Post on 21-Jun-2015
FIGURAS E VÍCIOS DE LINGUAGEM
DEFINIÇÃO
Figuras de linguagem é o nome genérico que damos aos elementos frasais que exploram o sentido conotativo de uma palavra ou de uma expressão, realçam a sonoridade das palavras ou até mesmo organizam a frase fazendo-a desviar-se da norma culta.
As figuras de linguagem são classificadas em figuras de som, figuras de construção, figuras de pensamento e figuras de palavras.
FIGURAS DE SOM
Aliteração: consiste na repetição ordenada dos mesmos sons consonantais:
“Esperando, parada, pregada na pedra do porto” (Dalla, Pallotino, Chico Buarque)
Assonância: consiste na repetição ordenada de sons vocálicos idênticos:
“Sou um mulato nato no sentido latomulato democrático do litoral” (Caetano
Veloso)
FIGURAS DE SOM Onomatopeia: consiste na criação de uma palavra
para imitar um som:“(...)E estava sempre em casaa boa da velhinha,resmungando sozinha:nhem-nhem-nhem-nhem-nhem...”(Cecília Meireles)
Paranomásia: consiste na aproximação de palavras de sons parecidos, mas de significados distintos:
“Violência, viola, violeiro” (Edu Lobo)“Eu que passo, penso e peço” (Sidney Miller)
FIGURAS DE CONSTRUÇÃO
Elipse: consiste na omissão intencional de um termo facilmente identificado pelo contexto:
“Na sala, apenas quatro ou cinco convidados” (Machado de Assis)
Omissão de havia
Zeugma: consiste na omissão de um termo que já apareceu antes:
“Um galo sozinho não tece uma manhã:Ele precisará sempre de outros galos.De um que apanhe esse grito que ele (...)” (João Cabral de Melo Neto)Obs.: temos também aí a função anafórica.
FIGURAS DE CONSTRUÇÃO Polissíndeto: consiste na repetição de conectivos na ligação entre
elementos da frase ou do período:
“E sob as ondas ritmadase sob as nuvens e os ventose sob a ponte e sob o sarcasmoe sob a gosma e sob o vômito (...)” (Carlos Drummond de Andrade)
Obs.: a ausência de conectivos de ligação dos elementos da frase ou do período chama-se assíndeto:
“Clara passeava no jardim com as crianças. O céu era verde sobre o gramado,a água era dourada sob as pontes,outros elementos eram azuis, róseos, azulados, alaranjados,o guarda civil sorria, passavam biclcletas (...)(Idem)
FIGURAS DE CONSTRUÇÃO
Inversão: consiste na mudança da ordem natural dos termos na frase:
“Ouviram do Ipiranga às margens plácidas
De um povo heroico o brado retumbante”
[“Ouviram brado retumbante de um povo heroico às margens do Ipiranga”]
(Hino Nacional Brasileiro)
Obs.: conforme o grau de alteração, numa escala crescente de dificuldade, a inversão receberá o nome de hipérbato, anástrofe ou sínquise.
FIGURAS DE CONSTRUÇÃO Silepse: consiste na concordância não com os elementos
expressos na frase, mas com aqueles subentendidos, implícitos. A silepse pode ser:
De gênero: “Vossa majestade está preocupado” De número: “Os sertões conta a Guerra de Canudos” De pessoa: “O que me parece inexplicável é que os
brasileiros persistamos em comer essa coisinha verde e mole que se derrete na boca...”
(Manuel Bandeira)
Anacoluto: consiste em deixar um termo solto na frase. Normalmente, ocorre o seguinte: inicia-se uma construção sintática e depois se opta por outra:
“O homem, chamar-lhe mito não passa de anacoluto” (Carlos Drummond de Andrade)
FIGURAS DE CONSTRUÇÃO
Pleonasmo: consiste numa redundância cuja finalidade é reforçar a mensagem:
“E rir meu riso e derramar meu pranto” (Vinícius de Moraes)
Anáfora: consiste na repetição de uma mesma palavra no início de versos ou frases:
“Amor é fogo que arde sem se verÉ ferida que dói e não se senteÉ um contentamento descontenteÉ dor que desatina sem doer” (Luis Vaz de Camões)
FIGURAS DE PENSAMENTO Antítese: consiste na aproximação de termos
contrários, de palavras que se opõem pelo sentido:
“Se no desejo você fosse amorDurante o frio, fosse o calorNa minha lua, você fosse o mar” (Dominguinhos e Nando Reis)
Ironia: consiste em utilizar um termo em sentido oposto ao usual, obtendo-se, com isso, efeito crítico e/ou humorístico:
Seu aproveitamento na escola não podia ter sido melhor: reprovado em apenas seis matérias.
FIGURAS DE PENSAMENTO Eufemismo: consiste em substituir uma expressão por outra
menos brusca, em síntese, consiste em “suavizar” alguma asserção desagradável:
“Ela enriqueceu por meios ilícitos” (em vez de: ela roubou)“Você faltou com a verdade” (em vez de: você mentiu)“Você não foi feliz nos exames” (em vez de: você foi reprovado)“Vou declinar ao convite” (em vez de: não poderei ir)
Hipérbole: consiste em exagerar uma ideia, com finalidade enfática:
“Não vejo você há séculos” (em vez de: há bastante tempo)“Estou morrendo de sede” (em vez de: estou com muita sede)“Chorou rios de lágrimas” (em vez de: chorou muito)
FIGURAS DE PENSAMENTO
Prosopopeia e personificação: consiste em atribuir a seres inanimados predicados que são próprios de seres animados:
“A lua
tal qual a dona de um bordeu,
pedia a cada estrela fria
um brilho de aluguel.
E nuvens
Lá no mata-borrão do céu,
Chupavam manchas torturadas
- que sufoco!”
(João Bosco e Aldir Bianc, interp. Elis Regina)
FIGURAS DE CONSTRUÇÃO Gradação ou clímax: consiste na apresentação de ideias em
progressão crescente (clímax) ou descendente (anticlímax):
“Um coração chagado de desejosLatejando, batendo, restrugindo...” (Vicente de Carvalho)[progressão ascendente]
“Quando contrariado, costuma xingar, fingir mágoa, render-se.”[progressão descendente]
Apóstrofe: consiste na invocação de alguém (ou de alguma coisa personificada) com função emotiva:
“Minha Senhora Dona, um menino nasceu: o mundo tornou a começar”
(Guimarães Rosa)
FIGURAS DE PALAVRAS Metáfora: consiste numa alteração de significado baseada em traços
similares entre dois conceitos. É, portanto, uma comparação implícita:
“Oh pedaço de mimOh metade arrancada de mimLeva o vulto teuQue a saudade é o revés de um partoA saudade é arrumar o quartoDe um filho que já morreu” (Chico Buarque)
Metonímia: consiste também numa transposição de significado, mas não entre traços semelhantes, e sim por uma relação lógica entre termos (parte pelo todo, autor pela obra, efeito pela causa, continente pelo conteúdo, o instrumento pela pessoa que o utiliza, o concreto pelo abstrato etc.):
“Não tinha teto em que se abrigasse” (parte pelo todo)“Procurou no Aurélio o significado daquela palavra” (autor pela obra)
FIGURAS DE PALAVRAS Catacrese: é o emprego de palavras fora de seu significado real;
entretanto, devido ao uso contínuo, não mais se percebe que estão sendo usadas em sentido figurado:
“O pé da mesa estava quebrado”“Não deixe de colocar dois dentes de alho na comida”“Quando embarquei no avião, não fui mais dominado pelo medo”
Anatomásia ou perífrase: consiste em substituir um nome por uma expressão que o identifique com facilidade:
“Os quatro rapazes de Liverpool” (The Beatles)“O poeta da Vila” (Noel Rosa)“Compre uma lata de leite moça” (leite condensado)“veja-me uma lata de nescal” (achocolatado em pó)
Sinestesia: consiste em se mesclar numa expressão sensasões percebidas por diferentes órgãos do sentido:
“Um áspero sabor de indiferença a atormentava” (áspero: sensação tátil; sabor: sensação gustativa)
VÍCIOS DE LINGUAGEM Barbarismo: consiste em grafar ou
pronunciar uma palavra em desacordo com a norma culta:
Pesquiza (pesquisa), prototipo (protótipo) , rúbrica (rubrica), excessão (exceção)
Solecismo: desviar-se da norma culta com relação à sintaxe:
“Fazem dois anos que ele não aparece”“Não espere-me porque não irei”“Assisti o filme ontem”“Vá no banheiro”
VÍCIOS DE LINGUAGEM Ambiguidade ou anfibologia: consiste em
construir uma frase com mais de um sentido:“O guarda deteve o suspeito em sua casa”
Cacófago: consiste no mau som produzido na junção de palavras:
“Paguei cinco mil reais por cada.”“Você notou a boca dela?”
Eco: consiste na repetição de palavras terminadas pelo mesmo som:
“A decisão da eleição causou comoção na multidão”
VÍCIOS DE LINGUAGEM Pleonasmo: consiste na repetição desnecessária de
um conceito:“Precisamos encarar de frente os problemas”“Faça a sua assinatura e ganhe grátis um relógio”
Neologismo: consiste na criação desnecessária de palavras:
“Respondendo aos que o criticavam, respondeu o político que eram neobobos e fracassomaníacos”
Arcaísmo: consiste na utilização de palavras que já caíram em desuso:
“O boticário não me recomendou este remédio” (em vez de: o farmacêutico)
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
TERRA, Ernani. Curso prático de gramática: ensino médio. São Paulo Scipione, 2002.