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Trabalho Inscrito na Categoria de Artigo Completo
ISBN - 978-65-86753-02-8
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EIXO TEMÁTICO: ( ) Acessibilidade e Mobilidade Urbana ( ) Bacias Hidrográficas, Planejamento e Gestão dos Recursos Hídricos ( ) Biodiversidade e Unidades de Conservação ( ) Campo, Agronegócio e as Práticas Sustentáveis (X) Cidade, Arquitetura e Sustentabilidade ( ) Educação Ambiental ( ) Gestão dos Resíduos Sólidos ( ) Gestão e Preservação do Patrimônio Arquitetônico, Cultural e Paisagístico ( ) Novas Tecnologias Sustentáveis ( ) Saúde, Saneamento e Ambiente
Forma e Função: Um Diálogo na Arquitetura Contemporânea
Form and Function: A Dialogue in Contemporary Architecture
Forma y Función: Un Diálogo en la Arquitectura Contemporánea
Maria Carolina dos Santos Costa Arquiteta e Urbanista, FTPE UNILINS, Brasil.
mcarolina.stcosta@gmail.com
Luís Miguel Belizário de Paula
Graduando, FTPE UNILINS, Brasil. miguel.belizario17@gmail.com
Juliana Cavalini Lendimuth
Doutoranda, IAUUSP, Brasil. arq.julianacavalini@hotmail.com
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RESUMO O assunto abordado neste artigo tem como objetivo analisar a arquitetura moderna sob a ótica da dialogia, a qual relaciona as obras arquitetônicas a seus contextos territoriais, através de um estudo de caso do edifício Big Duck, mais conhecido como A Casa Pato. Tais contextos são formados não apenas pela aparência física do espaço, mas também pela história das cidades, a identidade e o meio ambiente natural existente. Para melhor compreensão do período atual, consideraremos as obras desde a antiguidade clássica, passando pela idade média, pelo renascimento e principalmente pelo modernismo, entendendo seus princípios e as mudanças arquitetônicas que houve nesse período. É uma pesquisa bibliográfica e o Método utilizado é o da arquitetura dialógica. Como resultado, embora a Casa Pato seja um ícone da arquitetura moderna, do ponto de vista metodológico desta pesquisa, ela não apresenta uma dialogia arquitetônica. PALAVRAS-CHAVE: Dialogia. Arquitetura. Cidade.
ABSTRACT
The subject addressed in this article aims to analyze modern architecture from the perspective of dialogue, which
relates architectural works to their territorial contexts, through a case study of the Big Duck building, better known as
A Casa Pato. Such contexts are formed not only by the physical appearance of the space, but also by the history of the
cities, the identity and the existing natural environment. For a better understanding of the current period, we will
consider the works from classical antiquity, going through the Middle Ages, the Renaissance and mainly modernism,
understanding its principles and the architectural changes that occurred in that period. It is a bibliographic search and
the method used is that of dialogic architecture. As a result, although the Big Duck is an icon of modern architecture,
from the methodological point of view of this research, it does not present an architectural dialog.
KEYWORDS: Dialogy. Architecture. City.
RESUMEN
El tema abordado en este artículo tiene como objetivo analizar la arquitectura moderna desde la perspectiva del
diálogo, que relaciona las obras arquitectónicas con sus contextos territoriales, através de un estudio de caso del
edificio Big Duck, más conocido como A Casa Pato. Tales contextos están formados no solo por la apariencia física del
espacio, sino también por la historia de las ciudades, la identidad y el entorno natural existente. Para una mejor
comprensión del período actual, consideraremos las obras de la antigüedad clásica, pasando por la Edad Media, el
Renacimiento y principalmente el modernismo, entendiendo sus principios y los cambios arquitectónicos que
ocurrieron en ese período. Es una búsqueda bibliográfica y el método utilizado es el de la arquitectura dialógica. Como
resultado, aunque Casa Pato es un ícono de la arquitectura moderna, desde el punto de vista metodológico de esta
investigación, no presenta un diálogo arquitectónico.
PALABRAS CLAVE: Diálogo. Arquitectura. Ciudad.
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INTRODUÇÃO
Este trabalho constrói uma argumentação capaz de consolidar a estreita e necessária relação
entre a cidade contemporânea e as arquiteturas que as constituem.
Há um problema que então se define: o de saber qual é o papel e quais são as características,
limites e possibilidades que a arquitetura contemporânea desempenha no espaço urbano.
A cidade contemporânea não é tão somente a dualidade entre lugar e não lugar, mas urbe que
funciona como polo de atração econômica e cultural, concentra não apenas massas de
populações, mas desigualdades sociais e territoriais (ABASCAL, 2005).
Cabe à arquitetura dar forma aos lugares, dotando-os de uma flexibilidade, uma fluidez ou
natureza capaz de moldar-se às exigências de um espaço dinâmico e mutante.
Solà-Morales (2002) chama a atenção para o fato de que nesta mudança de milênio surgem
arquiteturas que possibilitam interconexões e intercâmbios entre lugares e pessoas, mas há
também aquelas que são desconectadas de todo contexto urbano. Há também os arquitetos
modernos, que buscam de forma incansável, surpreender através do inesperado, do não óbvio
e muitas vezes se esquecem de tomar como influência conceitual a cultura, a filosofia e a
identidade do lugar, que são conceitos essenciais na criação do projeto.
A arquitetura e o urbanismo moderno pretenderam romper com as formas tradicionais de
construção dos edifícios e das cidades. Não se trata de estabelecer diferenças de processos
construtivos, materiais ou de estilo entre os projetos novos e os antigos, mas construir uma
arquitetura diferente e oposta a qualquer continuidade histórica. A ruptura com o passado
correspondeu a uma visão moderna da cultura, nesse contexto, a questão cultural se estende
para o espaço urbano, recusando as formas da cidade antiga.
Dessa forma, a função do arquiteto contemporâneo é propor uma cadeia dinâmica de redes que
transformem o lugar ao longo do tempo, abertas à interação e à ressignificação, resultando
numa arquitetura dobrada em múltiplas tipologias, usos e narrativas intertextuais.
Para Eisenman (1996), o valor da arquitetura contemporânea é o resultado do processo de
experiência entre homem e espaço e não apenas pela eficiência de sua funcionalidade ou apelo
à sua forma.
Derrida e Peter Eissenman (1996) trazem uma contribuição importante para a arquitetura atual,
o conceito de desconstrução, que propõe uma abertura do pensamento para novas concepções
de espaço com ênfase na inclusão do sujeito no processo de leitura e compreensão da obra,
resultando numa arquitetura intertextual, cujo significado somente pode ser construído através
da experiência estética, dada pela percepção e interação do sujeito com a obra.
As relações dialógicas são o fundamento para essa nova arquitetura, onde cada sujeito a
interpreta a partir dos fragmentos, fendas, dobras, trechos e relatos que revelam a arquitetura
em suas próprias estruturas. A desconstrução não se fecha numa estética específica ou numa
descrição formal restritamente funcional, mas inclui, insere e amplia as possibilidades de
representação da arquitetura (DORFMAN, 2009).
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Desconstruir não significa destruir o que estava definido previamente, mas sim decompor e
recompor tal definição através da valorização de uma nova possibilidade de leitura, estabelecida
pela interação entre sujeito e meio em suas naturezas dialógicas.
Para Fracalossi (2013), tem que haver coerência no planejamento, no projeto, na fabricação e
na execução da obra, de modo a satisfazer as necessidades econômicas, fisiológicas, ambientais
e estéticas, direcionadas à razão e à emoção do homem, portanto, uma característica estrutural
da visão contemporânea da arquitetura está na conjunção de questões interagentes que
ocorrem na produção da arquitetura – homem, lugar, uso, medida, ambiente, técnica, matéria,
ciência, tecnologia – enquanto aspectos de um universo objetivo, com o conjunto de variáveis
do mundo sensível das ideias e da criação, nessa constante busca da essência, do equilíbrio, do
harmônico, do duradouro, com o permanente desafio da busca de excelência estética,
econômica e construtiva e no atendimento às satisfações físicas, e psíquicas dos indivíduos que
dela usufruem. Isso é o que chamamos de ARQUITETURA DIALÓGICA.
A dialogia em arquitetura compreende “o pensamento arquitetônico em Bakhtin (1999), ou seja, a relação estética entre forma e conteúdo, e nas interações entre a arte, a ciência e a estética” (SALCEDO et al., 2015). Para uma obra ser considerada dialógica, é necessário considerar a ética, a partir do
conhecimento, ou seja, conhecer as leis do lugar, seu uso social, além de respeitar os princípios
morais, a partir do juízo de valores. O correto procedimento profissional depende de princípios
éticos, respeitando, principalmente, os anseios, desejos e as aspirações da comunidade local.
Além da ética, os conhecimentos estéticos devem estar presentes na arquitetura dialógica por
nortear a beleza a partir dos parâmetros vivenciados pela comunidade local. A verdadeira beleza
do lugar é aquela que causa surpresa e remete ao imaginário coletivo. Deve ser um signo, uma
referência, ter valor simbólico e, sobretudo, respeitar as necessidades e aspirações dos usuários.
Diante do exposto, este trabalho apresenta uma avaliação do Edifício Big Duck, mais conhecido
como a “Casa Pato”, que a seu tempo, foi criada para atender determinada função, mas cuja
forma é questionável dentro dos conceitos de estética e ética da arquitetura.
A avaliação do edifício é realizada por meio do Método Dialógico, de sorte que se possa
reconhecer se essa arquitetura é dialógica, ou seja, que aspectos a une ou a separa e marcam a
diferença entre o lugar em que está inserida.
OBJETIVOS
O objetivo da pesquisa é avaliar o edifício Big Duck que foi criado para atender determinadas
funções, mas a sua forma é questionável dentro dos conceitos de estética e ética da arquitetura.
Busca-se saber como é possível reconhecer o movimento contemporâneo por meio de edifícios
como esse, e que princípios norteiam tais obras e as une como uma nova forma de abordagem
da arquitetura. Essa arquitetura é dialógica, ou seja, que aspectos as unem ou as separam e
marcam as diferenças entre os lugares em que estão inseridas?
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METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa bibliográfica e o Método aplicado para avaliação do objeto de
pesquisa é o Método da Arquitetura Dialógica que tem como base a fundamentação teórica e
filosófica de Mikhail Bakhtin, Paul Ricoeur e Joseph Muntañola.
O Método Dialógico permite a avaliação do edifício com o seu contexto através de uma leitura
do objeto de estudo em três fases: a prefiguração (projeto arquitetônico), a configuração (o
edifício construído) e a refiguração (uso social da obra).
O contexto a que se refere o método diz respeito ao sítio/lugar onde o edifício está inserido.
RESULTADOS
O resultado interpretativo da Casa Pato é discutido em relação ao que se avançou no
conhecimento do problema, baseado em interpretação de textos, portanto, é importante,
mesmo que brevemente, apresentar um conteúdo teórico cerca dos temas base para o
resultado do trabalho.
Forma, função, identidade e lugar
A arquitetura é formada pelos vazios criados e não pelos traços que a representam no projeto
arquitetônico.
As plantas, os cortes e as fachadas são de extrema importância, porém o que será aprovado pelo
cliente serão as perspectivas externas e internas, que nada mais são do que vazios limitados
pelas paredes. Esses vazios são o que diferem a arquitetura das outras formas artísticas.
Enquanto a pintura permite ao espectador uma única visão da cena retratada, a escultura
permite que o observador observe a obra de todos os seus ângulos, assistindo-a. A arquitetura,
por sua vez, permite que o indivíduo adentre, vivencie e sinta a obra, colocando-o no espaço e
evocando o tempo em que o edifício foi construído.
Quando os arquitetos deixaram de fazer parte dos canteiros de obras e foram para salas de
escritórios, seu trabalho foi concentrado no desenho da forma arquitetônica. Seja em desenhos
à mão ou digitais, em maquetes físicas ou eletrônicas, os arquitetos se dedicam a criar uma boa
aparência do projeto.
A importância da forma na arquitetura é tanta que se torna referência àqueles que não a
estudaram. Embora seja uma distinção extremamente generalizada, a divisão entre arquitetura
antiga e moderna é feita através da forma e da aparência geral da construção.
Resumem-se os estilos arquitetônicos até o ecletismo como "arquitetura antiga", marcada
principalmente por seus ornamentos. A partir daí, a arquitetura adotou uma estética
minimalista de modo que tudo ficou popularmente conhecido como "arquitetura moderna".
Mesmo quem se aprofunda no estudo da história da arquitetura, a forma é significativa. O
Gótico se destaca por sua altura e seus arcos ogivais, o Renascimento volta à arquitetura clássica
com um racional jogo de perspectivas e o Barroco ondula-o quebrando a simetria regrada.
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Posteriormente, o movimento modernista simplificou a forma arquitetônica com o conceito
minimalista, abrindo caminho à fluidez orgânica e às inovações da arquitetura High-Tech,
todavia, a arquitetura hoje é ignorada como forma de arte.
O sujeito culto se interessa por pinturas, músicas e literatura, mas não é atraído pelas obras
arquitetônicas, e isso influencia os que almejam parecer cultos a ignorarem a arquitetura, já que
apreciá-la não os agregará status. Desse modo, a parcela da sociedade interessada em
compreender a arquitetura é muito escassa, o que resulta em uma grande demanda por
projetos arquitetônicos sem conceito e/ou deslocada entre as edificações vizinhas.
Ao projetar, o arquiteto deve levar em conta a natureza dos seres humanos e suas culturas;
todas as características que os definem devem ser estudadas, e deve existir ligação entre as
características, valores e objetivos de vida. O projeto deve abranger tudo o que for importante
para aqueles que conviverão no edifício construído. As dimensões devem permitir um espaço
entre as pessoas, quando os pensamentos se cruzam e necessitam de espaço próprio, e por fim,
as soluções encontradas devem lidar com as condições atuais, podendo ser alteradas no futuro.
Dessa forma, cada projeto se torna singular, identificável e capaz de satisfazer as necessidades
que cabem a ele.
Não temos conhecimento de um povo que não tenha nomes, idiomas ou culturas em que alguma forma de distinção entre o eu e o outro, nós e eles, não seja estabelecida. O autoconhecimento – invariavelmente uma construção, não importa o quanto possa parecer uma descoberta – nunca está totalmente dissociado da necessidade de ser conhecido, de modos específicos, pelos outros (CALHOUN apud CASTELLS,1942).
Quanto mais ligação com culturas exteriores nós temos, mais possibilidades de identidades nós
temos. Uma vez que "nada se cria, tudo se copia", é como se conhecer uma nova cultura nos
abrisse a possibilidade de adotá-la.
O nacionalismo cultural é a preocupação com o individualismo de um povo, é a valorização da
singularidade de uma nação entre as outras, e assim a valorização dela para seu povo. Uma
nação que valoriza sua própria cultura se torna mais atrativa para o seu povo, que assim não se
interessará em buscar viver de acordo com uma nova cultura.
De acordo com Brandão (1991), o nacionalismo é uma forma de defesa da globalização, que
dissolve os contrastes entre as culturas e misturam-nas.
Para Brandão (1991, p.40), a ideia de identidade tem a ver tanto com os dramas individuais de
sua biografia, quanto com os sociais da história do grupo e da cultura de que é parte.
O espaço faz parte da construção da identidade, pois cada identidade é particular, devido à
cultura, tradição, por isso, a importância de conhecer a própria história.
“A identidade é uma construção, mas o relato artístico, folclórico e comunicacional que a constitui, se realiza e se transforma em relação com as condições sócio-históricas não redutíveis ao que está estabelecido” (CANCLINI apud LEITE, 2012).
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Entendemos que território é diferente de espaço. O primeiro se apoia no segundo, sendo uma produção através do espaço. O território exerce relações de dominação de espaço, pois ele é formado pelas consequências de trabalhos. De início, o espaço é apenas uma porção de uma terra qualquer, desconhecida, temida ou rejeitada, sem valores e qualquer ligação afetiva. Porém, a partir do momento em que o espaço passa a ter experiências de lugar, como habitação, trabalho e divertimento, ele se transforma em lugar, afinal, o lugar está contido no espaço. “O lugar abre a perspectiva para se pensar o viver e o habitar, o uso e o consumo, os processos de apropriação do espaço” (FERNANDES, 2013). O lugar é definido como produto da experiência humana, feito por homens para propósito dos
homens, tendo então um envolvimento com o mundo. Além disso, o lugar só tem identidade
com as intenções humanas. Isso torna o lugar fechado, íntimo e humanizado.
Já o espaço é um lugar de assentamento dos meios de vida, transporte e comunicação, ele é o
palco onde acontecem relações sociais. A produção do espaço é a reprodução da vida humana.
Com a globalização, empresas passaram a buscar mais lugares rentáveis a elas, tornando-as
especificas e singulares, o que as tornam únicas e fazem os lugares serem interligados. Exemplos
dessa experiência seriam as relações mantidas entre os indivíduos e as formas universalizadas
dos shopping-centers e das lanchonetes McDonnald’s (conhecidas no mundo todo), assim como
a Disneylândia (que simula uma perpetuação da infância) ou do complexo turístico de Cancun,
cujas mercadorias nada têm a ver com a cultura local (FERNANDES, 2013).
Dessa forma, pode-se dizer que a globalização fez o lugar tornar-se a funcionalização do mundo,
produzindo existência social. A função do lugar é fomentar a percepção empírica do mundo,
sendo um canal intermediador entre ele e o homem. Mais importante que a consciência do lugar
é a consciência mundana, obtida através do lugar (FERNANDES, 2013).
Arquitetura Moderna
Antes da revolução industrial o termo construir era associado às máquinas. Após isso, construir
passa ser usado para atividades relacionadas à arquitetura. Até 1830-40 as construções de linhas
férreas eram associadas também às edificações.
Após a revolução, os materiais são distribuídos de maneira mais racional, e junto deles é
acrescentado o ferro, o vidro e o concreto. A resistência dos materiais passa a ser testada e
agora os profissionais passam a ser mais treinados. Além disso, aumenta-se o tamanho dos
canais, estradas e rapidamente crescem as vias de transporte, aumenta a população, as
migrações e, assim, o número de casas.
A economia industrial não seria concebível sem a construção de mais lojas e fabricas. Tem-se a
diferenciação de edifício e terreno no quesito valor, desaparecendo qualquer obstáculo à
compra e venda do último. Entretanto, apesar das melhoras na técnica, há uma grande
indiferença em se qualificar, além disso, há a constante imitação do passado, quebrando com o
movimento moderno.
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A revolução também ocasionou modificações na distribuição de habitantes nos países europeus,
acarretando um êxodo rural. Os resultados disso foram a insalubridade nos bairros operários,
congestionamentos e degradação urbana.
“Os locais de concentração das indústrias tornam-se centros de novos aglomerados humanos em rápido desenvolvimento, ou mesmo, surgindo ao lado das cidades existentes, provocam um aumento desmesurado em sua população” (BENÉVOLO, 1976, p. 69). A arquitetura moderna é marcada pela ordem. A partir do momento em que a distribuição e a
estrutura estão organizadas, o projeto moderno vai bem. O termo ordem não é novo para
arquitetura, mas ao ser aplicado na arquitetura moderna ele passa a ter um novo significado,
assim como no planejamento urbano os edifícios são organizados como um grupo orgânico.
Nunca na história da arquitetura falou-se tanto sobre ordem, exceto na arquitetura grega, mas
na moderna a ordem se torna uma característica palpável, de fácil localização.
Outra característica do modernismo é a flexibilidade no emprego de janelas, que podem
solucionar muitos problemas relacionados à ventilação. Além disso, as janelas são um fator
fundamental para a iluminação natural, que pode ser explorada de forma mais abrangente ao
serem criados meios de diminuir a incidência dos raios solares nos horários mais críticos. Um
desses meios foi o brise-soleil, criado por Le Corbusier e largamente utilizado na arquitetura
contemporânea.
Na época, a construção modular ajudou nas condições econômicas, pois permitia a pré-
fabricação. Todavia, essa planta modular tirava a liberdade de projeto, o que opõe o ponto de
vista teórico, pois apesar da ordem, a arquitetura moderna sempre buscou a livre expressão. A
partir de agora o arquiteto passa a estudar o terreno, tira o nível, analisa as vantagens e
finalmente começa a pensar no projeto.
Como busca a funcionalidade, há pequenos detalhes que se tornaram importantes nesse
período como, por exemplo, a cozinha, onde o arquiteto deve elaborar a melhor distribuição
dos eletrodomésticos para que o ambiente seja bem aproveitado. A palavra de ordem é a
funcionalidade, para que a cozinha seja prática assim como o restante da área de serviços.
As habitações foram resolvidas de acordo com os gostos e necessidades das pessoas. Os projetos
refletem o modo e o tempo que as pessoas vivem, as técnicas vão chegando pouco a pouco em
cada região e se modificando de acordo com suas necessidades.
Os cômodos da casa são pensados no dia a dia das pessoas, desde a hora de dormir até a hora
da limpeza da casa. Quanto à iluminação e ventilação, pensa-se na orientação solar da casa e a
posiciona da melhor forma. Inclusive, para os norte-americanos, o modo de viver e o clima são
o ponto de partida do projeto, servindo inclusive para a escolha dos materiais.
As evoluções técnicas para chegar até o modernismo vêm desde a construção do Palácio de
Cristal com ferro fundido, entretanto a evolução arquitetônica ficou atrasada de 15 a 20 anos.
No encontro nada verdadeiramente surpreendente ou extraordinário, na reação vigorosa da arquitetura à novas soluções técnicas; algumas
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vezes os recursos chegarão aos extremos para apresentar claramente os ideais e refinar a arquitetura, mostrando essencialmente a estrutura. Uma vez concluído esse processo, chegou a hora de começar a acentuar e enriquecer essas formas nuas; uma liberação emocional é inevitável, um retorno à fantasia livre (LERU, 1956, p. 202, traduzido pelos autores).
Segundo Victor Leru (1956) o arquiteto não deixa de ser um artista e suas expressões são
espontâneas, sem fórmulas ou obstáculos que possam levar a uma “infertilidade” estética.
Para ele, o arquiteto moderno deve solucionar os problemas de projeto e devem estar sempre
capacitados, resolvendo o clima, as necessidades e projetando sempre com ordem.
No Brasil, apesar de sua independência, o século XIX permaneceu estagnado no tempo. O
regime monárquico abafava a voz do povo e criava uma falsa ilusão de progresso. Tal ilusão era
fruto das modernizações precoces que a Inglaterra, principal financiadora do Brasil na época,
pressionava para que o país tivesse. A sociedade brasileira, influenciada pelos ideais
republicanos europeus, tornou-se mais forte. A monarquia a subestimou e posteriormente
cedeu, permitindo ao Brasil prosseguir em sua modernização, revelando uma nação de
pensamento colonial e ainda atrasada em relação ao estrangeiro.
A modernização marcada pela proclamação da República e pela abolição da escravatura
alavancaram outros movimentos sociais. As ideias liberais cresceram e se difundiram, e com a
Semana de Arte Moderna se estabeleceram na cultura brasileira.
O período após a queda da monarquia e da escravidão brasileira foi vivido por um povo em
dúvida, que ainda não compreendia a industrialização e a modernização. Estranhava sua raça e
sua religião, e procurava modelos nas potências da época. A Semana de Arte Moderna e as obras
literárias e publicações da época evocaram novas perspectivas sobre o que o Brasil já havia
passado, criando um anseio por mudança e iluminando o pensamento da época.
No campo da cultura, da política, da sociedade e da economia as mudanças trazidas
pela ideia de Brasil Moderno foram pressentidas. Os ciclos da borracha, do café e do açúcar,
junto com a industrialização, a urbanização e as transformações de classes sociais, pensamentos
políticos e da cultura geram um sentimento de pressa nos governantes e na sociedade detentora
do poder. A construção de Brasília como símbolo da modernização brasileira é fruto do anseio
para que o país alcance o presente, entretanto, a população desse Brasil Moderno continua
atrasada, mantendo os pensamentos que a cultura, a política, a sociedade e a economia
buscavam esquecer.
A cultura brasileira não é uniforme, homogênea, transparente. Mesmo fazendo parte da mesma
nação, cada fragmento da sociedade possui sua forma singular de agir, falar e compreender.
Homens e mulheres, negros e brancos, religiosos e ateus, ricos e pobres, logo, cada grupo tem
sua versão da cultura brasileira.
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Arquitetura Contemporânea
Durante o Renascimento, os edifícios passaram a ser vistos como monumentos da cidade. Nessa
época, a arquitetura e a cidade eram baseadas nas regras matemáticas de racionalização e
proporção. Além disso, ao longo dos anos a arquitetura passou a ser baseada em tratados, como
os tratados militares que fez com que surgissem muralhas, além das catedrais e templos que
incorporavam as formas da cidade.
A cidade contemporânea é quase inteiramente urbana, sendo vista como um campo
experimental palco de experiências positivas e algumas negativas que acabam gerando
frustrações.
As cidades são feitas de diversidades e desigualdades e em meio a isso, busca-se
reconhecimento dessas identidades.
As mudanças econômicas e produtivas fizeram com que as cidades fossem expandidas surgindo
metrópoles, e posteriormente essas mudanças fizeram com que áreas portuárias e industriais
se tornassem obsoletas.
Neste período, entre 80 e 90, o mundo deixou de ser bipolar e os países passam a ser interligados
devido as tecnologias, o que faz com que a arquitetura deles se encontrem. Apesar disso, as
cidades não se tornaram monótonas, pois houve uma dinâmica de movimentos contraditórios.
Cabe à arquitetura acompanhar as mudanças, possibilitando essas conexões, dando forma a
lugares que antes foram degradados para lugares agora resgatados.
A cidade contemporânea é além da arquitetura. Ela é formada por conexões como transporte,
telecomunicação, logística, armazenagem, localização industrial, serviços, cultura, lazer, turismo
e etc. Para isso, o arquiteto deve aprender a interligá-los, pois os espaços estudados tanto no
clássico quanto no moderno não são mais suficientes. Busca-se integrar a arquitetura em novas
tecnologias.
Agora o lugar é estudado, e a arquitetura é colocada dentro dele de formas diferentes. Apesar
de lugar e globo estarem juntos, numa visão arquitetônica, existe uma heterogeneidade devido
aos arquitetos atuais. Isso acontece porque eles querem negar toda referência à expressividade
semiótica, surgindo inúmeras possibilidades de volumes. Cria-se uma paisagem urbana
completamente diferente da existente. Contudo, essa paisagem tão heterogênea acaba fugindo
do controle do arquiteto, de modo que ela se torna desequilibrada.
Dialogia Arquitetônica. Estudo de Caso: A Casa Pato.
Como dito, é de conhecimento geral que o modernismo foi um marco na história da arquitetura,
separando o “hoje” do “ontem”. Os arquitetos pós-modernistas, buscando simplesmente a fuga
do academicismo, produzem uma arquitetura sem base e sem história. Essa aversão ao passado
não permite a busca dos pontos positivos da sua arquitetura, o que torna o ontem e o hoje tão
contrastante entre si.
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Prefiguração: o Big Duck (Casa Pato) (Figura 1), em sua fase de prefiguração, foi um edifício
destinado ao comércio de patos e seus ovos.
Figura 1: A Casa Pato
Fonte: ART & ARCHITECTURE QUARTERLY
Configuração: Construído em 1931 pelo avicultor Martin Mauer, o edifício tem 6,1m de altura,
5,5m de largura e 9,2m de comprimento (Figura 2). Executado e originalmente locado em
Riverside, foi movido para um terreno na atual cidade de Flanders até que um condado o
comprou e o moveu novamente, posteriormente comprando o terreno em Flanders e o
estabelecendo lá, onde se encontra atualmente.
Figura 2: Configuração da Casa Pato
Fonte: RIVERHEAD NEWS-REVIEW
Sua exuberância o rendeu um lugar no livro de Registros de Lugares Históricos dos Estados
Unidos, cujo motivo de destaque pode ser duvidoso, dadas as muitas críticas existentes sobre
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ele. A mais famosa é a de Robert Venturi em seu livro “Aprendendo com Las Vegas”, no qual
sintetizou o estilo arquitetônico do Big Duck como uma arquitetura que radicalmente adapta o
programa funcional em favor da forma idealizada.
Após citá-lo, Venturi passa a utilizar a palavra "pato" como metáfora para edifícios que
igualmente priorizam a forma, em contraposição aos seus opostos aos quais batizou "galpões
decorados".
A ideia de uma arquitetura-escultura não foi inédita no pós-modernismo norte-americano, e
não teve seu fim nele. Na realidade, essa integração existe desde a antiguidade grega (talvez
egípcia, se considerarmos a forma das pirâmides como intenção escultural) até a
contemporaneidade.
Os templos gregos, com suas colunas e frontões reinterpretados em diversas arquiteturas
classicistas posteriores, são os maiores exemplos da harmonia grega. Apesar de ser um templo
religioso, os rituais eram feitos no exterior do edifício, deixando a câmara central fechada. Desse
modo, o templo tem caráter mais escultural do que arquitetônico, diferente do que sua escala
e forma nos fazem entender.
No Desconstrutivismo de Zaha Hadid, por outro lado, temos o oposto: a arquitetura escultural,
livre dos formatos, elementos e usualmente até revestimentos tradicionais, mas que diferente
do templo grego tem sua função como abrigo.
Esses dois exemplos de arquitetura-escultura, ao identificarem-se mais com um conceito no
aspecto funcional e com outro no aspecto visual, se tornam decifráveis e consequentemente
mais atraentes.
Refiguração: O Big Duck, ao inserir-se nos dois conceitos em ambos os aspectos, se torna
confuso e incompreensível. Tem o visual escultural de um pato e os elementos arquitetônicos
de uma casa; a função arquitetônica de um abrigo e a função ornamental de uma escultura
(Figura 3).
Figura 3: A Casa Pato como escultura e não arquitetura
Fonte: ART & ARCHITECTURE QUARTERLY
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Em um primeiro momento, a ideia de um prédio com formato que remete à sua função é
tentadora. Soa artística, ousada, vanguardista. Além da estranheza causada pela própria forma
do Big Duck, sua presença fere a paisagem onde se encontra, independente de qual seja (Figura
4). Essa é uma das maiores diferenças – talvez até mesmo negativa – da arquitetura para as
demais formas de arte.
Quando uma música não o agrada, você simplesmente não a toca; quando é o caso de uma
pintura, você não a pendura na parede. Porém uma paisagem se faz impossível de ignorar, e um
edifício, por menor que seja, altera a paisagem onde está inserido. Ele pode ser visível a partir
da sua casa, ser vizinho do seu local de trabalho ou apenas estar no seu trajeto cotidiano. Nesse
último caso você consegue optar por alterar a rota, mas isso é uma prova de até que ponto a
arquitetura consegue fazer parte da sua vida.
Figura 4: Casa Pato em seu contexto ou “des-contexto”
Fonte: ART & ARCHITECTURE QUARTERLY
E como se não bastasse sua incontestável presença, o produto arquitetônico modifica o
ambiente onde foi instalado mesmo após ser desfeito: o solo é violado, o espaço é
descaracterizado e a natureza exige tempo para se recompor.
Atualmente, a Casa Pato funciona como uma vinícola (Figura 5).
Figura 5: A Casa Pato sendo transportada para a vinícola.
Fonte: REDDIT
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ISBN - 978-65-86753-02-8
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Diferente de uma pequena casa desgastada que passa quase despercebida em um campo, ou
de uma escultura de valor puramente artístico, um pato gigante com portas e janelas desviaria
a atenção que seria dedicada para a paisagem natural. Situação comparável à uma moldura
finamente ornamentada enquadrando um retrato mal feito. Além disso, a imagem do Big Duck
sobre um gramado seria facilmente associada à uma fantasia infantil, reduzindo a paisagem
natural a um cenário lúdico (Figura 6).
Figura 6: Casa Pato, cenário lúdico
Fonte: ART & ARCHITECTURE QUARTERLY
Quando imaginada em um contexto urbano, a forma do pato ignora completamente o conceito
de dialogia. O concreto queimado e as fachadas de vidro estão distantes de se parecerem com
o Big Duck, o que o destacaria na cidade tanto quanto no campo - e o ambiente urbano não
permitiria nem mesmo uma interpretação lúdica.
O único contexto onde um pato gigante com portas e janelas não estaria deslocado seria em
uma cidade com outros prédios que seguem a mesma ideia (Figura 7). Entretanto não é
necessária muita imaginação para visualizar tal cidade: uma sapataria em forma de sapato, uma
cafeteria em forma de xícara, um bar em forma de garrafa. Também não é necessário um gosto
tão refinado para saber como essa cidade seria bizarra e cafona.
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Figura 7: Imaginário de uma cidade ideal para a Casa Pato.
Fonte: ARCHDAILY
CONCLUSÃO
Por fim, concluímos que esse projeto não dialoga com a paisagem natural, não dialoga com a
forma urbana e não é próprio para caracterizar uma cidade toda. A ideia da arquitetura-
escultura parece boa quando isolada, mas não tanto quando em conjunto homogêneo ou
heterogêneo.
Portanto, a função não justifica a forma.
Embora o Big Duck seja apreciado por muitos de seus observadores, ele não se enquadra no
conceito de arquitetura dialógica aqui estudado, pois o edifício fere a essência do espaço urbano
onde está inserido.
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