Post on 04-Aug-2020
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Faculdade Meridional – IMED
Escola de Saúde
Curso de Psicologia
Trabalho de Conclusão de Curso
PERDÃO E PERSEVERANÇA: AS FORÇAS DE CARÁTER QUE FAZEM A
DIFERENÇA EM IDOSAS COM CÂNCER
Rafaela Ríboli
Passo Fundo
2016
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RAFAELA RÍBOLI
PERDÃO E PERSEVERANÇA: AS FORÇAS DE CARÁTER QUE FAZEM A
DIFERENÇA EM IDOSAS COM CÂNCER
Relatório de Pesquisa apresentado pela
Acadêmica de Psicologia Rafaela Ríboli, da
Faculdade Meridional – IMED, como
requisito para desenvolver o Trabalho de
Conclusão de Curso, indispensável para a
obtenção de grau de Bacharel em Psicologia.
Orientadora: Prof.ª Juliana Frighetto
Passo Fundo
2016
RAFAELA RÍBOLI
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PERDÃO E PERSEVERANÇA: AS FORÇAS DE CARÁTER QUE FAZEM A
DIFERENÇA EM IDOSAS COM CÂNCER
Relatório de Pesquisa apresentado pela
Acadêmica de Psicologia Rafaela Ríboli, da
Faculdade Meridional – IMED, como
requisito para desenvolver o Trabalho de
Conclusão de Curso, indispensável para a
obtenção de grau de Bacharel em Psicologia.
Aprovado em: _____ de ____________________ de _____.
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________________
Prof.a Sibeli Garbin Zanin
Faculdade Meridional – IMED, Brasil
______________________________________________________
Prof.a Marcia Fortes Wagner
Faculdade Meridional – IMED, Brasil
______________________________________________________
Prof.a Juliana Frighetto
Faculdade Meridional – IMED, Brasil
Passo Fundo
2016
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Resumo
A parcela da população que mais cresce no Brasil é a de idosos e atualmente o câncer é a
2° principal causa de morte nesta faixa etária.
Há a feminilização da velhice como demanda a ser estudada. A partir do momento em que
uma mulher descobre um diagnóstico de câncer, inicia-se uma trajetória em que ela
passará por várias fases de conflitos internos, os quais oscilam desde a negação da doença
até a fase final, resultando na aceitação da existência da doença. Objetivam-se com este
trabalho conhecer relações entre uso das forças de caráter e autopercepção de saúde geral
de mulheres após os 60 anos de idade. Foi realizado um estudo quantitativo, com enfoque
descritivo e analítico em uma amostra de 30 idosas com histórico de câncer. A análise foi
realizada por meio do programa estatístico SPSS20. Constatou-se, por Pearson, que elas
utilizam das forças de caráter perseverança (p=0,02) e perdão (p=0,04) e isso, depende da
idade. Há correlação positiva entre autopercepção de saúde geral e o uso dessas forças
nessa amostra.
Palavras-chave: Saúde do idoso. Câncer. Virtudes.
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Abstract
The share of the fastest growing population in Brazil is the elderly and now cancer is the
2nd leading cause of death in this age group. There is a feminization of old age and that
means pay attention to how this disease is studied in this sex. From the moment a woman
finds a cancer diagnosis, begins a path where it will go through various stages of internal
conflicts, which vary from denial of the disease until the final stage, resulting in the
acceptance of tumor existence. Purpose is to achieve with this work was to evaluate the
impact of cancer diagnosis in character strengths and general health of women after 60
years old. a quantitative study with descriptive and analytical approach in a sample of 30
women with a history of cancer will be held. The analysis will be done through the
SPSS20 statistical program. It is expected that there is a strong positive correlation
between character strengths and general health.
Keywords: Aging health. Cancer. Virtues.
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Sumário
Introdução .................................................................................................................. 7
Método ....................................................................................................................... 8
Delineamento ............................................................................................................. 8
Participantes .............................................................................................................. 8
Instrumentos .............................................................................................................. 9
Procedimentos ......................................................................................................... 11
Análise de dados ...................................................................................................... 11
Resultados e discussão ............................................................................................ 11
Considerações Finais ............................................................................................... 16
Referências .............................................................................................................. 17
Anexos ..................................................................................................................... 20
Anexo 1 - Termo de Consentimento Livre Esclarecido (1a via) ............................. 20
Parecer consubstanciado de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa ............... 22
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Introdução
Assim como muitas outras doenças crônicas, o câncer tem tido incidência alta na
população idosa. No Brasil, a parcela de população que mais cresce é a dos idosos, e o
câncer já vem ocupando o segundo lugar como causa de morte nesta faixa etária (Jornal do
Brasil, 2016).
A expectativa de vida em todo o mundo segundo dados da OMS (2016) aumentou
em cerca de cinco anos nos últimos 15 anos. Esse crescimento entre 2000 e 2015, é o
avanço mais rápido desde os anos 60.
O lado ruim dessa alta longevidade registrada é que, vivendo mais, as pessoas
passam a ter maior probabilidade de desenvolver doenças como o câncer. Apenas o fato
de o organismo estar permanentemente dividindo suas próprias células já é um fator de
risco para o idoso.
A estimativa do INCA (2015) para o Brasil, biênio 2016-2017, aponta a
ocorrência de cerca de 600 mil casos novos de câncer. Em mulheres, os cânceres de mama
(28,1%), intestino (8,6%), colo do útero (7,9%), pulmão (5,3%) e estômago (3,7%)
figurarão entre os principais. O câncer de mama é a maior causa de morte por câncer nas
mulheres em todo o mundo, com aproximadamente 522 mil mortes por ano.
Como psicóloga em formação, questiona-se sobre o tratamento oncológico em
idosos, inclusive geram-se dúvidas referentes à grande diversidade desta população já que
existem idosos em bom estado de saúde e idosos com múltiplas doenças concomitantes
que acabam gerando uma fragilidade maior. A partir de experiência de estágio curricular
em uma Instituição sem fins lucrativos – Liga Feminina de Combate ao Câncer, foi
possível perceber a importância do olhar para as idosas em tratamento de câncer.
Uma outra especificidade do paciente idoso estudado por Santos (2014) são as
questões de finitude, ou seja, a forma como o idoso percebe a idade avançada e sua
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perspectiva do fim da vida. É inevitável a reflexão do paciente com câncer a respeito da
finitude e dessa forma, poder optar por refletir sua vida, suas escolhas feitas e suas
possibilidades, ou por outro lado, retrair-se e suprimir essa realidade.
Torna-se desta forma, um grande desafio envelhecer, principalmente devido ao
enfrentamento de uma doença crônica que pressupõe o risco de morte.
As forças de caráter são definidas por Munhoz (2014) como capacidades pessoais
pré-existentes que quando utilizadas, nos sentimos com vida, tendo maior fluidez e uma
melhor performance em nossas atividades do cotidiano. Sobre isso, questiona-se que forças
pessoais estariam implicadas nesse processo e facilitariam o envelhecimento da pessoa que
passou por um histórico de câncer. Ainda assim, são muitos os idosos com câncer que
conseguem lidar bem com seu diagnóstico, às vezes muito mais do que seus próprios
familiares. Assim, conhecendo-se as forças de caráter determinantes no enfrentamento, a
atenção a isso pode ser reforçada na atuação profissional, pode-se interferir em como a
pessoa se percebe em termos de saúde geral.
Método
Delineamento
Estudo transversal e correlacional que faz parte do projeto “guarda-chuva” de
pesquisa intitulado “Forças de caráter, percepção de suporte familiar, saúde geral e
satisfação com a vida em idosos”.
Participantes
Participaram da pesquisa 30 mulheres idosas com diagnóstico de câncer residentes
no noroeste gaúcho. Os critérios de inclusão foram não apresentar alterações cognitivas
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que possam comprometer o entendimento das orientações, ter mais de 60 anos e ter
vivenciado um diagnóstico de câncer.
Instrumentos
Mini-Exame do Estado Mental (Bertolucci, Brucki, Campacci & Juliano, 1994)
O Mini-Exame do Estado Mental possui sete questões que procuram investigar as
funções cognitivas de orientação temporal (cinco pontos), orientação para local (cinco
pontos), registro de três palavras (três pontos), atenção e cálculo (cinco pontos), lembrança
das três palavras (três pontos), linguagem (oito pontos) além da capacidade construtiva
visual (1 ponto). Assim, a pontuação varia de zero a 30 pontos, sendo o ponto de corte 18
para pessoas que cursaram até o ensino fundamental e 24 para escolaridade de mais de 8
anos.
Escala de Forças de Caráter – EFC (Noronha e Barbosa, 2013)
As forças do caráter pertencem a Psicologia Positiva. É um instrumento simples e
de aplicação rápida, sendo autopreenchido por pessoas com escolaridade igual ou superior
ao nono ano do Ensino Fundamental. É composto por 71 itens, dispostos em escala Likert,
variando de 0 (Nada a ver comigo) a 4 (Tudo a ver comigo).
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Questionário de Saúde Geral - QSG-60 (Goldberg, 1972)
O Questionário de Saúde Geral- 60 é um instrumento de autorelato para a detecção
de transtornos mentais menores. O questionário constitui 60 questões que medem
constatações em relação ao sistema nervoso central, cardiovascular, neurovascular e
gastrointestinal, sono e vigília; Apresenta uma escala de 4 pontos referente ao quanto uma
pessoa tem experimentado os sintomas acima. As respostas “de jeito nenhum” são
codificadas em 1 ponto, as respostas “não mais do que de costume” são codificadas em 2
pontos, as respostas “mais do que de costume” são codificadas em 3 pontos, e as respostas
“muito mais do que de costume” são codificadas em 4 pontos. A soma total dos pontos se
classificam em < 4 ou ≥ 4, sendo esta última opção indicativa de probabilidade do
indivíduo apresentar um transtorno mental comum.
A Escala de Satisfação com a Vida (The Satisfaction Life Scale - SWLS)
Esse instrumento foi desenvolvida por Diener, Emmons, Larsen e Griffin (1985, in
Laranjeira, 2009) e para realizar a autoavaliação do bem-estar subjetivo. Por meio de cinco
itens, nenhum negativo, sendo cada um deles classificado numa escala de 7 pontos (1-
discordo a 7 - concordo plenamente) e com pontuação mínima para com a satisfação com a
vida de 5 e a pontuação mais elevada de 35 (Laranjeira, 2009). Foi estudado na população
portuguesa em 30 pacientes hospitalizados, sendo que os participantes tinham idades
compreendidas entre os 18 e os 65 anos, dos sexos feminino e masculino, falavam
português e não evidenciavam qualquer alteração do seu estado mental. O alfa se mostrou
alto (0,89) sendo que dá ao instrumento poder para discriminar grupos com níveis de bem-
estar subjetivo diferentes.
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Procedimentos
Após aprovação pelo Comitê de Ética na Plataforma Brasil sob o número
55384516.9.0000.5514, o projeto foi aprovado pelo comitê de pesquisa do Hospital São
Vicente de Paulo para que fosse possível realizar a coleta de dados com as pacientes
oncológicas que estão fazendo tratamento de radioterapia no HSVP. Neste setor, foi
utilizado salas de consultório médico, sendo um ambiente confortável e acolhedor. Para
fazer o recrutamento das idosas na sala de espera do setor, foi possível contar com o
auxílio das secretárias do hospital, que buscaram no sistema quais daquelas mulheres da
sala de espera tinham 60 anos de idade ou mais.
Através desse recrutamento, as idosas eram convidadas de forma individual para
participar da pesquisa, sendo conduzidas até o consultório médico. Antes de iniciar a
coleta foi aplicado o Mini-exame do estado mental, utilizado com idosos para avaliar se
estão aptos para prosseguir com a pesquisa. Para isso, precisam pontuar 18 pontos, sendo a
máxima 30 pontos. Logo após é realizado o questionário socioeconômico com dados
gerais do sujeito e um questionário específico com questões referentes ao impacto do
adoecimento por câncer. Prosseguindo, é aplicado a Escala de forças de caráter, o
Questionário de Saúde geral e a Escala de Satisfação com a Vida.
Análise de dados
Os dados foram codificados no Excel, computadas as variáveis e analisados através
do SPSS20, realizando-se, assim, estatística descritiva e correlacional.
Resultados e discussão
Por estatística descritiva se constatou que 66,7% das idosas estavam na faixa etária
dos sessenta anos, 30% na dos setenta anos e 3,3% na dos 80 anos. Referente ao estado
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civil dessas mulheres, 46,7% são casadas, 36,7% são viúvas e 16,7% são solteiras. Com
relação ao grau de escolaridade, estudaram durante quatro anos 56,7% da amostra, 23,3%
estudaram de cinco a dez anos e 20% teve mais de dez anos de estudo.
Quanto ao diagnóstico de câncer, 56,7%, foram diagnosticadas com câncer de
mama 10% com câncer no colo do útero e 26,7% com outros tipos de câncer. Em torno de
36,7% dessas idosas receberam o diagnóstico há menos de um ano, 23,3% receberam o
diagnóstico há menos de seis meses, 20% faz entre um e dois anos, 6,7% faz mais de dois
anos e 6,7% faz cinco anos ou mais. Esses dados divergem do que as estatísticas mostram
de que entre as mulheres, o segundo tipo de câncer mais frequente é o Câncer de colo do
Útero (CCU), tendo aproximadamente 500 mil novos casos por ano no mundo, sendo
responsável pelo óbito de, aproximadamente, 230 mil mulheres por ano (INCA, 2010).
Dos convênios utilizados para realizar o tratamento, 73,3% das idosas usam o SUS,
e 20% particular. Um dos principais direitos dos usuários do Sistema Único de Saúde
(SUS) é dar início ao tratamento oncológico (quimioterapia, radioterapia e cirurgia) em um
prazo máximo de 60 dias contados a partir do dia da emissão do exame patológico, ou em
prazo menor, conforme a necessidade terapêutica do caso registrado em prontuário
(Oncoguia, 2015). Houve aumento dos investimentos para melhoria do acesso dos
pacientes a um rápido diagnóstico. Também não foi estabelecido pelo ministério limites
para realizar os exames. São acordos feitos tanto em âmbito regional como estadual. O
objetivo do Ministério da Saúde com esses investimentos é ampliar expressivamente os
recursos destinados para oncologia. Esses recursos foram ampliados em mais de 37% nos
últimos três anos, para que, dessa forma, estados e municípios pudessem fornecer os
exames específicos a tempo para os pacientes (Ministério da Saúde, 2014).
Constatou-se que 36,7% dessas mulheres não trabalhavam fora de casa até a
aposentadoria, 33,3% trabalhavam em meio urbano e 30% trabalhavam na agricultura.
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Moram com a família 73,3% das idosas e 26,7% não moram com a família. Além disso,
nos últimos doze meses, 80% das mulheres autorrelatam ter apresentado até dois sintomas,
10% apresentaram até 5 sintomas e 6,7% não apresentaram nenhum sintoma. Dos sinais e
sintomas, 23,3% apresentaram problemas de memória, 20% incontinência urinária, 20%
teve perda ou ganho de peso não intencional, 16,7% teve problemas de sono, 10% teve
alguma queda e 6,7% teve incontinência fecal. Isso corrobora dados de que a maioria da
população com câncer perderá peso em algum momento. Um dos primeiros sinais de
câncer pode ser uma perda significativa de peso de 10 quilos ou até mais. Isso ocorre em
sua grande maioria com o diagnóstico de câncer de estômago, pâncreas, pulmão ou de
esôfago (Oncoguia, 2014).
Quando o tratamento específico antitumoral não é mais o foco do tratamento,
torna-se imprescindível controlar os sintomas do paciente para preservá-lo. Partindo do
pressuposto de que cada sintoma é um fenômeno dinâmico, o paciente deve ser reavaliado
constantemente, de forma que qualquer intercorrência e eventualidade sejam controladas
precocemente, sempre preservando para que o sujeito tenha qualidade de vida e conforto
(Seixas, Kessler & Frison, 2010).
Ao se tratar de prática de atividades físicas, 46,7% não realiza nenhuma atividade
física, 26,7% fazem caminhadas e academia diariamente, 10% fazem caminhadas e
academia duas vezes na semana, 10% fazem caminhadas e academia três vezes na semana
e 6,7% fazem caminhadas e academia uma vez na semana. Estudos mostram a existência
de uma forte relação entre o câncer e a atividade física e que a prática regular de exercícios
contribuiria para a diminuição das chances de desenvolvimento de alguns tipos de câncer,
especialmente de cólon e mama. Acredita-se que com a prática regular de atividade física o
sistema imunológico é ativado, o que estimula a produção de células 'Natural Killer',
interleucina e o sistema hormonal, com destaque para o estrogênio, e quando é associado a
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mudanças nos hábitos alimentares, promove a diminuição do tecido adiposo, pois sabe-se
que a obesidade é o segundo maior fator de risco possível de ser evitado para o diagnóstico
de câncer (A.C. Camargo Câncer Center, 2015).
Ressalta-se que 80% dos idosos da amostra nunca utilizaram serviços da área da
Psicologia e apenas 16,7% utilizaram. Quando uma mulher descobre o diagnóstico de
câncer de mama, ela passa a ter dois problemas: um deles é o medo da própria doença e da
mutilação do órgão que representa algo muito importante - a maternidade e a sexualidade
feminina. Desta forma, pode-se dizer que qualquer ameaça a este órgão, irá ocasionar em
perda da autoestima e inferioridade (Ferreira & Mamede, 2003).
Após o diagnóstico, uma das primeiras reações da mulher é o desespero, trazendo
grandes sensações e uma percepção maior do significado de finitude, devido a antecipação
da presença da morte. Este impacto inicial é um dos grandes problemas psicológicos
causados durante tratamento. Estes conflitos, refletem as alterações psicológicas pelas
quais passam as mulheres com diagnóstico de câncer juntamente com seus familiares. Esta
trajetória não termina com a cirurgia, ainda vai além com os procedimentos de
quimioterapia, radioterapia e hormônioterapia (Giglio, Holtz, & Kaliks, 2011).
Considera-se de extrema importância informar, orientar e fornecer intervenções
psicoterapêuticas aos pacientes, familiares e outros nos atendimentos tanto individuais
como grupais. Quando estes compreendem e trabalham a origem dos seus sintomas de
forma psicológica, clínica e social, os mesmos apresentam melhora de forma significativa
na redução do estresse, no humor, na ansiedade e na qualidade de vida em geral. Sugere-se
que essa forma de abordagem permita a estes pacientes lidar com clareza no manejo com
as mudanças e estratégias, tudo isso adequado às condições que estes se encontram
(Scannavino et al., 2013).
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Por estatística correlacional as variáveis escalares foram analisadas e constatou-se,
por Pearson, que as mulheres com histórico de câncer utilizam das forças de caráter
perseverança (p=0,02) e perdão (p=0,04) e isso, depende da idade. Ou seja, quanto mais
idade, mais uso elas fazem dessas forças. Sendo assim, a autopercepção de saúde geral e o
uso dessas forças nessas mulheres se influenciam e a chance disso acontecer ao acaso é
mínima (2% e 4%, respectivamente).
Entende-se que o perdão pode ser definido como o ato de não guardar mágoas do
que os outros nos fizeram, dar uma nova chance às pessoas, não ser vingativo. A
perseverança é concluir tudo o que foi iniciado, persistir no desenvolvimento de uma ação
independente dos obstáculos (Munhoz, 2014).
Essas duas forças também são as que dependem de quanto tempo faz que a idosa
recebeu o diagnóstico (p= 0,02 r= 0,4 e p= 0,04 r= 0,4, respectivamente). Também são
elas que influenciam uma pessoa a ir sozinha em um atendimento ambulatorial (p=0,02
r=0,4 e p=0,4 r= 0,3 respectivamente).
Além disso, pode-se observar que há uma tendência de que as mulheres com
histórico de câncer utilizem das forças de caráter pensamento crítico (p=0,07), amor ao
aprendizado (p=0,07), inteligência social (p=0,08), modéstia (p=0,06), prudência (p=0,07)
e apreciação do belo (p=0,06). Ou seja, a autopercepção de saúde geral e o uso dessas
forças nessas mulheres tem tendência a se influenciarem e a chance disso acontecer ao
acaso é baixa (7%, 7%, 8%, 6%, 7% e 6% respectivamente).
Segundo Brdar, Anic e Rijavec (2011), estudos sobre forças de caráter são
importantes, pois se referem a pontos fortes que podem contribuir para o bem-estar de um
indivíduo e sua felicidade.
Um estudo realizado com idosas com câncer de mama em um hospital de
referência em São Paulo, mostrou que a média de tempo entre o diagnóstico e o início do
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tratamento foi de 74,7 dias, e o tempo mediano de 45 dias. A chegada ao serviço sem um
diagnóstico e tratamento anterior, assim como estar em estágio inicial favoreceram o
acesso ao tratamento. O intervalo de tempo entre o diagnóstico e o início do tratamento
foram significantes para os desfechos de recidiva e metástase (Souza et al., 2015).
A maneira como enfrentar o envelhecimento e o adoecimento parece depender,
além dos aspectos individuais, de um conjunto de fatores sociais, econômicos e culturais
nos quais o sujeito está inserido. Perder a juventude, o vigor e a beleza, bem como as
demais transformações na aparência e no declínio da saúde, são grandes desafios para a
mulher idosa (Jorge, 2005), assim como para os profissionais da saúde, pois a condição de
adoecimento também pode estar relacionada à não aceitação dessas mudanças.
Considerações Finais
Foi possível alcançar o objetivo da pesquisa que era conhecer as forças de caráter
que as mulheres com histórico de câncer utilizam, que é o perdão e a perseverança.
Também foi possível constatar que quanto mais elas utilizam de forças de caráter mais
pontuam na autopercepção de sua saúde geral, ou seja, reforça-se a importância de se
considerar no tratamento multidisciplinar desse público o reforço dessas potencialidades
como forma de se perceberem com melhor saúde geral.
Entende-se como limitação do estudo o fato de que as idosas apresentavam efeitos
colaterais do tratamento oncológico, o que demandava tempo extenso de disponibilidade
para elas responderem aos questionários e sentimentos contratransferenciais na
pesquisadora de forma a ressignificar e perceber na prática o quando se demanda dela, sim,
o perdão e a perseverança. Em futuros estudos, considera-se importante aprofundar as
variáveis de saúde geral para verificar se algumas delas é predita por essas forças de
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caráter. Também se sugere comparar com mulheres que não experienciaram esse
diagnóstico.
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Anexos
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Anexo 1 - Termo de Consentimento Livre Esclarecido (1a via)
FORÇAS DE CARÁTER, SAÚDE, PERCEPÇÃO DE SUPORTE
FAMILIAR E SATISFAÇÃO COM A VIDA DE IDOSOS
Eu, ________________________________________, RG _________
abaixo assinado dou meu consentimento livre esclarecido para participar como voluntário
do projeto de pesquisa supracitado, sob a responsabilidade da pesquisadora Juliana
Frighetto, aluna do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia da
Universidade São Francisco e da Dra Ana Paula Porto Noronha, professora do referido
programa.
Assinando o Termo de Consentimento estou ciente de que:
1 – O objetivo da pesquisa é relacionar as forças de caráter dos idosos com
percepção de suporte familiar, saúde geral e satisfação com a vida. Mais, especialmente,
objetiva-se investigar se as forças de caráter podem predizer a percepção de suporte
familiar, a saúde geral e a satisfação com a vida de idosos. Também serão avaliadas
eventuais diferenças de médias entre as forças de caráter quanto aos sexos, idades, renda e
local de residência.
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2 – Durante o estudo responderei ao Mini-Exame do Estado Mental, cuja aplicação
dura em torno de sete minutos. Se tiver pontuação superior a 18, responderei os
questionários de um dos grupos previamente organizados. Ou o Questionário
Sociodemográfico, a Escala de Forças de Caráter, Inventário de Percepção de Suporte
Familiar e a Escala de Satisfação da Vida, estimando-se em 45 minutos o tempo para o
preenchimento dos instrumentos. Ou a Escala de Forças de Caráter e o Questionário de
Saúde Geral, estimando-se em 40 minutos o tempo para o preenchimento.
3 - Obtive todas as informações necessárias para poder decidir conscientemente
sobre a minha participação na referida pesquisa. As aplicações serão individuais, nas
dependências da residência ou da instituição. Se interditado legalmente não serei incluso
na pesquisa.
4- A resposta a estes instrumentos não causam riscos conhecidos à minha saúde
física e mental, não sendo possível, também, que causem algum desconforto emocional;
5 - Estou livre para interromper a qualquer momento minha participação na
pesquisa, o que não me causará nenhum prejuízo;
6 – Meus dados pessoais serão mantidos em sigilo e os resultados gerais obtidos na
pesquisa serão utilizados apenas para alcançar os objetivos do trabalho, expostos acima,
incluída sua publicação na literatura.
7 - Poderei contatar o Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade São Francisco
para apresentar recursos ou reclamações em relação à pesquisa pelo telefone: 11 -
24548981;
8 - Poderei entrar em contato com o responsável pelo estudo, Profa Juliana, sempre
que julgar necessário pelo telefone: 54-36227414;
9- Este Termo de Consentimento é feito em duas vias, sendo que uma permanecerá
em meu poder e outra com o pesquisador responsável.
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..............................,____________________________ data: __________________
Assinatura do participante/telefone: _______________________________
Assinatura do Pesquisador Responsável_______________________
Anexo 2 - Parecer consubstanciado de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa
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