Post on 24-Jun-2018
Juliana da Conceio Gomes Ferreira
abril de 2015
Amazonites de Valena Norte de Portugal
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Universidade do Minho
Escola de Cincias
Juliana da Conceio Gomes Ferreira
abril de 2015
Dissertao de Mestrado Mestrado em Ordenamento e Valorizao de Recursos Geolgicos
Amazonites de Valena Norte de Portugal
Universidade do Minho
Escola de Cincias
Trabalho efetuado sob a orientao doProfessor Doutor Carlos Augusto Leal Gomes
ii
DECLARAO
Nome: Juliana da Conceio Gomes Ferreira
Carto de Cidado: 13714961
Endereo de correio eletrnico: jcgferreira90@gmail.com
Ttulo da dissertao: Amazonites de Valena Norte de Portugal
Orientador: Professor Doutor Carlos Augusto Leal Gomes
Ano de concluso: 2015
Designao do Mestrado: Mestrado em Ordenamento e Valorizao de Recursos Geolgicos
AUTORIZADA A REPRODUO INTEGRAL DESTA DISSERTAO APENAS PARA EFEITOS DE
INVESTIGAO, MEDIANTE DECLARAO ESCRITA DO INTERESSADO, QUE A TAL SE
COMPROMETE.
Universidade do Minho, 30 de Abril de 2015
Assinatura: ____________________________________________________
iii
nesta Terra, o Planeta Azul, envolto nos farrapos brancos das nuvens,
que reside tudo o que temos: o ar que respiramos,
a gua que bebemos, o cho que pisamos e nos d o po.
s com isto que contamos para viver. , pois, fundamental, conhecer melhor esta nossa casa
que nos transporta atravs da imensido do Cosmos, velocidade de 30 Km por segundo.
E a Geologia a cincia que nos permite chegar a esse conhecimento.
Antnio Galopim de Carvalho
v
Agradecimentos
A vida demasiado curta para que possamos estar sempre a contestar com aquilo que nos
contraria. Devemos tirar partido de todos os momentos, sejam eles bons ou maus. Dos bons
realamos a alegria que aquele momento nos proporcionou; dos maus aprendemos a levantar-
nos e a seguir em frente, pois os obstculos so para ultrapassar.
Ao longo da nossa pequena existncia, depararmo-nos com diversas pessoas que de uma
forma, ou de outra, nos transmitem os seus conhecimentos e colocam-nos prova, de forma a
testar as nossas capacidades. para essas pessoas que os meus agradecimentos se dirigem.
So inmeras. Muitas nem tm noo do valor que transmitiram pois, ensinaram algo que
para elas era to insignificante, mas para mim foi uma lio a reter, e hoje devo muito do que
sou e do que fao e como fao a elas.
Depois h aquelas que esto l em diferentes etapas da nossa vida, mas que nos
transmitiram, talvez, o maior leque de conhecimento que possumos: os professores. Desde a
professora primria, seguindo os professores do bsico e secundrio, at aos professores da
universidade, com eles aprendi das vogais e consoantes, biologia e geologia.
Os amigos tambm nos instruem. Ensinam o que a amizade. Muitos vo entrando, outros
vo saindo, outros vo ficando e, depois, h aqueles que esto sempre l. E h o tal que
conquistou e foi mais alm. E com ele aprendo a partilhar e a conquistar um futuro melhor.
Por ltimo, mas como os ltimos so sempre os primeiros, h os pais. Os dois seres que me
permitiram ser o que sou.
Obrigada Pai e Me pelos valores que me ensinaram, pelas quedas
que me ampararam, pelos sorrisos que me proporcionaram e por tudo o que foram
conquistando para que nada me faltasse.
MUITO OBRIGADA!
vii
Amazonites de Valena Norte de Portugal
Resumo
Na regio de Valena ocorre um campo pegmattico denominado por Campo Pegmattico de
Alto dos Teares Taio Felgueiras. Este formou-se durante a orogenia Varisca, no decorrer da
instalao dos granitos ps-orognicos (tardi a ps-tectnicos), subalcalinos. Os pegmatitos que
constituem este campo so NYF e possuem carcter amazontico. Apresentam uma localizao
cupular relativamente aos granitos parentais. A sua implantao intra-grantica, quando estes
se instalaram em faixas de descompresso horizontais resultantes da relaxao interna da
cpula, e exo-grantica, quando os pegmatitos se implantaram em ruturas paralelas
configurao da cpula, resultado do colapso externo da mesma.
O presente estudo, por anlise paragentica, cromtica e mineroqumica, visa um contributo
cientfico sobre a cromatizao verde nos feldspatos potssicos amazonticos e potenciais
mecanismos que processam a amazonitizao. Igualmente pretende definir uma tendncia de
evoluo dos pegmatitos do campo pegmattico. As amazonites caracterizam-se por
apresentarem cores verdes variadas, ndices de triclinicidade elevados e altos teores de Pb, Sr e
Rb. Por sua vez, as microclinas rseas e cor de tijolo exibem baixos teores de Pb, Sr e Rb,
resultado de processos de lixiviao, prprios deste fenmeno de enrubescimento.
O processo de amazonitizao, metassomtico, parece resultar da presena de centros
cromforos induzidos pelo io Pb2+ que, em associao com a gua de cristalizao, forma os
pares dimricos [PbO.(OH)]. A presena de galena em amazonite perttica coerente com
aquele facto e indicia que a cor verde veiculada pela presena do Pb. O fenmeno de
enrubescimento, responsvel pelas coloraes rsea e cor de tijolo, ps-amazontico e est
relacionado com impregnaes de poalhas de hematite, designando-se, genericamente, por
hematitizao. Quanto tendncia de evoluo dos pegmatitos, constata-se que o mais precoce
o pegmatito de Taio, seguindo-se o pegmatito de Alto dos Teares e o mais tardio o
pegmatito de Felgueiras.
Palavras chave: NYF, pegmatitos miarolticos, amazonitizao, amazonites, enrubescimento,
Pb, galena
xi
Amazonites from Valena Northern Portugal
Abstract
The Alto dos Teares Taio Felgueiras pegmatite field is located in the region of Valena
(Northern Portugal), and was formed during the Variscan orogeny, during the intrusion of sub-
alkaline post-orogenic (tardi to post-tectonic) granites. These pegmatites are NYF and amazonitic.
They also have a cupular location in relation to the parental granites. Their placement is inner-
granitic, when settled in parallel zones of decompression that resulted from the internal dome
relaxation, and outer-granitic, when pegmatites intruded parallel cracks in the dome as a result of
its external collapse.
This study intends to shed light on the role of the chromophore that is responsible for the
green color in potassic amazonitic feldspar and how this mechanism amazonitization
happens. Paragenetic, chromatic, mineral and chemical analysis were used in order to achieve
that objective.
It also intends to determine an evolutionary trend in the pegmatite field. The amazonite
crystals present a large diversity of green colors, high triclinicity rates and high Pb, Sr and Rb
content. The rose and firebrick microcline crystals bear lower Pb, Sr and Rb content, as a result
of leaching, typical of the reddening phenomenon.
The amazonitization process, metasomatic, appears to result from the presence of
chromophoric centers induced by the ion Pb2+, which, in association with crystallization water,
form the dimeric pairs [PbO. (OH)]. The presence of galena in pertitic amazonite is consistent
with that fact and indicates that the green color is obtained by the presence of Pb. The reddening
phenomenon, responsible for the rose and firebrick hues, is post-amazonitic and is related to the
impregnation with lamelli of hematite, known as hematitization. As for the pegmatite evolutionary
trend was distinguished the following order of consolidation: Taio pegmatite, Alto dos Teares
pegmatite and Felgueiras pegmatite.
Key-words: NYF, Miarolitic pegmatites, amazonitization, amazonites, reddening, Pb, galena
xi
NDICE GERAL
Captulo I: ................................................................................................................................ 1
INTRODUO ........................................................................................................................... 1
I.1 Feldspatos potssicos ................................................................................................... 3
I.2 Objetivos da dissertao ............................................................................................... 8
I.3 - Trabalhos Prvios .......................................................................................................... 8
I.4 Enquadramento Geolgico ............................................................................................ 9
I.4.1 Macio Ibrico ....................................................................................................... 9
I.4.2 Zona Centro Ibrica ............................................................................................. 11
I.4.3 Organizao estrutural dos pegmatitos da ZCI ...................................................... 12
I.4.4 Localizao Paleogeogrfica e Tectnica dos granitos e campos pegmatticos com
feldspatos amazonticos .................................................................................................. 15
I.5 - Granitos ps-tectnicos do N de Portugal ...................................................................... 18
I.5.1 Petrologia, geoqumica e mineroqumica .............................................................. 20
I.5.2 Modelos concetuais de implantao granito/pegmatito ......................................... 23
I.6 - Potencial de gerao de pegmatitos por parte dos magmas parentais dos granitos ps-
tectnicos favorabilidade geoqumica para a amazonitizao ............................................ 26
I.7 - Anlise geomtrica e cartografia dos campos de pegmatitos amazonticos .................... 27
I.8 - Amostragem de feldspatos amazonticos ...................................................................... 32
I.9 - Mtodos de anlise: qumica e difractomtrica ............................................................. 34
Captulo II: ............................................................................................................................. 37
ESTRUTURA E PARAGNESE DE PEGMATITOS AMAZONTICOS E ROCHAS ENCAIXANTES ..... 37
II.1 Corpos pegmatticos: tipologia estrutural, mineralogia e tipos litolgicos encaixantes ... 39
II.2 Paradigma estrutural Anatomia do grupo pegmattico de Felgueiras ......................... 42
II.3 Assinaturas paragenticas de filiao NYF ............................................................... 44
II.4 Quadro paragentico ................................................................................................. 46
II.5 - Relao entre morfologia e estrutura interna e modelos concetuais de gnese e
instalao de pegmatitos .................................................................................................... 48
II.6 - Fenmenos da amazonitizao e enrubescimento ....................................................... 52
Captulo III: ............................................................................................................................ 55
ESTADO ESTRUTURAL E MINEROQUMICA DAS AMAZONITES ................................................ 55
III.1 - Diversidade cromtica ................................................................................................ 57
III.1.1 Amazonites ........................................................................................................ 59
xii
III.1.2 Microclinas Enrubescidas ................................................................................... 60
III.2 - Diversidade petrogrfica tipos pertticos ................................................................... 62
III.3 - Configuraes de difractogramas dos diferentes tipos de feldspatos potssicos e valores
de triclinicidade .................................................................................................................. 62
III.4 Mineroqumica .......................................................................................................... 66
III.4.1 Composio qumica pontual das Amazonites e Microclinas Enrubescidas .......... 66
III.4.2 Composio qumica pontual de fases feldspticas alojadas em Migmatito e Aplito-
pegmatito estudo comparativo ..................................................................................... 70
III.4.3 Diagrama ternrio Ab An - Or .......................................................................... 71
III.4.4 Distribuio dos elementos-trao (vestigiais) ....................................................... 72
III.5 Amazonitizao e Enrubescimento no Campo Pegmattico Alto dos Teares Taio -
Felgueiras ........................................................................................................................... 77
III.6 Minerais hospedados nos feldspatos potssicos ........................................................ 84
III.7 - Correlaes mineroqumicas entre triclinicidade e composies .................................. 86
III.8 - Indicadores mineroqumicos de tendncias evolutivas entre as amazonites e pegmatitos
portadores .......................................................................................................................... 88
Captulo IV: ............................................................................................................................ 89
CONCLUSES ........................................................................................................................ 89
IV.1 - Fertilidade amazontica dos granitos ps-tectnicos .................................................... 91
IV.2 Tendncias da evoluo geoqumica dos pegmatitos amazonticos deduzidas da
mineroqumica das suas amazonites ................................................................................... 93
IV.3 Classificao ornamental das amazonites ................................................................. 95
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ............................................................................................. 97
xiii
NDICE DE FIGURAS
Figura 1: Estrutura cristalina da microclina (amazonite). Retirada de
http://webmineral.com/data/microcline.shtml#.vmtawgisxx7 ................................................... 4
Figura 2: Diagrama ternrio An-Ab-Or, com as classificaes das composies intermdias entre
Ab e An e Ab-Or e a nomenclatura dos feldspatos. a Plagioclases; b Feldspatos alcalinos.
Extrada de Vlach (2002). ......................................................................................................... 5
Figura 3: Srie Reacional de Bowen .......................................................................................... 6
Figura 4: Unidades morfotectnicas da Pennsula Ibrica, segundo Lautensach (in Ribeiro et
al.,1979, in Mendes, 2001): 1 Bacias cenozoicas; 2 Cadeias meso-cenozoicas
moderadamente enrugadas; 3 Cadeias alpinas; 4 Soco Varisco (Macio Ibrico) ............... 10
Figura 5: Diviso Macio Ibrico segundo Farias et al. (1987). Retirada de Conceio (2012). . 11
Figura 6: Distribuio dos corpos pegmatticos na Provncia Pegmattica Varisca, em Portugal
Continental. Retirada de Guimares (2012). ............................................................................ 14
Figura 7: Enquadramento Geolgico da rea de estudo do Campo Pegmattico de Alto dos
Teares-Taio-Felgueiras. Excerto da folha 1C - Caminha escala 1/50000 (Legenda segundo as
minutas de reviso proposta em Leal Gomes, 2008). .............................................................. 17
Figura 8: Enquadramento topogrfico da rea de estudo do Campo Pegmattico de Alto dos
Teares-Taio-Felgueiras. Excerto da folha 7 escala 1/25000. ............................................... 18
Figura 9: Bolsadas irregulares a isodiamtricas observadas no campo pegmattico em estudo,
sector de Felgueiras................................................................................................................ 28
Figura 10: Dispositivos morfolgicos de evoluo resultantes da cinemtica de implantao.
Adaptado de Leal Gomes & Lopes Nunes (2003). ................................................................... 29
Figura 11: Protuberncias piramidais ascendentes no seio de um granito porfiroide
essencialmente biottico, ps-tectnico Granito de Mono observadas no Campo Pegmattico
de Alto dos Teares-Taio-Felgueiras. Retirada de Guimares (2012). ....................................... 30
Figura 12: Bolha pegmattica observada no Campo Pegmattico, setor de Felgueiras ............... 30
Figura 13: Cartografia do Campo Pegmattico de Alto dos Teares Taio Felgueiras ............ 31
Figura 14: Amostragem dos pegmatitos em estudo, nos trs setores discriminados ................. 33
Figura 15: Modelo de explicao da intruso dos pegmatitos do Campo de Alto dos Teares-Taio-
Felgueiras (Extrado de Guimares, 2012). Blocos diagramas dos pegmatitos amazonticos:
estrutura e anatomia dos corpos pegmatticos. 1 e 2 Intra-grantico de Alto dos Teares Norte e
Sul, respetivamente; 3 Intra-grantico de Felgueiras; 4 Exo-grantico de Taio..................... 41
xiv
Figura 16: Representao tridimensional da anatomia estrutural do sector pegmattico
amazontico de Felgueiras os vrios modelos de instalao granito/pegmatito tm nesta
ilustrao uma discriminao exemplar: magmatic stoping, balloning, bubbling e delaminao.
Optou-se pela designao de plug ao setor analisado .............................................................. 43
Figura 17: Conjunto de imagens (A a I) de minerais e associaes paragenticas tipomrficas da
linhagem NYF dos pegmatitos amazonticos do Campo Pegmattico de Alto dos Teares-Taio-
Felgueiras............................................................................................................................... 45
Figura 18: Espectro da monazite-Ce da figura 17C, obtido em MEV. ........................................ 46
Figura 19: Anlise paragentica dos pegmatitos miarolticos amazonticos filiados em granitos
biotticos ps-tectnicos. MMI Minerais magmticos primrios; AMT Amazonitizao; PAM
Amazonite de precipitao; R Enrubescimento dos feldspatos potssicos; EP
Epissienitizao; ZM Zona Marginal; ZIE Zona intermdia Externa; ZII Zona intermdia
Interna; NQZ Ncleo de Quartzo; CM Cavidade Miaroltica; MT Unidades Metassomticas.
Retirada de Ferreira & Leal Gomes (2014). ............................................................................. 47
Figura 20: Imagem de Google Earth da mancha grantica de Alto dos Teares na qual se evidencia
a forma do plutonito e a localizao dos corpos pegmatticos filiados. Retirada de Guimares
(2012). ................................................................................................................................... 49
Figura 21: Perfil da rea pegmattica de Alto dos Teares, com deduo de cisalhamentos,
fluidalidades e corpos pegmatticos associados aos modelos de Brisbin (1986) e Brun & Pons
(1981). ................................................................................................................................... 50
Figura 22: Perfil da rea pegmattica de Taio e Felgueiras ..................................................... 51
Figura 23: Espao Colorimtrico de Munsell. Retirada de
http://aalquimiadacor.blogspot.pt/2011/02/o-sistema-munsell.html ..................................... 58
Figura 24: Projeo das cores das amazonites e microclinas enrubescidas em estudo no Espao
Colorimtrico de Munsell 2D. No centro do eixo projeta-se o N que corresponde ausncia de
luminosidade (preto puro). ...................................................................................................... 59
Figura 25: Diversidade cromtica das amazonites do Campo Pegmattico de Alto dos Teares
Taio Felgueiras e respetivos ndices de Munsell .................................................................. 60
Figura 26: Diversidade cromtica das microclinas enrubescidas do Campo Pegmattico de Alto
dos Teares Taio Felgueiras e respetivos ndices de Munsell ............................................. 61
Figura 27: Diversidade petrogrfica perttica observada em MOLT. .......................................... 62
Figura 28: Conjunto de difractogramas e respetivos valores de triclinicidade dos feldspatos
potssicos - amazonites e microclinas enrubescidas com diversas coloraes ......................... 65
xv
Figura 29: Projeo das amostras em estudo no diagrama ternrio Ab-An-Or ........................... 72
Figura 30: Diagrama ternrio dos feldspatos alcalinos, Polarizao em Or das amostras
amazonites/microclinas realando-se a distribuio no campo das microclinas pertticas ........ 72
Figura 31: Diagramas da variao K/Rb para as amostras de amazonites e microclinas
enrubescidas estudadas. A K/Rb vs Rb (ppm); B K (%) vs Rb (ppm) .................................. 73
Figura 32: Diagrama de variao K/Cs vs Cs (ppm) para as amostras de amazonites e
microclinas enrubescidas estudadas ....................................................................................... 74
Figura 33: Diagrama de variao Ba (ppm) vs Rb (ppm) para as amostras de amazonites e
microclinas enrubescidas estudadas ....................................................................................... 75
Figura 34: Diagrama de variao K (ppm) vs Pb (ppm) para as amostras de amazonites e
microclinas enrubescidas estudadas ....................................................................................... 76
Figura 35: Diagramas da variao K/Sr e Ba/Sr para as amostras de amazonites e microclinas
enrubescidas estudadas. A K/Sr vs Sr (ppm); B Ba (ppm) vs Sr (ppm) .............................. 77
Figura 36: Conjunto de partculas de galena inclusas em amazonite perttica, obtidas no MEV-ER.
.............................................................................................................................................. 79
Figura 37: Espectros de albite (A) e de feldspato potssico (B), obtidos em MEV...................... 80
Figura 38: Partculas de zirco (ZR), galena (GA) e mica (MI) no migmatito. Imagem obtida no
MEV-ER. ................................................................................................................................. 80
Figura 39: Partcula compsita de U e Th, com forma amebide, num local hidrotermalizado de
cirtolite. Obtida no MEV-ER. .................................................................................................... 81
Figura 40: Transio entre microclina enrubescida (MR) e feldspato potssico (FK), com
destaque de vrias incluses hematticas e goethticas. ........................................................... 83
Figura 41: Partcula de zirco hidratado (metamictizao), obtida em MEV-ER. ........................ 84
Figura 42: Conjunto de partculas de sulfuretos inclusas em amazonite e microclina enrubescida,
obtidas no MEV. ..................................................................................................................... 86
Figura 43: Intervalo de teores mdios e valores de triclinicidade correspondentes a cada
colorao observada ............................................................................................................... 87
xvii
NDICE DE TABELAS
Tabela 1: Classificao de granitos da ZCI segundo Ferreira et al. (1987). Retirada de Mendes
(2001). ................................................................................................................................... 19
Tabela 2: Sntese da classificao de granitos sin-orognicos e tardi a ps-orognicos, de acordo
com a orogenia Varisca e a terceira fase de deformao, tal como estabeleceu Ferreira et al.
(1987). ................................................................................................................................... 19
Tabela 3: Valores extremos, mdia e desvio padro da composio modal dos granitos de Vila
Pouca de Aguiar (GVPA), Pedras Salgadas (GPS) e Gouves da Serra (GGS). A composio modal
foi calculada utilizando as composies qumicas de rocha total e biotite. %An= dados de
microssonda. Dados foram obtidos atravs das mesonormas de Barth (1958) e corrigidas com
base da composio da biotite. Retirada de Martins (1998). .................................................... 20
Tabela 4: Anlises qumicas de elementos maiores (%) e elementos menores (ppm) de amostras
selecionadas dos granitos de Vila Pouca de Aguiar (GVPA), Pedras Salgadas (GPS) e Gouves da
Serra (GGS). Pf perda ao rubro. no determinado. Retirada de Martins (1998) .................. 21
Tabela 5: Abundncia dos principais minerais dos granitos do macio Peneda-Gers, expressa
em %. Retirada de Mendes (2001). ......................................................................................... 21
Tabela 6: Composio qumica mdia dos granitos do macio de Peneda-Gers em elementos
maiores, menores (%) e vestigiais (ppm). Fe2O3 total= Fe total sob a forma de Fe2O3.. N=n de
amostras. Retirada de Mendes (2001). ................................................................................... 22
Tabela 7: Classificao pegmatitos miarolticos NYF. Adaptada de ern (1991) ..................... 27
Tabela 8: Anlise qumica pontual obtida em microssonda eletrnica das amostras de amazonite
e microclinas enrubescidas em estudo. no determinado. Teores expressos em %. .............. 69
Tabela 9: Anlise qumica pontual obtida em microssonda eletrnica do migmatito de Pites das
Jnias (Montalegre) e do aplito pegmatito amazontico de Taio. no determinado. Teores
expressos em % ...................................................................................................................... 71
Tabela 10: Caractersticas mineroqumicas referentes s coloraes das amazonites e
microclinas enrubescidas estudadas ....................................................................................... 87
Captulo III: Estado estrutural e mineroqumica das amazonites
Captulo I:
INTRODUO
Um monte de pedras deixa de ser um monte de pedras no momento em que um nico homem o contempla, nascendo dentro dele a imagem de uma catedral.
Antoine de Saint-Exupry
Captulo III: Estado estrutural e mineroqumica das amazonites
Captulo I: Introduo
Amazonites de Valena Norte de Portugal 3
No Norte de Portugal ocorrem numerosos pegmatitos verificando-se sobre alguns atividade
extrativa para quartzo e feldspato, essencialmente. Propem-se neste trabalho que no decorrer
dessas atividades pudessem ser selecionados alguns minerais por apresentarem qualidade
ornamental. Uns por serem espcimes com valor museolgico, outros por depois de aplicado o
devido tratamento laboratorial, serem utilizados a nvel gemolgico. A amazonite um desses
minerais e o interesse pelo seu estudo advm da cor excecional que apresenta.
A presente dissertao pretende dar um contributo cientfico ao tema: quais os centros
cromforos (cristaloqumicos) responsveis pela cor verde nos feldspatos amazonticos e como
se verifica a cromatizao, segundo o fenmeno denominado de amazonitizao, nos pegmatitos
em estudo. Pretende-se, igualmente, estabelecer uma tendncia de evoluo dos pegmatitos,
com base em amazonites e microclinas enrubescidas.
Neste captulo introdutrio, alm de uma breve abordagem aos feldspatos, tambm se
apresenta a rea de estudo, a metodologia adotada e discutidos os processos de instalao dos
granitos e pegmatitos.
I.1 Feldspatos potssicos
A amazonite uma variedade do feldspato potssico, com a frmula qumica KAlSi3O8 e
estrutura cristalina ilustrada na figura 1. Foi descoberta e descrita, pela primeira vez, por Johann
Friedrich August Breithaupt em 1847 (Petrov et al.,1993; www.mindat.com). O seu nome to
particular deve-se ao facto de ter sido encontrada prximo do rio Amazonas. Apresenta uma cor
verdeazul e um hbito cristalino que lhe muito caracterstico, fazendo com que seja
praticamente impossvel confundir com outro mineral.
Os principais pases produtores so EUA, Rssia, Madagscar, Brasil e ndia, com destaque
para Colorado (EUA), no qual se encontra a jazida com os espcimes mais emblemticos
Pikes Peak (rea Crystal Peak).
Captulo I: Introduo
Amazonites de Valena Norte de Portugal 4
Os feldspatos so os minerais mais abundantes da crosta terrestre e os tectossilicatos mais
diversificados do ponto de vista qumico. So os constituintes que se encontram em maioria nas
rochas gneas no ultramficas, sendo, desta forma, utilizados como base da sua classificao.
Tambm so comuns em rochas sedimentares e esto presentes na maioria das rochas
metamrficas, dando indicaes acerca das condies de metamorfismo. Igualmente so os
principais constituintes dos pegmatitos granticos e alcalinos simples.
So representados pela frmula qumica geral MT4O8, na qual o lugar M ocupado por metais
alcalinos, normalmente K e Na, eventualmente Rb1+ e raramente NH4 ou metais alcalino--
terrosos, como o Ca, casualmente Sr2+ e Ba2+ em quantidades trao e invulgarmente Eu e Pb; o
lugar T ocupado por Si e Al (a quantidade depende da quantidade trao de Fe3+) e
ocasionalmente por Ti, P, B3+ e Ga3+.
Relativamente composio qumica, os feldspatos podem ser classificados atravs de
solues slidas no sistema ternrio Ab Or An (NaAlSi3O8 KAlSi3O8 CaAlSi3O8,
respetivamente) (Figura 2) (Vlach, 2002).
Figura 1: Estrutura cristalina da microclina (amazonite) . Retirada de
http://webmineral.com/data/microcline.shtml#.vmtawgisxx7
Captulo I: Introduo
Amazonites de Valena Norte de Portugal 5
Como se pode observar na figura 2, os feldspatos com composies intermdias entre Ab e
Or, que ocorrem atravs da substituio catinica 1+ 1+, designam-se por feldspatos
alcalinos. Por sua vez, os feldspatos cujas composies intermdias se situam entre Ab e An por
substituio catinica acoplada de 1+4+ 2+3+ denominam-se por feldspatos
sdico clcicos ou plagioclases (Vlach, 2002).
Quanto ao estado estrutural, que depende da temperatura de cristalizao e da subsequente
histria trmica, os feldspatos nominam-se de feldspatos de alta temperatura, quando mantm a
estrutura de acordo com a sua formao de alta temperatura; feldspatos de baixa temperatura,
sempre que ostentem uma estrutura adequada, seja a uma cristalizao a baixas temperaturas,
seja a um arrefecimento lento desde temperaturas elevadas; feldspatos de temperatura
intermdia, se a estrutura exibir indcios de que a cristalizao decorreu a temperaturas
intermdias. A diferena entre o estado estrutural de alta e baixa temperatura deve-se
geometria da estrutura, com ou sem alterao de simetria e, ao grupo espacial e ao grau de
ordenamento dos tomos de Si e Al nas diferentes posies tetradricas (Vlach, 2002).
Pela Srie Reacional de Bowen, patente na figura 3, na srie contnua os primeiros feldspatos
a formarem-se so os feldspatos clcicos, a altas temperaturas. No entanto, estes vo reagindo
com o magma residual e o clcio progressivamente substitudo pelo sdio (sem alterao da
estrutura interna), dando origem aos feldspatos sdicos, que se formam a mais baixas
temperaturas. Com o aumento dos teores de slica, potssio e alumnio, as condies tornam-se
Figura 2: Diagrama ternrio An-Ab-Or, com as classificaes das composies intermdias entre Ab e
An e Ab-Or e a nomenclatura dos feldspatos. a Plagioclases; b Feldspatos alcalinos. Extrada de
Vlach (2002).
Captulo I: Introduo
Amazonites de Valena Norte de Portugal 6
ideais para a formao do feldspato potssico. As temperaturas de formao so mais baixas
que as de formao dos feldspatos sdicos.
No que respeita ao ordenamento dos feldspatos, este pode conseguir-se diretamente a partir
das distncias interatmicas ou das ocupaes das posies interatmicas determinadas por
difrao RX ou fluxo neutrnico. E em certas situaes pode-se obter por mtodos, como a
ressonncia magntica nuclear (RMN) ou espectroscopia de infravermelhos. Deste modo, os
feldspatos podem ser classificados como: feldspatos homogneos desordenados de alta
temperatura e feldspatos ordenados, nos quais, na sua grande maioria, a separao de fases
com teores de Na, K ou Ca muito diferentes acontece escala macro, micro ou sub-
microscpica (Vlach, 2002).
Relativamente nomenclatura, a dos feldspatos de alta temperatura apoia-se na simetria dos
cristais. No campo da sanidina (Or50 Or80), os minerais possuem simetria monoclnica; na
diviso da albite de alta temperatura (anortoclase) pertencem os feldspatos triclnicos
temperatura ambiente, no entanto podem possuir simetria monoclnica temperatura de
cristalizao; no grupo da composio pura NaAlSi3O8, as formas de alta e baixa de temperatura
tm simetria triclnica, mas a forma de alta temperatura sofre uma mudana acima dos 980C
para a forma monoclnica (monoalbite) (Figura 2a). No domnio da composio das plagioclases,
os feldspatos possuem simetria triclnica, quer temperatura ambiente quer temperatura de
cristalizao (Figura 2a).
Figura 3: Srie Reacional de Bowen
Captulo I: Introduo
Amazonites de Valena Norte de Portugal 7
A nomenclatura nos feldspatos alcalinos depende indiretamente do ordenamento Al/Si e
Na/K, uma vez que este faz com que haja diferenas significativas na simetria, propriedades
ticas, morfologia e texturas de exsoluo. Deste modo, os feldspatos cuja composio se situa
no intervalo Or15 Or85 designam-se por criptopertites, pertites ou mesopertites (Figura 2b).
Quando a composio tem mais de 85% de K, os feldspatos denominam-se de ortoclase perttica
ou microclina perttica (Figura 2b), sendo o termo para caracterizar feldspatos ricos em
potssico, com ordenao intermdia. Apesar da microclina ser triclnica, surge na grande
maioria monoclnica, dado que possuem maclas de pequena escala. Como possuem graus de
ordem variveis e uma transio gradual para a simetria monoclnica, existem dois tipos de
microclinas: microclinas de baixa temperatura (microclinas ordenadas) e microclinas intermdias
(microclinas de menor ordenamento cristalino) (Vlach, 2002).
Um caso particular de um feldspato alcalino de baixa temperatura a adulria. Esta
variedade tem um hbito e paragnese bastante caractersticos - faces prismticas desenvolvidas
e a paragnese tpica de files alpinos, respetivamente. Tambm o grau de ordenamento
cristalino e outras diversidades estruturais variam de amostra para amostra, o que faz com que
existam diferenas nas propriedades ticas, no plano dos eixos ticos, que varia desde uma
posio paralela a perpendicular no eixo (010).
Nas plagioclases a nomenclatura puramente qumica e pode ser definida por percentagens
moleculares de Ab - An. No entanto, na srie de alta temperatura existem terminologias para
os seis intervalos de composio qumica, nos quais a srie foi dividida: albite (An 0-10),
oligoclase (An 10-30), andesina (An 30-50), labradorite (An 50-70), bitaunite (An 70-90) e
anortite (An 90-100) (Figura 2a), sendo que, estas divises foram selecionadas por mtodos
convencionais e no por rigor estrutural ou de grau de ordenamento. Na srie de baixa
temperatura a diviso diferente, pois esta estruturalmente complexa. Deste modo, foram
definidos os seguintes termos: albite de baixa temperatura, peristerite, albite intermdia
(intermdia entre os dois estados de baixa temperatura) e anortite (Vlach, 2002).
Dada a sua abundncia e devido ao alto teor de alcalis e alumina, os feldspatos so aplicados
em diversas indstrias: cermica (louas sanitrias, de cozinha e porcelanas), vidro, construo
civil, na produo de vernizes, tintas, eltrodos para soldar, abrasivos leves, plsticos, espuma
de latx e prteses dentrias (Luz & Coelho, 2008).
Captulo I: Introduo
Amazonites de Valena Norte de Portugal 8
Relativamente amazonite, dado ser uma variedade de boa colorao e de elevada pureza,
esta pode ser utilizada como gema, pedra de adorno ou estaturia. Tem tambm boa veiculao
comercial como mineral esotrico relacionado com as caractersticas de cor e efeito tico.
I.2 Objetivos da dissertao
Os objetivos desta dissertao so:
I - Caracterizao composicional e difractomtrica dos diferentes termos cromticos da fase
potssica do feldspato;
II Estudo da correlao entre cor, estrutura e composio com vista evidncia de
constituintes cromforos ou centros cristalinos cromforos;
III Deduo de uma tendncia de evoluo dos pegmatitos com base nas caractersticas
das diferentes coloraes das fases potssicas.
I.3 - Trabalhos Prvios
Leal Gomes et al. (1987) so os primeiros a fazer referncia ao aparecimento de amazonite
na regio de Valena, no Norte de Portugal. Os autores referem que ocorre nos pegmatitos
associados aos granitos de Felgueiras e S. Loureno e ao gnaisse de Taio. Esses pegmatitos
so considerados ps-tectnicos em relao 3 fase de deformao Varisca - D3. Os mesmos
autores mencionam que a amazonite possui variadas triclinicidades e que um episdio regional
de enrubescimento o fenmeno responsvel pela mudana de cor das amazonites para
microclinas rseas.
Posteriormente, Leal Gomes & Nunes (1991), Leal Gomes et al. (1997) e Leal Gomes (2010),
mencionam outras ocorrncias de amazonite no mesmo enquadramento. Referem ainda que,
Captulo I: Introduo
Amazonites de Valena Norte de Portugal 9
medida que as amazonites vo ficando enrubescidas, o contedo de Na2O diminui e o contedo
de Fe2O3 aumenta.
I.4 Enquadramento Geolgico
I.4.1 Macio Ibrico
O Macio Ibrico uma das trs grandes unidades morfotectnicas. Nele, encontra-se a zona
ocidental da Pennsula Ibrica, sendo nesta que se encontra Portugal na sua rea continental
(Figura 4).
Corresponde ao afloramento mais ocidental da orogenia Varisca, com idades desde o Pr-
Cmbrico ao Paleozoico superior, sendo coberto por formaes meso-cenozoicas (Estevo,
2010). Possui uma direo predominante NW/SW no ncleo e delimitado a sul pela orientao
alpina NE/SW da Cadeia Btica e a norte pela mesma orientao do Arco Ibero Armoricano
(Pinto, 2011).
A orogenia Varisca desenvolveu-se ao longo de 100 Ma e tem sido diferenciada em trs fases:
1 fase entre 380 e 360 Ma Devnico Superior, 2 fase entre 370 e 350 Ma - Devnico
Superior/Carbnico Inferior e 3 fase entre 330 e 290 Ma Carbnico Superior/Prmico
Inferior. Durante esta orogenia, no macio, originou-se uma densa rede de fraturas resultantes
de dois episdios muito importantes: distenso, que ocorreu desde o Trissico ao Cretcico
superior, associada abertura do Atlntico e do Neotethis, e coliso, a partir do Miocnico
mdio, que ocorreu devido convergncia das placas africana e euroasitica (Conceio, 2012;
Dias, 2011).
Captulo I: Introduo
Amazonites de Valena Norte de Portugal 10
Lotze (1945), in Guimares (2012), dividiu o Macio Ibrico em seis zonas morfotectnicas,
tendo sido modificadas por Julivert et al. (1974) e por Farias et al. (1987), citados por Dias
(2011). Essas zonas definem-se segundo caractersticas paleogeogrficas, tectnicas,
metamrficas e plutnicas distintas, sendo que, por vezes esto separadas por importantes
cavalgamentos.
O Macio Ibrico dividido em seis zonas morfotectnicas: Zona Cantbrica (ZC), Zona
Astrico Ocidental-Leonesa (ZAOL), Zona Centro Ibrica (ZCI), Zona Galiza-Trs-os-Montes
(ZGTM), Zona Ossa Morena (ZOM) e Zona Sul Portuguesa (ZSP) (Figura 5).
Os pegmatitos intra-granticos esto, essencialmente, relacionados com sistemas granticos
residuais, dependentes da evoluo da ZCI (Guimares, 2012). Deste modo, sero apresentadas
as caractersticas que dizem respeito a esta zona morfotectnica.
Figura 4: Unidades morfotectnicas da Pennsula Ibrica, segundo Lautensach ( in Ribeiro et
al.,1979, in Mendes, 2001): 1 Bacias cenozoicas; 2 Cadeias meso-cenozoicas moderadamente
enrugadas; 3 Cadeias alpinas; 4 Soco Varisco (Macio Ibrico)
Captulo I: Introduo
Amazonites de Valena Norte de Portugal 11
I.4.2 Zona Centro Ibrica
Do ponto de vista estratigrfico, a ZCI caracterizada pela ocorrncia de uma mega
sequncia do tipo flysch (idade Pr Cmbrica superior/Cmbrica) designada por Complexo
Xisto Grauvquico (CXG). Relativamente s estruturas, estas devem-se deformao associada
orogenia Varisca, na qual so conhecidas trs fases principais de deformao dctil D1, D2 e D3
e uma fase de deformao frgil D4. A primeira fase de deformao dctil (D1) caracteriza-se
pela formao de dobras bastante extensas e xistosidade de plano axial associada (S1) com
direo geral NW/SE. A sequncia pr carbnica existente foi afetada por esta fase de
deformao e as estruturas resultantes desta ao esto bem retratadas na ZCI.
A segunda fase de deformao dctil (D2) teve efeito nas sequncias metamrficas de grau
mdio a alto e foi responsvel pela formao de zonas de cisalhamento dcteis sub-horizontais,
nas quais a clivagem S2 , habitualmente, a nica visvel. Tambm formou dobras menores
Figura 5: Diviso Macio Ibrico segundo Farias et al. (1987). Retirada de Conceio
(2012).
Captulo I: Introduo
Amazonites de Valena Norte de Portugal 12
assimtricas e dobras em bainha que afetam a clivagem S1, dando origem a uma nova clivagem,
S2, sub-horizontal.
A terceira fase de deformao dctil (D3) est associada a zonas de cisalhamento dctil sub-
verticais, com movimento horizontal dextrgiro. As dobras produzidas possuem plano axial sub-
vertical, ocasionalmente com clivagem de crenulao S3 que redobram as estruturas anteriores e
foliao nos granitos (Conceio, 2012; Pamplona, 2001; Sant'Ovaia, 2000). As fraturas
originadas tm orientao NNE-SSW, tendo-se tambm originado um sistema conjugado NNW-
SSE.
Por ltimo, a fase de deformao frgil (D4) caracterizada pela instalao dos granitides
tardi a ps D3 e pelo desenvolvimento de um sistema de falhas de direo NW/SW a
NNE/SSW, com movimento horizontal esquerdo (Martins, 1998), sendo esta filiao de
granitides que aflora na rea em estudo.
Os pegmatitos relacionados com a orogenia Varisca, aos quais pertencem os pegmatitos
amazonticos em estudo, encontram-se, intimamente, ilustrados na figura 5 por alguns
lineamentos. Verifica-se que a maior parte destas lineaes, localizam-se na transio entre a
ZCI e a ZGTM. Porm, geneticamente esto relacionados com os granitos sin a ps-tectnicos
relativamente 3 fase de deformao Varisca.
I.4.3 Organizao estrutural dos pegmatitos da ZCI
Aquando a instalao dos granitos, ocorreu a implantao de pegmatitos, que corresponde
pegmatitizao Varisca citada por Leal Gomes (1994), com idades pertencentes ao intervalo 300
e 280 Ma. ern (1982) props subdivises para a organizao estrutural dos pegmatitos. Leal
Gomes (1994) e Leal Gomes & Nunes (2003) adaptaram essas sub-divises ao conjunto de
pegmatitos pertencentes ZCI, tendo em conta as especificidades encontradas a nvel estrutural
e composicional. Por conseguinte, os autores discriminaram as seguintes subdivises,
adotadas em trabalhos posteriores dedicados a estudos pegmatticos regionais, tais como
Sinergeo & UMinho (2013) :
Captulo I: Introduo
Amazonites de Valena Norte de Portugal 13
1 ordem Provncia Pegmattica Varisca: engloba todos os pegmatitos e/ou aplito
pegmatitos que estejam relacionados com o metamorfismo e com os granitos da orogenia
Varisca (Figura 6).
2 ordem Cintura Pegmattica Centro - Ibrica: abrange todos os pegmatitos aflorantes na
ZCI e os afloramentos situados nos terrenos parautctones da Zona de Galiza-Trs-os Montes
(ZGTM) (os pegmatitos so alctones na ZGTM e geneticamente relacionados com granitos mais
tpicos da ZCI). O alongamento da cintura segue a atitude e a trajetria do alongamento do Arco -
Ibero Amoricano e dos Macios granticos sin e tardi tectnicos.
3 ordem Campo pegmattico ou aplito pegmattico: rea pegmattica onde predominam
pegmatitos com uma filiao comum num nico plutonito paterno. Alm destas unidades
elementares engloba, igualmente, outros corpos com estruturas aplticas e pegmatticas
estreitamente associadas e estruturas com origem diversificada que se relaciona de alguma
forma com pegmatides (Leal Gomes & Nunes, 2003; Leal Gomes, 2005a). Esses corpos so:
segregaes metamrficas hper - aluminosas, veios de quartzo, massas ou corpos originados
por alterao deutrica, files hipabissais microgranticos e prfiros. Os campos podem ser intra
ou exo granticos.
4 ordem Enxame pegmattico ou aplito pegmattico: conjunto de pegmatitos nos quais a
implantao est relacionada com um estdio de evoluo geoqumica e morfolgica do
plutonito gerador e/ou com um campo de tenses regional (Leal Gomes & Nunes, 2003; Leal
Gomes, 2005a). Esta subdiviso tambm engloba o termo grupo pegmattico, usado para
descrever pares de pegmatitos intra granticos acoplados.
5 ordem Corpo aplito pegmatito, pegmatito, pegmatide: poro litolgica com
composio grantica residual ou silicatada hiper - aluminosa, com minerais como o quartzo,
feldspato e moscovite (Leal Gomes & Nunes, 2003; Leal Gomes, 2005a). Quanto s
mineralizaes possveis correspondem tipologia: LCT (Li, Cs e Ta), NYF (Nb, Y e F) ou hbridas
(LCT e NYF).
Captulo I: Introduo
Amazonites de Valena Norte de Portugal 14
Segundo Leal Gomes (1994), a Cintura Pegmattica Centro Ibrica engloba todas as classes
de pegmatitos mencionados por Ginzbourg et al. (1979), in Leal Gomes (1994). Contudo, e
tendo em conta as particularidades relativamente aos aplitos-pegmatitos da ZCI, os autores
Guimares (2012), Leal Gomes & Nunes (2003) discriminaram:
Pegmatitos tabulares a lenticulares (t) - pegmatitos miarolticos, zonados, em corpos
tabulares situados em cpulas de plutonitos mais ou menos superficiais - tipo I de Ginzbourg et
al. (1979).
Pegmatitos em forma de bolsada irregular (b) - pegmatitos miarolticos, zonados,
cermicos em bolsadas situadas em cpulas de plutonitos - tipo I de Ginzbourg et al. (1979).
Pegmatitos lenticulares (er) - pegmatitos homogneos e aplito-pegmatitos de elementos
raros em grupos estruturalmente diferenciados, associados a plutonismo de profundidade
intermdia - tipo II de Ginzbourg et al. (1979).
Figura 6: Distribuio dos corpos pegmatticos na Provncia Pegmattica Varisca,
em Portugal Continental. Retirada de Guimares (2012).
Captulo I: Introduo
Amazonites de Valena Norte de Portugal 15
Pegmatitos lenticulares (m) - pegmatitos profundos, micceos, homogneos a subzonados
- tipo III de Ginzbourg et al. (1979).
Pegmatitos lenticulares a irregulares (p) - pegmatitos zonados, de elementos raros, em
sectores de profundidade intermdia submetidos a deformao distensiva ou cisalhamento - tipo
II de Ginzbourg et al. (1979).
Pegmatitos lenticulares a venulares (a) - pegmatitos abissais (de mxima profundidade),
situados em ambientes de migmatitizao - tipo IV de Ginzbourg et al. (1979).
O termo campo pegmattico ser utilizado nesta dissertao referente ao campo pegmattico
Alto dos Teares Taio Felgueiras. Os pegmatitos aflorantes so pegmatitos miarolticos
tabulares a lenticulares, e pegmatitos miarolticos em forma de bolsada irregular, pertencentes
ao tipo I de Ginzbourg et al. (1979).
I.4.4 Localizao Paleogeogrfica e Tectnica dos granitos e campos
pegmatticos com feldspatos amazonticos
A rea em estudo tem representao na cartografia geolgica da folha 1C de Caminha,
escala 1/50 000 (Figura 7) e na carta topogrfica da folha 7, escala 1/25000 (Figura 8), em
que se inclui o campo pegmattico de Alto dos Teares Taio Felgueiras.
Este campo situa-se no concelho de Valena do Minho e tem uma extenso alongada de
cerca 1,9Km. A largura varivel com 200m na parte sul e 950m na parte central (Guimares,
2012; Lima, 2006).
Segundo a reviso geolgica mais recentes, proposta em Leal Gomes (2008), as rochas
regionais esto representadas por um granito alcalino gnaissco (Gnaisse de Gndara), com duas
micas, e parte da mancha do granito de Mono. Petrograficamente, este granito apresenta gro
grosseiro a mdio e quartzo abundante, tanto em cristais, como em mirmequites. O feldspato
potssico ocorre sob a forma de grandes cristais de pertite e microclina-pertite, que por vezes
adquire uma tonalidade rsea. A plagioclase varia, composicionalmente, de plagioclase-andesina
a oligoclase-andesina e oligoclase a albite-oligoclase. As micas esto representadas pela biotite,
Captulo I: Introduo
Amazonites de Valena Norte de Portugal 16
por vezes cloritizada. Os minerais acessrios principais so esfena, zirco, apatite e alanite
(Guimares, 2012; Lima, 2006; Ribeiro & Moreira, 1986; Teixeira & Assuno, 1961). Em
menor extenso ocorre, como variao de fcies, um granito de gro mdio e um granito
porfiride de gro grosseiro, todos essencialmente biotticos.
Relativamente tectnica, e dado que os granitos aflorantes se instalaram durante a D4,
como supracitado, esta caracteriza-se, essencialmente, por desligamentos frgeis, sendo os
mais importantes, de direo NNE/SSW. Aquando da ascenso dos granitos instalaram-se
numerosos files aplito-pegmatticos (Ribeiro & Moreira, 1986; Teixeira & Assuno, 1961).
Os pegmatitos aflorantes na rea em estudo, objeto de anlise nesta dissertao, so
miarolticos, tabulares, com espessura decimtrica a pluridecimtrica e estrutura interna zonada,
ou ento, constituem corpos tabulares, igualmente miarolticos, que se encontram instalados no
interior cupular de stocks de granitos ps tectnicos de gro grosseiro, biotticos com feldspato
alcalino e em terrenos migmatticos que se encontram volta dos mesmos stocks granticos
(Guimares, 2012; Leal Gomes et al., 1997).
Captulo I: Introduo
Amazonites de Valena Norte de Portugal 17
Figura 7: Enquadramento Geolgico da rea de estudo do Campo Pegmattico de Alto dos Teares -
Taio-Felgueiras. Excerto da folha 1C - Caminha escala 1/50000 (Legenda segundo as minutas
de reviso proposta em Leal Gomes, 2008) .
rea de estudo
Captulo I: Introduo
Amazonites de Valena Norte de Portugal 18
I.5 - Granitos ps-tectnicos do N de Portugal
A instalao dos granitos em Portugal ocorreu, essencialmente, na orogenia Varisca e durante
a terceira fase de deformao, sendo a ZCI um excelente exemplo.
Dada a diversidade geoqumica, petrogrfica e petrolgica destes granitos houve a
necessidade de uma diviso e posterior classificao. Aps vrias simplificaes, uma das mais
utilizadas para caracterizar os granitides do NW de Portugal foi estabelecida por Ferreira et al
(1987), in Mendes (2001) (Tabela 1). Esta classificao teve em conta a relao temporal entre
a implantao e a orogenia Varisca.
Figura 8: Enquadramento topogrfico da rea de estudo do Campo Pegmattico de Alto dos Teares -
Taio-Felgueiras. Excerto da folha 7 escala 1/25000.
Captulo I: Introduo
Amazonites de Valena Norte de Portugal 19
Tabela 1: Classificao de granitos da ZCI segundo Ferreira et al. (1987). Retirada de Mendes (2001).
Na maioria dos granitos apenas so visveis os efeitos da terceira fase deformacional. Desta
forma, os granitos sin-orognicos e tardi a ps-orognicos foram sub-divididos tendo em conta a
relao entre a sua implantao e a atuao da terceira fase deformacional (Tabela 2).
Tabela 2: Sntese da classificao de granitos sin-orognicos e tardi a ps-orognicos, de acordo com
a orogenia Varisca e a terceira fase de deformao, tal como estabeleceu Ferreira et al. (1987).
Os granitos relacionados com os pegmatitos em apreo neste estudo, nomeadamente, os
granitos de Felgueiras e S. Loureno e o gnaisse de Taio, mencionados por Leal Gomes et al.
(1987), incluem-se na sub-diviso dos ps-tectnicos, ou seja, instalaram-se aps a terceira fase
de deformao (D3), desde o Estefaniano ao Prmico (Martins, 1998; Mendes, 2001). Associado
a esta instalao, encontra-se um campo de tenses, com direo de compresso mxima 1, a
variar entre N/S a NW/SE. Os sistemas de falhas esquerdas NNE/SSW e o sistema conjugado
dextro NNW/ SSE foram condicionados por este campo. Exemplos destes sistemas de falhas so
a falha de Gers-Loivos e a falha PenacovaRguaVerin. Estas falhas controlam a instalao
dos macios granticos de Vila Pouca de Aguiar e de Peneda-Gers (Martins, 1998; Mendes,
2001).
Prorognicos
Sin
orognicos
ante-D3 Granitos de duas micas ou biotticos com restites
sin-D3 Granitides biotticos com plagiclase clcica e seus diferenciados
Granitos de duas micas ou biotticos com restites
Tardi a psorognicos (biotticos com plagiclase clcica)
sin -
orognicos
Implantao e atuao da orogenia Varisca Implantao e atuao da 3 fase
deformacional
antetectnicos ante-D3
sintectnicos sin-D3
tarditectnicos tardi-D3
pstectnicos tardi a ps-D3
Captulo I: Introduo
Amazonites de Valena Norte de Portugal 20
I.5.1 Petrologia, geoqumica e mineroqumica
Os macios de Vila Pouca de Aguiar e de Peneda-Gers so ps-tectnicos. Deste modo, as
suas caractersticas petrolgicas, geoqumicas e mineroqumicas macios podem ser ajustadas
ao granito da rea em estudo, Granito de Mono.
O macio grantico de Vila Pouca de Aguiar (GVPA) composto, essencialmente, por trs
unidades granticas: o granito de Vila Pouca de Aguiar (GVPA), o granito de Gouves da Serra
(GGS) e o granito de Pedras Salgadas (GPS) (Martins, 1998; Sant'Ovaia, 2000).
A petrografia, como se pode verificar na tabela 3, apresenta diferenas composicionais entre
as fcies granticas que compem este macio. Essas diferenas devem-se sobretudo aos teores
de biotite e moscovite, sendo que, os teores mais elevados de biotite encontram-se no granito de
Vila Pouca de Aguiar e os teores superiores de moscovite nos granitos de Pedras Salgadas e
Gouves da Serra (Martins, 1998).
Tabela 3: Valores extremos, mdia e desvio padro da composio modal dos granitos de Vila Pouca
de Aguiar (GVPA), Pedras Salgadas (GPS) e Gouves da Serra (GGS). A composio modal foi
calculada utilizando as composies qumicas de rocha total e biotite. % An= dados de microssonda.
Dados foram obtidos atravs das mesonormas de Barth (1958) e corrigidas com base da composio
da biotite. Retirada de Martins (1998).
Na tabela 4 so apresentadas as anlises qumicas dos elementos maiores e dos elementos
menores de amostras selecionadas dos GVPA, GPS e GGS. De destacar o carcter ligeiramente
mais bsico de GVPA, assim como, o que apresenta menor riqueza em alcalis, menor teor em
potssio e valor mais baixo do carcter aluminoso (Martins, 1998).
% GVPA GPS GGS
Min. Mx. Mdia Min. Mx. Mdia Min. Mx. Mdia
n=14 n=11 n=4
Quartzo 26.67 31.44 29.67 1.32 30.26 33.47 32.04 0.82 29.92 32.37 31.07 0.89
Feldspato 18.56 23.42 20.38 1.15 21.82 23.96 22.85 0.75 23.04 24.95 24.02 0.88
Plagioclase 38.23 42.23 40.34 1.04 34.68 38.6 36.79 1.05 36.78 38.89 38.01 0.78
%An 16.2 30.1 6.9 14.3 16 2?
Biotite 6.31 10.36 8.52 1.07 4.34 6.93 5.37 0.89 3.06 6.68 5.38 1.41
Horneblenda 0.44 0.5 0.00 0.01
Moscovite 0.12 1.19 0.65 0.32 1.65 4.67 2.68 0.98 0.93 2.26 1.71 0.57
Apatite 0.15 0.34 0.25 0.05 0.04 0.21 0.12 0.04 0.00 0.17 0.10 0.06
Opacos 0.06 0.68 0.21 0.16 0.07 0.31 0.14 0.13 0.00 0.49 0.15 0.22
Fk/Pl 0.47 0.60 0.51 0.03 0.58 0.66 0.62 0.02 0.60 0.66 0.62 0.02
Captulo I: Introduo
Amazonites de Valena Norte de Portugal 21
Tabela 4: Anlises qumicas de elementos maiores (%) e elementos menores (ppm) de amostras
selecionadas dos granitos de Vila Pouca de Aguiar (GVPA), Pedras Salgadas (GPS) e Gouves da Serra
(GGS). Pf perda ao rubro. no determinado. Retirada de Martins (1998)
O macio grantico ps-tectnico de Peneda-Gers constitudo, fundamentalmente, por
granitos sub-alcalinos ferro-potssicos: o granito do Gers, o granito do Paufito, o granito de Illa,
o granito de Carris, o granito de Calvos, e o granito de Covas.
Na tabela 5, as fcies granticas no apresentam diferenas entre si. Essas diferenas
somente so observadas petrograficamente ao nvel macroscpico e microscpico.
Tabela 5: Abundncia dos principais minerais dos granitos do macio Peneda-Gers, expressa em %.
Retirada de Mendes (2001).
Na tabela 6 apresenta-se a composio qumica mdia dos granitos do macio de Peneda-
Gers. de salientar o granito de Gers, pois este geoquimicamente diferente dos restantes,
uma vez que apresenta um elevado teor em SiO2 e, quando comparado aos outros granitos,
apresenta teores mais elevados em Fe2O3 total e menores teores em Al2O3.
GVPA GPS GGS
74-3 46-2 74-15 60-18 61-6 60-13 88-1 74-2 61-11
SiO2 70.72 71.77 72.24 73.00 74.40 73.62 73.66 73.84 74.92
Al2O3 14.51 13.56 13.35 13.57 13.48 13.38 13.44 13.46 13.13
Fe2O3 (total) 3.08 2.72 2.22 1.76 1.62 1.77 1.99 1.64 1.63
Fe2O3 0.83 - 0.38 - - - - 0.35 -
FeO 2.02 - 1.66 - - - - 1.16 -
MnO 0.06 0.04 0.05 0.04 0.03 0.04 0.03 0.04 0.03
MgO 0.79 0.64 0.51 0.32 0.26 0.32 0.4 0.4 0.18
CaO 1.99 1.67 1.54 1.18 1.04 0.86 1.2 0.96 0.76
Na2O 3.68 3.47 3.54 3.52 3.45 3.45 3.55 3.74 3.63
K2O 4.41 4.30 4.47 4.52 4.47 4.67 4.61 4.8 4.71
TiO2 0.39 0.34 0.31 0.19 0.15 0.17 0.21 0.14 0.13
P2O5 0.12 0.11 0.14 0.07 0.07 0.07 0.08 0 0.04
P.F. 0.62 1.18 0.61 1.12 0.85 1.15 0.67 0.78 0.65
Total 100.37 99.80 98.98 99.29 99.82 99.50 99.84 99.8 99.81
Ba 330 267 362 295 277 289 238 160 99
Rb 233 263 251 237 237 254 254 302 294
Sr 69.0 86.4 113.0 70.4 65.6 70.5 61.0 13.0 29.0
Quartzo Plagioclase Feldspato K Biotite Moscovite
Gers 32.3 37.8 32.2 35.7 23.2 27.7 3.1 5.9 0.3 1.4
Paufito 29.0 35.6 32.4 37.1 22.6 26.3 4.6 7.9 0.5 5.0
Illa 30.4 34.8 29.5 35.7 23.7 26.9 3.2 5.5 3.6 7.1
Carris 31.2 31.5 34.7 36.6 22.0 27.5 4.8 5.8 0.7 3.8
Calvos 30.1 32.3 27.9 33.9 20.1 27.5 4.9 9.1 4.5 6.5
Covas 33.9 34.3 34.5 34.7 23.4 23.6 3.2 5.3 2.2 4.4
Captulo I: Introduo
Amazonites de Valena Norte de Portugal 22
Tabela 6: Composio qumica mdia dos granitos do macio de Peneda-Gers em elementos maiores,
menores (%) e vestigiais (ppm). Fe 2O 3 total= Fe total sob a forma de Fe 2O3 .. N=n de amostras. Retirada
de Mendes (2001).
Assim, das caractersticas petrolgicas destaca-se um enriquecimento em feldspato K,
plagioclase e biotite. Quanto composio qumica, realam-se os elevados teores em SiO2, Al2O3
e Fe2O3.
No que respeita mineroqumica, os macios granticos tardi a ps D3 de Vila Pouca de
Aguiar e de Peneda-Gers evidenciam algumas particularidades. So peraluminosos e tal
demonstrado no diagrama qumico-mineralgico A-B de Debon & Le Fort (1983; 1988), in
Martins (1998) e Mendes (2001), no qual A=(Al-K-Na-2Ca) e projetado no eixo das abcissas, e
B=(Fe+Mg+Ti), projetado no eixo das ordenadas. So sub-alcalinos e esta filiao verificada no
diagrama X-Or*-MM de La Roche et al. (1980), in Martins (1998) e Mendes (2001), no qual a
varivel multicatinica X (abcissas) resulta da projeo da composio da rocha, no tringulo
quartzo-ortoclase-plagioclase e a varivel Or*-MM (ordenadas) exibe a oscilao entre minerais
aluminosos e ferromagnesianos. A sub-alcalinidade tambm constatada no diagrama tipolgico
Mg vs Al total de Nachit et al. (1985), in Martins (1998) e Mendes (2001), que tem por base na
composio das biotites, e no diagrama de Pupin (1980, 1988), in Martins (1998) e Mendes
(2001), que se baseia na tendncia de evoluo tipolgica e os pontos mdios dos ndices A e T,
relativamente morfologia dos zirces. So ps-colisionais e esta classificao fundamentada
pelo diagrama Hf Rb/30 3Ta de Harris et al. (1986), in Martins (1998), e pelo diagrama
Rb/100 Y/44 Nb/16 de Thieblemont & Cabanis (1990), in Martins (1998).
Gers n=18
Paufito n=11
Illa n=8
Carris n=6
Calvos n=8
Covas n=3
SiO2 74.68 72.62 73.91 73.19 72.48 75.79
Al2O3 12.80 13.98 13.75 13.85 13.41 12.91
Fe2O3 (total) 2.10 2.12 1.68 1.88 1.92 1.29
MnO 0.03 0.03 0.03 0.04 0.03 0.04
MgO 0.26 0.42 0.25 0.32 0.41 0.12
CaO 0.97 1.36 0.80 1.18 0.91 0.49
Na2O 3.49 3.45 3.41 3.53 3.36 3.82
K2O 4.56 4.62 4.78 4.57 4.87 4.35
TiO2 0.18 0.22 0.13 0.18 0.27 0.11
P2O5 0.06 0.09 0.08 0.05 0.23 0.10
P.F. 0.67 0.83 0.90 0.99 1.12 0.59
Total 99.81 99.75 99.71 99.78 99.89 99.61
Ba 171 495 310 557 312 40
Rb 290 242 266 291 289 414
Sr 42 111 68 93 68 12
Captulo I: Introduo
Amazonites de Valena Norte de Portugal 23
Pelas dataes de U-Pb e Rb-Sr, a idade obtida para o macio de Vila Pouca de Aguiar de
2993Ma e para o macio de Peneda-Gers situa-se no intervalo 290-296Ma. Assim, infere-se
que a idade dos granitos em estudo esteja compreendida neste intervalo.
I.5.2 Modelos concetuais de implantao granito/pegmatito
De uma forma geral, a implantao de granito/pegmatito tem sido objeto de estudo por parte
de vrios autores: Brisbin, (1986), Brun & Pons, (1981), Brun, (1981; 1983), Phillips, (1972;
1974) e Roberts, (1970).
Guimares (2012) rev estas generalizaes e modelos conceptuais e aplica-os, tambm, ao
contexto ps-tectnico, tendo em conta as relaes geomtricas, e cinemtica e campos de
tenses que atuaram e influenciaram as geometrias dos corpos, bem como as relaes
granito/pegmatito.
Um dos modelos concetuais, aquele que indicia a mistura magmtica corredores de mixing-
mingling - tem por base as relaes de mistura de magmas granticos de fuso crustal total ou
parcial que, por sua vez, estaria auxiliada, parcialmente, pelo calor emanado dos diferenciados
bsicos que se encontram em ascenso. Durante esta ascenso, os magmas, provavelmente,
hibridizaram em percentagens variveis com os fundentes neoformados, diferenciando-se em
seguida. Deste modo, segundo Sparks & Marshall (1986), in Guimares (2012), a hibridizao
s fica completa quando os dois magmas se comportam como um lquido antes do equilbrio
trmico. Caso contrrio, a hibridizao incompleta e os magmas expem algumas
diversidades, nomeadamente, bandado composicional e gradacional, incluses mficas,
encraves homoegenos granulares e xenlitos de provenincia incerta. De acordo com Zorpi et
al. (1989), in Guimares (2012), a transposio potencial dos constituintes higromagmfilos
ocorre do magma mais bsico para o magma mais cido e pode ser um resultado de
mecanismos do processo mixing-mingling. Isto levou Leal Gomes & Nunes (2003) a concluir que
estes mecanismos promovem o enriquecimento em volteis e potenciam a formao de
pegmatides.
Captulo I: Introduo
Amazonites de Valena Norte de Portugal 24
O modelo de ballooning, proposto por Ramsay (1981), in Guimares (2012), para o batlito
de Chindamora em frica, pressupe que os diapiros no-penetrantes, aquando a suspenso da
sua ascenso, devido ao esgotamento da capacidade trmica para aumentar a fluidez nos meios
encaixantes, faziam com que o material ainda fluido das pores inferiores fosse impulsionado
no sentido ascendente, num processo de auto-intruso, dado ainda possurem flutuabilidade
trmica e mecnica nestas pores. Esta mobilizao contnua e policclica de material quente
(magma de composio mais cida) para o ncleo dos diapiros, aliada ao facto dos plutonitos
no se poderem mover verticalmente, daria origem ao esgotamento de flutuabilidade que, por
sua vez, provocaria uma expanso radial (Guimares, 2012).
Relativamente ao modelo de degassing (Bubbling), em magmas silicatados, este corresponde
a uma libertao de bolhas de fases fluidas de composio e densidade variveis. Consoante a
cristalizao do magma, estas bolhas podem desenvolver-se e dar origem a cavidades abertas
(futuros mirolos), que mais tarde so preenchidas com cristais de minerais tardios e
hidrotermais. Estes mirolos ocorrem em grande concentrao nas rochas vulcnicas e a sua
ocorrncia explicada pela significativa descompresso dos respetivos magmas silicatados
parentais. Nas rochas bsicas e intermdias a ocorrncia de mirolos diminuta, uma vez que,
a baixa solubilidade dos constituintes volteis, em magmas silicatados destas rochas, e a baixa
viscosidade, permitem uma remoo fugaz das bolhas do fluido. A existncia ou no de mirolos
depende do facto dos magmas silicatados cidos serem mais viscosos do que os bsicos e
intermdios e por terem temperaturas de liquidus e solidus mais baixas. por esta razo que se
verifica a ocorrncia de mirolos com mineralizao em granitos e pegmatitos granticos
(Peretyazhko, 2009, citado em Peretyazhko, 2010, in Guimares, 2012). Importa referir que os
pegmatitos em estudo pertencem a esta filiao.
No que respeita ao modelo de delaminao, este, na litosfera continental, atua na
descompresso ascensional dos magmas. Tal verifica-se quer ao nvel do preenchimento de
volumes de acolhimento apicais face s cmaras magmticas, quer na compensao gravitica,
que s se constata quando ocorre alguma rutura no manto litosfrico e a astenosfera entra em
contacto com a crosta, dado que esta muito menos densa que a litosfera e a astenosfera
subjacente. Em regime colisional, como o do presente estudo, este fenmeno pode difundir-se
ascensionalmente, at nveis de intruso apical de granitides, localizados na interface com
complexos metamrficos, em contextos orognicos multifsicos. Neste contexto, os equilbrios
gravticos e mecnicos podem manifestar-se na proporo das sinuosidades das cpulas
Captulo I: Introduo
Amazonites de Valena Norte de Portugal 25
granticas, dando origem a geometrias ascensionais diversificadas que abarcam a implantao
de diferenciados granticos residuais, potencialmente pegmatticos. Estas geometrias ocorrem
quer por regime de relaxao, quer por regime de dilatao (Bird, 1979 e Gerbi, 2002 in
Guimares, 2012).
Por ltimo, o modelo concetual de magmatic stoping tem sido alvo de vrios estudos com
atribuio a diferentes definies, desde Daly (1903), in Guimares (2012), estabeleceu-se o
modelo magmatic stoping associado a um processo de colocao ou intruso magmtica no
qual esto envolvidos o deslocamento e incorporao de pores da rocha encaixante, sendo
que o material agregado afunda e/ou absorvido no magma em ascenso. Mais recentemente,
Zk et al. (2006), in Guimares (2012), esto em conformidade com Daily (1903), atribuindo a
formao de plutes em arcos magmticos e cinturas orognicas a um extenso processo de
magmatic stoping. No entanto, segundo Coleman et al. (2004); Glazner & Bartley (2005) e
Glazner et al. (2004) in Guimares (2012), este processo no vivel como mecanismo de
intruso de plutonitos, devendo essa intruso proceder-se a partir de vrios diques conjugados,
ainda no estado mvel, que posteriormente arrefeciam abaixo da temperatura solidus. Quando
aplicado instalao de pegmatitos, este modelo de implantao importante na medida em
que: 1) pode atuar na vertical, facilitando a permuta de material magmtico durante a subida
(Paterson & Fowler, 1993; Paterson & Vernon, 1995; Paterson et al.,1991; Yoshinobu et al.,
2003a, b in Guimares, 2012); 2) pode ser utilizado para averiguar os modelos de construo
de cmaras (Clemens, 1998, 2005; Clemens & Mawer, 1992; Glazner et al., 2004; Petford et
al., 1994, 2000 in Guimares, 2012); 3) permite esclarecer a troca vertical de calor e massa no
interior da crosta, em sistemas verticalmente extensivos de canalizao do magma (Paterson et
al., 1996 in Guimares, 2012); 4) ajuda a compreender a contaminao qumica dos magmas
durante a sua ascenso e colocao (Barners et al., 2004; Clarke et al.,1998 in Guimares,
2012); 5) esto-lhe associados os processos de stopped-blocks e roof-pendentes, que so
utilizados para compreender como os fabrics magmticos se formaram e evoluram (Fowler &
Paterson, 1997; Paterson & Miller, 1998 in Guimares, 2012), sendo a presena de stopped-
blocks uma referncia h existncia de magmatic stoping (Zk et al., 2006 in Guimares, 2012).
Captulo I: Introduo
Amazonites de Valena Norte de Portugal 26
I.6 - Potencial de gerao de pegmatitos por parte dos magmas
parentais dos granitos ps-tectnicos favorabilidade
geoqumica para a amazonitizao
A grande diversidade de pegmatitos existentes em Portugal, especialmente na ZCI, deve-se
instalao dos granitos sin e tardi a ps-tectnicos na orogenia Varisca, uma vez que, segundo
Leal Gomes & Nunes (2003), so o resultado da especializao metalogentica dos granitos
parentais, da fraccionao dos magmas desses mesmos granitos e das condies metamrficas
e deformacionais dos ambientes de instalao dos respetivos diferenciados. Esta grande
diversidade corresponde Cintura Pegmattica Centro-Ibrica (Guimares, 2012; Leal Gomes &
Nunes, 2003).
As peculiaridades evidenciadas pelos granitos ps-tectnicos, nomeadamente a sub-
alcalinidade e a peraluminosidade, e o facto de estes serem granitos ps-colisionais, indiciam
que estes resultaram da fuso parcial de materiais infracrustais ou originrios do manto
superior, com posterior hibridizao do magma resultante (magma mantlico). A presena de
encraves microgranulares de natureza tonaltica e granodiortica, que propem uma fonte
mantlica ou basicrustal, fundamenta este pressuposto de origem mista crusta-manto. De notar
que, os encraves microgranulares mficos esto, normalmente, relacionados com os granitides
sub-alcalinos, e so admitidos como o resultado de complexos mecanismos de hibridizao que
ocorrem entre magmas flsicos e mficos simultneos (Martins, 1998; Mendes, 2001). Deste
modo, associam-se ao modelo concetual mixing-mingling.
Igualmente associado a este modelo, e como j mencionado, encontra-se a troca de
constituintes higromagmfilos do magma mais bsico para o magma mais cido (Zorpi et al.
1989, in Guimares, 2012), tornando este mais enriquecido em volteis, e aumentando a sua
eficcia para formar pegmatitos (Leal Gomes & Nunes, 2003). O magma cido possui maior
viscosidade e menor temperatura liquidus e solidus quando comparado com o magma bsico.
Devido a estas diferenas, aquando a ascenso, formaram-se bolhas de fases fluidas, que ao
soltarem-se, desenvolveram-se, e deram origem a cavidades abertas, denominadas de cavidades
miarolticas (Peretyazhko, 2009, citado em Peretyazhko, 2010, in Guimares, 2012). Assim, os
pegmatitos gerados por magmas cidos, geralmente, possuem estas cavidades e so
Captulo I: Introduo
Amazonites de Valena Norte de Portugal 27
denominados por pegmatitos miarolticos. Os pegmatitos em estudo, no so exceo, e ao
longo deles so visveis vrias cavidades miarolticas.
De acordo com ern (1991) os pegmatitos miarolticos pertencem filiao NYF (tabela 7).
O aparecimento de alanite e esfena, como minerais acessrios do granito parental sub-alcalino e
portadores de elementos terras raras, sustentam este facto. A presena de elementos menores
tpicos de cada filiao propcia, parcialmente, a ocorrncia de minerais que, no sendo
tipomrficos dessa classificao, so mais favorveis.
Tabela 7: Classificao pegmatitos miarolticos NYF. Adaptada de ern (1991)
I.7 - Anlise geomtrica e cartografia dos campos de pegmatitos
amazonticos
A cinemtica de implantao de corpos pegmatticos intra-granticos ajusta-se a uma
mobilizao magmtica do tipo ballooning e as geometrias resultantes desta instalao so
bolsadas irregulares a isodiamtricas (Leal Gomes e Nunes, 2003). De acordo com os mesmos
autores, estas bolsadas foram determinadas com base na observao e anlise geomtrica de
frentes de desmonte de quartzo e feldspato, sendo o tamanho final das bolsadas dependente do
ritmo dimensional das unidades de estruturao litolgica das cpulas granticas. A sua
distribuio est relacionada com a proximidade ou incluso em corredores de mistura
magmtica (mixing/mingling). Leal Gomes (1995) afirma que as bolsadas so o produto da
cristalizao in situ de diferenciados granticos residuais com magma e fluido, mais ou menos
Classe Famlia
Elementos menores
tpicos e
mineralizao
Ambiente
Metamrfico
Relao
com os
granitos
Caractersticas
Estruturais Exemplos
Miarolticos NYF
Be, Y, REE, Ti, U,
Th, Zr, Nb>Ta, F;
mineralizao
pobre; gemstock
Superficial a
sub-vulcnico;
~1-2kb
Intra
Bolsas/vesculas
interiores e diques
transversais
Pikes Peak (Colorado);
Idaho (NW USA);
Korosten pluton
(Ucrnia)
Captulo I: Introduo
Amazonites de Valena Norte de Portugal 28
imiscibilizados, mas com propriedades fsicas prximas das que prevalecem no granito
hospedeiro. Os pegmatitos em estudo apresentam este tipo de geometria - figura 9.
Segundo Guimares & Leal Gomes (2010) e Guimares (2012) possvel deduzir a altura de
instalao de bolsadas na cmara magmtica atravs da anlise cinemtica da formao e
evoluo dos dispositivos morfolgicos, pois esta decorre das diferenas existentes entre a
viscosidade e densidade do magma grantico hospedeiro e dos compsitos (magma + fluido +
cristais) pegmatticos. Ainda, de acordo com os mesmos autores, os dispositivos funcionais
podem propor uma posio definida de implantao na coluna magmtica, desde que sejam
repetveis e reprodutveis.
Na figura 10 apresentam-se exemplos desses dispositivos e algumas interpretaes acerca
da ascenso magmtica que eles sugerem, e indiretamente, a sua utilidade funcional para a
definio de nveis de implantao nas cpulas granticas.
As etapas 1, 2, 3 e 4 so iniciais na evoluo cinemtica (ascenso) e a elas atribuem-se as
formas de bolsadas menos evoludas e que representam morfologias de ascenso nas cpulas
plutnicas hospedeiras. Nestes estdios iniciais a mobilidade dos diferenciados pegmatticos
menor em consequncia de uma maior viscosidade e taxa de cristalizao da massa grantica
envolvente e do espao dilatacional disponvel, que desempenham um efeito de barragem
ascenso destes diferenciados (Leal Gomes & Nunes, 2003). Deste modo, os diferenciados, na
sua ascenso, ao contornarem a barreira da cpula grantica do origem a formas como as
Figura 9: Bolsadas irregulares a isodiamtricas observadas no campo
pegmattico em estudo, sector de Felgueiras
Captulo I: Introduo
Amazonites de Valena Norte de Portugal 29
apresentadas na figura 10 (nmeros 4 e 5) que ao nvel paragentico correspondem s formas
mais evoludas. Isto permite supor que os seus diferenciados originais seriam bastante ricos em
fluidos que poderiam estar imiscibilizados (Guimares, 2012).
No incio da ascenso pegmattica (etapa 1 da figura 10), o fluido pegmattico ao romper a
massa grantica encaixante, gerou dispositivos de partida ascensional pegmattica, que
originaram bolsadas pegmatticas embrionrias, do ponto de vista morfolgico. A forma destes
dispositivos depende da taxa de cristalizao do granito encaixante e parental e, ou
hemisfrica, ou piramidal (Guimares, 2012).
Na rea em estudo, mais concretamente em manchas granticas do Gnaisse de Gndara, a
forma identificada piramidal, sendo distinguida nas protuberncias piramidais, as quais
correspondem a conjuntos de junes triplas estabelecidas por prismao incipiente, em regime
dctil-frgil. Estas protuberncias encontram-se acima de uma faixa apltica horizontal,
consequente dos processos de delaminao e magmatic stopping e organizada em painis de
nucleao acoplada. Estes painis so representados como fluidalidades planares sub-
horizontais, assinaladas pelos feldspatos e biotites ilustradas em Guimares (2012), tal com na
figura 11.
Figura 10: Dispositivos morfolgicos de evoluo resultantes da cinemtica de implantao.
Adaptado de Leal Gomes & Lopes Nunes (2003).
Captulo I: Introduo
Amazonites de Valena Norte de Portugal 30
2 etapa de ascenso pegmattica (Figura 10) corresponde o dispositivo bolha pegmattica
ou pegmatito esfrico. Esta forma-se devido diferena de viscosidade entre o magma grantico
e o magma pegmattico, desprendendo-se e ascendendo, em forma quase esfrica, por entre a
poro perifrica do batlito (Guimares, 2012).
A ttulo de exemplo, na rea em estudo, concretamente no setor de Felgueiras, observou-se o
dispositivo ilustrado na figura 12 que corresponde a um pegmatito esfrico com um pequeno
grau de evoluo. Neste a amazonite surge na parte interna da bolha e esta, como se ver no
prximo captulo, forma-se num processo tardio.
Na figura 13 apresenta-se uma cartografia referente rea em estudo o Campo Pegmattico
de Alto dos Teares Taio Felgueiras. Destacam-se as manchas granticas referentes ao
Figura 11: Protuberncias piramidais ascendentes no seio de um granito porfiroide essencialmente
biottico, ps-tectnico Granito de Mono observadas no Campo Pegmattico de Alto dos Teares -
Taio-Felgueiras. Retirada de Guimares (2012).
Figura 12: Bolha pegmattica observada no Campo
Pegmattico, setor de Felgueiras
1cm
Captulo I: Introduo
Amazonites de Valena Norte de Portugal 31
granito de Felgueiras e ao gnaisse de Taio, os pegmatitos hiperaluminosos nas proximidades do
gnaisse de Taio e as ocorrncias de pegmatitos amazonticos, tanto na mancha grantica de
Felgueiras, como na mancha grantica de Altos dos Teares-Taio.
Figura 13: Cartografia do Campo Pegmattico de Alto dos Teares Taio Felgueiras
Captulo I: Introduo
Amazonites de Valena Norte de Portugal 32
I.8 - Amostragem de feldspatos amazonticos
A colheita dos feldspatos amazonticos foi realizada em trs conjuntos de pegmatitos: Alto
dos Teares, Taio e Felgueiras (Figura 14), sendo este ltimo uma descoberta recente no que diz
respeito ao aparecimento de amazonite. A amostragem foi efetuada tendo em conta as variaes
cromticas, estruturais e paragenticas que se observam na fase potssica do feldspato.
O nmero de amostras recolhidas em cada pegmatito no foi o mesmo, tendo-se recolhido
maior quantidade nos pegmatitos de Felgueiras (Figura 14), uma vez que, como uma nova
descoberta, no h dados existentes para uma possvel comparao. Neste local surgiram,
igualmente, amazonites de cor verde muito mais intensa do que tinha sido observado at ento.
Nos pegmatitos de Alto dos Teares (Figura 14) as amostras foram recolhidas:
1) nos granitos biotticos de gro grosseiro e de gro fino,
2) no aplito pegmatito amazontico e enrubescido,
3) no pegmatito-grfico,
4) nas cavidades miarolticas e
5) ao longo de pequenas bolsadas.
Relativamente aos pegmatitos de Taio (Figura 14), as amostras foram colhidas:
1) no granito de duas micas, peraluminoso com silimanite (migmatito),
2) no filo com amazonite pertencente a um migmatito mais escuro,
3) no migmatito com porfiroblasto com restitos micceos e
4) na zona de bordadura de arrefecimento rpido que corresponde a uma fcies
aplitca do tipo chillen margin miaroltica.
5) aplito pegmatito amazontico.
Nos pegmatitos de Felgueiras (Figura 14), a amostragem foi realizada ao longo de uma vala
onde se demarcaram zonas chave para a colheita de feldspatos, nomeadamente:
1) na zona de transio gradual entre o granito biottico, de gro grosseiro a
mdio e o conglomerado de vertente subalcalino, onde so visveis files de
quartzo com microclina rsea (enrubescida),
2) no pegmatito miaroltico de pequenas dimenses com quartzo, amazonite e
microclina rsea de direo (N142/78E),
3) na falha com vrias ruturas venulares,
Captulo I: Introduo
Amazonites de Valena Norte de Portugal 33
4) no contacto entre o aplito pegmatito grfico e o granito biottico, de gro
grosseiro a mdio,
5) na falha de orientao N57/90,
6) no contacto gradual entre granito biottico, de gro grosseiro a mdio e o
granito de duas micas, peraluminoso,
7) no filo subhorizontal amazontico,
8) no pegmatito miaroltico subhorizontal,
9) no filo de quartzo fumado com amazonite incrustada no quartzo que
preenche o ncleo,
10) no pegmatito diferenciado in situ em granito de transio com feldspato
potssico no amazontico,
11) no pegmatito micceo no amazontico com abundante silimanite em zonas
distensivas de cisalhamento no migmatito, onde a diferenciao ocorre em
pinch and swell com pertites e
12) no pegmatito com amazonite grfica e biotite.
Uma amostra de migmatito foi ainda colhida no migmatito de Pites das Jnias
Montalegre uma vez que a ocorrncia similar s do campo pegmattico em estudo. A rocha
parental desta ocorrncia pertence ao Granito do Gers, e como supracitado, tm idades de
instalao concomitantes com o Granito de Mono, sendo a filiao a mesma.
Figura 14: Amostragem dos pegmatitos em estudo, nos trs setores discriminados
Captulo I: Introduo
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I.9 - Mtodos de anlise: qumica e difractomtrica
Os protocolos analticos utilizados no estudo das amostras recolhidas enumeram-se de
seguida:
Separao macroscpica e separao de fases minerais em Lupa Binocular para a
separao dos minerais em amostra de mo recorreu-se Lupa Binocular Leica Zoom 2000
Z45V, do Departamento Cincias da Terra (Uminho).
Difractometria de Raiox X (DRX) os difractogramas de RX permitiram a identificao de
minerais desconhecidos. Para ser possvel essa identificao, utilizou-se a anlise sobre ps, em
suporte de alumnio, no difractmetro PHILIPS-PW1710, com ampola de Cu e monocromador de
grafite, sob radiao K de 40kV e 30mA, do Departamento Cincias da Terra (Uminho). O
tempo de obteno de dados variou consoante a quantidade e a natureza da amostra.
Microscpio tico de Luz Transmitida (MOLT) a anlise em MOLT incidiu,
essencialmente, no estudo da diversidade petrogrfica perttica. O equipamento utilizado foi o
microscpio petrogrfico Nikon Model Eclipse E400 POL, do Departamento Cincias da Terra
(Uminho).
Microscpio tico de Luz Refletida (MOLR) a anlise em MOLR permitiu uma
preparao para a anlise em MEV e MSE, uma vez que, primeiramente pode-se fazer uma
caracterizao mineralgica e, posteriormente ver se o polimento das superfcies era o adequado
para anlises futuras. O equipamento utilizado foi o microscpio petrogrfico Nikon Model
Eclipse E400 POL, do Departamento Cincias da Terra (Uminho).
Microscpio eletrnico de varrimento - (MEV) as anlises em microscopia eletrnica
foram realizadas com o equipamento Jeol JSM 6010LV Scanning Electron Microscope, na
sede de anlise do Grupo de Investigao 3B's - Biomateriais, Biodegradveis e Biomimticos,
em Taipas Guimares. As anlises foram efetuadas em contraste de fase em eletres
secundrios (MEV-ES) e as imagens de contraste foram obtidas em eletres retrodifundidos
(MEV-ER).
Captulo I: Introduo
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Microssonda eletrnica (MSE) as anlises qumicas pontuais foram realizadas com o
equipamento Hyperprobe JEOL JXA-8500F no LNEG, em S. Mamede Infesta Porto. Esta sonda
est equipada com 5 espectrmetros por disperso de comprimento de onda (WDS), 1
espectrmetro por disperso de energia (EDS) e detetores de eletres secundrios (SE) e
retrodifundidos (EBS). As superfcies polidas foram revestidas a carbono.
Captulo III: Estado estrutural e mineroqumica das amazonites
Captulo III: Estado estrutural e mineroqumica das amazonites
Captulo II:
ESTRUTURA E PARAGNESE DE PEGMATITOS AMAZONTICOS
E ROCHAS ENCAIXANTES
Um dos segredos da vida fazer degraus com as pedras em que tropeamos.
Jack Penn
Captulo III: Estado estrutural e mineroqumica das amazonites
Captulo II: Estrutura e paragnese de pegmatitos amazonticos e rochas encaixantes
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Segundo Brisbin (1986), os corpos pegmatticos so caracterizados tendo em conta o
tamanho, forma, ori