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GLENN IVAN YNGUIL FERNANDEZ
INTRODUÇÃO
AO
NOVO TESTAMENTO
Trabalho apresentado à Profa. Suely Xavier dos Santos, da Disciplina Introdução ao Novo Testamento, do Centro Metodista de Capacitação (Cemec).
Centro Metodista de Capacitação
São Paulo — julho de 2005
PRIMEIRA PARTE:
LIÇÃO PARA A ESCOLA DOMINICAL
3
LUCAS, EVANGELISTA E HISTORIADOR
Cenário histórico
Certamente você deve ter ouvido de pessoas mais
velhas contarem fatos que aconteceram quando você
não tinha idade para lembrar. Ao lembrarmos dos
detalhes que ouvimos dos nossos pais ou de pessoas
daquela geração sobre os acontecimentos que se
passaram trinta ou quarenta anos atrás, sentimos como
eles já fazem parte da nossa vida e com freqüência nos
surpreendemos contando-os como se realmente nós os
tivéssemos presenciado. E como é bom quando temos
esses fatos – que um dia ouvimos de pessoas tão
próximas de nós – confirmados através de relatos de
terceiros.
É num contexto semelhante, aproximadamente
cinqüenta anos após a morte e ressurreição de Jesus,
que surge o Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas.
Sírio de Antioquia, Lucas era médico e escreveu o
evangelho em grego, em um lugar fora da Palestina e
provavelmente por volta de 80 a 90 d.C. Lucas também
escreveu o livro dos Atos dos Apóstolos e é possível que tenha sido discípulo e
companheiro de viagem de Paulo.
Os objetivos de Lucas
Comprometido com a verdade histórica, Lucas registrou o que ouvira
diretamente dos apóstolos e discípulos de Jesus: “... conforme nos transmitiram os
que, desde o princípio, foram testemunhas oculares e ministros da Palavra,
igualmente a mim me pareceu bem, depois de acurada investigação de tudo desde
sua origem, dar-te por escrito, excelentíssimo Teófilo, uma exposição ordenada
dos fatos..." (Lucas 1. 2-3).
Desconhecem-se mais detalhes sobre a vida de Teófilo, destinatário imediato
do relato. Entretanto, Lucas visava também outros leitores, em geral cristãos não
segunda-feiraLc 1.1-4
terça-feiraAt 1.1
quarta-feiraEf. 2.1-8
quinta-feiraJo 1.1-14
sexta-feira1 Jo 4.10-19
sábadoRm 10.12-15
domingoHb 12.14
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judaicos, e se preocupa em fortalecer-lhes a fé com uma narração que confirmasse
as verdades nas quais ela se firma. A Igreja crê e vive essas verdades que têm seu
fundamento em Jesus Cristo, o qual, num momento da história agiu neste mundo.
A sociedade na época de Lucas
Lucas apresenta o caráter universal da Graça de Deus que através de Jesus
– O Salvador Divino – está disponível para todas as pessoas, independente de
idade, sexo, classe social ou status político.
A região onde foi escrito este Evangelho era fortemente dominada pela
cultura grega, de religiões e cultos politeístas marcados por ritos e sacrifícios
religiosos.
A prática dessas religiões não contrariava o Império Romano, de modo que
muitos pagãos convertidos ao Evangelho de Jesus Cristo tentavam até conciliar
essas religiões com a novidade do Evangelho de Jesus. Porém, a adesão a Jesus
implicava numa ruptura total com essas religiões e em perseguição.
Além disso, a única esperança de muitos cristãos da época ficavam
esperando o fim do mundo totalmente desencorajados na sua caminhada, sem
forças para contestar o sistema do mundo.
O Evangelho segundo Lucas, surge então, como resposta às preocupações e
dúvidas dos cristãos, colocando de maneira organizada o Evangelho de Jesus,
levando em conta toda a situação em que passavam as comunidades.
Estudo bíblico: Lucas 15.11-32
Lucas teve a preocupação histórica de incluir o relato do maior número de
fatos realizados durante a vida e ministério de Jesus. Dessa maneira, no
evangelho segundo Lucas a biografia de Cristo é mais completa que nos outros
evangelhos. Assim, existem parábolas proferidas por Jesus cujo registro pode
encontrar-se exclusivamente no relato de Lucas. Entre elas temos a parábola do
filho pródigo.
A universalidade do amor e graça divinos, um tema recorrente no Evangelho
segundo Lucas, é justamente o tema da passagem selecionada.
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De fato, Jesus na parábola ilustra a condição em que se encontra o ser
humano carente de Deus, mostra que a graça de Deus está disponível a todo
homem e aponta para um relacionamento responsável deste para com Deus.
1) O homem natural e o pecado
O texto começa contando como o filho mais moço de um homem saiu da casa
do pai e malgastou a sua parte da herança que recebera antecipada e passou a
viver dissolutamente.
Isso se constitui em uma ilustração de uma das afirmações básicas do
cristianismo: a impossibilidade humana. O ser humano é pecador, sem
possibilidade alguma de, por si mesmo, libertar-se do pecado e recuperar a
comunhão com Deus. O ser humano, usando a liberdade dada por Deus, escolheu
desobedecê-lo, ou seja, pecou. Com o pecado, o ser humano perde a capacidade
de escolher o Bem e a Vida, por si mesmo, pois sua imagem natural é danificada
(Romanos 7.14-15).
É fácil imaginar como o jovem filho estava submergido num falso sentimento
de liberdade, uma falsa sensação de alegria e satisfação, sem condições de
perceber a sua carência de Deus, ele, na verdade, está submerso na mais
profunda ignorância. Na realidade, o Mestre estava explicando a condição em que
o ser humano se encontra enquanto homem natural.
Sobre esse assunto, Wesley, em um de seus sermões, afirma que “o homem
natural é completamente ignorante de Deus, nada sabendo dele como convém
saber (...), não tem idéia alguma acerca da santidade evangélica, ‘sem a qual
ninguém verá o Senhor’ (Hebreus 12.14). Ele está seguro porque está totalmente
ignorante de si mesmo”.
2) “Caindo em si...”
Num segundo momento, nota-se que o filho, que já tinha esgotado seus
recursos passou a viver numa condição subumana. Ao perceber sua situação, ele,
“caindo em si” (v. 18), percebe a sua situação e faz uma comparação consciente
da vida que levaria se não tivesse estado vivendo dessa maneira. Ao perceber a
cegueira da qual fora vítima inconsciente, ele agora toma uma decisão: “levantar-
me-ei e irei ter com meu pai” (v. 18).
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Entendemos que essa tomada de consciência do homem do estado de
ignorância em que estava é dádiva de Deus. A dádiva da graça divina.
A este respeito, diz Wesley em outro dos seus sermões: “Deus toca o coração
daquele que dormia na escravidão e na sombra da morte. É terrivelmente sacudido
do seu sono e acorda para a consciência do seu perigo, os olhos do seu
entendimento se abrem e, agora pela primeira vez (tendo o véu sido removido, em
parte), discerne o verdadeiro estado em que se encontra”.
A graça preveniente é a graça de Deus por meio da qual, Ele toma a iniciativa
e se antecipa a qualquer iniciativa humana. Como diz a própria Escritura “Nós
amamos a Deus porque Ele nos amou primeiro” (1 João 4.19).
3) “E levantando-se foi para seu pai...”
Após essa tomada de consciência – que no ser humano, acontece por obra
da graça de Deus – que o leva ao arrependimento e à vontade de mudar de vida, o
filho pródigo resolveu dar um passo e concretizar a decisão que tomara. O moço,
de fato, levantou-se e foi para o seu pai (v. 20).
Por um lado, vemos o filho pródigo que vivera dissolutamente submerso na
ignorância e no pecado, se dispõe a voltar a usufruir da sua condição de filho e do
amor de seu pai, só toma uma decisão. Por outro lado, vemos o pai do moço
esperando de braços abertos a sua volta. E uma vez, na casa do pai, este se
regozija com a presença do filho “que estava morto e reviveu” (v. 24) e o recebe
alegremente.
Podemos imaginar a nova vida que o filho mais moço passou a viver logo da
reconciliação com seu pai; uma nova vida em que ele passou a valorizar de forma
consciente o que realmente tem valor. Entretanto, essa nova vida, além de exigir
do filho pródigo uma atitude, exigiu que ele cresse que o seu pai ia recebê-lo e que
ele tivesse uma atitude de submissão para com ele.
Da mesma maneira, depois de experimentar a graça preveniente de Deus que
desperta do sono e do pecado, o ser humano tem a condição de se tornar filho de
Deus. A única condição é ter a atitude de crer mediante a fé e recebe-LO no seu
coração. (João 1.12).
7
Conclusão
Nota-se que a parábola do filho pródigo, tão rica em ensinamentos, está a
serviço da mensagem integral do evangelho. A impossibilidade humana, o caráter
universal da misericórdia e graça de Deus e a responsabilidade do ser humano na
própria salvação estão magnificamente ilustrados no relato bíblico.
À luz dos ensinamentos contidos na parábola do filho pródigo, o preconceito
contra aqueles que vivem na ignorância espiritual é um risco que precisamos
afastar de nós. Não podemos nos esquecer que o amor do Pai para com as
pessoas que desconhecem o Seu amor e se mantêm ignorantes de si mesmos, é
incondicional.
De outro lado, somos ensinados pela Palavra de Deus que a salvação exige
uma fé atuante que nos impulsiona a concretizar o arrependimento ao qual temos
acesso pela graça divina.
A fé significa lançar-se sem reservas nas mãos misericordiosas de Deus;
implica em completa dependência de Deus e plena obediência a Ele. A fé
pressupõe livre engajamento no projeto e obra de Jesus Cristo e estabelece um
íntimo relacionamento pelo qual não somos mais nós (Gálatas 2.20).
1) Você conhece pessoas que ainda não conhecem Jesus verdadeiramente? O que nos ensina a parábola do filho pródigo a respeito delas?
2) De que maneira você pode mostrar às pessoas que a graça de Deus é para todos e todas?
3) Que tipo de liberdade pode experimentar-se através da graça de Deus?
QUESTÕES PARA REFLETIR
SEGUNDA PARTE:
RESENHA
9
ELEMENTOS DO NOVO TESTAMENTO
STAMBAUGH, J. E. & BALCH, D. L. O Novo Testamento em seu ambiente social. São Paulo: Paulus, 1996, 167p.
A Igreja Cristã surgiu num mundo
politicamente dominado por Roma e
culturalmente pelo helenismo. A época
histórica que em se situa o Novo
Testamento corresponde ao período
decorrido durante o primeiro século da
era cristã; trata-se, portanto, do
contexto de ocupação da Palestina
pelo império romano.
“A mensagem cristã, pregada
primeiro nas aldeias da Galiléia e
Judéia e depois na cidade do templo,
Jerusalém, espalhou-se por todo o
mundo greco-romano”. As palavras
dos autores também ilustram a
respeito do contexto em que foram
escritos os livros do Novo Testamento.
Visando uma melhor
compreensão das Sagradas
Escrituras, particularmente dos
elementos que constituem o Novo
Testamento, o livro ilustrar o leitor
acerca do contexto histórico, religioso,
político, cultural, econômico e social
do mundo greco-romano.
A obra
Os três primeiros capítulos foram
escritos por John Stambaugh,
professor e historiador de Roma e
estudioso da cidade antiga e das
religiões do império romano. Neles
trata-se do contexto histórico de
oriente próximo, da difusão do
cristianismo em contato com os
diversos cultos e correntes filosóficas
da época e do aspecto econômico das
populações greco-romanas.
O capítulo 4 é da autoria de
Davis Balch, especialista no Novo
Testamento e profundo conhecedor
das tradições filosóficas e retóricas
gregas e romanas, e analisa o
contexto social da Palestina. Os dois
últimos capítulos são de autoria
conjunta de ambos os autores e
focalizam a vida nas cidades e o
avanço do cristianismo nos principais
centros urbanos do império.
Contexto histórico
10
O período histórico que vai entre
323 a.C., data da morte de Alexandre
o Grande e 30 a.C., quando se deu a
conquista do Egito pelos romanos foi
marco da chamada civilização
helenística. Foi sob o influxo dessa
civilização e das suas conseqüências
posteriores que se dão os
acontecimentos relatados no Novo
Testamento.
É evidente a importância do
contexto para um estudo sério de
qualquer tipo de acontecimento
histórico e é justamente essa a
preocupação de John Stambaugh,
autor do primeiro capítulo da obra.
Os antecedentes das conquistas
de Alexandre o Grande, o apogeu e
queda do seu império, a divisão dele
entre seus generais e a formação dos
reinos helenísticos é relatada nas
primeiras páginas do livro.
Após a morte de Alexandre, Filipe
V da Macedônia, rei da Macedônia de
221 a 179 a.C., filho de Demétrio II,
combateu os etólios e se aliou a
Aníbal. Ele tentou estender sua
influência a toda a Grécia, mas foi
derrotado pelos romanos na segunda
guerra da Macedônia. O choque do
mundo helenístico com o império
romano introduz o relato da
organização política do império e da
situação da Palestina como província
romana.
Antes da dominação romana e
em virtude da sua posição geográfica,
a Palestina sempre esteve envolvida
em conflitos e assistiu a sucessivas
invasões. O período em que Davi e
Salomão estabeleceram um reino
independente na Palestina, unificando
o reino de Israel por volta do ano 1000
a.C., se constitui em exceção a essa
realidade.
O livro faz uma breve exposição
da história da Palestina desde que o
seu território se encontrava sob o
domínio dos Ptolomeus e os
Selêucidas de 320-142 a.C., passando
pelo período dos Hasmoneus, dinastia
de sacerdotes e reis da Judéia,
descendentes dos macabeus, que
governaram a região entre 142-63 a.C.
A narração continua com o período de
dominação romana acontecido entre
63 a.C. a 66 d.C., e terminam com as
guerras judaicas e suas
conseqüências.
Nota-se que, fazer o esboço
histórico da Palestina, os autores
extrapolam o período em que Jesus
viveu inserindo-o dentro de um
contexto mais amplo onde são
contemplados eventos anteriores e
posteriores aos acontecimentos
11
relatados no Novo Testamento.
Aspectos jurídicos da lei romana
e suas implicações com a lei judaica
também são tratados nesse capítulo.
A diversidade religiosa e o cristianismo
Além dos judeus, espalhados por
todo império romano, havia no século I
outros grupos que cultuavam diversas
divindades pagãs. A pregação de
Jesus e o crescimento da obra
missionária relatada no Novo
Testamento, realizaram-se nesse
contexto.
No segundo capitulo da obra,
Stambaugh relata a maneira como as
pessoas se comunicavam no mundo
romano. Ao fazê-lo, esclarecem
detalhes sobre a atividade missionária
de Jesus e dos seus apóstolos.
O capítulo se inicia com os
autores detalhando a infra-estrutura de
comunicativa da época. São relatados
detalhes geográficos dos lugares
percorridos pelas primeiras missões
cristãs, a maneira como se viajava
pelas estradas do império, os riscos e
vantagens de empreender uma viagem
por terra e a maneira diferenciada com
que pessoas de distintas classes
sociais viajavam.
Pormenores sobre as viagens
marítimas, a comunicação por carta e
os fluxos migratórios entre os
habitantes do império romano também
são abordados neste capítulo e nos
ajudam a entender, por exemplo, as
particularidades das epístolas e
viagens missionárias de Paulo.
Detalhes sobre a diversidade
religiosa existente no mundo greco-
romano são dadas a seguir.
Há referências sobre as estátuas,
imagens, capelas, templos e outros
lugares onde tinham lugar os cultos
pagãos e mencionam-se detalhes
sobre o sincretismo religioso entre
divindades gregas, hebréias, egípcias,
romanas e africanas; e se faz menção
das diversas seitas e correntes
filosóficas herdadas da cultura grega.
Aspectos da religião e costumes
judaicos e das sinagogas são
oferecidos a continuação. Depois,
Stambaugh revela como a pregação e
rituais cristãos eram realizados e como
a mensagem era recebida pelos novos
convertidos.
Finalmente, neste capítulo, os
autores comparam as relações das
diferentes comunidades religiosas com
as respectivas autoridades políticas e
como estas respondiam às diversas
práticas religiosas. Menciona-se, por
exemplo, que os cultos pagãos não
12
representavam ameaça para uma
cidade grega ou para um reino dentro
do império romano, enquanto as
autoridades judaicas condenavam as
práticas cristãs e perseguiam os
convertidos. Já a autoridade romana
não via diferença entre judaísmo e
cristianismo, pelo menos durante os
trinta primeiros anos.
Aspecto econômico
O terceiro capítulo do livro está
dedicado a esboçar os traços gerais
das relações financeiras e do uso do
dinheiro no contexto do mundo greco-
romano. É analisado o aspecto
econômico das relações sociais entre
os indivíduos e entre estes e as
autoridades municipais e imperiais.
Primeiramente, se mencionam as
relações de amizade e clientelismo,
que apoiadas em princípios básicos
institucionalizados por lei, regiam as
sociedades antigas. O princípio de
reciprocidade, por exemplo, nos
ajudaria a situar culturalmente a
parábola citada em Lc 14.12-14.
Outros costumes inter-relacionados
com a atividade econômica como a
doação e o empréstimo também são
mencionados.
Ainda dentro das relações
privadas mencionam-se as atividades
produtivas mais comuns como a
agricultura e a pesca, fonte de
recursos para a maioria dos habitantes
das diversas regiões do império, bem
como outras atividades profissionais e
comerciais incluindo o tráfico de
escravos.
Se durante a Republica – período
da história de Roma que vai de 509 a
27 a.C. – não se cobravam impostos a
cidadãos romanos, durante o império,
os habitantes das cidades eram
obrigados a pagar tributo tanto a
administração edilícia quanto à
autoridade imperial. Os diversos
impostos, fontes de renda da
administração, são descritos e nos
ajudam a entender o contexto de
diversas passagens bíblicas. Zaqueu,
por exemplo, era oficial de alfândega e
foi encontrado por Jesus em Jericó, na
fronteira entre Judéia e Peréia como
consta em Lc 19.1-10.
Diz a Escritura em Mt 10.29 “Não
se vendem dois pardais por um asse?”
A viúva pobre “depositou duas
pequenas moedas correspondentes a
um quadrante”. É o que lemos em Mc
12.42. No livro encontramos detalhes
sobre as diversas moedas que
circulavam na época como a dracma,
o talento, a mina, o denário, o lepton, o
quadrante e o as, assim como suas
equivalências. Após a leitura deste
13
capítulo, conclui-se, por exemplo, que
as duas moedas da viúva eram dois
lepta, uma vez que cada lepton
equivalia à oitava parte de um as.
Estas e outras informações
presentes no livro representam muito
mais que meras curiosidades e
fornecem valiosos instrumentos para
entender o contexto em que foram
proferidas as palavras de Jesus em
diversos trechos da Bíblia.
O contexto social da Palestina
Os aspectos sociais da Palestina
nos tempos de Jesus é o objeto de
estudo do quarto capítulo. Para tal fim,
David Balch – seu autor – discorre
sobre o processo de urbanização da
Galiléia, a tensão dos galileus com os
camponeses judeus e as controvérsias
de Jesus com os fariseus.
Depois de fornecer dados
geográficos e demográficos da
Palestina, é abordado o cotidiano da
vida na região. São citadas as
características arquitetônicas das
vivendas e diversos costumes das
famílias palestinas referentes a
casamento, nascimentos de crianças e
rituais funerários.
A seguir, são narradas
particularidades da sinagoga, assim
como as festividades civis e religiosas
do povo da Palestina. Ao falar das
línguas faladas nesse território, Balch
não é conclusivo sobre se se falava
mais grego ou aramaico; entretanto,
afirma que essas eram as duas
línguas mais faladas na Palestina do
séc. I.
Detalhes sobre o surgimento das
principais cidades da Palestina e a
situação dos camponeses da região
são abordados antecedendo à análise
do processo de urbanização da
Galiléia e os conflitos dos peregrinos
galileus com os camponeses judeus.
Após dissertar sobre a situação
política e religiosa de Jerusalém e
sobre a composição e atribuições dos
membros do sinédrio, Balch faz uma
reflexão sobre as características do
ministério e da mensagem de Jesus e
as relaciona com a situação política,
social e religiosa do meio em que
vivia; tentando explicar as motivações
externas em que a mensagem de
Jesus foi elaborada e como esta era
recebida por seus interlocutores.
Dessarte, Balch situa o leitor para uma
melhor compreensão da missão dos
primeiros cristãos em Jerusalém.
As cidades do império e a expansão do cristianismo
O avanço da mensagem cristã
dentro do fenômeno de urbanização
do império é o tópico em torno do qual
14
gira os últimos capítulos da obra.
Fazendo uma abordagem similar
à que Balch fez no quarto capítulo em
que discorreu sobre a Palestina, no
quinto capítulo da obra, os autores
fazem uma análise das cidades que
faziam parte do mundo greco-romano.
Num primeiro momento,
apresentam-se vários aspectos
comuns às cidades dentro dos limites
do império romano: detalhes sobre o
ambiente físico e uma descrição geral
dos lugares públicos e privados.
Cidades gregas, orientais e
colônias romanas que faziam parte do
império conservaram suas
características arquitetônicas e a
antiga infraestrutura. Entre os espaços
públicos onde as pessoas
costumavam se reunir mencionam-se
os pórticos das cidades, suas praças
junto a cisternas ou fontes e as
entradas dos templos.
Descrevem-se também traços
característicos das classes sociais
existentes e da atividade trabalhista. A
educação, os modelos familiares e os
costumes religiosos das comunidades.
A exposição das características
gerais do meio social das cidades
greco-romanas situa o leitor para o
tópico do último capítulo, em que são
abordados aspectos da igreja primitiva
e suas relações com as instituições
que as cidades do império
conservaram.
Os autores fazem também uma
exposição dos maiores centros
urbanos existentes na época em que a
mensagem cristã estava sendo
pregada.
Além do avanço da missão na
cidade de Roma, são descritos
aspectos da atuação dos cristãos em
outros centros urbanos dentro da Síria,
Ásia Menor e Macedônia com
destaque para as cidades de
Antioquia, Éfeso, Filipos e
Tessalônica.
Ao final da obra são
apresentadas as sugestões de leitura
dos autores. Infelizmente para quem
se sente convidado a ampliar os
conhecimentos adquiridos pela leitura
do livro, não poderá fazê-lo se não lê
em inglês, pois a imensa maioria das
obras recomendadas foi escrita nessa
língua.
A obra faz uma descrição dos
aspectos históricos enfatizando as
relações sociais e o cotidiano das
comunidades que faziam parte do
mundo greco-romano.
Nesse sentido, é possível notar
15
pela leitura do livro que, além das
citações bíblicas, os autores também
fazem referência a obras de outros
historiadores e a textos religiosos de
caráter histórico que não fazem parte
do cânone bíblico.
Isso, não é nenhum demérito, ao
contrário, além de situar o leitor
historicamente, a obra fornece
elementos que se constituem em
auxílio para uma real compreensão
dos desafios do cristianismo nascente,
entendidos dentro da composição da
sociedade da época, assim como da
própria mensagem cristã.