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INFO 23Revista informativa da Ordem dos Engenheiros REGIÃO NORTE
TRIMESTRAL • JAN FEV MAR 2011 • € 2
75 ANOS NA OEE NO MUNDO A Ordem dos Engenheiros, enquanto
associação atenta, aceita e defende
que a Engenharia é uma área de
actuação e intervenção, objecto de um
só espaço profissional.
Editorial
ACTOS DE ENGENHARIAINFORMÁTICAPROSPECÇÃO GEOTÉCNICAMOTA-ENGIL ENGENHARIA ECONSTRUÇÃO SAProfissional
CIDADES DO FUTUROPATOLOGIAS EM FACHADAS Científico
DOURO PORTUGUÊS INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃOSocial
3
INFO23JANEIRO FEvEREIRO MARçO 2011
PROPRIEDADE:Ordem dos Engenheiros Região Norte
DIRECTOR:António Carlos Sepúlveda Machado eMoura (director.info@oern.pt)
SUBDIRECTOR:Miguel Moreira da Silva
CONSELHO EDITORIAL:Fernando Manuel de Almeida Santos,António Carlos Sepúlveda Machado e Moura,António Acácio Matos de Almeida,Carlos Pedro de Castro Fernandes Alves,Carlos Alberto Sousa Duarte Neves,Vítor Manuel Lopes Correia,Maria Alexandrina Silva Meneses,Manuel Joaquim Reis CamposJoaquim Manuel Veloso Poças Martins,José Fernando Gomes Mendes,João Abel Peças Lopes,Nuno Bravo Faria Cruz,José António Couto Teixeira,José Tadeu Marques Aranha,Tiago André da Silva Braz,Ricardo Jorge Silvério Magalhães Machado,Sérgio Bruno de Araújo Gonçalves da Costa,Rosa Maria Guimarães Vaz da Costa,Luís Manuel Montenegro de Araújo Pizarro,Vítor António Pereira Lopes de Lima,Amílcar José Pires Lousada
COORDENAÇÃO OERN:Alexandra Castro Alves(direccao.executiva@oern.pt)
REDACÇÃO OERN:Miguel Ângelo Sousa(marketing.comunicacao@oern.pt)Joana Soares(comunicacao@oern.pt)
REVISÃO: Serviços OERNRevisão Imprensa - Rui Feio (assessoria.imprensa@oern.pt)
GRAFISMO:MAV2D
MAQUETIZAÇÃO/IMPRESSÃO EPRODUÇÃO:Multiponto, S.A.
PUBLICAÇÃO TRIMESTRAL:Edição nº 23 de Março de 2011.Tiragem: 13 000 exemplares.ICS: 113324. Depósito legal: 29 299/89.
SEDE: Rua de Rodrigues Sampaio, 1234000-425 Porto.Tel. 222 071 300. Fax. 222 002 876.http://www.oern.pt/
DELEGAÇÃO DE BRAGA:Rua de S. Paulo, 13 – 4700-042 Braga.Tel. 253 269 080. Fax. 253 269 114.
DELEGAÇÃO DE BRAGANÇA:Rua Alexandre Herculano, 138 - R/C F.5300-075 Bragança. Tel. 273 333 808.
DELEGAÇÃO DE VIANA DO CASTELO:Av. Luís de Camões, 28 - 1.º / sala 14900-473 Viana do Castelo.Tel. 258 823 522.
DELEGAÇÃO DE VILA REAL:Av. 1.º de Maio, 74/1.º dir.5000-651 Vila Real. Tel. 259 378 473.
SU
MÁ
RIO
4 EDITORIAL
75 ANOS NA OE E NO MUNDO
6 NOTíCIAS
PROFISSIONAL
14 SObRE OS ACTOS DA PROFISSÃO
NO âMbITO DO COLéGIO DE ENGENhARIA INFORMáTICA
20 «PROSPECçÃO GEOTéCNICA.
CONTINUAR O PASSADO OU RE-INvENTAR O FUTURO?»
24 MOTA–ENGIL ENGENhARIA E CONSTRUçÃO
«SOMOS O qUE FAzEMOS»
CIENTíFICO
28 CIDADES DO FUTURO
36 PATOLOGIA EM REvESTIMENTOS DE FAChADA
SOCIAL
42 DOURO PORTUGUêS:
O RIO E A SUA REGIÃO
50 A PERDA DE TRADIçÃO E A FALTA DE AçÃO SOCIAL
NA INDúSTRIA DA CONSTRUçÃO
CAPA Parque Nacional Peneda Gerês(foto: Francisco Piqueiro / Foto Engenho Lda.
Carta IGeoE Nº 30)
4 INFO 23 • JAN FEv MAR 2011
E D I T O R I A L
75 ANOS NA OE E NO MUNDO Fernando
de Almeida Santos
Presidente
do Conselho Directivo
da Região Norte da Ordem
dos Engenheiros
Portugal, Ordem dos Engenheiros, 75 anos. Uma associação profissional que desde 1936 é um marco
na promoção da Engenharia. Se contabilizarmos os anos de existência da Associação dos Engenheiros
Civis que foi sua precursora verificamos que a profissão de engenheiro é reconhecida como acto de con-
fiança pública de forma organizada, desde o século XIX, tendo percorrido até aos dias de hoje, 3 séculos.
Muito aconteceu no mundo nestes 3 séculos e mesmo nestes últimos 75 anos, coincidentes com
a existência da Ordem dos Engenheiros, que esteve sempre em permanente evolução e mudança
atravessando gerações. O século XX, tido como o século do conhecimento, foi para a nossa existência
na era moderna o que mais contribuiu para todas essas mudanças. Foi esse conhecimento que per-
mitiu uma melhoria de condições na população mundial a par com o aumento da esperança média
de vida, a prosperidade de muitos povos e a descoberta de novas formas de vida. Um valor inexcedível
do ponto de vista social, económico e humano.
Muito desse mérito se deveu à ciência e ao engenho. O contributo da engenharia e dos engenheiros
permitiu todo o desenvolvimento da mobilidade e comunicação, levando a novos desígnios de cidada-
nia e criando em muitos locais do mundo níveis de desenvolvimento e prosperidade invejados por
aqueles que não alcançaram esse desígnio.
Este desenvolvimento e riqueza têm também criado ao longo dos tempos desigualdades e diferen-
ças que se refletem nas nações e por conseguinte nas pessoas. é um ónus que não tem que ser
“pago” pelos menos capazes. O desenvolvimento também tem que ser capaz de gerar formas de dis-
tribuição de meios, e proporcionar capacidades, respostas e alternativas construtivas aos mais desfa-
vorecidos. Certamente que havendo diferenças de capacidades e/ou oportunidades, uns, sem prejuízo
do seu desenvolvimento, devem ser capazes de apoiar e alavancar os outros.
Actualmente este fenómeno é acentuado pela globalização. A globalização ou “aldeia global” tem
sido tomada como a interdependência acelerada e a intensificação do entrelaçamento entre economias
e sociedades, de tal modo que os acontecimentos de um estado têm impacto directo noutros. é o
mundo em processo de encolhimento através da erosão das fronteiras, das barreiras geográficas e da
actividade sócio-económica.
O paradigma mudou radicalmente. Já não se pode apelidar de comunidade apenas ao meio e
espaço locais onde habitamos, actuamos ou estamos inseridos, sendo que hoje em dia são concep-
tualmente e efectivamente mais alargados. A comunidade do passado não tem o mesmo significado
da comunidade actual. hoje em dia circulamos em comunidades “virtuais”, interagimos com interlo-
cutores que nunca vimos, muitas vezes oriundos de zonas do globo com realidades completamente
diferentes das nossas, sem que isso signifique perda de identidade cultural com os mesmos e com a
particularidade de em muitos casos se partilharem princípios muito mais identificadores entre si do
que eventualmente com alguém que esteja mais próximo fisicamente.
O mundo estigmatizou-se e a competitividade entre estados ou pessoas tornou-se num expediente.
A individualização ou a centralização no individuo tornou-se o referencial. A sociedade, em muitos
A Ordem dos Engenheiros, enquanto associação atenta, aceita e defende que a Engenharia é uma
área de actuação e intervenção, objecto de um só espaço profissional.
5
casos, desmaterializou-se. Portugal, um país dito “periférico” no contexto europeu (não concordo),
acompanhou na íntegra toda esta alteração mundial.
Foram 75 anos nos quais o mundo mudou e Portugal mudou, mudou para melhor, não tenho dúvi-
das. Mas muitas das boas condições criadas aos cidadãos são também muitas vezes geradoras de
problemas/necessidades de mudança. A sociedade actual impõe que se viva mais da imagem que do
conteúdo (é mais vantajoso parecer que ser), que se viva mais de estatísticas que de resultados efec-
tivos, que se dê mais valor a factores quantitativos que qualitativos.
A Ordem dos Engenheiros também tem mudado. Não de forma tão célere como desejável, é um
facto! Ainda estão por empreender muitas mudanças e ultrapassar algumas visões cristalizadas, mas
o facto da sociedade se tornar paulatinamente mais individualista responde inteiramente àquela velha
pergunta dos menos envolvidos e mais desatentos: “Para que serve a Ordem?”
A verdade é que de certa forma a Ordem dos Engenheiros tem ficado, em algumas circunstâncias, num
“dolce fare niente” ou numa visão “romântica” de uma sociedade que já não corresponde à actual. Esta visão
saudável, mas infeliz e erradamente ultrapassada pelas decisões políticas e imposições sociais, permite à OE
manter-se como defensora dos princípios que versam a importância dos conteúdos, resultados e qualidade,
em detrimento da imagem, das estatísticas ou de qualquer tipo de massificação, seja ao nível do produto ou
das pessoas. O produto da Ordem dos Engenheiros é uma pessoa qualificada denominada ENGENhEIRO.
Por vontade, estratégia ou atitude, os governantes políticos tendem a subverter, por regra, critérios
de exigência por resultados quantitativos. Mais uma vez Portugal não é excepção. Para um governante,
infelizmente, é mais fácil nivelar um processo para uma qualidade inferior, com o intuito da mostra de
resultados em detrimento de uma intervenção concertada de acordo com exigências efectivamente
necessárias e proveitosas. Seja como for, haverá sempre níveis de intervenção diferenciados, por mais
que estes sejam “encapotados” por vias legais menos claras.
Na engenharia também há níveis de qualificação profissional, baseados, naturalmente, em pressu-
postos de habilitações académicas iniciais. Não se pode defender como igual o que é diferente. O Estado
português cometeu este erro, um bacharelato é agora uma licenciatura e uma licenciatura é agora nada
mais que uma licenciatura. Simplificando, o bacharel passou a licenciado. Com esta novidade Portugal
evoluiu, no “papel” claro! A tal cultura das estatísticas... O curioso é que até a própria estatística pode ser
traiçoeira, pois na realidade, Portugal, com esta analogia criou mais licenciados. Mas é também por isso
que há mais licenciados desempregados. A estatística não diferenciou, mas a procura SIM.
A Ordem dos Engenheiros, enquanto associação atenta, aceita e defende que a Engenharia é uma
área de actuação e intervenção, objecto de um só espaço profissional e portanto também deveria ser
objecto de uma só Associação Profissional. De facto, como outras áreas de actividade profissional com
uma só Ordem para os respectivos actos profissionais, também a Engenharia, sendo um só espaço
profissional, deveria ter uma só Ordem dos Engenheiros. A diferença não está no espaço da Engenha-
ria, mas nos níveis de competência ou qualificação profissional para os respectivos actos, pois não
deve ser reconhecido de igual forma o que na realidade não é igual.
Com a atribuição estatutária de regulamento da profissão, esta Associação Profissional está consciente
destas diferenças e encontra-se apta à sua prossecução decorrente da mudança verificada. Sem criar
níveis de qualidade terá forçosamente que criar níveis de qualificação profissional resultantes das diferentes
competências obtidas, com base nas habilitações académicas adquiridas. Esta vontade não invalida a não
aceitação da indiferenciação imposta pelo estado através de alguns reconhecimentos duvidosos e possi-
velmente manobrados permitindo que alguns “não” engenheiros passem a “verdadeiros” engenheiros.
A Ordem dos Engenheiros está na verdade em profundo processo de mudança. visa assumir-se
definitivamente como o espectro da profissão de engenheiro em Portugal, não só para todo o espaço
engenharia mas também a todos os níveis de qualificação na intervenção. A Região Norte da Ordem
dos Engenheiros não deixará de ser um marco neste desígnio.
bom ano de aniversário
boa leitura e saudações de engenharia.
6 INFO 23 • JAN FEv MAR 2011
NO
TíC
IAS
ORDEM DOS ENGENHEIROSDEbATEU ADMISSÃO DEMEMbROS
As alterações legislativas no Ensino
Superior decorrentes do “Processo
de bolonha” e a admissão de mem-
bros à Ordem dos Engenheiros (OE)
dominaram o ciclo de debates pro-
movido pelo Conselho Directivo
Nacional da Ordem dos Engenheiros
em colaboração com as Regiões e
Secções Regionais, que se realiza-
ram em todo o território nacional,
durante os meses de Janeiro e Feve-
reiro, subordinados ao tema “Estra-
tégia para o Enquadramento Profis-
sional”.
A Ordem dos Engenheiros – Região
Norte acolheu estas sessões no mês
de Janeiro: dia 11 no Auditório
Paulo quintela, em bragança; dia
12 no Auditório do Museu D. Diogo
de Sousa, em braga; dia 18 no hotel
MiraCorgo, em vila Real; dia 19 no
Auditório da Escola Superior de Tec-
nologia e Gestão, em viana do Cas-
telo; e dia 26 no Auditório da Sede
Região Norte, Porto.
Estiveram presentes nas sessões de
debate os vice-Presidentes, Eng.º
José vieira e Eng.º victor Gonçalves
de brito, o Presidente do Conselho
Directivo da Região Norte, Eng.º
Fernando de Almeida Santos, e os
Delegados Distritais da Região
Norte.
O “Processo de bolonha” e a fun-
dação, em 2007, da Agência de
Avaliação e Acreditação do Ensino
Superior vieram colocar novos
desafios à Ordem dos Engenheiros
relacionados com a admissão e
qualificação dos Engenheiros, tor-
nando fundamental uma revisão da
organização e enquadramento da
regulação do exercício da activi-
dade profissional.
Com estes debates, em que os
profissionais da Ordem foram aus-
cultados, a OE procurou encontrar
resoluções a tomar no domínio da
admissão de membros, analisando
para o efeito o quadro de qualifica-
ção Profissional, os desafios coloca-
dos à OE e as soluções propostas.
O que foi discutido foi se a OE deve
manter a exigência de formação
superior mínima de licenciatura
Pré-bolonha ou Mestrado Pós-
bolonha (5 anos), ou se devem ser
admitidos dois níveis de membros,
um para licenciados e outro para
mestres.
Nas suas intervenções o Eng.º vic-
tor Gonçalves de brito destacou a
necessidade das medidas que se
vierem a adoptar preservarem a
qualidade da engenharia praticada
no país. O Engenheiro José vieira
afirmou que a OE deve assumir-se
como uma associação profissional
rigorosa na admissão dos seus
membros, com vista a garantir a
qualidade no exercício da profissão
e assim manter o prestígio que con-
quistou junto da sociedade portu-
guesa.
Com mais de 40 mil membros, a
Ordem dos Engenheiros vai reunir
a sua Assembleia de Representan-
tes no final de Março para analisar
os debates realizados e procurar
uma solução.
7
ASSEMbLEIA REGIONALExTRAORDINÁRIA
A Assembleia Regional Extraordiná-
ria realizou-se no dia 10 de Janeiro
de 2011, pelas 18h00, na sede da
Ordem dos Engenheiros - Região
Norte, nos termos do n.º 6 do artigo
30.º do Estatuto da Ordem dos
Engenheiros.
Estiveram presentes na mesa, José
Ferreira Lemos, Presidente da Mesa
da Assembleia, Luís Ramos e Carlos
Pedrosa, Secretários da Mesa da
Assembleia, Fernando de Almeida
Santos, Presidente do Conselho
Directivo, e Pedro Alves, Tesoureiro
do Conselho Directivo.
Esta sessão teve como ordem de tra-
balhos a apreciação e deliberação
relativa ao Plano de Actividades e ao
Orçamento para o ano de 2011, pro-
postos pelo Conselho Directivo (alí-
nea c, ponto 2, do art.º 30.º do Esta-
tuto), e a Intervenção da Região
Norte na Assembleia de Represen-
tantes em Março de 2011.
CICLO DE SEMINÁRIOS“AMbIENTE NA ORDEM– 11 MESES, 11 TEMAS” SISTEMAS DE INFORMAÇÃOGEOGRÁFICA EM DISCUSSÃO
“Os Sistemas de Informação Geo-
gráfica na Gestão de Recursos Na-
turais: potencialidades e aplicações”
foram debatidos num seminário, no
passado dia 31 de Janeiro, no au-
ditório da sede da Região Norte da
Ordem dos Engenheiros.
Enquadrado no programa de acti-
vidades do Conselho Regional Norte
do Colégio de Engenharia do Am-
biente (CRNCEA) para 2011, este
primeiro seminário insere-se no ciclo
“Ambiente na Ordem – 11 meses,
11 temas”.
Estiveram presentes o Eng.º Sérgio
Costa, Coordenador do Colégio de
Engenharia do Ambiente, o Eng.º
Carlos Ferreira, vogal do Colégio
de Engenharia Geográfica, e o Pro-
fessor Joaquim Alonso, do Instituto
Politécnico de viana do Castelo e
coordenador de diversos projectos
nacionais e europeus com utilização
de Sistemas de Informação Geo-
gráfica (SIG).
A sessão iniciou com uma breve
apresentação pelo Eng.º Sérgio Costa
de todos os seminários a realizar,
tendo referido a importância destas
sessões na partilha de conhecimen-
tos e experiências sobre temáticas
relevantes para o exercício profis-
sional da Engenharia do Ambiente,
assim como a integração e interli-
gação com outros colégios e espe-
cialidades.
O Professor Joaquim Alonso agra-
deceu o convite da Ordem dos En-
genheiros – Região Norte e começou
por referir que os SIG são sistemas
de informação, de comunicação,
que comunicam determinados pro-
cessos, aspectos, espaços, e que
podemos aplicá-los às mais diversas
áreas. No mesmo sentido, o Enge-
nheiro Carlos Ferreira afirmou que
os SIG são sistemas de informação
com uma componente adicional, a
geográfica, que dão resposta a um
conjunto de situações inatingíveis
para os sistemas de informação
convencionais.
Através da apresentação de casos
de estudo, incidindo especificamente
na gestão de recursos hídricos, na
conservação da natureza e biodi-
versidade, na identificação de riscos
ambientais e no ordenamento do
território, o Professor Joaquim Alonso
abordou o tema em discussão. Para
o docente do IPvC este tipo de sis-
temas permite vários utilizadores,
que podem estar ligados em rede
promovendo a interacção.
Carlos Ferreira realçou também a
multidisciplinaridade e utilização
transversal desta tecnologia que tem
registado uma grande evolução, pas-
sando a estar acessível na internet
em plataformas simples e intuitivas,
e cujo grande objectivo e mais valia
reside na sua capacidade de gerar
mais informação a partir da infor-
mação inicial e assim constituir a
ferramenta de apoio à decisão.
8 INFO 23 • JAN FEv MAR 2011
NO
TíC
IAS
OERN PROMOvESESSõES DE DEbATE SObRE CóDIGO DOSCONTRATOS PÚbLICOS
O Código de Contratos Públicos
(CCP) resulta da transposição de
directivas comunitárias para o direito
português, tendo sido publicado em
anexo ao Decreto-Lei Nº 18/2008 de
29 de Janeiro e entrado em vigor
seis meses depois. A Ordem dos
Engenheiros Região Norte (OERN)
consciente, por um lado, que o
tempo de aplicação propicia a refle-
xão sobre a matéria legal e a avalia-
ção do resultado desta e, por outro
lado, que suscita interesse junto de
um grande número de colegas,
organizou duas sessões-debate nos
dias 17 de Janeiro e 7 de Fevereiro
passado, no auditório da sede da
OERN. Para o efeito foram convida-
dos dois oradores de indiscutível
prestígio e conhecimento na área,
Gerardo Saraiva de Menezes, do
Parque Escolar, E.P.E, e Manuel
Joaquim Reis Campos, da Associa-
ção dos Industriais da Construção
Civil e Obras Públicas (AICCOPN).
Pelo Conselho Directivo da OERN
marcaram presença o Eng.º Matos
de Almeida e o Eng.º vítor Correia.
Com uma abordagem de cariz mais
político, o Engenheiro Reis Campos
indicou alguns dos pontos fracos do
código que, na sua óptica, foram
agravados pela crise. “ O código
ignora a realidade dos verdadeiros
destinatários e potenciou alguns
desequilíbrios entre os donos da
obra e as empresas”, referiu. Reis
Campos falou ainda sobre a criação
da Comissão de Acompanhamento
do Código, cuja função é a de acom-
panhar a aplicação do código e com-
por alterações. “Neste momento
existe uma proposta de revisão glo-
bal a apresentar no Ministério”,
revelou.
Para o Eng.º Gerardo de Saraiva
Menezes estas sessões proporcio-
nam a troca de impressões e expe-
riências. Na sua intervenção focou
essencialmente a formação e execu-
ção do contrato e deixou alguns
alertas para a aplicação do código.
No final, referiu que existem mais
dúvidas que certezas e indicou algu-
mas sugestões de melhoria, não dei-
xando de abordar a realidade actual
dos contraentes públicos, projectis-
tas e adjudicatários.
Com um elevado grau de adesão –
cerca de 150 participantes – estas
sessões possibilitaram um período de
debate onde foram apresentadas
algumas dúvidas e considerações,
como o facto de este novo código ser
demasiado extenso e de difícil abor-
dagem, de que é exemplo o regime
previsto para erros e omissões e a
responsabilidade do coordenador de
projectos.
GRUPO DE TRAbALHO DESISTEMAS DE INFORMAÇÃO
O Grupo de Trabalho, formalmente
constituído, de Sistemas de Informa-
ção tem vindo a organizar um pro-
jecto de trabalho que visa promover a
desmaterialização da relação com o
membro e dotar a OERN dos meios e
métodos de comunicação e informa-
ção adequados. Encontra-se neste
momento em trabalho de análise às
infra-estruturas Informáticas, garan-
tindo desta forma adequação às
necessidades actuais e futuras, de
natureza técnica e tecnológica.
GRUPO JOvENSENGENHEIROS
O Grupo de Trabalho, formalmente
constituído, dos Jovens Engenheiros
tem vindo a estruturar um conjunto
de diferentes actividades com dife-
rentes objectivos mas que na sua
génese visam por um lado a partici-
pação activa dos Jovens Engenhei-
ros na vida da Ordem e por outro, o
fomento da informação e esclareci-
mento. A título de exemplo refiram-
se a preparação do Congresso
Jovens Engenheiros a realizar em
braga no ano de 2012, o Engineer´s
Trophy, em Julho de 2011, a prepa-
ração da Semana da Engenharia em
colaboração com as universidades,
a estruturação do gabinete do esta-
giário, entre muitas outras.
9
v ENCONTRO DEENGENHARIA CIvIL NORTEDE PORTUGAL – GALIzA
Numa organização conjunta da
Ordem dos Engenheiros – Região
Norte/Colégio de Engenharia Civil e
do Colegio de Ingenieros de Cami-
nos,Canales y Puertos de Galicia,
realizou-se de 2 a 4 de Fevereiro no
Porto, o v Encontro de Engenharia
Civil Norte de Portugal – Galiza
subordinado ao tema “Património
Construído” .
Na sessão de abertura estiveram pre-
sentes o Secretário de Estado Adjunto
das Obras Públicas e das Comunica-
ções, Dr. Paulo Campos, o bastonário
da Ordem dos Engenheiros (OE),
Eng.º Carlos Matias Ramos, o Presi-
dente do Conselho Directivo da
Região Norte (CDRN) da Ordem dos
Engenheiros, Eng.º Fernando de
Almeida Santos, o Decano de la Junta
Rectora de la Demarcación de Galicia
del Colegio de Ingenieros de Cami -
nos,Canales y Puertos, Eng.º Carlos
Nárdiz Ortiz, e da Comissão Organiza-
dora o Eng.º Paulo de Sousa Cruz.
Na sua intervenção o Secretário de
Estado Adjunto das Obras Públicas
abordou a questão das SCUT e do
projecto de ligação Porto-vigo em
alta velocidade, fundamental para a
integração das economias de Portu-
gal e Espanha e para o crescimento
da região Norte de Portugal-Galiza.
Paulo Campos destacou ainda o
investimento dos últimos cinco anos
em infra-estruturas rodoviárias no
Norte de Portugal e de ligação a
Espanha. No mesmo sentido, Carlos
Nárdiz Ortiz referiu que a ligação
Porto-vigo é vital para a região.
No discurso de apresentação deste
v Encontro luso-galaico, o Presi-
dente do Conselho Directivo da
Região Norte fez um balanço dos
últimos encontros e salientou o bom
relacionamento transfronteiriço.
Já o bastonário da OE destacou a
conservação do património e a rea-
bilitação urbana como sectores
estratégicos para o futuro das cida-
des e do sector da construção, indi-
cando que Portugal é um dos países
com mais baixo investimento na rea-
bilitação de edifícios residenciais, de
acordo com o Relatório de 2009 da
Federação da Indústria Europeia da
Construção.
A reabilitação urbana foi também o
tema escolhido pelo Professor Dou-
tor Luís valente de Oliveira da Asso-
ciação Empresarial de Portugal, na
sua conferência inaugural, apon-
tando o congelamento das rendas e
a expansão urbana para a periferia
como causas da degradação dos
edifícios, e salientando ainda que
“não são os problemas técnicos que
representam os maiores obstáculos
à reabilitação urbana, são os entra-
ves burocráticos que induzem atra-
sos e hesitações por parte de pro-
motores e investidores. é pois
necessário tornar a reabilitação
urbana atraente para o sector pri-
vado”.
Durante os três dias do encontro
foram abordadas e debatidas ques-
tões como a intervenção nos cen-
tros históricos e monumentos, a
intervenção nas pontes e vias de
comunicação, a intervenção nos
portos marítimos e fluviais e a inter-
venção nos edifícios e no património
industrial.
No final deste encontro a mesa,
composta pelo Presidente do
CDRN, Fernando de Almeida San-
tos, pelo Decano del Colegio de
Ingenieros de Caminos, Canales y
Puertos, Carlos Nárdiz Ortiz, por
Pedro Mêda do Colégio de Enge-
nharia Civil, e por Paulo de Sousa
Cruz e Manuel Duran Fuentes, da
Comissão Organizadora, agradeceu
a presença de todos os participan-
tes, destacando a importância e o
sucesso desta iniciativa e esten-
dendo o convite a todos os presen-
tes para o vI Encontro a realizar
dentro de dois anos na Galiza.
10 INFO 23 • JAN FEv MAR 2011
NO
TíC
IAS
vISITA à ObRA «CONCESSÃODOURO LITORAL»
A Ordem dos Engenheiros-Região
Norte em parceria com o Colegio de
Ingenieros de Caminos,Canales y
Puertos da Galiza realizou, a 5 de
Fevereiro, uma visita às obras de
Construção da Concessão Douro
Litoral, nomeadamente à nova
ponte sobre o rio Douro e o Túnel
do Covelo.
A execução da Concessão do Douro
Litoral pretende concretizar o fecho
da Circular Regional Exterior do Porto
(CREP) permitindo que o tráfego que
atravessa o Douro não tenha a
necessidade de entrar no Porto.
Neste contexto, esta obra garantirá o
descongestionamento da Circular
Regional Interna do Porto em cerca
de 13.000 veículos por dia, menos
12,5% do tráfego que, em média,
actualmente circula nessa via.
O D.L.O.E.A.C.E – Douro Litoral
Obras Especiais, ACE é um Agrupa-
mento Complementar de Empresas
formado pelas Agrupadas presentes
na Concessão do Douro Litoral, ou
seja, a Teixeira Duarte, a zagope, a
Alves Ribeiro e a Construtora do
Tâmega, que através de contrato de
subempreitada com o DLACE –
Douro Litoral, ACE, ficou responsá-
vel pela execução da nova Ponte
sobre o Rio Douro e do Túnel do
Covelo, obras estas inseridas no Tre-
cho 2 da A41, cuja abertura está
prevista para Abril do presente ano,
e do Túnel do Seixo Alvo, inserido no
Trecho 3 da A32, previsto para
Outubro de 2011.
Esta visita que contou com a pre-
sença de 30 participantes iniciou-se
com uma apresentação da obra em
curso pelo Dr. Ricardo videira, do
Douro Litoral ACE (DLACE), possibi-
litando aos presentes a percepção
da dimensão da obra.
Os Engenheiros Pedro Silva, responsá -
vel pela produção da Ponte Douro, e
António Faria, responsável pela produ-
ção do Túnel do Covelo, esclareceram
as dificuldades e questões técnicas
que foram necessárias implementar
para este tipo de construção.
A visita terminou com um almoço de
confraternização num restaurante
próximo ao local da obra.
SISTEMA DE GESTÃO DAQUALIDADE
Decorrente de deliberação do Conse-
lho Directivo da Ordem dos Engenhei-
ros, Região Norte (OERN) está em
curso a implementação do Sistema de
Gestão da qualidade de acordo com
o Referencial ISO 9001. O modelo de
gestão concebido reflecte as preocu-
pações da OERN nos três domínios
de actuação, Profissional, Social e
Científico, atendendo às necessidades
dos seus associados mas também re-
flectindo as preocupações das restan-
tes partes com as quais interage, pro-
duzindo desta forma uma ferramenta
de agilização da visão e estratégia da
Região Norte e cumprindo, no âmbito
das suas atribuições, a Missão da Or-
dem dos Engenheiros, A Ordem tem
como escopo fundamental contribuir
para o progresso da engenharia, esti-
mulando os esforços dos seus asso-
ciados nos domínios científico, profis-
sional e social, bem como o
cum primento das regras de ética pro-
fissional, in Estatuto, artigo 2.º
DELEGAÇÃO DISTRITAL DEvIANA DO CASTELO
A Delegação Distrital de viana do
Castelo mudará brevemente de ins-
talações para Avenida Conde da
Carreira, viana do Castelo. As preo-
cupações de garantia das condições
mínimas necessárias a colaborado-
res e associados, esteve na base
desta deliberação. O Conselho
Directivo da OERN pretende manter
um olhar permanente sobre as ins-
talações e o património.
11
CERTIFICAÇÃO ENERGÉTICA EM DEbATE NA DELEGAÇÃO DA OE DE vIANA DO CASTELO
A Delegação de viana do Castelo da Ordem dos Engenheiros organizou no
passado dia 17 de Fevereiro, pelas 21h30, na Estalagem Melo Alvim, uma
Sessão Debate sobre o Sistema de Certificação Energética.
A sessão teve como orador Arlindo Louro do Instituto Electrotécnico Portu-
guês (IEP) e moderadores vitor Lopes de Lima e Fernando Fernandes Fon-
seca, respectivamente Delegado e Delegado-adjunto da Delegação Distrital
de viana do Castelo, e contou com a presença de mais de três dezenas de
Engenheiros que, numa sessão muito participada, contribuíram de forma
profícua para o debate e reflexão sobre as matérias expostas e relacionadas
com os diplomas em vigor e a sua aplicação.
Tendo como pano de fundo a alteração legal em curso das matérias e
fazendo um balanço de mais de um ano de aplicação dos diplomas em vigor,
foram apresentadas as principais dificuldades/preocupações na sua aplica-
ção, salientando-se a não paridade na interpretação legal a nível europeu;
as limitações para a diminuição efectiva do consumo de energia; os critérios
de aplicação; a morosidade, exigência e onerosidade dos processos forma-
tivos; a falta de técnicos para aplicação RSECE e a tipologia funcional dos
intervenientes; o dispêndio de recursos sem acréscimo de valor comprovado
e os custos instrutórios/processuais associados.
Arlindo Louro procedeu a uma análise global, salientando que os comporta-
mentos de avaliação devem conduzir ao crescendo de consciencialização,
que a eficiência energética deve conduzir à redução do consumo de energia
e que a melhoria da qualidade do Ar Interior deve conduzir à melhoria da
qualidade de vida, numa atitude que se pretende de Global Exigência.
CYPETERM – SOFTwARE DE AvALIAÇÃO ENERGÉTICADE EDIFíCIOS
Certificado pela TOP Informática, e pela norma ISO/IEC 25051:2006: “Enge-
nharia de software – Requisitos de qualidade para produto de software e
avaliação (SquaRE) – Requisitos para a qualidade de produtos de software
comercial (COTS) e instruções para ensaio” o Cyperterm destina-se à actual
avaliação energética de edifícios, e aplica-se a edifícios de habitação, de
serviços com área inferior a 1000m2 e potência de climatização inferior ou
igual a 25kW, grandes intervenções de remodelação ou de alteração na
envolvente, ou instalações/ampliações de edifícios existentes.
Em 2012, o Cypeterm deverá permitir orçamentar automaticamente os pro-
jectos à medida que vão sendo desenhados e calculados, uma opção que
já pode ser usada nos softwares Cype destinados a outras especialidades
de engenharia (como estruturas ou instalações). Este novo sistema tem tam-
bém a capacidade de gerir automaticamente os projectos, facilitando o seu
recálculo.
Com esta solução os engenheiros apenas necessitam de introduzir as plan-
tas dos projectos e os respectivos elementos verticais no software Cypeterm,
criando um modelo 3D a partir do qual podem ir experimentando diferentes
materiais e elementos e, desta forma, criar várias soluções de eficiência
energética.
Portugal passa assim a ser um dos poucos países do mundo que dispõem
de um software de cálculo automático dedicado ao projecto da eficiência
energética de edifícios, certificado por uma norma de qualidade internacio-
nal e pela entidade reguladora (ADENE – Agência para a Energia).
AUMENTO DO PERíODO DE FUNCIONAMENTODAS DELEGAÇõES DISTRITAIS
Deliberou o Conselho Directivo da Ordem dos Engenheiros, Região Norte,
em reunião ordinária de 12 de Novembro de 2010, aumentar o período de
abertura das Delegações Distritais, como forma de alargar o tempo de pres-
tação de Serviços Directos ao membro. Inserido num eixo estratégico de efi-
cácia e eficiência do funcionamento e da interlocução directa com os mem-
bros, esta acção visa a melhoria da satisfação das necessidades associativas
dos seus associados.
12 INFO 23 • JAN FEv MAR 2011
NO
TíC
IAS
COLÉGIO DE ENGENHARIAGEOLóGICA E DE MINAS DAREGIÃO NORTE – O NOvO CCPNA CARACTERIzAÇÃOGEOTÉCNICA DE GRANDESEMPREENDIMENTOS
O Colégio de Engenharia Geológica
e de Minas da Região Norte realizou
no dia 23 de Fevereiro, nas instala-
ções da sede da Região Norte, o
debate “implicações do novo código
de contratação pública na qualidade
da caracterização geotécnica de
grandes empreendimentos”, profe-
rido pelo Engenheiro Jorge Cruz,
Responsável pela Prospecção Geo-
técnica da Direcção de Fundações
e Geotecnia da MOTA-ENGIL e
moderado pelo Engenheiro Nuno
Cruz, Coordenador do Colégio de
Engenharia Geológica e de Minas.
Conscientes que os projectos de
natureza geotécnica evidenciam
algumas carências e das implica-
ções destas debilidades que geram
acréscimos de custos significativos
nos empreendimentos, o Colégio de
Engenharia Geológica e Minas lança
um conjunto de debates, a decorrer
durante todo o ano e abertos à dis-
cussão pública, subordinados ao
tema “Caracterização Geotécnica.
Continuar o passado ou reinventar o
futuro?”, com o intuito de contribuir
para o desenvolvimento de práticas
de caracterização que englobem
conhecimentos e tecnologias actua-
lizadas com o século em que vive-
mos.
Na sua intervenção o Eng.º Jorge
Cruz abordou os impedimentos do
Código de Contratação Pública
(CCP), a história da geotecnia e o
resultado da implementação do
CCP, focalizando na reacção dos
grupos empresariais, no caso da
Mota Engil Engenharia e Constru-
ções (MEEC), na reacção do mer-
cado nacional e nas capacidades
técnicas no mercado nacional.
Segundo o Eng.º Jorge Cruz com a
implementação do CCP assistiu-se a
um descontentamento da maioria
dos intervenientes no mercado e as
repercussões do mesmo resultou na
exclusão das unidades ou núcleos
de prospecção ligados a grupos
empre sa riais. Tal facto levou à redu-
ção da capacidade produtiva nacio-
nal, à perda da maioria das empre-
sas de prospecção de grande
dimensão e do “Know-How” e capa-
cidades técnicas que essas empre-
sas possuíam. No caso da MEEC
traduziu-se na recusa na participa-
ção de estudos geológicos e geotéc-
nicos preliminares e na procura de
novos mercados, nomeadamente
Espanha, Roménia, Cabo-verde,
Moçambique e S. Tomé e Príncipe.
Para os próximos meses de Março,
Abril, e Maio estão já confirmados
novos debates.
OERN NOS ENCONTROS DALIGAÇÃO – EDPDISTRIbUIÇÃO
A Ordem dos Engenheiros Região
Norte, representada pelo Sr. Profes-
sor António Machado e Moura, vice-
Presidente da OERN, e pelo Enge-
nheiro hélder Leite, vogal do
Conselho Regional do Colégio de
Engenharia Electrotécnica, marcou
presença, a convite da EDP Distri-
buição, num Encontro de Ligação,
que se realizou a 01 de Março, no
hotel vila Galé no Porto.
Neste encontro, cuja abertura esteve
ao cargo do Engenheiro António
Santos Ferreira, Director da EDP Dis-
tribuição, Direcção de Redes e Clien-
tes Porto, foi feita a apresentação do
Manual da Ligação à Rede, docu-
mento no qual se sintetizam os prin-
cípios a observar para a ligação à
rede pública de distribuição de uma
instalação de utilização ou de uma
instalação produtora. Foram ainda
abordadas as ligações em baixa,
média e alta tensão e da Micropro-
dução, as ligações de urbanizações,
empreendimentos mistos e ilumina-
ção pública, a ligação de produtores
em regime especial e a qualidade da
energia. O Engenheiro ângelo Sar-
mento, Administrador, encerrou a
sessão, onde foi oferecido um exem-
plar do manual apresentado a cada
um dos participantes.
13
I ENCONTROS víNICOS DO vINHO vERDE
A OERN promove no dia 16 de Abril na cidade de viana do Castelo, o I Encontros
vínicos do vinho verde, em colaboração com o Município de viana do Castelo, a
Comissão de viticultura da Região dos vinhos verdes (CvRvv), a Escola Superior
Agrária de Ponte de Lima, a Escola de hotelaria e Turismo de viana do Castelo e o
Turismo do Porto e Norte de Portugal.
Estes encontros, que decorrem durante as comemorações da Cidade do vinho
2011 – viana do Castelo, pretendem divulgar e incentivar a intervenção de Engenheiros
na produção de vinhos verdes; associar a imagem de qualidade da Ordem dos En-
genheiros à marca de qualidade vinhos verdes e dinamizar parcerias com outras
instituições regionais, estando destinados a membros da OE e ao público em geral.
Entre várias acções pretende-se eleger o vinho verde do ano, nas categorias: vinho
verde branco, vinho verde Tinto, vinho verde Rosado e vinho verde Espumante
branco. Os produtores terão a possibilidade de expor os seus vinhos e de os dar a
provar. Os vinhos seleccionados pelo painel de provadores, da responsabilidade da
OERN, farão parte da ementa do Jantar de Gala.
Além da componente lúdico-cultural, este encontro terá ainda uma Sessão Técnica
e Fórum temático denominado “Novidades Tecnológicas na vinha e no vinho”, que
incidirá sobre várias tecnologias de ponta, revelando algumas novidades.
Com três painéis subordinados aos temas “vinha e novas tecnologias”, “vinho e
novas tecnologias” e “Marketing”, estas sessões contarão com a participação de
prestigiados oradores de instituições de relevo tais como a Universidade do Minho, a
Universidade de Trás os Montes e Alto Douro, a Universidade de Santiago, a Faculdade
de Farmácia da Universidade do Porto, a Escola Superior Agrária de Ponte de
Lima/Instituto Politécnico de viana do Castelo, o Instituto Superior de Agronomia/Uni-
versidade Técnica de Lisboa, a estação vitivinícola da bairrada/Direcção Regional de
Agricultura da beira Litoral, o Instituto da vinha e do vinho, a vinália, a Sinergeo, a
Amorim&Irmãos e a Sociedade Agrícola e Comercial da quinta da Aveleda,SA.
1AS JORNADAS DA MObILIDADE ELÉCTRICA
O mundo está perante novos paradigmas de mobilidade, em que uma das ver-
tentes parece assentar em veículos eléctricos. Porém, antes destes veículos
serem a maioria nas nossas estradas, muitas dificuldades terão de ser supera-
das. Autonomia, custo, segurança e carregamento, incluindo a resposta da rede,
são alguns pontos que terão de ser optimizados e resolvidos. Mas há já mercado
para este tipo de mobilidade, pois estes veículos são isentos de poluição local,
são silenciosos, agradáveis de conduzir, sendo ideais para centros de cidades
ou outros locais onde a minimização da poluição, atmosférica e de som, é essen-
cial. é nesta conjuntura que o Colégio de Engenharia Mecânica da Ordem dos
Engenheiros Região Norte decidiu iniciar um ciclo de Jornadas ligadas à mobi-
lidade eléctrica, neste caso aos veículos rodoviários.
As 1as jornadas decorrem a 28 de Maio em Guimarães, uma das cidades
pioneiras do MOBI-e , e onde um dos maiores projectos nacionais de desen-
volvimento de veículos eléctricos do programa MIT-Portugal está centralizado
(Universidade do Minho, em Guimarães), e vão tentar responder a várias
questões relativas às novas tecnologias, carros eléctricos e redes de carre-
gamento, integrando ainda uma mostra de veículos eléctricos.
ExERCíCIO DA PROFISSÃODE ENGENHARIA CIvIL
Assinatura de Convénio Ibéricopara reconhecimento mútuode engenheiros portuguesese espanhóis
A Alfândega de valença acolheu, no
dia 25 de Março, a celebração do
protocolo/convénio entre Portugal e
Espanha, da Ordem dos Engenhei-
ros e do Colégio de Ingenieros de
Caminos,Canales y Puertos (CICCP),
para o processo mútuo de acredita-
ção e reconhecimento dos títulos
profissionais dos engenheiros civis,
para efeitos do exercício, em regime
de estrita igualdade e reciprocidade,
tanto em Portugal como em Espa-
nha, das actividades profissionais.
Tendo a própria ponte internacional
que liga valença a Tui, e outras dife-
rentes perspectivas da mesma,
como pano de fundo, e após a sua
travessia, a sessão protocolar iniciou-
se com as palavras do Sr. Presidente
da Câmara de valença, Jorge Sal-
gueiro Mendes, às quais se seguiram
as intervenções do Sr. Presidente do
Colégio de Caminos, Canales y Puer-
tos, Edelmiro Rúa Alvarez, e do
Sr. bastonário da Ordem dos Enge-
nheiros, Carlos Matias Ramos. Como
tónica comum aos discursos a forte
ligação que une estes dois países e a
memória desta ponte enquanto teste-
munho dessa relação, também por-
que esta obra de arte foi projectada
por um engenheiro espanhol e diri-
gida por um engenheiro português.
Depois da formalização do protocolo
seguiu-se almoço convívio na pou-
sada de São Teotónio de valença.
A Ordem dos Engenheiros agradece
à Câmara Municipal de valença toda
a colaboração prestada na realiza-
ção deste evento.
14 INFO 23 • JAN FEv MAR 2011
P R O F I S S I O N A L
SObRE OS ACTOSDA PROFISSÃONO âMbITO DO COLÉGIO DEENGENHARIA INFORMÁTICA
CARACTERIZAÇÃODOS ACTOS
DE ENGENHARIAINFORMáTICA
Ricardo J. MachadoCoordenador do ConselhoRegional Norte do Colégiode Engenharia InformáticaProfessor Associado daUniversidade do Minho
Luís AmaralPresidente do Conselho Nacional doColégio de Engenharia InformáticaProfessor Associadoda Universidade do Minho
Resumo – A caracterização dos actos da profissão constitui um referencial fundamental para que qual-
quer Ordem profissional possa sustentar e regular o âmbito de actuação dos profissionais que tutela.
Este referencial pretende-se catalisador de uma actuação consciente e competente do profissional ao
serviço da Humanidade. Este artigo apresenta uma breve descrição dos actos da profissão que os
autores consideram pertinentes serem adoptados no âmbito do Colégio de Engenharia Informática.
1. INTRODUÇÃO
O exercício da profissão de Engenharia deve
ocorrer sob o estrito cumprimento dos códigos de
ética e de deontologia profissional e mediante a
submissão a regulamentos disciplinares. Estes
são valores indispensáveis para assegurar a con-
fiança nos profissionais qualificados como de
interesse público. «A elaboração de projectos de
estruturas, de instalações eléctricas, de redes de
gás, a correspondente responsabilidade pela exe-
cução das obras, os estudos de impacto ambien-
tal e a concepção e gestão dos sistemas de infor-
mação são exemplos de actos que devem
merecer a confiança pública dos cidadãos» [1].
Segundo os estatutos da Ordem dos Enge-
nheiros (OE) [2], do ponto de vista meramente
funcional, considera-se Engenheiro o «profissio-
nal que se ocupa da aplicação das ciências e téc-
nicas respeitantes aos diferentes ramos de Enge-
nharia nas actividades de investigação, concep-
ção, estudo, projecto, fabrico, construção, produ-
ção, fiscalização e controlo de qualidade,
incluindo a coordenação e gestão dessas activi-
dades e outras com elas relacionadas». Desta
forma, a definição dos actos da profissão de
Engenheiro não se revela tarefa trivial, tal é a
diversidade de actividades envolvidas, bem como
as inúmeras áreas de actuação.
2. TIPOLOGIA DE ACTOS
Apesar da diversidade referida, é possível
identificar e caracterizar um número limitado (e
bem definido) de tipos de actos que seja comum
à generalidade das especialidades de Engenha-
ria1 e das especializações verticais2 e horizontais3
formalmente reconhecidas pela OE actualmente.
Aqui, designam-se tipos de actos os que caracte-
rizam, genericamente (i.e., independentemente
15
P R O F I S S I O N A L
da especialidade ou especialização), a natureza
da intervenção profissional do Engenheiro, num
contexto em que a sua regulação se justifica à luz
das consequências que a mesma pode provocar
na vida das pessoas. Nesta perspectiva, deveriam
considerar-se os seguintes tipos de actos:
1) Projecto (de engenharia): O acto de projecto
prende-se com a idealização e planeamento de
soluções de base tecnológica que levem à rea-
lização ou reestruturação optimizada das mes-
mas, permitindo atingir os objectivos propostos.
é frequente a utilização da expressão concepção
como sinónimo de projecto. Aqui, considera-se
que, numa perspectiva de macroprocesso4 em
cascata, o projecto é composto, de entre outras,
pelas fases de análise (em que se especifica as
funcionalidades da solução de base tecnológica
e o desempenho desejado, bem como todas as
decisões que podem restringir a liberdade de
concepção e implementação) e de concepção
(em que se define a arquitectura da solução de
base tecnológica e se caracterizam os seus
componentes, de forma a cumprir as especifi-
cações fornecidas pela fase de análise). No caso
da área da Engenharia Informática, o projecto
inclui ainda a fase de implementação (em que
se constrói a solução de base tecnológica
segundo as directivas e decisões de concepção
fornecidas pela fase anterior).
2) Gestão (de engenharia): O acto de gestão
prende-se com a organização e afectação de
recursos (financeiros, tecnológicos e huma-
nos), com o controlo (medir, avaliar, negociar
e tomar decisões) e com a coordenação
(comunicar e motivar), em contextos de pro-
jecto, de exploração e de manutenção de solu-
ções de base tecnológica.
3) Fiscalização: O acto de fiscalização prende-se
com a avaliação do cumprimento dos níveis de
desempenho e rigor dos actos de execução,
por forma a garantir a qualidade das soluções
de base tecnológica, à luz de referenciais esta-
belecidos (leis, normas, especificações, etc.).
O acto de fiscalização pode ser também diri-
gido para a avaliação dos actos de projecto e
de gestão. Este tipo de actos é, por vezes,
designado de avaliação ou auditoria.
4) Execução: O acto de execução é todo aquele
que se refere à realização, no plano do tangível,
das soluções de base tecnológica. Estão incluí-
dos os esforços relativos não só aos contextos
de projecto, mas também aos de exploração e
manutenção das soluções.
Dos quatro tipos de actos de Engenharia referi-
dos, a coordenação de três deles (projecto, gestão
e fiscalização) deverá ser exclusivamente execu-
tada por profissionais de Engenharia inscritos na
OE. Em relação ao acto de execução considera-se
que, num número considerável de situações, é pos-
sível ser analogamente desempenhado por outro
tipo de profissionais de Engenharia. «Daqui decorre
a elevada complexidade do exercício da profissão
de Engenharia, pois, para além de considerar os
aspectos estritamente científicos, técnicos e tecno-
lógicos, como lhe compete como Tecnólogo ou Tec-
nologista que é, o Engenheiro tem ainda a missão
de situá-los na intersecção destes sistemas, e de
avaliar as suas inter-influências e os seus efeitos
recíprocos: é por isso que todos os Engenheiros são
Tecnólogos ou Tecnologistas, mas nem todos os
Tecnólogos ou Tecnologistas são Engenheiros» [3].
Por outro lado, em alguns documentos da OE
(que descrevem o âmbito da profissão de Enge-
nharia) são referenciados outros tipos de actos,
tais como estudos e consultoria, ensino e forma-
ção, investigação, ou normalização. Estas activi-
dades profissionais, apesar de estarem enquadra-
das no âmbito da Engenharia, não devem ser
designadas de actos. Embora, no caso do ensino,
considerarmos que ninguém deve envolver-se no
ensino de Engenharia sem ter tido preparação
para esta profissão [4], não nos parece adequado
formalizar como acto o ensino da profissão de
Engenheiro. Também no caso da investigação,
apesar de considerarmos que, em determinadas
circunstâncias, o Engenheiro necessite de se
envolver em actividades relacionadas com a
investigação, não achamos que a actividade de
investigação deva ser regulada pela OE. A asso-
ciação da investigação à actividade do Enge-
nheiro decorre da utilização recorrente e sistemá-
tica da expressão investigação e desenvolvimento
tecnológico (I&DT). Numa perspectiva de inves-
tigação fundamental, pode considerar-se que os
Cientistas explicam o que existe e os Engenheiros
16 INFO 23 • JAN FEv MAR 2011
P R O F I S S I O N A L
criam o que nunca existiu [5]. No entanto, é no
contexto da investigação aplicada que os dois
conceitos se tornam mais próximos, apesar de
formalmente diferentes [6]. Aqui, considera-se
que a investigação em engenharia se dedica ao
desenvolvimento de novas teorias e metodologias
que os Engenheiros irão futuramente utilizar no
âmbito do exercício das suas actividades profis-
sionais. De entre vários exemplos, a prestigiada
revista científica Research in Engineering Design
[7] publica exclusivamente trabalhos de investi-
gação sobre problemas de Engenharia.
3. ACTOS DA PROFISSÃO
A tipologia de actos acima sugerida deve, para
cada especialidade e especialização, dar origem a
conjuntos de actos explicitamente comprometidos
com o domínio de intervenção que esteja em causa.
No caso da Engenharia Informática, sugerimos a
adopção da abordagem definida pelo bCS (The
Chartered Institute for IT, anteriormente designado
de british Computer Society) [8], cuja implementa-
ção no território britânico, em termos de certificação
de competências, está sob a responsabilidade do
ISEb (Information Systems Examinations board) [9]
que disponibiliza, em permanência, um conjunto
de acções de formação, de forma a que cada pro-
fissional possa ser capacitado nas temáticas neces-
sárias para complementar a sua formação acadé-
mica de base e desempenhar perfis de actuação
profissional ajustados ao nível de responsabilização
e qualidade definidas pelo ISEb.
Em concreto, sugerimos a formalização dos
seguintes seis conjuntos de actos do profissional
de Engenharia Informática (ver Fig. 1).
3.1 Análise de Negócio e Engenharia
de Requisitos
O objectivo da execução destes actos consiste
na caracterização dos benefícios para o negócio
(domínio aplicacional), decorrentes da adopção
de soluções informáticas, tendo em conta as suas
características funcionais e tecnológicas. Pre-
tende-se uma adequada e correcta transposição
da arquitectura de negócio (processos de negó-
cio, funções e estrutura organizacional) para a
arquitectura de informação (estruturas de dados,
interfaces entre os sistemas de informação inter-
nas e externas e padrões de produção, consumo
e transformação da informação). Deve ser adop-
tada uma visão holística na investigação e melho-
ria do contexto de negócio, por forma a promover
a adopção de soluções que se revelem eficazes e
viáveis económica e tecnologicamente.
Este conjunto de actos exige o domínio de téc-
nicas e metodologias de análise de negócio e de
contextos organizacionais, modelação de proces-
sos de negócio e engenharia de requisitos. No
âmbito destes actos, podemos mencionar o refe-
rencial de boas práticas bAbOK (Guide to busi-
ness Analysis body of Knowledge) [10] que serve
de base para a certificação CbAP (Certified busi-
ness Analysis Professional) atribuída pelo IIbA
(International Institute of business Analysis) [11].
3.2 Concepção e Construção de Soluções
Informáticas
O objectivo da execução destes actos consiste
na análise dos requisitos previamente identificados
e caracterizados, com o intuito de produzir uma
descrição da estrutura interna e da organização da
solução informática (entendida como o software e
a infra-estrutura de tecnologias de informação sub-
jacente). A descrição da arquitectura aplicacional
e a especificação de todos os componentes (orga-
nizados em serviços aplicacionais, serviços corpo-
rativos e interfaces internos e externos) que supor-
tam os requisitos funcionais da organização devem
permitir a construção da solução informática. Nes-
tes actos incluem-se a configuração e a gestão da
instalação do software (aplicações) das soluções
informáticas. Este conjunto de actos exige o domí-
nio de técnicas e metodologias de modelação de
sistemas, arquitectura de soluções empresariais,
integração de componentes off-the-shelf, e imple-
mentação de sistemas.
No caso deste conjunto de actos, referimos, a
título de exemplo, dois guias de referência: (i) o
EAbOK (Guide to the Enterprise Architecture
body of Knowledge) [12] promovido pela enti-
dade norte-americana Mitre [13]; (ii) o G2SEboK
(Guide to Systems Engineering body of Knowledge)
[14] promovido pela entidade europeia INCOSE
(International Council on Systems Engineering)
[15]. Nas temáticas exclusivas de desenvolvi-
Gestão e Auditoria de
Sistemas de Informação
Aná
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Enge
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Gestão de Projectos de
Sistemas de Informação
fig. 1 (em baixo)
Actos do profissional de
Engenharia Informática
17
P R O F I S S I O N A L
mento de software, consideramos relevante a cer-
tificação CSDP (Certified Software Development
Professional) [16] sob a responsabilidade da IEEE
Computer Society [17], bem como o referencial
de maturidade processual CMMI-DEv (Capability
Maturity Model Integration for Development) [18]
desenvolvido pelo SEI (Software Engineering Ins-
titute at Carnegie Mellon University) [19].
3.3 Teste e validação de Soluções Informáticas
O objectivo da execução destes actos consiste
na aferição da qualidade interna e externa das
soluções informáticas, bem como na sua melho-
ria através da identificação dos seus defeitos e
problemas. A verificação dinâmica do comporta-
mento das soluções em relação ao comporta-
mento esperado, recorrendo a um conjunto finito
de casos de teste, especialmente escolhidos para
cobrir as situações mais críticas do seu funciona-
mento, exigem o domínio de um conjunto alar-
gado de técnicas e metodologias que garantam a
replicabilidade e a obtenção dos mesmos resul-
tados, independentemente do profissional que os
utilize. Abordagens baseadas em provas formais
podem também ser adoptadas para estudar a
correcção dos algoritmos implementados.
Para além das certificações ministradas pelo já
referido ISEb, no contexto destes actos, é impor-
tante referir a certificação ISTqb Certified Tester
gerida pelo ISTqb (International Software Testing
qualifications board) [20] e a certificação CSqE
(Software quality Engineer Certification) [21] atri-
buída pela ASq (American Society for quality) [22].
3.4 Gestão de Projectos de Sistemas
de Informação
O objectivo da execução destes actos consiste
na aplicação de actividades de gestão (planea-
mento, coordenação, medição, monitorização,
controlo e documentação) aos contextos de
desenvolvimento de soluções informáticas, para
garantir que o seu desenvolvimento é sistemático,
disciplinado e quantificável. No contexto da Enge-
nharia Informática, a gestão de projectos apre-
senta alguma especificidade, devido às particula-
ridades da tecnologia do software e do respectivo
processo de desenvolvimento. Referimo-nos,
nomeadamente, à natureza intangível dos arte-
factos resultantes do processo de engenharia de
software (que impõe a necessidade de raciocinar
a níveis de abstracção tendencialmente eleva-
dos) e à elevadíssima taxa de actualização tec-
nológica a que a área está sujeita. Este conjunto
de actos exige o domínio de técnicas e metodo-
logias de arranque, planeamento, execução, revi-
são, avaliação e encerramento de projectos.
No caso da gestão de projectos, existe uma
diversidade considerável de referenciais e respec-
tivas certificações profissionais; destacamos os
seguintes: (i) o PMbOK (Project Management body
of Knowledge) promovido pelo PMI (Project Mana-
gement Institute) [23] que atribui diversos tipos de
certificações, nomeadamente o PMP (Project
Management Professional) [24]; (ii) a associação
IPMA (International Project Management Associa-
tion) [25] que atribui diversos níveis de certificação
em gestão de projectos; (iii) o PRINCE (Projects in
Controlled Environments) [26] e o Scrum [27] que
são exemplos de abordagens/certificações que pro-
movem práticas de gestão de projectos especial-
mente dedicadas ao desenvolvimento de software.
3.5 Gestão de Serviços de Tecnologias
de Informação
O objectivo da execução destes actos consiste
no planeamento e exploração das infra-estruturas
de tecnologias de informação, por forma a garantir
níveis de fornecimento de serviços económica e
tecnologicamente adequados às organizações, em
termos da capacidade, disponibilidade e continui-
dade dos serviços de tecnologias de informação. As
infra-estruturas de tecnologias de informação (tam-
bém designada de arquitectura tecnológica) consi-
deram todos os blocos tecnológicos relevantes para
a disponibilização dos serviços aplicacionais e cor-
porativos, incluindo o software base (sistemas de
operação), hardware (sistemas de computação) e
infra-estrutura de redes e comunicações. Este con-
junto de actos exige o domínio de técnicas e meto-
dologias de gestão de configurações, gestão da ins-
talação, gestão da mudança, gestão de problemas
e de gestão de incidentes, relativas ao nível infra-
estrutural das soluções informáticas.
Como referenciais relevantes para este con-
junto de actos, destacamos o ITIL (IT Infrastructure
18 INFO 23 • JAN FEv MAR 2011
P R O F I S S I O N A L
Library) [28] promovido sobretudo pelo itSMF (IT
Service Management Forum) [29] e o CMMI-SvC
(Capability Maturity Model Integration for Servi-
ces) [30] desenvolvido pelo SEI.
3.6 Gestão e Auditoria de Sistemas de Informação
O objectivo da execução destes actos consiste
no governo e controlo dos sistemas e tecnologias
de informação, em contextos de pré-projecto (em
fase de planeamento estratégico) e de pós-projecto
(em fase de exploração ao serviço das organiza-
ções). Estes actos devem ser executados numa
perspectiva holística, considerando todas as com-
ponentes relevantes no âmbito dos sistemas de
informação: (i) capacidade estratégica – alinha-
mento com os objectivos de negócio, controlo de
gestão, organização, recursos e competências,
gestão de custos, conformidade legal, gestão de
entidades externas, gestão de níveis de serviço; (ii)
integridade dos processos de negócio – processos
de negócio, segregação de funções, interfaces
entre sistemas, qualidade e integridade dos dados,
controlos apli ca cionais e manuais, controlos de
inputs, controlos de outputs e reporte; (iii) suporte
– gestão da segurança dos sistemas de informa-
ção, gestão da capacidade, gestão de problemas,
continuidade de negócio, gestão de operações,
gestão de configurações, segurança física, gestão
de instalações; (iv) gestão de alterações – gestão
de alterações de negócio, gestão de alterações téc-
nicas e operacionais, metodologia de desenvolvi-
mento de sistemas, metodologia de gestão de pro-
jectos, envolvimento dos utilizadores, controlo de
qualidade, documentação.
No âmbito destes actos, julgamos pertinente
referenciar o CObIT (Control Objectives for Infor-
mation and Related Technology) [31] sob a res-
ponsabilidade da ISACA (Information Systems
Audit and Control Association) [32] e o CMMI-
ACq (Capability Maturity Model Integration for
Aquisition) [33] desenvolvido pelo SEI.
Os seis conjuntos de actos estão consideravel-
mente alinhados com a forma como o referencial
ACM Computing Careers [34] estrutura as carreiras
profissionais na área da Informática (computing),
definindo dois níveis de qualificação académica e
para cada um deles estabelecendo um referencial
curricular capaz de dotar o correspondente profis-
sional com as competências necessárias para iniciar
o exercício da profissão [35]: (i) computer science
– alinhado com os actos de Construção de Soluções
Informáticas e de Teste e validação de Soluções
Informáticas; (ii) computer engineering – no caso da
OE, este perfil tem estado parcialmente associado
ao Colégio de Engenharia Electrotécnica; (iii) infor-
mation systems – alinhado com os actos de Análise
de Negócio e Engenharia de Requisitos, de Gestão
de Projectos de Sistemas de Informação e de Ges-
tão e Auditoria de Sistemas de Informação; (iv)
information technology – alinhado com os actos de
Gestão de Serviços de Tecnologias de Informação;
(v) software engineering – alinhado com os actos
de Engenharia de Requisitos, de Concepção de
Soluções Informáticas e de Gestão de Projectos de
Sistemas de Informação. Neste exercício de estru-
turação da formação académica de base dos pro-
fissionais de Informática participaram diversas insti -
tuições de reconhecido mérito a nível internacional,
nomeadamente a ACM (Association for Computing
Machinery) [36], a IEEE Computer Society e a AIS
(Association for Information Systems) [37].
4. CONCLUSõES
Julgamos que os seis conjuntos de actos apre-
sentados para o profissional de Engenharia Infor-
mática permitem conceber esta profissão como
mais uma das especialidades que considera a
Engenharia como consistindo na aplicação de uma
abordagem sistemática, disciplinada e quantificável
no projecto, gestão, fiscalização e execução de
estruturas, máquinas, produtos, sistemas ou pro-
cessos, recorrendo a conhecimentos, princípios,
técnicas e métodos decorrentes dos avanços empí-
rico-científicos, num contexto ético-deon to logico de
satisfação estrita das necessidades do desenvolvi-
mento socio-humano.
A Ordem entende que a crescente exigência
de responsabilização e competências associadas
aos actos de Engenharia requer um esforço de
harmonização, para o qual o seu contributo é
indispensável. Ao longo deste mandato, o Colégio
de Engenharia Informática irá promover um con-
junto de sessões, nas diversas regiões, para dis-
cutir este assunto e envolver os membros na defi-
nição dos actos que caracterizarão e regularão a
actuação do Engenheiro Informático em Portugal.
19
P R O F I S S I O N A L
5. REFERÊNCIAS
[1] Fernando Santo. A Confiança no Exercício das Profissões. Semanário Económico, 15 Jan. 2005.[2] Estatutos da Ordem dos Engenheiros, Artigo 4.°: Título de engenheiro, Decreto-Lei nº119/92, D.R. nº 148 I, 30
Jun. 1992.[3] João vasconcelos. Um Problema de Análise de Funções: Contribuição para a Fixação do Conceito de Engenheiro
e para a Caracterização e Definição da Profissão de Engenharia, Janeiro, 1996.[4] John Cowan. Education for Engineering Educators? European Journal of Engineering Education, vol. 15, no. 2,
pp. 15-100, 1990.[5] Charles R. Mischke. Mathematical Model building: An Introduction to Engineering, 2nd ed., Iowa State Pr., 1[6] Karl T. Ulrich, Steven D. Eppinger. Product Design and Development, 3rd ed., McGraw-hill, 2004.[7] Research in Engineering Design, Springer London: http://www.springerlink.com/content/0934-9839[8] bCS – The Chartered Institute for IT: http://www.bcs.or[9] ISEb – Information Systems Examinations board: http://www.bcs.org/category/5732
[10] bAbOK – Guide to business Analysis body of Knowledge:http://www.theiiba.org/AM/Template.cfm?Section=body_of_Knowledge
[11] IIbA – International Institute of business Analysis: http://www.theiiba.org/[12] EAbOK – Guide to the Enterprise Architecture body of Knowledge:
http://www.mitre.org/work/tech_papers/tech_papers_04/04_0104/04_0104.pdf[13] Mitre: http://www.mitre.org/[14] G2SEboK – Guide to Systems Engineering body of Knowledge:
http://www.incose.org/practice/guidetosebodyofknow.aspx[15] INCOSE – International Council on Systems Engineering: http://www.incose.org/[16] CSDP – Certified Software Development Professional: http://www.computer.org/portal/web/certification/csdp[17] IEEE (Institute of Electrical and Electronics Engineers) Computer Society: http://www.computer.org/[18] CMMI-DEv – Capability Maturity Model Integration for Development: http://www.sei.cmu.edu/cmmi/tools/dev/[19] SEI – Software Engineering Institute at Carnegie Mellon University: http://www.sei.cmu.edu/[20] ISTqb – International Software Testing qualifications board: http://istqb.org/[21] CSqE – Software quality Engineer Certification: http://asq.org/certification/software-quality-engineer/[22] ASq – American Society for quality: http://asq.org/[23] PMI – Project Management Institute: http://www.pmi.org/[24] PMP – Project Management Professional:
http://www.pmi.org/Certification/Project-Management-Professional-PMP.aspx[25] IPMA – International Project Management Association: http://www.ipma.ch/[26] PRINCE – Projects in Controlled Environments: http://www.prince-officialsite.com/[27] Scrum: http://www.scrumalliance.org/[28] ITIL – IT Infrastructure Library: http://www.itil-officialsite.com/[29] itSMF – IT Service Management Forum: http://www.itsmfi.org/[30] CMMI-SvC – Capability Maturity Model Integration for Services: http://www.sei.cmu.edu/cmmi/tools/svc/[31] CObIT – Control Objectives for Information and Related Technology: http://www.isaca.org/Knowledge-Center/cobi[32] ISACA – Information Systems Audit and Control Association: http://www.isaca.org/[33] CMMI-ACq – Capability Maturity Model Integration for Acquisition: http://www.sei.cmu.edu/cmmi/tools/acq/[34] ACM Computing Careers: http://computingcareers.acm.org/[35] ACM Curricula Recommendations: http://www.acm.org/education/curricula-recommendations[36] ACM – Association for Computing Machinery: http://www.acm.org/[37] AIS – Association for Information Systems: http://home.aisnet.org/
1 civil, electrotécnica, mecânica, geológica e de minas, química e biológica, naval, geográfica, agronómica, florestal,de materiais, informática, do ambiente
2 direcção e gestão da construção, estruturas, hidráulica e recursos hídricos, planeamento e ordenamento do terri-tório, segurança no trabalho da construção, luminotécnia, telecomunicações
3 avaliações de engenharia, energia, engenharia acústica, engenharia aeronáutica, engenharia alimentar, engenhariade climatização, engenharia de refrigeração, engenharia de segurança, engenharia e gestão industrial, engenhariasanitária, engenharia têxtil, geotecnia, manutenção industrial, sistemas de informação geográfica, transportes evias de comunicação
4 é comum adoptarem-se modelos do processo de desenvolvimento estruturados em duas camadas: (i) o macro-processo, da responsabilidade da equipa de gestão do projecto e que, seguindo essencialmente o modelo em cas-cata, controla de perto todas as tarefas do(s) microprocesso(s), impondo-lhe(s) uma coordenação global através,por exemplo, da definição de um ritmo de execução e de marcos de controlo intermédio (milestones) estrategica-mente escolhidos; (ii) o(s) microprocesso(s), da responsabilidade da equipa de execução do projecto e que,seguindo essencialmente o modelo em espiral, define(m) a forma de executar de facto o desenvolvimento da solu-ção segundo uma abordagem iterativa e incremental.
20 INFO 23 • JAN FEv MAR 2011
P R O F I S S I O N A L
«PROSPECÇÃO GEOTÉCNICA.CONTINUAR O PASSADO OURE-INvENTAR O FUTURO?»
O IMPORTANTE CONTRIBUTODA GEOTECNIA
NA ENGENHARIA
A complexidade das obras da construção civil e
obras públicas em Portugal e em todo o mundo tem
vindo a crescer significativamente, sobretudo
devido ao desenvolvimento tecnológico das últimas
décadas, ao aumento da concentração de pessoas
em torno dos grandes centros urbanos e ao incre-
mento do número de catástrofes naturais resultan-
tes das alterações ambientais profundas a que o
planeta tem vindo a ser sujeito. Por seu lado, a ges-
tão moderna de empreendimentos é particular-
mente incisiva em torno de 3 objectivos fundamen-
tais: maior economia, maior rapidez e maior
qualidade. No entanto, a congregação destes 3
objectivos é complexa, redundando com frequên-
cia na redução do último em detrimento dos dois
primeiros, uma vez que é apetecível introduzir
maior rapidez e maior economia à custa da quali-
dade e quantidade dos resultados disponíveis. No
caso da Geotecnia, dado o seu importante contri-
buto para praticamente todas as obras de engenha-
ria civil, nomeadamente em barragens, Túneis,
Pontes, Obras Rodoviárias e Ferroviárias e Constru-
ção Civil em geral, esta realidade traduz-se com fre-
quência em desvios significativos (tantas vezes
determinante) no custo financeiro final das obras.
Deste modo, importa estabelecer metodologias de
trabalho mais actualizadas que permitam optimizar
os diferentes domínios com relevo na construção
de cada empreendimento particular.
No contexto prático da engenharia a Geotecnia
é habitualmente representada por uma sequência
de processos cujo desenvolvimento assenta em
Identificar (geologia), Caracterizar (parâmetros
mecânicos), Calcular (dimensionar) e Monitorizar.
Naturalmente que, para se extrair o verdadeiro
potencial do conhecimento geotécnico, os domínios
referidos têm de funcionar de modo harmónico, isto
é, através da execução Sondagens + Ensaios + Cál-
culo + Monitorização que deverão ser geridas em
uníssono. Deste conjunto de acções enumeradas,
verifica-se que na generalidade a primeira é cum-
prida satisfatoriamente, mas o domínio da caracte-
rização mecânica (quantitativa) revela atrasos algo
preocupantes na utilização de equipamentos e
metodologias adequadas ao contexto de desenvol-
vimento tecnológico da actualidade, comprome-
tendo a qualidade dos projectos específicos, uma
vez que os maciços não se encontram adequada-
mente caracterizados sob o ponto de vista mecâ-
nico. Estabelecendo um paralelo de senso comum,
seria como preparar um paciente para uma inter-
venção cirúrgica complicada, baseado apenas
numa análise sumário efectuada por exemplo com
martelo de reflexos e um termómetro. Com efeito,
a realidade tanto nacional como de grande parte
dos países de destino das empresas portuguesas
Nuno Cruz
Coordenador do Conselho
Regional Norte do Colégio
de Engenharia Geológica
e de Minas
21
P R O F I S S I O N A L
(Espanha, Europa de Leste, áfrica e América
Latina), demonstra que a realização de campanhas
de prospecção geotécnica é, na sua esmagadora
maioria, exclusivamente baseada em sondagens
acompanhadas de ensaios SPT. Desta realidade
resulta um conjunto desequilibrado de informação,
no que se refere ao binómio Geologia-Geotecnia,
traduzindo-se geralmente por uma identificação
mais ou menos pormenorizada da litologia e numa
escassa informação numérica de qualidade, con-
dicionando fortemente a qualidade dos parâmetros
disponíveis para entrada nos modelos de cálculo
habitualmente utilizados em projecto e, em conse-
quência, reduzindo substancialmente a capacidade
de análise de soluções proporcionadas pelas pode-
rosas ferramentas de cálculo existentes actual-
mente. De um modo geral, os projectos de natureza
geotécnica habitualmente apresentados eviden-
ciam algumas carências que se procuram discutir
em seguida de uma forma sumária:
a) A avaliação dos aspectos hidrogeológicos
resume-se com frequência à localização do nível
freático (muitas vezes contaminado pela própria
água introduzida nos processos de furação),
sendo omissa a análise dos tipos de aquífero pre-
sentes, percolação da água através das diferen-
tes unidades presentes, bem como os parâme-
tros básicos de caracterização (nomeadamente
os coeficientes de permeabilidade dos horizontes
atravessados).
b) A estimativa da escavabilidade dos materiais é
frequentemente realizada a «sentimento», tra-
duzindo-se em desvios nos valores orçamenta-
dos que condicionam o equilíbrio financeiro dos
empreendimentos. Com efeito, a passagem de
uma classificação de escavável ou mesmo ripá-
vel para desmonte com utilização de explosivos
(sobretudo em obras em linha) comporta uma
diferença de custos muito significativa, sendo
frequentes as disputas judiciais associadas a
esta problemática.
c) O ensaio SPT é utilizado como base de caracte-
rização numérica na maioria das campanhas de
prospecção independentemente do tipo de inter-
venção a realizar (escavações, fundações, etc) e
da sua complexidade inerente. Embora este seja
um ensaio normalizado, a realidade é que os
equipamentos raramente cumprem as disposi-
ções energéticas que lhe são inerentes (mesmo
quando referidas pelos fornecedores de equipa-
mentos), pelo que resultados completamente
distintos podem ser obtidos por dois equipamen-
tos diferentes, mais ainda se forem oriundos de
empresas diferentes. Em consequência, a inter-
pretação dos resultados e dedução dos parâme-
tros geotécnicos de referência dificilmente tradu-
zem a realidade comportamental dos maciços.
d) Por outro lado, a medição efectuada no decurso
da execução do mesmo ensaio assenta simples-
mente na contabilização de um número de gol-
pes necessário para a introdução de um amos-
trador no terreno, o que dificilmente poderá ser
visto como uma medição que encerre algum
rigor e, mais ainda, claramente desfazada de um
contexto tecnológico moderno. Em consequên-
cia, o ensaio exibe apenas capacidade para for-
necer uma estimativa grosseira do comporta-
mento resistente dos maciços e em materiais
representados por apenas um parâmetro geo-
técnico, nomeadamente o ângulo de atrito em
solos arenoso ou resistência não drenada em
solos argilosos, deixando de fora materiais com
comportamento coesivo-friccional (por exemplo,
solos residuais ou maciços decompostos) ou
comportamentos drenados de solos finos. Mais
ainda, a avaliação de parâmetros de deformabi-
lidade (tantas vezes condicionante) encontram-
se claramente fora do seu contexto de aplicação,
uma vez que nenhuma deformação é medida.
e) Faz-se notar, que a tecnologia actual dispõe de
equipamentos muito mais eficazes na caracteri-
zação dos maciços e que, contrariamente ao
pensamento corrente, uma campanha com
recurso a estas tecnologias não se traduz em
acréscimo de custos. Na realidade, o ensaio SPT
é um dos ensaios mais caros no mercado uma
vez que a sua utilização implica a execução de
furos de sondagem que elevam significativa-
mente os custos globais. A este respeito, ensaios
com piezocone sísmico (SCPTu), com dilatóme-
tro plano (DMT) ou com pressiómetro (PMT ou
SbPT) fornecem respostas de incomparável efi-
ciência na definição dos estados e histórias de
tensão, resistência e deformabilidade.
f ) Os modelos de interpretação e dedução dos
parâmetros geotécnicos (que serão depois utili-
22 INFO 23 • JAN FEv MAR 2011
P R O F I S S I O N A L
zados nos dimensionamentos) são com frequên-
cia reduzidos ao denominador comum da mecâ-
nica dos solos clássica, completamente inade-
quada na análise em solos residuais de
alteração, solos cimentados, maciços rochosos
decompostos (tipo W4-W5) ou mesmo em ater-
ros de resíduos sólidos urbanos (RSU). Desta
realidade resultam desvios importantes relativa-
mente ao comportamento mecânico real dos
maciços em análise.
g) Para além dos descritos no ponto anterior é
ainda comum uma outra situação que consiste
na consideração de que um maciço rochoso não
é mais do que um solo muito duro, mas homo-
géneo e isotrópico, de que resultam análises
completamente inadequadas, sobretudo no con-
texto da estabilidade de taludes de escavação
(fortemente condicionada pela orientação e
características da fracturação), bem como dos
parâmetros resistentes que realmente interes-
sam ao seu cálculo.
Um outro problema que veio introduzir ainda
mais debilidades no contexto da prospecção geo-
técnica Portuguesa está relacionado com a
recente introdução do Código de Contratação
Pública (CCP), uma vez que a principal conse-
quência se traduz na impossibilidade de as
empresas mais bem apetrechadas (no contexto
nacional) acederem aos concursos das grandes
obras caso tenham intervenção nas fases de pros-
pecção. Embora existam no mercado empresas de
menor dimensão independentes das empresas de
construção que exibem know-how e qualidade
adequadas a um bom desempenho, a verdade é
que os ritmos actuais exigem a capacidade de exe-
cução muito acelerados que implicam a utilização
de várias equipas em simultâneo numa mesma
empreitada, motivando o recurso à sub-emprei-
tada que geralmente acaba em decréscimo de
qualidade significativo. Em consequência, crescem
os desperdícios financeiros acumulados resultan-
tes tanto devido à baixa taxa de optimização das
características dos maciços (sobredimensiona-
mento) como aos custos de manutenção e repa-
ração (sub-dimensionamentos).
Tendo consciência das implicações deste con-
junto de debilidades que geram acréscimos de
custos significativos nos empreendimentos, o
Colégio de Engenharia Geológica e de Minas (RN)
propõe-se lançar um conjunto de debates, abertos
à discussão pública, subordinadas ao tema geral
«Caracterização Geotécnica. Continuar o passado
ou re-inventar o futuro?», com o intuito de contri-
buir para o desenvolvimento de práticas de carac-
terização que englobem conhecimentos e tecnolo-
gias actualizadas com o século em que vivemos.
Neste contexto, prevê-se a realização do seguinte
conjunto de sessões, ao ritmo de uma por mês e
com inicio no mês de Fevereiro de 2011:
1 – Implicações do novo código de contratação
pública na qualidade da caracterização geotéc-
nica de grandes empreendimentos.
2 – A importância da eficiência paramétrica no
desenvolvimento de modelos de cálculo numé-
rico.
3 – A utilização das redes neuronais na rentabiliza-
ção da experiência geotécnica.
4 – Ensaios in-situ em prospecção corrente. A
importância da calibração energética dos
equipamentos SPT e a introdução de ensaios
de última geração.
5 – A geofísica como meio privilegiado de caracte-
rização geotécnica.
6 – Caracterização hidrogeológica no contexto de
prospecção geotécnica corrente.
7 – Modelos de caracterização para definição de
escavabilidade de terrenos em obras de esca-
vação a céu aberto.
8 – Caracterização laboratorial e in-situ de solos
residuais.
9 – Caracterização mecânica de aterros de resíduos
sólidos urbanos.
Cada sessão consistirá numa apresentação de
30 min., por um orador convidado de reconhecido
mérito no tema em análise, seguida de uma dis-
cussão/conversa aberta ao público presente (tipo
tertúlia) e moderada pelo coordenador do Colégio
de Engenharia Geológica e de Minas na Região
Norte. As sessões decorrerão durante a semana
(em datas a anunciar) com inícios previstos para as
21.00 e com duração de 1h. 30min., embora esta
possa ser estendida, em função do interesse sus-
citado.
24 INFO 23 • JAN FEv MAR 2011
P R O F I S S I O N A L
MOTA-ENGIL ENGENHARIA E CONSTRUÇÃO «SOMOS O QUE FAzEMOS»
EMPRESA DE REFERêNCIANACIONAL NO SECTOR
DA ENGENHARIA E CONSTRUÇÃO
Em cada INFO, publicação trimestral da Ordem dos Engenheiros Região Norte, será dado destaque
a uma empresa de relevo do nosso tecido industrial. Neste sentido, e porque a presente edição envolve
o Colégio de Engenharia Civil, foi seleccionada a Mota-Engil Engenharia e Construção, que actua no
panorama internacional há mais de 60 anos.
é com base no lema “Somos o que Fazemos”, explícito no plano estratégico “Ambição 2013”, que
a principal subholding do Grupo Mota-Engil delineia a sua posição e atitude no mercado actual.
Em conversa com o Engenheiro Carlos Mota Santos, Administrador, foi possível conhecer o percurso
da mesma, as estratégias adoptadas, as expectativas e os resultados alcançados, que fazem da Mota-
Engil Engenharia e Construção uma empresa de sucesso, sendo uma referência nacional nos sectores
da construção civil, obras públicas, resíduos, águas, logística e operações estratégicas.
Resultante da fusão das empresas Mota&Companhia (fundada em 1946 em Amarante, mas com
actividade em Angola ligada ao sector das madeiras, começou a operar na construção em 1948), e
Engil (fundada em 1952), a Mota-Engil, Engenharia e Construção, SA nasce em 2003, como uma área
de negócio da empresa mãe também resultante desta fusão: Mota-Engil SGPS (que tinha sido formada
em 2000). A Regularização do baixo Mondego e a construção da Ponte do Tua foram, respectivamente,
as primeiras grandes obras de engenharia destas empresas originárias, tendo sido a alavanca para a
actual presença relevante no mercado português de construção.
25
P R O F I S S I O N A L
Para além da Engenharia e Construção, surgiram mais três áreas de negócio que definiram a estra-
tégia da Mota-Engil SGPS: as Concessões de Transportes, Imobiliário e Turismo e Ambiente e Serviços.
O Grupo Mota-Engil começou então a desenvolver-se e actualmente exerce também actividade no
sector da Indústria e Energia e na área do Turismo. Carlos Mota Santos sublinha que “é pretensão do
Grupo ser líder em todos os mercados onde actua, tendo por visão a unidade, a diversificação das
áreas de negócio, a liderança nacional e a internacionalização”.
Devido à pouca expressão portuguesa no panorama internacional, a expansão para outros merca-
dos não tem sido tarefa fácil, mas o orgulho na nacionalidade portuguesa e a convicção que a enge-
nharia portuguesa é de excelência, traduzem-se num Grupo multifacetado, presente em 18 países,
com mais de 17 mil colaboradores em todo o mundo, dos quais 6 mil em Portugal. “Pode dizer-se
que o Grupo é o maior exportador de mão-de-obra nacional e que conta com um volume de negócios
internacional superior ao nacional”, afirma.
O Grupo Mota-Engil tem a capacidade de se contextualizar nos mercados onde actua, integrando
empresas e quadros locais. Este pensamento estratégico é a receita para a sua longevidade em países
como Angola. De acordo com Carlos Mota Santos “operar como empresa local, adoptando a cultura
e os quadros legais do país, assim como promover a economia, seja através da construção de infra-
estruturas, da incorporação dentro das empresas ou da formação dos recursos humanos, é uma van-
tagem e um modelo para o sucesso”.
“Somos o que Fazemos”, que pretende ilustrar que tudo o que se faz reflecte a imagem da Mota-
Engil Engenharia e Construção e que é na qualidade das obras executadas e nos serviços prestados
que está a única e verdadeira riqueza da marca, é o lema da empresa no âmbito do Projecto do Grupo
“Ambição 2013”. Este estabelece como eixos estratégicos o crescimento sustentado, a diversificação,
a internacionalização e o desenvolvimento do capital humano, norteado por valores como “ a respon-
sabilidade social; a competência e o rigor; o empreendedorismo e a inovação; o compromisso; a sus-
tentabilidade e a ética profissional”, numa missão de “pensar sustentável, agir responsável”.
Em Portugal, o Grupo manteve a estratégia para o mercado tradicional na área de adjudicação de
concessões, dos quais se destacam quatro projectos emblemáticos: duas concessões rodoviárias –
Douro Interior e Pinhal Interior - e a nível hidráulico – a barragem do Foz Tua e o Reforço de Potência
de venda Nova.
O Centro de Investigação para o Desconhecido da Fundação Champalimaud, cujos trabalhos ter-
minaram em Outubro de 2010, é também uma obra de referência, ao qual se juntam projectos em
execução como a Fábrica de baterias da Nissan; o Museu dos Coches em Lisboa; o Programa de
Modernização das Escolas; e a Construção de Infra-estruturas complementares de irrigação, inseridas
no plano de Rega do Alqueva.
A nível internacional, o Grupo Mota-Engil posiciona-se sobretudo nos mercados Africanos (áfrica do
Sul, Angola, Cabo verde, Moçambique, Malawi e São Tomé e Príncipe), na Europa Central e de Leste
(Eslováquia, hungria, Polónia, República Checa e Roménia), bem como na América (EUA, México e
Peru), apostando recentemente no brasil e Colômbia, tendo ainda como meta o mercado Indiano.
De salientar o Projecto baía de Luanda, em Angola, a construção da Aldeia Olímpica dos Jogos
Pan-africanos de 2011, em Moçambique; o trabalho na área da mineração e energia no Malawi; a
concessão de 700 milhões de euros de investimento, correspondente a 60 km de auto-estrada, no
México, e as concessões rodoviárias, os resíduos sólidos urbanos e o programa de habitação social
“Minha casa, minha vida” no brasil.
Dando continuidade à estratégia de diversificação de actividades e mercados foi criada a Mota-
Engil Indústria e Inovação (MEII), com o intuito de investir fora de Portugal, dinamizando e suportando
projectos de base industrial desenvolvidos por parceiros com capacidade e vocação para actuar em
novos mercados. Nesse sentido foi assinado, entre a Mota-Engil Indústria e Inovação (MEII), a AICEP
e a Caixa Geral de Depósitos, um acordo de parceria no apoio financeiro e operacional às PME nacio-
nais que pretendam internacionalizar-se. Esta iniciativa permitirá às PME portuguesas do sector indus-
Formado em Engenharia Civil, Especialidade vias
de Comunicação, pela Faculdade de Engenharia
do Porto, realizou Estágio na Mota & Companhia
e iniciou o seu percurso na área da produção
nacional. Posteriormente esteve ligado durante 3
anos aos mercados internacionais, tendo vivido
parte desse tempo na Polónia e trabalhado na
área da produção e no controlo de gestão. Em
2008 integrou a administração da Mota-Engil
Engenharia nas áreas técnicas e mais recente-
mente nos projectos rodoviários nos mercados de
Portugal e América Latina.
breve Perfil
Carlos Mota Santos
26 INFO 23 • JAN FEv MAR 2011
P R O F I S S I O N A L
Engenharia e Construção
Principais Indicadores Financeiros
volume de Negócios (M€) Margem EbITDA
trial apostar no crescimento em mercados externos, nomeadamente onde o Grupo está presente. Entre
os sectores que serão privilegiados estão os moldes, vidro, farmacêutica, têxtil, cutelaria e/ou calçado.
Com uma conjuntura desfavorável e de crise no sector da construção, o Grupo apresentou os
seguintes resultados em 2010: volume de Negócios - 2005 milhões de euros; EbITDA - 237,3 milhões;
Resultado Líquido - 40,1 milhões de euros e uma Carteira de Encomendas de 3,3 mil milhões de
euros, dos quais 2,9 mil milhões de euros são relativos à área de negócio Engenharia e Construção.
“Pensamos poder avançar que no ano de 2010 foi mesmo cumprido o orçamento e até ultrapassada
a meta estabelecida”, afirmou Carlos Mota Santos, que não quis deixar de realçar o peso da indústria
da construção no nosso universo.
“é o motor de toda a economia e o pilar de uma sociedade desenvolvida. Em Portugal assiste-se
actualmente à desvalorização de certas profissões, nomeadamente a de Engenheiro, o que me parece
um contra-senso. Diria mesmo que é uma falência da sociedade, sendo por isso fundamental que haja
respeito por esta profissão. Nesse sentido, a Ordem dos Engenheiros deve ser mais forte e interventiva,
com um papel mais decisivo, de motivação do país e de enobrecimento da engenharia portuguesa”.
Inserem-se a seguir algumas figuras que dão uma ideia mais concreta sobre o desempenho do Grupo.
Mercados Internacionais
MÉxICO
IRLANDA
PORTUGAL
CAbO vERDE
REP. CHECAPOLóNIA
ESLOvÁQUIAHUNGRIA
ESPANHAROMÉNIA
S.TOMÉ E PRíNCIPEPERÚ
bRASIL ANGOLAMALAwI
MOÇAMbIQUE
ÁFRICA DO SUL
COLôMbIA
27
P R O F I S S I O N A L
backlog (2.904 M€) – Dezembro 2010
– Grupo Mota-Engil
Projecções 2013
Na última edição da revista INFO, na página
42,antes da última pergunta, por lapso foi omitida
uma questão e respectiva resposta que se
incluem a seguir. Ao autor e aos leitores as nossas
sinceras desculpas.
O livro “História da Engenharia em Portugal” pre-
tende ser um relato exaustivo da história da enge-
nharia portuguesa?
Não é exaustivo, nem coisa que se pareça. Numa
entrevista que tive com o Dr. António Louçã disse
que este livro tem 400 páginas, mas se fosse feito
por uma equipe de pessoas de várias especiali-
dades de engenharia poderia ser de 4000 pági-
nas, porque dá para isso. há pouco tempo saiu
em Portugal um livro de três volumes que trata
da história da Engenharia Portuguesa do século
XX. Tem mais de 2000 páginas e foi escrito por
138 especialistas. E só trata do século XX. O meu
livro é muito resumido e sintético, destina-se ao
público em geral e está escrita numa linguagem
vulgar, despretensiosa.
À CONVERSA COM ENG.º FRANkLIN GUERRA PEREIRA
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C I E N T í F I C O
CIDADES DO FUTUROMEGA-TENDêNCIASGLOBAIS
José F. G. Mendes
vice-Reitor da
Universidade do Minho
«The 19th century was a century of empires, the 20th century was a century of nation states. The 21st
century will be a century of cities.»
Wellington E. Webb, former Mayor of Denver, 2000
1. INTRODUÇÃO
O mundo está a tornar-se, inexoravelmente, urbano. Mais de metade da população mundial vive
em cidades, estimando-se que a população urbana cresça até 2050 dos actuais 3,5 biliões para cerca
de 6,4 biliões de pessoas. O homo sapiens está em vias de se converter em homo sapiens urbanus
em praticamente todas as regiões do globo.
As cidades são já o melhor local para viver, na possibilidade de partilhar espaços urbanos, trabalhar,
estudar, aceder à cultura, participar em eventos e exercer os deveres e direitos. A concentração de
oportunidades faz das cidades locais muito atractivos, mas também mais expostos às tendências.
quando se manifestam em grande escala, as tendências adquirem a designação de mega-tendên-
cias globais. As ameaças e as oportunidades que lhes estão associadas configuram desafios que exi-
gem das cidades respostas consentâneas. Com um mundo em rápida mutação, a competitividade
das cidades joga-se na interpretação das mega-tendências, na adopção dos desafios, na definição de
uma visão e de uma marca. Por fim, exige-se a esta cidade do futuro uma liderança forte.
2. AS MEGA-TENDÊNCIAS
Mega-tendência é uma grande alteração social, económica, política, ambiental ou tecnológica
que, na sua fase inicial, se forma e manifesta lentamente. Uma vez iniciada, vai afectando actividades,fig. 1 (em cima)
A cidade densa
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C I E N T í F I C O
processos e percepções até que adquire uma dinâmica irreversível e se instala globalmente. A inércia
própria das mega-tendências globais tem dois efeitos: por um lado, são inescapáveis, o que significa
que se impõem no quotidiano para além da nossa própria vontade; por outro lado, uma mega-ten-
dência só é substituível por uma outra mega-tendência, num ciclo de invasão-sucessão de uma rea-
lidade por outra, tipicamente espaçado por vários anos ou mesmo décadas.
O meu balanço entre a escala e impacto e, por relevância para o mundo urbano, conduziram-me a
uma selecção de sete mega-tendências, a saber: Globalização e Glocalização sem Recuo; Urbanização
e Migração como Regra; Economia da Inovação sem Alternativa; Demografia e Força de Trabalho em
Mudança; O Futuro da Energia e a Energia do Futuro; Clima e Ambiente em Risco; Individualismo
versus Redes Sociais.
Globalização e Glocalização sem Recuo
Amado por uns, odiado por outros, o processo de globalização é uma mega-tendência irreversível,
bem visível no quotidiano de cada um desde há já muitos anos. Com efeito, as economias, sociedades
e culturas dos países e regiões do mundo estão permanentemente convocadas para um processo de
integração, designado «globalização», através de redes globais de comunicação, transporte e comércio.
Urbanização e Migração como Regra
A urbanização é uma mega-tendência que vem já do século XX e promete manter-se ainda nas
próximas décadas. Segundo as Nações Unidas, a percentagem da população a viver em áreas urbanas
cresceu de uns modestos 13 por cento (220 milhões) em 1900 para 29,1 por cento em 1950, 46,6
por cento em 2000 e 50,6 por cento em 2010, estimando-se que em 2050 atinja 69,6 por cento. Em
número de habitantes, vivem actualmente em cidades cerca de 3,5 biliões de pessoas, valor que
ascenderá a cerca de 6,4 biliões em 2050.
A globalização tende a estruturar as relações globais a partir de nós, nos quais se concentram as
oportunidades. Nas cidades estão o dinheiro, as empresas, o emprego, as escolas, os serviços, a cul-
tura, a diversidade. Não admira que o seu poder de atracção continue a alimentar um êxodo que se
manifesta sobretudo nos jovens adultos.
A associação da migração à urbanização tem constituído um tópico sensível no seio das cidades,
uma vez que à pressão sobre as infraestruturas e serviços inerente ao crescimento, acrescenta novas
exigências ao nível da coesão social, do emprego, da inclusão e da identidade. Noutra perspectiva, a
migração global abre possibilidades interessantes ao nível do capital social, podendo mesmo constituir
em muitos casos a chave para a competitividade de cidades, regiões e até países.
Economia da Inovação sem Alternativa
A economia da inovação, por vezes designada por economia do conhecimento, é a mega-tendência
chave para o crescimento, que seguramente determinará no futuro a liderança entre nações, empresas
e indivíduos.
A educação é um requisito infraestrutural do conhecimento. Este, por sua vez, é a unidade
monetária da economia da inovação. Muitos países, entre os quais Portugal, têm protagonizado um
esforço notável na produção de conhecimento, dedicando parcelas apreciáveis dos seus orçamentos
– público e das empresas – à I&D. No entanto, para transformar conhecimento em riqueza são
necessários alguns mecanismos de ignição, as chamadas plataformas de transferência de tecnologia
e de empreendedorismo. A combinação de todas estas componentes configura aquilo a que se
chama ecossistema de inovação, algo que está na base dos casos de sucesso de regiões e cidades
inovadoras.
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C I E N T í F I C O
Demografia e Força de Trabalho em Mudança
As alterações demográficas são uma mega-tendência que assume, actualmente, andamentos muito
diferenciados no mundo e que terá, inquestionavelmente, um forte impacto nas próximas décadas.
De forma simplificada, os grandes movimentos demográficos podem sintetizar-se assim: a população
do globo está a aumentar; esse aumento acontece de forma acentuada no mundo subdesenvolvido e
em desenvolvimento, registando-se, pelo contrário, uma estagnação ou mesmo regressão no mundo
desenvolvido; com o aumento generalizado da esperança de vida, a população está a envelhecer.
Entretanto, a tendência da economia da inovação está também a influenciar a força de trabalho
global, cujo futuro não será definido pela geografia, mas sim pelo talento e capacidade de adaptação,
num contexto onde o «emprego para a vida» já não vale.
O Futuro da Energia e a Energia do Futuro
O paradigma energético global está em risco e exige uma alteração dramática. Em traços gerais,
pode afirmar-se que o mundo está dependente das fontes de energia fósseis, as quais são limitadas
e começam a dar sinais de escassez. Com as reservas concentradas num número de países e locali-
zações reduzidos e a procura distribuída globalmente, com uma meia dúzia de super-consumidores,
perspectiva-se uma disputa global pela energia, capaz mesmo de redefinir os equilíbrios regionais no
mundo.
quais são então as fontes de energia do futuro? As mais promissoras parecem ser o hidrogénio e
a nano-energia, embora ainda venham distantes.
No futuro imediato, a produção de electricidade a partir da energia solar, dita fotovoltaica, e a partir
do vento, dita eólica, promete avanços espectaculares. Em espaços urbanos, a geração distribuída
recorrendo a estas fontes renováveis, segundo um modelo que se designa por microgeração, e inte-
grada em redes inteligentes (designadas por smart grids), pode permitir níveis de eficiência e susten-
tabilidade até agora inviáveis.
fig. 2
O presidente Obama,
com painéis solares
em fundo, promove
as smart grids
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Clima e Ambiente em Risco
Parece irrefutável o diagnóstico de Al Gore, quando afirma que a civilização humana e o sistema
ecológico terrestre entraram em colisão, sendo a crise climática a mais proeminente, destrutiva e
ameaçadora manifestação desse conflito. A actividade humana poluiu os céus com gases de efeito de
estufa, nomeadamente o dióxido de carbono, o metano e o óxido nitroso expelidos por chaminés indus-
triais e escapes de automóveis. Estes gases encurralam o calor na atmosfera e provocam o aumento
das temperaturas no ar, nos oceanos e na superfície terrestre, com todos os efeitos sucessivos que se
propagam ao nível dos fenómenos atmosféricos e climáticos.
As cidades, pela diversidade, concentração e intensidade das actividades que albergam, são um
dos maiores poluentes do planeta. A pegada ecológica dos espaços urbanos ultrapassa largamente a
capacidade natural de regeneração de recursos e de absorção de emissões, muito à custa de estilos
de vida a que correspondem mais elevados consumos de energia.
Individualismo versus Redes Sociais
O fenómeno do individualismo contemporâneo deriva, em boa medida, da volatilidade das referências
do indivíduo, quer porque estruturas clássicas, como a família e a escola, entraram em crise, quer porque
os laços de pertença resultantes da sociedade em rede são frequentemente demasiado frágeis ou efé-
meros. A pré-configuração do papel do indivíduo no colectivo é algo que parece ter caducado.
A centralidade do «Eu» coabita com a presença, assídua e virtual, nas redes sociais. Nelas, os indivíduos
agregam experiências pessoais, lúdicas e profissionais. Nelas revelam o que fizeram, o que fazem, o que farão
ou o que poderão vir a fazer. Nelas procuram emprego, empregados, amigos, namorados ou familiares.
3. OS DESAFIOS PARA AS CIDADES
As cidades são concentrações de pessoas e actividades que nasceram porque em determinado
momento da história fizeram sentido. O percurso de evolução de cada uma, sobretudo a forma como
se relaciona com as tendências da sua envolvente, imediata ou distante, dita o seu estatuto. há-as
passivas, reactivas, proactivas e interactivas. No seu máximo expoente, a cidade é um pólo de activi-
dade de alta intensidade, lugar onde a concentração de capitais humano, social, democrático, cultural,
ambiental, tecnológico e financeiro lhe confere uma natureza vibrante, uma interactividade que lhe
permite jogar com as tendências na maximização do seu próprio benefício.
Face às mega-tendências globais, as cidades sabem que têm de mudar. O status quo já não é
uma opção viável. As ameaças e oportunidades dum mundo em mudança, rápida e profunda, confi-
guram desafios que exigem acção. A visão e agenda estratégica da cidade do futuro será, essencial-
mente, baseada na interpretação destas tendências e do respectivo impacto na cidade.
Tomando por referência o universo das cidades médias do mundo desenvolvido ou em desenvol-
vimento, excluindo portanto desafios que se colocam em aglomerações urbanas com características
específicas, como é o caso das mega-cidades ou das cidades de regiões ou países subdesenvolvidos,
é possível sintetizar aqueles que são os desafios que se colocam às cidades do futuro.
Desafio decorrente da tendência da globalização/glocalização:
Desafio 1: As cidades competem entre si, na disputa do estatuto de nós de relevância nas redes estru-
turantes do processo de globalização.
Desafios decorrentes da tendência da urbanização e migração:
Desafio 2: As cidades procuram a eficiência, a segurança, a estética e a sustentabilidade, no sentido de
oferecer elevados padrões de qualidade de vida e melhor acomodar o seu crescimento.
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Desafio 3: As cidades procuram criar condições para integrar os imigrantes, na sua diversidade e mul-
ticulturalidade.
Desafios decorrentes da tendência da economia da inovação:
Desafio 4: As cidades procuram desenvolver plataformas de I&D+i (investigação, desenvolvimento e
inovação) e de transferência de conhecimento.
Desafio 5: As cidades procuram desenvolver plataformas de empreendedorismo.
Desafio 6: As cidades constituem-se como espaços de prototipagem de inovações (living-labs).
Desafio 7: As cidades procuram oferecer conectividade electrónica ubíqua e tendencialmente gratuita.
Desafios decorrentes das tendências demográficas e da força de trabalho:
Desafio 8: As cidades procuram oferecer educação terciária de alto nível.
Desafio 9: As cidades procuram atrair e reter talentos de classe internacional.
Desafio 10: As cidades procuram adaptar-se para melhor servir uma população envelhecida.
Desafios decorrentes das tendências energéticas:
Desafio 11: As cidades procuram reduzir a sua dependência dos combustíveis fósseis.
Desafio 12: As cidades procuram desenvolver redes de energia inteligentes.
Desafios decorrentes das tendências ambientais e do clima:
Desafio 13: As cidades procuram reduzir as emissões de gases de efeito de estufa e de outros poluen-
tes atmosféricos.
Desafio 14: As cidades procuram reduzir o ruído ambiental urbano.
fig. 3
O citycardo MIT
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Desafio 15: As cidades procuram soluções para limitar a exposição das pessoas à carga poluente.
Desafios decorrentes da tendência do individualismo e redes sociais:
Desafio 16: As cidades procuram oferecer governo e serviços centrados no cidadão, ininterruptos e
com respostas tendencialmente individualizadas.
Desafio 17: As cidades procuram criar espaços de expressão individual e colectiva, combinando iden-
tidade com diversidade, e recuperando o convívio presencial.
Perante um tão exigente quadro de desafios, cabe às cidades definir o seu posicionamento. Antes
mesmo da assumpção de um conceito de cidade, que será instanciado por uma visão, uma estratégia,
uma estrutura organizativa e coroado por uma liderança, importa reflectir sobre a atitude face aos
desafios. A este propósito, são possíveis quatro caminhos: a passividade, a reactividade, a proactividade
e a interactividade. A cada uma destas tipologias de atitude corresponderá um cenário de futuro da
cidade.
Dir-se-á que, no que à atitude diz respeito, o sucesso das cidades se joga entre a proactividade
e a interactividade. Todavia, esta conclusão só é válida na presença de um quadro de competência
instalado ou mobilizável na cidade. A regra do quadrante superior direito da matriz skill-will (com-
petência-vontade) está aqui bem presente: os que mais querem e mais competências mobilizam
são os mais autónomos, os mais capazes e, em condições normais, os que triunfarão.
Estamos então chegados à questão nuclear das competências das cidades. Como ponto de par-
tida, importa sublinhar que cada cidade tem uma «assinatura» composta por um núcleo de com-
petências consolidado resultante do seu próprio percurso. Nalguns casos, o elevado nível de espe-
cialização confere às cidades designações que reflectem aquilo que são. Disso são exemplos as
cidades portuárias, as cidades do jogo, as cidades mineiras, as cidades têxteis, as cidades de feiras
ou as cidades da finança. Tal como as empresas, também as cidades mono-competentes estão mais
expostas ao risco e às tendências globais.
No passado, as assinaturas de competências das cidades eram construídas ao longo de décadas
ou mesmo séculos. Era um tempo em que a «arte» passava de pais para filhos, em que as escolas
profissionais e os lugares se confundiam. As inovações surgiam e instalavam-se numa base incre-
mental, dando tempo para a adaptação dos profissionais, das famílias, das instalações, dos mer-
cados e dos lugares. O modelo de competitividade e desenvolvimento das cidades assentava em
ciclos do tipo desafio-competências-produto, de duração larga no tempo, ao ponto de não exigir a
definição explícita de uma visão. Nas últimas décadas assistiu-se à caducidade deste modelo, bem
retratada na erosão da base sócio-económica de muitas cidades portuguesas. Ironicamente, o
afluxo de dinheiro e investimento público apoiado pela União Europeia nos últimos 25 anos tem
mascarado este desfecho, alimentando a ideia de que o sucesso e a competitividade das cidades
é medido pela quantidade de projectos físicos de cariz infraestrutural. Chegados ao século XXI,
pode dizer-se com propriedade que a maioria das nossas cidades está, do ponto de vista tangível,
bem apresentada e equipada. Mas os mais atentos percebem também que algo está errado, que
o nível de competitividade e de actividade é insatisfatório. Existe palco, mas escasseiam a progra-
mação e os actores.
Os desafios que se colocam na actualidade apresentam-se com ritmos e formatos bem diferentes.
Ajustar ou refundar o perfil de competências é tarefa para a qual o tempo nunca é suficiente,
criando-se neste processo desequilíbrios que abrem brechas na competitividade das cidades. Por
outro lado, a diversidade dos desafios é de tal ordem que deixa a descoberto a insensatez da mono-
especialização extrema. A cidade não pode mais ser um espaço monolítico, com necessidades bem
identificadas e competências condizentes, que produz e vende de acordo com regras estáveis e
bem conhecidas.
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C I E N T í F I C O
4. A CIDADE DO FUTURO
qual é, então, o conceito para a cidade do futuro? Como alinhar com as mega-tendências globais?
Como responder aos novos desafios, como os 17 identificados acima? Existirão, seguramente, muitas
e válidas respostas para estas questões, com declinações decorrentes dos contextos, dos momentos
e das pessoas.
As características mais marcantes da cidade do futuro serão a diversidade e a velocidade. A
cidade é já, parcialmente, e será muito mais no futuro, um espaço multi-dimensional de elevada
intensidade. Acontece muito e depressa, quer do lado da procura, quer do lado da oferta. A cidade
cria os problemas e as soluções. Na verdade, com a sua concentração de talento e meios, a cidade
tem a responsabilidade de ser a chave libertadora, o problem-solver da humanidade. Esta é a sua
missão. A esta cidade, a do futuro, exige-se um ambiente propício à diversidade e à criatividade.
Porque, face ao ritmo dos desafios, a cidade tem de viver em regime de permanente reinvenção,
tem de ser um laboratório vivo para a criação e teste, um espaço de incubação de soluções.
Esta é a cidade que atrai talentos, que estimula a inovação, que está sempre conectada, que
procura um funcionamento sustentável e que assume a sua autenticidade. A cidade do futuro dife-
rencia-se pela originalidade e intensidade do processo de incubação generalizado em cada uma
das suas dimensões. Pode ser a cidade intelectual, a cidade inovadora, a cidade conectada, a cidade
sustentável, a cidade autêntica; ou algo de todas elas, dependendo da forma como aposta e respira
em cada uma destas dimensões. Este blending está intimamente associado à visão construída para
a cidade.
A visão duma cidade reflecte a sua ambição, adoptando desafios que tipicamente decorrem do
alinhamento entre oportunidades e pontos fortes. Uma cidade atenta ao futuro terá necessariamente
de avaliar os 17 desafios atrás elencados e proceder a uma selecção equilibrada. A contextualização
dos desafios ou, por outras palavras, a sua adaptação aos condicionalismos da envolvente relevante
da cidade, define a missão. A cidade do futuro que proponho é o veículo que disponibiliza o
ambiente adequado à realização da visão e ao desempenho da missão.
São cinco as dimensões do sucesso da cidade do futuro, como se descreve de seguida (Fig. 4).
Conectada
Inovadora
Intelectual
Autêntica
Sustentável
visão
liderança
marca
Cidade do
futuro
fig. 4
Dimensões do
sucesso da cidade
do futuro
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A cidade Intelectual
Os talentos são um activo indispensável numa sociedade do conhecimento e da criatividade.
A cidade intelectual é aquela que alberga estudantes de ensino superior, profissionais criativos,
jovens inconformados e móveis, com mentalidade de mercado, tolerantes, de nacionalidades e culturas
diferentes. A identificação, atracção e retenção de talento é um exercício crítico na cidade do futuro.
A cidade Inovadora
A capacidade de gerar ideias inovadoras e de as tornar realidade é um factor competitivo incon-
tornável. A cidade inovadora promove e apoia a investigação e a experimentação, a protecção da pro-
priedade industrial e dos direitos de autor, o empreendedorismo, a atracção do capital de risco e dos
«business angels». Organiza-se, combinando as infraestruturas e as funções próprias de um ecossis-
tema de inovação.
A cidade Conectada
A facilidade e intensidade de interacção são factores catalisadores da actividade. A cidade conec-
tada cultiva o «networking» comunitário, a coesão sócio-económica, o transporte público, a presença
de estudantes estrangeiros, as viagens internacionais dos seus cidadãos e o acesso à internet. Neste
contexto, a conectividade electrónica através da banda larga, sem fios e ubíqua, é um factor decisivo.
A cidade Sustentável
A redução da dependência dos combustíveis fósseis é porventura o caminho mais eficaz para a
sustentabilidade da cidade, sobretudo porque contribui para a redução das emissões de gases de
efeito de estufa. Assim, a cidade sustentável dispõe de redes de energia inteligentes dotadas de pontos
de microgeração a partir de fontes renováveis. Para além disso promove sistemas de transporte mais
eficientes e protege os cidadãos das emissões de poluentes atmosféricos e do ruído ambiental.
A cidade Autêntica:
As características únicas e irrepetíveis de um lugar são a mais segura origem da sua vantagem
competitiva. A cidade autêntica orgulha-se dos seus comportamentos ou das actividades desalinhados
do comum, assume a variedade da sua programação cultural ou do seu património, ostenta padrões
diferenciadores de qualidade de vida e elevados níveis de tolerância.
5. CONSIDERAÇÃO FINAL
No futuro, as cidades serão fortemente influenciadas pelas mega-tendências globais e pelas oportu-
nidades e ameaças que delas decorrem. A construção de uma visão, que reflecte a ambição da cidade,
deve ter em consideração uma criteriosa selecção dos desafios e a respectiva contextualização.
A cidade do futuro desdobra-se em cinco dimensões do sucesso, constituindo cada uma delas
uma cidade em si: a cidade intelectual, a cidade inovadora, a cidade conectada, a cidade sustentável
e a cidade autêntica.
Para cada uma destas dimensões será possível sintetizar uma carteira de indicadores bem estru-
turada que permita: (i) uma avaliação e leitura da evolução da cidade, numa perspectiva temporal
longitudinal; e (ii) uma avaliação comparativa e respectiva análise de benchmarking face a outras
cidades concorrentes.
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C I E N T í F I C O
PATOLOGIAEM REvESTIMENTOSDE FACHADA
REABILITAÇÃODO PARQUE HABITACIONAL
Ana Chaves
Engenheira Civil
Aires Camões
Professor da Universidade
do Minho
1. INTRODUÇÃO
Nas sociedades contemporâneas, é reconhe-
cida a importância cultural e económica da con-
servação do património arquitectónico e urbano,
bem como, da reabilitação do parque habitacional.
No conjunto dos países europeus, Portugal é
um dos que mais sistematicamente deixa degra-
dar o edificado, prevalecendo ainda atitudes de
construir de novo ao invés de reconstruir/reabilitar
o existente, embora, actualmente, a actividade de
conservação e reabilitação já tenha registado
taxas de crescimento significativas.
Pela sua complexidade, a conservação do
património, a regeneração urbana e, em particular,
a reabilitação das fachadas das construções, impli-
cam uma componente técnica interdisciplinar e
altamente especializada que urge promover e
apoiar no nosso país. Apoio esse que passa neces-
sariamente pelo estabelecimento de políticas e de
normas regulamentares que visem a promoção e
o incentivo à reabilitação urbana e do edificado.
Impõe-se, portanto, como um dos desafios da
actividade da construção, uma mudança de para-
digma onde prevaleçam atitudes de conservar e
aproveitar os recursos do nosso património cons-
truído. E, desde logo, principiar por um dos com-
ponentes que maior cuidado deverá merecer,
face à circunstância de serem a cara visível das
construções e por serem as mais expostas aos
mecanismos de degradação, ou seja, as fachadas
dos edifícios.
Além de que se obtém um maior ganho eco-
nómico no custo global de um edifício ao longo
do tempo se as medidas que visem o prolonga-
mento da sua vida útil, forem tomadas na fase de
projecto porque, com o passar do tempo, os pro-
blemas patológicos que emergem nas fachadas
dos edifícios vão-se agravando. Daí que, como
expressa a Lei de Sitter (fig. 1), as correcções são
mais duráveis, mais fáceis de executar e mais
baratas, quanto mais cedo forem realizadas.
MANUTENÇÃO CORRETIVA
MANUTENÇÃO PREVENTIVA
EXECUÇÃO
PROJETO
CUSTO RELATIVO DA INTERVENÇÃO
1
t4
t3
t2
t1
5 25 125
TE
MP
O
fig. 1 (em baixo)
Lei de Sitter. [1]
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2. PATOLOGIA EM REvESTIMENTOS
DE FACHADA
Foi efectuado um estudo envolvendo a carac-
terização da realidade física do edificado existente
na zona envolvente ao núcleo antigo da cidade de
valpaços, procurando perceber quais os revesti-
mentos de fachada que predominam e as ano-
malias mais frequentes que os mesmos apresen-
tam. Nesse sentido e de forma a delimitar o
edificado a analisar, considerou-se que seriam
alvo de estudo, todos os edifícios de habitação
multifamiliar, que possuam pelo menos três pisos
acima do rés-do-chão e idade inferior a 30 anos.
Assim, analisaram-se 64 edifícios de habitação
multifamiliar, sobre os quais recaiu um levanta-
mento visual das suas anomalias, determinando-
se a extensão e o alcance dos problemas patoló-
gicos presentes, procurando quantificar a real
situa ção dos edifícios e identificar eventuais
padrões de degradação. Dessa análise, verifi cou-
-se, por um lado, que o revestimento de pintura
e o cerâmico são os mais representativos, que
aliás deve equivaler também ao que se afigura a
nível nacional, e por outro, que as patologias se
repetem consoante o tipo de revestimento exterior
que os edifícios ostentam.
Assim, quando estamos perante revestimen-
tos de pintura, detectou-se que as manchas são
as anomalias mais representativas sobretudo ao
nível dos peitoris, seguindo-se as fissuras, quer a
nível dos vãos, quer dos pisos e os empolamentos
da película de pintura. No revestimento cerâmico
são o descolamento, as eflorescências e as fissu-
ras. Importa, por isso, perceber porque estas
patologias são tão frequentes nos nossos edifícios.
2.1 As Manchas
Os peitoris, por serem superfícies horizontais
salientes da fachada são propícios à acumulação
de partículas de sujidades, que, pela acção da
água, nomeadamente a proveniente das chuvas,
escorrem sobre a mesma, formando manchas
escuras.
A exposição prolongada, sem qualquer opera-
ção de limpeza, fará com que a sujidade penetre
no interior do revestimento, dando origem a uma
película de difícil limpeza.
Uma das formas de controlar o aparecimento
desta patologia, pode passar pela utilização de pei-
toris lisos, com pendente para o exterior e com pin-
gadeira 3 a 4 cm para além do pano de alvenaria.
Para a remoção das manchas pode proceder-
se à lavagem do revestimento. No entanto, é
aconselhável raspar primeiro as acumulações de
sujidades mais significativas com auxílio de uma
escova ou espátula, sem deteriorar o suporte, e
eliminar os resíduos com jacto de água de alta
pressão, se possível com água quente.
2.2 As Fissuras
As fissuras são um tipo de patologia muito fre-
quente nos elementos superficiais de revesti-
mento e evidenciam deformações no suporte,
que podem ser motivadas por causas mecânicas,
térmicas, químicas ou pela presença de humi-
dade.
As fissuras ao nível dos pisos (normalmente
horizontais) situam-se, na sua maioria, na transi-
ção entre a laje e o pano de alvenaria, onde não
existe uma relação de interdependência entre
ambos, pelo que, os esforços produzidos num
deles serão transferidos para o outro que, por
possuírem comportamentos mecânicos distintos,
levam ao aparecimento de esforços localizados de
tracção e à manifestação de fissuras, pelo que é
fig. 2 (à esquerda)
Manchas nos peitoris
fig. 3 (à direita)
Fissuras
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necessário ter ciente que, se estas uniões cons-
trutivas não ficam bem resolvidas, é inevitável que
passado algum tempo as fissuras apareçam.
As fissuras ao nível das padieiras dos vãos
devem-se principalmente a deformações higrotér-
micas da alvenaria, nas zonas onde as tensões
são mais elevadas.
Na sua reparação, devemos assumir as fissu-
ras como juntas, abrindo-se ao longo de todo o
seu desenvolvimento uma cunha em forma de v,
removendo todo o material de reboco adjacente
à fenda bem como os materiais não aderentes.
Sela-se a cunha com um mástique de poliure-
tano e preenche-se a fenda com uma argamassa
de reparação armada com malha de fibra de vidro
ou uma rede sintética e executa-se o novo reves-
timento. No caso das fissuras ao nível dos vãos,
por serem pontos sensíveis, deverão ser ainda
reforçados os seus cantos com faixas de arma-
dura com 0,30X0,30 m2.
2.3 Empolamentos
Os empolamentos caracterizam-se pela pre-
sença de bolhas no revestimento e o seu apare-
cimento deve-se fundamentalmente à presença
de excesso de humidade na base, proveniente
de infiltrações através de defeitos de construção
ou pode, também, ser consequência da falta de
aderência motivada por uma deficiente execu-
ção do revestimento, nomeadamente o uso de
sistemas de pintura inadequados, tempo insufi-
ciente entre demãos ou até a utilização de méto-
dos de aplicação incompatíveis com o produto
aplicado.
Na presença de empolamentos deverá pro-
cede-se à escovagem com vista à remoção do
revestimento degradado até uma profundidade
em que se encontre com boa aderência. Após
fig. 4 (ao lado à esquerda)
Empolamentos
fig. 5 (ao lado à direita)
Descolamento
remoção do revestimento deverá verificar-se se
o suporte não se encontra danificado e se está
apto para receber nova pintura. Na escolha do
produto de pintura deverá ter-se em conta a
compatibilidade com as condições de exposi-
ção.
2.4 Os Descolamentos
O descolamento verifica-se quando estamos
perante problemas de compatibilidade de defor-
mações, devido a movimentos do suporte ou
variações dimensionais por efeitos de tempera-
tura, que não são acompanhados pelo revesti-
mento exterior comum e contínuo.
Ao existirem deformações no suporte,
geram-se tensões que, por sua vez, são trans-
mitidas às peças cerâmicas que, ao não serem
compensadas pelas juntas de dilatação estrutu-
rais e juntas de assentamento com largura e
espaçamento suficientes, vão destruir a aderên-
cia mecânica entre as placas cerâmicas e a
argamassa colante e provocar o seu descola-
mento.
A falta de aderência entre o cerâmico e o
suporte, pode também ser motivada pelo uso de
uma argamassa de assentamento demasiado
espessa ou com uma razão A/C elevada, o uso
de argamassas hidráulicas em suporte insufi-
cientemente húmido, que irá absorver a água
contida na argamassa de assentamento, ou
ainda se o suporte não se encontra devida-
mente limpo, isento de poeiras e gorduras, que
irá dificultar a penetração da argamassa de
assentamento nas suas rugosidades.
quando existem descolamentos, terá que ser
removido todo o revestimento que não apresentar
boas condições de aderência e reposto com
revestimento idêntico ao existente, garantindo-se
39
C I E N T í F I C O
estar perante uma falta de aderência entre os ladri-
lhos ou o aparecimento de esforços de tracção
superiores aos que a junta é capaz de absorver.
Estes esforços de tracção podem ser reflexo da fis-
suração do suporte conforme documenta a figura,
uma vez que a fissura se situa na transição da laje
com o paramento de alvenaria.
No que se refere à fissura que atravessa o
ladrilho cerâmico, esta deve-se porventura, à exis-
tência de acções localizadas que introduzem
esforços de corte e produzem uma rotura no ladri-
lho, associado ao facto de o ladrilho possuir
pouca capacidade mecânica e deformabilidade.
Normalmente, esses esforços são gerados como
consequência de dilatação térmica, sem a pre-
sença de juntas suficientes ou quando as uniões
entre ladrilhos não podem actuar por estarem col-
matadas com argamassa.
Para o tratamento das fissuras do primeiro
caso, deverá proceder-se à remoção do revesti-
mento cerâmico degradado ao longo da fissura
até encontrar a junção da laje com o pano de
alvenaria. Trata-se a fissura e após secagem, pre-
para-se o suporte e executa-se novo revestimento
cerâmico, conforme instruções do fabricante,
tendo presente que a junta criada deverá ser
reflectida no novo revestimento, para que haja
uma absorção dos movimentos devido a varia-
ções dimensionais.
Entre uniões construtivas de elementos dife-
rentes não se deve reforçar essa ligação, mas,
pelo contrário, marcar a junta no revestimento,
a compatibilidade entre a capacidade de defor-
mação do mesmo e a elasticidade da camada de
colagem, não esquecendo de executar as juntas
conforme indicações do fabricante.
2.5 As Eflorescência
Estes depósitos surgem quando os sais solú-
veis presentes nas placas de cerâmica, nos com-
ponentes da alvenaria, nas argamassas de fixação
ou de rejuntamento, são transportados pela água
utilizada na construção ou vinda de infiltrações,
através dos poros dos materiais de revestimento.
Estes sais em contacto com o ar solidificam, cau-
sando depósitos.
Em algumas situações (ambientes constan-
temente molhados) e com alguns tipos de sais
(de difícil secagem), estes depósitos apresen-
tam-se como uma exsudação na superfície [2].
Normalmente, a penetração de água nas juntas,
conduz à lixiviação do hidróxido de cálcio, pro-
veniente da hidratação do cimento, que, com
reacção do dióxido de carbono da atmosfera, ori-
gina carbonato de cálcio sob a forma de calcite,
à superfície.
O sucesso da remoção das eflorescências
depende das características do revestimento e
da solubilidade dos sais neles contidos. Se o pro-
blema persistir após lavagem da superfície é
conveniente que se remova o revestimento dani-
ficado e se eliminem todos os focos de possíveis
infiltrações.
para que este não seja afectado por possíveis
movimentos do suporte.
No caso de a fissura atravessar o ladrilho cerâ-
mico, este deve ser removido e substituído por
outro, assegurando-se contudo uma boa aderên-
cia deste ao suporte.
fig. 6 (ao lado à esquerda)
Eflorescências
fig. 7 (ao lado à direita)
Fissuras nas padieiras
2.6 Fissuras do revestimento cerâmico
Na figura 7 pode verificar-se a existência de
dois tipos de fissuras. Fissuras localizadas nas jun-
tas de assentamento e fissuras que atravessam o
ladrilho cerâmico. No primeiro caso, podemos
40 INFO 23 • JAN FEv MAR 2011
C I E N T í F I C O
3. CONSIDERAÇõES FINAIS
Do estudo desenvolvido verificou-se que
existem edifícios que pertencem a épocas de
construção distintas e onde a repetição das
manifestações de patologia ao longo das facha-
das é evidente. Isto releva que ao longo dos
anos, houve sempre pouca preocupação, sobre-
tudo por parte de quem projecta, mas também
de quem executa, em propor soluções no sen-
tido de minorar a conhecida degradação das
fachadas.
Dos edifícios analisados, denotou-se que
todos eles são débeis em conteúdos, a nível dos
projectos, no que se refere ao estabelecimento
de exigências a satisfazer, nomeadamente ao
nível da escolha dos materiais que compõe as
fachadas dos edifícios, sendo apenas uma
prova da prática usual, em que os materiais não
estruturais não são encarados com a mesma
importância dos estruturais.
Nesse sentido, a forma de minorar o seu
aparecimento em construções futuras, passa
necessariamente por um maior investimento na
fase de projecto, em particular na compatibili-
zação de materiais e de sub-sistemas construti-
vos, com especial atenção para os pontos sin-
gulares da fachada.
é portanto necessário que os projectos sejam,
cada vez mais, um documento global de quali-
dade, que abordem aspectos técnicos essenciais,
ao nível dos materiais e das soluções construtivas,
tendo em conta, como é óbvio, os aspectos eco-
nómicos (custos globais das soluções) e funcio-
nais (adequada utilização e manutenção).
Face às evidências e ao conhecimento já
adquirido das anomalias mais frequentes, que
inevitavelmente vão aparecendo nas fachadas
dos edifícios, surpreende, que os subscritores dos
projectos não efectuem uma avaliação mais rigo-
rosa das soluções adoptadas, contribuindo para
melhorar a qualidade dos projectos, e conse-
quentemente, o desempenho dos edifícios e, em
particular, no que concerne à sua envolvente
exterior.
Assim, para vencer o desenvolvimento de
manifestações de patologia, que correntemente
são observadas no edificado, urge promover e
incentivar o investimento na fase de projecto, em
particular, num maior compromisso na escolha
dos materiais de revestimento exterior e numa
adequada compatibilização dos sistemas constru-
tivos de todas as áreas disciplinares, com especial
cuidado para os pontos singulares da fachada.
Por outro lado, a qualificação dos recursos
humanos, tem que conseguir acompanhar a evo-
lução do projecto e dos materiais, num constante
esforço de formação e actualização e o Dono de
Obra, tem que possuir uma atitude mais exigente
e estar ciente que um bom projecto proporcio-
nará um maior ganho económico, no que se
refere a futuras operações de manutenção, que
vão ser sempre necessárias ao longo da vida de
um edifício.
Só com um esforço de todos os intervenientes
no processo construtivo, se conseguirá um par-
que habitacional de qualidade e se melhorará a
urbanidade das nossas cidades. Afinal, as facha-
das são um património público e de qualificação
urbana!
REFERÊNCIAS
[1] SILvA, Armando Filipe – Manifestações Patológicas em Fachadas com Revestimento Argamassados.Dissertação do Mestrado em Arquitectura e Urbanismo. Universidade Federal de Santa Catarina. FLO-RIANáPOLIS. 2007.
[2] Comunidade da Construção – Revestimento Cerâmico em Fachadas. Estudo das Causas das Patologias.FORTALEzA. 2004.
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Colégio de Ambiente
Colégio de Civil
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Colégio de Mecânica
Colégio de QuímicaREGIÃO NORTE
42 INFO 23 • JAN FEv MAR 2011
S O C I A L
DOURO PORTUGUÊS:O RIO E A SUA REGIÃO
PATRIMóNIO CULTURALDA HUMANIDADE
António Machado e Moura
vice Presidente
do Conselho Directivo
da Região Norte da Ordem
dos Engenheiros
De novo com a preciosa ajuda das notáveis fotos do colega Francisco Piqueiro, que constituem uma
fonte inesgotável de inspiração e a quem renovamos os mais sinceros agradecimentos, vamos, desta vez,
visitar uma das mais fantásticas regiões do Mundo, localizada no norte de Portugal e integrada na maior
bacia hidrográfica da Península Ibérica, a bacia do rio Douro. Na sua parte portuguesa, esta bacia inclui
uma das mais antigas regiões demarcadas do Mundo para a produção vinícola e, desde 2001, também
uma região património cultural da humanidade. Trata-se de uma zona com uma riqueza e um potencial
únicos, seja do ponto de vista turístico e da excelente produção vínica, seja do ponto de vista energético,
até hoje, infelizmente, nem sempre devidamente aproveitados...
O presente artigo vai dividir-se essencialmente em duas partes, sendo a primeira dedicada à compo-
nente hidro-energética e a segunda ao potencial turístico e vinícola da região.
em cima
Valeira S. Salvador do Mundo
© 2011 – Francisco Piqueiro
43
S O C I A L
POTENCIAL ENERGÉTICO
Ao recordarmos a situação geográfica de Portugal na Península Ibérica e na Europa, vamos encontrar
resposta para o sentido da nossa história. Com efeito é a localização geográfica periférica do território
português na Península, aliada à sua fácil acessibilidade por via marítima e à sua relação com o Oceano
Atlântico que explica a sua existência como País. Foi o mar que, de algum modo, “desligou” Portugal do
corpo peninsular, fornecendo uma via privilegiada de ligação ao Mundo, pela qual nos veio o auxílio de
que necessitávamos para manter a independência na velha terra hispânica, livrando-nos do desapare-
cimento na confusão das nacionalidades ibéricas.
Com uma área total de cerca de 590 000 km2, dos quais 500 000 km2 pertencem a Espanha, a
Península forma um vasto promontório de contorno poligonal situado no extremo SW do continente euro-
peu, sendo uma região de planaltos, os mais elevados da Europa, com elevada altitude média (660 m).
A chuva caída anualmente em terras peninsulares revela uma distribuição muito desigual. A zona
costeira do Cantábrico e do Atlântico até quase à foz do Tejo recebe tradicionalmente chuvas abundantes
(Ibéria húmida), enquanto que o centro peninsular, o litoral atlântico ao sul do Tejo e todo o litoral medi-
terrâneo (quase dois terços da área total) recebem normalmente chuvas escassas (Ibéria Seca). Estas
zonas são o testemunho das duas feições tão diversas de clima que se põem em contacto no território
peninsular, traduzindo claramente os regimes climáticos e influências especiais dos dois mares que a
banham. Na primeira daquelas zonas a precipitação média anual atinge os 1000 mm, existindo locais
44 INFO 23 • JAN FEv MAR 2011
S O C I A L
que mais do que duplicam aquele valor e na segunda zona a precipitação média fica-se pelos 500 mm,
com locais a descer aos 200 mm.
Se é verdade que o incessante apelo do mar nos possibilitou voltar costas a Espanha, não é menos
verdade que ficamos sempre bem ligados a ela através de mais de 1200 km de fronteiras terrestres
que separam com frequência regiões que têm prolongamento natural para um e outro dos dois países
peninsulares.
O geógrafo De Martonne escreveu que os rios são o elemento mais vivo da geografia física, são as
verdadeiras artérias de circulação do “sangue da terra”. A sua importância geográfica e económica é
deveras considerável, dependendo naturalmente do trajecto que seguem, da maior ou menor inclinação
do seu curso e dos acidentes revelados no seu perfil, do regime das águas que neles circulam e, sobre-
tudo, pelo estabelecimento de íntimas relações com o povoamento vegetal, animal e humano da super-
fície do solo. Esta realidade não podia ser mais verdadeira no caso do rio Douro!...
Portugal partilha com Espanha algumas das mais importantes linhas hidrográficas da Península e
correspondentes bacias, em especial as dos rios Douro, Tejo e Guadiana. As duas bacias hidrográficas
mais importantes da Península Ibérica em termos de potencial hídrico (escoamento médio anual) são
as do Douro e do Ebro, esta última integralmente localizada em território espanhol. Seguem-se-lhes em
volume médio anual gerado as do Tejo, Minho, Guadiana e Guadalquivir. A variabilidade dos regimes
pluviométricos na Península Ibérica e a ausência de grandes massas de gelo nas cadeias montanhosas,
capazes de introduzir um efeito regularizador dos caudais durante o verão, determinam uma grande irre-
gularidade dos caudais de todos os seus grandes rios, o que apenas pode ser atenuado pela realização
de importantes obras hidráulicas, capazes de proporcionar os meios de gestão adequada dos caudais
do regime natural.
A partilha das bacias comuns aos dois países foi alvo de sucessivos convénios luso-espanhóis,
celebrados pelos governos dos dois países, após laboriosas, longas e nem sempre pacíficas negocia-
ções. A particularidade de Portugal possuir as partes de jusante das bacias é um factor importante a
ter em conta e que nos poderia à priori favorecer. Todavia o notável conjunto de obras hidráulicas reali-
zadas pelos nossos vizinhos na parte de montante das bacias partilhadas, possibilitando-lhes capacidades
de armazenamento que, em alguns casos, são superiores aos valores de escoamento anual médio das
respectivas bacias, tem criado dificuldades negociais acrescidas aos agentes portugueses que são con-
frontados com situações quase inultrapassáveis. A última convenção luso-espanhola, celebrada no final
dos anos noventa em Albufeira, é bem a imagem da situação desigual em termos de base de negociação
criada, levando a aceitar como bom, aquilo que, na verdade, é confrangedoramente insuficiente.
Com uma bacia hidrográfica de mais de 97 500 km2, capaz de gerar em ano médio, em regime de
escoamento natural, cerca de 23 200 hm3, o Douro constitui o maior potencial hídrico da Península Ibérica.
A área da bacia é partilhada desigualmente pelos dois países, correspondendo a parte portuguesa, a jusante,
a cerca de um quinto e a parte espanhola, a montante, aos outros quatro quintos. Em termos do potencial
hídrico a proporção indicada altera-se significativamente já que a bacia portuguesa é bastante mais favo-
recida em termos de precipitação pluviométrica, o que conduz a um valor anual médio gerado de cerca de
8 200 hm3, ou seja 35% do total, contra 15 000 hm3 da bacia espanhola (65%) [site:www.inag.pt].
Em regime de escoamento livre, os caudais do Douro e dos seus afluentes caracterizam-se por uma
irregularidade considerável, traduzindo uma forte e directa dependência da variabilidade das precipita-
ções. A caudais de estiagem de valor insignificante, sucedem-se caudais de inverno de valor muito ele-
vado que podem ir até ao ponto de causar cheias, provocando a saída das águas do seu leito habitual e
provocando danos e prejuízos de vulto às populações ribeirinhas.
No sentido de se obter uma conveniente regularização dos caudais e permitir um aproveitamento
tanto quanto possível integral, adequado e eficaz das águas do Douro e seus afluentes, foram sendo rea-
lizadas inúmeras obras hidráulicas, particularmente na bacia espanhola, quer para a produção de energia
hidroeléctrica quer para o abastecimento das populações e satisfação das suas necessidades básicas,
bem como para a rega e para serviço da actividade industrial.
45
S O C I A L
Efectivamente, possuidores da parte da bacia situada a montante e sabendo que o escoamento das
águas se processa de acordo com as leis da gravidade, os nossos vizinhos espanhóis levaram a cabo
um significativo conjunto de obras hidráulicas que lhes permitem um armazenamento de cerca de 7
500 hm3, ou seja cerca de 50% do valor total médio anual gerado pela sua bacia [site:www.mma.es].
Este valor possibilita claramente os meios suficientes para suprir as necessidades de água para uso e
consumo das populações, bem como contribuir para a redução do nível de poluição das águas fluviais
em períodos estivais de escassez de caudais e ainda para permitir um amortecimento significativo das
pontas mais elevadas dos caudais de cheia.
Sendo detentores da parte da bacia situada a jusante e igualmente conhecedores das leis da gravi-
dade, os portugueses adoptaram uma atitude de singular confiança, quer no trabalho dos seus vizinhos,
quer na aposta de uma regularidade das precipitações pluviométricas, deixando praticamente a totalidade
da sua bacia em regime de escoamento livre. Esta situação, no mínimo incompreensível, tem sido e
ainda continua a ser fonte de inúmeros problemas e de situações potencialmente catastróficas, com ele-
vados riscos para pessoas e bens, além de constituir um desperdício perfeitamente irracional e inaceitável
de um recurso endógeno renovável fabuloso.
Os cinco aproveitamentos hidráulicos realizados na década de setenta e até meados da de oitenta
no troço do Douro Nacional (Pocinho, valeira, Régua, Carrapatelo e Crestuma), permitiram o estabele-
cimento de um canal navegável com mais de 200 km de extensão, entre a foz do rio e a povoação de
barca d’Alva/vega de Terrón, mas revelam-se perfeitamente incapazes de qualquer efeito significativo
em termos de regularização de caudais e, muito menos ainda, em termos de laminagem de pontas de
cheias. Para os cerca de 8 200 hm3 gerados em ano médio pela bacia portuguesa do Douro, dispomos
no presente apenas de cerca de 400 hm3 de capacidade de armazenamento, o que corresponde a menos
de 5% daquele valor!... Trata-se de uma situação chocante e confrangedora, cujos efeitos são bem visí-
veis, sobretudo quando ocorrem períodos de precipitações mais intensas...
Impõe-se assim a realização de importantes obras hidráulicas que permitam alterar esta situação, sendo
importante sublinhar que, ao contrário do que por vezes se pretende fazer crer, o uso da água deve ser
feito prioritáriamente com outros fins que não apenas a produção de energia eléctrica, nomeadamente o
abastecimento das populações e a agricultura, pelo que na maior parte dos casos as novas realizações
devem ser sempre encaradas sob uma óptica mais abrangente, como potenciais Aproveitamentos de Fins
Múltiplos. Entre as diversas funções associadas a esses aproveitamentos poderíamos citar, nomeadamente:
– Abastecimento de água (populações, indústria e pecuária)
– Rega
– Contribuição para mitigar os efeitos danosos em situações extremas de escassez ou abundância exces-
siva de caudais (garantia de caudais ecológicos e ambientais satisfatórios a jusante, visando reduzir os
efeitos da poluição difusa; contribuição para o amortecimento dos caudais de ponta de cheia)
– Possibilidade de criação de reservas de água para facilitar o combate ao terrível flagelo dos incêndios
florestais
- Produção de energia eléctrica
– Criação de condições necessárias à navegabilidade comercial e turística (no caso de certos cursos de
água e em determinadas zonas mais ou menos extensas dos mesmos)
– Criação de condições para diversas práticas de recreio e lazer
Perante as múltiplas valias apresentadas e tratando-se dum precioso recurso endógeno renovável,
parece claro que faz todo o sentido que se prossiga e se intensifique o aproveitamento dos recursos
hídricos ainda não considerados, particularmente os da bacia portuguesa do rio Douro, a qual constitui
uma das maiores valências dos recursos hídricos nacionais. é nesta bacia que se concentra a maior
parte dos mais de 50% dos recursos hídricos nacionais ainda não aproveitados, o que vem constituindo
uma situação de desperdício inaceitável e que se espera possa ter os dias contados com o aparecimento
do PNbEPh, aprovado em 2007 e que prevê a implementação de dez novos empreendimentos, dos
em cima
Saucelle
© 2011 – Francisco Piqueiro
46 INFO 23 • JAN FEv MAR 2011
S O C I A L
quais, mais de metade, se situa na bacia do Douro. O Plano Nacional de barragens com Elevado Poten-
cial hidroeléctrico, é um plano do governo português com o objectivo de identificar e definir prioridades
para os investimentos a realizar em aproveitamentos hidroeléctricos no horizonte 2007-2020. Espera-se
com efeito que, com o aparecimento e progressiva concretização deste Plano, esta situação que traduzia
um elevado índice de incapacidade de garantia dos abastecimentos mínimos de água para uso e con-
sumo das populações durante os períodos de estiagem, a par duma total impotência e inoperância em
períodos de cheia, possa vir a ser progressivamente ultrapassada.
Deve recordar-se ainda que do ponto de vista energético a situação encerra algo de extremamente
paradoxal, uma vez que os cinco escalões do Douro Nacional, do tipo fio de água, apresentam níveis de
produção baixíssimos, ou mesmo nulos, quando os caudais afluentes se aproximam dos 5 000 m3/s.
Com as descargas, o desnível entre as cotas de montante e de jusante reduz-se de forma drástica, con-
duzindo à situação clássica de “afogamento” dos respectivos grupos. Por outro lado, durante o período
de estiagem, com caudais muito reduzidos, é óbvio que o nível de energia produzido não pode ser ele-
vado... Em período de estiagem, não é invulgar encontrar valores diários de utilização da potência insta-
lada nos cinco escalões mencionados da ordem de 1% ou 2% !...[site:www.ren.pt]
Com o aproximar do final da década de 80, pareceu que se havia finalmente adquirido a consciência
da necessidade imperiosa de implementar diversas albufeiras nos afluentes nacionais do rio Douro, a
começar, naturalmente, pelos situados o mais a montante possível, os rios Côa e Sabor. Foi assim lançado
o aproveitamento de Foz-Côa que iria constituir a primeira (e obviamente, insuficiente...) “reserva estra-
tégica” de água a instalar no Douro Superior, à qual deveriam seguir-se outras no baixo Sabor, no Alto
Côa, no Tua, no Tâmega e no Paiva. A altíssima valia, a vários níveis, daquela reserva estratégica não foi
no entanto suficiente para impedir uma decisão política mal fundamentada e altamente infeliz tomada
em Janeiro de 1996, fazendo não só o problema regressar à estaca zero, como acarretando elevadíssimos
prejuízos materiais os quais foram integralmente suportados pelo erário público!
Em Março de 2011, mais de quinze anos decorridos sobre a desastrada e altamente discutível deci-
são, não será despiciendo recordar o compromisso, então assumido, de lançar de imediato um novo
aproveitamento situado na mesma área geográfica, na bacia do rio Sabor, o qual, embora já iniciado,
continua ainda por cumprir. Esperemos que num horizonte de cerca de dois anos possa estar finalmente
resolvida esta parte do problema...
Sendo actualmente inquestionável o interesse pelo desenvolvimento das energias de fontes renová-
veis, tudo aponta para que a sua evolução se deva processar no sentido de aumentar o seu peso no
contexto energético geral, mas sempre com natural salvaguarda da segurança de abastecimento, o que
nos leva a crer que o Plano reune todas as condições para prosseguir com êxito, abrindo um novo ciclo
em termos de aproveitamentos hidroeléctricos no nosso país e impedindo que se continue a desperdiçar
um recurso endógeno precioso e a estar sujeito aos caprichos nefastos das águas descontroladas.
Mais de meio século depois das primeiras realizações no Douro Internacional é confrangedor verificar
ainda que a bacia portuguesa apenas dispõe de uma capacidade de armazenamento de 5% face ao
volume total de água gerado em ano médio, o que inviabiliza totalmente uma correcta gestão dos recur-
sos, apesar da grande ajuda fornecida pela regularização introduzida pelos nossos vizinhos espanhóis.
Esperemos que o PNbEPh, que em boa hora surgiu e que actualmente está em curso, possa vir a
alterar a breve prazo e de forma significativa esta situação totalmente insustentável para o nosso país.
POTENCIAL vINíCOLA E TURíSTICO DA REGIÃO
O Douro vinhateiro ou Região Demarcada do Douro (RDD) é uma região demarcada no norte de
Portugal para a produção vinícola, instituída em Setembro de 1756 por alvará régio de D. José I.
A RDD estendia-se de barqueiros a barca d’Alva e é considerada a mais antiga região demarcada
do mundo. Foi posteriormente alargada, perfazendo actualmente uma área de cerca de 250 mil hec-
tares. Parte desta região foi classificada como Património Mundial da UNESCO na categoria de pai-
48 INFO 23 • JAN FEv MAR 2011
S O C I A L
sagem natural em Dezembro de 2001, sob o nome de Região vinhateira do Alto Douro, ocupando
uma área de cerca de um décimo do total. Na RDD consideram-se habitualmente três sub-regiões,
baixo Corgo, Cima Corgo e Douro Superior, podendo constatar-se variações sensíveis nas caracterís-
ticas climáticas e na magnífica paisagem. A primeira sub-região estende-se de barqueiros e barrô
(margem direita e esquerda) até à confluência do rio Corgo. Desde este ponto até ao famoso Cachão
da valeira segue-se o Cima Corgo e, finalmente, do Cachão da valeira até à fronteira com Espanha
temos o Douro Superior. Nesta última sub-região nota-se um decréscimo claro da importância da
vinha relativamente a outras culturas como a oliveira e a amendoeira.
A RDD é uma região fascinante e belíssima que não deixa indiferente quem a visita! Felizmente exis-
tem inúmeras e excelentes obras dedicadas ao Douro que nos permitem preparar com cuidado uma
visita e conhecer em pormenor algumas das suas maravilhas. No final deste texto incluirei uma pequena
relação, não exaustiva, de obras sobre o Douro, que permitirá ao leitor interessado aprofundar os seus
conhecimentos. A propósito de obras sobre o Douro, gostava de deixar aqui um pequeno apontamento
sobre um famoso geógrafo que tive o gosto de conhecer pessoalmente, François Guichard. Era professor
da Universidade de bordéus e defendeu uma tese de doutoramento intitulada “Porto: la ville dans sa
région”. Foi uma das personalidades que melhor definiu a região do Douro, considerando-a “um grande
tesouro da humanidade”. Era casado com uma portuense e faleceu precocemente em 2002, deixando
uma vasta obra sobre esta região do nosso país, que ele amava como poucos.
visitar o vale do Douro é ver escrita na paisagem a fantástica obra humana, é conviver com uma
paisagem cultural evolutiva e viva, é perceber até que ponto o esforço humano pode chegar ao
sublime, ultrapassando todos os limites julgados razoáveis! houve aqui como que uma aliança entre
o rio e o homem no sentido de criarem uma obra ímpar. Como afirma António barreto, numa das
mais emblemáticas obras publicadas sobre a região, “O que o rio começou, o homem completou:
ambos, trabalhando em conjunto, fizeram uma região”.
O meio físico da região evidencia-nos um conjunto de terras de xisto, delimitado por formações graníticas;
verifica-se ainda a existência de afloramentos quartzíticos que conduzem a pontos de proeminência na
em baixo
Pocinho
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zona, constituindo belos miradouros sobre a paisagem de rio, vales e socalcos. Adiante inumerarei alguns
dos mais famosos miradouros da região, a impor uma visita inesquecível. Como curiosidade refira-se que
os xistos se apresentam com zonas de clivagem com inclinações a cerca de 75º sobre o granito, o que
favorece a subida das águas subterrâneas por capilaridade e possibilita a sua chegada às raízes das videiras.
A produção de vinho na zona remonta ao tempo dos romanos. Foi contudo a partir do século XvII,
com a entrada em cena dos britânicos, que a região adquiriu uma grande notoriedade mundial com a
produção do vinho fino ou vinho do Porto, obtido a partir de uvas colhidas na região, em vinhas localizadas
em socalcos nas declivosas encostas, apoiados em paredes de suporte de xisto, naquilo que constitui
uma das mais gigantescas obras levadas a cabo pelo homem ao longo de perto de três séculos, criando
uma paisagem transformada de singular e única beleza, bem evidenciada em algumas das fotos que
publicamos, do colega Francisco Piqueiro.
Nas últimas duas ou três décadas tem-se assistido ao aparecimento de vinho de consumo (vinho de
mesa) da região do Douro de grande qualidade, também decorrente da acção de novos enólogos, bem
preparados e capazes de controlar de forma eficiente todo o processo de fabrico, com especial atenção
à parte da fermentação do mosto… Não deve ser esquecido aqui o papel desempenhado por uma das
universidades da nossa região, a UTAD, na formação desses novos enólogos qualificados. Recorda-se
que na produção de vinho do Porto, o processo de fermentação é interrompido com a adição de alcool
vínico de modo a obter-se o vinho fino...
São referenciadas mais de três dezenas de castas na produção dos vinhos da RDD. Deixamos aqui
apenas um breve apontamento sobre algumas das mais famosas: tinta roriz e tinta carvalha, touriga
franca e touriga nacional nos vinhos tintos; gouveio, viosinho, rabigato e malvasia fina nos vinhos brancos.
De referir ainda a casta moscatel, base do famoso vinho de Favaios.
Para muita gente, “o Douro é o vinho”, tal a qualidade e a fama deste produto da região. No que se
refere à gastronomia, diversos especialistas concordam em que não há propriamente uma gastronomia
específica da região duriense. A região beneficia da qualidade e variedade dos produtos naturais da vizi-
nha Trás-os-Montes, pelo que, no essencial, é a culinária transmontana e a excelência dos seus produtos
que são servidos à mesa na região. Deve no entanto referir-se que está em marcha um conjunto de ini-
ciativas nesta área, com uma qualidade assinalável e levadas a cabo por dinâmicos empresários que
tentam recriar a cozinha duriense, elevando-a a patamares de criatividade e sofisticação até agora difíceis
de imaginar. Neste contexto merecem referência, entre outros, o restaurante DOC que surgiu em 2007
na estrada marginal entre a Régua e o Pinhão, e o livro “Rui Paula - Uma cozinha no Douro” lançada
em finais de 2008 pela Editora quidnovi, escrito por Celeste Pereira e com fotos de Nelson Garrido. Rui
Paula apresenta uma cozinha de inspiração transmontano-duriense a que confere um cunho muito pes-
soal e de grande contemporaneidade.
Esta belíssima região exige visitas demoradas...e, se possível, frequentes... Todas as estações do ano
são boas para visitar o Douro e desfrutar dos seus encantos! Os passeios que se podem levar a cabo
apresentam uma grande variedade, quer quanto ao meio de locomoção utilizado, quer quanto às zonas
a visitar, quer ainda quanto à época do ano a escolher...
A fantástica via fluvial, com mais de 200 km, que o canal navegável do Douro nacional constitui,
criado graças às eclusas estabelecidas nas cinco barragens do troço português, oferece uma grande
variedade de cruzeiros, inesquecíveis, que os operadores turísticos, cada vez mais numerosos, divulgam
e proporcionam. Uma alternativa e por vezes também uma solução complementar ao barco é o recurso
ao comboio, através de uma via-férrea secular, que proporciona paisagens de grande beleza e de grande
proximidade ao rio. Outrora esta via permitia a viagem até barca d’Alva e daí para Salamanca e para a
Europa, estando hoje limitada ao percurso até ao Pocinho. O automóvel constitui igualmente um meio
privilegiado de deslocação para uma visita à RDD, sem esquecer, para os que se encontram mais pre-
parados fisicamente, a bicicleta e os passeios a pé,... Se possível, deve incluir-se uma passagem por
alguma das aldeias vinhateiras que foram recuperadas na sequência da candidatura bem sucedida a
património mundial da humanidade: barcos, Favaios, Provezende, Ucanha, Salzedas e Trevões.
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Pretender conhecer o verdadeiro esplendor da região, exige uma passagem por alguns dos diversos
miradouros existentes... Dos inúmeros pontos de vista possíveis, existem alguns absolutamente excep-
cionais e imperdíveis. vou limitar-me a citar cerca de uma dezena que merecem pelo menos uma pas-
sagem, se possível demorada e em dias de boa visibilidade. Dos miradouros que refiro, os seis primeiros
correspondem ao troço nacional do rio e os quatro últimos ao troço internacional: Penedo de S. João,
S. Leonardo da Galafura (a “proa quartzitica e torguiana”1), Casal de Loivos, S. Salvador do Mundo, Sra
da Piedade, Sra do viso, Penedo Durão, Carrascalinho, Fraga do Puio e S. João das Arribas. As paisagens
que nestes locais poderemos contemplar ficarão para sempre gravadas nas nossas memórias!
O rio Douro sempre foi uma via de intenso volume de transporte fluvial, embora a navegação fosse
particularmente difícil em certas épocas e em certos locais. Os famosos barcos rabelos transportando os
“cascos” de vinho, viviam autênticas epopeias, exigindo grande perícia dos arrais. havia zonas que exigiam
grande esforço, em que o barco tinha de ser puxado à sirga, recorrendo à força dos homens ou dos ani-
mais... Outras zonas de navegação difícil pelos rápidos que o rio criava, impunham mão extremamente
firme na condução da espadela, que servia de leme... De todos os locais de elevado risco, o Cachão da
valeira era um dos de maior perigo e no qual ocorreram vários naufrágios trágicos, entre os quais o que
vitimou o barão de Forrester em 1861. No reinado de D. Maria I foi levado a cabo uma operação de des-
truição de parte da penedia que estrangulava o leito do rio e originava os perigosos rápidos, tendo os tra-
balhos decorrido entre 1780 e 1792. A criação do canal navegável do Douro fez praticamente desaparecer
o risco da navegação fluvial no mesmo, salvo em períodos de caudais muito elevados.
Esta zona do país foi berço de inúmeras personalidades que se destacaram por feitos valorosos nas
mais diversas áreas, e acolheu outras que, fascinadas pelos seus encantos, a escolheram para viver e
muito contribuíram para o seu desenvolvimento.
Os grandes navegadores Diogo Cão (que se crê nascido na zona de vila Real) e Fernão de Magalhães
(que se julga nascido na casa dos Pereiras em Sabrosa) são, entre outros, famosas personalidades da
grande gesta dos Descobrimentos.
Ao primeiro ministro de D. José I, Sebastião José de Carvalho e Melo, mais conhecido por Marquês de
Pombal ficou o Douro a dever a criação da sua região demarcada. O britânico Joseph James Forrester
(barão de Forrester) é incontestavelmente uma personalidade do Douro que muito fez pelo desenvolvimento
da região e da sua produção vinícola e que se destacou ainda na cartografia, pintura e fotografia, estando
ligado à quinta da boavista. Provavelmente a maior de todas essas personalidades é uma mulher, Dona
Antónia Adelaide Ferreira (a Ferreirinha), pessoa de grande determinação e coragem, empresária de
sucesso, a única em Portugal no século XIX, ligada a diversas quintas, entre as quais a famosa quinta do
vesúvio. No corrente ano de 2011 celebra-se o bicentenário do nascimento desta ilustre figura do Douro.
As Artes e as Letras encontraram também no Douro grandes vultos que é justo recordar e que dis-
pensam apresentações, nomeadamente Miguel Torga, natural de S. Martinho de Anta, Trindade Coelho,
natural de Mogadouro, Guerra Junqueiro, natural de Freixo de Espada à Cinta, Aquilino Ribeiro, que não
sendo natural da região (Sernancelhe, beira Alta) a ela esteve intimamente ligado, João de Araújo Correia,
natural de Peso da Régua, Pina de Morais, natural de Lamego e Domingos Monteiro, natural de Mesão
Frio. “O Douro nos Caminhos da Literatura” é um excelente projecto em que a RTP pretende dar a
conhecer a região duriense através das palavras daqueles que mais inspiradamente a descrevem e que
vem sendo apresentado os domingos na RTPN pela hora do jantar. A não perder...
Nas artes plásticas é justo destacar alguns nomes da Pintura, Escultura e Cerâmica, nomeadamente
os de Graça Morais, João Dixo e Laureano Ribatua.
A sétima arte tem escolhido o Douro como tema ou como pano de fundo para muitas realizações.
Entre muitos, recordo apenas o decano mundial dos realizadores, Manuel de Oliveira, que desde sempre
escolheu o Douro como fonte de inspiração para alguns dos seus projectos como “Douro, Faina Fluvial”
de 1931 e “vale Abraão” de 1993 cujas cenas decorreram na quinta do mesmo nome, situada nas pro-
ximidades do Peso da Régua. Por curiosidade, refira-se que o seu novo filme, “O Estranho Caso de Angé-
lica” de 2010, constituiu um regresso à região do Douro…
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1 in “Galafúria”, poema de José Eduardo Rodrigues na obra “Paraíso Revisitado”, Editora mil@editores, vila Real, 2009
De salientar que a quinta é indiscutivelmente um dos símbolos mais característicos da região do Douro,
constituindo o elemento estruturante da actividade vinícola e sendo considerada por diversos autores
como a verdadeira alma da região duriense. Por vezes encontra-se a presença de uma capela privativa
em algumas delas, a qual constituía um símbolo de distinção, ao alcance apenas de algumas famílias
nobres. São inúmeras as quintas do Douro cujas casas e instalações foram recuperadas e adaptadas ao
turismo rural, proporcionando estadias de conforto e qualidade em ambientes únicos e cenários de grande
beleza. Uma visita, imperdível, à RDD poderia com apreciável vantagem ser completada por uma estadia
numa das muitas excelentes unidades de turismo no espaço rural que começam a existir na região.
ALGUMAS ObRAS DE REFERÊNCIA
O leitor interessado poderá encontrar resposta para muitas das suas dúvidas e curiosidades nas obras
abaixo referidas:
“Douro” – António barreto, Edições Inapa, 1993
“O Douro” – Manuel Monteiro, Edições Livro branco Lda, 1998, (Edição original: Emílio biel & Cª Editores, 1911)
“Alto Douro Ignoto” – Sant’Ana Dionisio, Lello e Irmão Editores, Porto, 1973
“Porto, la ville dans sa région: contribution à l´étude de l’organisation de l’espace dans le Portugal du Nort” - FrançoisGuichard, Fondation Calouste Gulbenkian /Centre Culturel Portugais, Paris, 1992,vol.I,II.
“Rótulos e Cartazes no vinho do Porto” - François Guichard, Edições Inapa, 2001
“O vinho do Porto” – François Guichard e outros, 2003
“Ilha de Xisto” – Manuel Carvalho, com prefácio de António barreto, Editora Pedra da Lua, 2006
“história do Douro e do vinho do Porto”- Gaspar Martins Pereira e outros, vol.I e vol.Iv, Edições Afrontamento, 2006e 2011
“ Rui Paula – Uma cozinha no Douro” - Celeste Pereira, Edições quidnovi, 2008
“Memória do Rio” – Gaspar Martins Pereira e Amândio Morais barros, Edições Afrontamento/InstNavDouro, 2001
“Alto Douro” – Fernando Sousa e Gaspar Martins Pereira, Editorial Presença, Lisboa, 1988
“Douro – Guia Turístico”- Diversos autores, Editora Educação Nacional, Porto, 2008
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a possibilidade de construção de edifícios com
pequeno a médio porte usando solução em alve-
naria resistente. Esta possibilidade é facilmente
comprovável visitando os centros históricos de
cidades e vilas, e particularmente as aldeias por-
tuguesas, conforme exemplificado na Figura 1.
Com referência à região do Alto Minho e
mesmo do Porto, parece ainda mais difícil justifi-
car este uso generalizado que se faz do betão
armado, conhecida a abundância de granito
nesta região, a qual permitiu no passado tipolo-
gias de construção manifestamente sustentáveis,
quer para a habitação quer para o ofício (Fig. 2).
Para além do advento do betão armado, que
ecoava a partir da metrópole, terá contribuído
igualmente para o abuso do betão armado a
influência da emigração portuguesa em países
como a França e a Suíça, onde esta técnica de
construção estava bastante difundida. Perante
este cenário, a pedra é decretada como um mate-
rial exclusivamente de revestimento em edifícios
de construção nova.
No Alto Minho, como alternativa à pedra
começaram a ser produzidos artesanalmente tijo-
los cerâmicos para uso na construção resistente
A PERDA DE TRADIÇÃOE A FALTA DE AÇÃO SOCIALNA INDÚSTRIADA CONSTRUÇÃO
FRAGILIDADES DAENGENHARIA EM PORTUGAL
Rui Filipe
Pedreira Marques
Doutorando em Eng.ª Civil
ISISE, Departamento
de Engenharia Civil,
Universidade do Minho
(escrito de acordo com o novo acordo ortográfico)
Se a Engenharia em Portugal apresenta boa
saúde relativamente aos aspetos de desenvolvi-
mento científico e tecnológico, ainda que aos mes-
mos não se dê talvez a devida importância e
sequência, mais frágil parece a Engenharia no que
respeita aos aspetos da tradição e da ação social
no setor da construção. O panorama geral relativa-
mente à preservação de técnicas tradicionais na
construção mostra-se efetivamente bastante desa-
nimador, com claros prejuízos para a sociedade.
Por outro lado, é também identificada a falta de
movimento social no setor da construção, o que
contribui para um certo desequilíbrio social.
A tendência atual na indústria da construção
é no sentido de introduzir técnicas construtivas
completamente desviadas das linhas tradicionais,
suportadas essencialmente por soluções dema-
siado intrusivas para o meio ambiente, nosso
habitat natural. Ainda que algumas destas técni-
cas possam de certa forma justificar o sacrifício,
a maior parte delas mostram-se pouco sustentá-
veis e sem vantagens relativamente a técnicas tra-
dicionais. Um claro exemplo disto é a generaliza-
ção do uso de estruturas em betão armado no
parque edificado de construção nova, ignorando
em cima
Pormenor de
«A construção de um palácio»
(1515-1520), Piero di Cosimo
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em alvenaria. Em certos locais, a abundância de
jazidas de barro – «as barreiras» – e a exploração
de gado bovino propiciaram a introdução da
indústria cerâmica em Portugal. Com referência
histórica ao «Forno da Telha», sito na freguesia
de Pinheiros do concelho de Monção, relatam os
populares que «na Telheira o processo de produ-
ção das peças cerâmicas estava relativamente
organizado, nomeadamente a amassadura do
barro pelos bois, o moldeamento das peças, a
cozedura, o desmolde, a secagem, etc., resul-
tando em produtos de boa qualidade. A fábrica
chegara a empregar oleiros da Galiza e tinha tam-
bém um armazém que vendia para Caminha, vila
Nova de Cerveira, etc.». Atualmente, do «Forno
da Telha» só restam as ruínas, e é igualmente
com lástima que muitos dos ingredientes da
«receita» artesanal dos tijolos se tenham perdido
com a memória dos oleiros.
Na construção assumem-se normalmente
dois fatores como determinantes para a sua qua-
lidade, os materiais e a mão-de-obra. Dos mate-
riais já se falou, e da mão-de-obra diga-se que
esta consistia na verdadeira aceção da palavra,
pois era manualmente que todos os trabalhos de
alvenaria eram realizados. Os antigos terão domi-
nado superiormente a arte de construir, ao ponto
de serem chamados de mestres. Atualmente,
ainda que com todo o desenvolvimento tecnoló-
gico, muitas das construções do passado pare-
cem impossíveis face à vulgarização da mão-de-
-obra, pois que aquela hierarquia de mestres e
aprendizes foi perdida. A alvenaria é apenas um
dos exemplos da perda de tradição na construção,
podendo-se também identificar fenómeno seme-
lhante nos trabalhos de carpintaria, serralharia,
etc. Isto, sobretudo como consequência da cres-
cente mecanização dos trabalhos, ganhando-se
em força mas perdendo-se em artifício.
Outro dos aspetos abordados neste texto é a
falta de ação social na indústria da construção.
Ainda que em Portugal uma forte ação social e
cooperativa tenha sido evidenciada em sectores
como a agricultura e as pescas, através da ajuda
mútua, tal ação tem tido pouca expressão na
indústria da construção. Os promotores e as
empresas de construção portugueses vivem
essencialmente para o lucro, acima de aspetos
sociais tais como a valorização pessoal dos seus
colaboradores, os quais acabam por cair desta
forma na armadilha do mono-ofício (desem-
prego). Por outro lado, em Portugal, um dos seto-
res que desde sempre potenciou a indústria da
construção e o seu movimento social foi o
turismo, e com justificadas razões, dadas as
riquezas culturais do nosso país. Reconhece-se,
no entanto, que o turismo não pode por si só ser-
vir como uma âncora, e por outro lado não se
devem deixar no esquecimento as nossas gentes,
nossa maior riqueza.
Face à anarquia instalada no setor da cons-
trução, urge a figura do engenheiro como aquele
interveniente que pode moderar o compromisso
entre os aspetos culturais, económicos, sociais,
ambientais, etc., os quais se tem vindo a deterio-
rar no setor da construção. Isto principalmente
num país que se diz mergulhado numa crise de
tais valores. Ainda que a este texto se tenha dado
um discurso essencialmente negativo, são reco-
nhecidas potencialidades para a construção de
um grande futuro para Portugal, haja para isso
sábios e empreendedores, e porque aqueles que
busquem o ensinamento do passado e percebam
o presente serão os que proliferarão no futuro.
fig. 1 (em baixo)
Edifícios de alvenaria no centro
histórico e em freguesia
de Monção, Alto Minho
fig. 2 (em baixo)
Utilização de alvenaria de granito
em casa senhorial
e em oficina de ferreiro
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PU
bLI
CA
Çõ
ES
CoordenaçãoAntónio Vasconcelos
Troleicarros do PortoQUATRO DÉCADAS NA CIDADEREGIÃO NORTE
REGIÃO NORTE
HISTóRIA bREvE DA
ENGENHARIA CIvIL
A História da Engenharia Civil pode
estudar-se em campos diferentes,
conforme as opções do historiador e
os objectivos a alcançar. Assim,
podemos seguir, ao longo do tempo,
o progresso das Ciências e a evolu-
ção das Técnicas, que caracterizam
e identificam a Engenharia Civil, ou
escolher, nas várias épocas, as suas
realizações práticas, postas ao ser-
viço da Humanidade, ajudando a
construir civilizações, particular-
mente a Ocidental.
O livro acompanhado de desenhos
e fotografias adequadas, prossegue
historiando a evolução da Engenha-
ria a partir dos engenhos, desde a
simples alavanca, à deslocação dos
grandes blocos de pedra das cons-
truções megalíticas, caminhando ao
longo do tempo e civilizações até
aos nossos dias.
Adriano vasco Rodrigues
Preço: 29,00 € (IvA Incluído)
TROLEICARROS DO PORTO,
QUATRO DÉCADAS NA CIDADE
Recordar os troleicarros, em parti-
cular aqueles que serviram durante
quase quatro décadas (entre 1959
e 1997) a cidade do Porto e a sua
região, chegando a constituir uma
das maiores redes da Europa Oci-
dental.
Um indiscutível valor documental –
tanto em termos tecnológicos, como
do design dos veículos – e também
um belo documento que nos mostra
a cidade do Porto de há umas déca-
das atrás, através de um conjunto
notável de fotos, muitas das quais
propriedade de autores estrangeiros
que nos visitaram com o objectivo
expresso de recolherem imagens
daqueles veículos.
álvaro Costa, António vasconcelos
(coord.), Argemiro Walgode, Cristina
Pimentel, Emídio Gardé, José Abreu
Teixeira, José Lopes Cordeiro
Preço: 25,00 € (IvA Incluído)
Membros: 22,5 € (IvA Incluído)
PONTE MARIA PIA
O contributo que a Ponte Maria Pia
prestou ao desenvolvimento da
Engenharia Civil residiu, por um
lado, numa espectacular economia
de meios que decorria das soluções
técnicas adoptadas, e por outro, no
método utilizado para efectuar cál-
culos dos efeitos do vento e na arro-
jada concepção do grande arco
metálico, o elemento fundamental
do conjunto.
O livro recheado de desenhos, figu-
ras e fotografias demonstra tanto a
história como a evolução da Ponte
Maria Pia, dando também uma pro-
posta para a recuperação da mesma.
António vasconcelos, horácio da
Maia e Costa, José Ferreira queiroz,
José Lopes Cordeiro, José Andrade
Gil, Manuel Maria Moreira, Pedro
Ramalho, Rosa de Sousa Gomes.
Preço: 25,00 € (IvA Incluído)
MEMóRIAS CINCO vIvÊNCIAS
DE ENGENHARIA
Homenagem, a Joaquim Sampaio,
«poucos como ele, terão marcado
tantas gerações de Engenheiros
civis … foi um professor dedicado
ao ensino e à procura incessante do
conhecimento …», a Barreiros Mar-
tins, «o seu exemplo será invocado
pelos que foram seus contemporâ-
neos, apontando-o como paradigma
de referência por onde se orientarão
os vindouros…» a Augusto Farinas
de Almeida, «…engenheiro de
minas, professor dos mais ilustres
da FEUP, docente de méritos bem
reconhecidos… investigador na área
do que então se chamava «Pressão
dos Terrenos», criador dos concei-
tos, inovadores para a altura, de
«pressão sensível» e «expansão dos
terrenos»…», a Alberto de Morais
Cerveira «… papel extremamente
relevante que desempenhou na sua
qualidade de Professor Universitário
e Cientista, docente do Curso de
Engenharia de Minas da FEUP …
projectos com elevada expressão,
obras-primas de sapiência e racio-
nalidade que marcaram a arte de
minas na segunda metade do
século XX …», e a Corrêa de Barros
«…figura ímpar da Engenharia e da
Cultura Portuguesa do Século XX…».
vários
Preço: 5.00 € (IvA Incluído)