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INTERAÇÃO ENTRE COLETORES E SEU EFEITO NA HIDROFOBICIDADE DO
OURO E DA PIRIT A
M. 8. M. Monte•, F.F.Lins•, A. Middea•, e J.F. Oliveirab
•Laboratório de Química de Superficie, Departamento de Tratamento de Minérios, Centro de Tecnologia Minerai-CETEM, Cidade Universitária, Rua 4, Quadra O, Ilha do
Fundão, CEP 21.941-590, Rio de Janeiro - RJ , Brasil
bLaboratório de Química de Interfaces e Sistemas Coloidais, Programa de Engenharia Metalúrgica e de Materiais, COPPE, UFRJ, Caixa Postal 68505, Rio de Janeiro- RJ, Brasil.
ABSTRACT
Adsorption studies of dodecylammonium chloride (DDAHCl) and potassium iso-butyl xanthate (IBXK) at the aqueous solution-gas and solid-aqueous solution interfaces are described. The surface properties of the above mcntioned mixed solution were studied by surface tension and contact angle measurements. Molar fractions of components at the aqueous solution-gas interface werc calculated by use of the Gibbs adsorption equation. The synergistic effect of this mixture on gold and pyrite hydrophobicity was investigated by contact angle measurements and calculated work of adhesion. Evidence has been obtained regarding mutual interaction and synergistic co-adsorption of these collectors, when used in adequate proportion, at the gold-solution interface and a preferential adsorption of une componente (DDAHCI) in a mixed film at the gas-solution interface. The effect of this mixture (in proportion 90% DDAHCI + 10% IBXK) on the decreasing of work adhesion in the gold-aqueous solution system is more evident than in the pyrite-aqueous solution system.
Key Words: gold, pyrite, mixture of collectors, synergism, hydrophobicity
RESUMO
Estudos de adsorção na interface gás-solução e sólido-solução, a partir de soluções mistas dos coletores cloreto de dodecilamônio (DDAHCI) e isobutil xantato de potássio (IBXK), foram efetuadas através das medidas de tensão superficial e ângulo de contato. As frações molares dos coletores na interface gás-solução foram calculadas através da equação de adsorção de Gibbs. O efeito sinérgico dessas misturas na hidrofobicidade das superficies do ouro e da pirita foi investigado a partir das medidas de ângulo de contato e do conceito de trabalho de adesão. Foram obtidas evidências experimentais da interação mútua e co-adsorção sinérgica entre esses coletores na interface ouro-solução, bem como a adsorção preferencial de um componente (DDAHCI) no filme misto na interface gás-solução. O efeito decorrente da mistura (na proporção 90% DDAHCI + 10% ll3XK) na diminuição do trabalho de adesão na superficie do ouro é muito mais pronunciado do que na pirita.
Palavras Chave : ouro, pirita, mistura de coletores, sincrgismo, hidrofobicidade
308
I. INTRODUÇÃO
No processo de flotação é freqüente a utilização de dois ou mais surfatantes,
principalmente quando vários produtos são obtidos em uma usina. Algumas vezes, a interação
de dois coletores têm sido empregada para fins de maior efetividade do processo visando
reforçàr a ação do coletor principal. Alguns surfatantes orgânicos ionizáveis podem atuar, sob
condições específicas, como coletores e espumantes simultaneamente. As caracteristicas da
espuma formada na célula de flotação podem ser afetadas por um grande número de variãveis,
entre as quais se inclui a estrutura química das moléculas dos surfatantes (espumantes e
coletores) e suas interações com outros reagentes do sistema. É importante ressaltar que
mesmo uma pequena variação na composição da fase sólida pode afetar, também, o
comportamento da espuma em um sistema de flotação [I).
.Foram identificados alguns parâmetros de controle das interações entre surfatantes, a
partir de diversos estudos executados por Schulmann e colaboradores [2,3), que utilizaram um
grande número de misturas de reagentes de flotação. Esses estudos foram realizados através
da penetração de um surfatante em uma camada monomolecular insolúvel espalhada de um
outro componente. Os efeitos dessa penetração podem ser avaliados [4) injetando-se uma
solução surfatante I imediatamente próxima da camada monomolecular formada do surfatante
2: i) se não houver associação entre o surfatante injetado e a monocamada, tanto a pressão
superficial na interface gãs -líquido (tr) como a ãrea ocupada por molécula no filme (A)
permanecerão inalteradas, ii) se o surfatante I penetrar na monocamada, ou se houver uma
associação entre as partes polares e apoiares do surfatante injetado e do surfatante formador da
monocamada, 1t sofrerã uma variação acentuada e A passarã a ter um valor intermediário entre
o valor inicial da monocamada e o da monocamada mista. Através desses estudos foi
estabelecida, por exemplo, a primeira condição de interação entre surfatantes: o grupo polar
do surfatante I não poderia ser idêntico ao do surfatante 2. Em resumo, a extensão da
interação entre moléculas dos surfatantes, utilizados como coletores e/ou espumantes,
dependeria de vãrios parâmetros, tais como: a natureza dos grupos polares de I e 2 e suas
configurações estereoquímicas, forças de van der Waals entre as partes apoiares dos mesmos,
pH e a força iônica da solução.
A interação coletor-coletor e seu efeito na flotabilidade de minerais foi estudada por
Glembotskii et ai. [5]. Estes investigadores observaram um efeito sinérgico positivo ao
utilizar uma combinação de butil xantato de potãssio e oleato de potãssio na flotação de
galena. Guarnaschelli eLeja [6] estudaram o efeito sinérgico das misturas de alquil xantato de
potãssio e brometo de alquil trimetil amônio através de ensaios de adsorção utilizando
amostras de pó de cobre metãlico. Eles observaram que a adsorção de ânions xantato em pó de
cobre era favorecida quando se utilizava uma mistura equimolecular desses coletores. Monte e
309
Oliveira [7] constataram que a presença de álcoois primários, contendo entre quatro a dez
átomos de carbono em sua cadeia, aumentava acentuadamente a adsorção da amina na
superficie do cloreto de potássio. Este fato sugeriu que a interação entre o álcool e amina
ocorre 1!-a interface sólido-líquido, além do espalhamento das aminas na superficie das bolhas,
acentwida pela presença do álcool.
Embora existam alguns modelos propostos referentes à interação de surfatantes, as
condições para previsão de sinergismo em termos quantitativos é uma área de
desenvolvimento recente. Um dos poucos estudos quantitativos precursores relacionados à
interação entre surfatantes na interface gás-líquido, deve-se a Hutchinson [8], que utilizou a
equação de adsorção de Gibbs para calcular a densidade de adsorção de cada componente da
mistura binária. Recentemente, Rosen e colaboradores [9-11] desenvolveram um modelo
teórico que permite o cálculo do parâmetro de interação molecular e da fração molar de cada
componente na interface gás-solução tendo como referência a tensão superficial das soluções.
A maioria dos trabalhos posteriores estiveram orientados para o estudo de interação entre os
surfatantes na interface gás-solução (12, 13]. Existem ainda poucos estudos envolvendo a
interação dos mesmos em superficies hidrofóbicas [ 14-16] e alguns em substratos sólidos de
interesse para o processo de flotação [ 17 -19].
No presente trabalho, que faz parte de um estudo mais amplo sobre a flotabilidade de
ouro e de alguns sulfetos, foram realizadas determinações da tensão superficial de coletores
como função da concentração total da mistura na fase solução, com o objetivo de avaliar a
atividade superficial dos mesmos na interface gás-solução. Para esse fim, foi escolhida a
mistura do tipo aniônico-catiônico: cloreto de dodecilamônio e isobutil xantato de potássio. A
interação entre os coletores na interface gás-solução foi correlacionada com medidas de
ângulo de contato em superficies de ouro metálico e pirita.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
2.1 Materiais
No preparo das soluções para determinação da tensão superficial e do ângulo de contato
foi utilizada água purificada obtida através de um aparelho Labconco (modelo 90005-0 I). A
tensão superficial medida a 25°C foi de 72 mN.m -1• O cloreto de dodecilamônio (DDAHCI)
foi sintetizado no laboratório a partir de dodecilamina (98% pureza) · e em seguida foi
purificado, de acordo com a metodologia de Ozeki et ai. (20]. O cloreto de dodecilamônio
purificado foi analisado através de HPLC (high performance liquid cromatography) e
apresentou uma pureza de 99,99%. O iso butil xantato de potássio (IBXK) após purificação
através da técnica descrita por Côrtes [21], atingiu u~ grau de pureza próximo a 99,99%. Os
reagentes utilizados no controle do pH, HCI e KOH, eran1 de grau analítico.
310
Seções polidas de amostras de ouro e pirita foram preparadas, sendo o acabamento final
efetuado com pasta de diamante de granulometria 3 Jlm e com alumina de granulometria de
6 Jlm. A superfície do ouro foi rinçada com água destilada, solução sulfocrômica e finalmente
lavada exaustivamente com água purificada. O ângulo de contato para a superfície do ouro
imersa em água foi de 0°, valor esperado, segundo Bemet e Zisman [22], se forem tomadas
precauções para remover traços de compostos orgânicos ou outros contaminantes, que
porventura estejam adsorvidos na superfície de contato. A superficie da pirita foi lavada com
água destilada, metanol e, em seguida, com água purificada apresentando um ângulo de
contato de 20° quando imersa em água.
2.2 Métodos
As medidas de tensão superficial das soluções foram executadas pelo método de Du
Nouy. O aparelho utilizado foi um tensiômetro Krüss, modelo KIOT. As soluções foram
preparadas no mesmo dia das medições e efetuadas a uma temperatura de 25°C.
Ângulos de contato de equilíbrio foram medidos em um goniômetro (modelo I 00-00-
115, Ramé - Hart lnc.). Após a limpeza da superfície conforme acima descrito, a amostra era
mergulhada em uma célula de acrílico contendo a solução do coletor puro ou de suas misturas
(50 a 90% de DDAHCI) na concentração e pH requeridos, por um tempo de condicionamento
de 10 minutos. Imediatamente após, era colocada uma bolha de ar cativa em cima da
superfície imersa. Após tempo de contato de 5 minutos, os ângulos foram medidos em ambos
os lados da bolha. Este procedimento foi repetido três vezes, obtendo-se assim o valor médio
do ângulo para seis medições. Todas as medidas foram realizadas a ~ 25°C e a limpeza da
superfície era executada antes de cada variação da concentração do coletor e de suas misturas,
garantindo-se a limpeza inicial da superficie e conseqüentemente o valor inicial do ângulo
(9=0° na interface ouro-água c 9=20° na interface pirita-água). A reprodutibilidade dos
valores dos ângulos de equilíbrio foi de ±I ,5 °
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Figura I apresenta o efeito da tensão superficial em função da concentração de
DDAHCI , IBXK e para duas combinações destes coletores: i) 50% DDAHCI+ (50%) IBXK e
ii) 90% DDAHCI + I 0% IBXK. Observa-se que o IBXK possui menor tendência de se
adsorver na interface líquido-gás (y LG), isto é, não possui propriedades tensioativas. A
mistura de DDAHCI e IBXK promove uma redução da tensão superficial semelhante ao efeito
isolado do DDAHCI, mesmo para uma mistura contendo 50% destes componentes.
311
70
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! so :a 40 -
i 30 ::0
"' o 20 ..
5 I" lO
o ,0.0001
* OOAHCI puro oiBXI< puro * DOAHCI (50%)+ IBXI< (50%) + OONiCl ~) +IBXI< (1~)
0,001 0,01 0,1
Conccntreçlo de Coletor (mM)
lO 100
Figura I - Variaçao da tensão superficial em funçao da concentraçAo de DDAHCI, mXK e
para duas combinações de DDAHCI/JBXK, a 25°C e em pH -6.
O excesso superficial (Il ou densidade de adsorção na interface gás-liquido e a área (A)
ocupada por molécula do surfatante pod.em ser calculados pelas seguintes equações :
r~ 2,30~RTcli:C)T (I)
to14 A = Nr , sendo r em mol.cm-2 (2)
onde:
(2L) -coeficiente angular da reta no trecho anterior à CMC (concentração mioelar ôlogC T
critica);
R- constante universal dos gases (8,31 J.moi·•.K-1);
T - temperatura absoluta, K;
r- densidade de adsorçllo mol.cm·2;
N- número de Avogadro (6,02.1013 mo1"1).
A Tabela I apresenta os parâmetros mencionados acima. Verifica-se que os valores de
densidade de adsorçllo e da área ocupada por molécula obtidos para o mXJ< (r=9,23 x IO·IS, A=5,6 run 2
) confirmam a fraca adsorção deste coletor na interface gás-liquido,
comparada ao efeito do DDAHCI (['=3,09 x I (TIO, A=0,54 run2 ) .
3 12
Tabe.la I - Dados comparativos das propriedades superficiais dos coletorc:s DDAHCI e IBXK.
Coletor
DDAHCI
IBXK
f(moVcm2 ) CMqmoi/L)
3,09 X tO· lO 1,1 x 10·2
9,23 X )Q-IS
0,54
5,6
O método de Hutchlnson [8,10), para calcular a fraçlo molar superficial dos
componentes da mistura e a densidade de adsorçllo da monocamada mista na interface gás
liquido, é baseado na equação de adsorçao de Gibbs. Para uma solução aquosa diluída
contendo uma mistura de dois surfatantes (I e 2) a concentraçôes C1 e~ abaixo da CMC. a
densidade de adsorçto dos surfatantes I e 2 na soluç!o binária, f 1 e r2, podem ser calculados
pelas seguintes equações:
(-ôy/ôlnCt) c pT r ,, 1 = RT
(3)
( -ôy I ôln C2) c p T r " , 2 = RT (4)
onde y é a tensão superficial da soluç!o binária, p a pressllo e Ta temperatura absoluta.
A fração molar do surfatante I na monocamada mista formada na interface gãs-Uquido
Xt,s é, entlo, calculada através da equaç!o:
X =_!!__ ... r, +r1
(5)
Desta forma, pode·se calcular a densidade de adsorçAo e a fiação molar de cada
componente no sistema através do levantamento das curvas y x lnC, mantendo-se a
concentração do segundo componente constante (Figuras 2 e 3). Os valores da densidade de
adsorçAo de DDAHCI e IBXK (r1 e r2) para várias frações molares (a= C1/(C1+C2)) de suas
misturas em soluçllo sl!o apresentados na Tabela n. Utilizando·se os dados apresentados na
Figura 2 e 3 foram estimados a composição do filme misto (x 1•5) e ~ área ocupada por
molécula na interface liquido-gás (A12). Verifica-se que ocorre a adsorçto preferencial do
DDAHCI na monocamada mista, isto é, r 1 é sempre~ r 2 e ainda, Xt,s~ a. Este fenômeno era
esperado, já que o IBXK possui menor tendência de se adsorver nessa interface. Além disso,
nao houve aumento da densidade de adsorçlo e nem variação significativa na área ocupada
por molécula, quando das misturas dos dois componentes.
3 13
70
60
I g
i 40
30
~ 20t • DOAHCipu10 •llOAIO. • O,oltolo418Xlt ,..DOA!fCL + 0,1 onM IBXk
lO
o O,ol O. I I lO
ConccnllaÇio de DDAHCI (mM)
Figura 2- Variação da tensão superficial em função da concentra~ de DDAHCI, na ausência
c na preseo~ de concentrações constantes de IBXK. a 25"C e em pH = 6.
70
60
I so
i 40 "
30
j 20
lO
o 0,01
-o---o e oe o ~
0 tBXXpov
* IBXX + O,<lllmM OOAHCI • IBXX + 0,06mM DOAHCI •IBXK • Q,U.WilOAHCJ
O, I
ConcentniÇio de IBXK (mM)
lO
Figura 3- Variação da tensão superficial em função da concentraç!o de IBXX. na ausência e na presença de concentrações constantes de DDAHCI, a 2s•c e em pH = 6.
314
Tabela n- Valores de algumas fraçôes molares superficiais x1,s e da densidade de adsorçao dos componentes DDAHCI 1 e ffiXK 2 na soluçilo binária.
DDAHCI (M) ffiXK (M) a r1x1Q-10r2x1Q-10 rxJQ-10 X1,s A12 (movem2) (moVcm2) (movcm2) (nm2)
2,5.10-s 5.10"5 0,33 1,81 1,80 3,61 0,50 0,46
6.10-s 5.10"5 0,55 1,16 0,88 2,04 0,57 0,81
1.10-4 5.10-S 0,67 1,58 0,88 2,46 0,64 0,68
2,5.10"5 1.10-4 0,20 1,81 1,74 3,55 0,51 0,48
6.to·5 1.10-4 0,38 1,58 1,54 3,12 0,51 0,53
1.10-4 1.10-4 0,50 1,76 1,16 2,92 0,60 0,57
A interaçll.o entre os coletores na interface gás-Uquido foi correlacionada com medidas
de ângulo de contato para as superflcies do ouro metálico e da pirita, conforme mostra a
Figura 4, em funç!o da concentraçAo total dos coletores em soluçlo e das suas misturas. Pode
ser observado, atrav~s da Figura 4, wn acréscimo na hidrofobicidade do ouro para a mistura
naproporçAo 90% DDAHCI + 100/o IBXK..
Na Figura 5 apresenta-se o efeito na hidrofobicidade da pirita decorrente da combinaçA(.
de DDAHCl e ffiXK. Observa-se que os valores encontrados de ângulo de contato para pirita l)ll presença de misturas aproximam-se daqueles obtidos para os coletores puros. Isto significa
que nAo houve variaç!o significativa que pudesse ser atribuída a wn efeito sin~rgico.
10 OURO
j 60 OOAHClpuro
I! o IBXXpuro
$ 50 • OOAHCI (~) + IBXX (~)
o + OOAHCI (90%)+ lBXX (lO%)
s 40 c 8 " 30
"O o
"3 ... . ~ 20
10
o 0,0001 0,001 0.01 0,1
ConcentraÇio de Coletor (mM)
Figura 4 - Variação do ângulo de contato em super:flcie de o~o metálico como função da concentração de DDAHCI puro, IBXK puro e para duas combinações de
DDAHCVlBXI<, a zsoc e em pH = 6.
315
~, nm• I DDAHCI puro
1 60 o IBXK puro
• DDAHCI (50%)+ lBXK (50%) SO +DDAHCI(90%)+111XK(IO%)
! 40
-8 30 ,S!
.t 2'.)
lO
o 0,0001 0,001 0,01 0,1
Concentraçlo de Coletor (mM)
FiguraS- Variaçllo do 4ngulo de contato em superficie de pirita como funçlio da concentraçlio de DDAHCI puro, mXK puro e para duas combinações de DDAHCUlBXK, a 25°C e em pH = 6.
A equaçlo de "oung (equação 6) estabelece a condiç!o termodinâmica de equilfbrio
entre as tres fases.
r SO - r Sl = r LO cos9 (6)
onde:
y so - tensllo superficial na interface sólido - gás
y sL - tensllo superficial na inte.rface sólido - liquido
y LO - tens!o superficial na interface liquido - gás
Por outro lado, o trabalho de adesllo para uma interface sólido-liquido é dado por:
WsL = YSO +YLO -YsL (?a)
e o trabalho de coesllo da água (Wu) por:
WLL a 2YL.G (7b)
Introduzindo-se a equaçllo de Young na expressllo (7a), tem-se que:
WsL "' YLG (I+ cos9) (8)
Ou ainda, comparando-se as equações (7a) e (7b):
316
WsL = rw (l +cosO)
WLL 2rw
obtendo-se:
w. cose = 2_m...-l
WLL
(9)
(lO)
O critério tennodinâmico para a hidrofobicidade da partícula aplica-se somente para
WsL < WLL, 9 >O [23,24). 0 trabalho de coeslo da égua é tão elevado (WLL • 144 mN.m-1)
que na imensa maioóa dos casos, WsL < WLL. E ainda, quanto menor o valor de WsL maior
6 a indicaçlo de aumento da flotabilidade do mineral.
As Figuras 6 e 7 apresentam o efeito da concentraçllo dos coletores puros e de suas
misturas no trabalho de adeslo do ouro e da pirita, respectivamente. Verifica-se que menores
valores de trabalho de adesão YLO (!+cosO) sao obtidos para a mistura na proporçllo 90% DDAHCI + 10% ffiXK, e que exceto IBXK puro (que diminui muito pouco), o trabalho de
adcslo dimi.nui com o aumento da concentraçlo de DDAHCl puro c das duas misturas. Este efeito, no entanto, é mais pronunciado em relaçAo ao ouro quando comparado ao que ocom:
com a pirita. Conforme mencionado, quanto menor o valor do trabalho de ades&l maior é a
hidrofobicidade adquirida pela superficic c normalmente maiores as chances de recuperação
por flotaçlo.
OURO
I j < I DDAHCI puro .. "' oiBXXpuro
~ ' DDAHCI ($0%) + IBXX (SO%) + DDAHCI(90%) + IBXX ( lO%)
f! 90 !-
sol I I I I
0,0001 0,001 0,01 0,1
Figura 6 - Efeito da concentraçllo de DDAHCl puro, IBXK puro e de suas misturas no trabalho de adesao na superflcie do ouro, em pH=6,0.
3 17
,.....
i ~ ~ ., "'O
=ª ~ 1-
140
130
120.
110
100
90
t OOAHCI puro o IBXJ{puro
• DDAHCI (50%)+ IBXX (50%) + OOAHCI (90%) + IBXX (I~)
PIRITA
+
80 +---+---T-t-'+<t-H-H----T-t-11- 1 I I I li I I I I I I I I
0,0001 0,001 0,01 0,1
Figura 7 - Efeito da concentração de DDAHCI puro, mXK puro e de suas misturas no
trabalho de adesao na supedicie da pirita, em pH9>,0.
A Figura 8 apresenta o efeito do pH oa hidrofobicidade do ouro na presen93 dos
coletores puros JBXK e DDAHCI e de sua mistura oa proporçlo de 90% DDAHCI + 10%
lBXK. Verifica-se a diminuiçlo do valor do ângulo de contat<? na superflcie do ouro com o
aumento do valor do pH da solução na presença do coletor IDXK na concentração 0,1 mN. Como o dixantógeno não 6 estável para valores de pH maiores que 1 O,S (25], a interaçllo entre
o fon xantato e as mol6culas da amina poderia ser responsável pelo aumento do ângulo de
contato em meio alcalino, com a combinação desses coletores na proporçlo 9()0/o DDAHCl + 10%lBXK.
318
70 OURO I DDAHCI 0,1 ro"'
60 o 18XJC 0,1 mM
1 + DDAfiCI (90%)+ lllXK(I0%)0,1
50
! c 40 o u ., ~
30 o 1 .~
20
lO
o I I I I I I I I I ' o 2 6 8 lO 12
pH
Figura 8- Vaóação do 4ngulo de contato na superflcie do ouro em função do pH, na presença
de DDAHCI puro, ffiXK puro e para a combinaçllo na proporçllo de 90%
DDAHCI + 10"/o IBXK.
A pirita apresenta a possibilidade de ser recuperada por flotaçlio com aminas em meio
alc::alino, conforme demonstram os resultados apresentados na Figura 9. A pirita apresenta
c::arga negativa na faixa mais alcalina do pH e, desta forma, a amina poderia adsorver-se na
superflcie do mineral devido ao seu grupo polar c::arregado positivamente. A diminuição do
ângulo de contato da pirita eom o aumento do pH do meio, na presença de IBXK puro, pode
ser atribuída ao aumento da concentração do lon hidroxila e a conseqüente diminuição da
formação de dixantógeno [25]. A açllo dos lons hidroxila também pode explic::ar a diminuiçllo
do ângulo de contato no ouro na presença de IBXK puro (O, I mM), a partir de pH > 10 (Figura
8).
319
10
...... t ·=· l 80 tDOAHCIO,ImM
olBXXO,I mM 60 +ODAHCL (90%}+ IBXK. ( lO%) O, I mM OURO
I I
8 -8 40 o
.} 20
o o 2 4 6 8 i o 12 14
pH
Fiaura 9- VariaçAo do ângulo de contato na superfície da pirita em funçAo do pH da solução, na presença de DDAHCl puro, IBXK puro e para a combinaçAo na proporção 90% DDAHCl + 10% IBXK. (A curva referente ao 4ngulo de contato no ouro (Fig. 8) para esta combinação de coletores ~também apresentada para fins de comparação).
A mistura de ambos os coletores, IBXK e DDAHCI, não promoveu um aumento
significativo do ângulo de contato da pirita para a ampla fa.ixa de pH estudada (Fjgura 9). Isto
sugere que a adsorção dessas misturas no ouro em meio mais alcalino, efetua-se através de um
mecanismo diferente, quando comparado ao que ocorre com a pírita. Considerando o efeito
dessa mistura (90"/o DOAHCl + 10% lBXK) na flotabilidade do quartzo (normalmente
predominante na ganga), observa-se que a adsorção da aroma na superflcie deste mineral
ocorre na faixa de pH entre 2 e 9. Acima deste último valor, a flotabilidade do quartzo na
presença do coletor catiônico diminui cons.ideravelmente (26]. Desta forma, as diferenças
encontradas na hidmfobicidade dessas duas superfícies (ouro e pirita), na presença da mistura
e particularmente em meio muito alcalino (pH> I 0), poderia ser explorada no caso de uma
flotação seletiva de ouro em relação à pirita e também em relação à uma ganga composta
predominantemente por quartzo. Estudos neste sentido esl!o em andamento, avaliando-se
também o efeito de maiores concentrações de coletores e de coletores mais fortes.
4. CONCLUSÕES
A mistura de IBXK e DDAHCl promove uma redução da tensão superficial semelhante
ao efeito isolado do DDAHCI. Verificou-se, também, que a mistura na proporção 90"/o
DDAHCl + 10% JBXK promove um aumento na hidrofobicidade do ouro, para a ampla faixa
de pH e de concentração estudadas, o que nfto foi verificado para a pirita . .O efeito decorrente
da mistura desses coletores na diminuição do trabalho de adesão na superficie do ouro ~ muito
mais pronunciado do que na pirita.
320
REFEJd:NCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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