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Índice
Resumo..........................................................................................................................................3
Abstract..........................................................................................................................................4
Capítulo 1 – Introdução ..........................................................................................................5
1.1. Objectivos do projecto .......................................................................................................7
1.2. Distribuição do indicativo e do conjuntivo em completivas verbais do português............7
1.2.1. Breve descrição das estruturas na gramática-alvo ......................................................7
1.2.2. Revisão bibliográfica ................................................................................................13
1.2.2.1. Propriedades do verbo matriz e selecção do modo............................................14
1.2.2.2. Efeitos da negação superior no modo da oração encaixada...............................26
1.2.2.3. Relações temporais entre os dois domínios oracionais......................................32
1.3. Hipóteses de trabalho .......................................................................................................41
1.4. Estrutura da dissertação....................................................................................................42
Capítulo 2 – Metodologia ......................................................................................................44
2.1. Caracterização do estímulo ..............................................................................................44
2.1.1. O Pré-teste.................................................................................................................45
2.1.2. Os Testes...................................................................................................................48
2.1.2.1. Teste I – Produção .............................................................................................48
2.1.2.2. Teste II – Avaliação...........................................................................................53
2.2. Sujeitos.............................................................................................................................58
2.2.1.Grupo I.......................................................................................................................59
2.2.2. Grupo II.....................................................................................................................59
2.3.Condições de recolha dos dados........................................................................................60
Capítulo 3 – Descrição dos Dados .......................................................................................61
3.1. Teste I – Produção............................................................................................................61
3.1.1. Propriedades do verbo matriz e selecção do modo em frases afirmativas ................62
3.1.1.1. Grupo de Sujeitos I (10º Ano) ...........................................................................64
3.1.1.2. Grupo de sujeitos II (12º Ano)...........................................................................74
3.1.2. Efeitos da negação superior no modo da oração encaixada......................................82
3.1.2.1. Grupo de sujeitos I (10º Ano)............................................................................85
3.1.2.2. Grupo de sujeitos II (12º Ano)...........................................................................96
3.1.3. Síntese comparada ..................................................................................................106
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3.2. Teste II – Avaliação .......................................................................................................111
3.2.1.Relações de (in)dependência temporal ....................................................................111
3.2.1.1. Grupo de sujeitos I (10º Ano)..........................................................................115
3.2.1.2. Grupo de sujeitos II (12º Ano).........................................................................121
3.2.2. Síntese comparada ..................................................................................................128
Capítulo 4 – Análise dos dados ..........................................................................................132
4.1. Propriedades do verbo matriz e selecção do modo em frases afirmativas .....................132
4.2. Efeitos da negação superior no modo da oração encaixada ...........................................139
4.3. Relações temporais entre os dois domínios oracionais ..................................................146
Capítulo 5 – Conclusões ......................................................................................................154
Bibliografia................................................................................................................................158
Anexos.......................................................................................................................................164
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Resumo
Esta dissertação pretende ser um contributo para o estudo da distribuição dos modos
indicativo e conjuntivo em orações subordinadas completivas verbais com a função
sintáctica de objecto directo do português, tendo em conta o desempenho de sujeitos
que frequentam anos de escolaridade distintos em tarefas de produção e de avaliação.
Neste âmbito, são tidos em conta: (i) as propriedades do verbo matriz e a selecção do
modo, (ii) os efeitos da negação frásica superior no modo da encaixada e (iii) as
relações temporais entre a oração matriz e a oração encaixada.
De forma a testar estes três aspectos, adoptou-se como metodologia a aplicação de um
estímulo, composto por dois testes (um de produção provocada e um de avaliação), a 10
sujeitos do 10º ano (grupo I) e a 10 sujeitos do 12º ano (grupo II).
A descrição e a análise comparada dos dados obtidos nos grupos I e II de sujeitos,
permitiu-nos chegar a algumas conclusões, de que se salientam as seguintes: (i) as
orações completivas dependentes de verbos que seleccionam o modo indicativo não são
problemáticas para os sujeitos, contrariamente ao que se verifica quando a completiva é
seleccionada por um verbo que induz conjuntivo, contexto em que alguns sujeitos
optam pela substituição por indicativo; (ii) a preferência por indicativo é também visível
nas construções que envolvem verbos de selecção modal dupla, ou seja, que admitem,
na encaixada, o indicativo ou o conjuntivo; (iii) nas construções em que a presença do
operador de negação na oração matriz induz alterações no modo da encaixada, sendo
possível a selecção dos dois modos na encaixada, verifica-se igualmente uma
preferência pelo indicativo; (iv) os sujeitos estabelecem frequentemente uma relação de
concordância temporal entre o verbo da oração encaixada e o da matriz, mas revelam
dificuldades na identificação de relações de dependência ou de independência temporal
entre a oração encaixada e a oração matriz; (v) as dificuldades na selecção e no
reconhecimento do modo da encaixada, em contextos de produção e de avaliação, não
tendem a diminuir com a progressão escolar, ou seja, os sujeitos do grupo II não
apresentam, na maioria dos contextos, um melhor desempenho na manipulação destas
estruturas relativamente aos sujeitos do grupo I.
Com este projecto de investigação é possível verificar que as orações completivas
carecem de um estudo mais aprofundado em contexto escolar, que implique reflexão
sobre os vários aspectos que lhes estão associados.
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Abstract
This dissertation aims at contributing to the study of mood distribution in Portuguese
(direct object) complement clauses by analysing the performance of students from
different school levels in production and evaluation tasks. To achieve this main goal, the
properties of the matrix verb and the mood selection, the effects of the matrix negation
operator upon the embedded mood and the temporal relations between the matrix and
the embedded clauses are taken into consideration.
With the aim of testing these three aspects, the methodology chosen was to apply a
stimulus, composed by two tasks (ellicited production and evaluation), to ten 10th
grade’s students (group I) and ten 12th grade’s students (group II).
The description and the comparative analysis of the results obtained in groups I and II,
allowed us to conclude that: (i) complement clauses depending on verbs which select
the indicative mood are not problematic to the subjects, unlike to what happens when
the verb induces the subjunctive in the embedded clause, a context in which some
subjects replace this mood with indicative; (ii) the preference for the indicative is also
observed with verbs which involve a double modal selection, that is, which admit the
indicative or the subjunctive in the embedded clause; (iii) in sentences where the matrix
negation operator may change the embedded mood, enabling the selection of both
moods in this clause, the preference for the indicative over the subjunctive is also
observed; (iv) the subjects often establish tense agreement between the embedded verb
and the matrix one, but they reveal difficulties in identifying the temporal dependance
or independance relations between the embedded and the matrix clauses; (iv) the
difficulties in selecting and recognising the embedded mood, in production and
evaluation tasks, may not decrease with schoolar progression, that is, the second group
of subjects does not have, in most contexts, a better performance in manipulating these
structures than the subjects from the first group.
This research project shows that complement clauses need a much more deep and
detailed study in school context, leading to a reflection on the several aspects which are
associated to them.
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Capítulo 1 – Introdução
A presente tese tem como objecto de estudo a distribuição dos modos indicativo e
conjuntivo em orações subordinadas completivas verbais com a função sintáctica de
objecto directo do português. No âmbito deste estudo, serão tidos em consideração três
aspectos: a selecção do modo em função do verbo matriz, a influência da negação
frásica matriz no modo da oração encaixada e as relações temporais entre a oração
matriz e a oração encaixada.
A escolha deste tema decorre das dificuldades que detectei nos alunos, enquanto
docente, no que diz respeito à produção e à avaliação destas estruturas. Em contexto
escolar, verifica-se que o conjuntivo é um modo problemático, gerador de dúvidas e de
dificuldades de uso, sendo mesmo preterido pelo indicativo, em construções que
permitem a selecção dos dois modos. Este desempenho deficitário poderá resultar, entre
outros factores, do tipo de abordagem escolar, dos conteúdos programáticos, do trabalho
pouco reflexivo sobre a estrutura e o funcionamento da língua e da ausência de hábitos
de escrita e de leitura dos alunos. Pela análise do programa de Língua Portuguesa do 3º
ciclo, observa-se que é feita, nos três anos escolares, a distinção entre coordenação e
subordinação, sendo a subordinação abordada de maneira gradual, com a seguinte
sequência: no 7º ano, orações subordinadas temporais e causais; no 8º ano, orações
subordinadas condicionais, finais e completivas; no 9º ano, orações subordinadas
consecutivas, concessivas e relativas restritivas com antecedente. No programa de
Língua Portuguesa do ensino secundário, a competência de funcionamento da língua
visa desenvolver e consolidar os mesmos conteúdos, aprofundando-se a área da
pragmática. Relativamente à subordinação, pressupõe-se a identificação das várias
orações subordinadas, não se especificando, no âmbito das completivas, os factores de
selecção do modo, nem as relações temporais entre as orações encaixada e superior.
A apresentação e aplicação destes conteúdos nos manuais escolares passa sobretudo
pela classificação e divisão das orações, por exercícios de memorização de termos, pela
mera etiquetagem das noções e das regras gramaticais e raramente pela reflexão e
problematização de situações. Por outro lado, o isolamento dos enunciados
relativamente ao respectivo contexto é fruto de uma visão atomística da língua que é
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veiculada pela gramática da frase. No entanto, a língua deve ser entendida como um
todo, e não como um bloco intocável e imutável, pois é formada de partes que
estabelecem entre si relações. Deste modo, deve existir uma complementaridade entre a
Gramática do Texto e a Gramática da Frase, e não uma exclusão mútua, pois só dessa
forma se torna possível ter uma visão globalizante da língua.
A Gramática tem sido, assim, desvalorizada e subalternizada em grande parte das aulas
de Português. Para que a prática lectiva seja bem sucedida, é fundamental que o
professor de Língua Portuguesa tenha uma sólida formação linguística que lhe permita
reflectir sobre os programas, os manuais e as gramáticas, e adaptar os procedimentos
pedagógicos às necessidades específicas dos alunos, promovendo o seu
desenvolvimento linguístico. É igualmente importante que os docentes se preocupem
em reciclar e actualizar constantemente os seus conhecimentos científicos e didácticos,
não se limitando à sua formação inicial. Partindo do conhecimento implícito dos alunos,
o docente deve aplicar estratégias pedagógico-didácticas que os levem a reflectir sobre a
estrutura e o funcionamento da língua, ou seja, deve tentar construir a gramática
explícita a partir da e com a gramática implícita. Como afirma Duarte (2000b) “Só a
convivialidade com a língua nos seus usos multifacetados, alicerçada na competência
metalinguística, permitirá ao professor de Português cumprir o seu papel fundamental:
contribuir para o desenvolvimento linguístico harmonioso dos seus alunos,
proporcionando-lhes o prazer de brincar com a linguagem, guiando-os na descoberta
que é conhecer a língua e levando-os a explorar os múltiplos aspectos de que se reveste
o uso criativo que dela fazemos.” (op. cit.: 121).
Defendo, assim, que o desenvolvimento de uma consciência crítica e reflexiva sobre a
língua e o seu funcionamento deverá decorrer de um trabalho laboratorial, em que a sala
de aula é transformada numa oficina gramatical, baseada no método da descoberta e da
reflexão (cf. Duarte 1992). Este tipo de trabalho permitirá promover o desenvolvimento
de competências linguísticas e aperfeiçoar as práticas de uso da língua em situações
concretas do dia-a-dia.
Em suma, considero que cabe à escola, e em especial ao professor de Língua
Portuguesa, criar condições para que os alunos possam reflectir sobre a estrutura e o
funcionamento da língua, tendo perante esta uma atitude crítica e objectiva.
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1.1. Objectivos do projecto
Este trabalho tem como objectivo principal contribuir para o estudo dos modos
indicativo e conjuntivo em subordinadas completivas do português, no que diz respeito
aos factores que determinam a selecção do modo na encaixada (propriedades do verbo
matriz e/ou negação frásica superior) e às relações temporais estabelecidas entre os dois
domínios oracionais (frase matriz e frase encaixada). Visando a prossecução deste
objectivo, a investigação apresentada consiste na aplicação de testes sobre as
estruturas-alvo, de modo a verificar o desempenho dos sujeitos ao nível da produção e
da avaliação dessas estruturas. Assim, este projecto de investigação visa igualmente
descrever e analisar comparativamente o desempenho de dois grupos de sujeitos,
pertencentes a níveis de escolaridade distintos (10º e 12º anos), numa perspectiva de
abordagem da influência da progressão escolar no desempenho linguístico dos sujeitos.
1.2. Distribuição do indicativo e do conjuntivo em completivas verbais do português
Esta secção destina-se a descrever e a enquadrar na bibliografia disponível o tema do
presente projecto de investigação: os modos indicativo e conjuntivo em completivas
verbais objecto do português. Assim, apresenta-se, em primeiro lugar, uma breve
descrição das estruturas na gramática do adulto (secção 1.2.1.), seguida de uma revisão
bibliográfica das principais propostas que versam sobre algumas questões relacionadas
com o tópico em análise (secção 1.2.2.).
1.2.1. Breve descrição das estruturas na gramática-alvo
Procede-se na presente secção a uma breve descrição dos dados da gramática do adulto
relativos à temática abordada neste projecto de investigação. Neste intuito, são
primeiramente caracterizados os modos indicativo e conjuntivo, relativamente às noções
semânticas que lhes são tradicionalmente associadas e aos seus contextos de ocorrência.
Seguidamente, estabelece-se a distinção entre os dois processos de formação de
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unidades complexas, nomeadamente a coordenação e a subordinação, sendo este último
alvo de uma descrição detalhada no que diz respeito às orações subordinadas
completivas verbais. No âmbito destas orações, é abordada a selecção do modo na
encaixada, descrevendo-se, a este propósito, dois dos factores determinantes: (i) as
propriedades do verbo matriz e (ii) a ocorrência de um marcador de negação frásica na
frase superior. Por último, é apresentado outro aspecto relevante das orações
completivas: as relações temporais estabelecidas entre a oração matriz e a encaixada.
O modo indicativo é tradicionalmente associado à certeza, aos factos reais e às verdades
intemporais. Considerado também um modo autónomo, ocorre sobretudo em frases
simples (cf. (1)) e na oração matriz de frases complexas (cf. (2)).
(1) Eles foram visitar os avós.
(2) O João disse que o irmão está na escola.
Descrito geralmente em oposição ao indicativo, o modo conjuntivo exprime
tradicionalmente eventualidade, hipótese, irrealidade, possibilidade, dúvida, vontade e
ordem. Embora possa surgir em frases simples, nomeadamente em frases optativas e em
imperativas negativas, como se verifica em (3), o conjuntivo é o modo por excelência da
subordinação, como se observa em (4).
(3) a. Oxalá a operação corra bem.
b. Não faças nenhuma asneira!
(4) a. Lamento que não tenhas dito a verdade.
b. Quero que digas a verdade.
A subordinação é um mecanismo de formação de frases em que uma frase é dependente
sintáctica e semanticamente de um constituinte da frase matriz. As frases subordinadas
são, assim, frases encaixadas em frases superiores (cf. (5)). Por oposição, a coordenação
frásica é um processo de formação de frases, em que duas frases são autónomas, dado
que nenhuma desempenha qualquer função sintáctica relativamente à outra (cf. (6)).
(5) Os jovens desejam que os pais os compreendam.
(6) Ela estudou mas não teve boa nota.
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No caso da subordinação completiva, objecto de estudo desta dissertação, a oração
encaixada é seleccionada como argumento por um núcleo lexical (verbo, adjectivo ou
nome) que ocorre na frase matriz. Por conseguinte, existem três tipos de completivas:
verbais (cf. (7)), adjectivais (cf. (8)) e nominais (cf. (9)).
(7) A Rita disse que gostava de música clássica.
(8) É possível que o Pedro chegue hoje.
(9) É uma certeza que o desemprego aumentará.
Quando os verbos da completiva ocorrem no indicativo ou no conjuntivo, são frases
completivas finitas; quando os mesmos ocorrem no infinitivo, flexionado ou não
flexionado, são completivas não finitas. Os exemplos que se seguem ilustram estes dois
tipos de completivas:
(10) Eles querem que os amigos venham à festa.
(11) Os pacientes desejam ser atendidos rapidamente.
Considerando-se para este estudo apenas as completivas finitas verbais, importa
salientar a importância do complementador que, na medida em que introduz a maioria
das orações subordinadas. As completivas verbais podem manter com o núcleo que as
selecciona a relação gramatical de objecto directo e, neste caso, são seleccionadas como
argumento interno, podendo ser substituídas pelos pronomes demonstrativos invariáveis
isto, isso e -o, em posição pós-verbal, como se exemplifica em (12) e (13):
(12) a. A Andreia sabe que o resultado do exame já saiu.
b. A Andreia sabe isto. / A Andreia sabe-o.
(13) a. Lamento que o carro esteja avariado.
b. Lamento isso. / Lamento-o.
Os verbos da oração principal assumem grande importância na selecção do modo nas
completivas, pois das suas propriedades depende a selecção do indicativo ou do
conjuntivo na encaixada. Assim, o indicativo ocorre nas completivas seleccionadas por
predicados assertivos (cf. (14)), isto é, por predicados que exprimem asserções, como
verbos epistémicos, que exprimem conhecimento e crença (achar, saber, considerar,
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pensar), declarativos, que exprimem declarações e afirmações (afirmar, concluir,
declarar, dizer, prometer) e perceptivos, que exprimem sensações (ouvir, sentir, ver).
Estes predicados admitem coordenações adversativas ou rectificativas que afectem as
completivas que deles dependem (cf. (15)) e permitem ainda réplicas elípticas
correspondentes à polaridade da frase superior ou à polaridade da completiva (cf. (16)) –
cf. Duarte (2003).
(14) O treinador afirmou que gostou do desempenho da equipa.
(15) Sei que o Rui pratica ténis, mas (pratica) poucas vezes.
(16) a. Reparei que a Helena não se inscreveu no curso.
b. Eu também (= reparei que a Helena não se inscreveu no curso).
c. Eu também não (= me inscrevi no curso).
O conjuntivo, por seu turno, é seleccionado por predicados não assertivos que, ao invés
dos referidos anteriormente, não introduzem asserções, mas exprimem avaliações ou
acrescentam informações independentes da própria asserção. São exemplo destes
predicados verbos declarativos de ordem, que expressam ordens e pedidos (ordenar,
pedir), factivos, que pressupõem a verdade da oração complemento (lamentar, gostar),
volitivos e optativos, que expressam vontade e desejo (desejar, querer, detestar), e
causativos, que expressam permissão e obrigação (deixar, fazer). A este propósito,
vejam-se as frases (17) e (18):
(17) Lamento que o António tenha caído de mota.
(18) Os professores desejam que os alunos tenham bons resultados.
(19) *Lamento que a Inês visite os avós, mas (visite) poucas vezes.
(20) a. Espero que o João não tenha enviado o trabalho.
b. Eu também (= espero que o João não tenha enviado o trabalho).
c. *Eu também não (= enviei o trabalho).
Pelo contraste entre (15) e (19) e entre (16) e (20), verificamos, em primeiro lugar, que
os predicados não assertivos, ao contrário dos assertivos, não admitem coordenações de
tipo adversativo ou rectificativo e, em segundo, permitem apenas respostas que
correspondem à polaridade da frase superior (cf. Duarte 2003).
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Existem ainda verbos matriz de selecção modal dupla, ou seja, verbos que seleccionam
na encaixada ou o indicativo ou o conjuntivo (cf. (21) e (22)), como é o caso dos verbos
imaginar, acreditar e supor (entre outros), considerados como verbos que criam
mundos alternativos. A opção de um ou de outro modo decorre de diferentes intenções
do enunciador e acarreta interpretações semânticas distintas, no que diz respeito ao grau
de crença e à atribuição do valor de verdade à proposição encaixada.
(21) Nós acreditamos que a situação vai/ vá melhorar.
(22) Imagino que és/ sejas a minha nova colega.
No âmbito da selecção de modo do verbo encaixado, há a considerar, além das
propriedades dos verbos da oração superior, outro factor determinante – a presença de
um operador de negação frásica na oração superior. O elemento de negação frásica
superior pode, assim, induzir alterações no modo da encaixada, como acontece com
verbos epistémicos (como dizer, saber, achar) e verbos prospectivos (como prometer,
ameaçar), que na afirmativa seleccionam indicativo e que, sob o escopo da negação
superior, passam a seleccionar também o conjuntivo na completiva, como se
exemplifica em (23) e (24), respectivamente:
(23) a. Acho que o médico dá consulta amanhã.
b. Ele não acha que os filhos estão/ estejam no parque.
(24) a. A Alice promete que entrega a carta.
b. Não prometo que te vou / vá visitar.
Embora menos frequente, regista-se também no português o caso oposto, ou seja,
verbos que na afirmativa seleccionam conjuntivo e que, na presença do operador de
negação frásica superior, passam a seleccionar o indicativo. São disso exemplo os
verbos duvidar e negar (cf. (25)).
(25) a. A Teresa duvida que a polícia descubra a verdade.
b. O José não duvida que a Ana vem/ venha hoje.
Nestas estruturas de subordinação verbal assumem igualmente importância as relações
de (in)dependência temporal entre a oração encaixada e a oração matriz.
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Quando ocorre o indicativo na encaixada, não se verificam restrições sobre o tempo
verbal da encaixada, pois o tempo verbal da oração completiva é, geralmente,
independente do da matriz, sendo possível o uso do presente, do passado ou do futuro,
como se verifica em (26):
(26) a. O Miguel diz que a Catarina {vai/ foi/ irá} às compras.
b. O Miguel disse que a Catarina {vai/ foi/tinha ido/ irá} às compras.
Esta situação de independência temporal é também possível com alguns verbos que
seleccionam o conjuntivo na encaixada, como acontece com o verbo lamentar:
(27) a. O João lamenta que o Sérgio {esteja/ ?estivesse/ tenha estado/ tivesse estado}
doente.
b. O João lamentou que o Sérgio {esteja/ estivesse/ tenha estado/ tivesse estado}
doente.
Com uma grande parte dos verbos que seleccionam o conjuntivo na encaixada, há
restrições temporais, na medida em que o tempo verbal da encaixada depende do da
oração superior. Assim, o tempo do verbo da oração matriz condiciona o tempo verbal
da completiva, admitindo-se apenas as combinações [pres/pres], como em (28a), e
[pas/pas], como em (28b).
(28) a. Ela quer que o Ricardo traga/ *trouxesse/ *trouxer uma encomenda.
b. Ela quis que o Ricardo trouxesse/ *traga/ *trouxer uma encomenda.
Nas situações em que se verifica independência temporal, o tempo da encaixada não
tem sempre como ponto de referência o tempo da oração principal; pode ter também
como referência o tempo de enunciação através do uso de advérbios como amanhã.
Neste caso, estabelece-se uma relação deíctica, em que o tempo da encaixada é posterior
ao momento da fala [pas/pres], como se verifica, por exemplo, com verbos epistémicos,
como afirmar (cf. (29)), com verbos de influência, como sugerir (cf. (30)), e com verbos
factivos, como lamentar (cf. (31)). Note-se que se encontram nesta situação verbos que
seleccionam quer o indicativo quer o conjuntivo.
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(29) A Ana afirmou que a Rita vai ao cinema amanhã.
(30) Ele sugeriu-me que vá ao médico amanhã.
(31) O Pedro lamentou que o Pedro vá amanhã para o estrangeiro.
Por sua vez, quando a encaixada é temporalmente dependente da matriz, não podem
ocorrer expressões temporais que localizem o estado de coisas expresso na referida
encaixada relativamente ao tempo da enunciação:
(32) *O João quis ir ao cinema amanhã.
Estas expressões temporais são, contudo, admitidas se o tempo da enunciação e o tempo
do evento coincidirem:
(33) O João quer ir ao cinema amanhã.
As frases com conjuntivo distinguem-se, ainda, das que integram o indicativo no que
diz respeito às propriedades do sujeito encaixado. Assim, em frases com o Indicativo, o
sujeito é obrigatoriamente disjunto quando está realizado lexicalmente (cf. (34)) e,
quando não se verifica a sua realização lexical (sujeito nulo), o sujeito é interpretado
como co-referente (cf. (35)); já o Conjuntivo, está associado preferencialmente a um
sujeito realizado lexicalmente e disjunto do sujeito matriz (cf. (36)). O fenómeno da
referência de sujeitos não será, no entanto, alvo de estudo nesta dissertação.
(34) [A Raquel]i acha que [ela]j/*i é uma boa amiga.
(35) [O Joaquim]i disse que [-]i/*j ia viajar.
(36) [A Maria]i quer que [ela]j/*i vá ao baile.
1.2.2. Revisão bibliográfica
Esta secção tem como objectivo apresentar uma revisão dos textos mais relevantes sobre
três tópicos relacionados com a distribuição do indicativo e do conjuntivo,
nomeadamente (i) as propriedades do verbo matriz e a selecção do modo na encaixada,
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(ii) os efeitos da negação matriz na selecção do modo da oração encaixada e (iii) as
relações temporais entre os dois domínios oracionais (matriz e encaixada).1
A apresentação das propostas disponíveis na literatura, que servirá de base para a
construção do estímulo (cf. Capítulo 2), é feita segundo uma ordem diacrónica, sendo
que, no ponto 1.2.2.1., são primeiramente apresentadas as propostas ou descrições
presentes nas gramáticas, seguindo-se as análises presentes noutros trabalhos. Na
descrição das diversas posições são sublinhados os pontos em comum, bem como as
diferenças que as separam, no intuito de estabelecer uma análise comparada das várias
propostas. No final de cada secção, é feita uma síntese das principais ideias defendidas.
1.2.2.1. Propriedades do verbo matriz e selecção do modo
Em Soares Barbosa (1822), o conjuntivo é apresentado em clara oposição ao indicativo,
associando-se o primeiro à dependência temporal e o segundo à independência. A
caracterização semântica e sintáctica do indicativo aponta-o como um modo autónomo,
absoluto e subordinante. A esta caracterização opõe-se a descrição do conjuntivo, que
exprime a incerteza e a indecisão, sendo um modo subordinado ao verbo da oração
superior e, consequentemente, fortemente determinado pelo mesmo. Daí que se afirme
que “O seu carácter próprio é não poder figurar só no discurso sem dependência de
outra oração clara ou occulta, a que fique subordinada sempre, e ligada ordinariamente
pelo conjuntivo «que».” (op. cit.: 139).
A natureza subordinada do conjuntivo é também reforçada por Epiphanio da Silva Dias
(1917), embora na sua gramática este autor distinga o emprego independente do
conjuntivo em orações principais e o seu emprego dependente em orações subordinadas.
Procede-se, assim, à distinção entre estes dois tipos de orações e, no que diz respeito às
orações principais, o autor afirma que, nestas construções, o conjuntivo se emprega de
modo independente, exprimindo noções imperativas e de ordem. O autor acrescenta que
este modo pode também exprimir um desejo, através das expressões oxalá, quem dera
ou tomara, designando-o, por isso, de conjuntivo optativo; pode ainda traduzir uma
1 A distribuição do indicativo e do conjuntivo não se esgota nestes tópicos. A selecção dos mesmos para a elaboração desta secção prende-se com o facto de serem estes os aspectos em análise na presente dissertação.
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hipótese ou uma possibilidade, na presença de talvez ou quiçá, considerando-o neste
caso como um conjuntivo potencial. Por último, segundo o autor, o conjuntivo figura
igualmente nas disjunções formadas por expressões correlativas como quer-quer e ou-
ou. Em (37) encontra-se exemplificado o conjuntivo optativo:
(37) Oxalá nunca saibas quão intenso e atroz é o meu tormento.
(Herc., Eur., 48, apud op. cit.: 203)
No que concerne às orações subordinadas, são abordadas as orações substantivas,
relativamente às quais se expressam as noções semânticas veiculadas pelos verbos da
oração matriz e pelas locuções que seleccionam a presença do conjuntivo. Assim,
incluem-se no grupo de verbos que seleccionam o conjuntivo os que exprimem a ideia
de fazer ou impedir (verbos fazer, conseguir, pedir, exigir, aconselhar, votar, ordenar,
proibir, conceder, consentir, desejar), de admiração, contentamento ou
descontentamento (verbo admirar-se), de dúvida (verbo duvidar) e de temer ou esperar
(verbos temer, esperar), como se ilustra em (38):
(38) [Abrahão] temeo que como mulher, e mãe, [Sara] não tivesse valor para consentir
no sacrifício.
(Vieira, I: 603, apud id.: 206)
À semelhança do autor anterior, Epiphanio da Silva Dias (1917) também faz alusão à
importância da conjunção que como um elemento introdutor do modo conjuntivo,
embora refira que, por vezes, esta se encontra ausente.
Tal como em Soares Barbosa (1822), o modo conjuntivo em Cunha e Cintra (1984)
surge em contraste com o indicativo. Os autores defendem que, enquanto o indicativo
exprime a certeza e a realidade, o conjuntivo toma os factos como incertos, duvidosos,
eventuais ou irreais. Estabelecem dois princípios gerais que apresentam os contextos de
uso do indicativo e do conjuntivo nas orações subordinadas substantivas:
“1º O INDICATIVO é usado geralmente nas orações que completam o sentido de
verbos como afirmar, compreender, comprovar, crer (no sentido afirmativo), dizer,
pensar, ver, verificar.
16
2º O CONJUNTIVO é o modo exigido nas orações que dependem de verbos cujo
sentido está ligado à ideia de ordem, de proibição, de desejo, de vontade, de súplica, de
condição e outras correlatas. É o caso, por exemplo, dos verbos desejar, duvidar,
implorar, lamentar, negar, ordenar, pedir, proibir, querer, rogar e suplicar. ” (op. cit.:
464).
Também como Epiphanio da Silva Dias (1917), Cunha e Cintra (1984) estabelecem
uma distinção na utilização do conjuntivo em orações principais e em subordinadas, da
qual deriva a noção de conjuntivo independente e de conjuntivo subordinado,
respectivamente. O conjuntivo independente está associado à expressão de desejo, de
concessão, de dúvida, de ordem e de indignação do enunciador, enquanto o conjuntivo
subordinado ocorre em orações substantivas que dependem de verbos da oração matriz
que exprimem vontade, sentimento, dúvida e receio, respectivamente exemplificados
em (39) e (40):
(39) Chovam hinos de glória na tua alma!
(Quental 1890: 35, apud id.: 465)
(40) Em todo o caso, gostava que me considerasse um amigo.
(Carvalho 1978: 119, apud id.: 466)
Bechara (1999) sistematiza os principais casos de ocorrência do conjuntivo nas orações
subordinadas substantivas em termos de denotação semântica. Ordem, vontade,
consentimento, aprovação, proibição, receio, desejo, probabilidade, necessidade,
utilidade, dúvida, suspeita, desconfiança são os valores expressos nas frases em que se
utiliza este modo. Além desta situação, afirma-se que o conjuntivo surge depois dos
verbos duvidar, suspeitar e desconfiar em frases afirmativas. No seu conjunto, Bechara
(1999) considera as orações subordinadas com conjuntivo como aquelas em que “o
facto é considerado como incerto, duvidoso ou impossível de se realizar” (op. cit.: 280).
Embora tenhamos de ter em conta a distância entre as línguas portuguesa e espanhola, é
interessante verificar que Ridruejo (1999) fornece elementos importantes para a
discussão sobre a selecção do modo em orações subordinadas completivas. Este autor
centra a sua atenção nos critérios que determinam a ocorrência do modo indicativo ou
do modo conjuntivo, quer quando um deles é obrigatório, quer quando é possível a sua
17
alternância. No primeiro caso, não atribui a ocorrência obrigatória do modo apenas ao
verbo da oração principal, mas reconhece o papel determinante de outros elementos
lexicais do predicado superior e de indutores negativos.
No plano semântico, e de acordo com Ridruejo (1999), produz-se asserção sobre a
verdade da oração subordinada quando o modo indicativo é obrigatório; quando os
verbos matriz são não assertivos, o modo conjuntivo é obrigatório e não se assume a
verdade da oração complemento, sendo esta apresentada apenas como provável ou
possível, como acontece com os predicados volitivos (como os verbos desear e querer).
No entanto, ao contrário do que supostamente era esperado, existem contextos de
conjuntivo que pressupõem a verdade da proposição encaixada, como acontece com
predicados causativos (como o verbo conseguir) ou com alguns verbos factivos (como o
verbo lamentar). No que diz respeito à alternância de modos na oração subordinada
completiva, o autor salienta os verbos criadores de mundos, como os verbos imaginar e
suponer, que expressam circunstâncias diferentes da realidade de enunciação, e os
verbos de expectativa, como o verbo esperar, que significa não só vontade, mas
também expectativa ou previsão sobre a proposição complemento. Nestas situações em
que, com o mesmo predicado, é possível a selecção dos dois modos, Ridruejo (1999)
assinala a asserção como função do indicativo e a não asserção como o significado do
conjuntivo. Contudo, ressalva que “ En algunas construcciones hay que entender la
ausência de aserción no de manera absoluta, en el sentido de que no queda aseverada
la verdad de la proposición subordinada, sino solo como ausência de aserción
independiente, por la cual la idea verbal no está actualizada o concretada al margen de
lo indicado en el predicado superior.” (op. cit.: 3249).
Ridruejo (1999) alerta-nos, portanto, para a complexidade de que se reveste o emprego
dos modos verbais em orações subordinadas completivas, contribuindo, por isso, para
uma distinção mais consistente entre o indicativo e o conjuntivo, uma vez que não se
limita à enunciação dos verbos que seleccionam conjuntivo e à utilização de critérios
meramente nocionais. O autor afirma que a literatura espanhola que tem versado sobre
este assunto associa, no geral, o modo indicativo à realidade, à objectividade e à
actualidade, face ao conjuntivo, que, por oposição, se relaciona com a irrealidade, a
subjectividade e a futuridade indefinida, sendo o verbo superior apresentado pela
maioria dos gramáticos como o factor determinante da selecção modal na oração
18
subordinada. Não descurando esta caracterização, que vai, em parte, ao encontro da tese
asserção vs não asserção, Ridruejo (1999) tenta mostrar, agrupando predicados segundo
o modo da encaixada, que existem mais factores envolvidos na selecção de modo além
do significado do verbo subordinante, como a presença de certos elementos lexicais
integrados na oração superior e elementos de negação.
Em Oliveira (2003) esta questão é abordada como um assunto complexo e
problemático. Ainda que identifique grupos de verbos que seleccionam o modo
indicativo e grupos que exigem o modo conjuntivo, a autora não encontra nestes verbos
traços semânticos comuns que permitam justificar a ocorrência de um dos modos com
base exclusivamente em distinções modais. Como afirma a mesma (op. cit.: 257 e 258),
“Não existe correspondência unívoca entre os dois modos e distinções modais, pois a
cada modo pode associar-se mais do que uma modalidade.”. Para comprovar este facto,
a autora assinala o uso do conjuntivo com o verbo factivo lamentar e o uso do
indicativo com o verbo de crença crer através dos exemplos (41) e (42),
respectivamente:
(41) A Ana lamenta que estejas doente.
(id.: 258; (30))
(42) O Rui crê que a Rita está em casa.
(id.: 258; (31))
No exemplo (41) é afirmada a verdade da proposição e no exemplo (42) a situação é
inversa. Deste modo, na encaixada da primeira frase esperar-se-ia a ocorrência do
indicativo e na encaixada da segunda esperar-se-ia a presença do conjuntivo. Oliveira
(2003) afirma, pois, que estas ocorrências vão de encontro às associações tradicionais
do conjuntivo à incerteza e irrealidade e do indicativo à certeza e à realidade.
Oliveira (2003) refere, ainda, a selecção dos dois modos na encaixada pelo mesmo
verbo matriz, nomeadamente por verbos criadores de mundos alternativos (como os
verbos admitir, imaginar, pensar, supor, assumir, calcular, acreditar, julgar, presumir,
suspeitar; cf. (43)), ocorrência esta que, segundo a autora, contradiz, de novo, o facto de
o conjuntivo ser tradicionalmente considerado como o modo da irrealidade.
19
(43) Imagino que gostas/gostes de ir ao cinema.
(id.: 260; (45))
Como resposta ao problema de não existir uma relação directa entre a selecção do modo
e diferentes tipos de modalidade, Duarte (2003), na sequência de Hooper (1975) e de
Bosque (1990b), distingue entre predicados assertivos e predicados pseudo-assertivos,
aos quais estão associados o indicativo e o conjuntivo, respectivamente. Os primeiros,
como o próprio nome indica, introduzem uma asserção, permitindo, como
exemplificado em (44), coordenações de tipo adversativo ou rectificativo que afectem as
completivas que deles dependem:
(44) Sei que ele vem visitar-nos, mas (vem) sozinho.
(op.cit.: 604; (28a))
Os predicados assertivos admitem, ainda, réplicas elípticas correspondentes à polaridade
da frase superior ou à polaridade da completiva, como se verifica em (45):
(45) a. Sei/ reparei/ creio que a Maria ainda não concluiu o relatório.
b. Eu também (= sei/ reparei/ creio que a Maria ainda não concluiu o relatório).
c. Eu também não (= concluí o relatório).
(id.: 604; (30))
Os predicados pseudo-assertivos utilizam-se para “exprimir avaliações ou para
acrescentar conteúdos independentes da própria asserção, uma vez que os mesmos se
encontram já pressupostos nesta” (id.:603) e, ao contrário dos assertivos, não admitem
coordenações de tipo adversativo ou rectificativo (cf. (46)), permitindo apenas respostas
fragmentárias correspondentes à polaridade da frase matriz (cf. (47)).
(46) *Lamento que ele venha visitar-nos, mas (venha) sozinho.
(id.: 604; (29a))
20
(47) a. Lamento/ espero que a Maria ainda não tenha concluído o relatório.
b. Eu também (= lamento/ espero que a Maria ainda não tenha concluído o
relatório).
c. *Eu também não (= não concluí ainda o relatório).
(id.: 604; (31))
No caso da presença opcional de indicativo ou de conjuntivo na encaixada, Duarte
(2003) afirma que “ (…) a selecção do conjuntivo exprime maior distância do locutor
relativamente à verdade do conteúdo proposicional da frase completiva.” (id.:605).
Esta questão da selecção do modo em orações completivas é igualmente explorada em
outros estudos linguísticos, elaborados em diversos quadros teóricos.
Faria (1974) mostra que o conjuntivo, enquanto elemento de uma estrutura de
complementação, resulta de restrições impostas pelos verbos mais altos, que
estabelecem vários graus de asserção mental (verbos de asserção mental fortes e médios
e verbos declarativos de ordem médios e fracos), correspondendo, assim, a diferentes
tipos de verbos com características semânticas específicas. Esta graduação semântica
dos verbos superiores é derivada do facto de estes imporem aos verbos da oração
subordinada dois tipos de restrições: qualificadoras (selecção de um único modo como
complementador) e quantificadoras (selecção de dois modos, sendo que a ocorrência de
um ou de outro origina interpretações semânticas distintas). Relativamente a estas
últimas, são identificados os verbos de asserção mental fracos (acreditar, assumir, crer,
ignorar, imaginar, julgar, prever, supor, etc.) como aqueles que seleccionam os dois
modos, embora a interpretação semântica não seja idêntica quando ocorre um e quando
ocorre outro. Assim, a autora considera que, quando o enunciador pressupõe a verdade
da frase complemento, ocorre indicativo; quando pressupõe um potencial de verdade da
frase complemento, surge o conjuntivo.
Além destes dois tipos de restrições, Faria (1974) aponta igualmente a negação como
outro operador condicionador do conjuntivo (cf. secção 1.2.2.2.). Assim, a autora
defende que não há conjuntivo independente, pois “quando não depende de restrições
impostas pelos verbos superiores, ele depende de qualquer forma, de elementos
pertencentes ou introduzidos na frase mais-alta.” (op. cit.: 104).
21
No âmbito do estudo do conjuntivo em espanhol, Bosque (1990b) tem como objectivos
centrais a alternância indicativo-conjuntivo e os factores que determinam a sua
ocorrência. Sem descurar as noções semânticas normalmente associadas ao conjuntivo
(incerteza, hipótese, eventualidade, prospecção), o autor sublinha a importância dos
aspectos sintácticos na selecção do modo. Para o autor, semântica e sintaxe devem,
portanto, estar interligadas. Assim, Bosque (1990b) estabelece a distinção entre
predicados assertivos e predicados factivos, afirmando que se trata de diferentes tipos de
subordinação. Os predicados assertivos exprimem afirmações e declarações e, segundo
o autor, são relativamente independentes da própria asserção. Dado que a oração
subordinada é o âmbito da asserção, estes predicados permitem coordenações
adversativas ou rectificativas que afectem as completivas que deles dependem. Assim,
em (48), verifica-se que a oração adversativa ou rectificativa tem como ponto de
referência ou de contraste a própria oração subordinada:
(48) Creo que vendrá a verte, pero solo.
(op.cit.: 30; (21a))
Sintacticamente diferentes, os predicados factivos não têm um âmbito assertivo e
avaliam conteúdos que são independentes da própria asserção, pois esta já está
pressuposta. A este propósito, veja-se o exemplo presente em (49), cujo verbo matriz é
o verbo factivo lamentar:
(49) Lamento que Pepe no hubiera redactado el informe.
(id.: 31; (25))
Como já referido anteriormente, estes conceitos são retomados por Ridruejo (1999) e
por Oliveira (2003), integrados em gramáticas do Espanhol e do Português,
respectivamente.
Associada à noção de asserção, Bosque (1990b) aborda a questão da selecção modal
dupla, tópico que é assumido como problemático, uma vez que, geralmente, na literatura
relevante são refutadas as teorias semânticas que apoiam a existência de homonímia e é
defendido que a ocorrência de um ou de outro modo acarreta alterações de significado,
logo, de polissemia. A título de exemplo, o autor aponta os verbos de (50) e (51), que
22
seleccionam ou o indicativo ou o conjuntivo na encaixada, consoante o grau de asserção
que veiculam:
(50) Dile que tiene/tenga valor.
(id.: 45; (46a))
(51) Insisto en que lo hace/haga mejor.
(id.: 45; (46b))
Conclui-se que a selecção dupla está relacionada com o conceito de asserção e que
determinadas partículas lexicais, como o advérbio ya, dada a sua natureza discursiva,
introduzem enunciados de tipo confirmativo e admitem uma interpretação semântica
compatível apenas com o indicativo. Veja-se o exemplo (52a), em que ambos os modos
podem ser seleccionados na encaixada; contudo, em (52b) verifica-se que da presença
do conjuntivo na encaixada decorre a agramaticalidade da frase, pois o advérbio ya
pressupõe a apresentação ou o conhecimento de alguma situação anterior.
(52) a. Compreendo que necesitas/ necesites tiempo.
(id.: 47; (49a))
b. Ya compreendo que necesitas/ *necesites tiempo.
(id.: 47; (49b))
Bybee & Terrell (1990) analisam o modo em Espanhol sob uma perspectiva semântica.
Começam por demarcar as diferenças que separam a análise sintáctica da análise
semântica: numa perspectiva sintáctica, a escolha do modo é determinada por um
sintagma da frase superior; numa perspectiva semântica, a escolha do modo do verbo
subordinado está relacionada com a atitude do falante. Na esteira de Bosque (1990b),
estes autores associam o conceito de asserção ao indicativo e, concretamente, às orações
substantivas. Por conseguinte, associam o conjuntivo à não-asserção, nomeadamente a
três tipos de não-asserção: dúvida, comentário ou ordem. Assim, as orações que
expressam dúvida sobre a validade de uma proposição constroem-se com verbos como
duvidar e negar, como se apresenta em (53):
(53) Dudo que hayan terminado ya.
(op. cit.: 152; (25))
23
No caso das orações que expressam comentário, o falante pressupõe que a proposição é
verdadeira, logo, não afirma, apenas opina sobre a proposição. É o que acontece nos
contextos de verbos como alegrarse, em que se expressa um estado de felicidade (cf.
(54)).
(54) Me alegro de que Maria haya podido acabar a tiempo.
(id..: 152; (28))
Por último, nas orações subordinadas de ordem, que expressam valores de vontade,
persuasão ou influência, ocorrem verbos como querer, preferir, aconsejar, permitir. Em
termos sintácticos, as orações que expressam ordem diferenciam-se das restantes pelo
facto de o seu complemento oracional se localizar num intervalo de tempo posterior ao
do momento da fala, como ilustrado em (55):
(55) Quiero que nos quedemos un rato más.
(id..: 151; (22))
Bybee & Terrell (1990) concluem que as características sintácticas das orações são uma
consequência directa das propriedades semânticas das mesmas, no sentido em que “las
propriedades semânticas preceden a las sintácticas.” (op. cit.: 154).
Marques (1995) analisa a distribuição dos modos conjuntivo e indicativo baseando-se
em critérios semânticos. Neste trabalho, é feita uma descrição dos contextos de
ocorrência do conjuntivo e atribui-se especial ênfase às orações completivas finitas por
constituírem uma questão pouco consensual no que concerne à selecção do modo. Neste
âmbito, são listados os verbos da oração matriz que seleccionam o modo indicativo,
bem como os que regem o modo conjuntivo ou ambos os modos, de forma a encontrar
nesses conjuntos traços semânticos comuns. Porém, depois de apresentadas e discutidas
as propostas disponíveis na literatura sobre o assunto (asserção/não-asserção; graus de
crença; veridicalidade), Marques (1995) conclui que, embora essas propostas
contenham alguns dados relevantes, não esclarecem todas as ocorrências dos dois
modos. O exemplo clássico do verbo factivo lamentar continua a constituir uma
situação particular, uma vez que, como a oração complemento é assumida como
verdadeira, seria de esperar a presença do indicativo e não a do conjuntivo. Por outro
24
lado, nas orações completivas com os verbos ameaçar e prometer, uma vez que a
proposição da oração encaixada não é tida como verídica, justificar-se-ia a presença do
conjuntivo, o que não acontece.
Com o intuito de encontrar uma solução plausível para estas duas situações
problemáticas, Marques (1995) apresenta uma hipótese alternativa, defendendo que o
indicativo é o modo marcado porque se associa a atitudes epistémicas de conhecimento
ou de crença; identificam-se, deste modo, traços semânticos comuns no tipo de atitude
expressa pelo verbo da frase matriz. O conjuntivo, por seu turno, não está associado a
valores específicos, assumindo-se como o modo não marcado, que ocorre nos contextos
de que está excluído o indicativo.
Contrariando a perspectiva anterior e as tradicionais dicotomias sintácticas
(independente/ dependente) e semânticas (real/irreal; assertivo/ não assertivo; marcado/
não marcado) que distinguem os modos indicativo e conjuntivo, Oliveira (2000) adopta
uma perspectiva enunciativa, apoiando-se no Quadro da Teoria das Operações
Predicativas e Enunciativas de Culioli. A Situação de Enunciação (Sit) – coordenadas
enunciativas que localizam a referência de um enunciado – e a relação predicativa
(relação binária entre o operador de predicação e os argumentos do conteúdo
preposicional) são os dois conceitos fundamentais desta análise, uma vez que, da sua
relação, resulta o valor modal de um enunciado. Nesta perspectiva, acrescenta-se ainda
que “Enquanto marcador de valores modais, o conjuntivo está relacionado com o
parâmetro subjectivo da enunciação e marca a forma como o sujeito enunciador assume
a validação da relação predicativa.” (op. cit.:109).
A autora expõe três tipos de Modalidade: a Modalidade Epistémica, a Modalidade
Apreciativa e a Modalidade Intersujeitos e, para cada um destes casos, especifica-se a
ocorrência do indicativo e do conjuntivo.
A Modalidade Epistémica expressa o grau de conhecimento do enunciador em relação
ao conteúdo proposicional e estabelece uma escala de valores assertivos, cabendo ao
indicativo valores de asserção estrita e de asserção intermédia, ao passo que ao
conjuntivo são associadas as situações de diversos graus de incerteza porque “é
incompatível com a assunção da validação da relação predicativa em Sit0.” (id.: 109). A
25
Sit0 é entendida como a situação de enunciação de origem que localiza a construção do
enunciado. Os exemplos que se seguem ilustram esta situação:
(56) Acho/ Penso/ Suspeito/ Desconfio que o Rui chumbou.
(id.: 109; (14))
(57) É possível/ É provável que o Rui tenha chumbado.
(id.: 110; (16))
Com o segundo tipo de Modalidade apresentado, a Modalidade Apreciativa, emite-se
um juízo de valor ou um comentário apreciativo a uma relação predicativa validada.
Neste caso, o indicativo assume um valor assertivo na mesma enunciação (cf. (58)) e o
conjuntivo ocorre quando a relação predicativa é apresentada como validada ou
não-validada numa situação distinta de Sit0 (cf. (59)) ou em Sit0 (cf. (60)):
(58) Ainda bem que o Rui passou.
(id.: 110; (25))
(59) Lamento que o Rui tenha chumbado.
(id.: 110; (20))
(60) Gostava muito que o Rui passasse de ano.
(id.: 110; (23))
Por último, a relação de acção e de influência do sujeito enunciador sobre o
comportamento do sujeito do enunciado é expressa pela Modalidade Intersujeitos,
característica do conjuntivo por se construir uma relação predicativa como validável ou
não-validável em Sit0, traduzindo ordens, pedidos, desejos, permissões. Exemplificam
esta modalidade as frases (61) e (62):
(61) Acho bem que arrumes o quarto.
(id.:111; (28))
(62) Não compres esse livro.
(id.: 111; (29))
Oliveira (2000) mostra-nos, assim, como a teoria culioliana rejeita por completo a
afirmação de que o conjuntivo não tem valores modais específicos e defende que
26
“Todas as formas são marcadores de operações abstractas subjacentes.” (id.: 107), pois,
com este modo, o falante, depois de encarar todos os valores possíveis, selecciona
apenas um deles.
Sintetizando, em todas as gramáticas há uma nítida oposição entre os modos indicativo
e conjuntivo, uma dicotomia marcadamente semântica que separa a realidade e a certeza
da irrealidade e da dúvida. Outra das noções que lhes é transversal é o facto de o
conjuntivo ser considerado por excelência o modo da subordinação e,
consequentemente, um modo dependente e determinado. Todavia, continuam a existir
casos problemáticos a que a tese certeza/ incerteza não consegue dar resposta, como a
presença do conjuntivo com o verbo factivo lamentar, um verbo que, por afirmar a
verdade da proposição da encaixada, deveria seleccionar indicativo, bem como a
selecção do indicativo com verbos matriz como crer e prometer, que, ao assumirem a
verdade da oração complemento, deveriam admitir, nesta oração, o conjuntivo. Por sua
vez, a selecção modal dupla na encaixada é outra questão pouco explorada na literatura
que versa sobre este assunto, sobretudo no que diz respeito aos critérios que estão na
base da selecção de cada um dos modos.
A necessidade de responder a estas questões encontra-se subjacente a diferentes estudos
linguísticos, em que se procede, em geral, a uma análise mais fundamentada que
procura definir os critérios que estão na base da selecção modal em completivas e
identificar as propriedades semânticas e/ou sintácticas destas construções e/ou dos
verbos envolvidos. As principais propostas distinguem o comportamento dos dois
modos através de aspectos como asserção/não asserção, marcado/ não marcado,
veridicalidade, entre outros.
1.2.2.2. Efeitos da negação superior no modo da oração encaixada
De entre os critérios que presidem à escolha do modo na oração completiva, a classe
semântica do verbo da oração matriz tem sido o mais estudado na literatura. A negação,
porém, tem sido assinalada como outro factor que condiciona fortemente o modo na
oração encaixada.
27
De entre os gramáticos consultados que seguem a tradição greco-latina, apenas
Epiphanio da Silva Dias (1917) reconheceu a importância da negação na oração matriz
como elemento indutor do modo conjuntivo. O autor assume que o verbo duvidar, sob o
efeito da negação, pode seleccionar o modo indicativo na completiva; por outro lado,
indica que os verbos que exprimem a ideia de pensar, saber ou perceber, o verbo
parecer e os verbos que expressam a ideia de provar ou declarar, sempre que sejam
introduzidos por um elemento negativo, exigem na subordinada o modo conjuntivo.
Como atesta o exemplo (63a), o verbo superior dizer selecciona em frases afirmativas o
indicativo, mas na presença da negação frásica, como em (63b), passa a seleccionar
conjuntivo:
(63) a. Quer dizer o Apostolo que não é/ era verdadeira história.
b. Não quer dizer o Apostolo que não fosse verdadeira história.
(Vieira, I, 598, apud op. cit. 1917: 209)
Numa exposição mais fundamentada, Faria (1974) associa a negação a verbos de
asserção mental (como é o caso dos verbos imaginar, acreditar, pensar e supor) por
admitirem ambos os modos na completiva. Comparando a sua posição com a defendida
por Rivero (1970) e por Raposo (1973), toma como exemplo as frases:
(64) Ela não imagina que as pastilhas elásticas fazem mal aos dentes.
(Faria 1974: 43; (1))
(65) Ela não imagina que as pastilhas elásticas façam mal aos dentes.
(op. cit.: 43; (2))
Esta autora conclui que, como defendem Rivero (1970) e Raposo (1973), as duas
ocorrências do modo não derivam de uma opção; pelo contrário, resultam de uma
atitude do falante. No entanto, enquanto no caso da selecção do indicativo, Faria (1974)
concorda com o facto de existir por parte do falante uma pressuposição da verdade da
frase complemento, na presença do conjuntivo, não aceita a hipótese de o falante
assumir uma posição de neutralidade relativamente à oração completiva. Afirma que,
quando utiliza o conjuntivo, o falante pressupõe uma verdade potencial do
complemento, daí que considere que a diferença entre as duas ocorrências é uma
diferença modal entre o “ser” e o “poder ser”.
28
A estes casos, acrescentam-se os verbos de asserção mental muito fracos (achar,
descobrir, fingir, saber, concluir) que, segundo a mesma autora, são os que evidenciam
mais explicitamente o Transporte da Negativa (processo em que o elemento de negação,
embora esteja na frase superior, afecta a frase encaixada, funcionando como
qualificador ou quantificador), dado que também seleccionam conjuntivo ao ocorrerem
sob o escopo da negação. Assim, de acordo com Faria (1974), a restrição sintáctica de
origem posicional que é instanciada pela introdução da negação na oração subordinada
sobrepõe-se à restrição semântica imposta pelo verbo mais alto.
No âmbito da selecção modal em orações completivas, Marques (1995) realça
igualmente a importância do operador de negação na frase superior, reconhecendo que a
sua presença pode alterar o modo na oração encaixada. Como o autor mostra, com
verbos de conhecimento – saber, descobrir, ignorar –, não se assiste a uma variação de
modo, estando o indicativo presente quer as frases sejam afirmativas, quer sofram a
influência da negação, uma vez que o enunciador conhece a verdade da proposição
complemento. Esta situação encontra-se abaixo exemplificada em (66), (67) e (68):
(66) Ela não sabe que ele fugiu para o estrangeiro.
(op. cit.: 125; (170a)
(67) Ela não descobriu que ele fugiu para o estrangeiro.
(id.: 125; (170b)
(68) Ela não ignora que ele fugiu para o estrangeiro.
(id.: 125; (170c)
O mesmo acontece com os verbos que na afirmativa seleccionam o conjuntivo, pois
mantêm esta propriedade de selecção na negativa, verificando-se esta situação em (69) e
(70):
(69) Ela não lamenta que o Paulo se tenha demitido.
(id.: 131; (182a))
(70) Ela não quer que o Paulo se demita.
(id.: 131; (182b))
29
No entanto, segundo Marques (1995), os verbos duvidar e negar constituem uma
excepção e admitem na frase negativa o indicativo, na medida em que o sujeito passa a
crer na verdade da oração complemento, como o comprova o exemplo (71):
(71) O Paulo não duvida/ nega que a Ana está em Paris.
(id.: 131; (183))
Marques (1995) faz, ainda, notar que os verbos de selecção modal dupla que expressam
crença, como o verbo acreditar, exibem o mesmo comportamento quando há
interferência do elemento de negação, ou seja, mantêm a possibilidade de ocorrência
dos dois modos. Todavia, o autor coloca aqui uma ressalva – no caso de o sujeito da
frase matriz coincidir com o enunciador, o tempo do verbo da oração superior determina
o modo da completiva: quando aquele verbo surge no pretérito perfeito ou no pretérito
imperfeito do indicativo, selecciona-se o indicativo para a completiva, correspondendo
o primeiro ao intervalo de tempo em que se localiza a frase matriz e o segundo ao
intervalo de tempo em que se localiza a enunciação; quando o referido verbo ocorre no
presente do indicativo, admite-se apenas o conjuntivo na encaixada, por não haver um
estado de crença. Para comprovar estas afirmações, recorre aos seguintes exemplos que
ilustram estas duas situações:
(72) Eu não acreditei/acreditava que ele tinha/tivesse fugido para o estrangeiro.
(id.: 127; (172))
(73) Eu não acredito que ele fugisse/ ? fugiu para o estrangeiro.
(id.: 127; (171)).
Ainda de entre os verbos que exprimem uma atitude de crença, Marques (1995)
considera três outros grupos: (i) verbos pensar e achar, (ii) verbos declarativos, como
dizer, e (iii) verbos prospectivos, como prometer ou ameaçar. Todos eles seleccionam o
indicativo em frases afirmativas e, quando precedidos pela negação, passam a admitir
também o conjuntivo, acarretando uma alteração do grau de crença por eles veiculado.
Sob influência da negação frásica na oração matriz, verifica-se que, com os verbos do
primeiro grupo (pensar e achar), a selecção do conjuntivo se justifica pela ausência de
crença do sujeito na verdade da oração complemento (cf. (74)).
30
(74) O inspector não acha que ele tenha fugido para o estrangeiro.
(id.: 128; (175))
Relativamente aos verbos do segundo grupo (dizer, entre outros), sublinha-se
novamente a influência do factor “tempo verbal” na selecção do modo, sendo o passado
o responsável pela presença do indicativo (cf. (75)) e o presente pela ocorrência do
conjuntivo (cf. (76)).
(75) (Eu) não disse/ não dizia que era urgente …
(id.: 129; (178))
(76) (Eu) não digo que seja urgente…
(id.: 129; (177)
Por último, os verbos do terceiro grupo (verbos prospectivos, como prometer ou
ameaçar) admitem o conjuntivo, pois, como se observa em (77), não se estabelece uma
relação de compromisso entre o sujeito e a verdade da proposição complemento.
(77) Não prometo que os livros cheguem a tempo.
(id.: 130; (180)).
Marques (1995) assere, assim, que a negação frásica altera o grau de crença dos verbos
epistémicos, alteração esta que, em determinados casos, é influenciada também pelos
valores temporais presentes no verbo da frase matriz.
No âmbito de uma análise sintáctica, Mendes (1996) assume explicitamente que não
concebe um estudo sobre o conjuntivo em completivas sem ter em conta a negação,
afirmando que “A negação é um elemento que desencadeia o uso do conjuntivo em
contextos em que a frase declarativa correspondente não o permite.”(op. cit.: 40). Centra
a sua análise nos verbos epistémicos e declarativos por exigirem o conjuntivo na frase
subordinada aquando da presença da negação na frase mais alta, defendendo que existe
uma relação directa entre a negação e o tempo nestas estruturas de complementação,
derivando tal relação do facto de que “a negação frásica deve expressar-se numa
posição mais alta que a posição estrutural de Tempo.” (id.:161).
31
Adoptando a perspectiva assumida por Zanuttini (1994), Mendes (1996) defende que o
português é uma língua com traços de negação fortes, pelo que a negação, enquanto
categoria funcional, possui traços-V fortes e traços-N que estão ligados a uma projecção
de Tempo na posição de Comp. Consequentemente, o traço [T] da posição de Comp é
eliminado e “a referência temporal da oração subordinada fica dependente do Tempo da
oração superior.” (id.: 163), fazendo com que o verbo na encaixada ocorra no
conjuntivo.
Tal como Marques (1995) e Mendes (1996), Duarte (2003) destaca os verbos
declarativos e os verbos epistémicos como os mais sensíveis à negação da frase
superior, exemplificando com o verbo dizer, que admite o indicativo e o conjuntivo, e o
verbo pensar, que selecciona apenas o conjuntivo. Os exemplos relevantes apresentados
pela autora encontram-se, respectivamente, em (78) e (79):
(78) Não digo que ele saiba/sabe muito sobre fractais.
(op. cit.: 605; (36a)
(79) Não penso que ele que ele ainda chegue/* chega a tempo do jantar.
(id.: 605; (36b)
Quanto aos verbos que apresentam a possibilidade de selecção modal dupla na
encaixada quer em frases afirmativas quer em frases negativas, Duarte (2003) classifica
a escolha do conjuntivo como opcional, sendo essa escolha legitimada pela existência
de uma maior distância entre o locutor e a verdade da proposição da completiva.
Em síntese, a maioria dos gramáticos tradicionais não aflorou a questão da negação em
estruturas completivas e, apesar de Epiphanio da Silva Dias (1917) a ter referenciado,
limita-se a enumerar os verbos que seleccionam cada um dos modos, não descrevendo
as implicações semânticas que daí advêm. Estudos elaborados no âmbito de diferentes
quadros teóricos têm, no entanto, salientado os efeitos semânticos e sintácticos da
negação.
Assim, no âmbito da Semântica, Marques (1995) apresenta-nos um estudo detalhado
sobre os verbos que indicam atitude de conhecimento e sobre verbos que indicam
atitudes de crença, concluindo que, com estes últimos, a negação altera o grau de
crença, conduzindo por isso à presença do conjuntivo na oração complemento. Em
32
determinados casos (como na presença do verbo acreditar e dos verbos declarativos,
como dizer), o tempo do verbo da oração matriz influencia igualmente o modo na
encaixada.
Por outro lado, numa análise puramente sintáctica, Mendes (1996) mostra como nas
estruturas de complementação de verbos epistémicos e declarativos em que está
presente a negação, ocorre uma estratégia sintáctica que elimina o traço de tempo da
posição de Comp e conduz à presença do conjuntivo na encaixada.
Duarte (2003) aborda igualmente a influência da negação frásica superior na presença
obrigatória ou opcional do conjuntivo em orações completivas, referindo que, com os
verbos declarativos e epistémicos, a presença do conjuntivo reflecte um maior
afastamento do enunciador relativamente à verdade da proposição da completiva.
1.2.2.3. Relações temporais entre os dois domínios oracionais
A questão das relações temporais em orações completivas com conjuntivo divide
opiniões. Por um lado, encontramos defensores da dependência temporal da encaixada
em relação ao tempo da oração matriz; por outro, alguns autores postulam que o
conjuntivo possui tempo próprio.
De entre os primeiros, importa mencionar Raposo (1985), autor que estabelece a
distinção entre dois tipos de verbos matriz, que designa por E-verbs e W-verbs. Os
primeiros, que correspondem aos verbos epistémicos (como os verbos pensar e achar) e
aos declarativos (como os verbos dizer e afirmar), seleccionam na encaixada o modo
indicativo e permitem que o tempo da oração subordinada seja autónomo. Deste modo,
o domínio temporal do verbo da encaixada é semanticamente independente do tempo
semântico do verbo da oração superior. Segundo o autor, esta situação resulta do facto
de este tipo de verbos possuírem em Comp o operador [+Tempo]. Apresenta-se em (80)
exemplos de E-verbs:
33
(80) a. Eu digo/ disse que a Maria ganhou a corrida.
b. Eu digo/ disse que a Maria ganha a corrida.
(op. cit.: 78; (7) e (8))
Os W-verbs, por seu turno, são verbos não-factivos (como temer e recear), volitivos
(como querer e desejar) e verbos de influência e de permissão (como recomendar e
exigir), que seleccionam na encaixada o modo conjuntivo. Nestes contextos, o tempo da
encaixada é dependente do tempo da oração matriz, na medida em que é determinado
pelas propriedades semânticas e morfológicas do verbo superior, estabelecendo-se entre
os dois verbos uma relação de concordância temporal. Ao contrário do que acontecia
com os verbos anteriores, Raposo (1985) mostra que os W-verbs possuem o operador
[-Tempo] em Comp, daí resultando as restrições temporais impostas pelo verbo matriz
ao verbo da encaixada, como se verifica em (81):
(81) a. Eu desejo que a Maria ganhe/ *ganhasse o prémio.
b. Eu desejava/desejei que a Maria ganhasse/ *ganhe a corrida.
(id.: 79; (9) e (11))
Do contraste entre (80) e (81) conclui-se que, com os E-verbs (cf. (80)), a escolha do
tempo verbal na encaixada é livre, sendo possível diversas combinações, como
[pas/pas], [pres/pres], [pas/pres] e [pres/pas]; com os W-verbs (cf. (81)), pelo contrário,
o verbo da encaixada concorda temporalmente com o verbo da oração matriz,
estabelecendo uma ligação anafórica com o operador [+Tempo] da oração superior, o
que faz com que se permitam apenas combinações como [pres/pres] e [pas/pas]. Assim,
Raposo (1985) defende que “(…) subcategorized complement clauses to E-predicates
(…) are characterized by a [+TENSE] in their Comp position (…). Subcategorized
complement clauses to W-predicates are characterized by the feature [-TENSE] in their
Comp position.” (id.: 80).
Em trabalho posterior, o mesmo autor, em colaboração com Meireles (cf. Meireles &
Raposo 1992), contrapõe os verbos epistémicos e declarativos aos verbos volitivos.
Segundo os autores, com os verbos epistémicos e declarativos o tempo da oração
encaixada é independente do tempo da oração principal, ao passo que com os verbos
volitivos se verificam várias restrições que impedem que a referência temporal da
34
oração completiva seja livre, ou seja, independente da referência temporal da oração
matriz. Deste modo, é atribuído o traço [+Tempo] às orações completivas com
indicativo, e o traço [-Tempo] às encaixadas com conjuntivo, o que explica o contraste
entre (82) e (83):
(82) O Manel disse/diz/dirá que a Maria chegou/ chega/ chegará tarde.
(op. cit.: 73; (13))
(83) *O Manel deseja que o filho fosse o melhor aluno.
(id.: 74; (16))
Assume-se portanto que “ In clauses selected by volitional predicates (with subjunctive
mood in their verb), however, tense in INFL will have to be linked to the TENSE
operator of the matrix clause, since the subjunctive clause will lack its own TENSE
operator.”(id.: 75).
No seguimento da mesma ideia, Ambar (1992a) atribui ao Indicativo os traços [+T] e
[+forte] e ao conjuntivo [+T] e [-forte]. Como corolário, o indicativo, sendo um modo
temporalmente marcado, pode reger, e o conjuntivo, ao invés deste, tem de ser regido e
só dessa forma pode reger.
Para reforçar esta tese, Ambar (1992b) estabelece a distinção entre duas categorias de
tempo: o tempo morfológico (Tm) e o tempo semântico (Ts). No caso dos verbos
epistémicos e declarativos, que regem indicativo, Ts é atribuído ao C encaixado e
identifica Tm. Daqui resulta que o valor temporal da oração encaixada seja
independente do valor temporal da oração matriz, podendo ocorrer qualquer tempo
verbal nesta última:
(84) Eles pensam/disseram que os soldados abandonam/abandonavam/abandonaram/
abandonarão/terão abandonado os seus postos.
(op. cit.: 35; (14))
Já os verbos volitivos, que seleccionam conjuntivo, não possuem Ts, pelo que Tm deve
procurar o seu ponto de referência no tempo da oração matriz; desta forma, o tempo da
encaixada tem de ser determinado a partir do tempo da matriz, como se exemplifica em
35
(85), em que o tempo verbal da encaixada (presente do conjuntivo) concorda com o do
verbo matriz (presente do indicativo):
(85) Eles querem que a guerra acabe/*acabasse.
(id.: 37; (19))
Assim, segundo Ambar (1992b), “La présence du trait Ts dans Comp enchâssé dépend
des propriétés de sélection du verbe principal.” (id.: 33).
Na esteira desta autora, e através de um estudo igualmente sintáctico, Mendes (1996)
defende a ideia de que o conjuntivo é sempre lexicalmente seleccionado e sempre
sujeito a restrições de ordem temporal. Segundo Mendes (1996), ao contrário dos
verbos epistémicos e declarativos, os verbos volitivos e factivos não atribuem ao núcleo
Comp da oração completiva o traço [+Tempo], existindo, por isso, uma relação de
dependência marcadamente morfológica entre a flexão da frase matriz e a flexão da
frase encaixada. O tempo da frase matriz c-comanda, assim, o traço de tempo do
conjuntivo, pelo que se verifica uma dependência temporal do primeiro relativamente ao
segundo, como visível no exemplo (86):
(86) O Pedro quer que o João diga/*dissesse a verdade.
(op. cit.: 141 (93))
Deste modo, a autora defende que, enquanto nas construções com verbos epistémicos e
declarativos existem dois tempos no discurso (o tempo do verbo da oração superior e o
tempo independente da encaixada), nas estruturas em que estão presentes verbos
volitivos ou factivos, existe um só tempo no discurso, o tempo da oração superior, pois
deste depende o tempo o verbo da encaixada. Mendes (1996) conclui que “De facto, o
conjuntivo por si só não é capaz de estabelecer um domínio temporal. O tempo da
oração matriz é tido como responsável pela atribuição de um ponto de referência
temporal ao conjuntivo.” (id.: 186).
No mesmo sentido, Chitas (1998) defende que as relações temporais intrafrásicas em
cadeias verbais com conjuntivo são essencialmente anafóricas, ou seja, existe uma
dependência temporal entre a oração encaixada e a oração principal. Esta abordagem da
36
consecutio temporum tenta conciliar aspectos semânticos e morfológicos e segue a
proposta de Reinchenbach (1947), no que diz respeito à dimensão anafórica e à
importância do ponto de referência. Apoiando-se nestes dois conceitos, a autora adopta
também a perspectiva de Kamp & Reyle (1993), no quadro da Teoria das
Representações do Discurso (DRT), e tem em consideração dois parâmetros: (i) o Ponto
de Perspectiva Temporal (PPT), que estabelece a relação entre o ponto de referência e o
tempo da enunciação, T0, que, segundo Peres (1993), tem em português três valores:
passado, presente e futuro, e (ii) a Localização Relativa (LR) que, através dos valores de
anterioridade, sobreposição e posterioridade, indica a relação entre a situação descrita e
o PPT.
Após uma análise dos contextos do conjuntivo, Chitas (1998) conclui que nas
completivas em que ocorre este modo “As formas verbais cuja localização temporal
serve de PPT à forma verbal com que co-ocorre surgem a operar localizações em
{PRES, sobr}, em {FUT, sobr} e em {PRES,ant} e {PASS,sobr} e a fornecer um PPT
{PRES}, {FUT} e {PASS}. As formas verbais temporalmente dependentes localizam as
situações relativamente ao PPT que lhes é fornecido.” (op. cit.: 193). Chitas (1998)
partilha, deste modo, das propostas referidas anteriormente, uma vez que defende que é
a frase superior que localiza temporalmente o estado de coisas expresso na completiva
com conjuntivo, ao fornecer-lhe o PPT.
Em Duarte (2003), estabelece-se igualmente uma distinção entre completivas com
tempo independente e completivas com tempo dependente, embora não as associe a um
modo específico. Esta distinção, de forma semelhante ao que é proposto em Ambar
(1992a,b), decorre da presença ou ausência de um operador semântico de tempo. No
primeiro caso, as completivas não dependem temporalmente da frase matriz porque têm
no seu núcleo Comp um operador de tempo, sendo, por isso, completivas com “um
domínio semanticamente temporalizado” (op. cit.: 626). Assim, o tempo da oração
superior (passado ou presente) não condiciona o tempo da encaixada, como se verifica
em (87), em que o verbo da completiva pode surgir em qualquer tempo do indicativo
independentemente do tempo do verbo da oração superior (pretérito perfeito ou
presente):
37
(87) a. O João afirmou que a Maria tinha ido/ vai/ irá a cinema.
b. O João afirma que a Maria foi/ vai/ irá a cinema.
(id.: 626; (21))
Por seu turno, nas completivas com tempo dependente as “especificações temporais são
dependentes das da frase superior, pelo que não formam um domínio semanticamente
temporalizado” (id.: 626), daí que o tempo do verbo da oração superior condicione o
tempo do verbo da encaixada. Deste modo, quando o verbo da oração matriz se encontra
no pretérito perfeito do indicativo, o verbo da encaixada tem de estar localizado
temporalmente no passado, não se aceitando, por isso, estruturas com o presente do
conjuntivo ou com o futuro do conjuntivo (cf. (88a)); quando o verbo da oração matriz
se encontra no presente do indicativo, apenas admite na completiva o verbo no presente
do conjuntivo, logo, não são possíveis formas do conjuntivo no passado (cf. (88b)). A
autora ilustra estas duas situações com os seguintes exemplos:
(88) a. O João quis que a Maria fosse/ *vá/ * for ao cinema.
b. O João quer que a Maria *fosse/ vá/ *for ao cinema.
(id.: 626; (22))
Oliveira (2003) coloca também a tónica na questão da autonomia vs dependência do
conjuntivo. A autora afirma que, por um lado, o conjuntivo pode estabelecer uma
relação de anáfora temporal com o tempo da oração a que está subordinado (o tempo da
oração matriz é o ponto de perspectiva temporal do conjuntivo), como acontece em
(89), em que os verbos dos dois domínios oracionais (oração matriz e oração encaixada)
se encontram localizados temporalmente no passado (pretérito perfeito do indicativo e
imperfeito do conjuntivo, respectivamente), sendo o segundo dependente do primeiro:
(89) O Rui pediu-me que fosse falar com ele.
(op. cit.: 267; (107))
Por outro lado, o conjuntivo pode ter o seu ponto de referência no tempo da enunciação,
estabelecendo com este uma relação deíctica, ou seja, o conjuntivo estabelece uma
relação de posterioridade em relação ao momento da fala, logo, há independência
temporal (cf. (90)).
38
(90) O Rui pediu-me que vá falar com ele.
(id.: 267; (106))
No entanto, Oliveira (2003) sublinha que em ambos os exemplos ((89) e (90)) a oração
encaixada tem sempre interpretações de futuro, alterando-se apenas o ponto de
perspectiva temporal: tempo da oração matriz ou tempo da enunciação.
No que concerne à concordância temporal entre a oração superior e a encaixada, a
autora alerta ainda para o facto de as construções com conjuntivo não admitirem todas
as mesmas combinações temporais: os verbos declarativos de ordem, como exigir e
ordenar, e os verbos volitivos, como desejar e querer, “requerem uma informação de
posterioridade, não aceitando a combinação de presente na oração principal e passado
na subordinada.” (op. cit.: 270; cf. (91)); ao invés destes, os verbos factivos, como
lamentar, “admitem os diferentes tempos, com as óbvias diferenças de leitura” (op. cit.:
270; cf. (92)).
(91) Ele exige que os concorrentes leiam/ *lessem/ tenham lido/ *tivessem lido as
instruções.
(id.: 270; (126))
(92) Ele lamenta/ lamentou que a Maria perca/ perdesse/ tenha perdido/ tivesse perdido
o emprego.
(id.: 270; (125))
Estudos sobre outras línguas, como o Espanhol, vêm ao encontro da necessidade de
estabelecer uma dicotomia entre tempo dependente e tempo independente, não
associando sempre tempo dependente ao conjuntivo, tal como também é defendido em
Duarte (2003) e Oliveira (2003), para o Português..
Kempchinsky (1990) é uma das autoras que, no âmbito da língua espanhola, questiona a
relação de dependência temporal, mostrando que o tempo do conjuntivo nem sempre
concorda com o valor [+/- PAS] do tempo do verbo no indicativo. As características
semânticas dos predicados da frase superior são tidas como condicionantes da
interpretação modal das frases completivas, uma vez que, em relação ao tempo da
oração matriz, os verbos volitivos introduzem um tempo posterior e os verbos
39
epistémicos ou emotivo-factivos fazem com que as orações de conjuntivo sejam
interpretadas como simultâneas da matriz. A sustentar a sua posição estão contra-
exemplos que evidenciam que a referência temporal do conjuntivo pode ser
independente, na medida em que o verbo da frase matriz se encontra no passado e o
verbo da oração encaixada no presente do conjuntivo, com interpretação de futuro.
Assim, nas frases que se seguem, o verbo da oração matriz encontra-se no passado,
tempo que, em (93a), é reforçado pela expressão temporal “la semana pasada”; o verbo
da oração completiva encontra-se nos dois exemplos no presente do conjuntivo, sendo a
noção de posterioridade também conferida pelo advérbio de tempo “manãna”, na frase
(93a), e pelo nome “vacaciones”, na frase (93b), que tem igualmente a interpretação de
futuro.
(93) a. Cuando le hablé la semana pasada, insistí en que se presente mañana a la una en
punto.
b. Cármen les recomendó que pasen las vacaciones com ella.
(op. cit.: 238; (12))
A autora acrescenta ainda que, embora o verbo da completiva possa ocorrer, nos
mesmos contextos, no imperfeito do conjuntivo, a interpretação seria necessariamente
distinta da que se obtém em (93), o que decorre do ponto de referência da oração
subordinada: o imperfeito do conjuntivo tem como ponto de referência o tempo do
verbo da oração principal e o presente do conjuntivo tem como ponto de referência o
momento da fala. A possibilidade desta última ocorrência vem pôr em causa a regra
tradicional da concordantia temporum, concluindo Kempchinsky (1990) que “parece
difícil mantener la opinión de que las cláusulas de subjuntivo carecen de tiempo.” (id.:
239).
A corroborar a mesma ideia, Suñer e Rivera (1990) apresentam uma proposta que
contraria igualmente a tese mais comummente defendida de que existe uma
concordância temporal total entre o tempo da oração subordinante e o da oração
subordinada. Segundo estes autores, esta regra mecânica de concordância morfológica,
assente na ideia de que o conjuntivo é uma forma completamente dependente do ponto
de vista temporal, não é verificável em todas as estruturas. Assim, os verbos de desejo
(querer, desear, preferir) e os verbos de falta de conhecimento (ignorar, desconocer)
40
constituem aqueles em que as relações temporais são muito estreitas, o que se verifica
em (94) e (95), respectivamente:
(94) Quería que telefonearas/*telefonees.
(op. cit.: 190; (10a))
(95) Ignoraba que *esté/ estuviera en la lista.
(id.: 190; (11a))
Num pólo oposto, os verbos de negação (como negar) e os verbos emotivo-factivos
(como lamentar) são os que menos restringem essa relação de concordância, como
acontece em (96) e (97), respectivamente:
(96) Niego/ negué rotundamente que sostenga/ haya sostenido/ sostuviera/ hubiera
sostenido vínculos com el Partido Nazi.
(id.: 188; (4a))
(97) Lamento que Bolívia no esté incorporada …
(id.: 188; (4c))
Finalmente, numa posição intermédia relativamente aos dois grupos anteriores, os
verbos dubitativos (como dudar) permitem todas as combinações de tempos, à excepção
da combinação [+pas /- pas] e os verbos de influência (como ordenar, exhortar e exigir)
impõem como requisito que o domínio encaixado seja interpretado como futuro
relativamente à matriz, interpretação esta que deriva dos traços lexicais destes verbos e
não dos traços temporais da oração matriz. Os autores apresentam estas situações em
(98) e (99), respectivamente:
(98) Dudo que reciba/ recibiera/ haya recibido/ hubiera recibido un premio por una
actuación tan medíocre.
(id.: 188; (5a))
(99) El Presidente ordenó también al Departamento de la Defensa que incremente en
todo el país el adiestramiento.
(id.: 189; (7a))
41
Em síntese, Suñer e Rivera (1990), bem como Kempchinsky (1990), apresentam
argumentos empíricos fortes em favor de que a hipótese de o conjuntivo ser uma forma
neutralizada do ponto de vista temporal não é defensável, afirmando, deste modo, que
“las formas del subjuntivo poseen un valor temporal proprio, independiente del verbo de
la oración principal.” (Suñer e Rivera 1990: 193). Esta perspectiva contrasta claramente
com a maioria das abordagens ao conjuntivo, que defendem a dependência deste modo
relativamente ao tempo do domínio matriz, o que o distingue do indicativo.
1.3. Hipóteses de trabalho
Com base na literatura sobre o assunto e nos problemas relativos às orações completivas
que, enquanto docente, detectei nos alunos, foram formuladas as seguintes hipóteses,
que nortearam o presente trabalho de investigação, permitindo a construção do estímulo
(cf. Capítulo 2 - Metodologia):
HIPÓTESE 1 – As construções que integram verbos que seleccionam o modo
indicativo na encaixada não são problemáticas para os sujeitos.
HIPÓTESE 2 – As construções que integram verbos que seleccionam o modo
conjuntivo colocam problemas aos sujeitos, prevendo-se que estes optem, por vezes,
pela substituição pelo indicativo.
HIPÓTESE 3 – Nas construções que integram verbos que podem seleccionar ou o
indicativo ou o conjuntivo (verbos de selecção modal dupla) tendo em conta condições
sintáctico-semânticas distintas, os sujeitos optam maioritariamente pelo indicativo.
HIPÓTESE 4 – Nas construções em que a presença do operador de negação na oração
matriz induz alterações no modo da encaixada, verificando-se a possibilidade de
selecção dos dois modos, há, por parte dos sujeitos, uma preferência pelo indicativo, em
detrimento do conjuntivo.
42
HIPÓTESE 5 – Os sujeitos identificam a relação de concordância temporal que se
estabelece entre a oração encaixada e a oração matriz, tendo em conta os tempos dos
verbos dessas orações.
HIPÓTESE 6 – Os sujeitos identificam as relações de dependência ou de
independência temporal entre a oração encaixada e a oração matriz, independentemente
dos tempos em que se encontram os verbos dessas orações.
HIPÓTESE 7 – As dificuldades na selecção do modo da encaixada e na identificação
de frases (a)gramaticais tendem a diminuir com a progressão escolar, no sentido em que
os sujeitos pertencentes a um nível de escolaridade superior apresentam um melhor
desempenho na manipulação destas estruturas, revelando uma maior estabilização na
aquisição das mesmas.
1.4. Estrutura da dissertação
O trabalho presente nesta dissertação organiza-se em cinco capítulos.
O primeiro capítulo, de que faz parte a presente secção, identifica, primeiramente, o
objecto de estudo e as motivações que estão na base da sua escolha e, em 1.1., apresenta
os objectivos deste projecto. Seguidamente, descrevem-se sucintamente as estruturas da
gramática-alvo em análise nesta dissertação (secção 1.2.1.) e apresenta-se uma revisão
dos principais trabalhos sobre a temática em estudo (secção 1.2.2.), abordando-se em
particular (i) as propriedades do verbo matriz na selecção modal, (ii) a interferência do
operador de negação frásica superior na selecção do modo da encaixada e (iii) as
relações temporais que se estabelecem entre a oração superior e a completiva. No ponto
1.3. referem-se as hipóteses formuladas para este projecto e, a encerrar o capítulo,
apresenta-se, em 1.4., a estrutura da dissertação, que agora se lavra.
No capítulo 2, apresenta-se a metodologia que esteve na base da presente investigação.
No ponto 2.1., é caracterizado o estímulo, quanto à sua estrutura, objectivos e
parâmetros testados. Este ponto apresenta duas sub-secções principais, que
correspondem à caracterização de dois testes, nomeadamente o teste de produção (ponto
43
2.1.2.1.) e o teste de avaliação (2.1.2.2.). Em 2.2, identificam-se os sujeitos alvo e, por
último, em 2.3., descrevem-se as condições em que os dados foram recolhidos.
No capítulo 3, procede-se à descrição dos dados recolhidos nos dois grupos de sujeitos.
Este capítulo subdivide-se em duas partes: primeiramente, são descritos os dados do
teste de produção (ponto 3.1.) e, seguidamente, descrevem-se os dados relativos ao teste
de avaliação (ponto 3.2.). A abordagem a cada teste é feita segundo os respectivos
parâmetros avaliados e por grupo de sujeitos. Assim, no teste de produção, são descritos
os dados respeitantes ao verbo matriz e à selecção do modo na oração complemento, os
efeitos do operador de negação frásica superior na selecção do modo na encaixada e os
tempos verbais produzidos nessa oração (pontos 3.1.1. e 3.1.2.); no teste de avaliação,
por seu turno, a descrição incide sobre as relações temporais entre a frase matriz e a
encaixada (ponto 3.2.1.). Finda cada uma destas secções, é apresentada uma síntese
comparada dos resultados obtidos nos dois grupos de sujeitos (pontos 3.1.3. e 3.2.2.,
respectivamente).
O quarto capítulo destina-se a analisar os dados descritos no capítulo 3, de acordo com
os aspectos em estudo nesta dissertação. Deste modo, num primeiro momento
analisam-se os dados relativos às propriedades do verbo matriz e à selecção do modo e
do tempo da encaixada em frases afirmativas (secção 4.1.); num segundo momento, são
analisados os efeitos da negação superior no modo e do tempo da oração encaixada
através dos dados dos sujeitos (secção 4.2.); num terceiro e último momento, procede-se
à análise das relações temporais estabelecidas entre os dois domínios oracionais (secção
4.3.). Em cada secção, os dados são analisados de forma a comparar o desempenho
linguístico dos sujeitos com as estruturas-alvo.
Por fim, no quinto capítulo, são apresentadas as conclusões decorrentes do estudo
apresentado.
44
Capítulo 2 – Metodologia
Como linha metodológica, adoptou-se na presente tese a aplicação de testes em contexto
escolar, seguida da análise dos dados recolhidos. Este capítulo procura, assim, proceder
à caracterização do estímulo, no que concerne à sua estrutura, objectivos, critérios
adoptados e variáveis controladas. São ainda descritos, na secção 2.1.1., os resultados
do pré-teste, os problemas que decorreram da sua construção e/ou aplicação e as
alterações que daí advieram e que contribuíram para a construção dos testes finais. A
secção 2.1.2. é destinada aos testes finais (teste de produção provocada e teste de
avaliação), no que respeita à sua estrutura e aos parâmetros avaliados. Na secção 2.2. é
apresentado o perfil dos sujeitos e as variáveis controladas na selecção dos mesmos e,
por último, é feita a descrição das condições em que foram aplicados os testes e dos
procedimentos de recolha de dados (secção 2.3.).
2.1. Caracterização do estímulo
O estímulo, instrumento base de análise deste trabalho de investigação, visa testar, em
dois grupos de sujeitos, a capacidade de produzir e avaliar frases completivas, de modo
a testar três aspectos: (i) a selecção do modo na completiva segundo o verbo da oração
principal, (ii) a influência da negação, presente na oração matriz, no modo da
completiva, (iii) as relações de concordância temporal entre os verbos da frase matriz e
da subordinada e (iv) as relações de (in)dependência temporal entre a oração
subordinada e a frase matriz. Para esse efeito, foram construídos dois testes, um teste de
produção provocada e outro de avaliação, ambos de natureza escrita, compostos por 30
frases cada, e de cujos resultados depende a confirmação ou infirmação das hipóteses de
trabalho previamente delineadas (cf. secção 1.3.). Considera-se que estas estratégias de
recolha de dados são fundamentais para aceder directamente ao conhecimento
linguístico dos falantes (cf. Crain & Thornton 1998). No que diz respeito ao teste de
produção provocada, considera-se ainda que o mesmo permite obter um corpus robusto
das estruturas em análise, que podem não ocorrer nas produções espontâneas, ainda que
sejam conhecidas pelos sujeitos.
45
O estímulo passou por duas etapas fundamentais. A primeira consistiu num teste prévio
(cf. secção 2.1.1.) aplicado a dois grupos de sujeitos de anos lectivos distintos (9º e 11º
anos), com o objectivo de verificar informalmente a exequibilidade do mesmo. Face aos
resultados obtidos e às reacções dos sujeitos, procedeu-se a ajustamentos dos quais
resultaram os testes finais (cf. secção 2.1.2.), que, numa segunda etapa, foram aplicados
a dois grupos de sujeitos (10º e 12º anos) e cujos resultados constituem o cerne da
análise desta investigação.
2.1.1. O Pré-teste
O pré-teste (cf. anexo 1) teve como intenção ensaiar os materiais no que diz respeito à
sua extensão, clareza e eficácia relativamente aos objectivos pretendidos. A sua
aplicação permitiu igualmente verificar a reacção dos sujeitos às tarefas que lhes eram
solicitadas e calcular o tempo médio de realização das mesmas. Assim, a aplicação
prévia do pré-teste tornou possível proceder a ajustamentos e a melhorias relativamente
aos materiais utilizados, às condições de recolha de dados e aos procedimentos a
adoptar.
Uma vez que se pretendia aplicar os testes finais a alunos de 10º ano e de 12º ano no
início de ano lectivo de 2007/08, o pré-teste foi aplicado no final do ano lectivo
antecedente (2006/07) a dois grupos de sujeitos: um grupo de alunos a frequentar o 9º
ano de escolaridade (grupo I) e um grupo de alunos a frequentar o 11º ano de
escolaridade (grupo II). Desta forma, pretendeu-se garantir que, quer no teste piloto,
quer no teste final, estavam a ser testadas competências idênticas, que supostamente os
alunos deverão possuir numa determinada etapa do processo de ensino e aprendizagem,
nomeadamente no final do 3º ciclo e no início do 12º ano.
No entanto, por questões de disponibilidade da escola e dos professores, não foi
possível aplicar os testes no início do ano lectivo de 2007/08, tendo sido aplicados no
início do 2º período do mesmo ano.
Os dois grupos de sujeitos pertenciam a escolas distintas: o grupo I frequentava a Escola
EB 2,3 Padre Bento Pereira de Borba (Borba) e o grupo II, a Escola Secundária com 3º
ciclo Diogo de Gouveia (Beja). A escolha das turmas foi aleatória, resultando apenas da
46
disponibilidade das docentes e das Escolas contactadas, pelo que não houve selecção
prévia de sujeitos nem foram controladas quaisquer variáveis relativas ao perfil dos
mesmos. O pré-teste foi, assim, aplicado a todos os alunos da turma presentes na aula,
nomeadamente a 13 alunos do grupo I e a 18 alunos do grupo II.
Como grupo de controlo (grupo III), seleccionaram-se 6 adultos, 4 do sexo masculino e
2 do sexo feminino, com idades entre os 20 e os 35 anos, cuja língua materna é o
português. Todos são licenciados e a exercer actividade profissional no momento da
recolha dos dados. No entanto, na versão final, o estímulo não foi aplicado a um grupo
de adultos, uma vez que o objectivo principal deste projecto é, como já referido no
ponto 1.1., permitir uma análise comparada do desempenho linguístico de sujeitos em
duas etapas escolares distintas. A aplicação do pré-teste ao grupo de sujeitos III visou,
assim, completar e aperfeiçoar os testes finais, garantindo condições mais seguras de
recolha dos dados.
Uma vez que a aplicação do pré-teste se realizou, para todos os sujeitos, no mesmo dia,
o grupo II contou com a presença da respectiva professora de Língua Portuguesa e da
investigadora, tendo o grupo I contado apenas com a colaboração da professora de
Educação Visual e Tecnológica, a quem foram dadas as indicações e informações
necessárias para o esclarecimento de eventuais dúvidas colocadas pelos alunos.
Relativamente à aplicação do teste piloto ao grupo III, os adultos reuniram-se em
simultâneo e a investigadora esteve sempre presente durante a realização da tarefa.
Para os três grupos, a realização do pré-teste foi precedida de um esclarecimento oral da
tarefa pretendida, sem nunca ser revelado o objecto de estudo do mesmo. Assim, todos
os sujeitos desconheciam a natureza do presente trabalho. Os sujeitos de todos os
grupos reagiram positivamente, mostrando-se dispostos a colaborar na tarefa para que
foram solicitados. Levantaram algumas dúvidas relativamente a algumas frases, a
maioria decorrentes de problemas gráficos.
O pré-teste foi realizado pelos três grupos de sujeitos num período médio de tempo de
30 a 40 minutos.
Após a aplicação do pré-teste, os dados recolhidos foram analisados informalmente e,
de acordo com os resultados dessa análise, procedeu-se a algumas alterações gráficas e à
47
alteração ou substituição de algumas frases, de forma a tornar os testes claros e
objectivos. Tais alterações encontram-se identificadas abaixo.
No que diz respeito ao Questionário de Identificação, numeraram-se os itens para
facilitar a posterior recolha de dados e melhoraram-se e acrescentaram-se outros de
forma a tornar este questionário mais completo (naturalidade; tempo de residência no
local; e data de realização do teste).
No Teste I – Produção – e no Teste II – Avaliação –, fez-se preceder as frases de uma
indicação escrita da tarefa solicitada e controlou-se a variável género do sujeito da
oração matriz nas frases 4, 11, 16, 18 e 21 (teste I) e nas frases 1, 4, 5, 6, 16, 17 e 24
(teste II).
Corrigiram-se ainda alguns problemas gráficos detectados no Teste II – Avaliação –,
nomeadamente o problema de concordância de género detectado na frase 18 (Nós
soubemos que o tio Clara fez muitas viagens ao Brasil este ano. para Nós soubemos que
a tia Clara viajou para o Brasil.) e o problema de omissão do artigo definido antes do
nome identificado na frase 28 (A Luísa lamenta que [-] Henrique tenha resultados
fracos a História. para A Luísa lamenta que o Henrique tenha maus resultados a
História.). Neste segundo teste, as frases 1, 2, 18, 28 e 30 também foram sujeitas a
alterações, no sentido de as tornar mais curtas e mais claras, em termos de interpretação
semântica (frase 1 - Elas lamentaram que o Miguel seja preguiçoso. para Os pais
lamentaram que o filho seja preguiçoso.; frase 2 - Ele sugere que o jardineiro corte a
relva na sexta-feira. para Ele sugere que as obras comecem em Março.; frase 18 - Nós
soubemos que o tio Clara fez muitas viagens ao Brasil este ano. para Nós soubemos que
a tia Clara viajou para o Brasil.; frase 28 - A Luísa lamenta que Henrique tenha
resultados fracos a História. para A Luísa lamenta que o Henrique tenha maus
resultados a História.; e frase 30 - Os avós lamentam que os netos estivessem tristes na
festa. para Os avós lamentam que os netos fumassem às escondidas.).
Em ambos os testes, manteve-se a estrutura das frases, no que diz respeito aos verbos da
oração superior e ao tempo verbal presente nos dois domínios oracionais.
48
De modo a não revelar a natureza e o objectivo do teste, simplificaram-se também os
nomes das várias partes constituintes, passando a denominar-se, respectivamente,
Identificação, I – Produção e II – Avaliação.
2.1.2. Os Testes
2.1.2.1. Teste I – Produção
O teste de produção (cf. anexo 2) é constituído por 30 frases incompletas, terminando
cada sequência pela conjunção que, de forma a dar possibilidade ao sujeito de completar
a oração completiva da forma que achar mais adequada. A opção por esta estrutura
decorre da intenção de não condicionar a produção do sujeito e de lhe dar liberdade de
criação na escrita. A identificação escrita da tarefa surge no início do teste:
“As frases que se seguem encontram-se incompletas.
Completa-as da maneira que achares mais adequada.”
Neste teste, são três os parâmetros avaliados:
(i) a selecção do modo na completiva;
(ii) a influência da negação matriz no modo da oração encaixada;
(iii) o comportamento dos verbos da oração matriz que admitem selecção modal dupla
na encaixada (modo indicativo e modo conjuntivo);
(iv) o tempo verbal da encaixada, relativamente ao da matriz.
Visando a prossecução destes objectivos, constituíram-se seis grupos de verbos, sendo
que os verbos de cada grupo exibem o mesmo comportamento no que diz respeito ao(s)
modo(s) que seleccionam na encaixada, em frases superiores afirmativas (cf. quadro 1) e
em negativas (cf. quadro 2).
49
Resultam desta selecção 15 verbos, todos conjugados no presente do indicativo.2 Cada
verbo repete-se duas vezes, numa frase afirmativa e numa frase negativa, o que perfaz
um total de 30 frases. A ordem pela qual surgem as frases é aleatória, evitando-se
apenas que o mesmo verbo não apareça em frases seguidas.
Os quadros 1 e 2 sistematizam os grupos de verbos considerados para a construção
deste estímulo.
Oração matriz Oração Completiva Grupo
de Verbos Verbos Modo com frases superiores afirmativas
I
1. Afirmar
2. Saber
Indicativo
II
3. Lamentar
4. Querer
5. Esperar
Conjuntivo
III
6. Sentir
7. Achar
8. Prometer
9. Dizer
Indicativo
IV 10. Duvidar
Conjuntivo
V
11. Acreditar
12. Imaginar
13. Suspeitar
14. Prever
Indicativo/ Conjuntivo
VI 15. Pensar
Indicativo/ ?Conjuntivo
Quadro 1 – Verbos da oração matriz organizados segundo a selecção de modo da
completiva em frases afirmativas.
2 A limitação ao presente do indicativo na matriz teve como base a redução ao mínimo de variáveis que
pudessem condicionar as produções dos sujeitos. No entanto, dado que a distinção entre presente e
passado é relevante para este estudo, nomeadamente para a avaliação das relações temporais, essa
distinção foi tida em consideração no teste de avaliação.
50
Oração matriz Oração Completiva Grupo
de Verbos Verbos Modo com frases superiores negativas
I
1. Afirmar
2. Saber
Indicativo
II
3. Lamentar
4. Querer
5. Esperar
6. Prever
Conjuntivo
III
7. Sentir
8. Achar
9. Prometer
10. Dizer
Indicativo/ Conjuntivo
IV 11. Duvidar
Indicativo/ Conjuntivo
V
12. Acreditar
13. Imaginar
14. Suspeitar
Indicativo/ Conjuntivo
VI 15. Pensar
Indicativo/ Conjuntivo
Quadro 2 – Verbos da oração matriz organizados segundo a selecção de modo da
completiva, na presença da negação frásica na oração superior.
A construção destes seis grupos de verbos resulta do comportamento dos verbos que os
constituem, em termos de selecção do modo da encaixada. Assim, a observação dos
quadros 1 e 2 permite verificar que cada grupo é formado por verbos que revelam um
comportamento idêntico relativamente ao(s) modo(s) que seleccionam na encaixada, em
frases superiores afirmativas e negativas:
(i) O grupo de verbos I selecciona indicativo em frases superiores afirmativas e
negativas.
51
(ii) O grupo de verbos II selecciona o conjuntivo em frases superiores afirmativas e
negativas.
(iii) O grupo de verbos III selecciona o indicativo em frases afirmativas, e selecciona os
dois modos, quando sob o escopo da negação frásica superior.
(iv) O grupo de verbos IV selecciona conjuntivo nas frases afirmativas e, na presença do
elemento de negação frásica superior, selecciona ou o indicativo ou o conjuntivo.
(v) O grupo de verbos V revela selecção modal dupla em frases afirmativas, mantendo
esta selecção com a negação frásica superior. No contexto de frases superiores
negativas, excluiu-se deste grupo o verbo prever, que é agrupado ao grupo de verbos II,
porque selecciona os dois modos em frases afirmativas, mas selecciona apenas o
conjuntivo, na presença do elemento de negação frásica superior.
(vi) Por último, o grupo VI, que, embora seja composto igualmente por um verbo de
selecção modal dupla, como os verbos do grupo anterior, foi incluído num grupo
diferente, visto que os resultados do pré-teste e os dados recolhidos informalmente junto
de falantes adultos pela investigadora, revelaram que a selecção do conjuntivo na
encaixada com este verbo não é considerada por muitos falantes como totalmente
gramatical, persistindo dúvidas na aceitação da sua presença. Assim, o verbo pensar
selecciona os dois modos em frases afirmativas, embora, neste contexto específico, o
conjuntivo possa ser considerado marginal; na presença do marcador de negação frásica
na frase matriz, selecciona ou o indicativo ou o conjuntivo.
Há igualmente um controlo do sujeito da frase matriz em relação ao número (singular
ou plural), quer em cada par de frases com o mesmo verbo, quer no global das 30 frases.
Consequentemente, temos 15 frases em que o sujeito da frase superior se encontra no
singular e 15 frases em que o mesmo surge no plural. O quadro 3 ilustra esta opção
metodológica:
52
Oração matriz Número do Sujeito Verbo Sujeito
Frase
O Presidente da Câmara F1 Afirmar
O Paulo F16
Eu F3 Saber
O patrão F18
A enfermeira Ana F5 Esperar
A Madalena F25
Ele F10 Prometer
O teu irmão F27
O Instituto de Meteorologia F9 Prever
O Pedro F28
A chefe da loja F12 Duvidar
O Engenheiro F23
Tu F6 Acreditar
O pequenino Francisco F15
SINGULAR
O polícia F30 Suspeitar
Eu e a Teresa F22
Os alunos F4 Sentir
Eles F19
As raparigas F11 Lamentar
A Ana, o Rui e a Mafalda F24
Os jovens F2 Querer
Os professores F17
Aqueles Senhores F20 Achar
As minhas primas F26
Tu e o André F14 Dizer
Nós F29
Eles F8 Imaginar
O Ricardo e o Artur F13
O Sr. José e a D. Graça F7
PLURAL
Pensar
Os teus pais F21
Quadro 3 – Flexão em número dos sujeitos da oração matriz.
53
As variáveis controladas no teste de produção foram, assim,
(i) a extensão das frases incompletas;
(ii) o número do sujeito da oração matriz;
(iii) os verbos da oração matriz, tendo em conta o modo que seleccionam na completiva;
(iv) a presença/ausência do elemento de negação na oração matriz.
2.1.2.2. Teste II – Avaliação
O teste de avaliação (cf. anexo 3) é composto por 30 frases que devem ser classificadas
quanto à sua gramaticalidade ou agramaticalidade, colocando-se OK ou *,
respectivamente. Esta avaliação exige uma leitura atenta das frases e activa os
conhecimentos gramaticais implícitos e/ou explícitos dos sujeitos. Tal como acontece
no teste de produção, a indicação escrita da tarefa surge no topo do teste:
“Lê atentamente todas as frases e classifica-as colocando, no respectivo quadrado,
“OK” se as considerares correctas e “*” se as considerares incorrectas.”
Com este teste, pretende-se avaliar as relações de dependência ou de independência
temporal entre a oração encaixada e a oração matriz. Com esse intuito, foram criados
dois grupos de verbos: o grupo I, formado por três verbos que seleccionam na encaixada
o modo indicativo (afirmar, saber e sentir), e o grupo II, composto por quatro verbos
que exigem a presença do modo conjuntivo na completiva (querer, desejar, sugerir e
lamentar).
A criação do grupo I segue o mesmo padrão que o do grupo II: cada verbo da oração
matriz surge conjugado no presente do indicativo e no pretérito perfeito do indicativo.
Assim, cada verbo do grupo I repete-se duas vezes, uma no presente do indicativo e
uma no pretérito perfeito do indicativo. No total, o grupo I perfaz 6 frases. No grupo II,
cada verbo repete-se 8 vezes, quatro das quais no presente do indicativo e quatro no
pretérito perfeito do indicativo, estando os verbos querer e desejar agrupados, na
medida em que registam o mesmo comportamento (o verbo querer surge em três frases
conjugado no presente do indicativo e em três frases no pretérito perfeito e o verbo
54
desejar uma vez em cada tempo). Ao todo, seleccionaram-se sete verbos, tendo sido
introduzidos na encaixada modificadores temporais, o que perfaz 30 frases.
No total das 30 frases, 6 são relativas ao grupo de verbos I e 24 pertencem ao grupo de
verbos II. O grupo de verbos II apresenta dois subgrupos: o grupo II-A, composto por
13 frases gramaticais, e o grupo II-B, constituído por 11 sequências agramaticais, na
medida em que neste último grupo foi controlado o tempo do conjuntivo do verbo da
encaixada. Por conseguinte, ao todo, o teste de avaliação comporta 19 frases gramaticais
e 11 frases agramaticais. As 11 sequências agramaticais, distribuídas pelo teste
aleatoriamente, são: F4, F8, F11, F14, F15, F16, F20, F21, F24, F26, F30 e encontram-
se identificadas no quadro abaixo por um asterisco.
Todas as informações relativas ao modo e aos tempos seleccionados por cada verbo se
encontram reunidas no quadro 4:
55
Oração Matriz Oração Encaixada Grupo de Verbos Verbo Tempo Modo Indicativo
Tempo Modo Conjuntivo
Tempo
Frase
Presente Forma Perifrástica v. ir pres. + inf.
_ _ _ _ _ _ 13
1. Afirmar Pret. Perfeito Futuro _ _ _ _ _ _
23 Presente Pret. Perfeito _ _ _ _ _ _
6
2. Saber Pret. Perfeito Pret. Perfeito _ _ _ _ _ _
18 Presente Presente _ _ _ _ _ _
3
I
3. Sentir Pret. Perfeito Presente _ _ _ _ _ _
9 Forma Perifrástica v. ir presente + inf.
19
Presente
_ _ _ _ _ _
Presente 22
4a.
Querer e
Desejar
Pret. Perfeito _ _ _ _ _ _ Imperfeito 7
Presente 2 Presente
_ _ _ _ _ _ Forma Perifrástica
v. ir presente + inf.
27 Forma Perifrástica v. ir presente + inf.
10
Imperfeito 12
5a. Sugerir Pret. Perfeito
_ _ _ _ _ _
Presente 29 Forma Perifrástica v. ir presente + inf.
5
Presente
_ _ _ _ _ _
Presente 28 Presente 1 Imperfeito 17
A
6a.
Lamentar Pret. Perfeito
_ _ _ _ _ _
Forma Perifrástica v. ir presente + inf.
25
Futuro *11 Presente
_ _ _ _ _ _ Imperfeito *15 Presente *4 Futuro *14
4b.
Querer e
Desejar
Pret. Perfeito
_ _ _ _ _ _
Forma Perifrástica v. ir presente + inf.
*24
Imperfeito *8 Presente
_ _ _ _ _ _ Futuro *20
5b.Sugerir Pret. Perfeito
_ _ _ _ _ _ Futuro *16
Futuro *21 Presente
_ _ _ _ _ _ Imperfeito *30
II
B
6b.
Lamentar Pret. Perfeito _ _ _ _ _ _ Futuro
*26
Quadro 4 – Relações de (in)dependência temporal entre a oração matriz e a oração
encaixada.
56
À semelhança do teste I, o número do sujeito da oração principal (singular ou plural) é
controlado em cada verbo numa divisão equitativa relativamente ao número de frases.
No grupo I, temos três frases em que o sujeito ocorre no singular e três frases em que
surge no plural. No grupo II, a cada verbo correspondem quatro frases em que o sujeito
está no singular e quatro frases em que o sujeito ocorre no plural. Assim, na
globalidade, o teste é constituído por 15 frases com sujeito singular e por 15 frases com
sujeito plural, informação esta que se encontra documentada no quadro 5:
57
Oração Matriz Número do sujeito Verbo Sujeito
Frase
Afirmar A Directora do Colégio F23
O João F3 Sentir
O professor F9
Tu F14
Eu F15
O Francisco F19
Querer/Desejar
A mãe F24
Ele F2
A Dulce F10
a Ana F12
Sugerir
A Educadora F27
Tu F21
Ele F25
Eu F26
SINGULAR
Lamentar
A Luísa F28
Afirmar Eles F13
Os funcionários da loja F6 Saber
Nós F18
Os filhos F4
Eles F7
As raparigas F11
Querer/ Desejar
Nós F22
Os Bancos F8
Os professores F16
Eu e a Carla F20
Sugerir
Os meus amigos F29
Os pais F1
O Raul e a Carolina F5
Elas F17
PLURAL
Lamentar
Os avós F30
Quadro 5 – Flexão em número dos sujeitos da oração matriz.
58
Em síntese, no teste de avaliação são controladas as seguintes variáveis:
(i) a extensão das frases;
(ii) o verbo da oração matriz segundo o modo e o tempo que admitem na completiva;
(iii) o número do sujeito da oração matriz;
(iv) o modo e o tempo da oração principal e da oração completiva;
(v) a (a)gramaticalidade das frases;
(vi) as relações de (in)dependência temporal da encaixada relativamente à matriz.
2.2. Sujeitos
Como referido anteriormente, foram definidos dois grupos de sujeitos: o grupo I,
composto por 10 alunos que frequentam o 10º ano de escolaridade, e o grupo II,
formado por 10 alunos que frequentam o 12º ano de escolaridade, perfazendo um total
de 20 sujeitos. Todos os alunos frequentam, no ano lectivo de 2007/08, a mesma escola,
a Escola Secundária com 3º ciclo Diogo de Gouveia (Beja).
A aplicação do estímulo a estes dois grupos teve como objectivo testar as competências
adquiridas em duas etapas de ensino e considerar o seu desempenho significativo. Deste
modo, o grupo I permitirá aferir as competências adquiridas no início do ensino
secundário, mais concretamente, no início do segundo período do 10º ano, e o grupo II
dará conta do desempenho dos alunos no início do segundo período do 12º ano.
A realização dos testes foi antecedida do preenchimento de um questionário de
identificação (cf. anexo 4) que permitiu recolher dados pessoais (nome, idade, sexo,
naturalidade, localidade, língua materna) e académicos (escola, ano de escolaridade,
turma, classificação na disciplina de Língua Portuguesa) e, por conseguinte, controlar as
variáveis na selecção dos sujeitos. Todos os elementos solicitados neste questionário
estavam numerados para facilitar a recolha e a organização de dados. Deste modo, na
selecção dos sujeitos foram controladas as seguintes variáveis:
• Idade;
• Sexo;
59
• Língua materna;
• Ano de escolaridade;
• Aproveitamento escolar na disciplina de Língua Portuguesa (no ano lectivo
anterior e no ano lectivo em vigor).
Para que o perfil de ambos os grupos de sujeitos fosse o mais homogéneo possível,
excluíram-se os sujeitos que residiam há menos de 10 anos no distrito de Beja, os que
não tinham como língua materna o português, os que fossem repetentes (alunos que não
estão a frequentar pela primeira vez o mesmo ano lectivo) e os que tivessem obtido
classificações negativas a Língua Portuguesa no ano lectivo anterior e no ano lectivo
vigente.
Apresenta-se, de seguida, a caracterização dos sujeitos por grupo, tendo em conta as
variáveis acima enunciadas.
2.2.1.Grupo I
O grupo I (cf. anexo 5) é composto por 10 alunos que frequentam o 10º de escolaridade
e estão integrados na turma C da Escola Secundária com 3º ciclo Diogo de Gouveia
(Beja). Destes, 5 são do sexo feminino e 5, do sexo masculino. Todos os elementos têm
15 anos no momento da recolha dos dados, residem há mais de 10 anos no distrito de
Beja e estão pela primeira vez a frequentar o 10º ano de escolaridade no ano lectivo
2007/08. Todos têm como língua materna o Português e o seu aproveitamento escolar a
Língua Portuguesa foi positivo, quer no ano lectivo anterior (9º ano), quer no presente
ano lectivo (10º ano, 1º período). Relativamente ao 9º ano, as classificações variam
entre 3 e 5 e, quanto à primeira avaliação do 10º ano (1º período), as classificações
situam-se entre o nível 14 e o nível 19.
2.2.2. Grupo II
O Grupo II (cf. anexo 6) é constituído por 10 alunos do 12º ano, turma B, da Escola
Secundária com 3º ciclo Diogo de Gouveia (Beja), sendo que metade é do sexo
feminino e a outra metade é do sexo masculino. Todos os elementos têm em comum a
60
idade (17 anos), a língua materna (Português) e o facto de residirem no distrito de Beja
há mais de 10 anos. Frequentam pela primeira vez o 12º ano de escolaridade, no ano
lectivo 2007/08, e todos obtiveram uma avaliação positiva a Língua Portuguesa no 1º
período do presente ano lectivo e no final do ano lectivo anterior ao momento da
recolha (11º ano). No que concerne ao 11º ano, os sujeitos apresentam notas entre 12 e
19 e, no que diz respeito ao 1º período do 12º ano, as suas classificações variam entre 11
e 19.
2.3.Condições de recolha dos dados
O teste foi aplicado em contexto de sala de aula e no decorrer da aula de Língua
Portuguesa. A investigadora esteve sempre presente durante a realização da tarefa e
contou com a colaboração e com a presença dos respectivos professores de Português, a
quem foi dada a conhecer previamente a natureza do trabalho de investigação e os
objectivos do teste.
A investigadora começou por se apresentar, fornecendo aos alunos alguns dados
pessoais e profissionais e, de seguida, informou-os de que as tarefas que iriam
desempenhar se enquadravam no âmbito de um trabalho de investigação na área da
Língua Portuguesa. De modo a assegurar a compreensão das tarefas solicitadas nos
testes, a investigadora reforçou oralmente as instruções escritas das tarefas solicitadas
nas 3 partes constituintes (Identificação, I-Produção e II-Avaliação), recorrendo a
exemplos ilustrativos. Mostrou-se disponível para qualquer esclarecimento adicional,
embora nunca revelasse o objecto de estudo dos testes.
A todos os alunos presentes na aula de Língua Portuguesa foram aplicados os testes,
nomeadamente a 23 alunos do 10º ano e a 17 alunos do 12º ano, sendo que a selecção
dos 10 sujeitos por cada grupo foi feita posteriormente, segundo as variáveis
previamente estabelecidas e o perfil pretendido.
O tempo total de recolha dos dados foi de cerca de 35 minutos em ambas as turmas.
61
Capítulo 3 – Descrição dos Dados
Neste capítulo procede-se à descrição dos dados produzidos pelo grupo de sujeitos I
(10º ano) e pelo grupo de sujeitos II (12º ano), segundo os objectivos previamente
definidos para cada teste (cf. secção 2.1.2.). Este capítulo encontra-se, assim, dividido
em duas partes: a primeira diz respeito ao teste de produção (secção 3.1.), e subdivide-
se nos dois parâmetros avaliados (propriedades do verbo matriz e selecção do modo;
efeitos da negação superior no modo da oração encaixada), sendo também descritas as
relações de concordância temporal entre o verbo da oração encaixada e o da oração
matriz; a segunda parte apresenta os dados relativos ao teste de avaliação (secção 3.2.)
de acordo com o parâmetro testado (relações de (in)dependência temporal entre a frase
encaixada e a matriz).
3.1. Teste I – Produção
Como referido no Capítulo 2 – Metodologia (cf. secção 2.1.2.1.), o teste de produção
pretendia que os sujeitos completassem as orações completivas, de modo a verificar se
os mesmos seleccionam o modo correcto na encaixada, de acordo com o verbo presente
na oração matriz. É composto por frases incompletas em que o verbo superior se
encontra no presente do indicativo. Assim, na observação dos dados, ter-se-á em
consideração o modo produzido pelos sujeitos na encaixada, bem como o respectivo
tempo verbal.
De acordo com os dados recolhidos, organizou-se a informação de forma a dar conta:
(i) da distribuição dos modos indicativo e conjuntivo por grupo verbal – quadro 7
(secção 3.1.1.1.), quadro 8 (secção 3.1.1.2.), quadro 10 (secção 3.1.2.1.) e quadro 11
(secção 3.1.2.2.);
(ii) do tempo verbal seleccionado pelos sujeitos em cada modo e do respectivo número
de ocorrências – quadros 1 a 4 (cf. anexo 7);
62
(iii) da percentagem de cada tempo verbal em cada modo, por grupo de verbos –
gráficos 1 a 12 (secção 3.1.1.) e gráficos 13 a 24 (secção 3.1.2.).
3.1.1. Propriedades do verbo matriz e selecção do modo em frases afirmativas
Com já previamente estabelecido (cf. secção 2.1.2.1.), organizaram-se seis grupos de
verbos que ocorrem na oração matriz, de acordo com o(s) modo(s) que seleccionam na
oração completiva. Por facilidade de exposição, o quadro 1 é agora repetido como
quadro 6:
Oração Matriz Oração Completiva Grupo
de Verbos Verbos Modo(s)
I
1. Afirmar
2. Saber
Indicativo
II
3. Lamentar
4. Querer
5. Esperar
Conjuntivo
III
6. Sentir
7. Achar
8. Prometer
9. Dizer
Indicativo
IV
10. Duvidar
Conjuntivo
V
11. Acreditar
12. Imaginar
13. Suspeitar
14. Prever
Indicativo/ Conjuntivo
VI
15. Pensar
Indicativo/ ?Conjuntivo
Quadro 6 – Verbos da oração superior e modo(s) seleccionado(s) na encaixada.
63
A ocorrência destes verbos em Português encontra-se ilustrada nos exemplos (100) a
(105):
(100) O Pedro {afirma/ sabe} que o João está de férias.
(101) O pai {lamenta/ quer/ espera} que o seu filho vá ao teatro.
(102) Eles {sentem/ acham/ prometem/ dizem} que a Maria ficará contente com a
surpresa.
(103) Eu duvido que os miúdos venham amanhã.
(104) a. Os Professores {acreditam/ imaginam/ suspeitam/ prevêem} que os alunos
terão bons resultados.
b. A Mariana {acredita/ imagina/ suspeita/ prevê} que os próximos testes sejam
mais difíceis.
(105) Pensamos que ele {chega/chegue} hoje.
No caso dos verbos do grupo V, como já referimos anteriormente, a escolha do modo
indicativo ou conjuntivo decorre do valor de verdade atribuído à proposição encaixada.
Assim, em (104a) a selecção do indicativo na encaixada pressupõe a verdade da frase
complemento, mas em (104b) a escolha do conjuntivo revela que a proposição
encaixada não é tida como verdadeira.
64
3.1.1.1. Grupo de Sujeitos I (10º Ano)
Apresenta-se no quadro 7 a distribuição dos modos indicativo e conjuntivo da encaixada
por grupo de verbos, de acordo com as produções dos sujeitos do grupo I.
Produções dos Sujeitos (%) Grupo
de Verbos
Modo
seleccionado na encaixada Indicativo Conjuntivo
I
Indicativo
100%
0%
II
Conjuntivo
3.3%
96.7%
III
Indicativo
100%
0%
IV
Conjuntivo
40%
60%
V
Indicativo/ Conjuntivo
82.5%
15%
VI
Indicativo/ ?Conjuntivo
100%
0%
Quadro 7 – Valores percentuais relativos ao(s) modo(s) seleccionado(s) no teste de
produção pelo grupo de sujeitos I (10º ano).
Com base no quadro 7, verifica-se que, no que diz respeito ao primeiro conjunto de
verbos (verbos afirmar e saber), o grupo de sujeitos I selecciona apenas o indicativo,
apresentando este modo 100% do total das ocorrências, o que corresponde à alternativa
correcta. Exemplificam as produções dos sujeitos os dados seguintes:
(106) O Presidente da Câmara afirma que3 a localidade de Ferreira precisa de obras
no jardim.
(107) Eu sei que os meus amigos são dignos de confiança.
3 Colocou-se a negrito as frases incompletas que constavam do teste de produção, correspondendo a restante frase às produções dos sujeitos.
65
Pela observação do gráfico 1 abaixo, podemos igualmente constatar que neste grupo de
verbos o tempo predominante do modo indicativo é o presente, registando no total 14
ocorrências (70%), distribuídas equitativamente pelos dois verbos constituintes (7
ocorrências cada) – cf. quadro 1, anexo 7. Como exemplos, vejam-se alguns dos dados
produzidos pelos sujeitos em (108) e (109):
(108) O Presidente da Câmara afirma que o Alentejo é um bom local para se viver.
(109) Eu sei que há eleições para o governo de 4 em 4 anos.
Seguem-se as formas perifrásticas4 com 5 ocorrências (25 %; cf. gráfico 1), 2 das quais
com o verbo afirmar, construídas com o verbo auxiliar ir no futuro, e 3 com o verbo
saber, estando o verbo auxiliar no presente (2 ocorrências são construídas com o verbo
auxiliar ter e uma com o verbo auxiliar dever) – cf. quadro 1, anexo 7. Estes dados estão
exemplificados em (110) e (111), respectivamente. Com uma ocorrência (5%), surge,
em terceiro lugar, o futuro, como atesta o exemplo (112) – cf. quadro 1, anexo 7.
(110) O Presidente da Câmara afirma que a cidade irá beneficiar com o aeroporto.
(111) Eu sei que devo estudar mais.
(112) O Presidente da Câmara afirma que haverá obras de remodelação da estrada
principal.
Assim, através da observação do gráfico 1, podemos identificar os três tempos
produzidos pelos sujeitos no modo indicativo, com uma preferência clara pelo presente.
4 De forma a facilitar a descrição dos dados, as formas perifrásticas são apresentadas no quadro dos verbais, especificando-se os tempos predominantes do verbo auxiliar.
66
Grupo de Verbos I
Presente70,0%
Futuro5,0%
F. Perifrásticas (Pres/Fut)25,0%
Gráfico 1 – Modo e respectivos tempos verbais produzidos pelos sujeitos do grupo I
(10º ano) no grupo de verbos I.
Quanto ao grupo de verbos II (verbos lamentar, querer e esperar), predomina a
selecção do conjuntivo com 96.7%, correspondendo o indicativo a 3.3%. Os dados
seguintes exemplificam as produções correctas dos sujeitos, estando o verbo da
encaixada no conjuntivo, conforme o alvo:
(113) As raparigas lamentam que os rapazes olhem tão pouco para elas.
(114) Os professores querem que os alunos se esforcem mais.
(115) A Madalena espera que eu melhore rápido.
Representando no total 93.3%, o presente do conjuntivo é o tempo mais produzido pelos
sujeitos (28 ocorrências; cf. (113) a (115)) e a única ocorrência agramatical, que
corresponde a uma produção no indicativo, verifica-se com o verbo lamentar (cf. quadro
1, anexo 7), como documenta o seguinte exemplo:
(116) *As raparigas lamentam que ele não é um bom aluno.
Veja-se, assim, o gráfico 2, que apresenta as produções dos sujeitos relativamente à
escolha do modo e respectivos tempos verbais na encaixada, e que, como já referido
anteriormente, revela uma preferência do modo conjuntivo sobre o indicativo.
Indicativo
67
Grupo de Verbos II
Presente3,3%
Presente93,3%
Pret. Perfeito Composto
3,3%
Gráfico 2 – Modos e respectivos tempos verbais produzidos pelos sujeitos do grupo I
(10º ano) no grupo de verbos II.
Relativamente ao grupo de verbos III (verbos sentir, achar, prometer e dizer), o
indicativo foi o único modo seleccionado pelos sujeitos, apresentando, assim, 100% de
ocorrências, de acordo com as produções-alvo, o que se pode verificar pelos exemplos
(117) e (118):
(117) Os alunos sentem que o 10º ano é complicado.
(118) O teu irmão promete que te irá ajudar a realizar o trabalho.
Pela observação do gráfico 3, podemos verificar que os tempos do modo indicativo
predominantes são, em primeiro lugar, o presente, com 19 ocorrências (47.5%; cf.
(119)) e, em segundo, as formas perifrásticas, com 15 ocorrências (37.5%), distribuídas
pelos quatro verbos constituintes, sendo que 9 destas últimas ocorrências envolvem o
verbo prometer (cf. (120)) e são construídas com o verbo ir (destas 9 ocorrências, em 7
o verbo auxiliar encontra-se no presente e em 2 este está no futuro - cf. quadro 1, anexo
7). Por último, temos o pretérito perfeito com 12.5% (5 ocorrências; cf. (121)) e o futuro
com 2.5% (1 ocorrência; cf. (122)) – cf. quadro 1, anexo 7.
(119) Aqueles Senhores acham que têm direito ao aumento da reforma.
(120) O teu irmão promete que vai arrumar o seu quarto.
(121) Tu e o André dizem que o chefe da loja não foi roubado.
Indicativo
Conjuntivo
68
(122) O teu irmão promete que levantará as notas.
Assim, o gráfico 3 reúne a informação relativa aos tempos verbais seleccionados pelos
sujeitos no modo indicativo.
Grupo de Verbos III
Presente47,5%
Futuro2,5%
Pretérito Perfeito12,5%
F. Perifrásticas (Pres/Fut/P.I.)
37,5%
Gráfico 3 – Modo e respectivos tempos verbais produzidos pelos sujeitos do grupo I
(10º ano) no grupo de verbos III.
No que concerne ao grupo IV (verbo duvidar), os dois modos foram seleccionados,
sendo que o modo conjuntivo, em conformidade com o alvo, apresenta uma maior
percentagem relativamente ao modo indicativo, a saber, 60% e 40%, respectivamente.
A selecção do conjuntivo e do indicativo na encaixada encontra-se, respectivamente,
exemplificada nos seguintes dados:
(123) A chefe da loja duvida que aqueles jovens sejam de confiança.
(124) *A chefe da loja duvida que eu paguei.
Com este grupo de verbos, os dados integram 4 ocorrências agramaticais no indicativo,
2 que correspondem ao uso do pretérito perfeito (20%; cf. (125)) e 2 ao uso de formas
perifrásticas (20%; cf. (126)), uma com o verbo auxiliar ir no futuro e uma com o verbo
auxiliar ter no presente – cf. quadro 1, anexo 7.
Indicativo
69
(125) *A chefe da loja duvida que foi roubada.
(126) *A chefe da loja duvida que irá ter prejuízo.
Quanto ao conjuntivo, os dados comportam 6 ocorrências (cf. quadro 1, anexo 7) que,
como se observa no gráfico 4, correspondem ao presente (40%) e ao pretérito perfeito
composto (20%), o que se observa pelos dados que se seguem, respectivamente:
(127) A chefe da loja duvida que ganhe algum dinheiro com a nova marca.
(128) A chefe da loja duvida que aquilo tenha sido um engano.
Atente-se no gráfico 4, que apresenta os tempos verbais produzidos em cada modo na
encaixada, com o respectivo valor percentual.
Grupo de Verbos IV
F. Perifrásticas (Pres/Fut)20,0%
Pretérito Perfeito20,0%
Pret. Perfeito Composto20,0%
Presente40,0%
Gráfico 4 – Modos e respectivos tempos verbais produzidos pelos sujeitos do grupo I
(10º ano) no grupo de verbos IV.
No grupo de verbos V (verbos acreditar, imaginar, suspeitar e prever), por seu turno,
verifica-se um valor de 82.5% para o modo indicativo e 15% para o modo conjuntivo. A
selecção destes modos encontra-se exemplificada nos seguintes dados, respectivamente:
(129) Eles imaginam que todas as crianças do mundo são felizes.
(130) Eu e a Teresa suspeitamos que eles tenham copiado nos testes.
Indicativo
Conjuntivo
70
Note-se que, como ilustrámos através do exemplo (104), estes verbos admitem os dois
modos na encaixada, sendo a sua distribuição determinada pela atribuição do valor de
verdade à proposição da encaixada.
Todos os verbos constituintes deste grupo, à excepção do verbo imaginar, apresentam
ocorrências no modo conjuntivo (total de 6 ocorrências), predominando o presente
(12.5%; cf. (131) e (132)), sobretudo na frase com o verbo prever (3 ocorrências; cf.
(133)) – cf. quadro 1, anexo 7.
(131) O pequenino Francisco acredita que na vida tudo seja fácil.
(132) Eu e a Teresa suspeitamos que o Professor de Filosofia tenha uma filha.
(133) O Pedro prevê que um tsunami destrua Portugal.
De entre as ocorrências no modo indicativo, destacam-se as formas perifrásticas com
40% do total das produções (16 ocorrências; cf. (134) e (135)), o que corresponde a 9
ocorrências com o verbo auxiliar no presente (verbo ir ou estar) e a 7 (verbo ir) com o
verbo auxiliar no futuro. Segue-se o presente com 27.5% (cf. (136) e (137)). Note-se, no
entanto, que o presente do indicativo é produzido em todas as frases dos verbos
constituintes, à excepção da frase com o verbo prever (cf. quadro 1, anexo 7).
(134) Eles imaginam que estão a jogar no computador.
(135) Eu e a Teresa suspeitamos que irá ocorrer um atentado em Portugal.
(136) O pequenino Francisco acredita que o Pai Natal existe realmente.
(137) Eles imaginam que o casamento é um mar de rosas.
Com um valor inferior, (5%), o futuro, exemplificado em (138), e o pretérito perfeito,
ilustrado em (139), são tempos igualmente seleccionados pelos sujeitos na encaixada.
(138) O pequenino Francisco acredita que um dia será um grande gestor.
(139) Eu e a Teresa suspeitamos que o Filipe copiou no teste de Geografia.
Acrescente-se ainda que um dos sujeitos não completou a frase com o verbo prever
(frase 28, “O Pedro prevê que …”) – cf. quadro 1, anexo 7.
71
O gráfico 5 mostra todos os tempos verbais produzidos pelos sujeitos em cada modo e
revela, como já referido anteriormente, uma produção mais elevada do indicativo face
ao conjuntivo.
Grupo de Verbos V
P resente27,5%
Futuro5,0%
Pretérito P erfeito5,0%
Futuro do P retérito2,5%
P .M.Q.P . Comp.2,5%
N. R.2,5%
P resente12,5%
Pret. P erfeito Composto
2,5%
F. P erifrás ticas (P res /Fut)40,0%
Gráfico 5 – Modos e respectivos tempos verbais produzidos pelos sujeitos do grupo I
(10º ano) no grupo de verbos V.
Por último, no sexto grupo de verbos (verbo pensar), o indicativo foi o único modo
seleccionado, correspondendo, por isso, a 100% das ocorrências. Os exemplos (140) e
(141) ilustram as produções dos sujeitos:
(140) O Sr. José e a D. Graça pensam que a sua casa necessita de uma remodelação.
(141) O Sr. José e a D. Graça pensam que os vizinhos são muito barulhentos.
Como regista o gráfico 6, com o verbo pensar predomina claramente o presente do
indicativo (80%) – cf. quadro 1, anexo 7 –, ilustrado nas frases (140) e (141).
Este gráfico permite-nos igualmente verificar que as formas perifrásticas (uma
ocorrência, construída com o verbo auxiliar estar no presente) e o futuro do pretérito
apresentam o mesmo valor percentual, 10%, relativamente ao total das ocorrências, o
que corresponde aos seguintes dados, respectivamente:
Não Respondeu
Indicativo
Conjuntivo
72
(142) O Sr. José e a D. Graça pensam que Portugal está a passar por uma enorme
crise.
(143) ?O Sr. José e a D. Graça pensam que a sua filha conseguiria ter melhores
resultados.
Grupo de Verbos VI
Presente80,0%
F. Perifrásticas (Pres)10,0%
Futuro do Pretérito10,0%
Gráfico 6 – Modo e respectivos tempos verbais produzidos pelos sujeitos do grupo I
(10º ano) no grupo de verbos VI.
Tendo em conta os dados apresentados nesta secção, podemos concluir que,
relativamente à selecção do modo e do tempo do verbo da encaixada:
(i) Os grupos de verbos I e III, que seleccionam na encaixada o modo indicativo,
apresentam uma taxa de sucesso total (100%), não se verificando produções incorrectas.
(iii) Nos grupos de verbos II e IV, que admitem na oração complemento o modo
conjuntivo, predomina claramente a produção do modo conjuntivo: no grupo II, a
selecção do conjuntivo corresponde a um valor percentual de 96.7%, sendo a
percentagem de produções incorrectas de 3.3%; no grupo de verbos IV, o conjuntivo,
embora apresente um valor inferior, 60%, é também o modo mais seleccionado pelos
sujeitos.
Indicativo
73
(iv) No que diz respeito ao grupo de verbos com selecção dupla de modo (indicativo ou
conjuntivo), verifica-se, no grupo V, que o modo mais seleccionado pelos sujeitos é o
indicativo, com um valor percentual de 82.5%. Neste grupo, as produções de conjuntivo
perfazem um total de 15% e dizem respeito aos verbos acreditar, suspeitar e prever.
Relativamente ao grupo VI, o indicativo apresenta 100% de ocorrências.
(v) Relativamente aos tempos verbais produzidos pelos sujeitos na encaixada, podemos
afirmar que, de entre os seleccionados no modo indicativo, o presente é marcadamente o
tempo predominante. A este, seguem-se as formas perifrásticas, com o verbo auxiliar no
presente e/ou no futuro, e, em terceiro lugar, o pretérito perfeito.
Quando ao conjuntivo, o cenário é idêntico: o presente é o tempo mais utilizado pelos
sujeitos. Em segundo lugar, surge o pretérito perfeito composto.
Neste contexto, importa recordar que todas as frases constituintes do teste de produção
apresentam o verbo da oração matriz no presente do indicativo, facto este que irá ser
tomado em consideração aquando da análise dos dados (cf. Capítulo 4 – Análise dos
dados).
74
3.1.1.2. Grupo de sujeitos II (12º Ano)
De acordo com os dados recolhidos no grupo de sujeitos II, organizou-se a distribuição
dos modos indicativo e conjuntivo da encaixada no quadro 8.
Produções dos Sujeitos (%) Grupo
de Verbos
Modo
seleccionado na encaixada Indicativo Conjuntivo
I
Indicativo
100%
0%
II
Conjuntivo
0%
100%
III
Indicativo
100%
0%
IV
Conjuntivo
0%
100%
V
Indicativo/ Conjuntivo
82.5%
17.5%
VI
Indicativo/ ?Conjuntivo
100%
0%
Quadro 8 – Valores percentuais relativos ao(s) modo(s) seleccionado(s) no teste de
produção pelo grupo de sujeitos II (12º ano).
Nos grupos de verbos que, na gramática-alvo, seleccionam exclusivamente o indicativo
na oração completiva, nomeadamente nos grupos I (verbos afirmar e saber; cf. (144) e
(145)) e III (verbos sentir, achar, prometer e dizer; cf. (146) e (147)), todos os sujeitos
seleccionaram este modo, obtendo-se, portanto, 100% do total das ocorrências.
(144) O Presidente da Câmara afirma que irá mandar construir uma nova escola.
(145) Eu sei que tu não confias em mim.
(146) Os alunos sentem que a exigência começa a aumentar.
(147) Aqueles Senhores acham que o carro tem um problema no motor.
75
Com 65% do total das ocorrências nos grupos de verbos I (13 ocorrências; cf. (148) e
(149)) e III (26 ocorrências; cf. (150) e (151)), o presente do indicativo é o tempo mais
produzido pelos sujeitos (cf. quadro 2, anexo 7).
(148) O Presidente da Câmara afirma que as estradas necessitam de obras.
(149) Eu sei que a vida é curta.
(150) O teu irmão promete que me paga a aposta.
(151) Tu e o André dizem que as taxas alfandegárias estão cada vez mais altas.
Com base nos dados apresentados nos gráficos 7 e 8, pode-se constatar também que,
nos dois grupos de verbos, as formas perifrásticas apresentam mais de 15% do total das
produções e são construídas com o auxiliar no presente ou no futuro (25% para o grupo
de verbos I, cf. (152); 17.5% para o grupo de verbos III, cf. (153) e (154)), com destaque
para as formas que envolvem o auxiliar ir – cf. quadro 2, anexo 7.
(152) O Presidente da Câmara afirma que se irá recandidatar nas próximas eleições.
(153) Aqueles Senhores acham que não iremos ser bem sucedidos.
(154) O teu irmão promete que vai estudar.
No grupo de verbos III, o futuro do indicativo apresenta, relativamente ao total de
produções, um valor percentual de 12.5% (cf. gráfico 8). Porém, neste grupo, as
produções deste tempo verbal ocorrem apenas com os verbos prometer (3 ocorrências) e
dizer (2 ocorrências), como exemplificado nos seguintes dados, respectivamente (cf.
quadro 2, anexo 7):
(155) O teu irmão promete que nunca te deixará sozinha.
(156) Tu e o André dizem que a Maria jamais será feliz.
Desta forma, através da observação dos gráficos 7 e 8, podemos identificar os tempos
verbais produzidos pelos sujeitos no indicativo e o respectivo valor percentual
relativamente à totalidade dos dados relativos aos verbos dos grupos I e III.
76
Grupo de Verbos I
Presente65,0%
Futuro do Pretérito5,0%
F. Perifrásticas (Pres/Fut)25,0%
Pretérito Imperfeito
5,0%
Gráfico 7 – Modo e respectivos tempos verbais produzidos pelos sujeitos do grupo II
(12º ano) no grupo de verbos I.
Grupo de Verbos III
Presente65,0%
Futuro12,5%
Pretérito Perfeito5,0%
F. Perifrásticas (Pres/Fut)17,5%
Gráfico 8 – Modo e respectivos tempos verbais produzidos pelos sujeitos do grupo II
(12º ano) no grupo de verbos III.
Quanto aos grupos de verbos II (verbos lamentar, querer e esperar) e IV (verbo
duvidar), que seleccionam o conjuntivo na encaixada, verifica-se que este modo é o
único seleccionado pelos sujeitos, correspondendo por isso a 100% das ocorrências. As
produções dos sujeitos relativas ao grupo de verbos II estão exemplificadas nas frases
Indicativo
Indicativo
77
(157) e (158) e os dados respeitantes ao grupo de verbos IV são ilustrados pelas frases
(159) e (160):
(157) As raparigas lamentam que os rapazes sejam tão imaturos.
(158) Os professores querem que os alunos tenham boas notas nos exames.
(159) A chefe da loja duvida que os novos gelados cheguem hoje.
(160) A chefe da loja duvida que a concorrência tenha preços mais baixos.
Relativamente aos tempos seleccionados (cf. gráficos 9 e 10), o presente do conjuntivo é
o mais seleccionado pelos sujeitos, nos dois grupos de verbos, correspondendo a 93.3%
no grupo II (28 ocorrências; cf. (157) e (158)) e a 80% no grupo IV (8 ocorrências; cf.
(159) e (160)) – cf. quadro 2, anexo 7. A este tempo, segue-se o pretérito perfeito
composto que apresenta 2 ocorrências (6.7%) no grupo de verbos II, que envolvem
apenas o verbo lamentar, como exemplificado através da frase (161) – cf. quadro 2,
anexo 7. Também com 2 ocorrências (cf. quadro 2, anexo 7), este tempo verbal
apresenta, no grupo de verbos IV, um valor percentual superior, 20% do total de
produções (cf. (162)).
(161) As raparigas lamentam que o professor tenha ficado doente.
(162) A chefe da loja duvida que o ladrão tenha entrado pela porta.
Os dados referidos anteriormente podem ser observados nos gráficos 9 e 10, que
apresentam os valores percentuais obtidos para cada tempo verbal produzido no
conjuntivo.
78
Grupo de Verbos II
Presente93,3%
Pret. Perfeito Composto
6,7%
Gráfico 9 – Modo e respectivos tempos verbais produzidos pelos sujeitos do grupo II
(12º ano) no grupo de verbos II.
Grupo de Verbos IV
Presente80,0%
Pret. Perfeito Composto20,0%
Gráfico 10 – Modo e respectivos tempos verbais produzidos pelos sujeitos do grupo II
(12º ano) no grupo de verbos IV.
Por fim, no grupo V (verbos acreditar, imaginar, suspeitar e prever), grupo cujos
verbos exibem uma selecção modal dupla na oração complemento, predomina o modo
indicativo (82.5%) em detrimento do modo conjuntivo (17.5%). A este propósito,
vejam-se os seguintes dados:
Conjuntivo
Conjuntivo
79
(163) Eles imaginam que um dia o mundo vai acabar.
(164) Eu e a Teresa suspeitamos que o Ricardo e a Ana namoram.
(165) a. O Pedro prevê que a tua equipa não consiga melhor que um empate.
b. O Pedro prevê que o Porto será campeão.
Como se regista no gráfico 11, o tempo mais produzido no indicativo é o presente, com
14 ocorrências (35%), que não envolvem o verbo prever (cf. quadro 2, anexo 7). Os
dados em (166) e (167) são exemplos dessas produções:
(166) O pequenino Francisco acredita que o Pai Natal existe.
(167) Eles imaginam que estão numa ilha deserta em pleno Pacífico.
Surgem, em segundo lugar, as formas perifrásticas, com um valor de 20% do total das
produções, correspondendo a 8 ocorrências construídas com o verbo auxiliar ir (4 com o
verbo auxiliar no presente e 4 com o mesmo verbo no futuro – cf. quadro 2, anexo 7).
Note-se que as formas perifrásticas são produzidas com todos os verbos, excepto com o
verbo suspeitar – cf. quadro 2, anexo 7. A exemplificar estas produções, estão os dados
presentes em (168) e (169):
(168) O pequenino Francisco acredita que vai receber uma playstation3 no seu
aniversário.
(169) O Pedro prevê que irá chover amanhã.
Pela leitura do gráfico 11, verificamos igualmente que, em terceiro lugar, o tempo
verbal mais produzido é o futuro, correspondendo a 15% da totalidade das ocorrências
(4 ocorrências – cf. quadro 2, anexo 7). Este tempo é seleccionado pelos sujeitos nas
frases que envolvem os verbos acreditar e prever, como se verifica nas frases (170) e
(171), respectivamente:
(170) O pequenino Francisco acredita que os seus pais o levarão ao estrangeiro.
(171) O Pedro prevê que a Matilde voltará amanhã.
80
Relativamente às produções do conjuntivo, apenas se verificam com os verbos suspeitar
(3 ocorrências; cf. (172)) e prever (4 ocorrências; cf. (173)), predominando o presente,
com 15%, seguido do pretérito perfeito composto, com 2.5% – cf. quadro 2, anexo 7.
(172) Eu e a Teresa suspeitamos que o João e a Margarida sejam namorados.
(173) O Pedro prevê que as suas notas sejam boas.
Atente-se no gráfico 11, que representa a distribuição do modo indicativo e conjuntivo,
no que diz respeito aos tempos verbais seleccionados em cada grupo de verbos.
Grupo de Verbos V
Presente35,0%
Futuro15,0%
Pretérito Perfeito7,5%
Futuro do Pretérito2,5%
Pretérito Imperfeito2,5%
Presente15,0%
Pret. Perfeito Composto
2,5%
F. Perifrásticas (Pres/Fut)20,0%
Gráfico 11 – Modos e respectivos tempos verbais produzidos pelos sujeitos do grupo II
(12º ano) no grupo de verbos V.
Por fim, considere-se o grupo VI, constituído exclusivamente pelo verbo pensar, que,
tal como os verbos do grupo anterior, selecciona na oração complemento ou o indicativo
ou, para alguns falantes, também o conjuntivo. No entanto, este verbo ocorre, nos dados
em análise, sempre no indicativo, registando este modo 100% do total das ocorrências.
Veja-se, a título ilustrativo, o exemplo (174):
(174) O Sr. José e a D. Graça pensam que são antiquados demais para sair à noite.
Indicativo
Conjuntivo
81
Com 4 ocorrências (40%; cf. (175)), o presente é o tempo mais produzido pelos sujeitos
e, com um número de ocorrências ligeiramente inferior, 3 (30%; cf. (176)), surge em
seguida o futuro – cf. quadro 2, anexo 7.
(175) O Sr. José e a D. Graça pensam que os seus netos são os mais bonitos do
mundo.
(176) O Sr. José e a D. Graça pensam que ficarão juntos para sempre.
O gráfico 12 permite-nos igualmente verificar que, em terceiro lugar, com um valor de
20%, se encontram as formas perifrásticas (2 ocorrências com os verbos auxiliares ir e
estar no presente; cf. (177)), e, por último, o pretérito perfeito, com 10% (cf. (178)) – cf.
quadro 2, anexo 7.
(177) O Sr. José e a D. Graça pensam que não vão ter dinheiro suficiente quando
chegarem à reforma.
(178) O Sr. José e a D. Graça pensam que o seu filho adoeceu devido ao que comeu
no dia anterior.
Grupo de Verbos VI
Presente40,0%
Futuro30,0%
Pretérito Perfeito10,0%
F. Perifrásticas (Pres)20,0%
Gráfico 12 – Modo e respectivos tempos verbais produzidos pelos sujeitos do grupo II
(12º ano) no grupo de verbos VI.
Indicativo
82
Em síntese, os dados apresentados permitem-nos afirmar que, relativamente à selecção
do modo e do tempo do verbo da encaixada:
(i) Em todos os grupos de verbos a taxa de sucesso é de 100%, uma vez que os sujeitos
produzem na completiva o(s) modo(s) seleccionado(s) pelo verbo matriz.
(ii) No grupo de verbos que seleccionam ou o indicativo ou o conjuntivo (grupos de
verbos V e VI), os sujeitos produzem, no grupo V, maioritariamente o indicativo,
registando-se apenas 7 ocorrências no conjuntivo; no grupo VI, o indicativo é o único
modo produzido pelos sujeitos, registando este modo 100% do total das ocorrências.
(iii) Nas construções em que os sujeitos seleccionam o modo indicativo (grupos de
verbos I, III, V e VI), o presente é o tempo verbal que regista um maior número de
produções. Em segundo lugar, com um valor percentual um pouco inferior, surgem as
formas perifrásticas, cujo verbo auxiliar se encontra ou no presente ou no futuro. Segue-
se o uso do futuro e do pretérito perfeito.
Relativamente às frases em que os sujeitos produzem o conjuntivo (grupos de verbos II,
IV e V), o tempo verbal mais produzido pelos sujeitos é, à semelhança do que acontece
com o indicativo, o presente. Além do presente, os sujeitos produzem também o
pretérito perfeito composto, sendo de destacar o grupo de verbos IV, onde este tempo
regista, relativamente aos grupos II e V, um valor percentual superior (20% para 6.7% e
2.5%, respectivamente).
3.1.2. Efeitos da negação superior no modo da oração encaixada
Como mostrámos anteriormente (cf. secção 2.1.2.1.), a ocorrência do marcador de
negação frásica na oração matriz pode induzir alterações no modo da encaixada.
A observação comparada dos quadros 6 e 9, permite-nos verificar que os grupos I, II, V
e VI mantêm a mesma selecção modal, ao passo que os grupos de verbos III e IV
sofrem a interferência do elemento de negação frásica, passando a admitir um modo
83
diferente nas frases afirmativas e nas negativas 5. O quadro 2 encontra-se repetido nesta
secção como quadro 9 de modo a facilitar a exposição da informação:
Oração Matriz
(operador de negação frásica) Oração Completiva Grupo
de Verbos Verbos Modo(s)
I
1. Afirmar
2. Saber
Indicativo
II
3. Lamentar
4. Querer
5. Esperar
6. Prever
Conjuntivo
III
7. Sentir
8. Achar
9. Prometer
10. Dizer
Indicativo/ Conjuntivo
IV
11. Duvidar
Indicativo/ Conjuntivo
V
12. Acreditar
13. Imaginar
14. Suspeitar
Indicativo/ Conjuntivo
VI
15. Pensar
Indicativo/ Conjuntivo
Quadro 9 – Verbos da oração superior e modo(s) seleccionado(s) na encaixada na
presença de negação frásica.
Os exemplos que se seguem ilustram o(s) modo(s) seleccionado(s) na encaixada na
presença do operador de negação frásica na oração superior:
(179) Eles não {afirmam/sabem} que o Director está em reunião.
(180) Eu e a Mariana não {lamentamos/queremos/ esperamos/ prevemos} que ele venha
à festa. 5 Note-se que, como referimos anteriormente, tendo em conta este fenómeno, o verbo prever passa a incluir-se no grupo de verbos II.
84
(181) a. Tu não {sentes/ achas/ prometes/ dizes} que o teu irmão vai contar a verdade.
b. Elas não {sentem/ acham/ prometem/ dizem} que o Miguel esteja a contar a
verdade.
(182) a. O Roberto não duvida que os seus pais são os seus melhores amigos.
b. A Maria não duvida que o seu filho comece a andar dentro em breve.
(183) a. Eu não {acredito/ imagino/ suspeito} que o Pedro vai desistir da escola.
b. O Rui e a Inês não {acreditam/ imaginam/ suspeitam} que o desemprego
aumente nos próximos meses.
(184) a. Os professores não pensam que os alunos estão todos motivados.
b. O inquilino não pensa que o senhorio baixe a renda.
85
3.1.2.1. Grupo de sujeitos I (10º Ano)
Os valores percentuais correspondentes às produções dos sujeitos do grupo I (10º ano),
relativas à escolha do modo na encaixada, encontram-se registados no quadro 10.
Produções dos Sujeitos (%) Grupo
de Verbos
Modo
seleccionado na encaixada Indicativo Conjuntivo
I
Indicativo
100%
0%
II
Conjuntivo
2.5%
97.5%
III
Indicativo/ Conjuntivo
65%
32.5%
IV
Indicativo/ Conjuntivo
70%
20%
V
Indicativo/ Conjuntivo
73.4%
26.6%
VI
Indicativo/ Conjuntivo
60%
40%
Quadro 10 – Modo(s) seleccionado(s) no teste de produção pelo grupo de sujeitos I
(10º ano).
Os dados recolhidos mostram que, no grupo de verbos I (verbos afirmar e saber), o
indicativo é o único modo produzido, o que se encontra em conformidade com o alvo,
apresentando um valor de 100% do total das ocorrências. Os dados que se seguem
atestam estas produções:
(185) O Paulo nunca afirma que gosta da Inês.
(186) O patrão não sabe que os funcionários estão a planear uma greve.
De entre os tempos produzidos (cf. gráfico 13), destaca-se o presente (cf. (187)), com
40%, tendo-se registado neste tempo 6 ocorrências com o verbo afirmar e 2 com o
verbo saber (cf. quadro 3, anexo 7). Seguem-se as formas perifrásticas (cf. (188)), com
86
um valor percentual de 30%, correspondente a 6 ocorrências, estando o auxiliar
predominantemente no presente (3 ocorrências com o auxiliar ir no presente, 1 com o
auxiliar ir no futuro e 1 com o auxiliar estar no presente) – cf. quadro 3, anexo 7.
Com o mesmo valor percentual, 30%, o pretérito perfeito (cf. (189)) também foi
produzido pelos sujeitos nos verbos do grupo I, apresentando maior número de
ocorrências nas frases que envolvem o verbo saber – cf. quadro 3, anexo 7.
(187) O Paulo nunca afirma que os testes são fáceis.
(188) O Paulo nunca afirma que irá ter boas notas no final do período.
(189) O patrão não sabe que o empregado faltou ao trabalho.
O gráfico 13 apresenta os tempos verbais seleccionados pelos sujeitos para a encaixada.
Grupo de Verbos I
Presente40,0%
F. Perifrásticas (Pres/Fut)30,0%
Pretérito Perfeito30,0%
Gráfico 13 – Modo e respectivos tempos verbais produzidos pelos sujeitos do grupo I
(10º ano) no grupo de verbos I.
Relativamente ao grupo de verbos II (verbos lamentar, querer, esperar e prever), os
sujeitos seleccionam maioritariamente o conjuntivo, em conformidade com o alvo,
registando este modo 97.5% de respostas correctas (cf. gráfico 14), algumas das quais
ilustradas pelos exemplos (190) a (193):
Indicativo
87
(190) A Ana, o Rui e a Mafalda não lamentam que o seu colega tenha obtido um mau
resultado.
(191) Os jovens não querem que existam exames nacionais.
(192) A enfermeira Ana não espera que a afluência ao seu gabinete seja grande.
(193) O Instituto de Meteorologia não prevê que haja mau tempo.
Nas frases com o modo conjuntivo, o tempo verbal mais produzido é o presente, com
72.5% (cf. gráfico 14). Porém, enquanto com os verbos querer, esperar e prever há um
maior número de ocorrências no presente (10, 9 e 9, respectivamente), como se verifica
em (191), (192) e (193), com o verbo lamentar regista-se um maior número de
produções no pretérito perfeito composto (9 ocorrências; 22.5%), como se exemplifica
em (190) – cf. quadro 3, anexo 7.
A única produção agramatical no indicativo é uma forma perifrástica, que ocorre com o
verbo prever (cf. quadro 3, anexo 7) e corresponde a 2.5% do total de ocorrências (cf.
(194)).
(194) *O Instituto de Meteorologia não prevê que irá ocorrer alguma tempestade.
As produções dos sujeitos, no que diz respeito aos tempos verbais seleccionados,
encontram-se registadas no gráfico 14.
88
Grupo de Verbos II
F. Perifrásticas (Fut)2,5%
Presente72,5%
F. Perifrásticas (Pres)2,5%
Pret. Perfeito Composto22,5%
Gráfico 14 – Modos e respectivos tempos verbais produzidos pelos sujeitos do grupo I
(10º ano) no grupo de verbos II.
No que concerne aos verbos sentir, achar, prometer e dizer (grupo de verbos III), os
sujeitos seleccionam ambos os modos, como permitido pela gramática-alvo, embora
prefiram o indicativo (65%), exemplificado em (195) e (196):
(195) As minhas primas não acham que eu sou a mais divertida.
(196) Nós nunca dizemos que estamos num bom momento financeiro.
Neste grupo de verbos e relativamente ao modo indicativo, predominam as formas
perifrásticas (32.5%, percentagem correspondente a 13 ocorrências), a maioria das quais
com o auxiliar no presente (5 ocorrências com o auxiliar ir no presente; 6 com o auxiliar
estar no presente e 2 com o auxiliar ir no futuro) – cf. quadro 3, anexo 7 –, como se
pode verificar nas frases (197) e (198):
(197) Eles não sentem que está a acontecer um sismo.
(198) Ele nunca promete que vai chegar a horas de poder almoçar com a família.
A registar 9 ocorrências (22.5%) surge, em segundo lugar, o presente (cf. (199)), tempo
este que é produzido pelos sujeitos com todos os verbos que constituem este grupo, à
excepção do verbo sentir – cf. quadro 3, anexo 7. A selecção do pretérito perfeito (cf.
Indicativo
Conjuntivo
89
(200)) e do futuro (cf. (201)) é pouco expressiva, correspondendo o primeiro apenas a 3
ocorrências (7.5%) e o segundo a 1 ocorrência (2.5%) – cf. quadro 3, anexo 7.
(199) Nós nunca dizemos que temos algumas dúvidas.
(200) Eles não sentem que estiveram mal durante o jogo.
(201) Ele nunca promete que voltará a estudar.
No que diz respeito às produções com o modo conjuntivo, podemos verificar, através do
quadro 9, que estas representam 32.5% do total dos dados. À excepção do verbo dizer,
este modo é seleccionado pelos sujeitos com todos os verbos, sendo de evidenciar o
verbo achar por registar 8 ocorrências neste modo, um número superior relativamente
aos restantes (cf. quadro 3, anexo 7). Como exemplo da selecção do conjuntivo,
atente-se nas seguintes frases:
(202) Eles não sentem que os salários sejam justos.
(203) As minhas primas não acham que eu esteja mais gorda.
Pela leitura do gráfico 15, verifica-se que o tempo verbal mais produzido no modo
conjuntivo é o presente (cf. (204)), com 11 ocorrências (27.5%), que envolvem apenas
os verbos sentir e achar, sendo que o verbo achar regista 8 dessas ocorrências. Com 2
ocorrências com o verbo prometer (5%), surgem, em seguida, as formas perifrásticas
(cf. 205)), ambas com o auxiliar ir no presente (cf. quadro 3, anexo 7).
(204) As minhas primas não acham que eu seja uma pessoa exigente.
(205) Ele nunca promete que vá mudar a sua personalidade.
Na frase com o verbo dizer, frase 29 (“Nós nunca dizemos que …”), regista-se uma
frase alterada em termos de estrutura (A.F.; cf. (206)), motivo pelo qual não pôde ser
considerada para a apuração dos dados (2.5%) - cf. quadro 3, anexo 7.
(206) Nós nunca dizemos que não!
O gráfico 15 reúne a informação relativa à selecção dos tempos verbais em cada modo.
90
Grupo de Verbos III
Presente22,5%
Futuro2,5%
F. Perifrásticas (Pres/Fut)32,5%
A. F. 2,5%
Presente27,5%
F. Perifrásticas (Pres)5,0%
Pretérito Perfeito7,5%
Gráfico 15 – Modos e respectivos tempos verbais produzidos pelos sujeitos do grupo I
(10º ano) no grupo de verbos III.
Relativamente ao verbo duvidar (grupo IV), que admite ambos os modos na encaixada,
há uma maior produção do modo indicativo, com um total de 7 ocorrências (70%; cf.
(207)), de entre as quais 5 envolvem o presente, como exemplificado em (208) (cf.
gráfico 16) – cf. quadro 3, anexo 7.
(207) O Engenheiro nunca duvida que os seus projectos irão ser aceites.
(208) O Engenheiro nunca duvida que os seus cálculos estão correctos.
A observação do gráfico 16 permite-nos também verificar que o modo conjuntivo
representa 20% do total das produções, com 2 ocorrências no presente (cf. quadro 3,
anexo 7), tempo este que figura no exemplo seguinte:
(209) O Engenheiro nunca duvida que os seus planos estejam errados.
Um dos sujeitos alterou a frase 23 (“O Engenheiro nunca duvida que …”), produzindo
uma estrutura agramatical (cf. quadro 3, anexo 7):
(210) *O Engenheiro nunca duvida que de mim.
O gráfico 16 dá conta dos tempos verbais produzidos em cada modo pelos sujeitos.
Alterou frase
Indicativo
Conjuntivo
91
Grupo de Verbos IV
Presente50,0%
F. Perifrásticas (Fut)10,0%
Pretérito Perfeito10,0%
Presente20,0%
A. F. 10,0%
Gráfico 16 – Modos e respectivos tempos verbais produzidos pelos sujeitos do grupo I
(10º ano) no grupo de verbos IV.
Relativamente ao grupo de verbos V (verbos acreditar, imaginar e suspeitar), que
selecciona os dois modos na encaixada, verifica-se que, do total das produções, o
indicativo representa de novo a preferência dos sujeitos: 73.4% contra 26.6% do
conjuntivo. A selecção destes dois modos apresenta-se em (211) e (212),
respectivamente:
(211) a. Tu nunca acreditas que eu canto com sentimento.
b. Tu nunca acreditas que ele diga a verdade.
(212) a. O polícia não suspeita que o Sr. Mário foi roubado.
b. O polícia não suspeita que ele tenha roubado o carro.
De acordo com a informação apresentada no gráfico 17, podemos verificar que, no que
diz respeito às produções no indicativo, o tempo mais produzido pelos sujeitos é o
presente (33.3%), que corresponde a 10 ocorrências, envolvendo todos os verbos (cf.
quadro 3, anexo 7), maioritariamente os verbos acreditar e imaginar:
(213) Tu nunca acreditas que Deus existe.
(214) O Ricardo e o Artur não imaginam que eu sou de Beja.
Alterou frase
Indicativo
Conjuntivo
92
Além do presente, os sujeitos seleccionaram ainda nas suas produções as formas
perifrásticas e o pretérito perfeito (cf. gráfico 17), que registam um valor percentual
idêntico, a saber, 20%. Relativamente às formas perifrásticas, registam-se 6 ocorrências,
5 das quais com o verbo auxiliar no presente (cf. (215)); quanto às produções no
pretérito perfeito, a maioria envolve o verbo suspeitar (cf. (216)) – cf. quadro 3, anexo
7.
(215) O Ricardo e o Artur não imaginam que neste momento estão a ser alvo de um
inquérito.
(216) O polícia não suspeita que a pequena Maddie foi vítima de um engano.
Os tempos verbais produzidos no conjuntivo são o presente e o pretérito perfeito
composto, com um valor percentual idêntico de 13.3% (cf. gráfico 17), que corresponde
a 4 ocorrências para cada verbo matriz. Com mais ocorrências no conjuntivo (1
ocorrência no presente e 4 ocorrências no pretérito perfeito composto), destaca-se o
verbo suspeitar. Exemplificam estas produções as frases (217) e (218):
(217) Tu nunca acreditas que o mundo possa melhorar.
(218) O polícia não suspeita que um recluso tenha escapado da prisão.
Neste gráfico são identificados os tempos verbais seleccionados pelos sujeitos,
relativamente a cada modo.
93
Grupo de Verbos V
Presente33,3%
F. Perifrásticas (Pres/Fut)20,0%
Pretérito Perfeito20,0%
Pret. Perfeito Composto13,3%
Presente13,3%
Gráfico 17 – Modos e respectivos tempos verbais produzidos pelos sujeitos do grupo I
(10º ano) no grupo de verbos V.
Por último, com o verbo pensar (grupo VI), os dados dos sujeitos revelam uma
preferência pelo indicativo, observando-se 6 ocorrências com este modo (60%) e 4
ocorrências com o conjuntivo (40%); vejam-se, a título exemplificativo, (219) e (220) –
cf. quadro 3, anexo 7:
(219) Os teus pais não pensam que tu sabes a matéria?
(220) Os teus pais não pensam que estejas aqui.
Relativamente aos tempos verbais que ocorrem no modo indicativo (cf. gráfico 18),
regista-se a preferência pelo pretérito perfeito, com um valor percentual de 30% (3
ocorrências; cf. (221)), e pelas formas perifrásticas, com 20% (2 ocorrências, uma com
o auxiliar no presente e outra com o mesmo no futuro, respectivamente; cf. (222)) – cf.
quadro 3, anexo 7.
(221) Os teus pais não pensam que tu faltaste às aulas.
(222) Os teus pais não pensam que tu andas a vandalizar a rua à noite.
No conjuntivo, os tempos verbais seleccionados pelos sujeitos foram o presente, com 3
ocorrências (30%), e o pretérito perfeito composto, com apenas 1 ocorrência (10%),
Indicativo
Conjuntivo
94
como ilustram os dados presentes em (223) e (224), respectivamente – cf. quadro 3,
anexo 7:
(223) Os teus pais não pensam que o futebol seja importante
(224) Os teus pais não pensam que tenhas estudado o suficiente.
No gráfico 18 apresentam-se os valores percentuais relativos aos tempos utilizados
pelos sujeitos em cada modo.
Grupo de Verbos VI
Presente10,0%
F. Perifrásticas (Pres/Fut)20,0%
Pretérito Perfeito30,0%
Pret. Perfeito Composto10,0%
Presente30,0%
Gráfico 18 – Modos e respectivos tempos verbais produzidos pelos sujeitos do grupo I
(10º ano) no grupo de verbos VI.
Em síntese, os dados apresentados, relativos à interferência do operador de negação
frásica na selecção do modo da encaixada, permitem-nos afirmar que:
(i) No grupo de verbos I, os sujeitos seleccionam, conforme o alvo, o modo indicativo
em todas as produções, registando este modo 100% do total das ocorrências.
(ii) Quanto ao grupo II, cujos verbos seleccionam conjuntivo na oração complemento,
verifica-se uma reduzida percentagem de produções incorrectas (no indicativo) face a
Indicativo
Conjuntivo
95
uma percentagem elevada de produções conformes com o alvo (conjuntivo), a saber,
2.5% e 97.5%, respectivamente.
(iii) Com os restantes grupos de verbos (III, IV, V e VI), que seleccionam ou o
indicativo ou o conjuntivo na encaixada, verifica-se que em todos os grupos o indicativo
é o modo mais produzido pelos sujeitos, embora também se registem frases com o
conjuntivo.
(iv) As frases que envolvem o indicativo e que se verificam em todos os grupos de
verbos revelam que o tempo verbal mais produzido pelos sujeitos é o presente. Em
segundo lugar, assumem relevância as formas perifrásticas, com o verbo auxiliar
predominantemente no presente. Por último, a ocupar um número elevado de
ocorrências, surge o pretérito perfeito.
Com base nos dados obtidos para o conjuntivo (grupos de verbos II, III, IV, V e VI)
podemos constatar que o presente é também o tempo mais seleccionado pelos sujeitos,
seguido do pretérito perfeito composto e, por fim, com um valor percentual baixo, das
formas perifrásticas, cujo auxiliar se encontra sempre no presente.
96
3.1.2.2. Grupo de sujeitos II (12º Ano)
Nesta secção são descritos os dados produzidos pelo segundo grupo de sujeitos (12º
ano). Assim, o quadro 11 apresenta a percentagem obtida na selecção dos modos
indicativo e conjuntivo na oração completiva por este grupo de sujeitos, na presença de
um marcador de negação frásica na frase matriz.
Produções dos Sujeitos (%) Grupo
de Verbos
Modo
seleccionado na encaixada Indicativo Conjuntivo
I
Indicativo
100%
0%
II
Conjuntivo
0%
100%
III
Indicativo/ Conjuntivo
75%
25%
IV
Indicativo/ Conjuntivo
70%
30%
V
Indicativo/ Conjuntivo
56.7%
43.3%
VI
Indicativo/ Conjuntivo
100%
0%
Quadro 11 – Modos(s) seleccionado(s) no teste de produção pelo grupo de sujeitos I
(10º ano).
No que diz respeito aos verbos afirmar e saber (grupo de verbos I), os dados produzidos
pelos sujeitos do grupo II revelam que o indicativo é o único modo seleccionado,
apresentando o valor de 100%, como ilustram as frases (225) e (226):
(225) O Paulo nunca afirma que não falhará.
(226) O patrão não sabe que ele chega sempre atrasado ao trabalho.
Com base nos valores representados no gráfico 19, verifica-se que o tempo verbal mais
seleccionado pelos sujeitos é o presente, apresentando um valor percentual de 70%, que
97
corresponde a 14 ocorrências distribuídas equitativamente pelos dois verbos – cf.
quadro 4, anexo 7. As frases (227) e (228) exemplificam as ocorrências com este tempo
verbal:
(227) O Paulo nunca afirma que o Benfica é a melhor equipa.
(228) O patrão não sabe que o empregado engana os clientes.
Este tempo é seguido pelo pretérito perfeito, que apresenta 3 ocorrências (15%), todas
com o verbo saber, e pelas formas perifrásticas, que registam 2 ocorrências com o verbo
afirmar (10%), ambas com o auxiliar no presente (cf. quadro 4, anexo 7). Exemplificam
estas produções as frases (229) e (230), respectivamente:
(229) O patrão não sabe que o João saiu mais cedo.
(230) O Paulo nunca afirma que vai tirar boa nota num teste.
De acordo com as produções dos sujeitos, o gráfico 19 apresenta os tempos verbais
seleccionados.
Grupo de Verbos I
Presente70,0%
Futuro do Pretérito5,0%
F. Perifrásticas (Pres)10,0%
Pretérito Perfeito15,0%
Gráfico 19 – Modo e respectivos tempos verbais produzidos pelos sujeitos do grupo II
(12º ano) no grupo de verbos I.
Relativamente ao grupo de verbos II (verbos lamentar, querer, esperar e prever), não
há produções no modo indicativo. Por conseguinte, todas os sujeitos seleccionam, nas
Indicativo
98
suas produções, o conjuntivo, que apresenta 100% do total dos dados apurados, como se
verifica nos exemplos (231) e (232).
(231) Os jovens não querem que os pais controlem as suas vidas.
(232) A enfermeira Ana não espera que o resultado seja positivo.
As informações apresentadas no gráfico 20 revelam que os tempos produzidos neste
modo são o presente, com 31 ocorrências (77.5%; cf. (233) e (234)), e o pretérito
perfeito composto, com 9 ocorrências (22.5%; cf. (235)) – cf. quadro 4, anexo 7.
(233) A enfermeira Ana não espera que o Dr. João diagnostique a doença do Sr.
Silva.
(234) O Instituto de Meteorologia não prevê que chova para a próxima semana.
(235) A Ana, o Rui e a Mafalda não lamentam que a escola tenha fechado.
O verbo lamentar destaca-se dos verbos querer, esperar e prever, na medida em que
regista um maior número de ocorrências do pretérito perfeito composto na encaixada (9
ocorrências; cf. (235)), enquanto os outros verbos apresentam apenas o verbo encaixado
no presente – cf. quadro 4, anexo 7.
Considere-se, assim, o gráfico 20, que regista os valores percentuais relativos a cada
tempo verbal produzido pelos sujeitos.
99
Grupo de Verbos II
Presente77,5%
Pret. Perfeito Composto22,5%
Gráfico 20 – Modo e respectivos tempos verbais produzidos pelos sujeitos do grupo II
(12º ano) no grupo de verbos II.
As ocorrências registadas no grupo de verbos III (verbos sentir, achar, prometer e
dizer) permitem-nos verificar que o indicativo é o modo preferido dos sujeitos, com 30
ocorrências (75%), por oposição a 10 ocorrências no conjuntivo (25%) – cf. quadro 4,
anexo 7. As produções destes dois modos encontram-se exemplificadas em (236) e
(237), respectivamente:
(236) Nós nunca dizemos que o dia de amanhã será surpreendente.
(237) Ele nunca promete que esta seja a última vez.
O tempo predominante no modo indicativo é o presente, com 42.5% (cf. gráfico 21),
que corresponde a 17 ocorrências (cf. quadro 4, anexo 7). Embora este tempo verbal
seja produzido com todos os verbos que constituem o grupo III, salienta-se o verbo
dizer, por registar 8 das 17 ocorrências (cf. quadro 4, anexo 7). A este propósito vejam-
se os dados em (238) e (239):
(238) Eles não sentem que o Instituto os prepara correctamente.
(239) Nós nunca dizemos que a vida é uma desgraça, mas, no entanto, pensamo-lo.
Em segundo lugar, com 15%, surgem as formas perifrásticas (com o auxiliar
predominantemente no presente), que registam um maior número de ocorrências com o
Conjuntivo
100
verbo sentir (cf. quadro 4, anexo 7). Com um valor um pouco inferior, 12.5%, o futuro
regista 5 ocorrências, 4 das quais com o verbo prometer (cf. quadro 4, anexo 7). Em
(240) e (241) encontram-se as produções dos sujeitos que exemplificam a selecção
destes dois tempos verbais, respectivamente:
(240) Eles não sentem que está a chover.
(241) Ele nunca promete que deixará de fumar.
O conjuntivo, por seu turno, ocorre predominantemente no presente (20%), tempo este
que ocorre em 8 frases, que envolvem apenas os verbos achar e prometer, sendo que 6
dessas ocorrências envolvem o verbo achar (cf. (242)) – cf. quadro 4, anexo 7.
Consequentemente, as produções com o verbo achar, ao invés do que acontece com os
restantes verbos, registam uma maior produção no conjuntivo (60%), em detrimento do
indicativo (40%).
(242) As minhas primas não acham que o Paulo seja simpático.
Os dados recolhidos revelam também a ocorrência de duas formas perifrásticas com o
verbo sentir (5%), em que o verbo auxiliar estar se encontra no presente (cf. quadro 4,
anexo 7), como abaixo se exemplifica:
(243) Eles não sentem que estejam a aprender nas aulas de piano.
O gráfico 21 reúne a informação relativa aos tempos verbais seleccionados pelos
sujeitos em cada modo.
101
Grupo de Verbos III
Presente42,5%
Futuro12,5%
F. Perifrásticas (Pres/P.I.)15,0%
Pretérito Perfeito2,5%
Presente20,0%
F. Perifrásticas (Pres)5,0%
Futuro do Pretérito2,5%
Gráfico 21 – Modos e respectivos tempos verbais produzidos pelos sujeitos do grupo II
(12º ano) no grupo de verbos III.
O indicativo é, de novo, predominante nas produções com o verbo duvidar (grupo de
verbos IV), correspondendo ao valor percentual de 70%, por oposição ao conjuntivo,
que ocorre em 30% das produções. Estas produções encontram-se exemplificadas nas
frases seguintes:
(244) O Engenheiro nunca duvida que a sua obra é das melhores do país.
(245) O Engenheiro nunca duvida que as paredes estejam bem feitas.
Como se verifica no gráfico 22, no modo indicativo, o presente é o tempo mais
seleccionado (cf. (246)), correspondendo a metade das produções que envolvem este
modo. O pretérito perfeito (cf. (247)) e o futuro (cf. (248)) apresentam valores idênticos
(10%), mais baixos que os do presente.
(246) O Engenheiro nunca duvida que as suas obras são de boa qualidade.
(247) O Engenheiro nunca duvida que tirou o curso que realmente queria.
(248) O Engenheiro nunca duvida que o projecto ficará bem feito.
Indicativo
Conjuntivo
102
Quando ocorre o conjuntivo, o único tempo seleccionado pelos sujeitos é o presente,
apresentando 3 ocorrências (cf. quadro 4, anexo 7), que correspondem a 30% do total
dos dados obtidos (cf. (249)).
(249) O Engenheiro nunca duvida que as medidas estejam mal tiradas.
A informação sobre a produção dos tempos verbais encontra-se documentada no gráfico
que abaixo se apresenta.
Grupo de Verbos IV
Presente50,0%
Futuro10,0%
Pretérito Perfeito10,0%
Presente30,0%
Gráfico 22 – Modos e respectivos tempos verbais produzidos pelos sujeitos do grupo II
(12º ano) no grupo de verbos IV.
No que concerne ao grupo de verbos V (verbos acreditar, imaginar e suspeitar) e, de
acordo com a informação disponibilizada no quadro 10, a produção dos modos
indicativo e conjuntivo apresenta um valor aproximado: o indicativo representa 56.7%
das ocorrências (cf. (250)), enquanto o conjuntivo corresponde a um valor percentual de
43.3% (cf. (251)).
(250) O Ricardo e o Artur não imaginam que o seu amigo João está doente.
(251) Tu nunca acreditas que D. Sebastião regresse.
Indicativo
Conjuntivo
103
Todos os verbos deste grupo registam produções no conjuntivo, embora o verbo
suspeitar apresente, relativamente aos restantes, um maior número de ocorrências,
nomeadamente 7 – cf. quadro 4, anexo 7 –, como se ilustra em (252):
(252) O polícia não suspeita que o meu pai tenha morto o sem-abrigo.
Em ambos os modos, o tempo mais utilizado pelos sujeitos é o presente (cf. gráfico 23),
com 33.3% (10 ocorrências) para o indicativo e 23.3% (7 ocorrências) para o conjuntivo
– cf. quadro 4, anexo 7. Os dados presentes em (253) e (254) exemplificam estas
produções:
(253) Tu nunca acreditas que tens mais capacidades do que aquilo que pensas.
(254) O Ricardo e o Artur não imaginam que as suas notas sejam assim tão baixas.
Nas construções com o indicativo, as formas perifrásticas (com o auxiliar no presente),
como se observa em (255), e o pretérito perfeito, presente em (256), apresentam,
relativamente ao presente, um valor percentual inferior, a saber, 10%.
(255) O polícia não suspeita que o João o está a enganar.
(256) O Ricardo e o Artur não imaginam que eu lhes arrumei o quarto.
Quanto às estruturas que envolvem o conjuntivo, o pretérito perfeito composto, com 5
ocorrências na presença do verbo suspeitar (16.7%; cf. (257)), é o segundo tempo mais
seleccionado pelos sujeitos – cf. quadro 4, anexo 7.
(257) O polícia não suspeita que eu tenha roubado a gargantilha.
Pode observar-se, no gráfico 23, os tempos verbais produzidos pelos sujeitos em cada
modo.
104
Grupo de Verbos V
Presente33,3%
F. Perifrásticas (Pres)10,0%
Pretérito Perfeito10,0%
Presente23,3%
Pret. Perfeito Composto16,7%
Pretérito Imperfeito3,3%
Futuro do Pretérito3,3%
Gráfico 23 – Modos e respectivos tempos verbais produzidos pelos sujeitos do grupo II
(12º ano) no grupo de verbos V.
Finalmente, as produções relativas ao verbo pensar (grupo VI) envolvem todas o
indicativo, não se verificando ocorrências no conjuntivo.
(258) Os teus pais não pensam que tu ouves música apropriada.
O gráfico 24 permite-nos observar que, com 70% (7 ocorrências), se salienta o presente
do indicativo como o tempo mais produzido pelos sujeitos (cf. (259)), tendo o futuro (cf.
(260)) e as formas perifrásticas (auxiliar andar no presente; cf. (261)) um valor idêntico,
10% (1 ocorrência cada), consideravelmente inferior ao do presente – cf. quadro 4,
anexo 7.
Registou-se, porém, a alteração de uma frase (frase 21; cf. (262)), cuja estrutura não foi
respeitada (cf. quadro 4, anexo 7).
(259) Os teus pais não pensam que tu te comportas mal.
(260) Os teus pais não pensam que poderás fazer alguma coisa que eles não gostem.
(261) Os teus pais não pensam que tu andas a faltar às aulas.
(262) *Os teus pais não pensam que naquilo que aconteceu.
Indicativo
Conjuntivo
105
O gráfico 24 apresenta o valor percentual relativo à produção de cada tempo verbal
neste grupo de verbos.
Grupo de Verbos VI
Presente70,0%
Futuro10,0%
F. Perifrásticas (Pres)10,0%
A. F.10,0%
Gráfico 24 – Modo e respectivos tempos verbais produzidos pelos sujeitos do grupo II
(12º ano) no grupo de verbos VI.
Sintetizando, os dados descritos nesta secção permitem-nos afirmar que, na presença do
marcador de negação frásica na frase superior:
(i) o grupo de verbos I que, na presença da negação na oração matriz, selecciona o modo
indicativo na encaixada, apresenta 100% de produções correctas neste modo.
(ii) o grupo de verbos II, que selecciona na completiva o conjuntivo, revela uma taxa de
sucesso de 100%, estando todas as produções conforme o alvo.
(iii) quanto aos grupos de verbos de selecção dupla (grupos de verbos III, IV, V e VI),
podemos constatar que, com todos, o indicativo é o modo que regista um número de
ocorrências superior relativamente ao conjuntivo. No entanto, no grupo V, o valor
percentual obtido em cada modo é aproximado: 56.7% para o indicativo e 43.3% para o
conjuntivo. O grupo VI é, de todos, o único em que não há produções no conjuntivo,
representando, assim, o indicativo 100% do total das ocorrências.
Indicativo
Alterou frase
106
(iv) De entre os tempos verbais produzidos no modo indicativo (grupos de verbos I, III,
IV, V e Vl), o presente é, em todas as construções, o que regista o maior número de
ocorrências, sendo, por isso, o tempo predominante. Os dados revelam também que o
número de formas perifrásticas é elevado, tendo o verbo auxiliar predominantemente no
presente. Seguem-se o pretérito perfeito e o futuro, com um número de ocorrências um
pouco inferior, mas igualmente relevante.
No que diz respeito às produções em que os sujeitos seleccionam o modo conjuntivo,
verifica-se que o presente, à semelhança do que acontece com o indicativo, é o tempo
verbal predominante, seguido do pretérito perfeito e, por último, com uma presença
pouco significativa, das formas perifrásticas, cujo auxiliar se encontra sempre no
presente.
3.1.3. Síntese comparada
Tendo por base os dados descritos nas secções anteriores, procede-se agora à
sistematização dos resultados obtidos pelos dois grupos de sujeitos no teste de
produção.
Relativamente às propriedades do verbo matriz e à selecção do modo em frases
afirmativas, verifica-se que:
- Nos grupos de verbos que seleccionam o modo indicativo na encaixada,
nomeadamente nos grupos I (afirmar e saber) e III (sentir, achar, prometer e dizer), os
dois grupos de sujeitos registam 100% de ocorrências no indicativo. Os tempos mais
produzidos pelos sujeitos são o presente do indicativo, mesmo nos contextos em que são
utilizadas as formas perifrásticas. Assim, com estes dois grupos de verbos, a taxa de
sucesso é total.
- No grupo de verbos II (lamentar, querer e esperar), verbos que seleccionam o modo
conjuntivo na encaixada, o grupo de sujeitos I (10º ano) apresenta 96.7% de produções
no conjuntivo e o grupo de sujeitos II (12º ano) 100%. O presente do conjuntivo é o
tempo mais produzido pelos dois grupos de sujeitos (10º e 12º anos), apresentando em
107
ambos um valor percentual de 93.3%. Por conseguinte, a percentagem de produções
incorrectas, que se verifica apenas no grupo de sujeitos I (10º ano), é de 3.3%.
- Na frase com o verbo matriz duvidar (grupo IV), que selecciona o modo conjuntivo na
encaixada, o grupo de sujeitos I (10º ano) apresenta 60% de produções no modo
conjuntivo e 40% de produções (incorrectas) no indicativo; o grupo de sujeitos II (12º
ano), por seu turno, apresenta 100% de produções no conjuntivo. No indicativo, os
sujeitos do grupo I utilizam essencialmente o pretérito perfeito; no conjuntivo, os dois
grupos de sujeitos produzem predominantemente o presente e, também com um valor
significativo, o pretérito perfeito composto.
O grupo de sujeitos I regista, assim, uma taxa de insucesso de 40% enquanto o grupo de
sujeitos II não apresenta produções incorrectas.
- Com os verbos do grupo V (acreditar, imaginar, suspeitar e prever), que seleccionam
ou o modo indicativo ou o modo conjuntivo na encaixada, os dois grupos de sujeitos
optam maioritariamente pelo indicativo em detrimento do conjuntivo, numa média de
82.5% para o indicativo face a 16% para o conjuntivo. De entre as ocorrências no
indicativo, o presente é o tempo mais produzido pelos sujeitos. As ocorrências no
conjuntivo envolvem sobretudo os verbos suspeitar e prever e, com estes verbos,
predomina também a utilização do presente.
- Com o verbo pensar (grupo de verbos VI), admite-se igualmente selecção modal dupla
na encaixada, embora, como já referido anteriormente, a selecção do conjuntivo possa
ser considerada marginal por alguns falantes. Os dados recolhidos neste grupo, revelam
que os sujeitos produzem apenas o modo indicativo, predominando o presente com
80%. Assim, verifica-se uma preferência absoluta pelo indicativo, modo este que regista
100% do total das ocorrências.
O quadro que se segue reúne a informação acima explicitada:
108
Modo seleccionado na encaixada (%)
Indicativo Conjuntivo
Grupo
de
Verbos
Modo
seleccionado na
encaixada GS I GS II GS I GS II
I Indicativo
100%
100%
0%
0%
II Conjuntivo
3.3%
0%
96.7%
100%
III Indicativo
100%
100%
0%
0%
IV Conjuntivo
40%
0%
60%
100%
V
Indicativo/ Conjuntivo
82.5%
82.5%
15%
17.5%
VI
Indicativo/ ?Conjuntivo
100%
100%
0%
0%
Quadro 12 – Distribuição dos modos indicativo e conjuntivo na encaixada, nas
produções dos grupos de sujeitos I (10º ano) e II (12º ano).
Ainda no âmbito do teste de produção, verificou-se que, na presença de um operador de
negação na oração matriz:
- Com o grupo de verbos I (afirmar e saber), que selecciona o modo indicativo na
encaixada, todas as produções dos dois grupos de sujeitos estão conforme o alvo, ou
seja, o indicativo regista 100% do total de ocorrências. Em ambos os grupos de sujeitos
o tempo verbal mais seleccionado é o presente (40% para o grupo I de sujeitos e 70%
para o grupo II de sujeitos). O pretérito perfeito e as formas perifrásticas, com o auxiliar
predominantemente no presente, revelam igualmente valores relevantes.
- Nas frases com os verbos matriz lamentar, querer, esperar e prever (grupo de verbos
II), que seleccionam o conjuntivo na encaixada, o grupo de sujeitos I selecciona
maioritariamente o conjuntivo (97.5%), apresentando apenas uma produção agramatical
no indicativo, que corresponde a 2.5% do total de ocorrências.
No caso do grupo II de sujeitos, regista-se 100% de ocorrências no conjuntivo, não
havendo, portanto, produções incorrectas.
109
Os tempos verbais mais produzidos no conjuntivo pelos dois grupos de sujeitos são, em
primeiro lugar, o presente e, em segundo, o pretérito perfeito composto.
- Com os verbos sentir, achar, prometer e dizer (grupo de verbos III), que, nestas
circunstâncias, seleccionam na encaixada ou o indicativo ou o conjuntivo, verifica-se
nos dois grupos de sujeitos uma preferência clara pelo indicativo: 65% para o grupo de
sujeitos I (10º ano) e 75% para o grupo de sujeitos II (12º ano). Neste modo, destaca-se
o presente como o tempo mais utilizado pelos dois grupos de sujeitos.
O conjuntivo apresenta 32.5% de produções no grupo de sujeitos I e 25% de produções
no grupo de sujeitos II, predominando em ambos os grupos de sujeitos o presente, sendo
de destacar o verbo achar por apresentar, relativamente aos restantes verbos que
constituem este grupo, um elevado número de ocorrências em que o modo seleccionado
é o conjuntivo.
- Tal como o grupo de verbos anterior, o grupo de verbos IV (verbo duvidar) sofre os
efeitos na negação na oração matriz e passa a seleccionar os dois modos na encaixada.
Nos dois grupos de sujeitos verifica-se o mesmo comportamento: um número elevado
de ocorrências do modo indicativo (70%) face a um número de ocorrências inferior no
modo conjuntivo (20% e 30% para os grupos I e II, respectivamente). O uso do tempo
do presente é o que predomina com ambos os modos.
- No que diz respeito ao grupo de verbos V (acreditar, imaginar e suspeitar), com
propriedades de selecção modal dupla, os dados revelam que os dois grupos de sujeitos
registam, no indicativo, uma percentagem elevada, a saber 73.4% e 56.7%,
respectivamente. No entanto, enquanto o grupo de sujeitos I (10º ano) apresenta uma
produção reduzida de conjuntivo (26.6%), o grupo de sujeitos II (12º ano) regista um
valor muito próximo do obtido para o indicativo, 43.3%. Assim, no grupo I de sujeitos
há uma preferência clara pelo indicativo; no grupo II de sujeitos verifica-se uma
distribuição próxima dos dois modos.
No indicativo predomina o uso do presente, seguido das formas perifrásticas com o
auxiliar predominantemente no presente e do pretérito perfeito; no conjuntivo
predomina também o uso do presente e, com um valor mais baixo, do pretérito perfeito
composto.
110
- Por fim, com o verbo matriz pensar (grupo VI), que selecciona os dois modos na
encaixada, o grupo de sujeitos I (10º ano) regista um valor percentual de 60% para o
indicativo e de 40% para o conjuntivo, verificando-se, assim, uma preferência pelo
indicativo. No modo indicativo, este grupo de sujeitos selecciona predominantemente o
pretérito perfeito e, no modo conjuntivo, o presente.
O grupo de sujeitos II (12º ano), por seu turno, apresenta 100% de ocorrências no modo
indicativo, predominando o uso do presente.
A sistematização dos dados anteriormente descritos encontra-se no quadro 13:
Modo seleccionado na encaixada (%)
Indicativo Conjuntivo
Grupo
de
Verbos
Modo
seleccionado na
encaixada GS I GS II GS I GS II
I
Indicativo
100%
100%
0%
0%
II
Conjuntivo
2.5%
0%
97.5%
100%
III
Indicativo/ Conjuntivo
65%
75%
32.5%
25%
IV
Indicativo/ Conjuntivo
70%
70%
20%
30% V
Indicativo/ Conjuntivo
73.4%
56.7%
26.6%
43.3%
VI
Indicativo/ Conjuntivo
60%
100%
40%
0%
Quadro 13 – Distribuição dos modos indicativo e conjuntivo na encaixada, na presença
da negação frásica, nas produções dos grupos de sujeitos I (10º ano) e II (12º ano).
111
3.2. Teste II – Avaliação
Como referido anteriormente (cf. Capítulo 2 – Metodologia), o teste de avaliação teve
como objectivo testar o desempenho dos sujeitos na capacidade de identificar frases
gramaticais e sequências agramaticais, tendo em conta as relações de (in)dependência
temporal entre a oração encaixada e a oração superior. É formado por frases em que o
verbo matriz se encontra conjugado ou no presente ou no pretérito perfeito do
indicativo.
Os dados recolhidos no teste II foram, assim, organizados, a fim de dar conta:
(i) das classificações correctas e incorrectas6 relativas a cada verbo - quadros 15
a 17 (secção 3.2.1.1.) e quadros 18 a 20 (secção 3.2.1.2.);
(ii) das avaliações das sequências como correctas (OK) ou incorrectas (*) por
parte dos sujeitos relativamente a cada grupo de verbos (cf. quadros 1 e 2,
anexo 8);
(iii) das classificações correctas e incorrectas por parte dos sujeitos relativamente
aos grupos de verbos, considerados na sua totalidade - gráficos 25 a 27
(secção 3.2.1.1.) e gráficos 28 a 30 (secção 3.2.1.2.).
3.2.1.Relações de (in)dependência temporal
Com base no objectivo estipulado aquando da construção do teste II – relações de
(in)dependência temporal entre a oração matriz e a encaixada – organizaram-se os
verbos em dois grupos (cf. secção 2.1.2.2.): o Grupo de verbos I, composto por 6 frases
gramaticais, cujo verbo superior selecciona na encaixada o modo indicativo; e o Grupo
de verbos II, formado por 24 frases, cujo verbo matriz selecciona na encaixada o modo
conjuntivo. Neste último grupo, 13 frases são gramaticais (Grupo II-A) e 11 frases são
6 Entende-se por classificações correctas a que estão conforme o alvo, e por classificações incorrectas, as que não estão segundo a gramática-alvo.
112
agramaticais (Grupo II-B), na medida em que nestas últimas foi controlado o tempo
verbal da oração complemento.
O quadro 4, repetido nesta secção como quadro 14 por facilidade de exposição,
sistematiza esta informação:
113
Oração Matriz Oração Encaixada Grupo de Verbos Verbo Tempo Modo Indicativo
Tempo Modo Conjuntivo
Tempo
Frase
Presente Forma Perifrástica v. ir pres. + inf.
_ _ _ _ _ _ 13
1. Afirmar Pret. Perfeito Futuro _ _ _ _ _ _
23 Presente Pret. Perfeito _ _ _ _ _ _
6
2. Saber Pret. Perfeito Pret. Perfeito _ _ _ _ _ _
18 Presente Presente _ _ _ _ _ _
3
I
3. Sentir Pret. Perfeito Presente _ _ _ _ _ _
9 Forma Perifrástica v. ir presente + inf.
19
Presente
_ _ _ _ _ _
Presente 22
4a.
Querer e
Desejar
Pret. Perfeito _ _ _ _ _ _ Imperfeito 7
Presente 2 Presente
_ _ _ _ _ _ Forma Perifrástica
v. ir presente + inf.
27 Forma Perifrástica v. ir presente + inf.
10
Imperfeito 12
5a. Sugerir Pret. Perfeito
_ _ _ _ _ _
Presente 29 Forma Perifrástica v. ir presente + inf.
5
Presente
_ _ _ _ _ _
Presente 28 Presente 1 Imperfeito 17
A
6a.
Lamentar Pret. Perfeito
_ _ _ _ _ _
Forma Perifrástica v. ir presente + inf.
25
Futuro *11 Presente
_ _ _ _ _ _ Imperfeito *15 Presente *4 Futuro *14
4b.
Querer e
Desejar
Pret. Perfeito
_ _ _ _ _ _
Forma Perifrástica v. ir presente + inf.
*24
Imperfeito *8 Presente
_ _ _ _ _ _ Futuro *20
5b.Sugerir Pret. Perfeito
_ _ _ _ _ _ Futuro *16
Futuro *21 Presente
_ _ _ _ _ _ Imperfeito *30
II
B
6b.
Lamentar Pret. Perfeito _ _ _ _ _ _ Futuro
*26
Quadro 14 – Tempo verbal dos verbos da oração matriz e da encaixada.
114
Tendo em conta os verbos matriz seleccionados para figurarem neste teste, é possível
verificar que:
(i) Com alguns desses verbos, existe independência temporal da encaixada
relativamente à matriz, pelo que qualquer tempo verbal é aceite na primeira,
independentemente do tempo em que se encontra o verbo superior. Esta situação ocorre
com os verbos que seleccionam indicativo (cf. (263)), mas também com verbos que
seleccionam conjuntivo (cf. (264)). Note-se que, em alguns contextos do conjuntivo,
dadas as propriedades semânticas do verbo superior, podem registar-se algumas
restrições sobre a encaixada (cf. (265)).
(263) a. O Pedro {afirma/ sabe/ sente} que a Joana {está/ esteve/ tinha estado/ estará}
em casa.
b. O Pedro {afirmou/ soube/ sentiu} que a Joana {está/ esteve/ tinha estado/
estará} em casa.
(264) a. O professor lamenta que o aluno {esteja/ ?estivesse/ tenha sido/ tivesse sido/
*estiver} desatento nas aulas.
b. O professor lamentou que o aluno {esteja/ estivesse/ tenha estado/
tivesse estado/*estiver} desatento nas aulas.
(265) O João sugeriu que a Rita vá/ fosse/ *tenha ido/ *tivesse ido/ *for à praia.
(ii) Com outros verbos, que seleccionam o conjuntivo, a encaixada é temporalmente
dependente da matriz, no sentido em que o intervalo de tempo em que a primeira se
localiza é obrigatoriamente determinado a partir do intervalo de tempo em que se
localiza a segunda. Neste caso, só são legítimos alguns tempos verbais na encaixada:
(266) a. Ele {quer/ deseja} que a Inês {vá / *fosse/ *tenha ido/ *tivesse ido/ *for}
à praia.
b. Ele {quis/ desejou} que a Inês {fosse/ tivesse ido/ *vá/ *tenha ido/*for}
à praia.
Veja-se que, no caso dos verbos referidos em (i), é sempre possível localizar
temporalmente o estado de coisas expresso na encaixada relativamente ao momento da
115
enunciação através de advérbios, como amanhã (cf. (267)), o que não acontece com os
verbos referidos em (ii) (cf. (268)).
(267) a. Ontem, o João {afirmou/ soube} que a Maria não vai ao cinema amanhã.
b. Ontem, O João {lamentou/ sugeriu} que a Maria não vá ao cinema amanhã.
(268) *O João {quis/ desejou} que a Maria vá ao cinema amanhã.
3.2.1.1. Grupo de sujeitos I (10º Ano)
Nesta secção, procede-se à apresentação e descrição dos dados produzidos no teste de
avaliação por parte dos sujeitos do grupo I.
Com o grupo de verbos I (afirmar, saber e sentir), composto por 6 frases gramaticais,
verificou-se, na totalidade, 83.3% de classificações correctas e 16.7% de classificações
incorrectas (cf. gráfico 25).
GRUPO DE VERBOS I
83,3%
16,7%
Cl. Correctas
Cl. Incorrectas
Gráfico 25 – Classificações correctas e incorrectas dos sujeitos do grupo I (10º ano),
relativamente ao grupo de verbos I.
Os dados recolhidos revelam um maior número de classificações correctas nas frases
que envolvem os verbos afirmar e saber, quer quando o verbo matriz está no presente
(F13 e F6, “Eles afirmam que a empresa vai conseguir bons resultados.” e “Os
funcionários da loja sabem que os clientes foram exigentes.”, respectivamente), quer
116
quando o mesmo se encontra no pretérito perfeito (F23 e F18, “A Directora do Colégio
afirmou que as aulas começarão em Setembro.” e “ Nós soubemos que a tia Clara
viajou para o Brasil.”, respectivamente). As frases que envolvem estes verbos registam
9 classificações correctas cada, à excepção da frase 13 (cujo auxiliar está no presente:
“Eles afirmam que a empresa vai conseguir bons resultados.”), que apresenta 10
respostas correctas (cf. quadro 1, anexo 8).
Pela leitura do quadro 15, podemos verificar que as frases com o verbo afirmar e com o
verbo saber apresentam um valor percentual elevado de classificações correctas, 95% e
90%, respectivamente.
Relativamente às classificações incorrectas, importa referir o verbo sentir, na medida
em que as frases em que este ocorre, F3 e F9 (“O João sente que os irmãos vêem muita
televisão por dia.” e “O Professor sentiu que os alunos estão desmotivados.”,
respectivamente), apresentam, relativamente às restantes, um maior número de respostas
erradas, a saber, 2 e 5 respectivamente – cf. quadro 1, anexo 8 –, perfazendo um valor
percentual de 35% de classificações incorrectas (cf. quadro 15). Os dados apurados
relativamente à frase 9 mostram que, neste caso, se obtém o mesmo número de
avaliações correctas (5) e de avaliações incorrectas (5), apresentando esta tarefa uma
taxa de sucesso de 50% – cf. quadro 1, anexo 8.
O quadro 15 mostra-nos que, dos três verbos que constituem o grupo de verbos I, o
verbo sentir é o que apresenta um valor inferior de classificações correctas, 65%.
Oração Matriz Classificações (%) Grupo de
Verbos Verbo
Frase
Correctas Incorrectas
13 1. Afirmar 23
95%
5%
6 2. Saber 18
90%
10%
3
I
3. Sentir 9
65%
35%
Quadro 15 – Classificações correctas e incorrectas, atribuídas a cada verbo do grupo de
verbos I, por parte dos sujeitos do grupo I (10º ano).
117
O gráfico 26 permite verificar que o grupo de verbos II-A (querer e desejar, sugerir e
lamentar), constituído por 13 frases gramaticais, apresenta, na totalidade, 79.2% de
classificações correctas e 20.8% de classificações incorrectas.
GRUPO DE VERBOS II - A
79,2%
20,8%
Cl. Correctas
Cl. Incorrectas
Gráfico 26 – Classificações correctas e incorrectas dos sujeitos do grupo I (10º ano),
relativamente ao grupo de verbos II-A.
Relativamente aos verbos querer e desejar, as frases gramaticais 19 e 22 (“O Francisco
quer que o primo vá aprender inglês” e “Nós desejamos que os noivos sejam felizes.”,
respectivamente) não registam nenhuma classificação incorrecta; a frase 7, cujo verbo
superior se encontra no pretérito perfeito (“Eles quiseram que o Pedro viajasse com
eles.”), apresenta apenas uma classificação incorrecta – cf. quadro 1, anexo 8. Na
totalidade, estes verbos registam 96.7% de classificações correctas.
Quanto ao verbo sugerir, apresenta 24% de classificações incorrectas. A este propósito,
destacam-se as frases gramaticais 10 e 29, ambas com o verbo matriz no pretérito
perfeito do indicativo (“A Dulce sugeriu que o marido vá escolher o restaurante.” e “Os
meus amigos sugeriram que eu tire férias para descansar.”, respectivamente), por
apresentarem, cada uma, 60% de avaliações incorrectas contra 40% de classificações
correctas (cf. quadro 1, anexo 8). As restantes frases – 2, 12 e 27 (“Ele sugere que as
obras comecem em Março.”, “Ontem, a Ana sugeriu ao marido que trocasse de carro.” e
“A Educadora sugere que as crianças vão brincar para o jardim.”, respectivamente) –
apresentam 100% de classificações correctas, ou seja, todos os sujeitos as consideram,
correctamente, frases gramaticais – cf. quadro 1, anexo 8. Como se verifica no quadro
16, o verbo sugerir apresenta 76% de classificações correctas.
118
Os dados recolhidos registam ainda, relativamente às frases que envolvem o verbo
lamentar, um valor percentual de 72% para classificações correctas face a um valor de
28% para classificações incorrectas (cf. quadro 16). As frases 5, 17 e 28 (“O Raul e a
Carolina lamentam que a Rita vá sair do país.”, “Elas lamentaram que o Luís estivesse
doente.” e “A Luísa lamenta que o Henrique tenha maus resultados a História.”,
respectivamente) registam 100% de classificações correctas, ao passo que as frases 1 e
25, em que o verbo matriz se encontra no pretérito perfeito do indicativo (“Os pais
lamentaram que o filho seja preguiçoso.” e “Ele lamentou que o Rodrigo vá vender a
casa.”, respectivamente), apresentam um número elevado de classificações incorrectas,
a saber, 9 (90%) e 5 (50%), respectivamente – cf. quadro 1, anexo 8.
Oração Matriz Classificações (%) Grupo
de Verbos Verbo
Frase
Correctas Incorrectas
7 19
4a. Querer e
Desejar 22
96.7%
3.3%
2 10 12 27
5a. Sugerir
29
76%
24%
1 5 28 17
II-A
6a. Lamentar
25
72%
28%
Quadro 16 – Classificações correctas e incorrectas, atribuídas a cada verbo do grupo de
verbos II-A, por parte dos sujeitos do grupo I (10º ano).
Os dados recolhidos no caso do grupo de verbos II-B (querer e desejar, sugerir e
lamentar), composto por 11 sequências agramaticais, revelam 92.7% de classificações
correctas e 7.3% de classificações incorrectas (cf. gráfico 27) – cf. quadro 1, anexo 8.
119
GRUPO DE VERBOS II - B
92,7%
7,3%
Cl. Correctas
Cl. Incorrectas
Gráfico 27 – Classificações correctas e incorrectas dos sujeitos do grupo I (10º ano)
relativamente ao grupo de verbos II-B.
Pode-se constatar que todas as sequências agramaticais que integram os verbos querer e
desejar (F4 – “Os filhos quiseram que a mãe faça um bolo.”; F11 – As raparigas
querem que os rapazes olharem para elas.”; F14 – “Tu desejaste que o Bruno for
contigo ao cinema.”; e F15 – “Eu quero que o Manuel deixasse de faltar às aulas.”)
apresentam 100% de avaliações correctas, à excepção da sequência agramatical 24 (“A
mãe quis que o filho vá estudar para o quarto.”), que é classificada por 3 sujeitos como
gramatical – cf. quadro 1, anexo 8.
Relativamente ao verbo sugerir, as sequências agramaticais 16 e 20 (“Os professores
sugeriram que os alunos virem a nova peça de teatro.” e “Eu e a Carla sugerimos que a
mãe fizer lasanha.”, respectivamente) não suscitam dúvidas aos sujeitos, registando
100% de classificações correctas. A sequência agramatical 8 (“Os Bancos sugerem que
os clientes comprassem acções.”), por sua vez, apresenta apenas uma classificação
incorrecta – cf. quadro 1, anexo 8.
Esta situação de sucesso repete-se nas frases relativas ao verbo lamentar, pois as
sequências agramaticais 21 e 26 (“Tu lamentas que a Cristina souber da verdade.” e “Eu
lamentei que tu partires tão cedo.”, respectivamente) apresentam, cada uma, 90% de
classificações correctas – cf. quadro 1, anexo 8. Na sequência agramatical 30 (“Os avós
lamentam que os netos fumassem às escondidas.”) verifica-se, com um valor um pouco
inferior, uma taxa de sucesso elevada, 80% – cf. quadro 1, anexo 8.
120
Como revela o quadro 17, todos os verbos que constituem o grupo II-B (verbos querer e
desejar, sugerir e lamentar) apresentam um elevado valor percentual de classificações
correctas (todos acima dos 85%), embora o verbo lamentar registe uma maior
percentagem de avaliações incorrectas (13.3%).
Oração Matriz Classificações (%) Grupo
de Verbos Verbo
Seqs.
Agram. Correctas Incorrectas
*4 *11 *14 *15
4b. Querer e
Desejar
*24
94%
6%
*8 *16
5b. Sugerir *20
96.7%
3.3%
*21 *26
II – B
6b. Lamentar *30
86.7%
13.3%
Quadro 17 – Classificações correctas e incorrectas, atribuídas a cada verbo do grupo de
verbos II-B, por parte dos sujeitos do grupo I (10º ano).
Em síntese, os resultados do teste de avaliação, aplicado ao grupo I de sujeitos (10º
ano), revelam que:
(i) As tarefas relativas a todos os grupos de verbos apresentam, na totalidade, uma
elevada taxa de sucesso, sendo o valor percentual de classificações correctas superior a
75%.
(ii) Com o grupo de verbos I, composto por frases gramaticais, regista-se um maior
número de classificações correctas quando ocorrem os verbos afirmar e saber. As
classificações incorrectas, por seu turno, verificam-se em maior número nas frases com
o verbo sentir (65%), salientando-se sobretudo a frase gramatical 9, por constituir, junto
dos sujeitos, uma sequência problemática, uma vez que 5 sujeitos a consideram
agramatical. Na totalidade, este grupo de verbos apresenta 83.3% de classificações
correctas face a 16.7% de classificações incorrectas.
121
(iii) O grupo II-A, constituído por frases gramaticais com os verbos querer e desejar,
sugerir e lamentar, apresenta, por parte dos sujeitos, 79.2% de classificações correctas e
20.8% de classificações incorrectas. Relativamente às classificações correctas, as
sequências gramaticais com os verbos querer e desejar são as que registam um melhor
desempenho por parte dos sujeitos (96.7%). Quanto às classificações incorrectas,
importa referir as frases gramaticais 10 e 29, ambas construídas com o verbo sugerir,
por serem avaliadas por 6 sujeitos como agramaticais. Com o verbo lamentar, regista-se
dois casos a considerar: a frase gramatical 1, com 90% de classificações incorrectas e,
com um valor inferior, a frase 25, que apresenta 50% de classificações incorrectas.
(iv) Com todos os verbos do grupo II-B (querer e desejar, sugerir e lamentar) verifica-
se um reduzido número de classificações incorrectas (6% para os verbos querer e
desejar, 3.3% para o verbo sugerir e 13.3% para o verbo lamentar). A este propósito,
salientam-se as sequências agramaticais 24 (verbos matriz querer e desejar) e 30 (verbo
matriz lamentar), por apresentarem 3 e 2 classificações incorrectas, respectivamente.
Assim, de todos os grupos considerados, o grupo II-B é o que regista o maior valor
percentual de classificações correctas e, consequentemente, o menor valor de
classificações incorrectas, a saber, 92.7% e 7.3%, respectivamente.
3.2.1.2. Grupo de sujeitos II (12º Ano)
Nesta secção, são apresentados os resultados obtidos no teste de avaliação,
relativamente às classificações atribuídas pelos sujeitos do grupo II (12º ano) a cada
grupo de verbos.
Considere-se, em primeiro lugar, o grupo de verbos I (afirmar, saber e sentir),
constituído por frases gramaticais, cujos resultados totais se apresentam no gráfico 28.
Neste grupo regista-se 76.7% de classificações correctas, sendo de destacar as frases
relativas ao verbo afirmar – frases 13 e 23 (“Eles afirmam que a empresa vai conseguir
bons resultados.” e “ A Directora do Colégio afirmou que as aulas começarão em
Setembro.”, respectivamente) – e a frase 18, que envolve o verbo saber (“Nós soubemos
que a tia Clara viajou para o Brasil.”), por serem avaliadas por todos os sujeitos como
gramaticais – cf. quadro 2, anexo 8.
122
Por outro lado, verifica-se, neste grupo de verbos, que as classificações incorrectas
perfazem um total de 23.3% do total de ocorrências (cf. gráfico 28). Para este valor
percentual concorrem as avaliações incorrectas da frase 6 (3 respostas incorrectas), que
envolve o verbo saber (“Os funcionários da loja sabem que os clientes foram
exigentes.”), e das frases que envolvem o verbo sentir, nomeadamente as frases 3 (2
classificações incorrectas) e 9 (9 classificações incorrectas) – “O João sente que os
irmãos vêem muita televisão por dia.” e “O Professor sentiu que os alunos estão
desmotivados.”, respectivamente - (cf. quadro 2, anexo 8). Os dados recolhidos
permitem-nos igualmente verificar que, de entre as frases anteriormente referidas, a
frase 9 é, de todas, a que apresenta um maior número de classificações incorrectas, na
medida em que, como já acima referido, 9 sujeitos a classificam como agramatical – cf.
quadro 2, anexo 8.
Através do quadro 18, verifica-se que, dos três verbos do grupo I, o verbo sentir é o que
apresenta o valor percentual mais elevado de classificações incorrectas (55%).
Veja-se o gráfico 28, que apresenta as classificações correctas e incorrectas atribuídas
pelos sujeitos ao grupo de verbos I.
GRUPO DE VERBOS I
76,7%
23,3%
Cl. Correctas
Cl. Incorrectas
Gráfico 28 – Classificações correctas incorrectas dos sujeitos do grupo II (12º ano), no
grupo de verbos I.
123
Oração Matriz Classificações (%) Grupo de
Verbos Verbo
Frase
Correctas Incorrectas
13 1. Afirmar 23
100%
0%
6 2. Saber 18
85%
15%
3
I
3. Sentir 9
45%
55%
Quadro 18 – Classificações correctas e incorrectas, atribuídas a cada verbo do grupo de
verbos I, por parte dos sujeitos do grupo II (12º ano).
Atente-se, agora, nos dados relativos ao grupo de verbos II-A (querer e desejar, sugerir
e lamentar), composto por 13 frases gramaticais. Neste caso, as avaliações correctas
correspondem a um valor percentual de 76.2% e as incorrectas de 23.8% (cf. gráfico
29).
GRUPO DE VERBOS II - A
76,2%
23,8%
Cl. Correctas
Cl. Incorrectas
Gráfico 29 – Classificações correctas e incorrectas dos sujeitos do grupo II (12º ano),
no grupo de verbos II-A.
Relativamente a este grupo, as frases 7, 19 e 22 (“Eles quiseram que o Pedro viajasse
com eles.”, “ O Francisco quer que o primo vá aprender inglês.” e “ Nós desejamos que
os noivos sejam felizes.”, respectivamente), que envolvem os verbos matriz querer e
desejar, são maioritariamente classificadas como gramaticais (cf. quadro 2, anexo 8), o
que corresponde a 93.3% de classificações correctas (cf. quadro 19).
124
No que diz respeito ao verbo sugerir, podemos verificar pelo quadro 19 que a
percentagem de classificações correctas é de 68% contra 32% de classificações
incorrectas. As frases gramaticais 2, 12 e 27 (“Ele sugere que as obras comecem em
Março.”, “Ontem, a Ana sugeriu ao marido que trocasse de carro.” e “A Educadora
sugere que as crianças vão brincar para o jardim.”, respectivamente) apresentam 100%
de classificações correctas. Ao contrário destas, as frases gramaticais 10 e 29 (“A Dulce
sugeriu que o marido vá escolher o restaurante.” e “Os meus amigos sugeriram que eu
tire férias para descansar.”, respectivamente), cujo verbo matriz se encontra no pretérito
perfeito e o verbo da encaixada no presente, registam 90% e 70% de classificações
incorrectas, respectivamente – cf. quadro 2, anexo 8.
Por último, nas estruturas que envolvem o verbo matriz lamentar, regista-se 26% de
classificações incorrectas (cf. quadro 19), valor este que decorre do facto de a frase
gramatical 1 (“Os pais lamentaram que o filho seja preguiçoso.”) registar 8 avaliações
incorrectas, e a frase 25 (“Ele lamentou que o Rodrigo vá vender a casa.”) apresentar 5
classificações incorrectas – cf. quadro 2, anexo 8. As restantes frases gramaticais com o
mesmo verbo matriz – frases 5, 17 e 28 (“O Raul e a Carolina lamentam que a Rita vá
sair do país.”, “Elas lamentaram que o Luís estivesse doente.” e “A Luísa lamenta que
o Henrique tenha maus resultados a História.”, respectivamente) – são todas avaliadas
correctamente pelos sujeitos como gramaticais, apresentando 100% de classificações
correctas.
125
Oração Matriz Classificações (%) Grupo
de Verbos Verbo
Frase
Correctas Incorrectas
7 19
4b. Querer e
Desejar 22
93.3%
6.7%
2 10 12 27
5b. Sugerir
29
68%
32%
1 5 28 17
II-A
6b. Lamentar
25
74%
26%
Quadro 19 – Classificações correctas e incorrectas, atribuídas a cada verbo do grupo de
verbos II-A, por parte dos sujeitos do grupo II (12º ano).
Finalmente, as 11 sequências agramaticais, que integram os verbos querer e desejar,
sugerir e lamentar do grupo II-B, apresentam um valor percentual de 97.3% no que diz
respeito às classificações correctas e de 2.7% relativamente às classificações incorrectas
(cf. gráfico 30).
GRUPO DE VERBOS II - B
97,3%
2,7%
Cl. Correctas
Cl. Incorrectas
Gráfico 30 – Classificações correctas e incorrectas dos sujeitos do grupo II (12º ano),
no grupo de verbos II-B.
126
Quanto ao verbos matriz querer e desejar, os dados apurados mostram que as
sequências agramaticais 4, 11, 14, 15 e 24 em que aqueles ocorrem (F4 - “Os filhos
quiseram que a mãe faça um bolo.”; F11 - “As raparigas querem que os rapazes
olharem para elas.”; F14 - “Tu desejaste que o Bruno for contigo ao cinema.”; F15 -
“Eu quero que o Manuel deixasse de faltar às aulas.”; e F 24 - “A mãe quis que o filho
vá estudar para o quarto.”) apresentam um elevado número de classificações correctas,
num total de 49 ocorrências (cf. quadro 2, anexo 8), que equivalem a um valor
percentual de 98% (cf. quadro 20).
As sequências agramaticais relativas ao verbo sugerir, sequências 8, 16 e 20 (“Os
Bancos sugerem que os clientes comprassem acções.”, Os professores sugeriram que os
alunos virem a nova peça de teatro.” e “Eu e a Carla sugerimos que a mãe fizer
lasanha.”, respectivamente), são todas correctamente classificadas pelos sujeitos como
agramaticais (cf. quadro 2, anexo 8). Por conseguinte, nestas frases verifica-se 100% de
classificações correctas (cf. quadro 20).
No que diz respeito ao verbo lamentar, as sequências agramaticais 21 e 26 (“Tu
lamentas que a Cristina souber da verdade.” e “Eu lamentei que tu partires tão cedo.”)
registam 100% de classificações correctas.
No entanto, a sequência 30, igualmente agramatical (“Os avós lamentam que os netos
fumassem às escondidas.”), apresenta 2 classificações incorrectas – cf. quadro 2, anexo
8. Os resultados obtidos com o verbo lamentar equivalem, assim, a 93.3% de
classificações correctas e a 6.7% de classificações incorrectas (cf. quadro 20).
127
Oração Matriz Classificações (%) Grupo
de Verbos Verbo
Seqs.
Agram. Correctas Incorrectas
*11 *15 *4 *14
4b. Querer e
Desejar
*24
98%
2%
*8 *20
5b. Sugerir *16
100%
0%
*21 *30 *1
II - B
6b. Lamentar
*26
93.3%
6.7%
Quadro 20 – Classificações correctas e incorrectas, atribuídas a cada verbo do grupo de
verbos II-B, por parte dos sujeitos do grupo II (12º ano).
Sintetizando, os resultados anteriormente expostos, obtidos pela aplicação do teste de
avaliação ao grupo de sujeitos II (12º ano), permitem-nos afirmar que:
(i) As frases que integram os três grupos de verbos apresentam um valor percentual de
classificações correctas acima dos 75%, embora o grupo II-B se destaque por ser o que
apresenta o valor superior, 97.3%.
(ii) Os verbos do grupo I, que ocorrem em frases gramaticais, apresentam, na totalidade,
76.7% de classificações correctas e 23.3% de classificações incorrectas.
Enquanto os verbos afirmar e saber registam um resultado positivo em termos de
classificações correctas (100% e 85%, respectivamente), o verbo sentir apresenta um
valor mais baixo, 45%, resultante sobretudo dos resultados obtidos na frase 9 (9
classificações incorrectas).
(iii) Com o grupo de verbos II-A, composto por 13 frases gramaticais, verifica-se 93.3%
de classificações correctas para as frases com os verbos querer e desejar, não se tendo
registado nenhuma sequência problemática. Contudo, o verbo sugerir apresenta um
valor superior de classificações incorrectas (32%), na medida em que as frases
128
gramaticais 10 e 29 comportam um elevado número de avaliações incorrectas (9 e 7,
respectivamente). Com 74% de classificações correctas, o verbo lamentar, por sua vez,
revela resultados positivos em todas as frases, à excepção das frases 1 e 25, que, apesar
de gramaticais, são avaliadas como agramaticais por 8 e 5 sujeitos, respectivamente.
Na totalidade, o grupo de verbos II-A apresenta 76.2% de classificações correctas e
23.8% de classificações incorrectas.
(iv) Todos os verbos do grupo II-B apresentam uma elevada percentagem de
classificações correctas, perfazendo um total de 97.3%. Com 2.7% de classificações
incorrectas, salienta-se a frase 30, construída com o verbo lamentar no presente, em que
se verificam 2 avaliações erradas.
3.2.2. Síntese comparada
Tendo por base os dados descritos na secção anterior, procede-se agora à sistematização
dos resultados obtidos pelos dois grupos de sujeitos (10º e 12º anos) no teste de
avaliação.
No que diz respeito às relações de (in)dependência temporal entre os dois domínios
oracionais, verifica-se que:
- No grupo de verbos I há uma percentagem elevada de classificações correctas nos dois
grupos de sujeitos (10º e 12º anos): 83.3% e 76.7%, respectivamente. Em ambos os
grupos se destaca a frase 13 (verbo afirmar – “Eles afirmam que a empresa vai
conseguir bons resultados.”) por revelar 100% de classificações correctas.
Quanto às classificações incorrectas, o grupo de sujeitos I (10º ano) regista 16.7% e o
grupo de sujeitos II (12º ano), 23%. As frases relativas ao verbo sentir (frases 3 e 9, “O
João sente que os irmãos vêem muita televisão por dia.” e “O Professor sentiu que os
alunos estão desmotivados.”, respectivamente) são aquelas em que se verificam mais
avaliações erradas, salientando-se a frase 9 por apresentar 5 respostas incorrectas;
129
- Quanto ao grupo de verbos II-A, composto por 13 frases gramaticais, verifica-se uma
elevada taxa de sucesso nos dois grupos de sujeitos: o grupo de sujeitos I (10º ano)
regista 79.2% de classificações correctas e o grupo de sujeitos II (12º ano), 76.2%.
As construções com os verbos matriz querer e desejar são, na sua maioria, classificadas
correctamente por todos os sujeitos como gramaticais, destacando-se as frases 19 e 22
(“O Francisco quer que o primo vá aprender inglês.” e “ Nós desejamos que os noivos
sejam felizes.”, respectivamente).
Relativamente às frases construídas com o verbo matriz sugerir, verifica-se que as
frases 2, 12 e 27 (“Ele sugere que as obras comecem em Março.”, “Ontem, a Ana
sugeriu ao marido que trocasse de carro.” e “A Educadora sugere que as crianças vão
brincar para o jardim.”, respectivamente) apresentam, nos dois grupos de sujeitos 100%
de classificações correctas; as frases 10 e 29 (“A Dulce sugeriu que o marido vá
escolher o restaurante.” e “Os meus amigos sugeriram que eu tire férias para
descansar.”, respectivamente), ao invés daquelas, constituem sequências problemáticas,
pois registam um maior número de classificações incorrectas.
Por fim, os dados relativos às frases com o verbo matriz lamentar mostram que os
grupos de sujeitos I e II classificam correctamente as frases 5, 17 e 28 (“O Raul e a
Carolina lamentam que a Rita vá sair do país.”, “Elas lamentaram que o Luís estivesse
doente.” e “A Luísa lamenta que o Henrique tenha maus resultados a História.”,
respectivamente) como frases gramaticais; as frases 1 (“Os pais lamentaram que o filho
seja preguiçoso.”) e 25 (“Ele lamentou que o Rodrigo vá vender a casa.”) são, no
entanto, as que apresentam um maior número de classificações incorrectas;
- O grupo de verbos II-B, composto por 11 sequências agramaticais, apresenta uma
elevada percentagem de classificações correctas por parte dos sujeitos, nomeadamente
92.7% no grupo de sujeitos I (10º ano) e 97.3% no grupo de sujeitos II (12º ano).
As frases com os verbos matriz querer e desejar são classificadas, na sua maioria, como
agramaticais por todos os sujeitos, não constituindo, assim, casos problemáticos.
Nas construções com o verbo matriz sugerir, os dois grupos de sujeitos (10º e 12º anos)
revelam igualmente um bom desempenho na classificação de todas as frases, que são,
na sua maioria, avaliadas correctamente como agramaticais.
Por último, verifica-se que as frases com o verbo lamentar apresentam, nos grupos de
sujeitos I e II, uma elevada taxa de classificações correctas, destacando-se as frases 21 e
26 (“Tu lamentas que a Cristina souber da verdade.” e “Eu lamentei que tu partires tão
130
cedo.”). A frase 30 (“Os avós lamentam que os netos fumassem às escondidas.”),
todavia, regista, nos dois grupos de sujeitos (10º e 12º anos), duas classificações como
gramatical.
O quadro 21 apresenta as classificações correctas e incorrectas atribuídas pelos dois
grupos de sujeitos (10º e 12º anos) a cada grupo de verbos, considerado na sua
totalidade.
Classificação dos Sujeitos (%)
Correcta Incorrecta
Grupo
de
Verbos GS I GS II GS I GS II
I
83.3%
76.7%
16.7%
23.3%
II – A
79.2%
76.2%
20.8%
23.8%
II – B
92.7%
97.3%
7.3%
2.7%
Quadro 21 – Classificações correctas e incorrectas registadas em cada grupo de verbos,
por parte dos sujeitos dos grupos I e II (10º e 12º anos).
Por sua vez, o quadro 22 reúne os resultados dos dois grupos de sujeitos (10º e 12º ano),
relativos às classificações correctas e incorrectas registadas para cada verbo.
131
Oração
Matriz
Classificações dos sujeitos (%)
Correctas Incorrectas
Grupo de
Verbos Verbo
GS I GS II GS I GS II
Afirmar
95%
100%
5%
0%
Saber
90%
85%
10%
15%
I
Sentir
65%
45%
35%
55%
Querer/Desejar
96.7%
93.3%
3.3%
6.7%
Sugerir
76%
68%
24%
32%
A
Lamentar
72%
74%
28%
26%
Querer/Desejar
94%
98%
6%
2%
Sugerir
96.7%
100%
3.3%
0%
II
B
Lamentar
86.7%
93.3%
13.3%
6.7%
Quadro 22 – Classificações correctas e incorrectas apresentadas em cada verbo pelos
sujeitos dos grupos I e II (10º e 12º anos).
132
Capítulo 4 – Análise dos dados
Neste capítulo analisam-se os dados descritos no capítulo anterior relativos (i) ao teste
de produção provocada, no que diz respeito às propriedades do verbo matriz e selecção
do modo e do tempo verbal em frases afirmativas, aos efeitos da negação frásica no
modo e no tempo verbal da encaixada (cf. pontos 4.1. e 4.2.), e (ii) ao teste de avaliação,
nomeadamente às relações de (in)dependência temporal estabelecidas entre a oração
encaixada e a oração matriz (cf. ponto 4.3.). Esta análise é elaborada numa perspectiva
de comparação do desempenho linguístico dos dois grupos de sujeitos (10º e 12º anos),
de forma a tentar encontrar razões para os dados obtidos e a levantar questões
pertinentes sobre a dicotomia indicativo/conjuntivo. Todas as hipóteses formuladas no
ponto 1.3. são retomadas e discutidas ao longo do presente capítulo.
4.1. Propriedades do verbo matriz e selecção do modo em frases afirmativas Neste ponto procede-se à análise dos dados recolhidos no teste de produção, relativos à
selecção do modo e do tempo verbal na encaixada. Recorde-se que, em todas as frases
deste teste o verbo superior se encontra no presente do indicativo.
Comecemos por analisar os dados relativos aos grupos de verbos matriz que
seleccionam na encaixada o modo indicativo, nomeadamente os grupos de verbos I e
III.
O grupo de verbos I (afirmar e saber), que selecciona na encaixada o modo indicativo,
não suscita problemas aos sujeitos, pois quer o grupo de sujeitos I (10º ano), quer o
grupo de sujeitos II (12º ano) produz, conforme o alvo, o indicativo. O modo indicativo
apresenta, pois, 100% do total de ocorrências.
Os dados revelam, assim, que as propriedades semânticas destes verbos não geram
dúvidas aos sujeitos quanto ao modo que seleccionam na encaixada: o verbo afirmar,
um verbo epistémico que expressa uma declaração, e o verbo saber, um verbo
igualmente epistémico que expressa conhecimento, são predicados assertivos (cf.
Bosque 1990b; Ridruejo 1999; Duarte 2003), uma vez que introduzem afirmações e
133
declarações. Esta propriedade contribui para a caracterização do indicativo como um
modo que expressa asserções e está, portanto, associado a atitudes epistémicas de
conhecimento e de crença.
O facto de o presente do indicativo ser o tempo mais produzido pelos dois grupos de
sujeitos (10º e 12º anos), representando 70% das ocorrências, no grupo de sujeitos I, e
65% de ocorrências, no grupo II, indica que os sujeitos estabelecem nas suas produções
relações de concordância temporal relativamente ao verbo matriz, o qual se encontra no
presente do indicativo. Com 25% do total das produções, surgem, nos dois grupos de
sujeitos, as formas perifrásticas, com o verbo auxiliar (na maioria dos casos, o verbo ir)
predominantemente no presente do indicativo ou no futuro do indicativo, o que, por um
lado, confirma o que referimos anteriormente e, por outro, mostra também como os
falantes nativos estão a substituir o uso do futuro do indicativo pela forma perifrástica
com o auxiliar no futuro.
Em suma, os dois grupos de sujeitos, apesar de pertencentes a dois níveis de
escolaridade diferentes, 10º e 12º anos, apresentam o mesmo comportamento,
desempenhando com total sucesso a tarefa proposta.
Relativamente ao grupo de verbos III, que selecciona igualmente o indicativo na
encaixada, verifica-se que todos os sujeitos produzem este modo. Com base nestes
dados, podemos afirmar que os verbos sentir, achar, prometer e dizer não são
problemáticos nem para o grupo de sujeitos I (10º ano), nem para o grupo de sujeitos II
(12º ano).
O verbo perceptivo sentir, o verbo epistémico de crença achar, o verbo prospectivo
prometer e o verbo declarativo dizer exprimem asserções, isto é, são predicados
assertivos, logo, seleccionam o modo indicativo (cf. Bosque 1990b; Ridruejo 1999;
Duarte 2003).
Com os dois grupos de sujeitos o presente é o tempo mais produzido, registando o valor
de 47.5%, no grupo I, e um valor superior de 65%, no grupo II. Em segundo lugar,
surgem as formas perifrásticas com o auxiliar (na maioria dos casos, o verbo ir)
predominantemente no presente do indicativo, com 37.5%, no grupo de sujeitos I, e
17.5%, no grupo de sujeitos II. Estes dados revelam novamente que há por parte dos
134
sujeitos uma preocupação em estabelecer entre a oração matriz e a encaixada uma
relação de concordância temporal [pres/pres].
Com 12.5% do total das ocorrências, o pretérito perfeito (grupo de sujeitos I) e o futuro
(grupo de sujeitos II) são, em cada um dos grupos de sujeitos, o terceiro tempo mais
seleccionado, o que demonstra o reconhecimento, por parte de alguns sujeitos, de
independência temporal em completivas em que é seleccionado o indicativo, tendo em
conta que o verbo superior se encontra no presente do indicativo.
Sintetizando, os grupos de sujeitos I e II seleccionam na encaixada o modo conforme o
alvo, ou seja, o indicativo. O modo indicativo regista, deste modo, 100% do total dos
dados produzidos.
Pela análise anteriormente apresentada, podemos verificar que o indicativo é o único
modo seleccionado pelos sujeitos nas frases que envolvem os grupos de verbos I e III, o
que corresponde à alternativa correcta. Estes resultados revelam que os verbos
superiores destes grupos não suscitam dúvidas aos sujeitos, apresentando o indicativo
100% do total de ocorrências. Assim, podemos confirmar a hipótese 1, que agora se
recupera:
HIPÓTESE 1 – As construções que integram verbos que seleccionam o modo
indicativo na encaixada não são problemáticas para os sujeitos.
Passemos, de seguida, à análise dos resultados obtidos para os grupos de verbos II e IV,
cujos verbos da matriz seleccionam na encaixada o modo conjuntivo.
Relativamente aos verbos lamentar, querer e esperar, que constituem o grupo II, os
dados recolhidos no grupo de sujeitos I (10º ano) mostram que a maioria dos sujeitos
produziu na encaixada o modo conjuntivo (96.7%), registando-se apenas uma
ocorrência no modo indicativo (3.3%). No grupo de sujeitos II (12º ano), todos os
sujeitos seleccionam na encaixada o modo conjuntivo, apresentando 100% de produções
correctas. Estes resultados demonstram, então, que este grupo de verbos, assim como os
anteriormente referidos, não gera dificuldades relevantes na selecção do modo,
apresentando uma elevada taxa de sucesso.
135
Como anteriormente referimos, este grupo é composto pelos verbos volitivos querer e
esperar e pelo verbo factivo lamentar. Este último verbo, sendo um verbo factivo,
pressupõe a verdade da proposição da frase encaixada, logo, tendo em conta algumas
das análises clássicas, esperar-se-ia a presença do indicativo na mesma oração, motivo
pelo qual este verbo tem sido considerado um caso problemático no âmbito da selecção
modal, reforçando a ideia da ausência de uma relação directa entre as propriedades do
verbo superior e a selecção do modo na encaixada. No entanto, podemos justificar a
selecção do conjuntivo na completiva se adoptarmos a ideia de que todos estes
predicados são não assertivos (cf. Bosque 1990b; Ridruejo 1999; Duarte 2003), ou seja,
predicados que, ao invés dos assertivos, não expressam asserções, mas introduzem
avaliações ou acrescentam conteúdos independentes da própria asserção.
O tempo mais produzido pelos dois grupos de sujeitos é o presente do conjuntivo, com
93.3% em cada grupo. Como já foi acima referido, a selecção deste tempo verbal parece
decorrer da prática de uma concordância temporal entre o verbo da encaixada, que se
encontra no presente do indicativo, e o verbo superior [pres/pres]. Com uma
representação pouco relevante, o pretérito perfeito é também produzido pelos sujeitos
com o verbo lamentar (3.3% no grupo I e 6.7% no grupo II).
Assim, o comportamento dos sujeitos nas estruturas analisadas é idêntico, na medida em
que ambos os grupos demonstram um número elevado de produções correctas no
conjuntivo, registando-se, apenas no grupo de sujeitos I, um valor muito baixo de
produções incorrectas no indicativo (3.3%).
O verbo duvidar (grupo IV), que veicula as noções de dúvida e de descrença, é um
predicado não assertivo que, tal comos os verbos constituintes do grupo II, selecciona o
modo conjuntivo na encaixada.
Face aos resultados obtidos no grupo de verbos IV, podemos observar que os sujeitos
têm um comportamento bastante distinto: enquanto o grupo de sujeitos I (10º ano)
regista 60% de ocorrências no conjuntivo, o grupo de sujeitos II (12ºano) apresenta
100% de ocorrências neste modo. Por conseguinte, poder-se-á explicar o desempenho
dos sujeitos pelos níveis de escolaridade a que pertencem: o grupo de sujeitos II, por
frequentar um nível de escolaridade superior (12º ano), revela um melhor desempenho
136
na selecção do modo (taxa de sucesso total); o grupo de sujeitos I, por frequentar um
nível de escolaridade inferior (10º ano), demonstra não ter estabilizado completamente
estas construções, manifestando dificuldade em seleccionar o modo correcto (40% de
produções incorrectas no indicativo). Depreende-se, portanto, que no início do 2º
período do 12º ano, os sujeitos revelam um melhor domínio sobre a selecção modal em
completivas do que no início do ensino secundário (especificamente, no início do 2º
período do 10º ano).
Quanto às produções incorrectas, verifica-se que o pretérito perfeito e as formas
perifrásticas com o auxiliar ou no presente ou no futuro são os tempos verbais utilizados
no indicativo pelos sujeitos do grupo I.
Relativamente às produções correctas no conjuntivo, regista-se que o presente é o tempo
verbal mais seleccionado pelos sujeitos, apresentando 40% no grupo I e 80% no grupo
II, o que concorre mais uma vez para a concordância temporal [pres/pres] entre a oração
encaixada e a oração superior. Com 20% em cada grupo de sujeitos, o pretérito perfeito
composto é o segundo tempo mais produzido pelos sujeitos, o que revela o
estabelecimento de algumas relações de independência temporal entre as orações.
Conclui-se, desta forma, que enquanto no grupo de sujeitos I há uma taxa de insucesso
relevante de 40%, no grupo II, verifica-se 100% de produções correctas conforme o
alvo.
Os dados permitem confirmar as hipóteses 2 e 7, que abaixo se transcrevem:
HIPÓTESE 2 – As construções que integram verbos que seleccionam o modo
conjuntivo colocam problemas aos sujeitos, prevendo-se que estes optem, por vezes,
pela substituição pelo indicativo.
HIPÓTESE 7 – As dificuldades na selecção do modo da encaixada e na identificação
de frases (a)gramaticais tendem a diminuir com a progressão escolar, no sentido em que
os sujeitos pertencentes a um nível de escolaridade superior apresentam um melhor
desempenho na manipulação destas estruturas, revelando uma maior estabilização na
aquisição de competências linguísticas.
137
Por último, considerem-se os dados referentes aos grupos de verbos que admitem
selecção modal dupla na encaixada: grupos V e VI.
Os verbos constituintes do grupo V, acreditar, imaginar, suspeitar e prever,
seleccionam na encaixada ou o indicativo ou o conjuntivo e são verbos denominados
“criadores de mundos”, pois permitem a criação de realidades alternativas (cf. Ridruejo
1999; Oliveira 2003). Como já referimos anteriormente, a escolha do modo indicativo
ou conjuntivo decorre do valor de verdade atribuído à proposição encaixada, ou seja,
quando é seleccionado o indicativo pressupõe-se a verdade da frase complemento, o que
não acontece quando é seleccionado o conjuntivo.
Os dados recolhidos no grupo de verbos V permitem verificar que há uma clara
preferência pelo modo indicativo, apresentando este modo, nos dois grupos de sujeitos
(10º e 12º anos), um valor percentual de 82.5% do total das ocorrências.
Relativamente aos tempos verbais seleccionados, os sujeitos do grupo I (10º ano)
registam um maior número de produções nas formas perifrásticas, com o auxiliar (na
maioria das produções, o verbo ir) predominantemente ou no presente ou no futuro
(40%), seguindo-se o uso do presente (27.5%). Os sujeitos do grupo II (12º ano), por
seu turno, apresentam, em primeiro lugar, mais ocorrências no presente (35%); em
segundo lugar, produzem as formas perifrásticas, todas com o verbo auxiliar ir, também
ou no presente ou no futuro (20%) e, em terceiro lugar, o futuro (15%). Tendo em conta
que o verbo matriz se encontra no presente do indicativo em todas as frases, mais uma
vez, a selecção das formas perifrásticas com o auxiliar no presente e a selecção do
presente do indicativo, parecem denotar uma preocupação dos sujeitos em estabelecer
uma relação de concordância entre o tempo do verbo da encaixada e o tempo do verbo
da matriz [pres/pres].
No que concerne às produções com o conjuntivo, estas envolvem sobretudo os verbos
suspeitar e prever e representam um valor aproximado nos dois grupos de sujeitos:
15%, no grupo de sujeitos I, e 17.5%, no grupo de sujeitos II. Estabelece-se
concordância temporal entre os dois domínios oracionais, visto que predomina o uso do
presente nos dois grupos de sujeitos (12.5% e 15%, respectivamente), seguindo-se a
selecção do pretérito perfeito composto, embora com um valor percentual inferior de
2.5%, em cada grupo.
138
Pelo que atrás foi dito, podemos concluir que a tarefa que envolve o grupo de verbos V
é desempenhada de forma idêntica pelos dois grupos de sujeitos, registando-se um valor
elevado de produções no indicativo, relativamente a um valor pouco significativo de
produções no conjuntivo.7
Por último, considere-se o verbo pensar (grupo VI), que, tal como os verbos do grupo
anterior, selecciona os dois modos na encaixada, permitindo também a criação de
mundos alternativos (cf. Ridruejo 1999; Oliveira 2003). Contudo, como referido
anteriormente (cf. secção 2.1.2.1.), assume-se que a selecção do conjuntivo possa ser
considerada como marginal para alguns sujeitos.
Os resultados registados no teste de produção mostram que os dois grupos de sujeitos
produzem exclusivamente o indicativo. O grupo de sujeitos I e o grupo de sujeitos II
apresentam, assim, o mesmo desempenho, registando o indicativo 100% das
ocorrências. Estes resultados podem revelar que, para estes sujeitos, a selecção do
conjuntivo em frases afirmativas com o verbo pensar não é reconhecida como
gramatical, o que vai ao encontro das intuições de alguns falantes adultos. Esta situação
pode dever-se ao facto de o verbo pensar assumir diferentes significados conforme o
modo da encaixada: quando ocorre com conjuntivo assume um valor dubitativo, ausente
quando co-ocorre com indicativo. A ocorrência exclusiva do indicativo nas produções
dos sujeitos revela a sua preferência por uma das interpretações. Adicionalmente, a
exclusividade do indicativo, no contexto deste verbo, vem ao encontro da tendência
generalizada verificada em outros contextos, como anteriormente se referiu.
Quanto aos tempos verbais utilizados, nas produções dos sujeitos do grupo I predomina
claramente o uso do presente, com 80%; nas produções dos sujeitos do grupo II este
tempo regista um valor percentual inferior, 40%, na medida em se verificam produções
significativas no futuro, apresentando este tempo verbal 30%. Saliente-se que, como já
referido, o verbo superior se encontra no presente do indicativo. Constata-se, assim,
7 Na análise de Marques (1995), o indicativo é considerado um modo marcado porque está associado a
atitudes epistémicas de conhecimento ou de crença. Por conseguinte, e, de acordo com o mesmo autor, o
conjuntivo associa-se a uma variedade de valores modais, pelo que pode ser considerado um modo não
marcado.
139
que, enquanto no grupo de sujeitos I (10º ano) há um maior número de relações de
concordância temporal, no grupo de sujeitos II (12º ano) assumem-se também relações
de independência temporal, o que poderá derivar de uma aquisição mais sólida destas
estruturas por parte destes sujeitos, visto que frequentam um nível de escolaridade
superior.
Face aos resultados obtidos com os grupos de verbos V e VI, relativos ao modo
seleccionado na encaixada, podemos confirmar a hipótese 3:
HIPÓTESE 3 – Nas construções que integram verbos que podem seleccionar ou o
indicativo ou o conjuntivo (verbos de selecção modal dupla) tendo em conta condições
sintáctico-semânticas distintas, os sujeitos optam maioritariamente pelo indicativo.
Por último, os dados analisados com todos os grupos de verbos nesta secção levam à
confirmação da hipótese 5, que se recupera de seguida:
HIPÓTESE 5 – Os sujeitos identificam a relação de concordância temporal que se
estabelece entre a oração encaixada e a oração matriz, tendo em conta os tempos dos
verbos dessas orações.
4.2. Efeitos da negação superior no modo da oração encaixada
Ainda no âmbito do teste de produção, procede-se neste ponto à análise dos dados
obtidos nos vários grupos de verbos, tendo em conta a presença da negação frásica
superior e a possibilidade de esta alterar a selecção modal na encaixada. Nesta análise
são tidos em conta os mesmos pressupostos teóricos apresentados no ponto anterior
relativos a cada grupo de verbos, uma vez que os grupos se mantêm, à excepção dos
grupos II e V, dado que o verbo prever, como referido anteriormente (cf. secção
2.1.2.1.), se encontra, neste contexto, inserido no grupo II.
Considerem-se primeiramente os dados relativos aos grupos de verbos I e II, que
seleccionam na encaixada o indicativo e o conjuntivo, respectivamente, não sendo estes
modos condicionados pelo operador de negação frásica superior.
140
Os verbos afirmar e saber, que pertencem ao grupo I, são, como referido no ponto
anterior, verbos assertivos, associados a atitudes epistémicas de conhecimento e de
crença e, portanto, seleccionam indicativo (cf. Bosque 1990b; Ridruejo 1999; Duarte
2003).
Os resultados obtidos com este grupo de verbos demonstram que as estruturas com estes
verbos matriz estão estabilizadas nos dois grupos de sujeitos (10º e 12º anos), pelo que o
indicativo regista em ambos 100% de ocorrências, conforme o alvo.
O presente do indicativo é o tempo verbal mais produzido pelos sujeitos, embora o
grupo II (12º ano) apresente um valor percentual superior, de 70%, face ao registado no
grupo I (10º ano), de 40%. No grupo de sujeitos I, as formas perifrásticas, com o
auxiliar (na maioria das produções, verbo ir) predominantemente no presente, e o
pretérito perfeito registam o mesmo valor – 30% do total das ocorrências – um valor
próximo do obtido no presente e, por conseguinte, igualmente relevante. Os mesmos
tempos verbais são seleccionados pelos sujeitos do grupo II, correspondendo as formas
perifrásticas, com o auxiliar (verbo ir) também maioritariamente no presente, a 10%, e o
pretérito perfeito a 15%.
A utilização do presente e das formas perifrásticas, construídas sobretudo com o auxiliar
no presente, revela que os sujeitos estabelecem, na maioria das produções, concordância
temporal entre o verbo da oração encaixada e o verbo da matriz, uma vez que o verbo da
oração matriz, como já referido, se encontra no presente do indicativo. Os valores
também relevantes registados nos restantes tempos verbais mostram, por outro lado, que
os sujeitos também admitem nas frases com indicativo na encaixada uma relação de
independência temporal entre as duas orações.
Em síntese, os sujeitos dos grupos I e II não demonstram ter dificuldades em seleccionar
o modo correcto neste tipo de estruturas, tendo sido o seu desempenho de total sucesso.
Estes dados conduzem de novo à confirmação da hipótese 1:
HIPÓTESE 1 – As construções que integram verbos que seleccionam o modo
indicativo na encaixada não são problemáticas para os sujeitos.
141
Os verbos matriz que compõem o grupo II (lamentar, querer, esperar e prever)
seleccionam na oração completiva o modo conjuntivo. Os verbos lamentar, querer e
esperar seleccionam este modo, porque, como referido na secção anterior, são
predicados não assertivos, que introduzem avaliações ou acrescentam informações
independentes da própria asserção (cf. Bosque 1990b; Ridruejo 1999; Duarte 2003). No
entanto, o verbo prever, como já se afirmou anteriormente (cf. secção 2.1.2.1.),
selecciona em frases afirmativas os dois modos e, quando sob o escopo da negação
frásica, selecciona apenas o conjuntivo, passando a ter propriedades não assertivas.
Assim, com os verbos lamentar, querer e esperar, o elemento de negação frásica
superior não altera a selecção do modo da encaixada; o mesmo não acontece com o
verbo prever, pois a negação induz a alterações na selecção modal.
Os resultados obtidos neste grupo de verbos revelam um desempenho dos sujeitos muito
positivo, verificando-se um elevado número de produções no conjuntivo, a saber,
97.5%, no grupo de sujeitos I (10º ano), e 100%, no grupo de sujeitos II (12º ano).
Quanto aos tempos verbais seleccionados, os dois grupos de sujeitos produzem
maioritariamente o presente, sobretudo com os verbos querer, esperar e prever. Este
tempo regista nos dois grupos de sujeitos um valor superior a 70% relativamente ao
total das produções (72.5%, no grupo I, e 77.5%, no grupo II). Estes dados mostram
também que há por parte dos sujeitos uma tendência para estabelecer entre o tempo do
verbo da oração superior e o tempo do verbo da encaixada uma relação de concordância
temporal [pres/pres]. Com 22.5%, o pretérito perfeito composto apresenta igualmente
um valor elevado de produções, tendo sido seleccionado somente com o verbo
lamentar. Estas ocorrências demonstram que o verbo factivo lamentar, ao contrário dos
anteriores, admite na encaixada diferentes tempos, o que revela independência temporal
entre o verbo da completiva e o verbo da matriz.
Em suma, no grupo de verbos II, o comportamento dos sujeitos dos grupos I e II é
idêntico, apresentando uma elevada percentagem de produções correctas no conjuntivo
e, embora se registe, no grupo de sujeitos I, uma produção incorrecta no indicativo, é
pouco relevante (2.5%). Todas estas observações tornam possível, mais uma vez, a
confirmação da hipótese 2:
142
HIPÓTESE 2 – As construções que integram verbos que seleccionam o modo
conjuntivo colocam problemas aos sujeitos, prevendo-se que estes optem, por vezes,
pela substituição pelo indicativo.
Apresenta-se de seguida a análise dos grupos de verbos III e IV, que sofrem os efeitos
da negação frásica superior na selecção do modo, passando a admitir os dois modos na
oração encaixada.
Em frases superiores afirmativas, o grupo de verbos III (sentir, achar, prometer e dizer)
selecciona na encaixada o indicativo, mas, quando introduzido pela negação frásica
superior, passa a seleccionar ou o indicativo ou o conjuntivo na encaixada. Na presença
da negação frásica superior, o verbo perceptivo sentir, o epistémico achar e o
declarativo dizer seleccionam conjuntivo, não se encontrando especificado o valor de
verdade da proposição encaixada. Por fim, com o verbo prospectivo prometer, a
selecção do conjuntivo decorre da ausência de compromisso entre o sujeito e a verdade
da proposição da encaixada. Deste modo, em frases superiores afirmativas estes verbos
introduzem asserções; quando influenciados pela negação, passam a introduzir também
avaliações ou informações independentes da asserção, ou seja, partilham de
características assertivas e não assertivas, acarretando necessariamente diferentes
interpretações semânticas, consoante a selecção de um ou de outro modo.
Os dados produzidos pelos sujeitos dos grupos I e II (10º e 12º ano) revelam uma
preferência evidente pelo indicativo em detrimento do conjuntivo: o grupo I de sujeitos
(10º ano) apresenta 65% de ocorrências no indicativo face a 32.5% no conjuntivo; o
grupo II de sujeitos (12º ano) regista 75% no indicativo contra 25% no conjuntivo. A
preferência pelo indicativo poderá resultar do facto deste modo ser típico de atitudes
epistémicas específicas, e a produção inferior de conjuntivo poderá indicar dificuldades
na selecção deste modo com estas estruturas, que não induz um valor de verdade
completamente especificado.
Nas produções do grupo de sujeitos I com o indicativo, verifica-se que as formas
perifrásticas com o auxiliar estar ou ir predominantemente no presente, com um valor
percentual de 32.5%, e o presente, com um valor de 22.5%, são os tempos mais
produzidos pelos sujeitos. Numa ordem inversa, o grupo de sujeitos II produz em
143
primeiro lugar o presente, com 42.5% e, em segundo, as formas perifrásticas com o
auxiliar predominantemente no presente, com 15%. Podemos, assim, confirmar que, em
muitas produções dos sujeitos com indicativo, o verbo da oração completiva concorda
temporalmente com o da matriz [pres/pres].
Relativamente aos dados das produções com o conjuntivo, os sujeitos dos grupos I e II
seleccionam sobretudo o presente (27.5%, no grupo de sujeitos I, e 20%, no grupo de
sujeitos II), envolvendo a maioria destas produções o verbo achar. Estes resultados
revelam de novo o estabelecimento de uma relação de concordância temporal entre os
verbos dos dois domínios oracionais [pres/pres].
Sintetizando, o grupo de verbos III, que permite uma selecção modal dupla na
encaixada, apresenta um elevado número de produções no modo indicativo contra um
número reduzido de produções no modo conjuntivo.
No que diz respeito ao grupo IV, composto pelo verbo duvidar, que na afirmativa
selecciona conjuntivo, verifica-se que, sob influência da negação frásica na oração
matriz, há uma alteração na selecção do modo, passando este verbo a admitir os dois
modos na encaixada. Esta situação constitui uma excepção, pois a maior parte dos
verbos que, em frases superiores afirmativas, seleccionam o conjuntivo, mantêm a
mesma selecção aquando da presença do elemento de negação frásica superior (como os
verbos lamentar e querer, por exemplo). Como já referido no ponto anterior, a selecção
do conjuntivo resulta da descrença do sujeito na verdade da proposição da encaixada.
Consequentemente, a escolha do indicativo decorre da crença do sujeito na mesma.
Os sujeitos dos grupos I e II (10º e 12º anos) revelam um comportamento idêntico,
verificando-se, como no grupo de verbos anterior, uma preferência clara pelo indicativo
relativamente ao conjuntivo. Assim, os dois grupos de sujeitos apresentam 70% de
produções no indicativo, predominando o presente. Quanto às produções com o
conjuntivo, o grupo de sujeitos I regista 20% e o grupo de sujeitos II 30% do total das
ocorrências, sendo o presente o único tempo verbal seleccionado. Os tempos verbais
mais produzidos na encaixada pelos sujeitos (presente do indicativo e presente do
conjuntivo) demonstram, de novo, uma relação de concordância temporal com o verbo
superior, já que este, como já referimos, se encontra no presente do indicativo.
144
A preferência pelo modo indicativo nas frases que envolvem os grupos de verbos III e
IV parece ser novamente motivada pela associação deste modo a atitudes epistémicas
específicas e permite confirmar a hipótese 4:
HIPÓTESE 4 – Nas construções em que a presença do operador de negação na oração
matriz induz alterações no modo da encaixada, verificando-se a possibilidade de
selecção dos dois modos, há, por parte dos sujeitos, uma preferência pelo indicativo, em
detrimento do conjuntivo.
Por último, são analisados os dados relativos aos grupos de verbos V e VI, que não são
afectados pela presença da negação frásica superior, mantendo a selecção modal dupla
na encaixada.
Os verbos acreditar, imaginar e suspeitar, que constituem o grupo V, mantêm a
possibilidade de ocorrência dos dois modos na presença da negação frásica superior,
continuando, assim, a criar mundos alternativos, decorrente da selecção de um ou outro
modo (cf. Ridruejo 1999; Oliveira 2003).
Os resultados apurados neste grupo demonstram que os sujeitos dos grupos I e II (10º e
12º anos) apresentam uma maior produção do indicativo contra uma menor produção do
conjuntivo. No entanto, o seu desempenho não é totalmente idêntico, pois enquanto os
sujeitos do grupo I apresentam uma preferência clara pelo indicativo relativamente ao
conjuntivo (73.4% para 26.6%, respectivamente), os sujeitos do grupo II registam entre
os dois modos um valor aproximado (56.7% para o indicativo e 43.3% para o
conjuntivo). Esta distribuição díspar dos modos em cada grupo de sujeitos leva-nos a
considerar que os sujeitos em nível de escolaridade inferior (grupo I, 10º ano) optam
maioritariamente pelo modo mais frequente, o indicativo, enquanto os sujeitos em nível
de escolaridade superior (grupo II, 12º ano) apresentam uma selecção mais homogénea
dos dois modos, o que poderá traduzir uma aquisição mais sólida destas estruturas.
Com 33.3% do total das ocorrências, o presente foi o tempo mais produzido pelos dois
grupos de sujeitos no modo indicativo. A registar um valor igualmente significativo,
seguem-se as formas perifrásticas, com o auxiliar (verbo ir ou estar)
predominantemente no presente (20%, no grupo de sujeitos I, e 10%, no grupo de
145
sujeitos II), e o pretérito perfeito (20%, no grupo de sujeitos I, e 10%, no grupo de
sujeitos II).
No que diz respeito ao conjuntivo, são produzidos o presente e o pretérito perfeito
composto, sobretudo com o verbo suspeitar, correspondendo estes tempos verbais ao
mesmo valor percentual no grupo de sujeitos I, 20%, e a 23.3% e 16.7%,
respectivamente, no grupo de sujeitos II. O presente é, assim, nas construções com o
indicativo e com o conjuntivo, o tempo mais seleccionado pelos sujeitos, o que revela,
novamente, uma preocupação dos sujeitos em concordar o tempo do verbo da encaixada
com o da oração superior.
Com base no exposto, podemos afirmar que os dados obtidos no grupo de verbos V
parecem ser condicionados pelo nível de escolaridade a que pertencem os sujeitos e pelo
tempo do verbo matriz, confirmando-se a hipótese 7:
HIPÓTESE 7 – As dificuldades na selecção do modo da encaixada e na identificação
de frases (a)gramaticais tendem a diminuir com a progressão escolar, no sentido em que
os sujeitos pertencentes a um nível de escolaridade superior apresentam um melhor
desempenho na manipulação destas estruturas, revelando uma maior estabilização na
aquisição de competências linguísticas.
Por último, considere-se o verbo do grupo VI (pensar) que, tal como acontece com os
verbos dos grupos anteriores, selecciona ou o indicativo ou o conjuntivo na encaixada
na presença de um operador de negação frásica na matriz. Verifica-se que o grupo de
sujeitos I (10º ano) opta preferencialmente pelo indicativo, registando este modo 60%
das ocorrências; o grupo de sujeitos II (12º ano), por sua vez, selecciona o indicativo em
todas as produções, apresentando este modo 100%.
Relativamente aos tempos verbais seleccionados no indicativo, observa-se que o
comportamento dos sujeitos é igualmente distinto: os sujeitos do grupo I produzem um
maior número de ocorrências no pretérito perfeito (30%); os sujeitos do grupo II
seleccionam predominantemente o presente (70%), concordando temporalmente com o
verbo da oração superior.
146
As estruturas com o modo conjuntivo, apenas construídas pelos sujeitos do grupo I,
apresentam 3 ocorrências no presente (30%) e duas no pretérito perfeito composto
(20%).
Perante os resultados obtidos para o grupo de verbos VI, constata-se que o desempenho
dos sujeitos não é semelhante, pois o grupo I de sujeitos selecciona os dois modos,
enquanto o grupo II de sujeitos produz exclusivamente o indicativo, revelando um
comportamento mais homogéneo em termos de selecção modal, mas ao mesmo tempo
um domínio menos estabilizado destas estruturas. Não obstante, é indiscutível a
preferência pelo indicativo nos dois grupos de sujeitos, o que possibilita, novamente, a
confirmação da hipótese 4:
HIPÓTESE 4 – Nas construções em que a presença do operador de negação na oração
matriz induz alterações no modo da encaixada, verificando-se a possibilidade de
selecção dos dois modos, há, por parte dos sujeitos, uma preferência pelo indicativo, em
detrimento do conjuntivo.
Considerando todos os grupos de verbos analisados nesta secção, pode-se observar que,
relativamente aos tempos verbais produzidos, existe nos dois grupos de sujeitos uma
preocupação predominante em estabelecer uma relação de concordância temporal entre
o verbo da oração encaixada (presente do indicativo) e o da matriz [pres/pres]. Assim,
esta análise permite confirmar a hipótese 5, que agora se retoma:
HIPÓTESE 5 – Os sujeitos identificam a relação de concordância temporal que se
estabelece entre a oração encaixada e a oração matriz, tendo em conta os tempos dos
verbos dessas orações.
4.3. Relações temporais entre os dois domínios oracionais
Este ponto destina-se a analisar os dados relativos ao teste de avaliação, que permitem
verificar se os sujeitos identificam correctamente as frases gramaticais e as sequências
agramaticais, tendo em conta as relações de (in)dependência temporal estabelecidas
147
entre a oração matriz e a encaixada. Relembre-se que, os verbos da matriz que integram
as frases deste teste se encontram ou no presente ou no pretérito perfeito do indicativo.
O grupo I, composto pelos verbos assertivos afirmar, saber e sentir, selecciona na
encaixada o modo indicativo, ocupando 6 frases gramaticais no teste de avaliação.
Verifica-se com este grupo de verbos uma percentagem de classificações correctas
acima dos 75%, por parte dos dois grupos de sujeitos (10º e 12º anos), envolvendo
sobretudo os verbos afirmar e saber (83.3%, no grupo de sujeitos I, e 76.7%, no grupo
de sujeitos II).
Relativamente às classificações incorrectas deste grupo de verbos, regista-se, na
totalidade, 16.7% para o grupo de sujeitos I (10º ano) e 23.3% para o grupo de sujeitos
II (12º ano). A frase 6 (“Os funcionários da loja sabem que os clientes foram
exigentes.”), formada pelo verbo matriz saber, apresenta três avaliações incorrectas por
parte dos sujeitos do grupo II. No entanto, no âmbito destes resultados incorrectos,
destacam-se as frases que envolvem o verbo sentir, que perfazem uma percentagem de
classificações incorrectas de 35%, para o grupo I de sujeitos, e de 55%, para o grupo II
de sujeitos. Salienta-se, em primeiro lugar, a frase 9 (“O professor sentiu que os alunos
estão desmotivados.”), construída com o verbo superior sentir no pretérito perfeito e
com o verbo da encaixada no presente do indicativo, por registar, no grupo de sujeitos I,
50% de avaliações incorrectas e, no grupo de sujeitos II, 90%. Assim, esta frase
revela-se claramente problemática para os dois grupos de sujeitos, o que parece decorrer
dos tempos verbais presentes nos dois domínios oracionais. Em todas as construções
com verbos assertivos, o tempo da oração encaixada é independente do tempo da oração
principal. No entanto, nas frases 3 e 9, os sujeitos não reconhecem essa relação de
independência temporal entre o verbo matriz e o da encaixada, o que é mais evidente
nos sujeitos do 12º ano (grupo de sujeitos II). Em segundo lugar, salienta-se a frase 3
(“O João sente que os irmãos vêem muita televisão por dia.”) que apresenta, em cada
grupo de sujeitos, uma percentagem inferior de classificações incorrectas, mas também
relevante, de 20%. Neste caso, os sujeitos não identificam a relação de concordância
temporal [pres/pres].
148
Deste modo, confirmam-se apenas parcialmente as hipóteses 5 e 6 8:
HIPÓTESE 5 – Os sujeitos identificam a relação de concordância temporal que se
estabelece entre a oração encaixada e a oração matriz, tendo em conta os tempos dos
verbos dessas orações.
HIPÓTESE 6 – Os sujeitos identificam as relações de dependência ou de
independência temporal entre a oração encaixada e a oração matriz, independentemente
dos tempos em que se encontram os verbos dessas orações.
Em síntese, os dois grupos de sujeitos revelam um desempenho próximo, apresentando
um elevado número de classificações correctas, sobretudo com os verbos afirmar e
saber, face ao número reduzido de classificações incorrectas, predominantemente nas
frases com o verbo sentir. Apesar de pertencente a um nível de escolaridade superior, o
grupo de sujeitos II (12º ano) apresenta, contudo, uma percentagem de avaliações
correctas inferior à obtida pelo grupo de sujeitos do grupo I (10º ano) e, por
conseguinte, uma percentagem superior de classificações incorrectas, o que não permite
confirmar a hipótese 7, no teste de avaliação:
HIPÓTESE 7 – As dificuldades na selecção do modo da encaixada e na identificação
de frases (a)gramaticais tendem a diminuir com a progressão escolar, no sentido em que
os sujeitos pertencentes a um nível de escolaridade superior apresentam um melhor
desempenho na manipulação destas estruturas, revelando uma maior estabilização na
aquisição de competências linguísticas.
Os verbos do grupo II-A, constituído pelos predicados não assertivos querer e desejar,
sugerir e lamentar que seleccionam conjuntivo na encaixada, integram13 sequências
gramaticais no teste de avaliação.
8 Note-se que, tendo em conta exclusivamente os dados de produção, a hipótese 5 foi confirmada. No
entanto, relembre-se que, nesse caso, os sujeitos optaram maioritariamente por manter na encaixada o
tempo verbal da matriz, o que permitia confirmar na totalidade esta hipótese. Do mesmo modo, a hipótese
6 não pôde ser confirmada pelos dados de produção, daí a necessidade de construir o teste de avaliação.
149
Os dois grupos de sujeitos (10º e 12º anos) revelam um comportamento semelhante no
desempenho da tarefa solicitada, registando-se, em termos de classificações correctas,
uma percentagem superior a 75% (79.2% e 76.2%, respectivamente) e, relativamente às
classificações incorrectas, inferior a 25% (20.8% e 23.8%, respectivamente).
As construções com os verbos volitivos querer e desejar não suscitam dúvidas,
apresentando, nos dois grupos de sujeitos, um elevado número de classificações
correctas, correspondentes a 96.7%, no grupo I de sujeitos (10º ano), e a 93.3%, no
grupo II de sujeitos (12º ano). Este desempenho positivo parece estar relacionado com o
facto de, nas frases que envolvem estes verbos, estarem presentes relações de
concordância temporal [pres/pres], como acontece nas frases 19 e 22 (“ O Francisco
quer que o primo vá aprender inglês.” e “ Nós desejamos que os noivos sejam felizes.”,
respectivamente), e de [pas/pas], como ocorre na frase 7 (“Eles quiseram que o Pedro
viajasse com eles.”).
Já com o verbo superior de influência sugerir, a percentagem relativa às classificações
correctas é inferior (76%, no grupo de sujeitos I, e 68%, no grupo de sujeitos II) e,
consequentemente, a percentagem de classificações incorrectas é superior relativamente
à obtida com os anteriores (24%, no grupo de sujeitos I, e 32%, no grupo de sujeitos II).
De novo, as avaliações correctas dizem respeito às estruturas onde o verbo da encaixada
concorda temporalmente com o da superior, como acontece nas frases 2 e 27 (“Ele
sugere que as obras comecem em Março.” e “A Educadora sugere que as crianças vão
brincar para o jardim.”, respectivamente), em que se estabelece a combinação
[pres/pres], e na frase 12 (“Ontem, a Ana sugeriu ao marido que trocasse de carro.”),
onde está presente a combinação [pas/pas].
Quanto às avaliações incorrectas com o mesmo verbo, verifica-se que estas envolvem as
frases em que se manifesta uma relação de independência temporal da encaixada
relativamente à matriz, nomeadamente as frases 10 e 29 (“A Dulce sugeriu que o
marido vá escolher o restaurante.” e “Os meus amigos sugeriram que eu tire férias para
descansar.”, respectivamente), cujo verbo superior se encontra no pretérito perfeito e o
verbo da encaixada no presente. Neste caso, verifica-se que o estado de coisas expresso
pela encaixada se localiza relativamente ao tempo da enunciação e não ao ponto de
perspectiva temporal da matriz, facto que entendemos ser uma manifestação de
independência temporal entre os dois domínios. A frase 10 regista 60% de avaliações
erradas no grupo I de sujeitos, e 90% no grupo II de sujeitos; a frase 29, por sua vez,
150
comporta 60% de classificações incorrectas no grupo I de sujeitos, e 70% no grupo II de
sujeitos.
Esta situação repete-se nas frases com o verbo lamentar: sempre que há concordância
temporal entre os verbos dos dois domínios oracionais, os sujeitos identificam
facilmente as estruturas como gramaticais; nas estruturas em que se verifica
independência temporal, os sujeitos classificam, incorrectamente, as construções como
agramaticais. Assim, nas frases 5 e 28 (“O Raul e a Carolina lamentam que a Rita vá
sair do país.” e “A Luísa lamenta que o Henrique tenha maus resultados a História.”,
respectivamente), onde se estabelece a combinação [pres/pres], e na frase 17 (“Elas
lamentaram que o Luís estivesse doente.”), onde está presente a combinação [pas/pas],
verifica-se 100% de classificações correctas, nos dois grupos de sujeitos. Por oposição,
nas frases 1 e 25 (“Os pais lamentaram que o filho seja preguiçoso.” e “Ele lamentou
que o Rodrigo vá vender a casa.”, respectivamente), em que o tempo da encaixada é
independente do da matriz, estando presente a combinação [pas/pres], regista-se uma
elevada percentagem de classificações incorrectas: a frase 1 apresenta 90%, no grupo I
de sujeitos, e 80%, no grupo II de sujeitos; a frase 25 regista 50% nos dois grupos de
sujeitos.
Deste modo, os grupos de sujeitos I e II identificam as relações de concordância
temporal entre a oração matriz e a oração completiva, mas têm algumas dificuldades em
reconhecer relações de independência temporal entre os dois domínios oracionais. Estas
observações possibilitam, simultaneamente, a confirmação da hipótese 5, como
acontece com os dados da produção, e a infirmação da hipótese 6:
HIPÓTESE 5 – Os sujeitos identificam a relação de concordância temporal que se
estabelece entre a oração encaixada e a oração matriz, tendo em conta os tempos dos
verbos dessas orações.
HIPÓTESE 6 – Os sujeitos identificam as relações de dependência ou de
independência temporal entre a oração encaixada e a oração matriz, independentemente
dos tempos em que se encontram os verbos dessas orações.
151
Por outro lado, dado que os resultados globais do grupo de sujeitos II (12º ano) são
inferiores aos apresentados pelo grupo de sujeitos I (10º ano), conclui-se que a
progressão escolar pode não ser um factor condicionante do sucesso no que diz respeito
ao reconhecimento de relações temporais entre a matriz e a encaixada, pelo que não se
confirma a hipótese 7. Isto significa que, embora a progressão escolar esteja, na maior
parte dos casos, associada a desenvolvimento linguístico, em outros casos, o mesmo não
acontece. Note-se que estas estruturas são das mais problemáticas mesmo para os
adultos (o que se verificou durante a fase do pré-teste), o que mostra que a sua
estabilização é tardia, podendo não estar concluída no final do ensino secundário.
Apresenta-se, de seguida, a hipótese 7, que, pelo que atrás foi referido, não se confirma:
HIPÓTESE 7 – As dificuldades na selecção do modo da encaixada e na identificação
de frases (a)gramaticais tendem a diminuir com a progressão escolar, no sentido em que
os sujeitos pertencentes a um nível de escolaridade superior apresentam um melhor
desempenho na manipulação destas estruturas, revelando uma maior estabilização na
aquisição de competências linguísticas.
Por fim, analisam-se os dados relativos ao grupo II-B, que, sendo composto pelos
mesmos verbos superiores que o grupo anterior (querer e desejar, sugerir e lamentar),
selecciona igualmente na encaixada o conjuntivo. No entanto, com este grupo foi
controlado o tempo verbal da encaixada em todas as sequências, num total de 11
sequências agramaticais.
Com este grupo, verifica-se uma elevada taxa de sucesso no desempenho dos sujeitos,
apresentando o grupo I de sujeitos (10º ano) um valor de 92.7% e o grupo II (12º ano)
um valor de 97.3% de classificações correctas. Observa-se também que não há registo
de situações marcadamente problemáticas em nenhum dos verbos constituintes. Assim,
as frases com os verbos querer e desejar apresentam todas 100% de classificações
correctas pelos sujeitos (F4 – “Os filhos quiseram que a mãe faça um bolo.”; F11 – “As
raparigas querem que os rapazes olharem para elas”; F14 – “Tu desejaste que o Bruno
for contigo ao cinema.”; e F15 – “Eu quero que o Manuel deixasse de faltar às aulas.”),
à excepção da frase 24 (“A mãe quis que o filho vá estudar para o quarto.”) que, no
grupo I de sujeitos, apresenta três avaliações erradas e, no grupo II de sujeitos, uma.
Estes resultados revelam que os sujeitos identificam, nas estruturas com estes verbos,
152
restrições temporais impostas pelo verbo matriz ao verbo da encaixada, daí que
considerem agramaticais sequências em que se estabelecem combinações [pas/pres],
como nas sequências 4 e 24, e [pres/pas], como na sequência 1.
Por outro lado, estes dados demonstram também que a presença do futuro do conjuntivo
na encaixada não é admitida como possível pelos sujeitos, como se verifica nas
sequências 11 e 14.
As estruturas com o verbo sugerir apresentam igualmente uma elevada percentagem de
classificações correctas nos grupos I e II de sujeitos (10º e 12º anos), a saber, 96.7% e
100%, respectivamente. Também com este verbo matriz, os sujeitos reconhecem como
agramaticais as sequências em que o verbo da encaixada não concorda temporalmente
com o verbo da oração superior, como acontece na sequência 8 (“Os Bancos sugerem
que os clientes comprassem acções.”), em que se verifica a combinação [pres/pas]. De
novo, as construções em que é seleccionado o futuro do conjuntivo na encaixada, como
as sequências 16 e 20 (“Os professores sugeriram que os alunos virem a nova peça de
teatro.” e “Eu e a Carla sugerimos que a mãe fizer lasanha.”), são classificadas,
correctamente, como agramaticais.
Com o verbo lamentar, a situação é idêntica, ocorrendo muitas avaliações correctas,
com destaque para o grupo II de sujeitos, que regista 93.3% contra 86.7%, do grupo I de
sujeitos. As sequências agramaticais 21 e 26 (“Tu lamentas que a Cristina souber da
verdade.” e “Eu lamentei que tu partires tão cedo.”, respectivamente) registam uma
classificação errada cada, no grupo I de sujeitos; no grupo II, as duas frases são
correctamente classificadas por todos os sujeitos. Esta situação decorre do facto de os
sujeitos reconhecerem, novamente, que o futuro do conjuntivo não pode ser
seleccionado nestas orações. Salienta-se, porém, a sequência agramatical 30 (“Os avós
lamentam que os netos fumassem às escondidas.”), em que o verbo superior está no
presente do indicativo e o verbo da encaixada no imperfeito do conjuntivo, que
apresenta 2 classificações incorrectas em cada grupo de sujeitos. Estes dados levam a
verificar que, a combinação [pres/pas] com o verbo matriz lamentar é considerada
marginal por alguns sujeitos. No entanto, se na mesma sequência ocorresse um tempo
igualmente passado, mas composto, como o pretérito perfeito ou o pretérito mais que
perfeito do conjuntivo (“Os avós lamentam que os netos tenham fumado/ tivessem
fumado às escondidas.”), tornaria a frase gramatical, na medida em que estes tempos
153
exprimem uma informação de perfectividade. O imperfeito do conjuntivo parece, assim,
receber nesta sequência uma leitura ou de presente ou de futuro.
Assim, os resultados apurados neste grupo de verbos demonstram que os grupos I e II
de sujeitos revelam facilidade em identificar a maioria das sequências como
agramaticais. Depreende-se, portanto, que identificam restrições temporais com os
verbos matriz querer e sugerir e que reconhecem o futuro do conjuntivo como um
tempo verbal que não pode figurar em orações subordinadas completivas. Confirma-se,
assim, a hipótese 6:
HIPÓTESE 6 – Os sujeitos identificam as relações de dependência ou de
independência temporal entre a oração encaixada e a oração matriz, independentemente
dos tempos em que se encontram os verbos dessas orações.
Em todos os verbos do grupo II-B, o desempenho dos sujeitos do grupo II (12º ano) foi
melhor relativamente ao do grupo I (10º ano), o que permite confirmar a hipótese 7:
HIPÓTESE 7 – As dificuldades na selecção do modo da encaixada e na identificação
de frases (a)gramaticais tendem a diminuir com a progressão escolar, no sentido em que
os sujeitos pertencentes a um nível de escolaridade superior apresentam um melhor
desempenho na manipulação destas estruturas, revelando uma maior estabilização na
aquisição de competências linguísticas.
154
Capítulo 5 – Conclusões
Considera-se que os objectivos formulados no início desta investigação (cf. secção 1.1.)
foram atingidos, contribuindo-se para o estudo dos modos indicativo e conjuntivo em
completivas objecto directo em português e para a comparação do desempenho
linguístico dos sujeitos alvo. O trabalho apresentado nesta dissertação permitiu, assim,
tecer ilações sobre (i) a selecção do modo e do tempo do verbo da encaixada, (ii) a
interferência do operador de negação frásica na selecção do modo e do tempo da
encaixada e (iii) as relações temporais entre a oração encaixada e a matriz.
Procede-se agora à apresentação das principais conclusões decorrentes da descrição e
análise dos dados dos dois grupos de sujeitos (10º e 12º anos):
(i) As orações completivas que integram verbos que seleccionam o indicativo na
encaixada, em frases afirmativas, não colocam problemas aos sujeitos, pois os dois
grupos de sujeitos (10º e 12º anos) produzem na encaixada o modo indicativo, conforme
o alvo. Pelos dados obtidos nestas construções, podemos constatar que se verifica nos
dois grupos de sujeitos um bom domínio linguístico destas construções.
(ii) As orações completivas que envolvem verbos que seleccionam o conjuntivo na
encaixada, em frases afirmativas, suscitam algumas dúvidas aos sujeitos do grupo I (10º
ano), tendo-se verificado uma margem de erro relevante com o verbo duvidar. O grupo
II de sujeitos (12º ano) não apresenta produções incorrectas, revelando um melhor
domínio sobre estas construções. Por conseguinte, os resultados demonstram que a
progressão escolar condiciona o desempenho desta tarefa, em particular, apresentando o
grupo II de sujeitos uma maior estabilização na aquisição destas estruturas.
(iii) Nas orações completivas seleccionadas por verbos de selecção modal dupla, em
frases afirmativas, todos os sujeitos, embora optem em alguns casos pelo conjuntivo,
revelam uma preferência clara pelo indicativo, apresentando este modo um valor
percentual acima dos 80%, nos dois grupos de sujeitos. No entanto, neste contexto,
destacam-se as construções com o verbo matriz pensar, na medida em que os dados
demonstram que os dois grupos de sujeitos (10º e 12º anos) seleccionam exclusivamente
o indicativo, não se registando produções no conjuntivo. Esta situação permite
155
corroborar a hipótese previamente formulada de que as construções que envolvem o
verbo pensar que seleccionam o conjuntivo podem ser assumidas por alguns sujeitos
como marginais.
(iv) Com as orações que envolvem verbos que seleccionam o indicativo, em frases
negativas, verifica-se que os dois grupos de sujeitos (10º e 12º anos) seleccionam
correctamente este modo, segundo a gramática-alvo, revelando um bom desempenho na
manipulação destas estruturas.
(v) As construções que integram verbos que seleccionam o conjuntivo na presença do
operador de negação frásica superior colocam alguns problemas ao grupo I de sujeitos
(10º ano); o grupo II de sujeitos (12º ano) apresenta todas as produções no conjuntivo,
conforme o alvo. Os sujeitos de nível de escolaridade superior (grupo II) apresentam,
assim, um melhor desempenho na selecção do modo na encaixada.
(vi) Com os verbos que sofrem a interferência do operador de negação frásica superior,
passando a seleccionar indicativo ou conjuntivo na encaixada, o desempenho dos dois
grupos de sujeitos não é idêntico. Verifica-se, no grupo I de sujeitos (10º ano), uma
preferência evidente pelo modo indicativo, em detrimento do modo conjuntivo, em
todos os grupos de verbos. No entanto, no grupo II de sujeitos (12º ano) esta preferência
pelo indicativo não é tão visível quando ocorrem os verbos acreditar, imaginar,
suspeitar e, quando ocorre o verbo pensar, o indicativo apresenta 100% do total das
cocorrências.
(vii) Os tempos verbais mais produzidos na encaixada pelos sujeitos – presente e formas
perifrásticas com auxiliar no presente – revelam que estes estabelecem constantemente
com o verbo da oração superior uma relação de concordância temporal.
(viii) Na capacidade de avaliação de frases gramaticais e de sequências agramaticais,
verifica-se que os dois grupos de sujeitos (10º e 12º anos) identificam facilmente entre
os dois verbos relações de concordância temporal, mas apresentam dificuldades em
reconhecer os contextos de independência temporal entre a encaixada e a matriz. Os
dados do grupo II de sujeitos (12º ano) na tarefa solicitada no teste de avaliação,
correspondem, na maioria dos contextos, a um resultado ligeiramente inferior de
156
avaliações correctas, relativamente ao obtido pelo grupo I de sujeitos (10º ano), o que
revela que as dificuldades atrás enunciadas não tendem a diminuir com a progressão
escolar. Isto mostra que concordância temporal e independência temporal são dois
fenómenos que, embora relacionados, são independentes, tendendo os sujeitos a atribuir
mais peso ao primeiro do que ao segundo. Os valores elevados para o indicativo em
contextos de selecção modal dupla ou em contextos em o conjuntivo deveria ser o modo
seleccionado, podem resultar do facto de os sujeitos estarem a considerar o indicativo
como o modo por defeito, tendendo, por isso, a generalizá-lo a todos os contextos.
Adicionalmente, note-se que, quando ocorre este modo na encaixada, são admitidos
sujeitos disjuntos e sujeitos correferentes, com o mesmo verbo, o que não acontece com
o conjuntivo. Efectivamente, quando é seleccionado o conjuntivo na encaixada os
sujeitos são interpretados obrigatoriamente como disjuntos.
Estes resultados evidenciam dois aspectos importantes em termos didácticos. Por um
lado, mostram que as orações completivas devem ser objecto de um estudo mais
aprofundado no ensino básico e secundário, que implique não apenas uma mera
classificação mas também uma reflexão crítica sobre os vários aspectos que lhe estão
associados; por outro, e resultante do primeiro, que este domínio específico apresenta
problemas sobretudo ao nível da selecção do conjuntivo e da identificação de relações
de (in)dependência temporal entre a encaixada e a matriz.
Uma outra constatação, decorrente dos resultados apurados, prende-se com o facto de o
indicativo ser o modo preferido e mais facilmente usado pelos sujeitos, o que revela que
o conjuntivo é, sem dúvida, um modo que coloca problemas e gera dúvidas, não só nas
orações completivas, como também noutras orações subordinadas. Perante isto,
compete à escola e ao professor de Português proporcionar aos alunos oportunidades
que lhes permitam descobrir e compreender o funcionamento da língua.
Como investigação futura, será interessante explorar a relação entre os modos indicativo
e conjuntivo e questões de referência dos sujeitos, aspecto igualmente a considerar nas
orações completivas, uma vez que se verificam diferenças neste domínio: o indicativo
associa-se à referência disjunta e à correferência; e o conjuntivo apenas à referência
disjunta. A construção de um estímulo com este objectivo permitirá testar a
157
compreensão e interpretação destas orações pelos sujeitos e, dessa forma, funcionar
como um contributo para o assunto central desta investigação.
158
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Anexos