Laranjais de Gelo

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Livro de poesias de Ruan libardoni, design e artes Rafael Peduzzi

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LARANJAIS DE GELO Ruan Libardoni

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP

L694l Libardoni, RuanLaranjais de gelo. / Ruan Libardoni. – Pelotas,

2012.98p. : il. ; 14 x 20 cm

1. Literatura Brasileira. 2. Poesia Brasileira. I. Título.

CDD 869.91

Ficha Catalográfica elaborada pelaBibliotecária Carla Michelle de Macedo Rodrigues - CRB-10/1657

1ª edição

sumário

-10-

-36-

-16-

-12-

-38-

-18- -40-

-20- -42-

-22- -44-

-24- -46-

-26- -48-

-28- -50-

-30- -52-

-32- -54-

-34-Introdução

Ponteiros

Cidade

Letras - Carnavalescença

Quintana

Ventilador Moinhos de Vento

Falta Estrada

Espelhos Copacabana

Bahia Bicicleta

Adeus de mão Erico

Cabernet Cidade Baixa

Dois mil e onze Lembranças

Garota de Ipanema Palcos

Insônia

-58- -80-

-60- -82-

-62- -84-

-64- -86-

-66- -88-

-68- -90-

-70- -92-

-72- -93-

-74- -95-

-76- -97-

-78--56-

Terraço Telhados

Valentina Vento

São Pedro Tinta

Poeminha de bidê Carnavalescença

Insônia II Bailarina

Noite Videiras

Planeta Lembranças

Fotografia Quadrinhos

Contínuo esboço Poema da Paula

Álvaro Chaves Rogério Nascente

GuriSaudade

À pequenina Valentina.

1 0

Este livro tem duas partes aparentemente distintas. A

primeira, onde granjeei meu olhar vernáculo e simples de

um observador, está em suas mãos. A segunda, chamada

Carnavalescença, é a junção de algumas canções de minha

autoria. Logo mais você descobrirá como encontrá-las no

mundo virtual. A ordem pode ser levemente invertida, ou

perfeitamente unida.

Não sou poeta, apenas vejo poesia nas coisas, nas cores,

nos momentos, sentimentos e aventuras. Cresci sozinho,

enquanto a mãe trabalhava e meu pai se distanciava. Talvez

foi nessa época que comecei a criar um jeito tristonho de ser,

e que trago até hoje. Apesar dos anos, ainda não sei lidar com

a solidão, quiçá a felicidade, que vai e vem, como as ondas na

areia da praia.

Muito menos possuo o tom calmo dos pássaros na voz,

apenas gosto de compor. Foi nas composições que dediquei

o maior tempo da minha vida, me faz tão bem quanto um

amor. Estou, cada vez mais, procurando as ruas pequenas pra

caminhar, onde não haja iniquidade humana. Não é que eu

introdução

1 1

não goste de pessoas ao meu redor; é, sim, porque o silêncio

anda me fazendo bem. Meu amigo imaginário, o Eugênio,

frequentemente conversa comigo, coisas de um mundo mais

tranquilo, sem pressão (coisa que me faz mal).

Reuni neste livro poesias curtas, desarrimadas de apegos

formais. Deixo nas próximas folhas um pouco do meu coração

e de tudo que vivi (vivo). Saliento que algumas poesias de duas

linhas viraram canções de duas páginas, as quais apresento no

meu Sarau – Carnavalescença.

Observação: você não encontrará a palavra Carnavalescença

no dicionário; é a mistura de carnaval com convalescença,

estado que medeia entre uma doença e o restabelecimento da

saúde, no meu caso, psicológica. Sigo vivendo meu carnaval

solitário, pouco a pouco gostando mais das manhãs, dos

pequenos detalhes, do desapego apegado, do sonho acordado.

Foi com extrema alegria que recebi, numa tarde ensolarada

de setembro de 2012, as ilustrações do amigo e designer Rafael

Peduzzi, rapaz talentoso, profissional e de alma transparente.

Agradeço desde já a grande e indispensável ajuda com os

horizontes deste livro, tenho a certeza absoluta que Laranjais

de Gelo só foi “publicado” porque tive o seu apoio de ponta a

ponta.

Ruan Libardoni

Pelotas, Continente de São Pedro do Rio Grande do Sul, 2012

Carnavalescençaacesse o conteúdo virtual deste livro em

www.soundcloud.com/laranjaisdegelowww.facebook.com/laranjaisdegelo

1 7

medo tênue rumoreja

a cada passo desarrimado

essas ruas tão vazias

calejam minha alma

alertam devaneios

sou assim, meio urbano

desconexo de família

solitário por essência

beat por virose

1 9

quando ontem é quase hoje

e hoje meio amanhã

sendo eu de todo fim

me sinto quase eterno

mas meio menor

2 1

quando guri

me faltava um pedaço

olhando meus colegas

do pai ganhar abraço

foi quando criei

meu amigo imaginário

dei nome e fino rosto

Eugênio sem bom gosto

agora que cresci

continuo ao seu lado

um tanto solitário

mas bem acompanhado

2 3

achei que a mores roubados era m os mel hores

até que rouba ra m meu a mor. .

. .e f iquei t ão sol itá r io

2 5

quero rua!

junto contigo até não poder mais

ah! noite conspícua..

em tuas ladeiras desacentuadas

que me levam a outro lugar

morena

parto sem despedidas

seguindo o vento

morena

não chores por mim

prefiro partir a deixar-te me segurar

sou feito de areia

e tua peneira deixou-me passar

morena

2 7

de cima do arranha-céu

as cores são bonitas

as dores

despedidas

e as nuvens camafeus

2 9

se procurar dentro de algo que não há, é mera fantasia

procurar fora daquilo que há, é pura ilusão

3 1

um mosquito invadiu meu quarto

como tu em minha vida

pensei ser boa companhia

e percebi que foste apenas um modo de me manter acordado

3 3

hoje f u i ao ba r

beber e re lembra r

e de t udo que passou

não v i e la passa r

3 5

noite polar

só!

sob sombras de maios desertos

cor-

-rente

dor-

-mente

me prendo em mil nós de corda

enredando pouco a pouco

fico preso em nós mentais

só!

em olhos vermelhos de doces maios

3 7

terra à v ista!

o relógio mostra o tempo ao avesso

cai à tarde

e traz a cor dourada

as pessoas são assim

um lume perigoso

se o vento aperta o sopro

se apagam no vazio

3 9

quando entro no hotel..

..vou ao últ imo andar

quanto mais subo degraus..

..sinto o céu se aproximar

4 1

odneviv àtse ale euq missa è

sanabru sairànimul ed seõhlim sêrt essof es omoc

oirf olugnâ mu ed otrauq od ortned arp odnahlo

odagapa sueda mun anaisrep a ehcef ele euq odem ed odnemert

ela apaga a luz..

..em silêncio

descalça..

..e deita

..ahnizos

4 3

cruzei o guaíba em sentido sul

num passatempo cícl ico..

..em desventura míst ica

de um lado a cidade chora

numa contingência épica..

..emoldurada tácita

mas levo cheiro de arruda

em suposta rea l idade

daquela canceriAna

mais bonita da cidade

4 5

boemia desmedida

it inerante e lunática

varo a noite entre copos

e com o sol vem a saudade

boemia desregrada

constante a legria

varo a noite em sinfonia

e de manhã cai a verdade

fora tudo i lusão!

fora apenas metade.

4 7

tem gente que não espera da gente

ma is do que tombos

ma is do que desespero

me perg u nto se essa gente

sabe ser como a gente

ma is do que pla nos

ma is do que son hos

4 9

cá em Antares

os mortos falam

os vivos calam

cá em Santa Fé

os homens matam

os hóspedes rezam

cá na Noite

os cadáveres se desenham

e as memórias se apagam

cá no Campo

os olhos lavram

os lírios choram

cá em Porto Alegre

os silêncios caem

os céus escurecem

5 1

em pedaços me desfaço naquelas ruas nestes maços

em pedaços desesperados aqueles braços desencontrados

em pedaços destas vírgulas despedaçadas eu me valho

em pedaços enluarados de fumaça a cidade embriagada

em pedaços e espaços sublinhados dos cigarros encharcados

ah! se tu me encaixasse na tua vida pedaço por pedaço

morena..

5 3

meus cadernos de infância

têm poucas exatas

porém têm aventuras

e estórias de fantasmas

meus cadernos de infância

têm poucos números

porém têm expedições

e contos de libertinagem

meus cadernos de infância

têm poucas tabuadas

porém têm revolução

de um guri desajustado

5 5

há tantos palcos pra tocar

e silêncio pelo ar

que dói meu coração

machuca o violão

e dá vontade de chorar

5 7

sou o mundo mais triste do homem

sou o homem mais triste do mundo

5 9

dar-se-ia um nó

pra prender a felicidade

mas ela teima em partir..

..e me deixa com saudade

dar-se-ia um tiro

pra matar a tristeza

mas ela é bicho da seda..

..e alegra a realeza

6 1

me encheu o coração

ela veio pra me tirar da solidão

valentina

6 3

quando passo lá

a casa não está

viro bicho

sinto saudade

aquele monte de entulho

onde havia vida de verdade

6 5

acho que fez um ano

me deu vontade de sorrir..

..sorriso grande de feliz

acho que a terra concluiu a translação

me deu vontade de seguir..

..seguindo estrelas de anis

6 7

acordo encharcado

assustado e apático

nem Deus por perto

ou um pingo de coragem

nem Clarice

nem Drummond

ou sussurros pelo ar

chamando pra viagem

6 9

a r u a é mud a

o g r ito é meu

7 1

fui longe

lá na ponta

e de lá..

..olhei pra cá

fui alto

lá no topo

e de lá..

..olhei seus olhos

fiquei feliz

de vê-la me espiar

é a moça mais bonita

que está a me esperar

7 3

foi de um todo ruim

o que de um pouco morremos

de um tanto de sonhos

7 5

quando sussurrávamos que não saberíamos viver sem o outro

tinha sim

ironicamente

um lamentar de mentira na voz

7 7

bicicleta..

..bicicleta

não tinha rodinhas..

..não era completa

bicicleta..

..bicicleta

eu caia de montão..

..e me esfolava pelo chão

7 9

tento amar à fino trato

e te ganho em linha reta

se em vezes vago errante

no más deixo poeira

vivo em voo falso

me perdendo na cidade

sou poema de gaveta

que perdeu a virgindade

8 1

minha casa era no alto do morro

cresci olhando os telhados da cidade

solitário como a lua

banhando o mundo de saudade

8 3

gosto de ser canceriano

e de sentir saudade

o mesmo guri

que brincava à vontade

que jogava super mário

na maior felicidade

8 5

quanto menos escrevo..

..mais ásperas minhas mãos ficam

8 7

vejo a rua inteira festejar

gosto dos para lelepípedos

pois deixam o bloco passar

abro a porta e saio devagar

gosto das ca lçadas

que me deixam navegar

8 9

ficou de um cinza

nosso lunático girassol

lembranças que restaram

fui vender no balaio

pra que um dia de agosto

quando fores comprar vinis

livros ou memórias

veja nossa caixa de vento

e todo aquele nada

valha alguns trocados

e tudo daquela caixa

sirva para nada

9 1

deixaria cair

soubesse eu..

..não fosse juntar

deixaria partir

soubesse eu..

..não fosse buscar

deixaria pra trás

soubesse eu..

..não fosse chorar

9 2

meu avô por parte de pai, quando bebia umas taças de vinho

de olhar brilhante, declamava: Vim aos quatro anos da Itália!

de trem.

***

Dizem que o tempo da viagem de Pelotas a Porto Alegre, de

carro normal, é duas horas e meia. De ônibus, três horas e

quinze. No meu Chevette ano 88 azul bebê, seis horas crava-

das. Se não acontecer imprevistos. Abri a ventarola e lá fomos

nós, eu, o “chevis”, e o violão. Estacionei em frente a casa dela,

sentei em cima do capô e toquei minhas canções.

Só pra ela..

lembranças

9 3

ganhei meu primeiro computador aos quatorze anos

e até hoje não fechei o “úôórdi”

***

as pessoas que me visitam ficam encantadas com o cantar dos pássaros

me perguntam de onde vem

eu fecho os olhos

***

comprei meu primeiro violão poucos dias antes do atentado às torres gêmeas

naquela manhã, com o instrumento no colo e os olhos na televisão

percebi que as coisas não são feitas apenas de simetria e exatidão

a “alma” do violão, a estrutura dos prédios, a engenharia da aeronave

não serve para nada sem a sensibilidade humana as conduzindo

***

sou daqueles que deixam de pagar a conta de luz para publicar um poema

deixam de comprar “modalomanías” para gravar uma canção

ou aventuramente morrer de amor

quadrinhos

9 5

"e por um ano sentiu saudade

por um ano ônibus lotado e fone de ouvido no mudo

um ano tentando ver além do que os pixels poderiam lhe mostrar

ISO alto, tantos grãos nos olhos que pesavam e chegavam a cair

alegria ilimitada por vinte e cinco centavos

várias cores pelo quarto e,

a certeza de que ninguém nunca a fez sorrir por três minutos e

cinquenta e um segundos seguidos"

Anna Paula Arruda

9 7

... pois o que se passa é intenso

quase em um não sentir

diminuto ou imenso

chegar e partir

........ mas um tanto melhor

Rogério Nascente

Título

Autor

Produção

Projeto gráfico

Fotografias

Ilustrações

Tipografia

Formato

Papel

Número de páginas

Laranjais de Gelo

Ruan Libardoni

Rafael PeduzziRuan Libardoni

Rafael Peduzzi

Rafael Peduzzi

14x20cm

Sulfite 90g/m² (miolo)Sulfite 180g/m² (capa)

98

Família BodoniFamília MinionDiversas (manuais)

Daniela Lopes