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Dirce Maria Trevisan Zanetta
8INDICADORES DE SAÚDE
Licenciatura em ciências · USP/ Univesp
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8.1 Introdução8.2 Valores absolutos e relativos8.3 Principais indicadores: índice, proporção e coeficiente8.4 Indicadores de mortalidade
8.4.1 Coeficiente de mortalidade geral8.4.2 Mortalidade proporcional por grupos de causas8.4.3 Esperança de vida ao nascer8.4.4 Coeficiente de mortalidade infantil 8.4.5 Taxa de fecundidade
8.5 Usos de indicadores8.6 ConclusãoReferências
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Métodos estatísticos: coleta, tratamento e análise de dados; aplicação nas pesquisas de saúde pública, controle de doenças e epidemias.
8.1 IntroduçãoNa aula anterior, você estudou que uma epidemia ocorre quando há um aumento inesperado
da ocorrência de uma doença e, para detectá-la, é preciso conhecer o seu nível endêmico.
Algumas doenças são de notificação compulsória, permitindo o acompanhamento da incidência
ao longo do tempo. Quando se observa um aumento inesperado, é possível adotar as medidas
necessárias para o seu controle. A avaliação da efetividade das ações de controle é possível com
a análise dos dados feita pela vigilância.
Além disso, a vigilância em saúde utiliza indicadores de monitoramento que permitem analisar
variações regionais, populacionais e temporais, identificando situações de desigualdades e contri-
buindo para a avaliação dos níveis de saúde da população. Esses indicadores subsidiam processos de
planejamento, gestão e avaliação de ações de saúde voltadas para o cuidado da saúde das pessoas.
Nesta aula, você vai estudar o que são indicadores de saúde e como são utilizados.
Indicadores de saúde são medidas que procuram sintetizar o efeito de determinantes sociais, econômicos, ambientais, biológicos
etc. sobre o estado de saúde de uma população.
Os indicadores fornecem dados necessários para o planejamento e avaliação dos serviços de
saúde e auxiliam a decidir sobre as medidas necessárias para a prevenção e controle das doenças.
A avaliação das mudanças ao longo do tempo permite confirmar tendências passadas e prever
tendências futuras.
8.2 Valores absolutos e relativosAlgumas características são necessárias para que os indicadores sejam úteis: é importante
que os dados para seu cálculo sejam disponíveis, e seu cálculo deve ser simples e de fácil
entendimento; devem ter poder discriminatório, possibilitando a comparação entre regiões e o
acompanhamento ao longo do tempo.
Os dados expressos em valores absolutos, como o número de casos de diabetes em uma
comunidade ou o número de óbitos, são úteis para o planejamento e a administração de saúde.
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8 Indicadores de saúde
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É interessante saber quantas pessoas estão sendo acometidas por doenças, quantos doentes
crônicos de AIDS ou de tuberculose estão inscritos em um programa de controle. A partir daí,
pode-se estimar a demanda de equipamentos, medicamentos, recursos humanos, leitos hospita-
lares e outros, que serão necessários para o atendimento adequado.
Entretanto, para avaliar a tendência temporal ou para comparar diferentes regiões, é
necessário transformar os dados em valores relativos. Vamos supor que, durante o ano de 2010,
ocorreram 92 casos de hepatite na cidade X e 140 casos na cidade Y. Conhecer esses números
absolutos permite planejar o número de consultas que deverão ser feitas para atender a essas
pessoas, bem como a quantidade de remédio e de exames que deverão ser disponibilizados.
Contudo, esses valores não permitem saber em qual das cidades a ocorrência da doença é mais
preocupante e isso porque não sabemos o tamanho dessas duas cidades.
Para a comparação, é preciso transformar esses valores absolutos em relativos.
Por exemplo, se na cidade X em 2010 havia 52.000 habitantes e na cidade Y, 250.000 habi-
tantes, a divisão do número de doentes pelo tamanho da população dará para a cidade X o valor
0,00176 ou, ainda, se multiplicarmos por 100.000, temos como resultado 176 por 100.000
habitantes, e para a cidade Y, 0,00056 ou 56/100.000 habitantes.
Vemos então que, quando a ocorrência da doença é mostrada para um denominador
comum (nesse caso para 100.000 habitantes), a hepatite tem frequência menor na cidade Y
que na X. Como os tamanhos das populações variam muito, para poder comparar indicadores,
utilizam-se números relativos, em que ambos os números têm o mesmo denominador. Nesse
exemplo, como os dois valores são calculados para 100.000 habitantes, é possível fazer a compa-
ração da ocorrência de hepatite nas duas cidades e ver que ela é menor na cidade Y.
Como veremos no item 8.4.1, muitas vezes é necessário fazer alguns ajustes nas medidas dos
indicadores para permitir a comparação de populações diferentes.
Para o diagnóstico da situação de saúde em uma população, os valores absolutos devem ser sempre transformados em número relativos. As medidas relativas usadas para medir a ocorrência das doenças são de três tipos: índice, proporção ou coeficiente. Dessa forma, é possível comparar diferentes populações ou mesmo uma população em diferentes momentos.
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Métodos estatísticos: coleta, tratamento e análise de dados; aplicação nas pesquisas de saúde pública, controle de doenças e epidemias.
8.3 Principais indicadores: índice, proporção e coeficiente
Um índice é a razão de dois números, isto é, a relação entre esses números. É o quociente
de duas quantidades, em que o numerador não é necessariamente incluído no denominador.
Dessa forma, permite comparar quantidades de diferentes naturezas. Alguns índices são utilizados
para o planejamento de cuidados à saúde.
Por exemplo, é útil conhecer o número de médicos por habitantes em uma determinada população
e saber se há falta de médicos ou eles são em número suficiente para o cuidado daquela população.
Conhecer o número de leitos para internação, em determinada cidade, para cada 1.000 habitantes
permite verificar se há necessidade de construir mais hospitais ou se existem leitos suficientes para
atender às necessidades dessa população.
Outro índice utilizado para o conhecimento da história natural da doença é a razão de
sexos (masculino/feminino) em que o número de homens acometidos é dividido pelo número
de mulheres acometidas por determinada doença. Veja no Gráfico 8.1 a razão de sexo dos
casos de AIDS no período de 1986 a 2008, no Brasil. Esse tipo de indicador, junto com outras
informações, permite conhecer a dinâmica de transmissão da doença.
Observando o gráfico, podemos ver que, no início da epidemia, a ocorrência em homens era
muito maior que em mulheres. Na década de 80, chegou a ser 15 vezes maior e essa relação foi
diminuindo com os anos, de forma que, desde o início deste século, tem-se mantido em torno de
1,5. Esse conhecimento tem implicações, por exemplo, para o planejamento de medidas de controle.
Se no início elas deviam ser direcionadas principalmente aos homens, atualmente, embora a doença
ainda predomine em homens, as medidas de controle devem ser direcionadas aos dois sexos.
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As razões são também utilizadas para comparar a frequência de doença entre grupos.
Por exemplo, a razão de prevalências ou de incidências medidas em diferentes grupos
(de diferentes localidades, ou de faixas etárias diferentes, ou em homens e mulheres etc.) é
muito utilizada em estudos que procuram conhecer os determinantes de doenças e atuar sobre
esses determinantes para prevenir as doenças ou controlá-las.
Quando todos os indivíduos no numerador estão incluídos no denominador, a razão é deno-
minada de proporção. Uma proporção é uma medida sem unidade (exemplo: 0,10), já que a mesma
unidade do numerador é igual à do denominador e, portanto, se cancelam. O valor é limitado
entre 0 e 1. Em geral, a proporção é multiplicada por 100, sendo então expressa em percentual.
A prevalência, como já vimos, mede a proporção de indivíduos com determinada doença
entre todos os indivíduos dessa população.
Os coeficientes ou taxas medem a velocidade com que a doença ocorre na população ou
que ocorrem os óbitos. No denominador, coloca-se o número de pessoas sob risco no início do
período e, no numerador, o número de casos novos em um período de tempo.
Sendo o numerador menor que o denominador, pelo fato de a doença ou morte usualmente
serem fenômenos de baixa frequência, os coeficientes são frações expressas em decimais, às vezes,
com várias casas após a vírgula. Para facilitar a leitura e as comparações, em geral, são multiplicados
por cem, por mil, por dez mil e até por cem mil, dependendo da raridade do evento. Dessa
forma, os resultados ficam com números inteiros, facilitando as comparações.
No exemplo acima da ocorrência de hepatites, com 92 casos de hepatite que ocorreram
em um ano em uma população de 52.000 habitantes: o coeficiente foi de 0,00176 por ano.
Para facilitar a sua compreensão, foi apresentado como 176/100.000 habitantes por ano.
Gráfico 8.1: Razão de sexo dos casos de AIDS, segundo ano de diagnóstico. Brasil, 1986 a 2008. / Fonte: Adaptado de BRASIL, 2010.
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Métodos estatísticos: coleta, tratamento e análise de dados; aplicação nas pesquisas de saúde pública, controle de doenças e epidemias.
Para serem úteis, os indicadores devem ser de fácil obtenção, em diferentes áreas e épocas, e
de fácil cálculo a partir de informações básicas. Os dados básicos necessários para a elaboração
desses coeficientes e índices são representados pelos dados vitais de população e de doenças.
Para a Saúde Pública, os seus números globais e a distribuição de suas características são utili-
zados para os cálculos dos coeficientes e índices usados para “medir” a saúde (base dos diagnós-
ticos de saúde de cada localidade). A Saúde Pública se vale, principalmente, dos dados vitais de
nascimentos (vivos e mortos) e dos óbitos.
Os óbitos são registrados no Sistema de Informação de Mortalidade (SIM), que coleta dados
referentes à pessoa que faleceu (sexo, idade, residência, ocupação etc.) e registra a causa de
morte, segundo regras internacionais de padronização.
O registro dos nascimentos vivos, desde 1990, é feito no Brasil pelo Sistema de Informação
sobre Nascidos Vivos (SINASC) do Ministério da Saúde. Além dos dados exigidos por lei, são
registradas outras variáveis importantes para definir o perfil epidemiológico dos nascidos vivos
(como peso ao nascer, tipo de parto, entre outros).
Os dados das populações são obtidos pelos censos, feitos na população a cada 10 anos.
As medidas de doença na população são feitas por estimativas de incidência e de prevalência. Outra
medida importante é a letalidade, que mede a gravidade de uma doença. É calculada dividindo-se
o número de óbitos por determinada doença pelo número de casos da mesma doença. A letalidade
também pode dar informação sobre a qualidade da assistência médica prestada ao doente, quando se
verificam letalidades diferentes de uma mesma doença em diferentes regiões.
Os indicadores de saúde são escolhidos para caracterizar o quadro epidemiológico de uma população ou região e correspondem a coeficientes, proporções e índices que permitem elaborar o diagnóstico de saúde. Por sua vez, esse diagnóstico será capaz de indicar as ações necessárias para combater e prevenir os problemas detectados. Os indicadores permitem quantificar o resultado dessas ações, comparando suas medidas antes e os resultados obtidos posteriormente às ações.
Os eventos vitais são aqueles que acontecem durante a vida do indivíduo, alterando, de alguma forma, o seu “estado” perante a sociedade e perante o Direito: nascimentos vivos, nascimentos mortos, óbitos, casamentos, adoções, separações, legitimações, entre outros.
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8.4 Indicadores de mortalidade A mortalidade se refere ao conjunto de indivíduos que morrem em um dado intervalo de
tempo e em uma determinada região. Para avaliar o nível de saúde de uma população, são muito
utilizados os indicadores como os de mortalidade geral, mortalidade infantil, mortalidade materna,
mortalidade por causas específicas, por exemplo, a mortalidade por doenças transmissíveis.
Os principais indicadores associados ao estado da saúde das pessoas são descritos a seguir.
8.4.1 Coeficiente de mortalidade geral
Mede o risco de morte por todas as causas em uma população de um dado local e período,
em geral de um ano. Seu cálculo, como o da maioria dos indicadores, é feito por meio de uma
regra de três simples (se numa população de 80.000 habitantes ocorreram 420 óbitos em
um ano, em 1.000 habitantes devem ocorrer “x”, sendo 1.000 a base comum, que permitirá
comparar com outros locais ou outros tempos).
Os indicadores de saúde podem ser relacionados às condições ambientais, às condições de saúde ou associados ao estado de saúde das pessoas. São exemplos de indicadores relaciona-dos às condições ambientais a porcentagem de residências em uma determinada região com abastecimento de água, rede de esgotos ou coleta de lixo. Para avaliar as condições de saúde, utilizam-se, por exemplo, os índices que estimam o número de médicos por 1.000 habitantes, de leitos gerais por 1.000 habitantes e de leitos específicos, como de Unidades de Terapia Intensiva, por 1.000 habitantes.
CMG = × 1.000 habNúmero de óbitos em uma população
População total
Este coeficiente é útil para acompanhar a evolução ao longo do tempo. No entanto, não é muito utilizado para comparar diretamente o nível de saúde de diferentes populações, pois não leva em consideração a estrutura etária dessas populações (se a população é predominantemente jovem ou idosa).
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Métodos estatísticos: coleta, tratamento e análise de dados; aplicação nas pesquisas de saúde pública, controle de doenças e epidemias.
Um coeficiente geral de mortalidade alto para uma população mais idosa significa apenas
que as pessoas já viveram o que tinham para viver e, por isso, estão morrendo. Já para uma
população mais jovem significaria mortalidade prematura.
A mortalidade pode também ser calculada por causas específicas, como doenças respiratórias
ou doenças cardiovasculares, por sexo ou por faixa etária como, por exemplo, a mortalidade em
crianças abaixo de cinco anos ou em pessoas acima de 60 anos.
Como regra, para comparar a mortalidade geral (ou risco de doenças) em populações com
estruturas etárias diferentes é necessário controlar o efeito da idade na mortalidade. Uma forma
simples de fazer isso é calculara mortalidade para faixas etárias da população, o que permite a
comparação da mortalidade em indivíduos de mesma faixa etária, por exemplo, para indivíduos
com idade entre 40 e 60 anos em duas ou mais populações. Assim, na população em que
essa faixa etária apresenta a maior mortalidade pode-se supor condição pior de saúde para
esses indivíduos. É possível também calcular o coeficiente de mortalidade geral ajustado para
idade (também chamado de coeficiente padronizado para a idade), que indica a mortalidade
que uma população teria se apresentasse uma estrutura etária padrão. Dessa forma, ajustando
os coeficientes de mortalidade de diferentes populações para uma mesma estrutura etária
padrão, podemos compará-los sem que haja o efeito da idade (Se você estiver interessado em
saber como esses ajustes podem ser feitos, leia Jekel et al., pag 42). Por exemplo, o coeficiente
de mortalidade por doenças cardiovasculares nos Estados Unidos em 2002 (176 por 100.000
habitantes) foi praticamente duas vezes maior que o do Brasil (79 por 100.000 habitantes).
Mas quando padronizados, foram semelhantes (105 e 118 por 100.000 habitantes, respectiva-
mente). Dessa forma, pode-se ver que a diferença na mortalidade por doença cardiovascular
nesses países não é tão grande como sugeriam os coeficientes, antes de controlar o efeito da
idade. Os coeficientes de mortalidade não padronizados refletem tanto a força de mortalidade
quanto as diferenças na composição etária da população. Nos Estados Unidos, a proporção de
pessoas idosas é maior e essas pessoas apresentam mais doenças cardiovasculares que pessoas
jovens e, portanto, apresentam maior mortalidade por essa doença. Quando os coeficientes nos
dois países foram ajustados para uma mesma estrutura etária, observamos que a mortalidade pela
doença foi semelhante.
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8.4.2 Mortalidade proporcional por grupos de causas
Permite calcular a distribuição percentual de óbitos por grupos de causas definidas em uma
população de uma determinada região em um período de tempo, em geral de um ano. Veja na
Figura 8.1 a distribuição percentual por grupos de causas no Brasil no período de 1930 a 2007.
MProp por causa = × 100Números de óbitos pela doença em uma população
Número total de óbitos no mesmo período
a
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Em cada ano é mostrada a distribuição porcentual das várias causas. O grupo de doenças infecciosas
como causa de óbito, na parte inferior da figura, parte a, mostra que, em 1930, essas doenças eram
responsáveis por cerca de 50% dos óbitos e, ao longo do tempo, houve uma importante diminuição,
sendo no momento responsável por cerca de 5% dos óbitos. Já as mortes por câncer, por doenças
cardiovasculares e por violências, mostram um aumento proporcional ao longo do tempo.
Figura 8.1: Tendências das causas de morte no Brasil. a. Todas as mortes entre 1930-2007. b. Mortalidade por doenças infecciosas, 1980-2008 (seguir como descrito abaixo da imagem: coeficiente 2,3). / Fonte: modificado de Barreto et al., 2011.
b
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8.4.3 Esperança de vida ao nascer
Esperança de vida ao nascer é o número médio de anos de vida esperados para um recém-nascido,
considerando o padrão de mortalidade existente na população, em determinada região e
período, em geral um ano. Expressa o número médio de anos que se espera que um recém-nascido
viva. O aumento da esperança de vida ao nascer sugere melhora das condições de vida e de
saúde da população.
Na Tabela 8.1 é mostrada a esperança de vida ao nascer, por sexo e por região do Brasil,
no período de 1980 a 2005.
Tabela 8.1: Esperança de vida ao nascer, por sexo, segundo as Grandes Regiões – 1980/2005. / Fonte: IBGE, 2009.
Grandes Regiões
Esperança de vida ao nascer, por sexo1980 1991 2000 2005
Total H M Total H M Total H M Total H MBrasil 62,5 59,6 65,7 66,9 63,2 70,9 70,4 66,7 74,4 72,1 68,4 75,9
Norte 60,8 58,2 63,7 66,9 63,7 70,3 69,5 66,8 72,4 71,0 68,2 74,0
Nordeste 58,3 55,4 61,3 62,8 59,6 66,3 67,2 63,3 70,9 69,0 65,5 72,7
Sudeste 64,8 61,7 68,2 68,8 64,5 73,4 72,0 67,9 76,3 73,5 68,5 77,7
Sul 66,0 63,3 69,1 70,4 66,7 74,3 72,7 69,4 76,3 74,2 70,8 77,7
Centro-Oeste 62,9 60,5 65,6 68,6 65,2 72,0 71,8 68,4 75,3 73,2 69,8 76,7
H: Homens - M: Mulheres
Podemos observar que, ao longo do período, houve um aumento na esperança de vida ao nascer em
todas as regiões. Nota-se também que as diferenças regionais se reduziram em 2005. Por exemplo,
as diferenças entre o Nordeste e o Sul, que eram de oito anos em 1980, em 2005 foram de cinco
anos. Percebe-se também a diferença entre o sexo masculino e o feminino. Contribuiu para essa
diferença o aumento das causas violentas de óbitos, que aumentaram a partir da década de 80 e
passaram a afetar, prioritariamente, o sexo masculino, sendo três vezes maior que no sexo feminino.
As informações sobre a esperança de vida ao nascer mostram claramente que existe um processo de
envelhecimento da população em nosso país. Isso vai exigir novas prioridades na área de políticas
públicas direcionadas à saúde. Por exemplo, há necessidade de formação de recursos humanos para
atendimento geriátrico.
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8.4.4 Coeficiente de mortalidade infantil
Taxa de mortalidade infantil é a frequência de óbitos infantis (menores de um ano de idade)
em uma população, em relação ao número de nascidos vivos em determinado ano. O cálculo é
feito para cada mil crianças nascidas vivas. Estima o risco de morte dos nascidos vivos durante
o primeiro ano de vida.
É um dos indicadores de saúde mais sensíveis. Em uma área onde as condições ambientais são
boas, espera-se encontrar um coeficiente de mortalidade infantil baixo quando comparado a lugares
onde o ambiente é problemático, com falta de infraestrutura de saneamento básico e problemas
sociais. Também são esperados níveis baixos quando existe um bom programa de imunizações, os
cuidados de pré e pós-natal são satisfatórios e as doenças infecciosas estão sob controle.
Na Tabela 8.2 a seguir são mostradas as mortalidades infantis, no Brasil e por região, nos
anos de 2000 e 2010. Pode-se observar que houve uma diminuição desse indicador em todas as
regiões, em especial na região Nordeste, diminuindo a desigualdade entre as regiões.
Tabela 8.2: Taxa de mortalidade infantil – 2000-2010. / Fonte: Censo demográfico 2000/2010.
Taxa de Mortalidade Infantil / mil
2000 2010Brasil 29,7 15,6
Região Norte 29,5 18,1
Região Nordeste 44,7 18,5
Região Sudeste 21,3 13,1
Região Sul 18,9 12,6
Região Centro-Oeste 21,6 14,2
CMI = × 1.000Óbitos em < 1 ano
Total
110
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8.4.5 Taxa de fecundidade
É o número de filhos nascidos vivos tidos por uma mulher, ao final de seu período reprodutivo,
em uma população de determinada região e período. A taxa é estimada para um ano calendário
a partir de informações retrospectivas obtidas em censos e em inquéritos demográficos.
Além de avaliar as tendências da dinâmica populacional e comparar diferentes regiões,
permite realizar projeções populacionais, levando em conta hipóteses de tendências de
comportamentos futuros da fecundidade. Dessa forma, subsidia processos de planejamento, gestão
e avaliação de políticas públicas nas áreas de saúde, educação, trabalho e previdência social.
Veja no Gráfico 8.2 a taxa de fecundidade nas regiões do Brasil, no período de 1940 a 2006.
Esse indicador é importante para entender a dinâmica demográfica, pois expressa a situação reprodutiva da mulher. O decréscimo da taxa pode estar associado a vários fatores, como urbanização da população, redução da mortalidade infantil, melhoria do nível educacional, ampliação do uso de métodos contraceptivos, maior participação da mulher na força de trabalho.
Gráfico 8.2: Taxas de fecundidade total, segundo as Grandes Regiões – 1940/2006. / Fonte: IBGE, 2009.
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Métodos estatísticos: coleta, tratamento e análise de dados; aplicação nas pesquisas de saúde pública, controle de doenças e epidemias.
A partir da década de 60 começa a haver um declínio da taxa de fecundidade, chegando em 2006 ao
valor de 1,99 filho por mulher. Esse valor encontra-se abaixo do nível de reposição da população,
que é de 2,1 filhos por mulher. Isso significa que, se essa taxa for mantida, espera-se que a população
comece a diminuir com o tempo. Comparando as regiões, vê-se que as maiores taxas são as das
regiões Norte e Nordeste, que são as mais ruralizadas do país. Com o tempo, a diferença entre as
regiões diminui e em 2006 a fecundidade das mulheres nordestinas é de 2,6 filhos, valor bem
próximo ao observado nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.
8.5 Usos de indicadoresDependendo da necessidade de avaliação ou da situação de saúde de uma população, podem ser
acompanhados outros indicadores, como: a proporção de nascidos vivos com baixo-peso ao nascer,
a taxa de internação por infecção respiratória aguda em menores de cinco anos de idade, a taxa
de mortalidade materna, a proporção de nascidos vivos de mães com quatro ou mais consultas de
pré-natal, a proporção de abandono do tratamento de tuberculose, a média anual de consultas médicas
nas especialidades básicas por habitante, a taxa de internação por diabetes, entre muitos outros.
Os coeficientes e índices, quando calculados sequencialmente no tempo, podem indicar
a direção e a velocidade das mudanças e servem para comparar diferentes áreas ou grupos de
pessoas em um mesmo momento.
8.6 ConclusãoNesta aula, vimos que indicadores de saúde são medidas que procuram sintetizar o efeito de
determinantes sociais, econômicos, ambientais, biológicos etc. sobre o estado de saúde de uma
população. Para que se possa avaliar a tendência temporal ou para comparar diferentes regiões, é
necessário transformar os dados em valores relativos. As medidas relativas usadas para medir
a ocorrência das doenças são de três tipos: índice, proporção ou coeficiente.
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Os indicadores são úteis para avaliar as condições e problemas de saúde. Podem produzir
informações de saúde por meio de análise de dados, possibilitando avaliar o nível de saúde da
população em geral e identificar grupos de alto risco, e decidir quais os problemas prioritários
de saúde. Permitem também que as informações sobre a saúde sejam utilizadas para escolher
entre diferentes alternativas de intervenção, e avaliar a efetividade dos programas direcionados
à redução de problemas de saúde da população.
ReferênciasAlmeidA Filho, N.; RouquAyRol, m. Z. Introdução à Epidemiologia. 4. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2006.
BARReto, m. et al. Sucessos e fracassos no controle de doenças infecciosas no Brasil: O contexto
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BoNitA, R.; BeAglehole, R.; kJellstRöm, t. Epidemiologia Básica. 2. ed. São Paulo: Santos, 2010.
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Instituto Brasileiro De Geografia e Estatística - IBGE. Indicadores sociodemográficos e de
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Jekel, J. F.; kAtZ, d. l.; elmoRe, J. g. Epidemiologia, Bioestatística e Medicina Preventiva.
2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2005.
Rede Interagencial de Informação Para A Saúde. Indicadores básicos para a saúde no Brasil:
conceitos e aplicações. 2. ed. Brasília: Organização Panamericana da Saúde - RIPSA, 2008.
Agora é a sua vez...Com base na leitura desta aula, realize as atividades propostas no
Ambiente Virtual de Aprendizagem. Em caso de dúvida, entre em contato com o tutor pelo Fórum.
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Métodos estatísticos: coleta, tratamento e análise de dados; aplicação nas pesquisas de saúde pública, controle de doenças e epidemias.
GlossárioCoeficiente de mortalidade geral: mede o risco de morte por todas as causas em uma população de um
dado local e período. A mortalidade pode também ser calculada por causas específicas, por sexo ou por faixa etária.
Coeficiente de mortalidade infantil: frequência com que ocorrem os óbitos infantis (menores de um ano de idade) em uma população, em relação ao número de nascidos vivos em determinado ano. É calculada para cada mil crianças nascidas vivas. Estima o risco de morte dos nascidos vivos durante o primeiro ano de vida.
Coeficientes ou taxas: medem a velocidade com que a doença ocorre na população ou que ocorrem os óbitos. No denominador, colocam-se pessoas sob risco no início do período e, no numerador, o número de ocorrência em um período de tempo.
Esperança de vida ao nascer: é o número médio de anos de vida esperados para um recém-nascido, consi-derando o padrão de mortalidade existente na população, em determinada região e no ano considerado.
Eventos vitais: são aqueles que acontecem durante a vida do indivíduo, alterando, de alguma forma, o seu “estado” perante a sociedade e perante o Direito: nascimentos vivos, nascimentos mortos, óbitos, casamentos, adoções, separações, legitimações, entre outros.
Indicadores de saúde: são medidas que procuram sintetizar o efeito de determinantes sociais, econômicos, ambientais, biológicos etc. sobre o estado de saúde de uma população.
Índice: a razão de dois números, isto é, a relação entre esses números. Um índice é o quociente de duas quantidades, em que o numerador não é necessariamente incluído no denominador.
Letalidade: é uma medida da gravidade de uma doença, calculada dividindo-se o número de óbitos por determinada doença pelo número de casos da mesma doença.
Mortalidade proporcional por grupos de causas: distribuição percentual de óbitos por grupos de causas definida em uma população de uma determinada região em um período de tempo, em geral de um ano.
Proporção: mede a probabilidade matemática de ocorrência da doença na população. Para seu cálculo, todos os indivíduos no numerador devem também estar incluídos no denominador.
Taxa de fecundidade: é o número de filhos nascidos vivos tidos por uma mulher ao final de seu período reprodutivo, em uma população em determinada região, no ano considerado.