Ferramenta para visualização de alguns fatores de influência na uniformidade de semeadura

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FERRAMENTA PARA VISUALIZAÇÃO DE ALGUNS FATORES DE

INFLUÊNCIA NA UNIFORMIDADE DE SEMEADURA

ROSSATO, F.P. 1; MACHADO, O.D.C

3; ALONÇO

2, A.S.; FRANCETTO

3, T.R.; RODRIGUES, M.W.

3

1Apresentador, 2Orientador, 3Co-autores

INTRODUÇÃO

A uniformidade da distribuição longitudinal de sementes é um fator que

contribui para a obtenção de um estande adequado de plantas e, conseqüentemente, para

uma boa produtividade (KURACHI et al.,1986; TOURINO et al.,2002). Endres (1996)

afirma que a distribuição desuniforme de plantas no campo implica em aproveitamento

ineficiente dos recursos disponíveis, como luz, água e nutrientes. O milho é uma cultura

que tem seu potencial produtivo influenciado pelo uso de diferentes populações e

espaçamentos de plantas (DOURADO NETO et al, 2003).

Segundo Murray (2006), a dosagem deve obedecer a uma uniformidade de

espaçamentos entre sementes. Para Reis (2001), é necessário que todos os componentes

da máquina estejam em plenas condições de utilização.

Para a avaliação da uniformidade de distribuição de sementes, são recomendados

ensaios com base em normas como a ISO 7256/1 (1982) e a ABNT (1994) e Kurachi et

al. (1989). Estas referências preconizam ensaios com amostras de 250 sementes, onde

são medidos os espaçamentos entre sementes e analisados com base em um

espaçamento teórico, que é o espaçamento de referência (Xref ) da cultura em questão.

Assim, os espaçamentos são classificados em aceitáveis (0,5 Xref. < Xi < 1,5 Xref.),

múltiplos (Xi < 0,5 Xref.) e falhos (Xi > 1,5 Xref.).

Diversos fatores comprometem a distribuição longitudinal de uma semeadora,

dentre os quais a literatura aponta como os mais relevantes a velocidade periférica do

disco dosador, que está relacionada à velocidade de trabalho da semeadora, e o tipo de

dosador utilizado. O comportamento dos dosadores e as funcionalidades de semeadoras

de precisão, para milho, são aspectos fundamentais para ações de projeto destes

equipamentos. Estas informações geram os chamados fatores de influência, que são

informações organizadas, classificadas e que são inseridas no projeto de máquinas para

que o produto final tenha desempenho de alto nível (ROMANO, 2003).

OBJETIVOS

O objetivo deste trabalho é analisar os resultados da distribuição longitudinal,

quanto a espaçamentos aceitáveis, de sementes de milho em função do tipo de

mecanismo dosador e a velocidade de semeadura, com base em ferramenta gráfica que

possibilite a visualização do desempenho destes mecanismos.

Este estudo faz parte do projeto informacional do Modelo de Referência para o

Processo de Desenvolvimento de Máquinas Agrícolas - MRPDMA (ROMANO, 2003),

como orientação para o desenvolvimento de uma bancada de ensaio de controladores e

dosadores para Agricultura de Precisão, alinhado ao projeto de bolsa PIBITI/2012 e a

uma tese de doutorado que está sendo desenvolvida no Laboratório de Pesquisa e

Desenvolvimento de Máquinas Agrícolas – LASERG/UFSM, sendo que no atual

estágio estão sendo levantados e conhecidos os fatores de influência da distribuição

longitudinal de sementes efetuadas pelos dosadores existentes no mercado brasileiro.

METODOLOGIA

Foi realizada uma revisão bibliográfica no período de março a junho de 2012,

em artigos e outras publicações que avaliaram o processo de semeadura, através da

uniformidade de distribuição de sementes, em laboratório, e de plantas, a campo, sob

influência de diferentes velocidades de deslocamento e uso de mecanismos dosadores

do tipo mecânico de disco alveolado horizontal e pneumático, para a semeadura de

milho.

Dentre os trabalhos pesquisados, dez foram selecionados e empregados para

geração de uma ferramenta gráfica que permitisse a visualização conjunta dos

resultados dos autores. Foi desenvolvida uma ilustração na forma de alvo, onde os

pontos marcados correspondem aos valores de distribuição longitudinal encontrados nos

trabalhos. Atribuiu-se uma porcentagem de espaçamentos aceitáveis crescente quanto

mais próximo ao centro do alvo estivesse o resultado do autor. Uma forma geométrica

foi atribuída a cada ponto conforme o tipo de mecanismo dosador utilizado, sendo o

formato de um quadrado quando utilizado o mecanismo dosador do tipo disco alveolado

horizontal e uma forma triangular quando usado o tipo pneumático.

As velocidades de deslocamento das semeadoras utilizadas nos trabalhos foram

agrupadas e representadas pela coloração dos ícones, sendo que foi utilizada a cor verde

para velocidades de deslocamento menores que 4.9km.h-1

, amarelo para valores entre

5.0 e 7.9 km.h-1

e vermelho para velocidades maiores que 8km.h-1

. Foram traçadas 10

linhas percorrendo desde a extremidade até o centro do alvo, sendo que a cada uma

dessas linhas foram alocados os resultados de cada autor. Os trabalhos utilizados, por

ordem da numeração utilizada no alvo, foram: 1: Mahl et al (2004), 2: Garcia et al

(2006), 3: Santos et al (2008), 4: Mello et al (2007), 5: Pacheco et al (1996), 6: Santos

et al (2011), 7: Silveira et al (2005), 8: Reis et al (2009), 9: Machado et al (2012), 10:

Rossato et al (2012).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os valores de distribuição longitudinal dos trabalhos são apresentados a seguir

na Figura 1, que representa a ferramenta gráfica na forma de alvo. Cada círculo no

traçado no interior do alvo representa uma faixa de porcentagem de espaçamentos

aceitáveis, variando de 30% (o valor mais baixo encontrado) até 100% (centro do alvo).

Figura 1: alvo de distribuição longitudinal (porcentagem de espaçamentos aceitáveis).

A partir da visualização dos dados na ilustração, nota-se grande dispersão nos

valores obtidos de cada autor, sendo estes primordialmente diferidos pela forma de

obtenção dos espaçamentos. Nos trabalhos 1,2,3,4,6 e 7, os espaçamentos aceitáveis

foram medidos pela população de plantas emergias. Os autores 5, 8, 9 e 10 realizaram

medição de sementes em bancada, utilizando sensor para contagem no trabalho 8 e

esteira nos trabalhos 5, 9 e 10.

Destaca-se que, independente do tipo de dosador testado, as velocidades mais

baixas obtiveram desempenho igual ou superior às velocidades mais elevadas.

Nos trabalhos 2, 3 e 7 que continham os dois tipos de mecanismos dosadores, o

desempenho do tipo pneumático foi quase sempre superior, o que concorda com Mahl

et al (2008), que verificou desempenho de 12% superior dos mecanismos pneumáticos.

A revisão de literatura realizada por Reis e Alonço (2001) também aponta maior

precisão funcional desse tipo de mecanismo dosador, atingindo quase 20% mais de

espaçamentos aceitáveis em relação ao disco horizontal . No caso do trabalho 3, onde

um mesmo dosador pneumático foi utilizado 2 vezes (triângulos 3a e 3b na Figura 1),

alterações mecanismos de corte de palha e abertura de sulco do fertilizante (triângulos

3b) foram responsáveis pela melhoria de desempenho da semeadora.

Dos 37 valores de espaçamentos obtidos nos trabalhos, apenas 6 situaram-se na

faixa de desempenho ótimo e 14 na faixa de desempenho considerada boa, conforme

classificação de Tourino e Klinglesteiner (1983). Fica evidente, também, que em

nenhum trabalho obteve-se desempenho ótimo a altas velocidades, independente do

mecanismo dosador.

CONCLUSÕES

Verificou-se que o desempenho dos dosadores é afetado pela velocidade de

trabalho da semeadora e que em geral os dosadores do tipo pneumático são mais

eficientes na uniformidade de distribuição longitudinal. A ferramenta gráfica foi

eficiente para a visualização e interpretação dos resultados dos autores, contribuindo

com o conhecimento dos fatores de influência.

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