Post on 14-Mar-2016
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Jornal Regional da Zona Leste de São Paulo
www.redebrasilatual.com.br Zona leste
nº 3 Novembro de 2010
pombas urbanas
As incríveis histórias de quem se forma no Teatro Ventre de Lona
Pág. 3
cultura
lazer
Futebol argentino invade o Brasil atrás de jovens craques
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boca juniors
imigração jaPonesa
Os (últimos) resquícios de vida caipira em Itaquera
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agonia diáriaA malfadada rotina de dois milhões de pessoas que viajam nos trens paulistanos
transPorte de massa
distribuiçãogratuita
eleições
a presidenta
País elege Dilma, a candidata do presidente Lula
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acordar com os Pássaros e dormir com as galinhas
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expediente rede brasil atual – Zona lesteeditora gráfica atitude ltda. – diretor de redação Paulo Salvador editor João de Barros redação Marina Amaral, Suzana Vier e Leonardo Brito (estagiário) revisão Malu Simões diagramação Leandro Simantelefone (11) 3241-0008 tiragem: 15 mil exemplares distribuição gratuita
As mensagens podem ser enviadas para jornalba@redebrasilatual.com.br ou para Rua São Bento, 365, 19º andar, Centro, São Paulo, SP, CEP 01011-100. As cartas devem vir acompanhadas de nome completo, telefone, endereço e e-mail para contato.
vale o que vier
O povo da Zona Leste passa sufoco todos os dias quando em-barca nos trens da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos. A situação chegou ao ponto de as autoridades virem a público dizer que a vida dos passageiros “piora toda vez que (o transporte) me-lhora”. Era o que faltava a gente ouvir sobre a crônica incompetên-cia do transporte público. Então, o melhor é não melhorar, senhor governador, porque, caso melhore, o número de passageiros trans-portados aumentará e voltaremos à mesma joça, a mesma joça, ali-ás, retratada na reportagem das páginas centrais desta edição.
Mas o legal é que a gente faz acontecer no Centro Cultural Arte em Construção. O pessoal cada vez mais canta, dança, lê, ensaia peças, enfim, ocupa um espaço seu e que sonha ter asas para, en-fim, poder voar. Uma agitação que contrasta com nossos últimos japoneses, os imigrantes que moram há 70 anos num pedaço de pa-raíso, na hoje movimentada avenida Jacu Pêssego, retratada na pá-gina aí ao lado. No mais é desejar sorte à presidente eleita do Brasil – eleita, aliás, com folga na Zona Leste –, lamentar o aumento dos ônibus previsto para o próximo mês e torcer para que as chuvas que vêm por aí não tragam cheias para o Jardim Pantanal. Axé.
busão pode ir a r$ 2,90
eleições
dilma, a primeira presidenteEla bateu José Serra por mais de 12 milhões de votos
Dilma Vana Rousseff, uma mineira filha de pai búlgaro, que construiu sua carreira política no Rio Grande do Sul, 63 anos de idade, candidata do presi-dente Luiz Ignácio Lula da Sil-va e da coligação liderada pelo PT-PMDB, foi eleita, em 31 de outubro, presidente do Bra-sil. Ela teve 55.752.529 votos (56,05%); seu oponente, José Serra, da coligação encabeça-da pelo PSDB-DEM, obteve 43.711.388 (43,95%). Primeira mulher a ocupar o cargo, Dilma venceu na maioria dos Estados da Federação.
No Estado de São Paulo, a vi-tória foi de José Serra, por 54% a 45%. Na cidade de São Paulo, a vitória também foi de Serra, 54% a 46%. Na Zona Leste, porém, nas 21 zonas eleitorais, o placar foi outro: 57,14% para Dilma, 42,85% para Serra.
Partido da imPrensa GolPistaPiG
moóca
dilma
28% 72%
serra
Penha
35% 65%itaquera
55% 45%cidade tiradentes
72% 28%guaianazes
68% 32%
Como votou a Zona Leste(porcentagem)
31% 69%
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O prefeito Gilberto Kassab anunciou novo aumento da tarifa de ônibus, de R$ 2,70 para R$ 2,90, ainda este ano. O aumento de 7,4% será o segundo do ano – o preço subiu 17,4%, de R$ 2,30 para R$ 2,70, em janeiro. O rea-juste de 26,08% no ano é muito
maior do que a inflação de 2010, prevista em 5%. O prefeito disse que a decisão em relação às tari-fas é sempre tomada no final do ano pela Secretaria Municipal dos Transportes. Disse ainda que o novo valor é somente uma pro-jeção do orçamento.
o fantasma das enchentes
Um dique de 1.700 m de extensão, 3 m de altura e 14 m de largura começou a ser cons-truído em abril, ao custo de R$ 31 milhões – o sistema com-pleto custará R$ 75 milhões. Sua tarefa principal será a de impedir o avanço das águas
do rio Tietê. Também será cons-truído um piscinão capaz de ar-mazenar 35 milhões de litros de água. O governo desapropriou os imóveis e terrenos particula-res localizados na várzea do rio. A área vai virar parque. Kassab contratou a empreiteira Queiroz
Galvão, sem licitação, por R$ 70,5 milhões – maior valor pago para um contrato emer-gencial – para as obras no Jar-dim Romano. Esse valor cobre ainda o pagamento de aluguéis sociais de R$ 300 mensais para 3.753 famílias cadastradas.
Como a região aguarda o próximo período das cheias
transPorte
jardim Pantanal
editorial
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cultura
no palco, a arte de rua para ver, viver, encenar e criar
o pessoal do extremo da zona leste aprende a voar
O galpão de 1.600 m², rodeado por uma pracinha, virou point de Cidade Tiradentes, a 35 km do Centro Na Avenida dos Metalúrgi-
cos, 2100, fica o teatro, famo-so pelos espetáculos de fim de semana – peças para crianças e adultos, circo, dança, música, mostra de cinema e até campeo-nato de videogame. Durante o 3º Encontro Comunitário de Teatro Jovem, em setembro, a movi-mentação foi além, com o vai-vém de atores de outras regiões brasileiras e de países vizinhos, acrescentando cores e sotaques à paisagem uniforme dos prédios da Cohab e do CDHU, que abri-gam 40 mil apartamentos prati-camente iguais, onde moram 220 mil pessoas, no maior conjunto habitacional da América Latina.
O Centro Cultural Arte em Construção, além do Teatro Ventre de Lona, abriga sala de aula, ateliê, biblioteca e tele-
Quem aprende, ensina. Eis um dos princípios do Ins-tituto Pombas Urbanas, que administra o Centro Cultu-ral Arte em Construção, que atrai 22 mil interessados nos espetáculos, eventos e cursos de teatro – ministrados por integrantes do Pombas e do Filhos da Dita –, de circo, dança de rua, flamenco, vio-lão, contação de histórias, figurino, trabalhos manuais. Das crianças aos idosos, há atividade para todos. Na bi-blioteca, de 8 mil volumes, adolescentes fazem traba-lhos de escola. Na gibiteca, Helena, 4 anos, pede ajuda a
Larissa, de 8, para ler a histó-ria da Moranguinho, enquanto a mãe participa de uma oficina de figurino de maracatu. No picadeiro, o grupo de contação de histórias, os Fuxiqueiros, formado por jovens que usam técnicas teatrais para incentivar as crianças a ler, faz laboratório dentro do teatro.
Em outro espaço, ao lado do picadeiro, um grupo de dez senhoras faz trabalhos manuais, lideradas por Néia, dona de casa que há quatro anos é voluntária. “Conheci o Pombas quando um deles foi à minha casa – eles es-tavam procurando talentos es-condidos para uma reportagem
no fanzine deles” – conta Néia, observada por Alzira, 80 anos, que faz uma delicada peça de crochê. “Eles publicaram uma poesia minha e vim conhecer o espaço: me descobri! Final-mente apareceu a mulher que estava atrás do fogão” – diz a monitora de trabalhos manuais para a terceira idade.
Um bando de crianças corre para a sala de aula: vai começar o aquecimento para as aulas de circo. Cássio Santos, 18 anos, aluno do 3º ano do Ensino Médio de um colégio da vizi-nhança, é professor da garota-da: “Cheguei há três anos, sem perspectiva de vida, a escola
daquele jeito. Aí, recebi um panfleto e vim conhecer o pré-dio. Foi mágico, ganhei asas” – resume, abrindo o sorriso. Seu depoimento ganha substância quando o olhar das criancas segue o mestre, e o que se vê
é ele pendurado no teto, en-saiando o tecido acrobático, sua especialidade: a comu-nidade da cidade-dormitório construída às pressas no ex-tremo leste da cidade está aprendendo a voar.
centro. Os trajes dos atores se-cam ao sol enquanto o Pombas Urbanas ensaia no picadeiro, de pé direito alto, o espetáculo Histórias para serem Conta-das, que será apresentado no XX Encontro Comunitário de Teatro Jovem em Medellín,
evento da rede latino-america-na de teatro de rua – o grupo nasceu em 1989 do encontro do diretor peruano Lino Rojas com jovens que mal sabiam o que significava a palavra tea-tro, em São Miguel Paulista.
Dezenas de prêmios depois
e inúmeras viagens pelo Brasil e pela América Latina, o Pombas Urbanas voltou às origens, à peri-feria: em 2003, o grupo emplacou o projeto de iniciar um processo parecido com o de sua formação. Na Cidade Tiradentes, eles con-seguiram um prédio – o esqueleto
de um supermercado abandonado depois de saqueado, incendiado e usado por usuários de drogas, prostitutas, marginais – de onde retiraram cinco toneladas de en-tulho. As primeiras turmas de tea-tro foram abertas em 2004 – a luz elétrica só viria no ano seguinte, quando Lino Rojas já falecera. Em compensação, o Pombas dava cria: em 2005, dez jovens fundaram o núcleo teatral Filhos da Dita, que estreou três anos de-pois Os Tronconenses (montado pelo Pombas Urbanas em 1990) no palco do Ventre de Lona. A viagem de ambos os grupos para a Colômbia fecha o ciclo. “Valeu a pena. Do retorno à periferia bro-tou um novo começo” – diz Mar-celo Palmares, 39 anos, fundador do Pombas Urbanas e um dos mestres da turma “caçula”.
voar, voar, subir, subir: vitória de todos
cotidiano no centro cultural arte em construção: oficinas para todas as idades
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a aventura de andar num trem urbano de são PauloA plataforma e os vagões estão cheios; dentro dele, disputa-se um pedaço de chão Por Suzana Vier
Estação de São Miguel Paulista. O motorista Vagner Palazolo, de uns 40 anos, nem se levanta. Apesar do horário, 6h54 da manhã, ele aguardará mais um pouco, na esperança de um trem mais vazio. Ele espera a primeira das três conduções para chegar ao trabalho na Bar-ra Funda, na zona Oeste.
Quem não tem mais tempo, arma sua estratégia para chegar à estação Brás, no centro, onde há integração com o Metrô. “É hora de mirar uma porta e apostar nela para conseguir en-trar” – ensina Palazolo.
Quando o trem para, umas portas abrem, outras não. Lá dentro, meio escuro, as pessoas vão espremidas. Como embar-car? “É duro entrar, mas, se você
entra, não há como se mexer. É uma briga certa com a porta ou com outros usuários” – ensina o motorista. Tem gente que segura as portas. Os passageiros estão estressados. A composição parte.
Dez minutos depois, nova
máquina se aproxima. O moto-rista, experiente, faz o mesmo itinerário há dez anos. Ele decide aguardar outro trem, mas o ho-rário fica apertado. Ele confiden-cia: “o pior do trem em horário de pico é a situação das mulhe-
res. É um encosta-encosta geral. E tem gente que se aproveita dis-so. É constrangedor” – lamenta.
Outra composição chega. Homens e mulheres disputam o trem, caibam ou não no vagão. É como se, nos trens da Compa-
nhia Paulista de Trens Metropo-litanos (CPTM), a lei da física de que dois corpos não ocupam o mesmo espaço fosse abolida.
Lá vai Palazolo com a peque-na bolsa de mão, onde carrega o uniforme da empresa. Não há espaço para entrar. Ainda assim, ele coloca o pé na pequena pas-sarela metálica, que reduz o vão entre os vagões e a plataforma de embarque. O tempo passa, e ele continua com um pé fora da máquina. Uma de suas mãos apoia-se por dentro da porta. De-pois, feito alavanca, ele força seu corpo para dentro. Com o aviso de fechamento da porta, ele se esforça mais um pouco. Um guarda o ajuda a caber no trem. Enfim, a porta se fecha.
Boa viagem!
sardinha em lata“Piora só quando melhora” Sentada, uma morena jo-
vem, cabelos longos, aguarda o trem. Atendente de call-center, Adriana de Oliveira está grávi-da. Quando um novo comboio chega à estação, ela se levanta e escolhe uma porta, mas logo desiste. Meneia a cabeça e vai até o início da plataforma ten-tar achar um espaço para viajar
com mais segurança. Adriana pressente que será pior com o andamento da gravidez. “Aí, realmente, não sei o que fazer, mas terei de enfrentar; tenho de trabalhar” – diz, e constata: “A gente parece sardinha em lata”. Nova tentativa. Dessa vez, sucesso! Lá vai Adriana e milhares de anônimos.
Existem sete linhas da CPTM na Gran-de São Paulo. Apenas a linha 10-Turquesa – Luz-Rio Grande da Serra – apresenta me-nos de seis pessoas transportadas por m², em horários de pico. As demais têm até 8,4 passageiros por m². Segundo a Secretaria dos Transportes Metropolitanos, “quando a malha é ampliada ou o serviço melhora, a demanda atrai novos usuários e o serviço piora” – justifica a secretaria. “Foram 232 mil pessoas a mais por dia nos trens”.
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cPtmbrás – calmon viana12
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Trem sujo da Leopoldina /correndo correndo /parece dizer /tem gente com fome /tem gente com fome /Só nas estações /quando vai parando /lentamente começa a dizer /se tem gente com fome /dá de comer /se tem gente com fome /dá de comer
o trem é como coração de mãe, sempre cabe mais um
em 2010, 232 mil novos passageiros
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mãe e filha, passageiras da mesma aflição A assistente administrativa
Rosivania da Silva viaja senta-da com a filha Larissa, de oito anos, deitada no ombro. Nem todo dia é assim. Conseguir um lugar nos trens da região me-tropolitana de São Paulo não é mole: requer estratégias.
Rosivania, por exemplo, pas-sa três horas diárias nos trens da CPTM. Ela mora em Itaquaque-cetuba, onde há uma estação de trem, mas pega o comboio no sentido inverso para, no ponto final, trocar de máquina e seguir na direção necessária. “Pego o trem em Calmon Viana e vou sentada, senão fica até perigoso para minha filha” – explica.
Larissa já sofreu dois pe-quenos acidentes – levou um empurrão e uma cotovelada. “A lotação é tanta que chega a machucar a menina” – diz a
pior é quando o trem quebra e obriga os usuários a caminha-rem na linha” – desabafa.
Larissa desperta no Brás. Por sorte, ambas viajaram sentadas. Rosivania passou a viagem ouvindo música e acariciando o rosto da filha. A estudante adormeceu e acor-
mãe. No final da tarde, ao vol-tar para casa, a pequena não consegue lugar e vai sentada no chão do trem” – diz Rosi-vania. “Larissa me acompanha desde os dois anos de idade. Antes não tinha com quem dei-xá-la; agora, ela vem estudar em São Paulo” – explica. “O
dou várias vezes no vaivém da máquina nos trilhos. Ainda não chegaram ao destino final.
Neste trem da manhã, não há lugares disponíveis. Larissa im-provisa. Corre para longe da mãe e senta no chão, sorrindo para que perceba onde ela está. “É tris-te ver a filha da gente dormindo
assim, mas ela está acostumada. Não reclama.” Vida difícil.
Larissa abaixa a cabeça e tenta mais uma soneca antes de chegar à Luz, e o dia de trabalho e estudo começar para as duas. Quando chegam, torcem para que o resto do dia seja bom.
ca. Na estação Brás, onde há interligação com o Metrô, ela explica que é preciso ter calma, porque vai enfrentar espera e dificuldade para embarcar. “Só indo lá dentro mesmo para ver” – informa.
Às 7h30, a coisa melhora: uma ou duas pessoas entram pe-
sem tirar o pé do chãoEnquanto espera o trem,
Cleidiane Reis conta que es-tava no metrô no dia em que ele parou – 21 de setembro. E, mesmo diante da comoção que provocou na cidade, seu chefe não compreendeu o atraso. “Ele achou que eu devia ter me esfor-çado para não me atrasar” – diz.
Por isso, ela tem de entrar no próximo trem que passar na es-tação São Miguel. Como será? “Primeiro, a gente aguenta o ar quente. Depois, se você entrar com a mão abaixada, não con-seguirá mais erguê-la, pois não dá pra se mexer. Se tira o pé do chão, não volta mais” – brin-fo
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um mês por ano
De terno, viajando em pé, Antônio Oliveira dor-me ao balanço dos vagões. “Aproveito pra descansar” – resume, sobre as duas horas que fica no trem, no trajeto Itaquera-Moóca. “É todo dia assim, não muda” – afirma. Pesquisa revela: o paulista-no perde um mês por ano em deslocamentos na cidade.
las portas, embora os vagões permaneçam lotados. É preci-so ter força nos braços para se segurar no trem. Por isso, ou-vir música, dormir, ou as duas coisas ao mesmo tempo, é a saída de boa parte dos usuá-rios para suportar a viagem no transporte coletivo.
Trem sujo da Leopoldina /correndo correndo /parece dizer /tem gente com fome /tem gente com fome /Só nas estações /quando vai parando /lentamente começa a dizer /se tem gente com fome /dá de comer /se tem gente com fome /dá de comer
Mas o freio de ar /todo autoritário /manda o trem calar /Psiuuuuuuuuuuu – Poema de Solano Trindade
gente entrando, gente saindo: povo marcado, povo feliz
cleidiane: “vou como dá”
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imigração jaPonesa
a vida caipira resiste ao tempo. Por quanto tempo?
árvores, flores, frutas, pássaros e paz. muita paz
A incomparável saga dos Yoshioka, que moram no mesmo endereço há 70 anos Há quase 70 anos seu Patrí-
cio Yoshioka acorda com o canto dos bem-te-vis que fazem ninho no telhado da casa, sombreada por uma gigantesca shii, árvore de copa frondosa plantada por seu pai, Guichi Yoshioka, que importou a semente do Japão. Nesse terreno de cinco hectares, a seis quilômetros do Metrô de Itaquera, Patrício – ou Yoshio para a família, que só se comu-nicava em japonês por exigência do pai – cresceu ajudando no cultivo de pêssego, goiaba e na criação de galinhas poedeiras.
“As crianças limpavam os ovos e embalavam, às vezes até tarde da noite” – recorda, risonha, dona Rosa, que, como o marido, nasceu, cresceu e sempre viveu na Colônia Ja-ponesa, fundada na década de 1920. Os dois se conheceram nos bancos do ginásio estadual e são casados há 44 anos. Eles seguem a rotina que aprende-ram crianças: acordam às 6 h, trabalham na terra, almoçam em família – o prato favorito é o sashimi de sardinha, ao qual seu Patrício atribui a lon-
gevidade da família. Sua mãe, Osame, tem 98 anos e como a sogra, de 102 anos, goza de ótima saúde. Ambas estão no Brasil há mais de 70 anos, mas não falam português.
“A única diferença entre a minha criação e a do meu ma-rido é que meu pai era mais rico e a gente tinha gerador em casa, enquanto eles ficavam no escuro” – brinca dona Rosa. Até hoje a água que usam para viver e para irrigar as estufas é bombeada do poço, e eles pa-gam imposto rural.
Os Yoshioka e outras 50 famílias ainda moram na Colônia Japonesa. A vizinha Avenida Jacu Pêssego, uma pequena estrada de terra aberta há 90 anos pelos ja-poneses para vender os fru-tos que cultivavam, é hoje uma via asfaltada de mais de 30 km por onde circulam 40 mil veículos.
O bairro surgiu do lotea-mento da Fazenda Caguaçu, ganhou o nome de Itaquera – “pedra que dorme”, em guarani – e se tornou um dos mais populosos da Zona Leste, com 1,6 milhão de
pessoas. Patrício explica: “No auge do pêssego, moravam aqui 150 famílias japonesas, mas muitas venderam as pro-priedades depois que os pes-segueiros adoeceram nos anos de 1970 e 1980. Agora, com a valorização da terra, está sain-do outra leva. O morador mais antigo, Sideome Nakamura, vendeu a propriedade onde morava desde 1925” – conta.
Dona Rosa e seu Patrício vivem hoje da comercialização de galhos de árvores para ike-bana (arranjo ornamental japo-nês), mudas e plantas ornamen-tais. As plantas são vendidas
no Ceagesp e a quem aproveita para passear na chácara.
O preço do metro quadrado – cem reais, segundo seu Pa-trício – incentiva os negócios imobiliários. A chácara dele, por exemplo, foi avaliada em 7 milhões de reais mas ele nem cogita sair dali. “Vivo no meio do mato, durmo ouvindo grilos e sapos e acordo com os passarinhos. A vida que eu levo aqui não tem preço” – responde seu Patrício, que nos convida a conhecer a proprie-dade, seguido pelos sete ca-chorros de pequeno porte que vivem ali.
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seu Patrício e dona rosa: casa sombreada por uma shii
em plena avenida jacu Pêssego, o mesmo cenário há quase um século
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tesouro botânico
Não há um metro quadra-do de terra nua: o emaranha-do de árvores dá a impressão de mata virgem. “Plantamos sementes e mudas de espé-cies botânicas valiosas onde havia vaga” – explica seu Patrício. A mais rara é um pinheiro de folhas de brilho dourado, acentuado pelo sol de primavera. “A metasse-quoia áurea foi da China para o Japão” –, explica acrescen-tando, orgulhoso: “este é o único exemplar de que se tem notícia no Brasil.
O pomar de goiabeiras, que chegou a ter 800 pés antes da geada de 1979, foi substituído por palmeiras, bambus, ipês. A área dos pessegueiros foi ocupada por bromélias e carnudas. As nêspereiras foram doa-das ao caseiro, que as man-tém e explora. As mudas de cerejeiras são estrelas da chácara – o casal Yoshioka faz parte da Federação de Sakura e Ypê do Brasil que, em agosto, organiza a Fes-ta das Cerejeiras no Parque do Carmo. “Quando elas
florescem, os descendentes dos japoneses ensinam aos brasileiros o hanami – ceri-mônia em que se olham as flores e sente-se a textura de suas pétalas em busca da paz interior.
No fundo da chácara, há um herbário de 150 mil es-pécies de plantas, com des-taque para as medicinais, que se tornou um centro de pesquisa botânica. Em 1986, o professor japonês Goro Hashimoto visitou o centro – que tem 70 asso-ciados brasileiros e japone-ses – e a partir de pesqui-sas ali realizadas publicou, no Japão, um estudo sobre plantas medicinais brasilei-ras. O calhamaço de 500 pá-ginas está na terceira edição japonesa e não foi traduzido para o português por falta de interesse das editoras, mas continua trazendo visitantes estrangeiros a Itaquera. “Às vezes é mais fácil apreciar o que está longe do que aqui-lo que está bem embaixo do nosso nariz” – filosofa dona Rosa, sem perder o humor.
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los hermanos de la zona leste
O coordenador e técnico da unidade, Lincoln Mar-ques Neto, 30 anos, ex-atle-ta profissional de futebol do Santo André, Corinthians, União de Mogi das Cruzes, Palmeiras B e Sport Boys, do Peru, iniciou o trabalho de treinador de futebol na Vila Ré e durante sete anos ensinou na escola dos Meni-nos da Vila, do Santos.
Sócio da franquia que fe-chou contrato com o Boca, Lincoln ressalta as oportu-nidades da escola. “Quem
se destacar nos treinos, será avaliado nas categorias de base do Boca Juniors, na Argentina” – explica. “Duas passagens aé-reas por semestre serão sortea-das entre os alunos para assistir a uma partida do Boca, no La Bombonera. Em jogos do clu-be no Brasil, os alunos assis-tirão à partida de graça e terão acesso ao vestiário dos jogado-res.” A escola tem 70 alunos, com idade entre 5 e 17 anos, e custa R$ 60 por mês. O Boca Juniors do Brasil fica na rua Talma de Oliveira, 77. Mais
informações, pelo fone (11) 2885-4194 ou no site www.bocajuniorsbrasil.com.br
Penha ganhou escola de futebol do Boca Juniors
habitação
cohab 1 quer agência bancáriaPessoal tem de sair do residencial para pagar suas contas
Inaugurada em 1978, a Cohab I de Itaquera, que terá o estádio do Corinthians como vi-zinho ilustre, está entre os con-juntos habitacionais mais antigos da cidade: nos apartamentos de 50 m², que valem 100 mil reais, moram 112 mil pessoas, a maio-ria de classe C, com renda fa-miliar entre três e cinco salários mínimos. Mas, apesar de contar com ampla rede de comércio lo-cal, os moradores são obrigados a se deslocar para fora da Cohab toda vez que precisam ir ao ban-co. Motivo: a Prefeitura de São Paulo se recusa a ceder áreas para instalação de agências ban-cárias, embora a população tenha identificado oito terrenos ociosos dentro da Cohab 1, cada qual com 6 mil m². “Queremos uma
reunião com o subprefeito para reivindicar um desses terrenos, pois a falta de agências bancárias complica a vida de moradores e comerciantes” – explica o lí-
der comunitário Alex Minduin, acrescentando que a presença de um banco serviria como incen-tivo à criação de empregos e de projetos de geração de renda.
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exemplar de metassequoia áurea: única no brasil
sair de casa para ir ao banco: tarefa de muitos
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Palavras cruzadas
CARAMBOLASAPARACELARAPELARALAGOSTOUMACASASABMADAOCURASOTAPIAN
REAÇAORDPETROLEORESIDAPARCOATIVOATOROSCAS
vertical – 1. Capital da Venezuela. Fruta da pereira 2. São usados na lousa negra 3. Mamífero ágil e de focinho pontiagudo. Extraterrestre. Símbolo do cobalto 4. Deus da guerra na mitologia grega. Su-jeito fácil de enganar 5. Conjunto de bandidos ou vadios. Apressar, acelerar 6. Para os. O céu da boca 7. Tecnologia para reconhecer caracteres a partir de um arquivo de imagem (Abr.). O Estado do Acre. Ordem dos Engenheiros. É, em inglês 8. Pequeno atabaque usado nos candomblés. Interjeição. Você, na internet 9. Aramar. Cidade de São Paulo 10. Anfíbio semelhante aos lagartos
horizontal – 1. Frutos da caramboleira 2. Fragmento de um objeto que se desbasta. Cômodo de reduzidas dimensões 3. Tirar tudo de algo ou alguém. Sigla de Alagoas 4. Nome do oitavo mês do calendário. Única 5. A sigla internacional que identifica o registro de um composto químico. Órgão do voo das aves. Brigada Militar 6. Segundo a Bíblia e o Alcorão, nome do homem do primeiro casal criado por Deus. Recobramento da saúde 7. Solitário. Transportes Aéreos Portugueses. Fleming, cria-dor do personagem James Bond 8. Ação oposta a outra e provocada por ela. Reader’s Digest 9. Óleo mineral natural combustível, de cor escura 10. Sigla do Espírito Santo. Jornada, partida. Parte larga e chata do remo 11. Que coage, constrange ou obriga 12. Parte da peça teatral. Ranhura do parafuso
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