente composto de períodos
equilibradoseconstruçõesparalelas.Éusadoquaseexclusivamenteporespecialistas,
tais como: advogados, sacerdotes e outros oradores religiosos, políticos, etc. e é
sempre reconhecido como apropriado para uma situação muito formal. Poder-se-ia
citarexemplostiradosdenossaliteratura,taiscomoossermõesdoPadreAntônio
VieiraeasoraçõesdeRuiBarbosa.
2. Deliberativo: usado quando se fala a grupos grandes ou médios, em que se
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excluem as respostas informais. É preparado previamente e mantém de propósito
uma distância entre falantes e ouvintes. Diferenciando-se do grau de formalismo
Coloquial, o deliberativo se caracteriza por sentenças que são mais rigorosamente
definidas,porumnúmeromaisreduzidodesentençascurtas,porumvocabulário
maisrico,commuitosinônimosouquasesinônimos,usadosparaevitarrepetições
léxicas desnecessárias, mostrando assim uma preocupação do falante com o estilo
de expressão. Frequentemente é muito difícil para os falantes uma aquisição de uma
performance nesse nível, embora entendam o que ouvem e apreciem as habilidades
reveladaspelosoutros.Conferênciascientíficasnormalmentesão realizadascom
esse nível de formalidade.
3. Coloquial: comumente aparece no diálogo entre duas pessoas, ambas participantes
ativas, alternando-se no papel de falante e emitindo sinais de realimentação, quando
na posição de ouvinte. Sem planejamento prévio, mas continuamente controlado, é
caracterizadoporconstruçõesgramaticaissoltas,repetiçõesfrequentes,frasesbem
curtas e conectivos simples, léxico constituído de palavras de uso mais frequentes.
4. Casual (Coloquial distenso): nesse nível percebe-se uma completa integração entre
falante e ouvinte, com o uso frequente de gíria, que é um indicador do relacionamento
próprio de um grupo fechado (linguagem particular ou semiparticular). É caracterizado
pela omissão de palavras e pouco cuidado em sua pronúncia, que pode ocorrer
com mudanças de sons, sem seus finais, etc. Seriam exemplos desse nível as
conversaçõesdescosntraídasentreamigos,colegasdetrabalho.
5. Íntimo (familiar): inteiramente particular, pessoal, usado na vida familiar privada.
Este grau de formalismo é a língua em que há a intimidade da afeição. Aparecem
portanto muitos elementos da linguagem afetiva com função emotiva.
B) Língua escrita
1. Hiperformal: o equivalente escrito do oratório. Uma composição escrita para efeitos
grandiososousublimes.Umapoesiaquesegueestritamenteospadrões formais,
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como o soneto, seria um exemplo. Um poema épico, romances de autores como
Machado de Assis e José de Alencar.
2. Formal: apresenta características semelhantes ao deliberativo, numa forma de
linguagem cuidada na variedade culta e padrão, mas dentro do estilo escrito. É o
caso da escrita de bons jornais e revistas, por exemplo, cuidadosamente
editadaeelaborada.Correspondênciasoficiaisnormalmenteseenquadramneste
nível.
3. Semiformal: corresponde na escrita ao coloquial, mas tem um pouco mais de
formalidade que este. É a forma de língua que encontramos, por exemplo, em cartas
comerciaisederecomendação,declarações,reportagensescritasparaposterior
leiturapeloslocutoresnasrádiosetelevisões,relatórioseprojetos.
4. Informal: é o caso de correspondência entre membros de uma família ou amigos
íntimosecaracteriza-sepelousodeformasabreviadas,abreviaçõespadronizadas,
ortografiasimplificada,construçõessimples,sentençasfragmentadas.
5. Pessoal: quase sempre notas para uso próprio. Como exemplos podem-se citar um
recado anotado ao telefone, um bilhete que deixamos para avisar alguém da casa de
algo ou mesmo uma lista de compras de uma dona de casa.
BOWEN apud TRAVAGLIA, Luiz Carlos.Gramática e Interação: uma proposta para
o ensino de gramática no 1º e 2º graus.3.ed. São Paulo: Cortez, 1997, p.54-55. (Adaptado)
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MÓDULO 3 - TEXTO E TEXTUALIDADE
Texto é a concretização de toda forma de linguagem. A linguagem realizada,
atualizada, ou seja: o que antes era potência materializou-se! A linguagem pode se
materializar, por exemplo, em qualquer imagem, numa música; ou em uma única palavra
ou ainda na junção entre as inúmeras formas de materialização.
Falamos em nossa primeira aula que pretendíamos, com a disciplina de Leitura
e Interpretação de Textos, ‘uma maior proximidade com a linguagem por meio de
conhecimentos sobre a língua e de sua forma de materialização na comunidade humana,
ouseja,otexto.’Dessaforma,nósdelimitamosnossocampodeestudoaotextocomo
resultado de materialização da língua. No entanto, o estudo de outras realizações
textuais será importante para ampliarmos nossa capacidade textual, nossa capacidade
de lermos e compreendermos qualquer tipo de texto.
Portanto,comafinalidadedefavorecernossosestudos,dividiremosostextosem
verbais e não verbais. Os verbais podem ser oral (sonoro) ou escrito (visuais, táteis – no
caso do braille); os não verbais podem ser visuais, sonoros, táteis, olfativos, gustativos.
Resumindo:tudooquepassapelofiltrodoscincosentidosseráumtexto,desdeque
existaaconstruçãodeumsignificado.
Faça o seguinte, então, para exercitar a leitura dos textos (não verbais e verbais):
saia por aí lendo a vida explodindo em cores – leia a natureza, as pessoas, o vento,
os sons, o silêncio. Leia tudo e descubra que ler é, antes de tudo, sentir. Esta leitura
da vida a partir do exercício dos cinco sentidos ampliará de tal maneira seu
conhecimento de mundo que lhe permitirá a leitura e o conhecimento dos demais textos.
É claro: esse é o primeiro passo! Vamos seguir nossa jornada.
Uma vez que não conseguimos estudar neste espaço todos os tipos de textos
não verbais, delimitaremos as imagens.
3.1 Textos não verbais: Imagens
Uma imagem é fonte riquíssima de comunicação. Podemos utilizá-la até para
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construirmos um texto escrito ou falado. Assim como podemos utilizar o escrito para
construir uma imagem. Ambos os casos dependerão da existência da compreensão do
texto original.
Diferenças e semelhanças na leitura De textos verbais e não verbais.
Uma diferença é que é que os textos verbais são lineares. Quando vemos uma
imagem, nossos olhos captam o conjunto, não há necessidade de saber a ordem que
os elementos foram colocados para construir o sentido da imagem. No texto escrito há
uma relação entre as palavras, as frases, os parágrafos. Esta relação é um dos fatores
que determinam a existência de um texto como texto escrito ou falado; é uma relação da
qual depende a construção do seu sentido.
A semelhança entre os textos escritos e falados está nos fatores de construção
do sentido: quanto mais soubermos sobre as circunstâncias e a época em que o texto foi
criado, sobre seu autor e sua intenção com aquele texto, sobre as ideias que defendia ou
defende, mais saberemos sobre o texto; maior será o sentido que dele construiremos.
De acordo com Roland Barthes,
lerimagenssignificaclassificarseussignificados,entenderseusentido,atentarparaotrajetodoolhar,asimpressõesvisuaisglobais,asrupturasoucontradiçõesentreoqueépercebidoeoqueécompreendido.Issoé mais amplo do que uma simples leitura. A imagem não é um texto sem palavras, e ler imagens é, sobretudo, analisar os signos e sua produção, desenredar as relações existentes entre os diferentes elementos,descobrir o latente atrás do aparente, o não visível através do invisível, o óbvio e o obtuso, o dito e o não- dito. (BARTHES, 1990)
VamosaceitarodesafioimplícitonaspalavrasdeBartheseleraseguinteimagem:
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Ambiguidade visual.Disponível em http://www.possibilidades.com.br/possibilimagens/frame_ambiguidades.asp.
Acesso em dezembro de 2012
Conhecendo ou não a pintura, os olhos de seu observador primeiramente se
fixarãoemumpontoapartirdoqualcomeçaráavagarportodooresto.Amentefica
naânsiadosignificadoecomeçaatecerhipóteses.Oquevemos?Rostoshumanos
enfileirados,unsacimaoutrosabaixo,ocupandoquasetodaatelae,nofundo,algumas
chaminés, das quais uma com fumaça e, mais ao fundo, prédios e, por trás e acima
deles o céu.
Oqueissoquerdizer?Arespostaficariaapenasnessadescrição.Porémtemos
outros dados que nos permitirão ampliar esta leitura:
Que imagem é esta? Óleo sobre tela; gênero retrato.
Qual o título da tela? Os Operários
Quem é o autor? A artista Tarcila do Amaral.
Em que época e sob quais circunstâncias foi pintado? 1933;
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modernismo; desenvolvimento industrial brasileiro; chegada dos
emigrantes ao Brasil.
Que ideias a artista defende ou a quais discursos ela se associa?
Discurso de extrema esquerda. A artista defendia os mesmos
ideais socialistas da Rússia.
Agora, de posse dessas informações, podemos fazer a seguinte leitura: os
operários,anônimos,vindosdetodapartedomundo(vejamasdiferentesfisionomias)
sustentam as fábricas. Eles é que produzem a riqueza daqueles que sequer aparecem.
Eles são muitos rostos, uma multidão sem individualidade; explorados e oprimidos só
ostentam a tristeza e o vazio em cada face.
Viram?As informações ampliaram nossa visão e permitiram uma leituramais
apurada.Noentanto,essaleituranãoesgotatodoosignificadodatela,poisasimagens
são formadas de ideias e sentimentos vários, mais que de palavras. Estas podem até falar
sobreaimagemedescrevê-la,masnãopodemdesvendartodoseuvalorsignificativo.
Apesardisso,comoleitores,continuamosnossabuscapelosignificado,subvertendoa
lógica e atravessando as fronteiras do óbvio.
3.2 O texto verbal e os fatores de textualidade
O que faz um texto ser um texto? Palavras estruturadas em frases; frases
estruturadas em parágrafo; parágrafos estruturados em...? Claro que não. Um texto é
muitomaisqueumafileiradefrases!
Segundo estudos linguísticos realizados na década de 80 por Beaugrande e
Dressler e compartilhado pela linguistas brasileiros, existem algumas propriedades que
otextonecessitapossuirparaseconfigurarcomtal,parapossuirtextualidade.Sãoelas:
Linguísticas:
Coesão
Coerência
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Pragmáticas:
Situacionalidade
Intencionalidade
Informatividade
Aceitabilidade
Intertextualidade
Comecemos pelas pragmáticas:
Situacionalidade: todo texto necessita de um contexto. Existe uma situação da
qual ele se origina e se sustenta.
Intencionalidade: todo autor tem a intenção de favorecer a construção de algum
significado. Logo, todo texto, resultado dessa intenção, é passível de construção de
sentido.
Aceitabilidade: o leitor tem que aceitar o que está sendo dito. E aceitar, neste
caso, é diferente de concordar. É que o leitor tem que fazer uma espécie de pacto
com o autor para que a leitura aconteça. Caso contrário ou a leitura não se inicia ou é
interrompida. Para que o pacto aconteça o texto precisa ser aceitável e “o leitor tem
quefazertodooesforçonecessárioparaprocessarossentidoseasintenções
expressas” (ANTUNES, 2010, p.34)
Informatividade: todo texto se compõe (também) de informações. Elas são
corresponsáveis pela progressão textual. A informação é o novo que é acrescentado ao
texto; é o novo sobre o que está sendo dito.
Intertextualidade: já é lugar comum dizer que todo texto é um intertexto. Mas
é bom que se diga: Roland Barthes foi quem o disse. Isso é que acontece nos
textos: formam-se a partir de outros, mesmo que nem sempre reconheçamos o texto
original. Por exemplo: esta nossa disciplina é um intertexto. Você poderá comprovar as
intertextualidadespelascitaçõesetambémpelareferênciabibliográficaqueseencontra
nofinaldosestudos.
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Veremos mais detalhadamente a intertextualidade, a coesão e coerência, pois
estesfatores,segundoalinguistaIrandêAntunes,pertencemàconstruçãomesmado
texto.Noentanto,emsuasleituras,fiqueatentoatodasaspropriedades,poiselas
colaboramparaaconstruçãodosignificado.
3.3 Texto 3 - Textualidade: Os limites do texto.
Em uma das minhas aulas de português perguntei aos alunos o que eu precisava
para fazer um texto, e eles me falaram “palavras”, “sentidos”, “estrutura”, “caneta”, “papel”,
“computador”. Dando continuidade para a aula, e para que eles pudessem comparar,
perguntei também o que eu precisava para construir uma casa, aí falaram: “pedreiro”,
“tijolos”, “alicerce”, “terreno”, “dinheiro”, “planta”. Surpreendeu-me essas respostas e
disse a eles que construir um texto é como construir uma casa, se para construirmos
uma casa precisamos de um pedreiro, para construir um texto precisaríamos de quê?
A presença dos sujeitos
Alguém levantou a mão e falou “de um autor”. Isso. E quando eu faço um texto,
eu preciso apenas de um autor? Eles se calaram e depois de um tempo, “e de um
leitor”. Comparar a construção de um texto com uma casa foi eficaz, pois quando
pensamosnacasalembramos-nosdopedreiro,afinal,éumtrabalhoduro.Agoraeo
texto? Por que ninguém se lembra do autor? Ele também constrói o texto, ele também
aplica determinada energia na produção de um texto, mas me dá a impressão de que as
escolas, no ensino de português, se esquecem de falar isso para os alunos, que fazer
um texto é um compromisso e esse compromisso requer uma prática. Eu não preciso
me esconder no texto. Em todos eles há um autor.
Agora, o processo inverso também é verdade. O leitor é tão importante quanto
o autor. Sem o leitor o texto não existiria. É para ele que produzimos o texto. Sempre
devemos ter em mente ao produzir um texto que o leitor deve ler o texto e deve ter
alguma reação ao lê-lo. Ao escrever um texto deve-se ter em mente quem será o leitor
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do meu texto?
O contexto no texto e o texto no contexto
Também os alunos falaram em terreno para a construção da casa, mas para
o texto não falaram nenhum correspondente. Fica claro para eles que sem terreno
não há casa, e devemos levá-lo em conta, analisar quem está em volta, os vizinhos, se
o terreno aguenta o peso da casa, etc. No texto é a mesma coisa, devemos olhar em
nossa volta, o contexto em que o texto está sendo produzido é extremamente importante
na produção do texto tanto para servir de tema, quando para servir de base teórica. É
o contexto que vai nos indicar o que podemos escrever, o que podemos ler, o como
proceder para transformar o texto, etc. Terreno e o contexto irão sustentar o texto, servir
tanto de tema como base para um bom texto. Sem contexto não há texto, já que esse
existe em determinado espaço-tempo. O texto está inserido na história. E a história
também servirá de trama para este texto.
A estrutura e o alicerce
Outra questão importante é o alicerce. Ele servirá de esqueleto para a casa da
mesma forma que para o texto realmente é importante a estrutura, cada tipo de texto
terá seu alicerce, ou seja, sua forma. Uma dissertação não se escreve da mesma forma
queumanarraçãoevice-versa.Issoprecisaficarclaroparaoaluno.Também,separa
acasaprecisamosdeumaplanta,ouseja,umesboçoanterioràconstrução,parao
produtor de um texto é importante um planejamento. Antes de escreve eu devo pensar
“o que eu vou escrever?”, “para quê?”, “Como eu pretendo escrever?”. Se respondermos
essasperguntasantesdeproduzirumtexto,entãoeleficarámaisorganizado.
A palavra como material interacional
Porém, de todos os elementos que os alunos falaram o mais importante para o
texto é sem dúvida a palavra. É através dela e para ela que escrevemos. A palavra é
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o momento sublime da linguagem. A ponte entre os sujeitos da comunicação (autor e
leitor), a ponte que passa do sujeito para o contexto (o mundo), a palavra é o trator que
derruba impérios e muros, a ponte que liga a infelicidade da felicidade. É a palavra que
faz com que nos tornemos humanos, demasiadamente humanos. É a palavra o tijolo da
linguagem, é ela o material do texto, a substância, é através dela que vamos nos refugiar
no mundo e do mundo, expressando o que temos em nosso interior, seja ódio, seja o
medo, seja o sonho, seja a vontade de passar uma ideia. Produzir um texto, assim como
ler, é mostrar para o que é externo em nosso corpo, a fúria do eu. A fúria que ronda toda
e qualquer subjetividade. A fúria da libertação de qualquer escravidão. Produzir texto é
respirar. A palavra é o produto material do texto, direcionando o sentido dele.
NAGAI, Eduardo Eide. Textualidade: os limites do texto.
Disponível em http://meuartigo.brasilescola.com/portugues/textualidade-os-limites-texto.htm.
Acesso em dezembro de 2012.
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MÓDULO 4 - COESÃO E COERÊNCIA
Coesão é um recurso da língua utilizado para ligar diferentes partes do texto em
diferentes momentos de sua produção.
As palavras e frases de um texto estão relacionadas entre si. [...] A ligação,arelação,aconexãoentreaspalavras,expressõesoufrasesdotexto chama-se coesão textual. Ela é manifestada por elementos formais, que assinalam o vínculo entre os componentes do texto. (PLATÃO; FIORIM, 1997, p.370).
Os elementos coesivos estabelecem relações lógicas entre os segmentos do
texto e fazem referência a outros elementos presentes na estrutura textual. Conhecer
estes elementos e seus mecanismos de atuação é importante tanto para o produtor
quanto para o leitor do texto, pois eles favorecem a construção do sentido.
Há duas grandes modalidades de coesão: a referencial (por remissão) e a
sequencial.
4.1 COESÃO REFERENCIAL
Ocorre quando um elemento faz remissão a outros componentes do texto. A
remissão pode ser feita para trás (anáfora) e para frente (catáfora), por meio de recursos
gramaticais, lexicais (reiteração ou contiguidade) ou por elipse.
- De orDem gramatical:
pronomes pessoais de 3ª pessoa (retos e oblíquos) e os demais
pronomes (possessivos, demonstrativos, indefinidos, interrogativos,
relativos)
numerais
advérbios pronominais (aqui, aí, lá, ali)
artigosdefinidos.
Exemplos:
Heitor encontrou uma cachorrinha, pequena e toda branquinha, e deu a ela o
nomedeDela.Todososdias,DelaficavajuntoaoportãoesperandoHeitorapontarlá
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na esquina. Ela dava pulos de alegria quando o via.
- De natureza lexical por reiteração:
repetição do mesmo item lexical
A atriz parecia nervosa. A atriz havia sido vítima de um assalto.
sinônimos
Um menino entrou depressa no supermercado. O garoto parecia estar fugindo de
alguém.
hiperônimos / hipônimos
Pardais e maritacas faziam uma algazarra no telhado. Estas aves ficavam
enloquecidas de alegria com o nascer do sol.
Aves: termo mais amplo, hiperônimo de pardais e maritacas.
Pardais emaritacas: termosmais específico em relação a aves; hipônimo de
aves.
nomes genéricos:
Amor, desilusão, alegrias, sofrimentos... coisas da vida.
epítetos
Ayrton Senna foi um dos maiores esportistas brasileiros. Todo o mundo lamentou
quando o grande campeão da Formula I perdeu a vida em Ímola.
nominalização.
Eles foram testemunhar sobre o caso. O juiz disse, porém, que tal
testemunho não era válido por serem parentes do assassino.
-Denaturezalexicalporcontiguidade:vínculosdesignificaçãoporassociação.
Exemplos:
O banco foi assaltado. Policiais que passavam em uma viatura conseguiram
capturar os bandidos.Elesforamconduzidosàdelegacia.
Observe que há entre as palavras destacadas uma proximidade de
significação.
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- elipse:
Ocorre quando algum elemento do texto é substituído por zero.
Exemplos:
Heitor encontrou uma cachorrinha; eu { } um pombo azul.
A remissão para frente – catáfora – realiza-se preferencialmente por
pronomes demonstrativos ou indefinidos neutros (isto, isso, aquilo, tudo, nada) ou
por nomes genéricos, mas também por meio das demais espécies de pronomes, de
numerais e de advérbios pronominais.
Exemplos: Tudo colaborou para minha decisão: o atraso, o tempo, a solidão e a saudade.
A coesão por remissão tem também a função de sinalizar o texto através de
orientaçõesou indicaçõesparacima,parabaixo,paraa frenteepara trás,ouainda
estabelecendo uma ordenação entre segmentos textuais ou partes do texto.
Exemplo:
No módulo anterior, estudamos as variedades da língua. Neste, vimos
que a coesão é um dos fatores de textualidade. A seguir, veremos como
realizar a coesão de modo a garantir a coerência de um texto. Depois,
apresentaremos uma lista de elementos coesivos gramaticais com seus
respectivossignificados.
4.2 COESÃO SEQUENCIAL
A coesão sequencial faz o texto avançar, garantindo a continuidade do sentido. Ela
se realiza por encadeamentos que podem ser obtidos por justaposição (sem a presença
deconectores)ouporconexão(comapresençadeconectores:conjunções,locuções
conjuntivas, prepositivas e adverbiais).
Exemplos:
Justaposição: O barraco desmoronou. As chuvas dessa noite foram muito
violentas
Conexão: “Acho que as escolas terão realizado sua missão se forem capazes de
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desenvolver nos alunos, o prazer da leitura”
Os elementos coesivos têm a função de direcionar o leitor no texto. Ele funciona
como uma placa de trânsito. Agora, imagine uma placa incorreta enviando as pessoas
para lugares indevidos! Assim acontecerá, caso utilizemos indevidamente os elementos
coesivos:deixaremosnossoleitorperdidoeosignificadopretendidonãopoderátransitar
pelo texto. Por isso, devemos conhecer bem estes elementos.
Eisalgunsrecursoslinguísticosqueestabelecemrelaçõesentreoselementosdotexto:
I–Conjunções,locuçõesconjuntivas,preposiçõeselocuçõesprepositivas:
1 - Adição – e, nem, também, não só... mas também.
2 - Alternância – ou... ou, quer... quer, seja... seja.
3-Causa–porque,jáque,vistoque,graçasa,emvirtudede,por(+infinitivo)
4 - Conclusão – logo, portanto, pois.
5 - Condição – se, caso, desde que, a não ser que, a menos que.
6 - Conformidade: conforme, segundo.
7 - Comparação – como, assim, como.
8 - Consequência – tão... que, tanto... que, de modo que, de sorte que, de
forma que de maneira que.
9 - Explicação – pois, porque, porquanto.
10-Finalidade–paraque,afimdeque,para(+infinitivo).
11 - Oposição – mas, porém, entretanto, embora, mesmo que, apesar de
(+infinitivo)
12-Proporção–àmedidaque,àproporçãoque,quantomais,quanto
menos.
13 - Tempo – quando, logo que assim que toda vez que, enquanto, toda vez
que.
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II – Pronomes relativos: qual, cujo, quanto, que, quem, onde, quando, como
Para empregar um pronome relativo, antes observe:
1 - A palavra a que ele se refere para evitar erros de concordância verbal.
2 - O fragmento de frase de que ele faz parte. Pode ser que haja um verbo
ou um substantivo que exija uma preposição. Nesse caso, ela deve preceder
o relativo.
III – Conectivos de transição: aparecem iniciando frases estabelecendo uma ponte entre
um pensamento e outro, entre um parágrafo e outro. O conhecimento desses termos de
transição possibilita uma maior organização do pensamento e faz o texto progredir mais
facilmente.
1 - Afetividade: felizmente, pudera, oxalá, ainda bem (que).
2 -Afirmação: com certeza, indubitavelmente, por certo, certamente, de
fato.
3 - Conclusão: em suma, em síntese, em resumo.
4 - Consequência: assim, consequentemente, com efeito.
5 - Continuidade: além de, ainda por cima, bem como, também.
6 - Dúvida: provavelmente, quiçá, talvez.
7 - Ênfase: até, até mesmo, no mínimo, no máximo, só.
8 - Exclusão: apenas, exceto, menos, salvo, só, somente, senão.
9 - Explicação: a saber, isto é, por exemplo.
10 - Inclusão: inclusive, também, mesmo, até.
11 - Oposição: pelo contrário, ao contrário de.
12 - Prioridade: em primeiro lugar, primeiramente, antes de tudo, acima de
tudo.
13 - Restrição: apenas, só, somente, unicamente.
14-Retificação:aliás,istoé,ouseja.
15 - Tempo: antes, depois, então, já, posteriormente.
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Coerência
Podemos definir coerência ao compreendermos o oposto (antônimo) desta
palavra: incoerência. Muitas vezes percebemos que uma situação é tão inadequada em
relação a outra, que a chamamos de incoerente: Vejamos alguns exemplos:
Música clássica em festa funk; desperdício de água em tempo de seca; ir a uma
festa para comemorar a tristeza; estudar e não passar de ano; votar em um político
sabendo que ele não fará nada do prometido.
O mundo extratextual está repleto de incoerências e nós convivemos com elas e
nosesforçamosparajustificá-las,poisnossamentesemprebuscaporcoerência.Porém,
no mundo intratextual há algumas regras para evitar a incoerência. Vamos conhecê-las
daqui a pouco. Antes, precisamos saber o que representa a coerência para um texto.
Um texto pode ter uma situação à qual está vinculado. Mas se ele não tem
coerência, ele nada tem. Ele pode ter elementos coesivos, mas se ele não tem coerência,
elenada tem.Elepode ter intertextos, informações, intenções...masseelenão tem
coerência...
A palavra coerência, da mesma família de aderência e aderente, provém dolatimcohaerentia(formadadoprefixoco=juntocom+verbohaerere=estarpreso).Significa,poisconexão,uniãoestreitaentreváriaspartes,relação entre ideias que se harmonizam, ausência de contradição (PLATÃO & FIORIM, 1997, p.393)
Aspalavras-chavedestadefiniçãosão,portanto,uniãoeharmonia.Palavras
imprescindíveis tanto ao mundo intratextual quanto ao extratextual. Por isso nos
esforçamos sempre por coerência! Devido a esse esforço, percebemos que nós, como
leitores, somos corresponsáveis pela coerência de um texto. Para a linguista Maria da
Graça Costa Val (1999),
a coerência não é um mero traço dos textos, mas sim o resultado de processos cognitivos entre os usuários do texto, ou seja, ela é construída poroperaçõesde inferência;um textonão temsentidoemsimesmo,mas faz sentido pela interação entre os conhecimentos que apresenta e o conhecimento de mundo de seus usuários.
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Recapitulando: a coerência deve existir na elaboração do texto, na relação que
este texto mantém com um contexto (situação externa e anterior a ele) e na relação que
o leitor mantém com o texto. Ou seja: ela deve existir antes, durante e depois do texto.
No texto e na sua construção, quatro regras existem para favorecer a coerência.
São elas a repetição, a progressão, a não-contradição e a relação. Vejamos uma
a uma.
4.3 Repetição
Palavras e ideias pertencentes ao tema devem ser mantidas ao longo do texto. Elas
se repetem utilizando um item lexical ou gramatical (como vimos na coesão referencial).
Nada no texto ocorre por acaso: algo que foi falado deve ser retomado em momentos
diferentes do texto. É como um bordado: se a agulha não volta para retomar um ponto,
opontodafrenteficasolto,comprometendonãosóaharmoniacomoasustentaçãodos
pontos.
Pela repetição garante-se a continuidade do sentido. Ela pode acontecer também
para dar maior expressividade ou para enfatizar uma ideia.
4.4 Progressão
Umtextodeveprogredirtrazendonovasinformaçõesparaaqueleelementoque
foi repetido. Repete, retoma o que foi dito e acrescenta algo novo; repete, retoma o que
foi dito e acrescenta algo novo, e assim sucessivamente no decorrer do texto. Seguindo
a metáfora do bordado, repetindo e progredindo, o desenho se forma.
No poema de Carlos Drummond, a própria repetição do verbo devagar serve ao
propósito da progressão: tudo devagar para caracterizar uma cidadezinha do interior. Ao
finaldopoema,nodesenhoda“vidabesta”,podemosquaseouvirozumbidodeuma
mosca preguiçosa. Ou seja, o texto, por sua coerência, nos remete, também, para fora
dele.
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Cidadezinha qualquer
Casas entre bananeirasmulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham.
Eta vida besta, meu Deus.
4.5 Não-contradição
Um texto deve retomar, progredir e reafirmar-se, ou seja, não ir contra o que
foi dito. Se um texto é uma dissertação contra a violência, por exemplo, e num dado
momento passar a defender a pena de morte, houve contradição. Mas não podemos
confundir a contradição com o contraste; este é um recurso muito utilizado para reforçar
a argumentação.
Paraumtextosercoerente,nãohápossibilidadesdeseremutilizadasexpressões
que contradigam o que já foi dito anteriormente. Não se pode, por exemplo, ser contra a
violência e, ao mesmo tempo, defender ferrenhamente a pena de morte. “A contradição
só é tolerada se for intencional, pois, do contrário, afeta a lógica do texto”. É preciso
ficaratentoaosignificadoqueasconjunçõesestabelecemparacairemcontradição.
Infelizmente,atémesmoemgrandesjornaisexistemos“escorregões”.Otextoaseguir,
por exemplo, foi publicado originalmente no Jornal O Estado de São Paulo, em 3 de
outubro de 1991 e, hoje, vive em manuais de redação como exemplo de incoerência:
“Mas foi a Alemanha nazista, durante a Segunda Guerra Mundial, que realizou as experiências aterradoras. Só que as cobaias eram seres humanos. Prisioneiros de guerra, principalmente judeus, foram submetidos a todos os tipos de crueldades”.
A expressão só que está totalmente inadequada ao contexto. As experiências
mais aterradoras foram as da Alemanha nazista justamente porque as cobaias eram
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seres humanos.
4.6 Relação
A relação está na raiz da palavra coerência; lembra-se? “_ Relação harmoniosa
entre as partes.” Cada pedacinho do texto deve estar relacionado a outros pedacinhos e
ao texto todo. É um sistema: partes que se associam e agem em conjunto para benefício
próprio e do todo. Não se podem jogar frases soltas, sem relação entre si, pois se não
houver entrelaçamento, não será um texto.
Osversosaseguirservemparaexemplificararelação,poisfazempartedeum
mesmoconjunto:osentimentodetristezaesaudadedoautoremrelaçãoàscoisasque
deixaram de existir, a sua mais completa nostalgia.
NostalgiasHá tempos escrevi este decassílabo nostálgico:
“Acabaram-se os bondes amarelos!”.Tãonostálgicoqueatéhojeficousozinhoesperandoorestodoscompanheiros.
Também, não faz muito tempo, escrevi este outro decassílabo:“Acabaram-se as tias solteironas...”.
Talvez esses dois solitários se venham um dia a reunir num mesmo poema.
Têm ambos o mesmo ritmo. Causam ambos o mesmo nó na garganta que me impede de continuar.
Talvez o poema já esteja pronto... e ninguém notou. Nem eu!
Porque ele próprio se completou, cada verso chorando no ombro do outro... E sem mesmo notar que eram decassílabos!
(Mário Quintana)
Observe como o último verso sintetiza bem a ideia de relação: “cada verso
chorando no ombro do outro”. Cada frase sustentando outra e sustentando- se em outra.
Um texto coerente é pura solidariedade!
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UNIDADE 2MÓDULO 5 - INTERTEXTUALIDADE
“Se se considerar toda e qualquer produção humana como texto a ser lido, reconstruído por nós, a sociedade pode ser vista como uma grande rede intertextual, em constante movimento”.
(PAULINO; WALTY; CURY.1998)
Intertextualidade é uma propriedade do texto de se constituir a partir de outros
textos; é um dos fatores que faz um texto ser um texto.
Dizemos que ocorre intertextualidade:
quando um texto cita outro, explícita ou implicitamente;
quando um texto mantém um diálogo com outro, mostrando ou não a
voz deste outro.
Sabe quando isso ocorre? Sempre. Segundo Platão e Fiorim (2001), “a linguagem
é fundamentalmente, constitutivamente heterogênea”. Se a linguagem é heterogênea e
o texto é a materialização desta linguagem, então todo texto é heterogêneo. Isso quer
dizer que ele é formado por diferentes textos, que ele traz para o seu cenário diferentes
vozes; quer dizer que ele se forma a partir de outros textos.
Você poderia perguntar: Então não existe originalidade? Não há nada original?
Sim. Existe. A originalidade está na formação, na junção dos textos, no posicionamento
do falante (escritor) frente a um determinado tema, na escolha dos textos e do tema, no
uso criativo da linguagem.
Contudo, os textos originais existem a partir de textos já existentes. Quando os
textos preexistentes mudam de contexto, ou seja, saem provavelmente de uma época e
de uma situação diferentes com uma intenção autoral diferente, em um texto diferente,
o sentido deste novo texto também será outro. Tudo muda: o que acontece é uma
transformação. No mundo textual nada se perde e tudo se transforma em uma nova
criação.
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Segundo Platão e Fiorim (2001), um texto cita outro com, basicamente, duas
finalidadesdistintas:
a)parareafirmaralgunsdossentidosdotextocitado;
b) para inverter, contestar e deformar alguns dos sentidos do texto; para
polemizar com ele.
Lendo os poemas Poema de sete faces, de Carlos Drummond de Andrade Com
licença Poética, deAdélia Prado e a letra damúsicaAté o fim, de Chico Buarque,
podemos notar que, em diálogo com a primeira estrofe do poema de Drummond, Adélia
e Chico realizaram outros poemas.
AdéliaPradocontestaDrummond;pedelicença(poética)eafirmaadistinção
do ser mulher naquela que carrega bandeiras em contraposição ao ser homem que
carrega o estigma de ser gauche (solitário, diferente dos outros, triste). Mulher é
desdobrável; é triste, porém com uma vontade imensa de alegria.
Chico Buarque elege um anjo safado, “um chato dum querubim” para determinar
asdificuldadesdavida.Porém,oeulíricoafirmaque,apesardasprediçõesdoanjo,ele
vaicontinuarlutandoatéofim.
Adélia e Chico dialogam com Drummond. Este dialoga com o texto bíblico no qual
oanjoGabrielprofetizaaMariasobreseufilho“Esteserágrande,eseráchamadoFilho
do Altíssimo. O Senhor Deus lhe dará o trono de Davi. Ele reinará eternamente sobre a
casadeJacó,eoseureinadonãoteráfim.”(Lucas,1,32)
Na quinta estrofe do Poema de Sete Faces, Drummond volta a citar o texto bíblico
“Pai, por que me abandonaste?” para polemizar com este texto. O
poetacontrapõeestacitaçãoàreferênciadaanunciaçãopeloanjo,comoqueaafirmar:
“nãotiveamesmaorigem;logonãopossoteromesmofim”.
Poema de sete facesQuando nasci, um anjo tortodesses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! Ser gauche na vida.As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
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A tarde talvez fosse azul,não houvesse tantos desejos.
O bonde passa cheio de pernas:pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.Porém meus olhos
não perguntam nada.
O homem atrás do bigodeé sério, simples e forte.Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigoso homem atrás dos óculos e do –bigode,
Meu Deus, por que me abandonastese sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.
Mundo mundo vasto mundo,se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.Mundo mundo vasto mundo,mais vasto é meu coração.
Eu não devia te dizer mas essa luamas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.
Com licença poética(Adélia Prado)
Quando nasci um anjo esbelto,desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.Aceito os subterfúgios que me cabem sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.Mas o que sinto escrevo.
Cumpro a sina. Inauguro linhagens,fundo reinos — dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,já a minha vontade de alegria,sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.Mulher é desdobrável. Eu sou.
Até o fim(Chico Buarque)
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Quando nasci veio um anjo safadoO chato do querubim
E decretou que eu estava predestinadoA ser errado assim
Já de saída a minha estrada entortouMasvouatéofim
“inda”garotodeixeideiràescolaCassaram meu boletim
Não sou ladrão , eu não sou bom de bolaNem posso ouvir clarim
Um bom futuro é o que jamais me esperouMasvouatéofim
Eu bem que tenho ensaiado um progressoVirei cantor de festim
Mamãe contou que eu faço um bruto sucessoEm quixeramobim
Não sei como o maracatu começouMasvouatéofim
PorcontadeumasquestõesparalelasQuebraram meu bandolim
Não querem mais ouvir as minhas mazelasE a minha voz chinfrim
Criei barriga, a minha mula empacouMasvouatéofim
Não tem cigarro acabou minha rendaDeu praga no meu capim
Minha mulher fugiu com o dono da vendaO que será de mim ?
Eu já nem lembro “prondé” mesmo que eu vouMasvouatéofim
Como já disse era um anjo safadoO chato dum querubim
Que decretou que eu estava predestinadoA ser todo ruim
Já de saída a minha estrada entortouMasvouatéofim
No caso dos três poemas lidos as referências são bastante explícitas. Mas pode
acontecer de um leitor não conhecer o texto com o qual se está travando um diálogo.
Nesse caso, este leitor perde na quantidade e na qualidade do sentido que ele poderia
construir no texto lido.
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Daí a importância da leitura [...]. Quanto mais se lê, mais se amplia a competência para apreender o diálogo que os textos travam entre si pormeiodereferências,alusões,citações[etc.].Porissocadalivroquese lê torna maior a capacidade de apreender, de maneira mais completa, o sentido dos textos. (PLATÃO & FIORIM, 2001, p.20)
Vejamos alguns tipos de intertextualidade estudados por Paulino, Walty e Cury
(1998): a epígrafe, a citação, a paráfrase e a paródia.
1) Epígrafe: é o recorte de um texto para ser presentificado como uma
escrita introdutória em outro texto. Observe que no início de nossos estudos sobre
intertextualidade, há uma escrita entre aspas, tamanho de letra menor que o restante
do texto e que está alinhado à direita comos nomesdos autores entre parênteses.
Aquela escrita é uma epígrafe. Ela tem a pretensão de carregar uma ideia geral do texto
que introduz.
2) Citação: retomada explícita de um fragmento de texto no corpo de outro texto.
Umavezqueasfontesdepesquisadevemficarevidentesparaos leitores,marcam-
se com aspas a presença do texto do outro. Há três tipos de citação: direta, indireta e
citação de citação.
2.1 Citação direta: Marcada com aspas e com referência ao autor, ano de
publicação e página em que está o texto.
Exemplo:
“Há diferentes formas de mostrar a presença das múltiplas vozes num texto: deixá-
las, por conta da memória do leitor, ou trazê-las para a cena, demarcando explicitamente
seu lugar e seu limite.” (PLATÃO & FIORIM, 2001, p.39).
2.2 Citação indireta: é a reprodução não literal das ideias de outro autor no
texto. Nesse caso, o texto não virá entre aspas e terá somente o nome do autor da fonte
e o ano de publicação. Para a reprodução não literal, cria- se outro texto com as próprias
palavras ou faz uma síntese das ideias consultadas.
Exemplo:
Várias vozes, de forma explícita ou implícita, atravessam um texto. Quando
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implícita,poderásertrazidaàtonapelamemóriadoleitor;quandoexplícita,seulugare
limite estarão demarcados no texto (PLATÃO & FIORIM, 2001)
3) Paráfrase: é a reprodução das ideias com palavras próprias. É um tipo de texto
que, juntamente com o resumo, serve ao propósito da citação indireta.
4) Paródia: é uma forma de apropriação que, em lugar de endossar o modelo
retomado,rompecomele,sutilouabertamente.Podeocorrercomafinalidadedeuma
sátira, de uma brincadeira ou mesmo para negar as ideias do texto fonte. É realizado
a partir de qualquer linguagem, ou seja, o texto fonte pode ser também uma linguagem
não verbal.
A famosa Mona Lisa de Leonardo da Vinci foi parodiada inúmeras vezes
com diversos objetivos. Veja a seguir como esta obra foi fonte, para a criação de,
respectivamente, uma propaganda para a marca BomBril e para a criação de outras
obras de artistas famosos tais como Marcel Duchamp e Fernando Botero.
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MÓDULO 6 - TIPOS E GÊNEROS TEXTUAIS A CONSTRUÇÃO TEXTUAL
Estudamos até aqui os fatores que fazem um texto ser um texto e não somente
uma fileira de palavras. Considerando que um texto possui todos os fatores de
textualidade, há ainda que considerar que o texto se estrutura de alguma forma para
atenderadiferentesfins.
Esta estruturação será diferenciada conforme queiramos defender ou expor uma
ideia, contar uma história, descrever fatos ou objetos, dar ordens ou conselhos. O uso
da língua dependerá de nossa necessidade e criatividade. Para atender a este uso,
as palavras serão escolhidas, combinadas e agrupadas; o resultado desse processo
será a estruturação em tipos narrativos, descritivos, dissertativos (argumentativos ou
expositivos), ou injuntivos.
Cada tipo se diferencia nos aspectos lexicais e sintáticos, nos tempos verbais
e nas relações lógicas (dentro e fora do texto). Cada tipo se configura conforme o
predomínio dessas sequências linguísticas. Estes tipos são utilizados na elaboração
dos gêneros e sempre como um propósito enunciativo.
Gêneros são todos os textos: crônicas, contos, fábulas, poemas, cartas, avisos,
entrevistas, anúncios, declarações, atestados, atas, editoriais, artigos, notas de
esclarecimentos, bula de remédio, horóscopo, receita, e-mail, quadrinhos etc. Etecetera,
sobretudo, porque os gêneros, além de vários, continuam surgindo
mais emais devido ao contexto social, às novas tecnologias e ao cruzamento com
outros gêneros.
Conhecer os tipos que formam os gêneros é importante, inclusive, para a
interpretação dos gêneros.Marcuschi, citado por IrandêAntunes, afirmaque tipos e
gêneros se complementam, pois “os textos realizam gêneros e todos os gêneros realizam
sequênciastipológicasdiversificadas”.
Reconhecendo a importância dos tipos, vamos estudá-los primeiramente.
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6.1 Tipologia narrativa:
Narrar é contar o que aconteceu, o que acontece ou que acontecerá. Um fato
acontece ou existe somente num tempo e num espaço. Nada está fora do tempo e do
espaço. A narrativa é o fato sendo contado.
As principais características do texto narrativo são:
a) Texto figurativo: constrói-se com termos concretos. Possuem
personagens bem determinados, que, em um tempo e um espaço bem demarcados,
realizamumaseriedeações.
b)Comportaumaseriedemudançasdesituação,detransformações
de estado. Essas mudanças de estados são realizadas por um dado sujeito.
Apresenta-se uma situação inicial. Em seguida esta situação é perturbada,
problematizada (algo ocorre e muda a situação inicial). A situação é cada vez mais
problematizada e perturbada até o clímax. Nesse instante uma solução para o problema
é apresentado, a situação volta a se acalmar, mas nada será como antes. A história é
história porque há mudanças.
As mudanças relatadas são organizadas de maneira tal que entre elas existe
sempre uma relação de anterioridade, posterioridade ou concomitância.
c) São comuns os tempos verbais de subsistência do passado: o pretérito
perfeito (bebeu, cantou, chegou) o pretérito mais que perfeito (ouvira, cantara) e o
pretérito imperfeito (era, morava).
Veja a ocorrência desses verbos (e da narrativa!) no poema de Manuel Bandeira:
Poema tirado de uma noticia de jornalJoão Gostoso era carregador de feira-livre e morava no morro da Babilônia
num barracão sem númeroUma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
BebeuCantouDançou
Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.
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Não importa o tamanho da narrativa, se de três ou de três mil linhas, ela terá os
seguintes elementos: personagem, narrador, espaço, tempo, enredo, e responderá as
perguntas:O que aconteceu? Com quem? Por que ou para quê?Como aconteceu? Onde? Quando? Quem é o contador?
Algumasrespostasficarãoimplícitas,outrasvirãoapósumsuspense.Algumas
serão dadas pelo contador e outras serão reinventadas pelo ouvinte / leitor, que é aquele
que perpetua a história.
Vamos ler um capítulo do livro Pequenos Amores, de José Roberto Torero (2003,
p.83). Veja como em poucas linhas tudo acontece:
“No Circo de Variedades Oitava Maravilha trabalham Mário e Maria Sanchez, os únicos trapezistas nacionais que conseguem dar o salto triplo mortal sem rede.Esse é um número que exige total confiança entre os parceiros.Mário confiava em Maria até descobrir que Maria o traía com Piteco, o palhaço.Maria, que não sabia que tinha sido descoberta, ainda confiava em Mário na noite em que ele a deixou cair.”
Gêneros que comumente se utilizam da tipologia narrativa: romance, conto,
fábula, notícia, reportagem, crônica etc.
Outros gêneros, mesmo que a tipologia dominante não seja a narrativa, podem
seutilizardestetipocomafinalidadetambémdeensinaroupersuadir.Thomas
Huxley (apud BARBOSA, 1994, p. 135) ao explicar sobre a indução em Método da
InvestigaçãoCientífica,utiliza-sedeumanarrativa.Leia!
“Em um mercado de frutas, você apanha uma maçã e, ao mordê-la, verifica que ela é ácida; ao observá-la, percebe que a fruta é dura e verde. A seguir, apanha outra que também é dura, mas antes de mordê-la, você a examina e constata que ela igualmente é verde e dura. Você diz logo que não a quer, uma vez que ela deve ser ácida como a anterior. [...] Você generaliza os fatos e espera encontrar acidez em maçãs verdes e duras, extraindo daí um princípio geral: todas as maçãs verdes e duras são ácidas.”
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MÓDULO 7 - TIPOS E GÊNEROS TEXTUAIS A CONSTRUÇÃO TEXTUAL
7.1 Tipologia descritiva
Descrever é enumerar as características de lugares, pessoas, animais, objetos,
costumes.Paraverificarqualquercaracterística,oelemento imprescindíveléoolhar.
Descrever exige o poder da observação. O observado, para ser descrito, paralisa-se sob
nossos olhos assim como quem posa para uma foto.
Ao contrário da narrativa, na descrição não importa o fator tempo: importam o
objeto e a capacidade de observação. Sobre esta capacidade, vamos ler o que
escreve Otto Lara:Vista cansada
(Otto Lara Resende) AchoquefoioHemingwayquemdissequeolhavacadacoisaàsuavoltacomose a visse pela última vez. Pela última ou pela primeira vez? Pela primeira vez foi outro escritor quem disse. Essa ideia de olhar pela última vez tem algo de deprimente. Olhar de despedida, de quem não crê que a vida continua, não admira que o Hemingway tenha acabado como acabou. Se eu morrer, morre comigo um certo modo de ver, disse o poeta. Um poeta é só isto: um certo modo de ver. O diabo é que, de tanto ver, a gente banaliza o olhar. Vê não- vendo. Experimente ver pela primeira vez o que você vê todo dia, sem ver. Parece fácil, mas não é. O que nos cerca, o que nos é familiar, já não desperta curiosidade. Ocampo visual da nossa rotina é como um vazio. Você sai todo dia, por exemplo, pela mesma porta. Se alguém lhe perguntar o que é que você vê no seu caminho, você não sabe. De tanto ver, você não vê. Sei de umprofissionalquepassou32anosafiopelomesmohalldoprédiodoseuescritório.Láestavasempre,pontualíssimo,omesmoporteiro.Dava-lhebom-diaeàsvezeslhepassava um recado ou uma correspondência. Um dia o porteiro cometeu a descortesiade falecer. Como era ele? Sua cara? Sua voz? Como se vestia? Não fazia a mínima ideia. Em 32 anos, nunca o viu. Para ser notado, o porteiro teve que morrer. Se um dia no seu lugar estivesse uma girafa, cumprindo o rito, pode ser também que ninguém desse por sua ausência. O hábito suja os olhos e lhes baixa a voltagem. Mas há sempre o que ver.Gente, coisas, bichos. E vemos? Não, não vemos. Uma criança vê o que o adulto não vê. Tem olhos atentos e limpos para o espetáculo do mundo. O poeta é capaz de ver pela primeira vez o que, de fato, ninguém vê.Hápaiquenuncaviuoprópriofilho.Maridoquenuncaviuaprópriamulher, issoexisteàspampas.Nossosolhossegastamnodiaadia,opacos.Époraíqueseinstalano coração o monstro da indiferença.
Texto publicado no jornal “Folha de S. Paulo”, edição de 23 de fevereiro de 1992.Disponível em http://www.releituras.com/olresende_vista.asp.
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Gêneros que comumente se utilizam da tipologia descritiva: romances, novela,
contos,poemas,artigodedivulgaçãocientífica,verbetedeenciclopédia,propaganda,
textos jornalísticos, relatórios, etc.
As principais características da tipologia descritiva são:
usodemetáforas,comparações,adjetivos,oraçõesadjetivas,advérbios;
nostextoscientíficos,assequênciasdescritivassãoobjetivas;nostextos
literários, as sequência descritivas buscam traduzir a impressão que os
fatos, paisagens ou objetos causam aos sentidos do escritor.
Os verbos comumente usados são os de ligação (ser, estar,
permanecer,ficar,continuar),poisestesligamopredicativoaosujeito,
indicando estado, o modo de ser do sujeito.
Observe no poema “Namorados” de Manuel Bandeira, a presença dos verbos de
ligação,dosadjetivosedascomparaçõesparaconstruirafiguradanamorada:
NAMORADOSO rapaz chegou-se para junto da moça e disse:
- Antônia, ainda não me acostumei com o seu corpo, com a sua cara.A moça olhou de lado e esperou.
- Você não sabe quando a gente é criança e de repente vê uma lagarta listada?A moça se lembrava:-Agenteficaolhando...
A meninice brincou de novo nos olhos dela.O rapaz prosseguiu com muita doçura:
- Antônia, você parece uma lagarta listada.Amoçaarregalouosolhos,fezexclamações.
O rapaz concluiu:- Antônia, você é engraçada! Você parece louca.
Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
Normalmente as sequências descritivas procuram responder perguntas como:
O que é isto?
Para que serve?
De que é feito?
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Se parece com o quê?
A descrição, assim como a narração, serve também ao propósito do
enunciador de ensinar ou de convencer. É bom sempre pensar que quem vê, vê com
os olhos de seu conhecimento e de seu sentimento e vê conforme o local onde está
situado.
O objeto observado será diferentemente descrito de acordo com o sujeito que o
descreve, com o contexto (social, cultural e histórico) do sujeito observador e do objeto,
comas intenções,comotipode informação.Logo,oolhardooutroéumaformade
olhar, é um recorte e, não necessariamente, a verdade inteira.
7.2 Tipologia Injuntiva
A palavra injuntivo significa “que contém injunção; imperativo; obrigatório”.
Injunção significa “ato de ordenar expressamente; ordem precisa e formal”. Logo,
elaborar um texto injuntivo é o mesmo que ordenar, mandar. No entanto, também os
textos que pretendem apenas indicar como fazer, como realizar uma ação são chamados
de injuntivos.
Reconhecemos um texto injuntivo, sobretudo, pelos verbos no modo
imperativo.A formanominaldoverbono infinitivo tambémémuitoutilizadaporesta
tipologia.
Exemplos de gêneros textuais que se utilizam desta tipologia: propagandas,
receitas,manuais,regrasdejogo,artigosdeconstituições,gramáticanormativa,
editais, livros de autoajuda.
Alguns textos trazem explicitamente esta tipologia.
Propaganda chocolate Garoto: “compre batom”. Disponível em http://www.google.com.br/imgres?q=Propaganda+chocolate+Garoto:+compre+ baton&hl.
Acesso em novembro de 2012.
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Outrostextos,aordemouoconselhoficamimplícitos:
Outdoor“bebeueestádirigindovaificarlindocomumacoroadeflores”.Disponívelemhttp://www.google.com.br/imgres?q=Outdoor+“bebeu+e+está+dirigindo+vai+fic
ar+lindo+com+uma+coroa+de+flores”&hl.Acessoemnovembrode2012.
Contudo, o que importa para o enunciador de um texto injuntivo é que seu
interlocutor faça o que foi dito.
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MÓDULO 8 - TIPOS E GÊNEROS TEXTUAIS A CONSTRUÇÃO TEXTUAL
8.1 Tipologia Dissertativa
Segundo o dicionário, dissertar é expor algum assunto de modo organizado,
abrangente e profundo.
Platão e Fiorim (2002) enumeram as seguintes características da tipologia
dissertativa:
a) Ao contrário do texto narrativo e do descritivo, ela é temático, ou seja,
não trata de episódios ou seres concretos e particularizados, mas de análise e de
interpretaçõesgenéricasválidasparamuitoscasosconcretoseparticulares.
b) Como o texto narrativo, ela mostra mudanças de situação.
c) Ao contrário da narração, cuja ordenação é cronológica, ela tem uma
ordenaçãoqueobedeceàsrelaçõeslógicas.Enquantoanarraçãorelatamudanças,a
dissertação explica e interpreta as mudanças.
d) O tempo por excelência da dissertação é o presente no seu valor
atemporal; admite-se nela ainda o uso de outros tempos do sistema do presente: o
presente com valor temporal, o pretérito perfeito e o futuro do presente.
Se você quer expor um assunto ou sua opinião sobre um assunto, primeiramente
deve pensar sobre este assunto. Este é o caminho da dissertação: o pensamento
reflexivo e organizado. Pensar e pensar também sobre seu próprio pensamento.
Dissertarpressupõequestionamentos.
Nosso cotidiano é repleto da exposição de nossos pensamentos. Estamos, com
frequência, querendo comprovar a validade de nossas ideias. Até nas coisas mais banais
como,porexemplo,seumacadeiradeveficaraquiouali,nósentramoscomnossa
opiniãoecomajustificativasobreamelhorposiçãodacadeirae,provavelmente,vamos
ficarfelizesseanossaopiniãoejustificativasforemaceitas.
Para que essa felicidade ocorra mais e mais vezes, o segredo é a organização
do pensamento para a estruturação da dissertação e o conhecimento dos recursos
expositivos e argumentativos. Resumindo: precisamos aprender a
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1º) organizar o pensamento
2º) estruturar uma dissertação
3º) expor e argumentar.
Podemos dissertar para expor um determinado assunto. Nesse caso, o texto
resultante terá caráter informativo e será chamado de dissertativo expositivo.
Podemos dissertar para expor nossa opinião e defendê-la; para expor uma
hipótese sobre determinado assunto e procurar comprová-la por argumentos. Nesse
caso, o texto resultante terá caráter argumentativo e será chamado de dissertativo
argumentativo.
8.1.1 Dissertativa expositiva
Asestruturasexpositivassãoutilizadasparaaapresentaçãodeinformaçõese
paradefinireexplicarumadeterminadatemática.
É comum em sequências expositivas, o uso da 3ª pessoa do discurso para
provocar um distanciamento entre o falante e o objeto sobre o qual se está falando. É
comum, também, o uso de dois pontos ( : ), de travessão ( _ ) e de parênteses ( ) para
iniciar uma explicação.
Oautorselecionaumconjuntodedadosouinformaçõesparapermitiraoleitoro
entendimento de uma determinada discussão que pretende fazer.
Pode acontecer isoladamente, mas, mais frequentemente, costuma manifestar-
senosparágrafosiniciaisdetextosqueanalisamquestõesespecíficas.
Gêneros que comumente se utilizam de sequências expositivas: aula
expositiva,verbetes,teoriasdelivrodidático,explicaçãocientífica.
Paraestabelecerrelaçõeslógicasdeexplicação,algunsrecursosexpositivossão
utilizados, tais como:
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1 descrição“Como uma ilha azul que se avista a distância, pouco a pouco ela ia ganhando contorno e detalhes, e, já próxima, revelava formas originais e intrigantes.” (Amir Klink)
2Definição“A escuna azul, um veleiro viajante de dois mastros que de tempos em tempos aparecia no Brasil.” (Amir Klink)
3 enumeração:Temposchuvososouensolarados;temposcatastróficosoutemposdetrégua da natureza; tempos diversos, mas a escuna era a mesma.
4 comparação.Ela, aparentemente imóvel, parecia um barco em uma garrafa.
5 contraste.No entanto, trazia movimento, transformação. A escuna era o próprio movimento.
Descoberto novo hominídeo Encontrado recentemente em um sitio queniano, um pequeno crânio causou rebuliço na comunidade internacional de paleontologia. Muito diferente do crânio de Lucy – uma Australopitehecus afarensis que ganhou fama por ter o mais completo conjunto de ossosconhecido(40%doesqueleto),alémdeserumdosmaisantigos(3,2milhõesde anos) – o novo fóssil foi batizado de Kenyanthropus platyops, ou “homem do Quênia de cabeça chata”.Ele temaproximadamente 3,5milhões de anos e foi consideradopelos seus descobridores um novo gênero de hominídeo. Seus dentes menores sugerem umadietadefrutaepequenos insetos,encontradosnasflorestasquenianasdaquelaépoca.Arepresentantemaisconhecidadogrupo,Lucy,pelocontrário,viveuemregiõesdesérticas, comendo raízes e folhas. A descoberta mostra que, na verdade, nossa árvore genealogia tem mais ramos do que teorias anteriores previam [...] deixando no ar novasquestõessobrealinhagemhumana.
Revista Planeta. Maio. 2001, p.10.
Observe que o texto “Descoberto novo hominídeo” é predominantemente
dissertativo expositivo e segue os seguintes passos:
1º) contextualiza o fato que será exposto, respondendo às perguntas: o que
aconteceu, onde, quando; perguntas típicas da tipologia narrativa. “Todo relato de fatos
concretos, na dissertação, serve para ilustrar, confirmar ou demonstrar verdades de
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conteúdo mais genérico, que constituem a essência do texto dissertativo” (PLATÃO &
FIORIM, 2002, p.303)
2º)Defineofato(descobertadocrânio)e,nasequência,descreveecomparao
objeto descoberto.
3º) Procura acrescentar explicações sobre as informações (entre parênteses)
para situar melhor o leitor na ocorrência.
4º) Mostra a importância do fato para a comunidade humana.
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UNIDADE 3MÓDULO 9 - TIPOS E GÊNEROS TEXTUAIS A CONSTRUÇÃO TEXTUAL
9.1 Tipologia Dissertativa
9.1.1 Dissertativa argumentativa
Argumentaréraciocinarparaconvencer.Antesporémdedefinirmosatipologia
argumentativa, convém esclarecer que
Todo texto tem, por trás de si, um produtor que procura persuadir o seu leitor, usando para tanto vários recursos de natureza lógica e linguística. (PLATÃO & FIORIM, 2002)
No entanto, na tipologia argumentativa, os pontos de vista de quem elabora o
texto ficam explícitos, enquanto que nas outras tipologias, os pontos de vista ficam
implícitos, mas perceptíveis na seleção de assuntos e nos termos escolhidos pelo autor.
Os elementos que caracterizam as sequências argumentativas são: exposição de
umaopiniãoedefesadestaopiniãocomvistasàpersuasãodointerlocutor.
Quanto maior o conhecimento dos recursos argumentativos, melhor será a defesa
do ponto de vista e maior a possibilidade de convencer o leitor sobre a validade do
pensamento.
Chamamos procedimentos argumentativos a todos os recursos acionados pelo produtor do texto com vistas a levar o leitor a crer naquilo que o textodizeafazeraquiloqueelepropõe.(PLATÃO&FIORIM.2002)
Segundo a lógica clássica, existem duas formas de raciocínio, ou seja, duas
formas de se obter conhecimentos novos a partir de conhecimentos já existentes: a
dedução e a indução. Na dedução, conhecimentos particulares são obtidos a partir de
um conhecimento geral; na indução, o conhecimento geral é obtido a partir de dados
particulares. Assim:
a) Dedução: esclarecemos e demonstramos um conhecimento. Exemplo:
Todos os homens são mortais. Sócrates é homem. Logo, Sócrates é mortal.
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Tipos de raciocínio dedutivo:
Argumentação condicional (raciocínio por hipóteses)
Se o amor é a fonte da vida, logo ele deve também governá-la.
Podemos utilizar no lugar de logo qualquer outro elemento com valor
conclusivo para completar a lógica da condicional (iniciada com a conjunção se):
portanto, assim, por conseguinte, consequentemente, decorre daí que, então, segue-se
que. (BARBOSA, 1994)
Demonstraçãopeloabsurdo:consisteemafirmaroopostodoqueremosprovarparademonstrarqueaafirmaçãoéinaceitável.Porexemplo,sequeremos demonstrar que algo é falso, começamos admitindo que esse algo é verdadeiro.
Veja como Guiomar de Grammont estrutura seu texto nesse tipo de raciocínio:
Ler devia ser proibidoGuiomar de Grammont
“A pensar fundo na questão, eu diria que ler devia ser proibido. Afinaldecontas, ler fazmuitomalàspessoas:acordaoshomenspara realidades impossíveis, tornando-os incapazes de suportar o mundo insossoeordinárioemquevivem.Aleiturainduzàloucura,deslocaohomemdo humilde lugar que lhe fora destinado no corpo social. Não me deixam mentir os exemplos de Dom Quixote e Madame Bovary. O primeiro, coitado, de tanto ler aventuras de cavalheiros que jamais existiram meteu-se pelo mundo afora, a crer-se capaz de reformar o mundo, quilha de ossos que mal sustinhaasieaopobreRocinante.QuantoàpobreEmmaBovary,tomou-seesposa inútil para fofocas e bordados, perdendo-se em delírios sobre bailes e amores cortesãos.
Ler realmente não faz bem. A criança que lê pode se tornar um adulto perigoso, inconformado com os problemas do mundo, induzido a crer que tudopodeserdeoutraforma.Afinaldecontas,aleituradesenvolveumpoderincontrolável. Liberta o homem excessivamente. Sem a leitura, ele morreria feliz, ignorante dos grilhões queo encerram.Sema leitura, ainda, estariamaisafeitoàrealidadequotidiana,sededicariaaotrabalhocomafinco,semprocurar enriquecê-la com cabriolas da imaginação. Sem ler, o homem jamais saberia a extensão do prazer. Não experimentaria nunca o sumo Bem de Aristóteles: o conhecer. Mas para que conhecer se, na maior parte dos casos, o que necessita é apenas executar ordens?Seoquedeve,enfim,éfazeroquedeleesperamenadamais? Ler pode provocar o inesperado. Pode fazer com que o homem crie atalhos
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para caminhos que devem, necessariamente, ser longos. Ler pode gerar a invenção. Pode estimular a imaginação de forma a levar o ser humano além do que lhe é devido. Além disso, os livros estimulam o sonho, a imaginação, a fantasia. Nos transportam a paraísos misteriosos, nos fazem enxergar unicórnios azuis e palácios de cristal. Nos fazem acreditar que a vida é mais do que um punhado de pó em movimento. Que há algo a descobrir. Há horizontes para além das montanhas, há estrelas por trás das nuvens. Estrelas jamais percebidas.Éprecisodesconfiardessependorparaoabsurdoquenosimpede de aceitar nossas realidades cruas. Não,nãodeemmaislivrosàsescolas.Pais,nãoleiamparaosseusfilhos,podelevá-losadesenvolveressegostopelaaventuraepeladescobertaque fez do homem um animal diferente. Antes estivesse ainda a passear de quatro patas, sem noção de progresso e civilização, mas tampouco sem conhecer guerras, destruição, violência. Professores, não contem histórias, pode estimular uma curiosidade indesejável em seres que a vida destinou para a repetição e para o trabalho duro. Ler pode ser um problema, pode gerar seres humanos conscientes demais dos seus direitos políticos em um mundo administrado, onde ser livre nãopassadeumaficçãosemnenhumaverossimilhança.Seria impossívelcontrolar e organizar a sociedade se todos os seres humanos soubessem o quedesejam.Setodossepusessemaarticularbemsuasdemandas,afincarsua posição no mundo, a fazer dos discursos os instrumentos de conquista de sua liberdade. O mundo já vai por um bom caminho. Cada vez mais as pessoas leemporrazõesutilitárias:paracompreenderformulários,contratos,bulasderemédio,projetos,manuaisetc.Observemasfilas,umdospequenoscancrosda civilização contemporânea. Bastaria um livro para que todos se vissem magicamente transportados para outras dimensões, menos incômodas. Eesse o tapete mágico, o pó de pirlimpimpim, a máquina do tempo. Para o homemquelê,nãoháfronteiras,nãohácortes,prisõestampouco.Oqueémais subversivo do que a leitura? É preciso compreender que ler para se enriquecer culturalmente ou para se divertir deve ser um privilégio concedido apenas a alguns, jamais àquelesquedesenvolvemtrabalhospráticosoumanuais.Sejaemfilas,emmetrôs, ou no silêncio da alcova… Ler deve ser coisa rara, não para qualquer um. Afinaldecontas,aleituraéumpoder,eopoderéparapoucos. Para obedecer não é preciso enxergar, o silêncio é a linguagem da submissão. Para executar ordens, a palavra é inútil. Além disso, a leitura promove a comunicação de dores, alegrias, tantosoutrossentimentos…Aleituraéobscena.Expõeoíntimo,tornacoletivo o individual e público, o secreto, o próprio. A leitura ameaça os indivíduos,porqueosfazidentificarsuahistóriaaoutrashistórias.Torna-oscapazes de compreender e aceitar o mundo do Outro. Sim, a leitura devia ser proibida. Ler pode tornar o homem perigosamente humano.”
http://www.leialivro.com.br/ler-devia-ser-proibido/#ixzz246okPKIm
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b) Indução: nesse tipo de raciocínio nós avançamos de um fato ou de
vários fatos particulares e semelhantes para a construção de uma verdade geral. Ou
seja: ocorre uma generalização. Exemplo: as células necessitam de alimento; os insetos
necessitam de alimento; os homens necessitam de alimento. Então, todos os seres
vivos necessitam de alimento.
Alguns tipos de raciocínio indutivos:
Argumentação por enumeração/estatística
Argumentaçãoporanalogia (raciocínioporcomparaçõesnoqualse tira
conclusõesapartirdesemelhanças)
Argumento de autoridade (citação direta ou indireta) Raciocínio de
causalidade
Exemplos: O setor de produtos e serviços para animais domésticos no Brasil vai muito bem,obrigado.Nãosurpreende.Afinal,existemnopaíshojequase98milhõesdessesanimais–sãocercade35milhõesdecães,5milhõesdepeixe,18milhõesdegatos,18milhõesdepássaros,entreoutrosmenoscotados.Paravocê teruma ideia,44%dos lares brasileiros das classes A, B e C possuem um cão ou um gato. Aliás, o Brasil conta com a segunda maior população de cães e gatos do mundo. Todos esses dados são da Anfalpet, associação que reúne os fabricantes de produtos para animais domésticos.
Revista Gol Linhas Aéreas Inteligentes. Luiz Alberto Marinho. Set.2011.
Observenotextoacimacomotodososargumentoscolaboramparaaconfirmação
da tese de que “o setor de produtos e serviços para animais domésticos no Brasil” é
muito bom.
Veja agora um bom exemplo citado por Barbosa (1994, p.) de argumento por
analogia, no qual o autor, Leo Huberman, em “A história da riqueza do homem”, faz
uma analogia entre a atitude irracional dos macacos, que os leva a serem capturados,
e a ganância dos capitalistas. Com essa analogia, o autor pretende demonstrar que a
ganânciairracionaldocapitalismoseráacausadoseufim.
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“Haverá uma moral para os capitalistas na história de como os indianos pegam
macacos, contadas por Arthur Morgan? Segundo a história, tomam de um coco e abrem-
lhe umburaco, do tamanho necessário para que nele omacaco enfie amão vazia.
Colocamdentrotorrõesdeaçúcareprendemococoaumaárvore.Omacacometea
mãonococoeagarraostorrões,tentandopuxá-losemseguida.Masoburaconãoé
bastante grande para que nele passe a mão fechada, e o macaco, levado pela ambição
epelagula,prefereficarpresoasoltaroaçúcar.”
Exemplo de raciocínio de causalidade – em que é realizado um levantamento das causas
e das consequências para fundamentação de uma tese.
Fome, miséria e violência imperam nesse artifício que é a comunidade humana.
A origem disso está na ausência de valores. É na ausência, no vazio que deveria ser
ocupado pela solidariedade, pela responsabilidade com o outro, que habitam as
variadas formas de injustiça.
Tão importante quanto conhecer os recursos argumentativos é reconhecer
os defeitos na argumentação. Ao reconhecê-los, saberemos que a ideia que estão
querendo comprovar não é verdadeira ou que o autor agiu de má fé ou que, no mínimo,
nãoconstruiubemosargumentos.Dequalquerforma,nessescasos,adissertaçãofica
prejudicada.Nocasodeservocêoescritor,fiqueatentoparanãoincorrernesteserros:
1. Círculo vicioso: uma sucessão de acontecimentos e consequência que
sempre resulta numa situação que parece sem saída e sempre desfavorável.
Exemplo: Eu tenho problema no aprendizado de inglês. Meus pais têm
problemanoaprendizadodeinglês.Osmeusfilhosenetosterãodificuldade.
2. Estatística tendenciosa: um determinado tema é pesquisado e a tese é
apoiada em um levantamento apressado dos fatos.
Exemplo:
Portugueses não são bons em matemática. Embora haja oito portugueses em
cada dez alunos do curso, as quatro maiores notas são de brasileiros e as
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quatro piores de portugueses.
3. Fuga do assunto: desvio da ideia original ou do fato principal.
Exemplo:
O acusado de crime, senhores jurados, é um excelente pai de família,
honrado, bondoso, atencioso com os vizinhos, cidadão exemplar, e não deve
ser colocado na cadeia.
4. Argumento autoritário: quando se apela para uma pessoa famosa ou uma
autoridade, muitas vezes como uma falsa citação como no exemplo abaixo,
para impressionar o leitor
Assim como Cristo disse: “quem com ferro fere com ferro será ferido”, devemos
também nós castigar com a morte os criminosos.
5. Generalização excessiva: considerar a exceção como regra
Os professores são diferentes de qualquer outro tipo de gente do
planeta, pois parece que nunca se preocupam com o dinheiro que recebem
por seu trabalho.
6. Confusão de causa e efeito: confusão entre causa e consequência.
O estudante será um ótimo advogado, pois seu pai foi um excelente jurista.
7. Estereótipo: conjunto de características presumidamente partilhadas por
todos os membros de uma categoria social. Esquema simplista mantido de
maneira intensa, mas que não se baseia em experiência direta.
Não é conveniente instalarmos uma fábrica na Bahia, pois certamente teremos
problemas com os operários, que são muito preguiçosos e festeiros.
8.Simplificaçãoexagerada:tornarfáciloqueécomplexo.
Se quisermos melhorar o ensino de língua portuguesa, basta termos mais
cuidados na adoção de livros didáticos.
9. Falsa analogia: Os elementos comparados são diferentes em algum ponto.
Se os estudantes não querem estudar, não há nada que o professor possa
fazer.Afinaldecontas,podemoslevarocameloatéaágua,masnãopodemos
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obrigá-lo a beber.
10. Tautologia: apresentar a tese como argumento, ou seja: o que
queremos provar é apenas repetido:
Certas plantas dormem porque têm faculdade dormitiva.
Para finalizarmosnossosestudossobreas tipologias textuais, vamosverificar
como um texto dissertativo se organiza em um parágrafo padrão.
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MÓDULO 10 - ESTRUTURA DO TEXTO DISSERTATIVO ARGUMENTATIVO
E O PARÁGRAFO PADRÃO
O parágrafo é uma “unidade de composição” constituída por um ou mais períodos.
Nelesedesenvolveumaideiacentralounuclearàqualseagregamoutras,chamadasde
ideias secundárias, que são decorrentes da mesma ideia nuclear. Nuclear e secundárias
são intimamente relacionadas pelo sentido.
Parágrafo padrão é o desenvolvimento de uma ideia central por meio de um
ou mais períodos. Com ele, podem-se construir parágrafos dissertativos, narrativos e
descritivos. Para construir bem um parágrafo, o segredo está na organização das ideias
enafixaçãodosobjetivos.
Deve-se evitar construir parágrafos com apenas um período. O ideal é que possua
no mínimo três: um para a introdução (tópico frasal); um para desenvolver as ideias
contidas no tópico frasal e outro para apresentar a conclusão.
O primeiro passo para elaborar um parágrafo é delimitar o assunto. Assunto
delimitado, precisamos estabelecer os objetivos. Assim é que poderemos elaborar a
frase núcleo (ou tópico frasal). Com a frase núcleo elaborada, é só desenvolvê-la para
em seguida concluí-la.
Vamos ao passo a passo?
1)Delimitaroassunto:delimitarquerdizerpartirdoamploparaomaisespecífico
possível. Suponhamos que você tenha que escrever sobre “Televisão”. Como há
inúmeras possibilidades de se abordar este assunto, será necessário delimitá-lo.
“Efeitos da Televisão”
Delimitou um pouco, mas continua amplo, pois são vários os efeitos da
televisão e em diferentes públicos. Portanto, você deve continuar delimitando: quais
podem ser estes efeitos e em quem?
“Ainfluênciadatelevisãonocomportamentosocial”.
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Delimitou um pouco mais, porém ainda está amplo, pois “comportamento
social”podesereferirtantoahomensemulheresquantoàscrianças.
“Ainfluênciadatelevisãosobreascrianças”.
Ótimo! Delimitou bastante. Mas ainda está amplo, pois a televisão possui variados
programas com diferentes temas e formas de enfoque.
“A violência na televisão e seus efeitos no comportamento da criança”.
Agora, sim! O assunto está delimitado e dele obtivemos o tema. O próximo passo
é estabelecer os objetivos.
2)Estabelecerosobjetivos:fixarosobjetivosénecessárioparaorientaraescrita:
paraquêescreversobreoassuntotelevisão?Comqualfinalidade?
Objetivo:mostrarqueaviolênciana televisão influenciaocomportamentodas
crianças.
Observeque,paraestabelecerobjetivos,utilizamosoverbosemprenoinfinitivo:
mostrar,demonstrar,descrever,apontar,exemplificar,compararetc.Objetivosfixados,
formule a frase núcleo.
3)Formularafrasenúcleo:oresultadodadelimitaçãodoassuntoedafixação
dos objetivos será sua frase-núcleo, a frase que contém a ideia principal com todas as
palavras-chave que serão desenvolvidas no decorrer do parágrafo. Agora é só escrevê-
la.Afrase-núcleotemqueserfielaoobjetivo:
“A violência existente em alguns programas de televisão tem interferido no
comportamento das crianças.”
Escrita a frase núcleo, você deverá desenvolver o parágrafo. É aconselhável que
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a frase núcleo, também chamada de tópico frasal, seja a frase introdutória do parágrafo.
4) Formular o desenvolvimento: em sua frase núcleo, consta a indicação de todas
as ideias que serão desenvolvidas. As ideias são as palavras- chave. Para desenvolver
a frase núcleo, selecione e organize estas palavras / ideias
“Muitos programas infantis têm como tema a rivalidade, a disputa que desconhece
valoresequedesembocaemlutassangrentas.Ainfluênciadessesprogramaspodeser
observada nos pátios escolares, onde as crianças já não brincam: só lutam”
5) Concluir: Retomar as ideias e acrescentar algo novo
“Elas consomem o tempo na frente da televisão e esta acaba por privar-lhes de
uma infância saudável, na qual poderiam estar se exercitando na solidariedade e na
conquista de amigos”.
São inúmeras as formas para desenvolver e estruturar o parágrafo. Vejamos
algumas:
A) Ordenação por tempo e espaço
Embora o reconhecimento do trabalho em prêmios e títulos não seja algo inédito
em sua carreira como matemático, Fernando Codá Marques chamou a atenção ao ser
anunciado,nofinalde junho,comoganhadordaedição2012doPrêmioRamanujan
para Jovens Matemáticos de Países em Desenvolvimento. Uma semana depois, Codá
foi anunciado também como ganhador do prêmio Umalca 2012 de reconhecimento da
União Matemática da América Latina e do Caribe.
http://www.comciencia.br/comciencia/handler.php?section=3¬icia=753
Ao contrário do que se possa imaginar, mesmo depois de tanto tempo a situação
do cadastro de terras na Amazônia ainda é uma incógnita. Nem estado, nem União sabem
ao certo a quem pertencem os territórios da região. E, para piorar, em razão da extensão
edascaracterísticasdoterritóriodensamentepermeadoporrioseflorestasfechadas,a
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dificuldadedelocomoçãodificultaademarcaçãoeafiscalizaçãodessasterras,jáque
as fronteiras são permeáveis e a rede de estradas é praticamente inexistente.
http://www.comciencia.br/comciencia/handler.php?section=3¬icia=753
B) Ordenação por causa – consequência
Os seres humanos não vivem juntos, não vivem em sociedade, apenas porque
escolhem este modo de vida, mas porque a vida em sociedade é uma necessidade
da natureza humana. Assim, por exemplo, se dependesse apenas da vontade, seria
possível uma pessoa muito rica isolar-se em algum lugar, onde tivesse armazenado
grande quantidade de alimento. Mas essa pessoa estaria, em pouco tempo, sentindo
falta de companhia, sofrendo a tristeza da solidão, precisando de alguém com quem
falar,necessitadadedarereceberafeto.Emuitoprovavelmenteficarialoucase
continuasse sozinha por muito tempo.
DALARI, Dalmo de Abreu. Viver em Sociedade. São Paulo: Moderna, 1985.
C) Ordenação por contraste.
Não se pode imaginar contraste mais violento do que o existente entre as duas
regiões.Deumlado,aterraescura,pegajosa,úmida,cavadadesulcosouembebidade
água [...]. De outro lado, um caos de pedras cinzentas cravadas em desordem no chão
de argila seca, rachado pelo sol [...]. No litoral, a riqueza da vegetação [...]. No sertão,
a caatinga, como lhe chamavam os índios, com uma vegetação de cactos, de moitas
espinhosas, de árvores esqueléticas [...].
Roger Bastide. Brasil Terra de Contrastes, 1976.
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MÓDULO 11 - MÉTODOS DE LEITURA E INTERPRETAÇÃO: SUBLINHAR,
RESUMIR E ESQUEMATIZAR
Ler,comovocêsjáviram,émuitomaisquedecodificarsignos,quejuntarletras
em sílabas, sílabas em palavras, palavras em frases. Ler, além deste conhecimento
básicodadecodificação,exigeapresençadeumsujeitoqueativasuasmemórias,seus
conhecimentos de mundo; que ativa, inclusive, sua capacidade de relacionar-se com o
outro. Ler é estar em contato com o outro, numa atitude de negociação, de troca. A ponte
que nos possibilita este contato é o texto, o qual temos estudado nesta nossa disciplina.
Há, portanto, três elementos imprescindíveis no ato da leitura: o autor, o texto e
o leitor. Quanto mais íntimo e intenso for o relacionamento entre estes elementos, mais
prazerosa e mais rica será a leitura.
O que queremos de uma leitura? Queremos prazer, compreensão, conhecimento,
informações; divertimento, etc. No entanto, nada disso será alcançado se não
conseguirmos construir (ou reconstruir) o sentido de um texto. Para a construção do
sentido é necessário considerar que existe a linha e a entrelinha; o dito e o não dito;
apalavraeos inúmerossignificadosqueelaadquireconformeocontexto.Opoema
a seguir, deCarlosDrummond deAndrade, ilustra bemesta busca pelo significado,
inerente ao ato da leitura:
(...)Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada umatem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,pobre ou terrível, que lhe deres: Trouxeste a chave?
(Carlos Drummond de Andrade)
São chaves que podem abrir possibilidades de uma leitura profícua:
a) Procure saber quem é o autor do texto, qual a ideia que ele defende.
b) Observe no texto os recursos argumentativos utilizados para convencer o leitor
a aceitar as ideias do autor.
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c) Veja em qual veículo foi publicado o texto e procure entender qual a linha deste
veículo(posiçõespolíticas,sociais,culturais)
d)Descubraquetipodeleitor,otextoeocanal(revista,livro,jornal)pressupõem:
se dirigidas a classes sociais diferentes conforme, por exemplo, o grau de escolarização,
etc.; se dirigidas a homens ou mulheres, adultos ou adolescentes.
e) Identifiquea intençãodoautorpelos tiposegênerosescolhidos (persuadir,
ensinar, descrever, ordenar, narrar, vender, ludibriar, comover, deleitar)
f) Use seu conhecimento de mundo e seu conhecimento linguístico para
estabelecerrelaçõescomasnovasinformaçõesdotexto;paracriticá-laseavaliá-las.
g) Interaja com o texto: faça inferências, comparações; duvide, pergunte,
responda, mas também compactue com o autor e, se plausível, aceite o texto. Aceite-o
como mais um acréscimo ao seu conhecimento de mundo.
h) Leia e conheça o maior número possível de gênero textual.
i) Estabeleça um objetivo de leitura, pois isso determinará o tempo e o tipo de
atenção e interação. Alguns objetivos de leitura:
BuscarinformaçõesRealizar trabalhos acadêmicosConsultar(significados,localizações,listasetc.)Cumprireventuaisobrigações:manuais,bulaSentir prazer, deleite
Casooobjetivodeleiturasejaadquiririnformaçõesparaestudooupara
elaboraçõesdetrabalhadosacadêmicos,porexemplo,háalgunsaspectosnecessários
para uma leitura “proveitosa”, descritos por Marconi e Lakatos (2009, p.20): atenção,
intenção,reflexão,espíritocrítico,análiseesíntese.
Espírito crítico [...] implica julgamento, comparação, aprovação ou não, aceitaçãoourefutaçãodasdiferentescolocaçõesepontosdevista.Lercomespíritocríticosignificafazê-locomreflexão,nãoadmitindo62rahmasemanalisarouponderar,proposiçõessemdiscutirnemraciocíniosemexaminar; consiste em emitir juízo de valor, percebendo no texto o bom e o verdadeiro, da mesma forma que o fraco, o medíocre ou o falso (MARCONI; LAKATOS, 2009, p.21).
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É o espírito crítico que impede o surgimento de um leitor passivo, aquele que não
constrói os sentidos; aquele que, por não possuir uma atitude responsiva de interação,
é facilmente dominado pelas ideias que navegam pelo texto.
Analisar significa dividir o texto em partes e determinar a relação que existe
entre estas partes. Para sintetizar, reconstituem-se as partes decompostas na análise,
utilizando somente os aspectos estritamente essenciais. Analisar e sintetizar são
aspectos fundamentais em uma leitura informativa; por isso, você aprenderá agora as
técnicas de sublinhar, resumir e esquematizar.
A) Sublinhar: esta técnica deve ser utilizada somente em material próprio –
apostila,cópias,anotaçõesemcadernooumesmoemtextospertencentesaosarquivos
de seu computador; neste último caso, selecione e sublinhe. Sublinhar é muito útil para:
assimilar;
memorizar;
preparar uma revisão rápida do assunto;
aplicaremcitações;resumir;esquematizar;
fichar
Método:
Faça uma leitura integral do texto e esclareça vocabulário, termos técnicos
e outros.
Façaumareleituraparaidentificarasideiasprincipais.
Selecione e sublinhe o mais importante, as ideias mestras.
Identifiqueasideiassecundáriasqueacompanhamasideiasmestras.
Assecundáriasobjetivamesclareceroujustificaraideiaprincipalpormeiodeargumento,
exemplos, analogias etc.
Emtextoscurtosepararesumiroufichar,numere,antesdesublinhar,
os parágrafos.
Assinalecomlinhavertical,àmargemdotexto,ostópicosmaisimportantes.
Assinalecomumpontodeinterrogação,àmargemdotexto,discordâncias,
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argumentos discutíveis ou trechos que você não compreendeu.
Leiaoquefoisublinhadoparaverificarsehásentido.
Importante: sublinheapenasoestritamentenecessárioe,nofinaldo trabalho,
faça uma leitura comparando o texto original com o texto sublinhado.
Está na hora de a paixão reencontrar sua direção. Se as utopias criadas e alimentadas pela vida já não entusiasmam, cabe dirigir o ímpeto da paixão e do entusiasmoàprópriavida.Nãoàvidabiológica,reservadaaoscuidadosdosecologistas,masàvidabiográfica,àminhavida,àvidadecadaqual.Paravivercomplenitude,tenhoquemeapaixonarpelaminhacircunstânciaepelomeudestino,tenhoqueidentificar,passionalmentecomminhavocação,únicamaneirade imprimiràvidatodaafelicidade criadora de que ela é capaz.
KUJAWSKI, Gilberto de Melo. A Crise do Século XX.São Paulo: Editora Ática, 1988.
Com o texto devidamente assinalado, você pode proceder à elaboração do
esquema.
B) Esquematizar: esta técnica emerge naturalmente da análise realizada. O que foi
sublinhado,obedecendoàhierarquiadomaisparaomenosimportante,seráreescrito
utilizando marcadores alfabéticos ou numéricos, símbolos, chaves ou flechas. O
importante é que estes recursos contribuam para a compreensão do esquema.
A questão é determinar o que é mais importante: as palavras-chave, as frases-
mestra – aquelas que, como vimos, carrega o sentido primordial do texto. Uma vez
localizada estas palavras ou frases, deve-se localizar as outras que estão associadas a
elase,finalmente,apresentá-lasemtópicos.
Asmaisimportantesficamemumalinhasemrecuoparaparágrafo.Asquelhe
sãoagregadasficamsinalizadasnaslinhassequencialmenteabaixoemumrecuomaior
emrelaçãoàmargemesquerda.
Paixão: reencontrar direção
Utopias já não entusiasmam.
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Ímpetodapaixãoedoentusiasmodeveserdirigidoàprópriavida.vidabiológica:
reservada aos cuidados dos ecologistas.
vidabiográfica:
minha circunstância
meu destino
minha vocação
felicidade criadora
Observe que no texto sublinhado há um encadeamento das ideias que giram
em torno das palavras-chave paixão e vida. A palavra vida é subdividida em biológica
ebiográfica;à vidabiográficasãoacrescidossignificadosqueadiferenciamdavida
biológica. A um dos agregados de vida biológica – vocação – coube a responsabilidade
pela felicidade criadora.
Com o texto devidamente decomposto, podemos reconstruí-lo por meio de uma
síntese, tomando por base as ideias essenciais e a ordem entre estas ideias.
C) Resumir: condensar em forma de parágrafo, com sentido completo, os tópicos que
foram apresentados no esquema.
Para que a paixão reencontre sua direção, deve-se apaixonar pela vida;
deve- se apaixonar pelas circunstâncias, pelo destino e pela vocação, a
responsávelporimprimiràvidaafelicidadecriadora.
Na elaboração de um resumo:
Aordemdasideiaseasequênciadosfatosnãodevemsermodificadas.
Asopiniõesdoautordevemserrespeitadas,semacréscimodequalquer
comentário ou julgamento pessoal por parte do elaborador do resumo.
Deve-semanterfidelidadeaotexto.
Os parágrafos reiterativos deverão ser reduzidos a um apenas.
Para o resumo de textos longos ou de livros, deve-se buscar a síntese do assunto
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por meio da análise das partes do texto. O exame do índice ou sumário poderá auxiliar
a percepção do conjunto da obra.
A elaboração de um resumo deve obedecer aos seguintes itens:
Apresentar, de maneira sucinta, o assunto da obra. Empregar linguagem clara e
objetiva.
Apontarasconclusõesdoautor.
Dispensar consulta ao original para a compreensão do texto.
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MÓDULO 12 - LEITURA DE IMPLÍCITOS
Não há como, uma sociedade que faz uso da escrita para a construção e
transmissão de seus conhecimentos adquirir e desenvolver conhecimentos, desprezando
a importância da leitura. Desprezar a leitura é desprezar o próprio conhecimento.
Muitosconsideramquebasta lerostextosreferentesàsuaáreaprofissionale
apenassaberescreverostextosqueasuaprofissãoexige.Noentanto,essalimitação
sódefinhaaqualidadedoprofissional.Oimportanteéodesenvolvimentodacapacidade
linguística, da capacidade de ler, interpretar e escrever qualquer tipo de texto.
Contudo, compreender determinados textos pode-se tornar um desafio e até
mesmo um tormento para alguns leitores. Isso pode acontecer, como vimos, quando, por
exemplo, a carga informacional do texto é muito maior que o conhecimento de mundo
do leitor (também chamado de conhecimento enciclopédico). Porém, pode acontecer
também porque o leitor se mantém na leitura das linhas, na superfície do texto, sem
mergulhar nas entrelinhas.
Precisamos ler o dito e o não-dito, pois muitas vezes este carrega mais
informaçõesqueoquefoiexpliciitamentedito.Aoescrever,oautorselecionapalavrase
informaçõesdeumconjuntoX.Asoutraspalavraseinformaçõesnãoselecionadas,as
excluídas, também aparecem no texto através de sua ausência. E nós vamos ler estas
que não aparecem explicitamente no texto a partir do que foi dito pelo autor e a partir do
entrecruzamentodasinformaçõesquepossuímoscomaquelasqueoautornosfornece.
Sim:éumaluta!MascomoafirmouDrummondemseusversos,
(...)Lutar com palavras
é a luta mais vã.Entanto lutamos,
mal rompe a manhã.
A capa da revista Veja, a seguir, traz o título “O Novo Homem”, apresentando o
artigo principal. Sem ler o artigo, apenas a manchete e o olho (um texto mais explicativo
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que o título principal para garantir a leitura da reportagem) podemos depreender o não-
dito, mergulhar nas entrelinhas e, assim, criticarmos as escolhas do autor. A consequência
desse tipo de leitura será um leitor que não é conduzido passivamente pelas ideias do
autor.
REVISTA VEJA. 0 Novo Homem (Capa). Edição 1822.01/10/2003. Disponfvel em http://veja.abril.com.br/acervodigital/home.aspx. Acesso em outubro de 2012.
O Novo homem é o título da reportagem. Se há um novo é porque houve ou há
um velho que está por acabar. Logo, o título já está determinando um marco. Busca-se
comprovarestaafirmativaapondocaracterísticasaeste“novohomem.”Noentanto,a
cada característica do “novo” é apontada (implicitamente) outra do “velho”, desvelando
a visão do (a) autor (a) sobre o “velho homem”. Vamos por partes:
1º)Afirma-sequeonovohomem“desenvolveuasensibilidade”.Seeledesenvolveu
é porque o velho não desenvolvera; logo, os homens eram insensíveis.
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2º)“interessa-semaispelosfilhos”:o“velhohomem”interessava-sepoucopelos
filhos.
3º)“Assumeeexibeemoções”:o“velhohomem”nãoassumianemexibiasuas
emoções.
4º) “Preocupa-se com a aparência”: Logo, o “velho homem” era um desleixado.
5º) “Aprecia culinária”: se o “velho homem” não apreciava, então ele nem devia
cozinhar!
6º) “Apurou seu senso estético”: o “velho homem” era rude, grosseiro, não
apreciava a arte.
7º) “É forte, mas tem estilo”. Observe para o (a) autor (a) tanto o velho quanto o
novo possuem a característica força. No entanto, o “velho” é forte sem estilo. E ter estilo
seriamaisimportantequeserforte.Aliás,terestiloéoquejustificaserforte.Forçasem
estilo não é nada (para o autor!).
Observe que o (a) autor (a) peca pela generalização excessiva e pela construção
deumestereótipo.Lendooditoeonão-dito,aofinaldotexto,oleitornãoconcordará
comaafirmativadeque“estánascendoonovomachodoséculoXXI”.Lendooimplícito,
asafirmativasexplícitas,nessecasodacapadarevista,perderamovalorargumentativo.
Caso não lêssemos o implícito, seríamos conduzidos por inverdades.
Há duas formas de implícitos: o pressuposto e o subentendido.
Opressupostodecorredosentidodecertaspalavrasouexpressõesdafrase.
Jáosubentendidosãoinsinuaçõesnãomarcadaslinguisticamentenafrase.
12.1 PRESSUPOSTOS
Os pressupostos são um recurso argumentativo que visa a levar o leitor ou ouvinte a aceitar certas ideias. Ao introduzir um conteúdo sob a forma de pressuposto, o falante transforma o ouvinte em cúmplice, pois a ideia implícita não é posta em discussão, é apresentada como se fosse aceita por todos,eosargumentosexplícitossócontribuemparaconfirmá-la.O pressuposto aprisiona o ouvinte ao sistema de pensamento montado pelo falante. (PLATÃO & FIORIM, 2002, p.307)
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No entanto, como vimos na leitura da capa da revista Veja, o aprisionamento a
que se referem Platão e Fiorim só acontece, quando o leitor não lê o implícito.
É preciso ler o pressuposto para admiti-lo ou não como verdadeiro. Admitindo-o
comoverdadeiro,aafirmaçãoexplícitatambémoserá.Nãooadmitindocomoverdadeiro,
a informação explícita também não será ou não terá cabimento; será ilógica.
A aceitação do pressuposto estabelecido pelo falante permite levar adiante o debate; sua negação compromete o diálogo, uma vez que se destrói a base sobre qual se constroem os argumentos e daí nenhuma proposição tem mais importância ou razão de ser. Com pressupostos distintos, o diálogo não é possível ou não tem sentido. (PLATÃO & FIORIM, 2002, p.307)
Se alguém lhe diz que Sandra parou de fumar, você admite como verdade desde
que concorde que ela fumava. O verbo traz o pressuposto: não há como parar se nunca
começou. No entanto, se chega uma terceira pessoa e lhe diz que Sandra nunca fumou,
aafirmativaexplícitadaprimeirapessoatorna-sefalsa.
Vejamos outros casos de pressupostos que Platão e Fiorim (2002, p.307-309)
elencam:
1) André tornou-se um antitabagista convicto.
Informação explícita: André é um antitabagista convicto. Do sentido do verbo
tornar-se,quesignifica“viraser”,decorreainformaçãoimplícitadequeanteriormente
André não era um antitabagista convicto. Se André fosse antes um antitabagista convicto,
não se poderia usar o verbo tornar-se.
2)Pedroéoúltimoconvidadoachegaràfesta.
Informação explícita: Pedro chegou depois de todos os outros convidados. Se ele
foi o último a chegar, está logicamente implícito que todos chegaram antes dele.
3) Todos vieram; até Maria.
Se Maria participasse de todas as festas, não teria o menor sentido dizer até. Até,
no caso, contém o pressuposto de que é inesperada ou inusitada a presença de Maria
na festa.
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Termos que, segundo Platão e Fiorim (2002, p.309, 310) servem de
marcadores de pressupostos:
1)Adjetivos(oupalavrassimilares):NasceonovomachodoséculoXXINovopressupõe:
a) Que existia ou ainda existe o velho macho
b) Que tanto o novo quanto o velho são machos
2) Verbos que indicam mudança ou permanência de estado (por exemplo,
opermanecer,continuar,tornar-se,viraser,ficar,passar[a],deixar[de],começar
[a] principiar [a], converter-se, transformar-se, ganhar, perder):
Sandra e Júnior continuam felizes.
O verbo continuar indica que Sandra e Júnior já estavam felizes no momento
anterior ao presente.
3) Verbos que indicam um ponto de vista sobre o fato expresso pelo seu complemento
(por exemplo, pretender, supor, alegrar, presumir, imaginar):
A professora pretende que todos os alunos aprendam a matéria;
Overbopretenderpressupõequeseuobjetivodiretoéverdadeiroparaosujeito,
no caso, a professora, e falso para o produtor do texto.
4) certos advérbios:
A produção agropecuária brasileira está totalmente nas mãos dos brasileiros.
Oadvérbio totalmentepressupõequenãohánoBrasilnenhumestrangeiroprodutor
agrícola.
5)Certasconjunções:
Frequentei a Universidade, mas aprendi bastante.
O pressuposto é que na universidade não se aprende nada.
6)Oraçõesadjetivas:oprodutordo textoescreveráumaoraçãoadjetivarestritivaou
uma adjetiva explicativa segundo o pressuposto que quiser comunicar.
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a)Explicativa–comvírgula–pressupõe-sequeoqueelaexpressaserefereà
totalidade dos elementos do conjunto designado pelo antecedente do pronome relativo
Os brasileiros, que não se importam com a coletividade, só se preocupam com seu bem-
estar e, por isso, jogam lixo na rua, fecham o cruzamentos etc.
O pressuposto é que todos brasileiros não se importam com a coletividade.
b)Restritiva–semvírgulas–pressupõe-sequeoqueeladizconcerneapenas
a parte dos elementos do conjunto expresso pelo antecedente do pronome relativo.
Os brasileiros que não se importam com a coletividade só se preocupam
com seu bem-estar e, por isso, jogam lixo na rua, fecham os cruzamentos etc.
Nesse caso, o pressuposto é que alguns brasileiros não se importam com a
coletividade e só esses é que “ jogam lixo na rua, fecham os cruzamentos etc.”
12.2 SUBENTENDIDO
Muitas vezes conseguimos ler o implícito a partir de uma palavra ou expressão
e, neste caso teremos um pressuposto. Porém, há casos em que o não dito só pode ser
inferido a partir de um conhecimento de mundo do leitor e da sua capacidade de analisar
o contexto em que foi proferida a frase (ou todo o texto). No subentendido, o implícito
não está demarcado linguisticamente no texto.
Helga, esposa de Hagar, conta para sua amiga que o marido de Irma havia parado
de beber. A amiga responde:
(BROWNE, 20 /12/2006)
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Helga não disse que ele havia morrido e sim que tinha parado de beber. Em
“parou de beber”, o pressuposto é que ele bebia. Daí a ter morrido é uma informação
que a amiga só pôde inferir por ter conhecido o esposo da Irma e saber que ele só iria
parar de beber quando morresse. A morte do marido de Ilma foi, portanto, subentendida
pela amiga.
Segundo Platão e Fiorim (2002), existe uma diferença capital entre pressupostos
e subentendidos:
O pressuposto é uma informação estabelecida como indiscutível tanto para o
falante quanto para o ouvinte, uma vez que decorre necessariamente de algum elemento
linguístico colocado na fase. Ele pode ser negado, mas o falante coloca-o de maneira
implícita para que não o seja.
Já subentendido é de responsabilidade do ouvinte. O falante pode esconder-se
atrás do sentido literal das palavras e negar que tenha dito o que o ouvinte depreendeu
de suas palavras. O subentendido serve, muitas vezes, para o falante proteger-se. Com
ele, transmite a informação que deseja dar conhecer sem se comprometer.
Veja queHagar, na condição de pai, não deveria responder negativamente à
perguntadeHamlet,seufilho.Porissorespondeafirmativamente.Noentanto,ofilho
percebe a negativa na possibilidade muito remota de se jantar com o rei da Inglaterra, e
questiona novamente o pai. Este não responde que sim nem que não, ou seja, esconde-
seatrásdoenunciadoexplícito;maspedequea faladelenãoseja contadaàmãe.
Certamente porque ela conhece muito bem o enunciador e o contexto para depreender
o subentendido. Dessa forma, Hagar não teria como negar o que disse no não-dito.
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Disponível em: http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&cad=rja&docid=
aRPZ26ykEPENnM&tbnid=loWpMG2ctJfnvM:&ved=0CAQQjB0&url=http%3A%2F%2Faescritanasentrelinhas.com.br%2F2008%2F05%2F17%2F
questao-discursiva-em-blog-para-concurseiro%2F&ei=zJ7qUoyRH5LQkQeEloH4DA&bvm=bv.60444564,d.eW0&
psig=AFQjCNH8knBs7qkw-I2kBa3VW7Jgqqii5g&ust=1391194167607880.
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UNIDADE 4MÓDULO 13 - AMBIGUIDADE
Ambiguidade é a ocorrência de dois ou mais sentidos em uma mesma sentença;
é uma comunicação que possui mais de uma interpretação. Ela pode ser proposital ou
resultado de um equívoco do locutor. Tratar de ambiguidade é caminhar no terreno dos
sentidos,dossignificadosmúltiplosqueumtextoadquire.
Proposital ou não, é decorrente do jogo com as palavras e sua colocação na
frase. E, como num jogo, o objetivo do ouvinte/leitor é descobrir a intenção do
falante/escritor para desfazer a ambiguidade.
Muitas vezes acontece de o autor de um texto não perceber a ambiguidade por
acreditar que aquilo que quis dizer ter sido bem dito; outras tantas vezes, acontece de o
leitor também não perceber a ambiguidade e construir o sentido conforme esta leitura.
Nesses casos, nem o autor realiza sua intenção nem o leitor constroi o sentido e o jogo
termina como um jogo da velha, quando nenhum dos jogadores ganha.
Não basta estar atento ao discurso para perceber as ambiguidades. É preciso
conhecerasartimanhasdalíngua,parapoderflagrá-lanouso.Éprecisoconhecertodos
os geradores da ambiguidade. Só assim, poderemos utilizá-los como recurso estilístico
ou evitá-los, se estiverem comprometendo o sentido. Só assim poderemos, em uma
leitura, perceber se ambiguidade foi ou não proposital e, caso tenha sido, com qual
propósito.
A ambiguidade pode ser gramatical, lexical e também visual. Neste último caso
será, artisticamente, proposital. Estudaremos, prioritariamente, os dois primeiros e, com
o terceiro, apenas ilustraremos algumas ocorrências.
A ambiguidade é lexical quando surge do emprego de palavras que
possuemmaisdeumsignificado.Égramaticalquandosurgedeproblemasnaestrutura
das frases. É visual quando no jogo de cores e do claro/escuro, mais de uma imagem
pode ser visualizada.
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13.1 Ambiguidade lexical
Vocês já sabem: nossa língua está em constante mudança! Palavras
entram e saem a todo instante. Algumas vão para nunca mais voltar, outras chegam e
se mantêm em uma eterna metamorfose: mudam a forma, o sentido, adaptam-se ao
tempo; outras são palavras jovens que nascem no agora.
Nestafestadaspalavras,muitasagregamsignificadosnovossemsedesvencilhar
dos antigos – são as chamadas palavras polissêmicas; e muitas adquirem a mesma
formaesom,mascomsignificadosdiferentes–sãoaschamadaspalavrashomônimas;
outras,ainda,possuemomesmosom,mascomformaesignificadosdiferentes–são
as chamadas homófonas. Polissêmicas e homônimas e homófonas favorecem o
surgimento da ambiguidade lexical.
Quando em contato com o falante, podemos resolver a ambiguidade no diálogo.
Um simples “o que você quis dizer com isto?” pode levar ao entendimento. Mas, em um
texto, não dá para fazer esta mesma pergunta ao autor; por isso precisamos de dois
elementos-chave: o conhecimento de mundo (do leitor) e o contexto.
O contexto é depreendido das palavras que estão ao redor da palavra ambígua,
do gênero em que o texto foi escrito, de onde foi publicado, da época da divulgação, dos
fatos que estavam acontecendo na época da publicação. Para sabermos o contexto, é
preciso, portanto, fazer um levantamento dos elementos textuais e dos extratextuais.
Veja o que um grupo de amigos, residentes em Campo Grande, no Mato Grosso
do Sul, publicou em um outdoor:
Outdoor “Faça como o dunga”. Disponível em http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://s.glbimg.com/es/ge/f/original/2010/05/13/outdoordunga620.jpg&imgrefurl. Acesso em dezembro de 2012.
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A ambiguidade desse outdoor é visivelmente proposital. Sabemos disso porque
levantamos o contexto:
1º) A disseminação no país da droga crack e o mal que ela exerce sobre o
usuário e todas as pessoas ao seu redor.
2º) Dunga era técnico da seleção brasileira e conhecemos bem a história,
comum em nosso país, de torcedores estarem sempre insatisfeitos com os técnicos,
pois cada torcedor se vê como um técnico.
A intenção do outdoor era, portanto, criticar o técnico e, em segundo plano, dizer
umnãoàsdrogas.Para isso,utilizaram-sedo jogodashomófonascraque/crack.Os
craques (aqueles que se distinguem em alguma atividade, aqueles que são os melhores),
para os elaboradores do outdoor, eramos que pertenciamà lista que elesmesmos
levantaram, obviamente diferente da lista de Dunga. Fazer como Dunga e não usar
droga é um conselho paralelo depreendido do jogo das palavras.
Para evitar ou desfazer a ambiguidade lexical é preciso conhecer o contexto de
enunciação. Pode-se, também, substituir o vocábulo por outro de sentido equivalente.
Para isso, tenha sempre um dicionário por perto. Um dicionário é extremamente bom
paraaquelesquesemprequeremmaissignificadosprecisos:
Propaganda dicionário “Aurélio Bom pra burro”. Disponível em http://www.google.com.br/imgres?q=Propaganda+dicionário+“Aurélio+Bom+pra+burro”&hl. Acesso em dezembro de 2012.
Desfazendoaambiguidade:aexpressão“bompraburro”significaqueémuito
bom e não que se destina aos burros.
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À propósito: leia os diversos significados da palavra burro extraídos do
dicionário:
Burro (lat burru) 1 Zool Produto híbrido resultante do cruzamento da égua com o jumento; é menos corpulento que o cavalo e tem orelhas muito grandes e crina curta. 2 Zool V jumento. Col(acepções1e2):lote,manada,récua,tropa.Voz:azurra,ornea,orneja,rebusna,relincha,zorna, zuna, zurra. 3 fam Indivíduo estúpido, grosseiro, teimoso ou muito ignorante. 4 Jogo de cartas próprio para crianças, no qual ganha o parceiro que primeiro se descarta. 5 O parceiro que perde em cada partida desse jogo. 6 Náut Cabo para dar direção ao extremo da verga da mezena. 7 Pontalete que sustém horizontalmente carro de boi ou carroça. 8 Cavalete triangular, de altura regulável, em que se prende a madeira que vai ser serrada. 9 Armação em que os canteiros lavram as lousas de pedra. 10 Prensa para espremer raspa de mandioca; arataca. 11 Aparelho para torcer o fumo em corda. 12 Náut Pequeno motor auxiliar. 13 Tradução literal de autor clássico para auxilar os estudantes de línguas antigas. 14 Folc O médium de exu em quimbanda. B.-burreiro, Reg (Rio Grande do Sul): burro padreador de um lote de burras. B.-choro, Reg (Rio Grande do Sul): burro padreador de um lote de éguas; hechor. B. de carga: pessoa que trabalha em demasia. B. montês: espécie de jumento bravo; onagro. B. sem rabo: carregador que puxa um carrinho de mão. Adj Asnático, estúpido, grosseiro, tolo. Pra burro, gír: em grande quantidade; muito, em demasia.
13.2 Ambiguidade gramatical.
Uma peculiaridade da nossa língua é ela admitir a mudança de posição das
palavrasnafrase.Porexemplo,colocaroadvérbio(quemodificaoverbo,oadjetivoeo
próprioadvérbio)distantedotermoqueeleestámodificando,colocaroadjetivoantesou
depois do substantivo, colocar o pronome anteposto ou posposto ao substantivo e assim
por diante.
A língua admite essas mudanças, porém, as mudanças deflagram novos
significadoseoacúmulodestespodegerardúvidassobreaintençãodofalante/escritor.
Para evitar ou desfazer a ambiguidade gramatical, é preciso, portanto, entender
queaspossibilidadesdeorganizaçãodafrasepodemdarorigemaváriasinterpretações.
Porisso,éprecisoconheceraestruturanormaldafraseesuasmodificações.
A estrutura da nossa língua é Sujeito – verbo – complemento. A qualquer inversão
destes termos ou dos elementos que se agregam a eles, devemos ficar atentos.
Sobretudo, para resolver as ambiguidades, devemos:
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Identificaraquepalavraserefereumpronome.Observaraposiçãodosadjuntos
adverbiais.
Observaraposiçãodaspalavrasnasoraçõesadjetivas.
Vejamos algumas frases comuns utilizadas, didaticamente, para a constatação
da ambiguidade:
Procuro a chave do cofre que estava no quarto.(o que estava no quarto: a chave ou o cofre?)
Exigi o livro de Pedro.(o livro pertence a Pedro ou o livro está com Pedro e eu necessito dele?)
Crianças que comem doce frequentemente têm cáries.(elas têm cáries por que comem doce com frequência ou há mais probabilidade de
ocorrerem cáries em crianças que comem doces?)Passeandonocentrodaquelapacatacidade,vimosotraficante.
(quemestavapasseando:nósouotraficante?)
O advogado disse ao réu que suas palavras convenceriam o juiz.(as palavras de quem: do advogado ou do réu?)
O Manual de Redação da Presidência da República (2002)4 traz bem explicadinhas
as causas das ambiguidades gramaticais e as formas de resolvê- las. Vamos transcrever
estasocorrênciasesuasrespectivascorreções:
1) pronomes pessoais:
Ambíguo: O Ministro comunicou a seu secretariado que ele seria exonerado.
Claro: O Ministro comunicou exoneração dele a seu secretariado. Ou então, caso
o entendimento seja outro:
Claro: O Ministro comunicou a seu secretariado a exoneração deste.
2) pronomes possessivos e pronomes oblíquos:
Ambíguo: O Deputado saudou o Presidente da República, em seu discurso, e
solicitou sua intervenção no seu Estado, mas isso não o surpreendeu.
Observe-se no exemplo acima a multiplicidade de ambiguidade que torna 4 Disponível em http://www.proec.ufg.br/arquivos/ManualRedPR2aEd.PDF
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inapreensível o sentido da frase.
Claro: Em seu discurso o Deputado saudou o Presidente da República. No
pronunciamento, solicitou a intervenção federal em seu Estado, o que não surpreendeu
o Presidente da República.
3) pronome relativo:
Ambíguo: Roubaram a mesa do gabinete em que eu costumava trabalhar.
Nãoficaclaroseopronomerelativodasegundaoraçãoserefereamesaoua
gabinete, essa ambiguidade se deve ao pronome relativo que, sem marca de gênero.
Asoluçãoérecorreràsformasoqual,aqual,osquais,asquais,quemarcamgêneroe
número.
Claro: Roubaram a mesa do gabinete no qual eu costumava trabalhar. Se o
entendimento é outro, então:
Claro: Roubaram a mesa do gabinete na qual eu costumava trabalhar.
4) ambiguidade que decorre da dúvida sobre a que se refere a oração reduzida:
Ambíguo: Sendo indisciplinado, o Chefe admoestou o funcionário.
Para evitar o tipo de ambiguidade do exemplo acima, deve-se deixar claro qual o
sujeito da oração reduzida.
Claro: O Chefe admoestou o funcionário por ser este indisciplinado.
Ambíguo: Depois de examinar o paciente, uma senhora chamou o médico.
Claro: Depois que o médico examinou o paciente, foi chamado por uma
senhora.
Defeitosàparte,éprecisonuncaseesquecerdequesemaambiguidade,muito
do nosso riso não existiria, pois muitas piadas se fundamentam no duplo sentido de uma
estruturagramaticaloudoempregodepalavrascommaisdeumsignificado.
1) Doutor, já quebrei o braço em vários lugares.
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- Se eu fosse o senhor, não voltava mais para esses lugares.
2) Não deixe sua cadela entrar na minha casa de novo. Ela está cheia de pulgas.
- Diana, não entre nessa casa de novo. Ela está cheia de pulgas.
3) O bêbado está no consultório e o médico diz:
- Eu não atendo bêbado.
- Quando senhor estiver bom eu volto. – disse o bêbado
Também o texto propagandístico muito perderia sem a ambiguidade:
PropagandaNestlê“Enchaseufilhodebolacha”.Disponívelemhttp://www.google.com.br/imgres?q=Propaganda+Nestlê+“Encha+seu+filho+de+bolacha”.Acessoemdezembrode2012.
Propaganda assistência funerária Sinaf. “Como arrumar uma coroa”. Disponível em http://www.google.com.br/imgres?q=Propaganda+assistência+funerária+Sinaf. +“Como+arrumar+uma+coroa”.&hl. Acesso
em novembro de 2012.
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13.3 Ambiguidade visual
Como antecipamos, este tipo de ambiguidade possui um objetivo artístico e é
decorrente do jogo das formas e das cores e seus matizes:
Disponível em: http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&docid=KGC-jy34AYu7nM&tbnid=RloBgqBDQvqkYM:&ved=0CAQQjB0&url=
http%3A%2F%2Fhellengleici.blogspot.com%2F2010%2F12%2Flicao-10-as-mensagens-subliminares.html&ei=4aPqUuHeLNTJkAe33IDADA&bvm=
bv.60444564,d.eW0&psig=AFQjCNFNfUVn4bpAgS-siZKsDF7ficgm0A&ust=1391195486037478.
A moça e a velha
Disponível em: url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&cad=rja&docid=QUdUTrPQ3RJ6yM&tbnid=TuyyRLAeoLTtAM:&ved=0CAQQjB0&url=http%3A%2F%2Fwww.possibilidades.com.br%2Fpossibilimagens%2Fimagem.asp%3Fid%3D17&ei=aaTqUujkKYjqkAedq4CIDg&bvm=
bv.60444564,d.eW0&psig=AFQjCNFO4qafrPNYUoH8Y54F_bXS_42iWw&ust=1391195623104202.
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Disponível em: http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=
images&cd=&cad=rja&docid=7zL_lwFzGAUI0M&tbnid=Cx3gT_ybkHuGsM:&ved=0CAQQjB0&url=http%3A%2F%2
Fdiletantismos.wordpress.com%2Ftag%2Filusao-otica-compreender-enganar-busca%2F&ei=6arqUruRGIvSkQeO6oC4CQ&bvm=
bv.60444564,d.eW0&psig=AFQjCNHjGsyxcC4eXdA70f-LzrxLyiFA8w&ust=1391197286955863.
13.4 Texto 4
Como ler um texto
O aprendizado da leitura
Interessa a todos saber que procedimento se deve adotar para tirar o
maior rendimento possível da leitura de um texto. Mas não se pode responder a essa
pergunta sem antes destacar que não existe para ela uma solução mágica, o que não
querdizerquenãoexistasoluçãoalguma.Genericamente,pode-seafirmarqueuma
leituraproveitosapressupõe,alémdoconhecimento linguísticopropriamentedito,um
repertóriodeinformaçõesexterioresaotexto,oquesecostumachamardeconhecimento
de mundo. A título e ilustração, observe a questão seguinte, extraída de um vestibular da
UNICAMP:
Às vezes, quando um texto é ambíguo, é o conhecimento de mundo que o leitor
tem dos fatos que lhe permite fazer uma interpretação adequada do que se lê. Um bom
exemplo é o texto que segue:
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AsvideolocadorasdeSãoCarlosestãoescondendosuasfitasdesexoexplícito.
A decisão atende a uma portaria de dezembro de 1991, do Juizado de Menores, que
proíbequeascasasdevídeoaluguem,exponhamevendamfitaspornográficasa
menores de 18 anos. A portaria proíbe ainda os menores de 18 anos de irem a motéis e
rodeios sem a companhia ou autorização dos pais. (Folha Sudeste, 6/6/92)
É o conhecimento linguístico que nos permite reconhecer a ambiguidade do texto
em questão (pela posição em que se situa, a expressão sem a companhia ou autorização
dos pais permite a interpretação de que com a companhia ou autorização dos pais os
menores podem ir a rodeios ou motéis). Mas o nosso conhecimento de mundo nos
adverte de que essa interpretação é estranha e só pode ter sido produzida por engano
do redator. É muito provável que ele tenha tido a intenção de dizer que os menores estão
proibidos de ir a rodeios sem a companhia ou autorização dos pais e de frequentarem
motéis.
Como se vê, a compreensão do texto depende também do conhecimento de
mundo,oquenoslevaàconclusãodequeoaprendizadodaleituradependemuitodas
aulas de Português, mas também de todas as outras disciplinas sem exceção.
Trêsquestõesbásicas
Uma boa medida para avaliar se o texto foi bem compreendido é a resposta a três
questõesbásicas:
I – Qual é a questão de que o texto está tratando? Ao tentar responder a essa
pergunta,oleitorseráobrigadoadistinguirasquestõessecundáriasdaprincipal,isto
e, aquela em torno da qual gira o texto inteiro. Quando o leitor não sabe dizer do que o
texto está tratando, ou sabe apenas de maneira genérica e confusa, é sinal de que ele
precisaserlidocommaisatençãooudequeoleitornãotemrepertóriosuficientepara
compreender o que está diante de seus olhos.
II – Qual é a opinião do autor sobre a questão posta em discussão? Disseminados
pelo texto, aparecem vários indicadores da opinião de quem escreve. Por isso, uma
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leituracompetentenãoterádificuldadeemidentificá-la.Nãosaberdarrespostaaessa
questão é um sintoma de leitura desatenta e dispersiva.
III – Quais são os argumentos utilizados pelo autor para fundamentar a opinião
dada? Deve-se entender por argumento todo tipo de recurso usado pelo autor
para convencer o leitor de que ele está falando a verdade. Saber reconhecer
os argumentos do autor é também um sintoma de leitura bem feita, um sinal claro de
que o leitor acompanhou o desenvolvimento das ideias. Na verdade, entender um texto
significaacompanharcomatençãooseupercursoargumentativo.
Francisco Platão Savioli. Disponível em82rah://www.oportaldosestudantes.com.br/dicas/importante/lertexto.asp
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MÓDULO 14 - CONOTAÇÃO E DENOTAÇÃO
Imagine uma língua em que cada palavra corresponde a uma exclusiva coisa; em
que haja uma correspondência inseparável entre objeto e palavra: para cada objeto uma
única e exclusiva palavra. Imaginou? Nem tente, pois esta
línguanãoexiste.Oquenóstemos,emtodasaslínguas,éumainfinidadedepalavras
queorasignificamoradeixamdesignificarequeservemoraaumoraaváriosobjetos.
Um caos. Mas é deste caos que emerge a comunicação.
LeiaumaexcelentedefiniçãodadaporAdéliaPrado,poetadeDivinópolis-MG,a
este terreno movediço, chamado palavra, no qual caminhamos:
Antes do nome
Não me importa a palavra, esta corriqueira. Quero é o esplêndido caos de onde
emerge a sintaxe, os sítios escuros onde nasce o “de”, o “aliás”,
o “o”, o “porém” e o “que”, esta incompreensível muleta que me apoia.
Quem entender a linguagem entende Deus cujo Filho é Verbo. Morre quem entender.
A palavra é disfarce de uma coisa mais grave, surda-muda, foi inventada para ser
calada.
Em momentos de graça, infrequentíssimos,
se poderá apanhá-la: um peixe vivo com a mão.
Puro susto e terror.
O disfarce da coisa é a palavra. Há uma esperança de acharmos a coisa pela
palavra. Por isso seguimos, neste caos, procurando a palavra. Esta, segundo os
estudiososdalíngua,possuemdenotação(umsignificadoquecorrespondeaoobjeto
representado)econotação(umsignificadoqueextrapolaacorrespondênciadicionarizada
entre palavra e objeto).
O sonho de todo aquele que espera cem por cento de clareza na comunicação
é que todas as palavras possuíssem apenas denotação. Sonho irrealizável, pois uma
palavrapodeterváriasdenotaçõeseinfindáveisconotações.
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14.1 Denotação
Denotar é indicar. Indicar é apontar com o dedo indicador. Quem aponta diz com
o dedo: “Olha, ali está!”. Logo, a denotação de uma palavra é o ato de ela apontar para
um objeto e dizer: “eis o objeto!”.
A denotação é aquele significado restrito que está no dicionário. Pertence à
linguagemcomum,usual.Porexemplo,vejaasdenotaçõesdapalavramonstroextraída
do dicionário Aurélio:
Monstro: [do latim monstru] S.m. 1. Corpo organizado que apresenta, em todas as suas partes ou em algumas delas, conformação anômala; aberração. 2. Ser fantástico, da mitologia ou da lenda, de conformação extravagante. 3. Animal excessivamente grande ou de aspecto espantoso:os monstros da pré-história. [...]
Veja que o significado até o recorte ([...]) está restrito ao animal.No entanto,
nacontinuaçãododicionárioestende-seosignificadoapessoaseacomportamentos
humanos.Háumatênuelinhaqueseparaadenotaçãodaconotação.Paraidentificá-la,
vamos enumerar algumas características da linguagem denotativa, também chamada
de referencial ou literal:
Refere-se ao sentido original da palavra buscando se aproximar da essência do
objeto (o que ele é).
Utiliza o sentido denotativo das palavras, ou seja, aquele retratado pelo dicionário.
Éalinguagemutilizadanostextosjornalísticos,científicos,livrosdidáticos,
entre outros.
O intuito do emissor é possibilitar somente uma interpretação.
Na linguagem denotativa, se você chama alguém de monstro, é porque este
alguém realmente é monstro. Se você diz que estamos devorando um planeta, é porque
realmente, literalmente, estamos comendo um planeta. A denotação quer tudo ao pé da
letra.
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REVISTA VEJA. Estamos devorando o planeta (Capa). Edição 2143. 16/12/2009. Disponível em http://veja.abril.com.br/acervodigital/home.aspx. . Acesso em dezembro de 2012.
E há aqueles que realmente aplicam a linguagem denotativa:
14.2 Conotação
A denotação quer tudo ao pé da letra, mas não é assim que uma comunicação
acontece. É preciso considerar que o que é claro para um leitor pode não ser para
outro; determinados leitores precisam de muitas palavras para o entendimento, outros
de poucas; determinados momentos precisamos ser mais concisos, em outros mais
prolixos;determinadassituaçõesénecessáriamaiorobjetividadee,emoutras,maior
subjetividade.
Tanto para favorecermos a construção do significado pelo leitor quanto para
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construirmososignificadoduranteumasituaçãodeinterlocução,éimportante
conhecermos as duas formas de linguagem: a denotativa e a conotativa.
Aconotaçãoéaquelacaracterísticadapalavradesignificaralémdoobjetoque
representa.Elaserefereaoobjetoparabuscarumasignificaçãoeestendê-laaoutro
objeto. Não está tão confuso assim; veja um exemplo comparativo:
1) Há um muro que divide nossas casas.
2) Desde aquela discussão, criou-se um muro intransponível entre nós
dois.
No primeiro exemplo, muro é muro mesmo: aquela divisória de cimento, areia e
tijolo. Logo, no sentido denotativo. Já no segundo, exemplo, muro é uma divisória, só que
não mais de cimento, areia e tijolos. É uma divisória feita de mágoas e ressentimento e
que age como um muro, dividindo os espaços, representando uma barreira entre duas
pessoas. Logo, no sentido conotativo.
Observequeaconotaçãopossuiumasignificaçãomaisampla,maissubjetiva,mais
relacionada ao sentimento de quem a utiliza. A linguagem conotativa, também chamada
de afetiva, é muito comum em textos literários e em propagandas. É uma linguagem
circunstancial, ou seja, criada conforme a circunstância e para a circunstância:
Outro exemplo para ilustrar:
No meio do caminhoNo meio do caminho tinha uma pedratinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedrano meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimentona vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminhotinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminhono meio do caminho tinha uma pedra
(Carlos Drummond de Andrade)
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Se a pedra no meio do caminho for uma pedra mesmo, não há muito o que se
pensar e aceitamos o sentido denotativo e pronto. Mas se a palavra pedra não estiver
definindoumapedramesmo,àquepoderiaelaestarse
referindo? Um obstáculo ou um incômodo qualquer ou uma dor ou... Ou várias outras
possibilidadesdesignificado,queserãoapreendidospornósquantomaior fornossa
capacidade de ler o contexto e de ler o mundo.
Adelia Prado, em seu poema Paixão, fala-nos deste momento terrível para o
poeta de olhar pedra e ver, denotativamente, pedra.
PaixãoDe vez em quando Deus me tira a poesia.
Olho pedra, vejo pedra mesmo.O mundo, cheio de departamentos,
não é a bola bonita caminhando solta no espaço. [...]Adélia Prado.
Que tenhamos sempre a possibilidade de ler tanto a pedra quanto as
incontáveisconotaçõesdapedra!
17.3 Texto 5
GeneralizaçãoeEspecificação A linguagemé tantomais clara, precisa e pitoresca quantomais específica econcreta.Generalizaçõeseabstraçõestornamconfusasas87rahma,traduzemconceitosvagoseimprecisos.Queéqueexpressamosrealmentecomoadjetivo‘belo’,desentidogeraleabstrato,aplicávelaumainfinidadedeseresoucoisas,quandodizemosumabelamulher,umbelodia,umbelocaráter,umbeloquadro,umbelofilme,umabelanotícia, um belo exemplo, uma bela cabeleira? É possível que a ideia geral e vaga de ‘beleza’lhessejacomum,masnãosuficienteparadistingui-los,paracaracterizá-losdemaneira inconfundível. Praticamente quase nada se expressa com esse adjetivo aplicado indistintamente a coisas ou seres tão díspares. Seria possível assinalar-lhes traçossingularizantespormeiodeoutrosadjetivosmaisespecíficos–mulheratraente,tentadora, sensual, arrebatadora, elegante, graciosa, meiga...; dia ensolarado, límpido, luminoso, radiante, festivo...; caráter reto, impoluto, exemplar...; rapaz esbelto, robusto, guapo, gentil, cordial, educado... É claro que, ainda assim, o resultado não seria grande coisa, pois muitos dos adjetivos propostos são ainda bastante vagos e imprecisos, se bem que em menor grau doque“belo”.Nocaso,orecursoametáforasecomparaçõesteriamaiorespossibilidadesde salientar os traços mais característicos e pitorescos do que a simples adjetivação. As palavras abstratas apelam menos para os sentidos do que para a inteligência.
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Por traduzirem ideias ou conceitos dissociados da experiência sensível, seu teor se nosafiguraesmaecidoouimpreciso,exigindodoespíritomaioresforçoparalhesapreenderaintegralsignificação.AsentençadeAristóteles,vulgarizadapelafrasedeLocke – nihil est intellectu quod prius fuerit in sensu – é incontestável: realmente, nada noschegaàinteligênciasempassarantespelossentidos.Issonãosignifica,entretanto,quealinguagemhumanadeveprescindirdeabstraçõesparasefazerclara– muitas vezes, mesmo traduzida em termos exclusivamente concretos, ela se torna também obscura. Portanto, o que se aconselha é uma conjunção dos dois processos. É o que ocorre, por exemplo, nas ciências experimentais, em que hipótese, conclusões, generalizações – vale dizer abstrações – se apoiam, se esclarecem, sefundamentamemespecificações– valedizer, em fatos concretos.Tudodependedanatureza do assunto, do propósito da comunicação e do nível mental do leitor ou ouvinte. Mesmo no estilo literário propriamente dito, essa conjunção é ou deve ser frequente. E os bons escritores sabem disso, e por sabê-lo é que recorrem, em maior ou menor grau,acomparaçõesemetáforasdeteorconcretizante.Oconceitodevida,porexemplo,é muito abstrato, ou muito vago para ser facilmente apreendido em toda sua extensão – traduzido, entretanto, em linguagem concreta, torna-se mais claro. Foi o que fez o padre Antônio Vieira: “Que coisa é a vida, senão uma lâmpada acesa – vidro e fogo? Vidro, que com um assopro se faz; fogo, que com um assopro se apaga?” As ideias abstratas de fragilidade e transitoriedade da vida aparecem aí expressas em termos concretos, de sentido metafórico (vidro, lâmpada, acesa, assopro, fogo, se faz, se apaga), que nos lembramsensaçõesfísicas,oriundasdaexperiênciadocotidiano;graçasaisso,comoque a se materializarem, tornando-se mais familiares, mais conhecidas, mais facilmente apreensíveis. A sabedoria popular traduzida nos provérbios é um exemplo da linguagem concreta concisa, frequentemente metafórica e pitoresca. A sentença “onde impera a mediocridade ou a ignorância, os que têm algum merecimento se destacam facilmente” não tem o mesmo vigor nem a mesma concisão do conhecido provérbio “Em terra de cego, quem tem olho é rei”. No gênero descritivo, principalmente, impõe-se a preferência por palavras desentido concreto, específico emetafórico. Nenhuma ideia nos daria de determinadojardim o autor que se limitasse a generalidades, dizendo apenas que é muito bonito, muito florido, com os seus canteiros cheios de viçosas flores, com algumas plantasrasteiras,umagramabemtratadaeumaárvoremuito frondosa.Flores?Queflores?Plantas rasteiras? Que plantas rasteiras? Uma árvore muito frondosa? Que árvore? Há deespecificartudoisso,paraqueadescriçãodojardimsetorneinconfundível.
GARCIA, Othon Moacir. Comunicação em Prosa Moderna. Rio de Janeiro: FGV, 1976. (Texto Adaptado)
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MÓDULO 15 - FIGURAS DE LINGUAGEM
Conforme podemos constatar na parte da gramática que trata de estilística,
“figurasdelinguagem,tambémchamadadefigurasdeestilo,sãorecursosespeciaisde
quesevalequemfalaouescreve,paracomunicaràexpressãomaisforçaecolorido,
intensidade e beleza.” (CEGALA, p.543)
Muito se fala sobre o uso das figuras de linguagem com o fim de darmaior
expressividade àsmensagens. No entanto,mais que expressividade, o objetivo é o
sentido,osignificado;éaquelabuscadacoisapelapalavra,pelapalavraque,como
disse Adélia Prado em um de seus versos, “é o disfarce da coisa”.
O bom da língua é que ela nos oferece inúmeros recursos para isso. Um deles
encontra-senasfigurasdelinguagem.Comelas,impingimosoriginalidade,emoçãoe
poesia ao discurso. Por meio delas, a sensibilidade do produtor navega até os receptores,
despertandoemoções,transformandopensamentos,sentimentos.
As figuras de linguagem são roupagens do sentido figurado, conotativo. Seu
usoindicacriatividadeeexpansãodosignificado.Elassesubdividememfigurasde
som,figurasdeconstrução,figurasdepensamentoefigurasdepalavras.Estudaremos
algumasfigurasdecadasubdivisãocomafinalidadedoreconhecimentodaimportância
deste tópico para a construção do sentido. Aproveite para saborear alguns poemas e
permitir que eles cumpram a função de sensibilização. Deixe-se invadir pela criatividade
dousodasfiguras.
15.1 Figuras de Som
a) Aliteração: repetição de mesmos sons consonantais.
“Esperando, parada, pregada na pedra do portoCom seu único velho vestido Cada dia mais curto”
(Chico Buarque)
b) Assonância: repetição de sons vocálicos idênticos. Observe como as vogais se
repetem no poema de Cassiano Ricardo:
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Serenata sintética Lua morta Rua torta Tua porta (Cassiano Ricardo)
Também neste haikai de Leminsk:
Amei em cheioAmei em cheiomeio amei-o
meio não amei-o.(Paulo Leminski)
c)Paronomásia:aproximaçãodepalavrasdesonsparecidos,masdesignificados
distintos.[...]
Não, acho que estás só fazendo de contaTe dei meus olhos pra tomares conta,
Agora, conta como hei de partir?(Chico Buarque)
15.2 Figuras de construção
a)Elipse:omissãodeumtermofacilmenteidentificávelpelocontexto.
“Na sala, apenas quatro ou cinco convidados.”(omissão de havia)
b) Polissíndeto: repetição de conectivos ligando termos da oração ou elementos
do período.Quadrilha
João amava Teresa que amava Raimundoque amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundomorreudedesastre,Mariaficouparatia,Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
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que não tinha entrado na história.(Carlos Drummond de Andrade)
c) Zeugma: elipse de um termo que já apareceu antes:
“João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento”(omissão de foi)
d) Inversão: mudança da ordem natural dos termos na frase. (A ordem natural é
sujeito–verbo–complemento:Umpoucodetudoficou)
“Detudoficouumpouco.Do meu medo. Do teu asco.”
e) Anacoluto: consiste em deixar um termo solto na frase. Normalmente, isso
ocorre porque se inicia uma determinada construção sintática e depois se opta por outra.
A vida, não sei realmente se ela vale alguma coisa.
f) Pleonasmo: redundância cuja finalidade é reforçar a mensagem. Veja a
ocorrência de pleonasmo no Soneto de Fidelidade, de Vinícius de Moraes:
De tudo, ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momentoE em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu prantoAo seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quemsabeasolidão,fimdequemama
Eu possa dizer do meu amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama
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Masquesejainfinitoenquantodure.(Vinícius de Moraes)
g) Anáfora: repetição de uma mesma palavra no início de versos ou frases.
“ Amor é um fogo que arde sem se ver; É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer”
(Camões)
Extremamente circunspecta... Extremamente circunspecta
Jazia a perna. Digo-vos que extremamente circunspecta e pálida Jazia a perna. Digo-vos que extremamente circunspecta, pálida e ambíguaJazia a perna. Digo-vos que extremamente circunspecta, pálida, ambígua e
supervenienteJazia a perna. Uma perna jazia extremamente
Entre aparatos. Calçada de sapatos e de meias. Só não traziaLigas, nem a parte superior, a que saindo do joelho
Aprofunda-se como coluna até onde o ser se duplica. [...]
(Vinícius de Moraes)
15.3 Figuras de pensamento
a) Antítese: consiste na aproximação de termos contrários, de palavras que se
opõempelosentido.
“Quero vivê-lo em cada vão momentoE em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu prantoAo seu pesar ou seu contentamento.”
(Vinícius de Moraes)
b)Ironia:éafiguraqueapresentaumtermoemsentidoopostoaousual,obtendo-
se, com isso, efeito crítico ou humorístico.
“Marcela me amou durante onze meses e quinze contos de réis” (Machado de Assis)
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c) Eufemismo: consiste em substituir uma expressão por outra menos brusca; em
síntese,procura-sesuavizaralgumaafirmaçãodesagradável.
Ele enriqueceu por meios ilícitos. (em vez de ele roubou) Passou desta para uma melhor (morreu)
(Manuel Bandeira)
[...]Quando eu tinha seis anos
NãopudeverofimdafestadeSãoJoãoPorque adormeci
Hoje não ouço mais as vozes daquele tempoMinha avóMeu avô
Totônio RodriguesTomásia
RosaOnde estão todos eles?- Estão todos dormindo Estão todos deitados
Dormindo Profundamente. (Manuel Bandeira)
d)Hipérbole:trata-sedeexagerarumaideiacomfinalidadeenfática.
Estou morrendo de sede. (em vez de estou com muita sede).
“Pela lente do amorVejo tudo crescer
Vejo a vida mil vezes melhor”.(Gilberto Gil)
“Minha tristeza não tem pedigree, já a minha vontade de alegria,sua raiz vai ao meu mil avô”.
(Adélia Prado)
e) Prosopopeia ou personificação: atribuição a seres inanimados predicativos
que são próprios de seres animados.
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A rua onde nasciA minha rua é longa e silenciosa como um caminho que foge
EtemcasasbaixasqueficammeespiandodenoiteQuando a minha angústia passa olhando o alto...
A minha rua tem avenidas escuras e feiasDe onde saem papéis velhos correndo com medo do ventoEgemidosdepessoasqueestãoeternamenteàmorte.[...]
É uma rua como tantas outrasCom o mesmo ar feliz de dia e o mesmo desencontro de noite
A rua onde eu nasci. (Vinícius de Moraes)
f) Gradação ou clímax: é a apresentação de ideias em progressão ascendente ou
descendenteO verbo no infinito
Ser criado, gerar-se, transformarO amor em carne e a carne em amor; nascer
Respirar, e chorar, e adormecerE se nutrir para poder chorar
Para poder nutrir-se; e despertarUmdiaàluzever,aomundoeouvir
E começar a amar e então sorrirE então sorrir para poder chorar.
crescer, e saber, e ser, e haverE perder, e sofrer, e ter horror
De ser e amar, e se sentir maldito
E esquecer tudo ao vir um novo amorE viver esse amor até morrer
Eirconjugaroverbonoinfinito...(Vinícius de Moraes)
g)Apóstrofe:consistenainterpelaçãoenfáticaaalguémoualgopersonificado.
Deus! Ó Deus! Onde estás que não respondes?Emquemundo,emqu’estrelatut’escondes
Embuçado nos céus?Há dois mil anos te mandei meu grito,
Queembaldedesdeentãocorreoinfinito...Ondeestás,SenhorDeus?[...]
(Castro Alves)
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15.4 Figuras de palavras
a)Metáfora:empregodeumtermocomsignificadodiferentedohabitual,combase
numarelaçãodesimilaridadeentreosentidopróprioeosentidofigurado.Ametáforaé
uma forma de expressar a compreensão do mundo. Mais que por palavras ela é formada
porideiasepercepçõessobreavidaqueadquirimosnasnossasexperiênciascotidianas.
Para a compreensão da metáfora criada por outros, é necessário que haja um
compartilhamento de conceitos. Se eu digo, por exemplo, que “meu pensamento
éumriosubterrâneo”,vocêsóconseguirádefinirmeupensamentosetiveruma
definiçãopara“riosubterrâneo”.Quantomaispróximasestiveremasnossasdefinições
sobreestetermo,maisnosaproximaremosdadefiniçãodoquesejameupensamento.
Se para você “rio subterrâneo” é rio embaixo da terra, aquele que não vemos,
então meu pensamento será algo que não se vê, mas que existe no fundo de mim mesma.
Agora se você considera que rio subterrâneo é aquele que guarda mais mistérios que
um rio sobre a terra; é aquele que surpreende ao ser desvendado; é aquele que reserva
belezas e surpresas e encantamentos; se assim considera, então ampliamos o conceito
sobre o que é meu pensamento.
Vamosaumexemplomaiscomum:osversosdeCamões:“oamoréfogoque
arde sem cessar”.
Fogo é calor, luz, energia, um constante jogo de cores na constante mudança no
tamanhoenasformasdaschamas.Logo,oamorétudoissoemais,porqueCamões
dizqueéumfogoquenãocessa.Sabemosquefindooelementodacombustão,ofogo
cessa; se é uma madeira, assim que esta é queimada o fogo acaba. No amor não. Nele,
o elemento que dá vida ao fogo não é consumido pelo fogo; por isso o fogo permanece.
Viram?Umametáfora transportaosignificadodeumoumaiselementosparaoutro.
Dessaforma,osignificadoéenriquecido.Oqueestásendodefinidoganhaemsentido,
ampliando, assim, a percepção do sujeito sobre o objeto metaforizado.
Lendo o poema “Os poemas” de Mário Quintana, veja como, sob as graças da
metáfora,amplia-senossadefiniçãodepoesia,daquevemdelongeedaquemoraem
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nós:
Os poemas Os poemas são pássaros que chegam não se sabe de onde e pousam no livro que lês. Quando fechas o livro, eles alçam voo como de um alçapão. Eles não têm pouso nem porto alimentam-se um instante em cada par de mãos e partem. E olhas, então, essas tuas mãos vazias, no maravilhado espanto de saberes que o alimento deles já estava em ti... (Esconderijos do Tempo. Mário Quintana.)
b)Metonímia:consistenumatransposiçãodesignificadocombasenãoemtraços
de semelhança, como na metáfora, mas na relação lógica entre os termos. Enquanto
nametáforaosignificadoélevadodeumobjetooutermoparaoutro,nametonímiao
significadojáexisteentreosdoistermos.Afunçãodoleitor,nestecaso,éidentificaro
elo estabelecido pelo sentido comum.
Se, por exemplo, eu digo que gosto de ler Machado de Assis, você deverá
entender que eu gosto de ler as obras deste autor. Se digo que bebi todo o cálice, você
saberá que ninguém bebe cálice e sim o líquido que nele está. E assim, são várias as
relaçõeslógicasdesentidoestabelecidasentreostermos.Vejamosalgumas:
1 – Autor pela obra ou Inventor pelo invento:
Gosto de ler Manuel Bandeira.
(Gosto de ler a obra literária de Manuel Bandeira.)
2 – Símbolo pelo objeto simbolizado:
Meu coração é verde e amarelo, branco, azul-anil;
eu te amo, meu Brasil, eu te amo!
(as cores da bandeira como símbolo do amor ao país)
3 – Lugar pelo produto do lugar:
Nada melhor que tomar um porto nas noites frias com os amigos.
(porto é nome do vinho produzido na região do Porto)
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4 – Causa pelo efeito:
Como o pão com o suor do meu rosto
(Adquiro o alimento com meu trabalho: suor é o efeito;
o trabalho é a causa do suor)
5 – Continente pelo conteúdo:
Bebeu o copo todo.
(Bebeu todo o líquido que estava no copo)
6 – Instrumento pela coisa ou entidade que o utiliza:
A pena vencerá a espada
(a pena é o instrumento da educação
e a espada é o instrumento da opressão, da guerra)
7 – Parte pelo todo:
“O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos não perguntam nada”
(Drummond está dizendo que o bonde passa cheio de gente, mesmo que ele estivesse
olhando somente para as pernas das pessoas que estavam no bonde.)
8-Específicopelogeralougeralpeloespecífico:
OhomemfoiàLua.
(Apenasalgunsastronautasforamà
Lua e não todos os homens.)
9 - Marca pelo produto:
Que tal uma brahma bem gelada?
(a marca pela cerveja)
c)Catacrese:ocorrequando,porfaltadeumtermoespecíficoparadesignar
um conceito, tomou-se outro por empréstimo, mas, devido ao uso contínuo, não mais se
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percebequeeleestásendoempregadoemsentidofigurado.
Veja alguns exemplos:
Mão de pilão, pé de mesa, asa da xícara, boca do estômago, manga da camisa,
maçã do rosto, cabeça de prego, braço da poltrona, dente de alho, braço do rio, cabeça
dealfinete,pédapágina,barrigadaperna,cabelodemilho,folhadepapel,coroado
abacaxi.
d) Antonomásia ou perífrase: substituição de um nome por uma expressão que o
identifiquecomfacilidade:
Os quatro rapazes de Liverpool (os Beatles)
O Velho Guerreiro (Chacrinha)
A rainha dos baixinhos (Xuxa)
O rei do futebol (Pelé)
O Filho de Deus (Jesus Cristo)
A terra da garoa (São Paulo)
Galo (Atlético mineiro)
Apóstolo dos gentios (Paulo)
e)Sinestesia:éamistura,numaexpressão,desensaçõespercebidaspordiferentes
órgãos do sentido: tato, visão, audição, paladar, olfato. Para criar ou compreender a
linguagemsinestésica,éprecisorelacionarocampodosentidoàspalavrasquelhesão
próprias:
TATO VISÃO AUDIÇÃO PALADAR OLFATOMacio Brilho Música Amargo AromaÁspero Azul Melodia doce incenso
Depois, basta misturar estas palavras com algum substantivo. Por exemplo:
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Sentirei saudades amargas do doce comprometimento de meus alunos; a
presença deles era melodia azul para meu coração.
“Esta chuvinha de água viva esperneando luz e ainda com gosto de mato longe, meio baunilha, meio manacá, meio alfazema”.
(Mário de Andrade)
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MÓDULO 16 - INTERPRETANDO UM TEXTO
Primeiramente vamos distinguir os termos analisar e interpretar. Analisar quer
dizer decompor em partes com o objetivo de conhecer e revelar estas partes e as
ligaçõesqueháentreelas.Analisaré,portanto,umcaminhoparainterpretar.
Para Severino Barbosa, “a análise é um instrumento importantíssimo nos processos
de conhecimento da realidade, assim como nos processos de organização de nosso
pensamento e nossa linguagem” (1994, p.94).
Interpretar é captar a intenção geral do texto. Isso acontece na reunião das partes
queforamseparadasparaaanálise.Comacorretaanálisechega-seà interpretação
e, com esta, a possibilidade de julgamento do texto, o desenvolvimento da criticidade
(capacidade crítica).
A análise é, então, o caminho. Tudo o que estudamos até aqui foi a bagagem para
trilharmos este caminho. Para Irandê Antunes, analisar textos é procurar:
Descobrir o esquema de composição: qual a orientação temática e
com qual propósito comunicativo.
Identificarsuaspartesconstitutivaseasfunçõespretendidaspara
cada uma delas.
Identificarasrelaçõesentreasparteseentreelaseocontexto.
Identificarosefeitosdesentidodecorrentesdeescolhaslexicaise
de recursos sintáticos.
Descobrir o conjunto de regularidades que caracteriza o texto
como pertencente a um determinado gênero com a predominância
de um determinado tipo.
Para descobrir o conjunto de regularidades de um texto devemos
perguntar:
O que é dito? Como foi dito? Com que recursos lexicais e gramaticais? Quais
as estratégias discursivas? Quando é dito? Por que é dito? Para quem? Que efeitos
pretende provocar? O que está explícito? O que está implícito?
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Vamos por partes?
1ª) ler o texto para poder dividi-lo e questioná-lo. Vamos, nesta leitura, sublinhar
o tópico frasal e as palavras-chave (como vimos no módulo 13).
Para aprender sem desaprender
Paulo de Camargo free-lance para a Folha de S.Paulo
29/06/2004 – 03h04
O prazer, o interesse e a motivação são decisivos para a aprendizagem. “O cérebro
temcapacidadefinita,aindaquemuitogrande.Masacapacidadedeaprenderdepende
da motivação. Um péssimo aluno na escola fundamental pode fazer uma excelente pós-
graduação, pois a razão do desempenho ruim poderia ser só uma manifestação de
desinteresse”, considera o neurocientista Sidarta Ribeiro, da Universidade Rockfeller,
em Nova York.
O resultado da energia despendida no estudo também está ligado a um outro
perigo dos tempos modernos: a ansiedade. Segundo Ribeiro, existe um nível ótimo
de ansiedade de aprender, além do qual o esforço é contraproducente. “Uma pessoa
desmotivada aprende mal, mas o mesmo acontece com uma pessoa excessivamente
ansiosa. A curva de aprendizado em função de estresse é um U invertido, sendo o
máximo da curva o ponto ótimo, isto é, no meio”, explica o neurocientista.
Mas é preciso lembrar que o aluno não é um vaso a ser preenchido com litros de
informação. De acordo com a educadora Evelise Portilho, professora da PUC do Paraná,
“os caminhos da aprendizagem passam necessariamente pelas características
individuais de cada um: seu gosto, seus interesses e sua maneira de
incorporarnovasinformações”.
Segundoela,cadaumpodeidentificarcaracterísticasdopróprioestilo,aoobservar
comoaprendealgonassituaçõesnasquaisseenvolveporprazer.Porexemplo,sea
pessoa é do tipo que gosta de passar horas debruçada sobre um manual de
instruçõesatéaprenderainstalarumnovoeletrodoméstico,esseprocedimentoindica
uma grande capacidade de concentração e persistência, o que vale para outros
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momentos de aprendizado.
Outra pista importante para conhecer o próprio jeito de aprender, dizem
oseducadores,équetodostendemarepetirdificuldadeshistóricas.Quemsofreucom
aorganizaçãodasinformações,porexemplo,podecontinuarsofrendocomisso.Mas
ânimo.“Nãoháquemnãotenhadificuldades,assimcomonãohádificuldadesquenão
possam ser superadas”, diz Evelise.
Qualquer que seja o método, porém, é preciso vencer a ideia de que aprender é
decorar. “A aprendizagem é um processo integrado de aspectos conceituais, emocionais
e até físicos”, diz o consultor José Ernesto Bologna.
Paraele,éimediatismoacharquebastacomprarolivroeresponderàsperguntas
nofimdocapítulo.“Issoévício,enãoaprendizagem”,conclui.
Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/folha/sinapse/ult1063u857.shtml.Acesso em 21/12/2012.
Uma vez sublinhado, vamos decompor, analisar:
Título: Aprender sem desaprender
O que se espera de um texto com esse título?
Que ele vá ensinar alguma técnica de aprendizagem para que esta não caia no
esquecimento.
Quem escreveu?
PaulodeCamargo;free-lance,ouseja,escrevesobretemasespecíficosqueele
mesmo escolhe e envia para o jornal. Ele não tem um vínculo empregatício com o jornal
e recebe pelos artigos que são publicados. Que esperamos de um free-lance? Que ele
irá se empenhar para realizar um bom artigo, pois só assim receberá por ele.
Qual o jornal que publicou o artigo?
Folha de São Paulo: o segundo maior jornal do país com um público em que mais
de70%pertencemàclasseAeBemaisde90%acreditamnaeducaçãocomogarantia
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de um futuromelhor. Enfim, um jornal que possui a credibilidade demuitos leitores
brasileiros.
Quando foi publicado?
Em abril de 2004. É relativamente recente, portanto um tema atual, que tem
referência com acontecimentos da nossa contemporaneidade.
Qual a ideia principal apresentada para ser defendida no texto? Ou, no caso deste
texto, qual é o tópico frasal do primeiro parágrafo?
O prazer, o interesse e a motivação são decisivos para a aprendizagem.
Quaisasideiassecundárias,aquelasqueestãoagregadasàprincipalparalhedar
sustentação?
Capacidade de aprender depende da motivação; razão do desempenho ruim:
desinteresse; a forma de aprendizagem depende de cada um; aprender não é decorar.
Como foi dito? Com que recursos lexicais e gramaticais? Quais as estratégias
discursivas?
O autor se utiliza do tipo dissertativo – com introdução, desenvolvimento e
conclusão – predominantemente argumentativo com traços do expositivo para formar o
gênero textual artigo jornalístico, no qual apresenta as defesas para uma aprendizagem
consistente.
Osargumentossãoasdefinições,ascitações,ousodemetáfora(“oalunonão
éumvasoaserpreenchidocom litrosde informação”),deconjunçõesadversativas,
concessivas, explicativas (mas, porém; ainda que; pois)
As citações, argumentos de autoridade, predominam no texto. São citados: o
neurocientista Sidarta Ribeiro, da Universidade Rockfeller, em Nova York; a educadora
Evelise Portilho, professora da PUC do Paraná; o consultor José Ernesto Bologna.
Observeque todoo textoéconstruídoapartirdecitaçõesdiretase indiretas.
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Este recurso exime parcialmente o jornalista da responsabilidade sobre a veracidade do
que está escrito: foi outro quem disse e não ele. Ou seja, há um compartilhamento de
opiniõescompersonagensderenomenoassunto.Eseooutroétãoimportanteassim,
o leitor crê no que foi dito.
Para quem é dito, ou seja, a que público o texto se direciona?
Nogeral,àquelesqueseinteressampelaeducação(90%dosleitoresdaFolha).
Prioritariamente, aos professores e demais atores da escola, pais de estudantes e aos
estudantes.
Que efeitos pretende provocar?
Conscientizar sobre a importância da motivação do aluno no processo de
aprendizagem. Alterar comportamentos, tanto de alunos quanto de pais e professores.
O que está implícito?
O Não dito é lido pelo que foi dito: ao afirmar que é necessária motivação
para o aprendizado, o autor, simultaneamente, mostra que há quem diga que não.
Simultaneamente, há uma denúncia de escolas, pais e alunos que ainda se mantêm na
ideia de que o ser humano é “um vaso a ser preenchido com litros de informação”.
Extrapolando o implícito, podemos questionar o que é a motivação e constatarmos
que ela é resultado de um movimento mais interno do que externo. O ser se motiva muito
mais que é motivado. Logo, quem direciona o processo de aprendizagem é o próprio
aluno. E direciona interessando-se, rompendo as barreiras, gostando do que faz.
Gostando do que faz! Fica aqui, no implícito do implícito, meu desejo a vocês: que
tenham amor ao estudo da linguagem. Isso, certamente, é alimento da motivação e,
consequentemente, de uma aprendizagem frutífera.
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16.1 Texto 6
[...]
Os diferentes níveis de leitura
PRIMEIRO NÍVEL é elementar e diz respeito ao período de alfabetização. Ler é
uma capacidade cerebral muito sofisticada e requer experiência: não basta apenas
conhecermos os códigos, a gramática, a semântica – é preciso que tenhamos um bom
domínio da língua.
SEGUNDONÍVELéapré-leituraouleiturainspecional.Temduasfunções
específicas:primeiro,prevenirparaquealeituraposteriornãonossurpreendae,segundo,
para que tenhamos chance de escolher qual material leremos, efetivamente. Trata-se,
na verdade, de nossa primeira impressão sobre o livro. É a leitura que comumente
desenvolvemos “nas livrarias”. Nela, por meio do salteio de partes, respondemos
basicamenteàsseguintesperguntas:
Por que ler este livro?
Será uma leitura útil?
Dentro de que contexto ele poderá se enquadrar?
Essas perguntas devem ser revistas durante as etapas que se seguem,
procurando usar de imparcialidade quanto ao ponto de vista do autor e ao assunto,
evitando preconceitos.
Pré-leitura:Nomedolivro;Autor;Dadosbibliográficos;Prefácioeíndice;Prólogo
e introdução
Os passos da pré-leitura
O primeiro passo é memorizar o nome do autor e a edição do livro, fazer um
folheio sistemático: ler o prefácio e o índice (ou sumário), analisar um pouco da história
quedeuorigemaolivro,veronúmerodaediçãoeoanodepublicação.[...]Verifique
detalhesquepossamcontribuirparaacoletadomaiornúmerodeinformações
possível. Tudo isso vai ser útil quando formos arquivar os dados lidos no nosso arquivo
mental!
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Osegundopassoéfazerumaleiturasuperficial.Pode-se,nessecaso,aplicaras
técnicas da leitura dinâmica.
TERCEIRO NÍVEL é conhecido como analítico. Depois de vasculharmos bem o livro na
pré-leitura, analisamos o livro. Para isso, é imprescindível que saibamos em qual gênero
o livro se enquadra: trata-se de um romance, um tratado, um livro de pesquisa e, neste
caso, existe apenas teoria ou são inseridas práticas e exemplos.
No caso de ser um livro teórico, que requeira memorização, procure criar imagens
mentais sobre o assunto, ou seja, VEJA, realmente, o que está lendo, dando vida e
muita criatividade ao assunto.
Note bem: a leitura efetiva vai acontecer nesta fase, e a primeira coisa a fazer é
ser capaz de resumir o assunto do livro em duas frases. Já temos algum conteúdo para
isso, pois o encadeamento das ideias já é de nosso conhecimento. Procure, agora, ler
bemolivro,doinícioaofim.Estaéaleituraefetiva,aproveitebemestemomento!
Nãoparealeituraparabuscarsignificadosdepalavrasemdicionáriosousublinhar
textos – isto será feito em outro momento!
QUARTO NÍVEL de leitura é o denominado de controle. Trata-se de uma leitura com a
qual vamos efetivamente acabar com qualquer dúvida que ainda persista. Normalmente,
ostermosdesconhecidosdeumtextosãoexplicitadosnoprópriotexto,àmedidaque
vamosadiantandoa leitura.Ummecanismopsicológico farácomquefiquemoscom
aquela dúvida incomodando-nos até que tenhamos a resposta. Caso não haja explicação
no texto, será na etapa do controle que lançaremos mão do dicionário.
Veja bem: a esta altura já conhecemos bem o livro e o ato de interromper a leitura
não vai fragmentar a compreensão do assunto como um todo. Será, também, nessa
etapa que sublinharemos os tópicos importantes, se necessário.
Para ressaltar trechos importantes opte por um sinal discreto próximo a eles,
visandoprincipalmenteamarcarolocaldotextoemqueseencontra,obrigando-oafixar
a cronologia e a sequência deste fato importante, situando-o no livro.
Aproveite bem esta etapa de leitura! Para auxiliar no estudo, é interessante que,
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ao final da leitura de cada capítulo, você faça um breve resumo com suas próprias
palavras de tudo o que foi lido.
QUINTO NÍVEL pode ser opcional: a etapa da repetição aplicada. Quando lemos,
assimilamos o conteúdo do texto, mas aprendizagem efetiva vai requerer que
tenhamos prática, ou seja, que tenhamos experiência do que foi lido na vida. Você só
pode compreender conceitos que tenha visto em seu cotidiano. Nada como unir a teoria
àprática.
Na leitura, quando não passamos pela etapa da repetição aplicada, ficamos
muitasvezessujeitosàquelesbrancosquandoqueremosevocaroassunto.Paraevitar
isso, faça resumos! Observe agora os trechos sublinhados do livro e os resumos de
cada capítulo, trace um diagrama sobre o livro, esforce-se para traduzi-lo com suas
próprias palavras. Procure associar o assunto lido com alguma experiência já vivida ou
tenteexemplificá-locomalgoconcreto,comosefosseumprofessoreoestivesse
ensinando para uma turma de alunos interessados.
É importante lembrar que esquecemos mais nas próximas 8 horas do que nos
30 dias posteriores. Isto quer dizer que devemos fazer pausas durante a leitura e ao
retornarmos ao livro, consultamos os resumos. Não pense que é um exercício monótono!
Nós somos capazes de realizar diariamente exercícios físicos com o propósito de
melhoraraaparênciaeasaúde.Poisbem,emboranão tenhamoscondiçõesdever
com o que se apresenta nossa mente, somos capazes de senti-la quando melhoramos
nossasaptidõescomooraciocínio,aprontidãodeinformaçõese,obviamente,nossos
conhecimentos intelectuais. Vale a pena se esforçar no início e criar um método de
leituraeficienteerápido.Andréa Machado e Edson Teixeira. Disponível em http://www.oportaldosestudantes.com.br/dicas/importante/lertexto.asp.(Texto adaptado)
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