Post on 24-Mar-2016
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INQUÉRITO AOS HÁBITOS DE LEITURA DOS
ALUNOS DO AGRUPAMENTO VERTICAL DE
ESCOLAS DO VISO
Porto, 2010/2011
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Sumário:
Introdução ………………………………………………………………………………………………………… 3
1. Objectivos e metodologia …………………………………………………………………………………. 3
2. Ideias e atitudes face à leitura …………………………………………………………………………… 6
3. Prática de leitura ………………………………………………………………………………………………. 9
Conclusão …………………………………………………………………………………………………………..17
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Introdução
Um dos principais problemas que o Agrupamento Vertical de Escolas do Viso tem vindo a apontar nos seus
Projectos TEIP é o insucesso académico, que embora tenha vindo a diminuir, continua a preocupar toda a
comunidade escolar. Um dos aspectos que tem sido relacionado com este insucesso é a dificuldade que
alguns alunos manifestam na compreensão da leitura e na falta de hábitos de leitura.
A equipa a ler+ teve, este ano lectivo, duas preocupações para as quais orientou o seu trabalho: uma,
tentar perceber as dificuldades na leitura no 1º ciclo e no 5º ano; outra, conhecer os hábitos de leitura. No
primeiro caso aguardamos o estudo que está a ser desenvolvido em parceria com o Instituto da Criança, da
Universidade do Minho, para podermos fazer uma proposta de intervenção.
No segundo caso, a equipa aLer+ realizou um inquérito aos hábitos de leitura que aplicou do 2º ano ao 9º
ano, em todas as escolas do Agrupamento.
As actividades que temos desenvolvido têm procurado promover a leitura em contexto escolar, quer ao
nível da sala de aula, quer nas bibliotecas escolares do Agrupamento. No entanto consideramos, que
embora já tardiamente, era importante conhecer as ideias e atitudes face à leitura e à prática dos nossos
alunos.
Esperamos que este trabalho nos permita definir com mais clareza as práticas a desenvolver no âmbito da
leitura quer nas bibliotecas quer nas turmas.
O objectivo deste estudo limita-se a analisar os hábitos de leitura das crianças e jovens que frequentam o
nosso agrupamento com idades compreendidas entre os 6/7anos e os 15anos.
1. Objectivos e metodologia
Objectivos gerais deste estudo:
Com este trabalho pretendemos essencialmente obter respostas para as seguintes questões:
Como encaram a leitura os alunos?
Existem hábitos regulares de leitura?
Quais os motivos porque não lêem?
Quais os motivos que os levam a escolher um livro?
Qual a percentagem de leitores entre os alunos dos diferentes níveis de escolaridade?
Que tipo de livros preferem os alunos dos diferentes ciclos?
Falam sobre as suas leituras com os amigos?
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Metodologia
Os inquiridos
Para obter respostas significativas considerou-se indispensável que o estudo abrangesse todas as escolas
do agrupamento e todos os anos. No caso dos alunos do Pré-escolar e 1º ano aplicaram-se inquéritos aos
encarregados de educação, mas ainda não é possível apresentarmos os dados.
O questionário
Inicialmente foi pensado para conhecer também os hábitos da família, mas devido a dificuldades no seu
tratamento restringiu-se apenas aos hábitos dos alunos e foi constituído por 15 questões para o 2º e 3º
ciclo e por 12 para o 1º ciclo.
Nas questões 4 e 5 tentámos analisar as respostas por géneros. Teria sido interessante fazer este tipo de
análise em todas as questões, mas não foi possível.
Os inquéritos foram respondidos ou na Hora do Conto, na Biblioteca, ou aplicados em turma pelos
professores, que trataram os dados da turma. No caso do 2ºe 3º ciclo foi o professor de matemática, umas
vezes com os alunos, outras, eles próprios, que fizeram a contagem dos dados da turma.
A certa altura do processo, percebemos que havia uma questão que não tinha sido colocada inicialmente
mas que nos pareceu pertinente: As atitudes e as práticas de leitura seriam diferentes nos rapazes e
raparigas? Procuramos então fazer esta distinção sempre que os dados recolhidos pelos professores o
permitissem. No caso do 1º e do 2º ciclo foi possível mas o mesmo não aconteceu no 3º ciclo, porque nem
todos os professores os tinham recolhido desta forma. Evidentemente que o erro foi nosso que deveríamos
ter dado uma grelha de recolha igual à que fornecemos ao 1º e 2º ciclo. Apesar destas falhas foi possível
obter respostas.
Graf. 1: Género por
ciclos.
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O sexo masculino é maior no 1º e 2º ciclo e o feminino no 3º. Seria talvez interessante perceber porquê. Os
rapazes abandonam os estudos mais cedo? Têm piores resultados no decorrer da vida escolar? Quais os
motivos que levam a que sendo maior o número de alunos no início da vida académica sejam as raparigas
que permanecem no sistema?
As respostas
Num universo de alunos a percentagem de respostas ultrapassou os 90%, excepto no caso do 6ºAno que
atingiu apenas 69,55%. Estes valores permitem - nos tirar conclusões significativas. O inquérito foi o mesmo
para todos os anos, excepto as perguntas xyz, que no 1º ciclo os professores entenderam que seria melhor
retirá-las.
No tratamento levado a cabo procurámos distinguir por sexo as questões “Para ti a leitura é…”; “Costumas
ler regularmente” com o objectivo de perceber as diferenças entre géneros na forma como olham para a
leitura e os hábitos de leitura. No entanto, no 3º ciclo, apenas foi possível em duas turmas esta distinção
porque os professores que recolheram os dados da sua turma apenas nos entregaram os dados finais sem
fazer a diferenciação pretendida, por isso no 3º ciclo os totais das respostas são de todos os alunos.
O número total de respostas foi o seguinte:
.
Nota: Não foram considerados os alunos dos cursos CEF e EFA(s).
O tratamento
Numa 1ª fase, os professores titulares, no 1º ciclo, e o professor de matemática, no 2º e 3º ciclo, fizeram a
recolha de dados da turma. Em seguida os dados foram tratados por anos e escola; depois por ano de todas
as escolas (1º ciclo) e por fim por ciclo. No 2º e 3º ciclo o tratamento foi realizado por anos e por ciclos. No
final analisaram-se os dados procurando comparar os resultados por ciclos.
Total de alunos inscritos por ano e ciclo no Agrupamento
2º Ano
3º Ano
4º Ano
5º Ano
6º Ano
7º Ano
8º Ano
9º Ano
Total de alunos por ano
96 122 139 101 82 86 51 55
Total de alunos por ciclo
357
183
192
Nº de inquéritos respondidos e %
2º Ano
3º Ano
4º Ano
5º Ano
6º Ano
7º Ano
8º Ano
9º Ano
89 114 128 70 57 64 49 53
92% 93% 92% 91% 69,5% 74,5% 96% 96%
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2. Ideias e atitudes face à leitura
Como ponto de partida para esta análise a primeira interrogação a fazer refere-se ao conjunto de
representações que os nossos alunos possuem acerca do acto de ler e que pode condicionar a prática
individual de leitura. O nosso questionário incluía uma questão a partir da qual se procurava aferir a ideia
que cada um tinha em relação à leitura. A questão nº 4 pedia aos inquiridos que situassem o seu grau de
concordância relativamente a 4 hipóteses:
Para ti a leitura é:
Um prazer;
Uma obrigação;
Um aborrecimento;
Uma distracção.
Graf.2: O que é para ti a
leitura
Conforme se torna evidente no gráfico 2, a ideia que os alunos mais associam à leitura é, em primeiro lugar,
a da leitura como prazer (73% no 1º ciclo; 65% no 2º)e no 3º ciclo como distracção, (35,9%)logo seguida
pelo prazer( 33,8).
A passagem do 2º ciclo para o 3º ciclo acentua as diferenças. A distribuição pelas hipóteses apresentadas é
maior. A ideia da leitura como prazer diminui de acordo com o ano de escolaridade. Assim para 34,5% do
7º ano, decresce no 8º para 25,5% e no 9º para 19,8%. No caso do 9º ano a distribuição é igual na leitura
como prazer e como aborrecimento. No 8º ano a leitura é vista mais como uma distracção.
Estamos, assim, face a uma representação de leitura, nos 3 ciclos, que julga o acto de ler como um prazer e
como uma distracção (3º ciclo). Contudo ao analisarmos as respostas que relacionam a leitura como um
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aborrecimento encontramos diferenças significativas, sobretudo no 3º ciclo. Enquanto no 1º ciclo a
percentagem de respostas é de 8,9%, no 2º, é de 4% e no 3º ciclo é de 20,7%.
Gráf.3: A leitura
como aborrecimento
Observando as respostas dadas por ano, no 3º ciclo, percebe-se que é no 9º ano que a ideia de
aborrecimento aumenta significativamente 32,1%, contra 14% no 7º e 14,3% no 8º ano.
Gráf.4: 3º Ciclo
De uma forma geral estes dados confirmam a ideia generalizada de que há uma alteração na visão da
leitura no período da adolescência. É uma fase de descoberta de outros interesses. O próprio mercado
livreiro nos dá conta disso. Há muito mais obras de qualidade e autores que escrevem para crianças do que
para jovens.
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Fazendo a distinção por género, no 1º e 2º ciclo, verifica-se que a ideia de prazer na leitura aumenta nas
respostas das raparigas no 2º ciclo, enquanto que no 1º ciclo praticamente não há distinção por sexo.
Gráf.5:
Distinção
por
género, no
2º e 3º
ciclo
Desta análise podemos concluir que:
A atitude dos nossos alunos perante a leitura é positiva. Nos três ciclos associam o prazer e a
distracção ao acto de ler.
A comparação das respostas por sexo mostra que são as raparigas que mais vêem a leitura como
um prazer.
Na entrada na adolescência de uma maneira geral, e em particular nos rapazes, dá-se uma
alteração na forma de olhar a leitura, que pode ser preocupante. O número de jovens que a
vêem como um aborrecimento é significativo.
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3. Prática de leitura
Analisados os significados atribuídos à leitura pelos nossos alunos, vamos determo-nos agora nas práticas
propriamente ditas.
A declaração de uma prática habitual de leitura de livros é diferenciada segundo o ciclo de estudos. No 1º e
2º ciclo os valores são aproximados (70,3% e 51,4% respectivamente) enquanto no 3º ciclo o nº dos que
não lêem é mais significativo, do que o daqueles que dizem ler (52,6% afirma não ler enquanto apenas
32,3% dizem fazê-lo.). É notória a tendência para uma acentuada diminuição das práticas de leitura no 3º
ciclo, que decresce segundo o ano de escolaridade.
Gráf.6:
Regularidade da
leitura
No 3º ciclo a percentagem dos que dizem ler e dos que afirmam não ler mostra que, apesar da tendência
ser não ler, ela é gradativa e acentua-se no 8º e 9º ano.
Gráf.7: 3º Ciclo
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Estes valores acompanham a tendência nacional em que é notória uma acentuada diminuição da prática
de leitura de livros à medida que aumenta a faixa etária dos alunos. Teria sido interessante comparar a
leitura de livros com a leitura noutros suportes (revistas, jornais, Internet..).
A declaração de uma prática regular de leitura é igualmente diferente entre sexos. Já no 1º ciclo se começa
a notar essa distinção. A maioria das respostas mostra que são as raparigas que afirmam mais ler. Mesmo
no 3º ciclo, com base nas turmas em que temos dados diferenciados por sexo, são quase na totalidade
raparigas que afirmam ler.
Gráf. 8: Distinção por
género dos hábitos de
leitura.
No 1º e 2º ciclo, em que foi possível fazer a distinção por sexos, 82,5% e 91,7% das raparigas do 1º e 2º
ciclo respectivamente afirmam ser leitoras habituais contra 58,2% e 31,3% dos rapazes dos mesmos ciclos.
Graf. 9: Motivos para
não ler
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Relativamente aos não leitores, isto é, aqueles que dizem não ler nunca livros não escolares, na pergunta
que procura encontrar os motivos para a não leitura, conforme podemos observar no gráfico, a opção
“prefiro fazer outras coisas” é a mais frequente.
Comparando os motivos por ciclo verificamos que:
no 1º ciclo: o 1º motivo são as dificuldades na leitura (9,3%), seguida já pelo “prefere fazer outras
coisas (7,6%);
no 2º ciclo: a maioria das respostas apontam já para “prefiro fazer outras coisas”(15,7%), embora
12,6% refiram que têm dificuldades na leitura ou em compreender o que lê.
No 3º ciclo: o motivo mais frequente é claramente o “prefiro fazer outras coisas”(40,4%), seguido
pelo “não me apetece e canso-me facilmente”(16,3%)Esta é uma tendência que se tem vindo a
observar no 3º ciclo, ou seja, um progressivo afastamento da leitura nestas faixas etárias. Contudo,
convêm destacar os 7,8% de alunos que referem como motivo o terem dificuldades em
compreender o que lêem.
Para além desta análise de motivações para a leitura, o inquérito solicitava também aos alunos um
testemunho menos subjectivo, relativo às suas práticas efectivas de leitura. Com efeito, os alunos eram
questionados sobre a leitura ou não de livros no próprio momento da aplicação do inquérito, sendo-lhes
também solicitado a identificação do autor e título que se encontravam a ler.
Gráf. 10: Prática
de leitura
Ao compararmos estas respostas com as apresentadas no gráf. 6, verificámos que no 1º ciclo, a
percentagem dos que declaravam ler (70,3%) com os que agora dizem estar a ler, baixa para os 49,9%. No
2º ciclo afirmavam ler 51,4% ,e na resposta a esta pergunta, só 38,3% dizem estar a ler. No 3º ciclo, dos que
se declaravam leitores, (32,3% ), apenas 25% respondem que estão a ler.
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No pedido que é feito para que indiquem o título e o autor do livro que estão a ler, no 2º e 3º ciclo nota-se
uma descida no número de leitores atentos (poucos indicam o nome do autor e o título da obra). No 1º
ciclo, os professores entenderam retirar esta questão, provavelmente porque não podemos falar ainda de
leitores no 1º ciclo, embora já os haja, porque a leitura é pouco autónoma nas nossas EB1(s).
Apesar da variedade de autores e títulos indicados, é possível discernir uma clara preferência pelos contos
e livros de aventura e mistério. Os autores que aparecem mais referenciados no 5º e 6º ano, foram Ana
Saldanha e Sophia de Mello B. Andersen, o que nos sugere, contrariamente ao que tinham afirmado
anteriormente, que escolhiam os livros pela capa e não se notava nenhuma interferência da escola, as
respostas agora dadas sugerem a influência da Biblioteca escolar e das aulas de Língua Portuguesa. No 3º
ciclo, o género preferido é claramente, o romance de suspense e mistério . A escritora mais referida é
Stephanie Meyer . Surge igualmente Ana Saldanha, que foi uma sugestão da biblioteca este ano lectivo.
Como seria de esperar a percentagem dos leitores, anteriormente identificados, baixa consideravelmente
face a estas questões mais específicas, onde para além da declaração de leitura era também necessário
identificar o autor e o título daquilo que se lê. Consideramos assim que a diferença entre os que dizem ler e
os que efectivamente lêem determina os leitores mais regulares.
Aos alunos era também pedido que indicassem a razão pela qual tinham escolhido o seu último livro lido. A
partir do gráfico 11 é possível observar, que no 3º ciclo, a recorrência do “interesse pelo tema” (38,6 %),
como justificativo da leitura seleccionada, dá uma imagem de segurança pessoal nas escolhas, seguida
pelo” A capa chamou-me atenção”( 21,1%) . No caso do 2º ciclo inverte-se a situação, sendo o motivo mais
escolhido a capa do livro (33,1%), e o segundo motivo o tema (29,9%).
Gráf. 11:
Motivo da
escolha do
último livro
lido.
Todas as outras razões, em ambos os ciclos, são residuais, nomeadamente a leitura seleccionada por
conselho dos pais ou dos professores. Isto poderia assinalar uma crescente perda de importância de
instituições como a escola e a família na definição dos hábitos e preferências de leitura de livros. Contudo,
quando foi pedido a indicação do autor e título do livro, na questão anterior, notou-se que no 2º ciclo é
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importante a influência da escola. Já no 3º ciclo talvez possamos associar o motivo da escolha, no caso do
3º ciclo, à busca de afirmação da própria individualidade. Esta pergunta foi retirada no 1º ciclo .
Regularidade da leitura
Foi também pedido aos alunos que respondessem a um conjunto de questões sobre a regularidade com
que liam. Começamos por analisar o número de livros lidos no último ano. (Esta questão não foi formulada
no questionário aplicado no 1º ciclo). A hipótese mais assinalada, tanto no 2º como no 3º ciclo, foi a de 3 a
5 livros por ano (35,4% e 33,7%, respectivamente). Continua a verificar-se que os alunos do 2º ciclo lêem
mais do que os do 3º ciclo. É significativa a diferença de valores nas respostas dos que não leram nenhum
livro: 6,3% no 2º ciclo e 25,3% no 3º ciclo.
Gráf. 12:
Quantidade de livros
lidos num ano.
Da mesma forma, quando questionados “há quanto tempo terminaste de ler o último livro”, 50,4% dos
alunos do 2º ciclo respondeu que há menos de um mês, enquanto durante o mesmo período, só, 16,9% dos
alunos do 3º ciclo declarou fazê-lo. A opção com mais respostas neste ciclo foi há vários meses (25,3%).
Gráf. 13: Há
quanto tempo leu
o último livro.
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Relativamente ao tempo dedicado à leitura por semana, a maioria dos alunos lê durante pouco tempo. No
1º ciclo, 31,4% lê entre meia hora ou menos, e 28,7% entre meia hora e 2 horas por semana. No 2º ciclo os
valores sobem ligeiramente, nos mesmos tempos (44,1% e 32,3%). A percentagem dos que não lêem é
semelhante nos dois ciclos. Mas agrava-se significativamente no 3º ciclo 29,5%. O tempo que a maioria dos
alunos dedica à leitura é meia hora ou menos, o que permite afirmar que só a uma pequeníssima
percentagem de alunos do 3º ciclo poderemos considerar leitora.
Gráf. 14: Tempo
dedicado à
leitura.
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Género de livros lidos
O questionário solicitava aos alunos dos três ciclos a indicação de três géneros de livros, que
fossem objecto da sua leitura habitual.
Um primeiro olhar sobre o escalonamento das preferências de leitura de livros mostra uma clara
preferência no 1º ciclo pelo género Conto “Histórias de animais /fábulas”(34,7%),Histórias
tradicionais/contos de fadas (33,2%) Contos (29,6%) Num segundo plano, embora ainda relevante,
encontra-se a preferência pela Banda Desenhada (29%). No 2º ciclo a preferência vai para os livros de
Aventuras/Viagens/ Explorações (50,4%), logo seguida pelo Terror/Mistério (36,2%) e a poesia (31,5%). Este
valor é para nós significativo, porque difere do habitual em jovens desta faixa etária e sobretudo num
contexto sócio-cultural como é o nosso. Acreditamos que tal se deve ao investimento feito pela biblioteca e
professores neste domínio. No 3º ciclo a preferência recai sobre os livros de Terror/Mistério.
Graf. 15:
Preferências de
leitura
A idade assume-se, mais uma vez, como uma variável significativa na discriminação do género de livros
lidos pelos nossos alunos.
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Amigos
Sendo do conhecimento geral a importância das relações de convivialidade e de amizade com
outros do seu nível etário na definição das suas práticas e preferências, julgámos por bem introduzir duas
questões no inquérito que nos permitisse determinar o grau de influência dos amigos sobre os hábitos de
leitura das crianças e jovens do nosso Agrupamento. Baseámo-nos, em 3? Indicadores: o hábito de leitura
dos amigos, a presença da leitura nas conversas com os amigos e a influência destes na escolha da leitura.
Gráf. 16: Frequência
de leitura dos amigos.
Quando inquiridos sobre os hábitos de leitura dos amigos, 77,6% dos alunos do 1º ciclo afirmam que
aqueles lêem frequentemente, e 20,2% não o fazem. No 2º ciclo, 80,3% dos amigos lêem, e apenas 18,9%
não. No 3º ciclo, 38% dos amigos lêem frequentemente mas 47% não o fazem. Estes valores poderiam
apontar para a importância que a leitura tem entre os nossos alunos, contudo a análise à questão seguinte
vem de certa forma contrariar esta ideia. Quando questionados sobre se era costume falarem sobre livros,
as respostas foram preocupantes. No 1º ciclo responderam “Raramente” (21,5%) e” Nunca “(27,8%). A
situação no 2º ciclo é semelhante (Raramente 44,1% e Nunca 15,7%). Responderam “ Muitas vezes”,
apenas 13,6% no 1º ciclo e apenas 3,1% no 2º ciclo. No 3º ciclo, definitivamente, o assunto livros não é do
interesse dos nossos jovens. Responderam “Raramente” e “Nunca” 36,1% e 34,3% ,ou seja, a grande
maioria. Apenas 1,2% fala muitas vezes e 15,1% algumas vezes.
Gráf. 17: Conversa
sobre livros entre os
amigos.
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Conclusão
Este estudo foi visto desde o início como uma pequena contribuição para a caracterização
dos hábitos e práticas de leitura das crianças e jovens que frequentam o nosso Agrupamento.
Em termos gerais e de forma algo esquemática, podemos dizer que os nossos alunos do 2º
ao 9º ano apresentam traços de relação com a leitura próximos daquilo que se conhece ser o
padrão geral das crianças e jovens de ambientes urbanos e oriundos de meios culturalmente
desfavorecidos. Assim, a leitura tem, entre estes jovens, uma presença limitada no conjunto das
suas práticas dominantes de ocupação de tempos livres. No seu todo, os inquiridos apresentam
índices baixos de prática habitual de livros, sendo de assinalar uma vantagem das raparigas e dos
alunos de mais tenra idade. Um facto, que nos parece comum ao que habitualmente se afirma, é
uma acentuada diminuição da prática de leitura de livros à medida que aumenta a faixa etária dos alunos.
Os leitores (os que no momento do inquérito liam) representam cerca de 50% no 1º e 2º
ciclo e 25% no 3º ciclo. São maioritariamente as raparigas que lêem. A sua leitura é
predominantemente Conto, Aventura e Romance de mistério, de acordo com a sua faixa etária.
Contudo o número de livros lidos por ano e o tempo dedicado à leitura é manifestamente pouco.
Dentro dos que afirmam ler, parecem-nos ser leitores pouco atentos, porque não identificam ou
identificam com pouca precisão o autor e título do livro que estavam a ler. Um aspecto que nos
leva a interrogar é sobre as razões da não leitura por parte de um grande grupo de alunos. Se
recorrermos directamente às respostas obtidas, ressaltam várias razões dependendo do nível de
ensino. No 1º ciclo o principal motivo é as dificuldades na leitura; no 2º ciclo, apesar da maioria das
respostas ser “preferir fazer outras coisas”, também 12,6% referiram que têm dificuldades na leitura ou em
compreender o que lêem. No 3º ciclo, embora maioritariamente apresentem como motivo para não ler o
preferir fazer outras coisas e o “não me apetece e canso-me facilmente”, existem 7,8% que apontam como
motivo o terem dificuldades em compreenderem o que lêem. Este aspecto pareceu-nos importante porque
se prende com o ensino da compreensão leitora, de que os professores do 1º ciclo e do 5º ano de L.P tanto
ouviram falar. Não há dúvida que há trabalho diferente a desenvolver. Mas poderá haver outras razões
para a não leitura. O facto de os nossos alunos lerem menos do que seria desejável não pode ser desligado
do contexto social em que se integram. Sabemos que os nossos alunos vivem em bairros sociais, onde
o nível de instrução é baixo e elevado o grau de iliteracia. Estes défices culturais e educativos da
comunidade constituem certamente razões para a não motivação para a leitura. Este facto obriga
a que a escola tenha um papel crucial na aproximação dos nossos alunos à leitura.
As actividades que as escolas e jardins do Agrupamento têm vindo a aplicar no
desenvolvimento das competências de leitura e na sua motivação, são já reflexo da necessidade
sentida por todos os professores. Mas não tenhamos dúvidas: não se formam leitores se antes não
os ensinarmos a ler e a compreender. É urgente esta intervenção na área da leitura. Não podemos
continuar a justificar o insucesso com as condições sócio-económicas e culturais do meio. Os
projectos de leitura das turmas têm que ser consistentes e envolver todos os professores das
turmas. O diagnóstico atempado pelo conselho de turma das dificuldades na leitura, a
caracterização por aluno dessas dificuldades, a clarificação do tipo de dificuldades, a definição de
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estratégias a seguir para a recuperação dos alunos com dificuldades, o conhecimento dos hábitos
de leitura (preferências de leitura, tempo dedicado à leitura por semana, etc.) constituirão a base
para a criação do projecto de leitura das turmas.
Esperamos contar com a colaboração de todos os professores na análise dos dados aqui
apresentados e sugestões de intervenção no domínio da leitura, da compreensão da leitura e na
aproximação dos livros, de forma a desenvolver práticas de leitura. No fundo a formar leitores e
por isso cidadãos livres.