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Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada - www.cepea.esalq.usp.br 1
EVOLUÇÃO DA AVICULTURA NO BRASIL
Por Prof. Dr. Sergio De Zen,
Marcos Debatin Iguma,
Camila Brito Ortelan,
Victor Henrique S. dos Santos,
Camila B. Felli
Equipe Aves/Cepea
Os primeiros passos da avicultura brasileira foram dados por produtores familiares, presentes até hoje em várias regiões do País. Composta até então principalmente por animais rústicos, como os das linhagens “caipiras”, a produção de aves juntamente de outras atividades (como leite, ovos, carnes bovina e suína) eram responsáveis pela geração de renda da propriedade. Inicialmente voltada à subsistência, prevendo a comercialização apenas dos excedentes, a avicultura tornou-se rapidamente comercial pouco antes de 1930. Nesse período, o setor já se fortalecia com iniciativas privadas originadas principalmente da região Sudeste, com destaque para a aceleração do desenvolvimento da atividade no estado de São Paulo, durante a chegada dos imigrantes japoneses. O desenvolvimento da avicultura se efetivou na década de 70, com a entrada de empresas processadoras no mercado e especialistas no processo de produção do frango. Transformações tecnológicas, técnicas de produção intensiva e o desenvolvimento de genética adaptada contribuíram para o avanço da atividade. Ainda em 1970, no estado de Santa Catarina, surgiu o sistema de Integração Vertical na avicultura, uma parceria entre a indústria (frigoríficos) e os produtores. Nesse novo modelo, o avicultor integrado passou a contar com o apoio da indústria no que se refere ao fornecimento dos principais insumos da atividade, como ração e medicamentos, além de assistência técnica e reposição de lotes (pintainhos). A produção é, então, repassada à indústria, que garante a remuneração ao avicultor.
O novo sistema de produção, considerado mais verticalizado e intensivo, contribuiu para o desenvolvimento da avicultura nacional, principalmente nos quesitos relacionados à biosseguridade, sanidade, qualidade dos animais e da carne de frango. A presença da integradora, por sua vez, tornou a atividade mais organizada, estabelecendo padrões de manejo e de “boas práticas” e fornecendo assistência técnica para os produtores.
REBANHOS REGIONAIS – Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), de 1981 a 2013 (período considerado para esta análise), o rebanho de aves aumentou expressivamente em todas as regiões brasileiras, com destaque para o Sul, Sudeste e Centro-Oeste, que, em 2013, representaram 50,13%, 28,36% e 10,35%, respectivamente, do rebanho nacional. O maior crescimento foi registrado no Centro-Oeste, que passou de 10.297.690 cabeças em 1981 para 106.311.245 cabeças em 2013-. Elevação tamanha esteve atrelada à busca por regiões mais próximas àquelas que apresentavam produção crescente de milho e farelo de soja, principais insumos utilizados na avicultura. Historicamente, o Sul é uma das regiões mais tradicionais para a criação de aves no País, com grande presença de cooperativas no que se refere à organização e apoio aos produtores. Por outro lado, granjas dessa região, assim como do Sudeste, dependem fortemente de grãos provenientes do Centro-Oeste. Além disso, apresentam elevado custo de terra e mão de obra, que vem se tornando limitada pela descontinuidade das gerações de granjeiros.
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Figura 1: Evolução do rebanho de galos, frangas, frangos e pintos nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil (1981-2013).
Fonte: IBGE (2014). Elaboração: Cepea /Esalq-USP.
No Sudeste, se concentram as indústrias consumidoras de carne de frango e há maior disponibilidade de mão de obra qualificada. O destaque dessa região vai para o estado de São Paulo, que manteve crescente a produção de aves nas últimas três décadas e, em 2008, chegou a participar com 14% do abate nacional, segundo dados do IBGE. Naquele ano, o estado de Minas Gerais participou com 6% do abate nacional, sendo que a produção havia aumentado 20,56% em relação ao ano anterior. No Centro-Oeste, há dificuldade para contratação de pessoal com experiência. As grandes lavouras concentram o maior número de funcionários, devido à remuneração e condições de trabalho mais atrativas. Por outro lado, a produção abundante de milho e farelo de soja nessa região tem atraído integradoras, que buscam reduzir custos em um setor altamente competitivo. A opção para contornar os problemas relacionados à mão de obra está no investimento em granjas cada vez mais automatizadas.
Atualmente, de acordo com o levantamento de 2013 realizados pelo IBGE, o estado que lidera o ranking nacional de abate é o estado do Paraná (30,73% do total), seguido de Santa Catarina (16,85%), Rio grande do sul (13,97%), São Paulo (10,60%), Minas Gerais (7,64%) e Goiás (6,32%). Em contrapartida, é importante ressaltar a evolução desses números ao longo do tempo, onde o estado de Goiás atingiu mais de 300% de crescimento no volume de abate entre 2001 e 2013, evidenciando a presença da indústria e os investimentos em plantas na região centro-oeste. Segundo projeções do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), a produção brasileira de grãos deverá alcançar 252,4 milhões de toneladas em 2024, o que representa um acréscimo de 58,8 milhões de toneladas em relação ao volume atual, de 193,6 milhões de toneladas. O estado de Mato Grosso deve continuar liderando a expansão na produção de milho e soja no País, com aumentos previstos em 62,2% e 40,9%, respectivamente, até 2024. No caso do milho, esse crescimento se deve ao incremento na produção da segunda safra. Tais dados evidenciam a importância das regiões Centro-Oeste e Sul-Sudeste na avicultura, tanto na
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insumos.
Figura 2: Distribuição do rebanho nacional. Fonte: IBGE (2012). Elaboração: Cepea /Esalq-USP.
MERCADO INTERNACIONAL
De acordo com levantamento do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) divulgado em out/14, o Brasil se mantinha como o segundo maior produtor mundial de carne de frango, com produção prevista para 12,3 milhões de toneladas em 2014. A quantidade produzida em território nacional fica atrás somente da dos Estados Unidos, com cerca de 17 milhões de toneladas. A China aparece como terceiro maior produtor, com 13,3 milhões de toneladas de carne de frango. Apesar de não ser o maior produtor, o Brasil lidera o ranking mundial dos maiores países exportadores de carne de frango – em 2014, foi responsável por 34,4% dos embarques totais, seguido pelos Estados Unidos, com 31,5%, e União Europeia, com 10,5%, conforme dados do USDA.
De acordo com números da Secex (Secretaria de Comércio Exterior), em 2014, foram exportadas 3,6 milhões de toneladas de carne de frango in
natura para 139 países, a maior quantidade anual da história e 2,7% maior que a do ano anterior. O principal país comprador do Brasil continuou sendo a Arábia Saudita, tendo importado 642,5 mil toneladas da carne nacional em 2014, o que representa 17,6% do volume exportado pelas indústrias brasileiras em 2014. Também compõem o ranking dos cinco maiores compradores: o Japão (410,6 mil t); Hong Kong (315,5 mil t); Emirados Árabes Unidos (255,6 mil t); e China (227,5 mil t). A Rússia também teve papel importante nas exportações brasileiras em 2014. Após conflitos com os EUA e países da Europa, a Rússia redirecionou suas compras de carne para outros países, incluindo o Brasil. Foram mais de 20
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O mercado brasileiro passa a contar com levantamentos sobre custos de produção da
suinocultura e avicultura nacionais. As pesquisas serão conduzidas pelo Cepea (Centro de Estudos
Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, em parceria com a CNA (Confederação da
Agricultura e Pecuária do Brasil), com o objetivo principal de oferecer mais informações a todos
que interagem com essas cadeias. Na pecuária, o Cepea já realiza estudos sobre custos de
produção de carne bovina, de leite e de ovino e caprinocultura em todo o Brasil.
plantas frigoríficas brasileiras habilitadas a embarcar carne àquele país. No total de 2014, os russos compraram 77,6 mil toneladas a mais de carne de frango brasileira que em 2013, totalizando em 124,9 mil toneladas no ano passado. De modo geral, as granjas brasileiras de frango têm sido fortemente beneficiadas pela ausência das principais doenças contagiosas, como a influenza aviária, que vem assolando vários países produtores. Isso faz com que a carne de
frango brasileira aumente ainda mais seu potencial para estar na mesa dos consumidores ao redor do mundo. E os embarques devem continuar a aumentar, consolidando o Brasil na posição de maior exportador mundial. Projeções do MAPA apontam taxa de crescimento anual das exportações brasileiras de carne de frango de 5,62% até 2024, enquanto a produção nacional deve alcançar 4,22%.
Figura 3: Produção e exportação de carne de frango brasileira, de 1960 a 2014.
Fonte: USDA (2014). Elaboração: Cepea /Esalq-USP.
O fato é que a maior parte da produção nacional ainda é destinada ao mercado interno – cerca de 69%, segundo informações da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal).
No Brasil, o consumo médio per capita/ano de carne de frango saltou de 29,91 kg em 2000 para 45 kg por habitante em 2012, ou seja, um expressivo aumento de 50,5%, segundo dados da ABPA.
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