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VuJONGA magazine / Edição nº 35 / 1º Dezembro 2020, terça-feira / págs. 1/30
VuJonga - Cadernos Literários | Momento Poético | Artes e Letras | Resenhas
ISSN 2184-8165
INTERNATIONAL STANDARD
SERIAL NUMBER PORTUGAL
magazine cresceu
VuJONGA magazine / Edição nº 35 / 1º Dezembro 2020, terça-feira / págs. 2/30
VuJonga - Cadernos Literários | Momento Poético | Artes e Letras | Resenhas
Ficha técnica | Edição nº 35 - VuJONGA cadernos literários - 1º Dezembro 2020.
CULINÁRIA de Moçambique | Dona Cacilda da Conceição Dias:
receitas | gastronomia | memórias associativas mestiças.
FILOSOFIA | co-fundadora Myriam Jubilot de Carvalho: Península Ibérica
[pseudónimo da Dra. Mª de Fátima Oliveira Domingues]
prosa e poesia | crónicas interculturais | ensaio.
REVISÃO | Dra. Mª de Fátima Oliveira Domingues: Portugal
textualidade e contexto | pedagogia | revisão de texto.
PSICOLOGIA CLÍNICA | Mestre Fanisse Craveirinha: Europa – U.E.
psicoterapias | reflexões sobre saúde mental quotidiana.
HISTÓRIA | idéias | Professor Doutor Adelto Gonçalves: Brasil – Portugal
resenhas literárias | Lusofonia.
INSTANTÂNEOS | co-fundadora Silvya Galllanni: Portugal – Brasil
instantâneos | crônicas | poesia | fotografia | revisão gráfica | informática.
JORNALISMO | editor Falume Chabane: Carta de Moçambique.
MÚSICA | músico Costa Neto: compositor e instrumentista. CPLP.
ARTE | pintor Mphumo Kraveirinya: ‘Anima Mundi’ |
infografismo | layout | art work | poesia | crítica de arte | esoterika.
COMUNICAÇÃO e CULTURA | Doutor João Craveirinha, Jr. PhD (aliás
Mphumo Kraveirinya): fundador e coordenador editorial.
comunicação e cultura | resenhas | revisão-geral | CPLP e Carta da Europa.
E-mail | vujonga@hotmail.com
Website | https://vujongamagazine.com/
e-Books | https://vujongamagazine.com/ebooks.php?pag=1
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VuJONGA – significado.
VuJONGA significa ORIENTE, e também por analogia,
povo vaJonga do ‘Sol Nascente’– em língua Jonga.
ORIENTE – ponto cardeal
de uma das quatro direcções principais da rosa-dos-ventos
[Sul – Norte; Ocidente – Oriente]
ShiJonga ou ‘O Jonga’ é um idioma africano que tem a sua
origem milenar no idioma kiKongo, com sede em Bandundu no ‘Congo-
Kinshassa.’ Daí sairiam migrações cíclicas do povo (ba)Kongo, rumo à
África Austral, tomando rumos diferentes a partir do rio Zambeze, a sul
e a norte.
Posteriormente, em fusão genético-cultural, originou outras
variantes idiomáticas, tais como as dos povos Nhandja (Niassa), Guigóne
(Inhambane), Jonga (Móputso), e ainda outras variantes posteriores tais
como ShiSuate (Suazilândia), Zulo (Natal), Shengane (Gaza), ShiTsua
(Inhambane).
A língua Jonga é, pois, um idioma muito antigo da cultura baNto da
capital de Moçambique. Sofreu várias influências linguísticas no decurso
do tempo. Estas são o registo cultural de épocas em que navegadores
europeus e asiáticos circularam pela costa marítima moçambicana, aí
desenvolvendo relações comerciais – mais pacíficas – umas, e outras
mais conflituosas.
Este idioma, shiJonga, encontra-se actualmente em processo de
extinção, devido a imposições ideológicas do poder político
estabelecido desde 1975.■ coordenador JOÃO Craveirinha Jr.
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1º Esboço de Mapa Etno-Etimológico
da região vaJonga - séculos XVI-XIX
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- Mphumo Kraveirinya: Ideia e Layout da Capa do Suplemento
integrado nos Cadernos Literários do VuJONGAmagazine.com
- Revisão do Grego Clássico: Dra. Fátima Domingues.
- Revisão do Grego Clássico: DR. Theodoro de Abreu Mphumo
RESP
ECT
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Numa obra literária sua, Silvya Gallanni regista numa dedicatória a terna
lembrança de uma das suas avós, neste caso avó paterna, que nos revela também a
sua faceta de “micro-historiadora.” Eis o seu discurso em tom genealógico:
minha avó paterna, Maria Rosário de Jesus que amava a natureza e primeira
brasileira de raiz “guaikuru”1 que conheci. Nasceu em 1884 em Bocaina e
faleceu em 1987 em Jahu, ambas localidades do centro do Estado de S. Paulo.
Era filha da brasileira Thereza Maria de Jesus e do português Veríssimo
Bueno de Carvalho. Veio ao mundo na altura histórica da “lei do ventre
livre”.2 » in Gallanni, Silvya (2016). Fragrâncias Poéticas – HaiKai. Lisboa: Edição
da Autora-VuJonga cadernos literários, pág. 09.
À
Promotora de Vendas de Produtos
Alimentícios de grandes marcas
internacionais e brasileiras, durante
décadas. A sua viatura incansável.
Profissionalmente circulou no
Brasil como supervisora de
supermercados entre o Estado de
São Paulo e o de Minas Gerais:
- verificar a reposição de stocks
vencidos nas prateleiras (gôndolas)
e frigoríficos.
E, entre a responsabilidade de
mãe e de filha, e os afazeres
domésticos, nos poucos intervalos
– o sonho recorrente de ver uma
Torre em particular num rio algures
no mundo. Um dia descobriu que
era a Torre de Belém nas margens
do rio Tejo em Lisboa, na Europa.
por João Craveirinha Jr.
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Silvya Gallanni, na sua esforçada e
fiel viatura Astra terá percorrido muitos
milhares de quilómetros nas estradas
perigosas de São Paulo a Minas Gerais
— ida e volta à sua Jahu no centro do
Estado de São Paulo.
A emancipação feminina e a
responsabilidade profissional têm os
seus custos na saúde.
Porém, esse esforço poderá ser gratificante por proporcionar uma auto-
-suficiência no sustento familiar dos seus. É o percurso de uma chefe de família
no feminino, pelo que nos foi dado a observar in loco, em 2009, nos meses
passados no Brasil em viagem de estudos académicos.
E, como bem frisa a autora e co-fundadora do VuJONGAmagazine.com —
“Nada acontece por acaso;…” afirmando ser-lhe a voz de seu avô paterno ‘Zé
Bode’ que da dimensão onírica lhe incentiva a ter coragem e a prosseguir nos seus
momentos existenciais mais difíceis… pois era preciso ler nas entrelinhas das
situações.
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Por outro lado, surge-lhe o sonho recorrente de ver uma Torre em particular
num rio algures no mundo. Um dia descobriu que era a Torre de Belém nas
margens do rio Tejo em Lisboa, na Europa. E, quando pela primeira vez a viu e
identificou que era essa Torre que sonhava em criança, sem saber que era o
monumento histórico português muito ligado às navegações por mares-oceânicos
e ao Brasil, chorou de emoção. Não nos contou nem nos contaram. Estávamos
presentes nesse momento único que nos fez pensar o porquê dessa reacção, sem
explicação científica convencional. Quiçá nem o médico neurologista, austríaco,
Sigmund Freud (1856-1939) descodificaria.■ Mphumo João Craveirinha Jr.© Lisboa, 1º Dezembro 2020. https://www.ebiografia.com/sigmund_freud/
À esquerda, Maio 2014, a
penúltima despedida da
eterna Tuka, ‘fox-
paulistinha’ que Silvya
Gallanni deixou no Brasil.
A derradeira despedida de
Silvya Gallanni ocorreu em
Janeiro 2020. Em Maio
seguinte, Tuka partiu para o
vale das sombras.
A imagem Esta Fotografia de Autor Desconhecido está licenciada ao abrigo da CC BY-SA-NC
https://www.ebiografia.com/sigmund_freud/https://athena-xxi.blogspot.com/2018/11/o-manuelino-uma-arte-com-muitos-estilos.htmlhttps://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/3.0/
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Num conceito turístico amigo do ambiente, temos a
nossa magnífica Reserva Ecológica Amadeu Botelho de
190 hectares, com muito verde, árvores centenárias, cacho-
eiras e animais. Proporciona ainda muitas trilhas para ca-
minhada, educação ambiental, estudo de fauna e flora, pes-
quisas e ecoturismo ou apreciando o patrimônio arquitetô-
nico.
Em Jahu possuímos um vasto setor hoteleiro, com
ótimos preços. Restaurantes excelentes com refeições de
despertar o apetite.
Em suma, Jahu é, uma cidade com ótimas oportu-
nidades de negócios, visto que é a terra do calçado femini-
no de estilo, com o maior shopping da América Latina no
Território do Calçado.
Oferecemos muito mais para vocês. Estão esperan-
do quê para agendarem suas férias? Venham! Sejam bem-
vindas a JAHU! Através deste jornal O AutarcA coloquem
as vossas questões, caso pretendam ir a Jahu em turismo de
negócios, turismo familiar, cultural, ou de simples lazer.
Por que não unindo as duas intenções – negócios e lazer?
Jahu pode oferecer a Moçambique, Portugal e An-
gola, muito mais do que você julga – e obviamente, Mo-
çambique, Angola e Portugal a Jahu na exportação de peixe
e marisco, e nas trocas de experiências empresariais. Está
lançado o desafio. Consulte-nos.
Texto: Silvya Botton Gallanni©. Fotos exclusivas
de Jorge Luís Saggioro© para o jornal O Autarca.
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A Sua Primeira Obra Literária Editada
Myriam Jubilot abrindo a sessão. A autora Silvya
Gallanni, ao centro, e o Professor Pasquale C. Neto.
25 de Outubro 2017 na Livraria Férin, Lisboa.
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Chegada a Lisboa, Portugal, em 2010.
‘A apelação de GALLANNI da poetisa
Silvya – seria um alter-ego (…), se não fosse o
caso do sobrenome Gallanni ser proveniente
do lado materno de sua família italiana de
Veneza. Detalhe hereditário a somar a outras
contribuições genéticas anglo-saxônicas dos
Botton na sua linhagem européia.
Todavia, essa componente italiana não se
esgota no lado materno, pois encontrá-la-emos
ainda nos Cavichioli napolitanos, do lado
paterno, mescladas com avoengas sefardins e
luso-espanholas dos Pereira Dias e dos Bueno
de Carvalho. A esse código genético paterno
acrescentam-se ainda, marcas dos bravos e
antigos guaranis, ameríndios em dispersão, de
Piratininga a Jaú, Campinas a Anhanguera,
visíveis nos traços guaikurus-mestiços em sua
avó paterna, Maria Rosário de Jesus (1884-
1987), que vemos na página 11.’ in Gallanni,
Silvya (2016). Fragrâncias Poéticas – HaiKai.
Lisboa: Edição da Autora-VuJonga cadernos
literários, pág. 17 no e-Book.
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E, o sonho sempre adiado de um
dia poder concretizar na sua terra
natal, a contribuição para uma
alimentação mais saudável no seu
Jahu, com menos consumo de
carne vermelha e menos câncer do
cólon.
Ao lado fica a sugestiva imagem
que o marido criativo, graficamente
compôs para uma marisqueira.
A propósito de uma exposição fotográfica da vossa cronista
S.B.G., na Universidade de Lisboa - ULisboa (cidade
universitária) em 2016.
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VuJonga – edição literária de autora 2016 /2020 e-Livro
Silvya Gallanni: Haikai - Fragrâncias Poéticas
Haikai | Poetic Fragrances | e-Book
6851021.pdf (rl.art.br)
https://rl.art.br/arquivos/6851021.pdf
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NO
VO
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A Claude Débussy sobre La Cathédrale Engloutie
Um poema é uma borbulha fervente
À tona de água
A picada de um mosquito
À superfície da pele
Surge às horas mais incertas das 24h
Do dia ou da noite. Por vezes, dá comichão. Outras vezes, porém,
Apenas uma leve impressão
De alívio
Quando não de morte Claro que adoro o dia
E o amanhecer é essa fonte de energia
Mas adoro a noite
Ela é paz para a minha alma
Sem albergue e fugidia
E a Música – a Harmonia
Que se alberga em todo
O seu Mistério, e Magia É a catedral marinha
Onde canta a cinco vozes
A minha dimensão
sem pergaminhos
© Myriam Jubilot de Carvalho
28 de Agosto de 2020
Catedral marinha
Debussy - La cathédrale engloutie Debussy - La cathédrale engloutie - YouTube
https://www.youtube.com/watch?v=JAVyKDDsM3s
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* “Ray” filme biografia, de 2004 com Jamie Foxx no papel principal
Produção e Realização de Taylor Hackford *
Tenho uma face negra paredes-meias com a morte
Negra da dor do remorso
Do sexo de traição
– A que me faz compor –
Vem com o calor da raiva,
A dor da segregação,
Corre no meu e no teu sangue,
Enrouquece-me a garganta,
Estripa-me o coração
Tenho uma face negra paredes-meias com a morte
Negra da infância, da fome,
Da vingança, da ambição
– A que me faz compor –
Vive comigo o momento –
Íntimo calor abafado.
Enrouquece-me a garganta,
Estripa-me o coração
E tenho do outro lado a minha face de luz –
Paredes-meias com o amor,
A calma, a segurança.
A luz da minha alma gémea
Vem da mãe, da minha infância,
Do calor da sua esperança –
Memória de alguma cor que
Ainda algures dança...
Ray Charles / Jamie Foxx
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A minha metade fêmea,
O veio ligado à terra, à sua herança
Resolvo-me no teclado de um piano
Dissolvo-me em canção
© Myriam Jubilot de Carvalho
Maio, 2006.
RAY CHARLES record image credits to
https://www.gadhouse.com/review-ray-charles-modern-sounds-in-country-and-western-
music-vols-1-2/
https://www.imdb.com/title/tt0350258/
Ray Charles e Jamie Foxx
https://www.saraiva.com.br/ray-dvd-9416839/p
https://www.gadhouse.com/review-ray-charles-modern-sounds-in-country-and-western-music-vols-1-2/https://www.gadhouse.com/review-ray-charles-modern-sounds-in-country-and-western-music-vols-1-2/https://www.imdb.com/title/tt0350258/https://www.saraiva.com.br/ray-dvd-9416839/p
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https://twitter.com/dukechargista
Duke chargista
Devida Vénia
https://twitter.com/dukechargista
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LETRAS
Literatura brasileira ganha um novo romancista Adelto Gonçalves (*)
I
Depois de incursionar por outras áreas do pensamento, como poesia,
crônicas, estudos biográficos, História e obras jurídicas, o professor e advogado
David de Medeiros Leite (1966), mestre e doutor em Direito pela Universidade de
Salamanca, na Espanha, começa agora promissora carreira como ficcionista, com
o lançamento de 2020, romance escrito na primeira pessoa, que procura resgatar a
vida de um personagem que viveu num convento entre 1963 e 1968.
Esse personagem, José Silvestre de Araújo, nascido e criado em Pedras de
Fogo, município da região metropolitana de João Pessoa, capital do Estado da
Paraíba, seria levado já moço por um tio para Recife, onde ingressaria numa ordem
carmelita, o Convento do Carmo, tradicional estabelecimento religioso de
Pernambuco. Lá, teria a oportunidade de tentar concretizar um sonho da infância,
surgido depois de ouvir muitas lendas contadas por parentes e conhecidos:
encontrar uma botija que estaria enterrada em determinado lugar, escondida por
um frade da ordem carmelita.
Escrito em linguagem madura que faz esperar outras incursões do autor na
área da ficção, 2020 presta também uma homenagem ao historiador e antropólogo
Câmara Cascudo (1898-1986), a quem frei José de Santo Elias, nome religioso do
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protagonista, recorreria na tentativa de encontrar pistas para localizar a tal botija,
que, afinal, nunca seria achada.
Aliás, as ligações do autor com Câmara Cascudo já são antigas, pois,
aproveitando o tempo que passou em Salamanca fazendo mestrado e doutorado
em Direito, ele conseguiu localizar na Casa-Museu de Miguel de Unamuno (1864-
1936) uma carta em que o historiador potiguar se solidarizava com o pensador
espanhol em razão do “banimento” sofrido este por sua oposição à ditadura do
general Primo de Rivera (1870-1930), que durou de 1923 a 1930.
No romance também aparece a figura de Dom Hélder Câmara (1909-1999),
bispo católico, arcebispo emérito de Olinda e Recife, um dos fundadores da
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e grande defensor dos direitos
humanos durante a ditadura militar (1964-1985).
II
Misturando história e ficção, 2020 recupera também fatos ocorridos em 1968,
ano em que houve um endurecimento por parte do regime militar, com
perseguições a líderes políticos e homens de pensamento. Mas, a rigor, o romance
gira em torno do Convento do Recife, como é mais conhecida aquela instituição,
e sobre a presença de carmelitas em Mossoró, município localizado na região
Oeste do Rio Grande do Norte, sem deixar de recuperar um fato que até hoje
desafia a memória dos mossoroenses mais antigos, ou seja, um crime ocorrido
naquele ano de 1968 no Grande Hotel, até hoje nunca esclarecido.
Depois da vida religiosa, Silvestre de Araújo assumiria a profissão de
carteiro, viajando, certo dia, a Mossoró para visitar as ruínas da Casa do Carmo,
que seria o local onde estaria escondida a botija. Em suas rememorações já como
carteiro aposentado, o protagonista não deixaria de recordar as perseguições
sofridas pelo acosso do desejo sexual, depois de conhecer Marília, recepcionista
de um hotel em Mossoró, diante da promessa que fizera de não romper o celibato.
Em resumo: escrito em estilo leve, que atrai a atenção do leitor deste a
primeira linha, 2020 é romance que veio para ficar não só na história da ficção do
Rio Grande do Norte, mas da Literatura de expressão portuguesa. E que já foi
saudado pelo poeta peruano Alfredo Pérez Alencart, radicado como professor
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universitário em Salamanca desde 1987, que, inclusive já traduziu para o espanhol
um livro de David de Medeiros Leite sobre aquela mítica cidade espanhola.
Do romance do advogado potiguar, “escritor que vai abrindo sua própria
senda nos diferentes deltas da literatura”, Pérez Alencart diz que se trata de uma
história bem trabalhada, com diálogos bem construídos, com ritmo cadencioso que
permite leitura fluída. “Há reflexões que configuram a condição humana em todos
os tempos e lugares, como, por exemplo, quando o protagonista comenta: “Ah, a
inveja! Quão subjetiva e, por vezes, imperceptível! Depois de um comentário sobre
a brilhante homília proferida por nosso Provincial, percebi, na reação de alguns
frades, esboços de inveja. O elogio mesclado com ironia deduz inveja, com
certeza” (pág. 74).
III
Nascido em Mossoró, David de Medeiros Leite, graduado em 1999 pela
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), é também gestor com
atuação em diversos cargos na administração pública e professor da UERN desde
2004, onde desenvolve pesquisas, especialmente na área de Direito Público.
Foi pró-reitor de Gestão de Pessoas na UERN e é assessor jurídico da
presidência do Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Norte. Foi ainda
diretor-científico da Fundação de Apoio à Pesquisa no Estado do Rio Grande do
Norte (Fapern). Em 2005, em parceria com o escritor Clauder Arcanjo, criou a
editora Sarau das Letras. Além de livros de poemas, tem publicado biografias e
livros de crônicas e de História com temas ligados ao Nordeste, em especial à
cidade de Mossoró.
É autor de Companheiro Góis – dez anos de saudade, biografia (Coleção
Mossoroense, 2001), Os carmelitas em Mossoró, em coautoria com Gildson Souza
Bezerra e José Lima Dias Júnior (Coleção Mossoroense, 2002), Ombudsman
mossoroense (Sebo Vermelho, 2003), Duarte Filho: exemplo de dignidade na vida
e na política, biografia, em coautoria com Lupércio Luiz de, Azevedo (Sarau das
Letras, 2005), Incerto caminhar (Sarau das Letras, 2009), Cartas de Salamanca
(Sarau das Letras, 2011), Casa das lâmpadas (Sarau das Letras, 2013), Mossoró e
Tibau em versos – antologia poética, em coautoria com Edilson Segundo (Sarau
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das Letras, 2014), Mi Salamanca: guía de un poeta nordestino, com tradução e
prólogo de Alfredo Pérez Alencart (2018), Aldemar Duarte Leite: centenário de
nascimento, biografia (2018), e História da Liga Operária de Mossoró, em
coautoria com José Edílson Segundo e Olivá Leite da Silva Júnior (2018).
Em 2015, lançou Ruminar (Rumiar), livro de poemas em edição bilingue,
pela Editora Sarau das Letras, de Mossoró, e Trilce Editores, de Salamanca. Em
2017, publicou ainda Rio de Fogo, coleção de vinte poemas, com 40 fotografias
do magistrado Bruno Lacerda que mostram aspectos da cidade de Rio de Fogo,
localizada na região Norte do Rio Grande do Norte.
Na área de Direito, é autor ainda de Presupuesto participativo en municipios
brasileños: aspectos jurídicos y administrativos (Editorial Académica Española,
2012) e Participação política e cidadania – Amicus Curiae, audiências públicas
parlamentares e orçamento participativo, em coautoria com José Armando Pontes
Dias Júnior e Aurélia Carta Queiroga da Silva (2018).
______________________________
2020, de David de Medeiros Leite., com apresentação de Humberto Hermenegildo, membro
da Academia Norte-rio-grandense de Letras e sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico
do Rio Grande do Norte. Mossoró: Sarau das Letras, 234 páginas, 2020. E-mails:
clauderarcanjo@gmail.com davidmleite@hotmail.com
_______________________________
(*) Adelto Gonçalves é doutor em Letras na área de Literatura Portuguesa pela USP e autor de
Gonzaga, um Poeta do Iluminismo (Nova Fronteira, 1999), Barcelona Brasileira (Lisboa,
Nova Arrancada, 1999; Publisher Brasil, 2002), Bocage – o Perfil Perdido (Lisboa, Caminho,
2003), Tomás Antônio Gonzaga (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo (Imesp)/Academia
Brasileira de Letras, 2012), Direito e Justiça em Terras d´El-Rei na São Paulo Colonial
(Imesp, 2015), Os Vira-latas da Madrugada (José Olympio Editora, 1981; Letra Selvagem,
2015) e O Reino, a Colônia e o Poder: o governo Lorena na capitania de São Paulo 1788-
1797 (Imesp, 2019), entre outros. E-mail: marilizadelto@uol.com.br
mailto:clauderarcanjo@gmail.commailto:marilizadelto@uol.com.br
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David de Medeiros Leite: escritor de vários gêneros
Foto: https://palavradeateop.blogspot.com/search?q=David+de+Medeiros+Leite
https://palavradeateop.blogspot.com/search?q=David+de+Medeiros+Leite
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a cave funda, os comedores de batatas. Rostos tisnados, cabelos hirtos de
transpirados, as mãos enegrecidas da falta de água. A própria luz da lâmpada
suspensa do tecto é tisnada e cinzenta.
Dos olhos fuscos, sai um fulgor sombrio, inexpressivo, espelho das batatas
expostas sobre a mesa. Um prato de batatas, ao centro da mesa. Batatas sem brilho,
negras, sem paladar. Acompanhamento: batatas negras, sem brio. Com molho de
batatas. Sobremesa negra de batatas que apenas sabem a batatume.
Não falam. Os comensais não falam. Porque se falassem, as palavras seriam
batatáticas, soando a batatas, tilintando a batatas, com rebentos a despontar para
nova safra de batatas.
No calor bafiento da cave, o odor a casca de batatas terrosas.
Com o estômago vazio cheio de batatas, vão-se deitar. Vão sonhar com nova
refeição de batatas, amanhã ao almoço, amanhã ao jantar. E que assim seja, por
todos os dias das suas vidas, enquanto o museu nos deixar contemplá-los. Com o
coração apertado. Porque sabemos que o mundo está cheio de comedores de
batatas.
E de comedores de comedores de batatas.
E de contempladores de uns e de outros, olhando para o quadro como quem
contemplasse um jardim de rosas.■©Myriam Jubilot de Carvalho.
N
Van Gogh, I love you!
an Gogh, I love you
apontamento por
Myriam Jubilot de Carvalho
VuJONGA magazine / Edição nº 35 / 1º Dezembro 2020, terça-feira / págs. 30/30
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