Idades só há duas: ou se está vivo ou morto. A frase acima é uma das tantas definições...

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Idades só há duas: ou se está vivo ou morto.

A frase acima é uma das tantas definições

precisas de Mario Quintana, que, devido

à atualidade da sua obra e pensamento,

está e não está morto, possui as duas idades que ele reconhecia.

Faria cem anos neste domingo, e o que

significa isso de fato? Nada. É apenas mais

uma razão para lembrá-lo, e a tudo o

que ele deixou escrito e que permanece.

Este é um ano em que muitas pessoas que amo completaram

idades redondas: 10, 15, 45, 70. Cada uma experimentando uma

etapa diferente da vida, mas todas com algo mágico em comum: possuem a mesma idade, estão vivas.

Sou nostálgica, tenho a tendência a achar que o antes era sempre melhor

- não havia tanta violência, nem vaidade

extrema, e os sentimentos eram mais

verdadeiros -, mas reconheço que os tempos de agora trouxeram uma

novidade bombástica: eliminaram as diferenças

de geração.

Podemos ser tudo em qualquer idade. Jovens

responsáveis e maduros, adultos

rebeldes e inconseqüentes, velhos produtivos e fazendo

planos pro futuro. Todos combinam entre si em suas ambições e

desejos. Estão todos na mesma festa,

comemorando a mesma idade: vivos.

O garoto de 12 que entra pro Guinness, a

jornalista de 58 que namora um Apolo de 33, o escritor que lança seu primeiro livro aos 60, a ex-vedete que aos 99

ainda exibe boas pernas, o homem que aos 28 se

tornou um dos deputados mais votados, a mulher que foi mãe aos

56.

O que nos impede de realizar nossos

objetivos? Milhares de coisas, eu sei: a falta de dinheiro, de incentivo, de força de vontade.

Mas que ninguém venha reclamar que não tem

mais idade para alguma coisa, seja lá que coisa

for esta.

Não foi só a medicina e a ciência que

possibilitaram uma vida útil muito mais extensa: nossa mentalidade vem

mudando. Claro que nem tudo é positivo: meninas

engravidam quando deveriam estar

brincando e crianças trabalham quando

deveriam estar estudando.

De um lado, falta orientação e

informação; de outra, sobra exploração e

necessidade de sustento. Afora essas

tragédias sociais que já deveriam estar sendo

combatidas, a parte boa da história é que nosso

tempo esticou, e os estigmas encolheram

Falta bastante ainda: falta emprego para quem

tem mais de 40, falta aposentadoria decente,

um sistema de saúde com mais eficiência, falta a

parte do governo, como é praxe. Mas o nível de

desistência pessoal caiu drasticamente - poucos

hoje se acomodam. Nunca o ditado "quem é vivo

sempre aparece" foi tão realista. Estão todos bem

à vista, loucos para serem aproveitados.

Mario Quintana aproveitou-se. Não

viveu apenas cronologicamente, sabia ter todas as

idades num único dia. Num poema, era um

garoto de 14 anos. Em outro, tinha 30. Em sua maioria, era eterno. A

cada página, um estado de espírito: ora meio infantil, ora um sábio,

às vezes um transtornado.

Porque é assim mesmo que somos, de adolescentes a

caducos num estalar de dedos, a emoção é que determina nossa data de nascimento.

Hoje ele teria 100, teria 13, teria 52, ele

teria o quê, vivo estivesse?

Perguntemos a nós mesmos que idade

magnífica temos neste instante.

CRÉDITOS

Formatação: Prado Slides

E-mail: jpamador@superig.com.br

Texto: Martha Medeiros

Imagens: Internet

Música: If Tomorrow Never Comes