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Estudo do comportamento de um
adubo Blend versus adubo Complexo
Vera Champalimaud
Apoio Técnico
26 de Outubro de 2016
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Um adubo pode ser constituído apenas por um nutriente (adubo elementar), ou por
vários nutrientes (adubo composto).
Um adubo composto, é um adubo com um teor declarável de, pelo menos dois dos
nutrientes primários, obtido por processos químicos, mistura ou uma combinação de
ambos.
Um adubo composto pode ser considerado um adubo complexo ou um adubo de
mistura, conforme o seu processo de fabrico e a sua composição por grânulo.
Imagem 1: Adubo NPK Complexo Imagem 2: Adubo de Mistura Blend
ADUBO COMPOSTO
ADUBO DE MISTURA – BLEND
ADUBO COMPLEXO
Obtido através de uma reacção química, por
solução, ou no seu estado sólido por
granulação, com um teor declarável, de pelo
menos, dois dos nutrientes primários. No seu
estado sólido, cada grânulo contém todos os
nutrientes na sua composição declarada.
Obtido através da mistura em seco de vários
adubos, sem reacção química. Ou seja, cada
grânulo de adubo contém um elemento
químico diferente. Adubos conhecidos como
Blends e algumas vezes denominados
apenas por adubos compostos.
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Características do adubo complexo versus adubo de mistura – Blend
Complexos Misturas (blends)
Características químicas
Compostos químicos estáveis.
=
Compostos químicos instáveis que podem reagir.
=
Composição do adubo igual em
todos os grânulos.
Composição diferente em cada
grânulo.
Características físicas
Menor
higroscopicidade.
Maior higroscopicidade
origina compactação e
crostas no adubo.
Grânulo duro.
Grânulos pouco duros e irregulares.
Grânulos regulares.
Grânulos irregulares provocam
segregação durante o transporte e distribuição.
Grânulos com igual densidade.
Grânulos com
densidades diferentes.
Tabela 1: Diferenças entre as características químicas e físicas de um adubo complexo e de um adubo de
mistura Blend.
Problemática da utilização de um adubo de mistura Blend em vez de um
adubo complexo
Armazenamento
Reacção: adubos complexos têm compostos químicos estáveis, pois sofreram uma
reacção química durante o processo de fabrico e todos os grânulos tem a mesma
composição. Pelo contrário, um adubo Blend é constituído por compostos químicos
elementares, ou seja, cada grânulo de adubo tem a sua composição, havendo assim o
risco de juntos poderem reagir e transformar-se.
N
P K
N
P K
N
P K
N
P K N P K
N
P K
N
P K
N
P K
N
P K
N K
P P K
N
P K
N
P K
N
P K
N
P K
N K
P
N P
K
N P
K
N
P K
N P K
N P
K
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Compactação: Os adubos Blend apresentam maior higroscopicidade. Entende-se por
higroscopicidade a capacidade que o adubo tem de absorver água, neste caso, a
humidade do ar. Estes adubos são suscetíveis a dissolução mais rápida durante o
armazenamento, e até durante o transporte e a distribuição formando blocos
compactos com uma crosta.
Manipulação e transporte
Estratificação: durante a manipulação e o transporte o adubo Blend sofre um processo
de estratificação. Como as diferentes composições entre grânulos, existem também
diferentes granulometrias e diferentes densidades. Assim, com o movimento, os
grânulos mais densos e mais pequenos descem ficando nas camadas inferiores, dentro
do bigbag por exemplo ou mesmo dentro da tremonha do adubador.
Distribuição
Diferenças de densidade: é uma característica importante do ponto de vista da
distribuição do adubo. A utilização de um adubo complexo proporciona uma distribuição
homogénea. Os adubos de mistura, devido às diferenças de composição entre grânulos,
têm densidades diferentes, sofrem um processo de estratificação e por isso originam
uma distribuição heterogénea. Esta característica também influencia a projecção do
grânulo no adubador, ou seja, a distância a que os grânulos de adubo caem quando são
espalhados difere consoante a densidade. Uma distribuição heterogénea dos nutrientes
leva a um desenvolvimento heterogéneo da cultura, que dificulta a realização das
operações culturais e prejudica a produção.
Efeito da aplicação de um Blend
Uma distribuição heterogénea do adubo no solo, consequentemente dos nutrientes, dá
origem a um campo com diferentes desenvolvimentos vegetativos, diferentes
problemas fitossanitários e diferentes produções, produções heterogéneas e sem os
resultados esperados.
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ENSAIO
Estudo agronómico e económico sobre a utilização de um adubo
de mistura Blend
Ensaio realizado por Fertibéria e AIMCRA - Espanha
Dirigido por Professor Luís Márquez
Foi realizado em Espanha um ensaio com base na distribuição de um adubo Blend versus
adubo complexo.
O estudo foi dividido em quatro partes:
1. Estratificação dos componentes do adubo Blend por efeito do transporte
2. Medição da homogeneidade na distribuição (Kg/Ha) de um adubo Blend e NPK
complexo
3. Incumprimento de tolerâncias a desvios de nutrientes em adubos Blend
4. Estudo económico da adubação com um Blend
1. Estratificação dos componentes do adubo Blend por efeito do transporte
Na primeira parte do ensaio foram retiradas quatro amostras de adubo Blend, da
tremonha do adubador com auxílio de uma sonda, conforme esquema da imagem 3 e
4. Foi também retirada uma amostra do local de armazenamento do adubo.
Fórmula comercial do adubo Blend 11-23-23
Proporções de fabrico % (10-50-38-2):
• 9,6 % sulfato de amónio granulado • 50 % DAP • 38,4 % cloreto de potássio granulado • 2 % carbonato de cálcio
Imagem 3: Divisão da tremonha para
amostragem
Imagem 4: Sonda utilizada para retirar
amostras
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Foram separados e pesados os quatro componentes do
adubo, repetindo o processo nas cinco amostras. Com
estes valores foi possível calcular a percentagem de cada
componente e analisar o efeito da estratificação ao longo
do transporte na tremonha do adubador.
Tabela 2: Composição das amostras recolhidas do adubo Blend.
NÚMERO DA
AMOSTRA AMOSTRAS
COMPONENTES DO ADUBO BLEND (%)
Sulfato de amónio granulado DAP Cloreto de Potássio
1 Armazém 12,08 48,74 34,42
2 Tremonha 4/4 4,1 56,77 34,64
3 Tremonha 3/4 23,76 44,19 27,04
4 Tremonha 2/4 16,96 49,85 27,72
5 Tremonha 1/4 8,17 48,54 37,88
12,084,1
23,76 16,968,17
48,7456,77 44,19
49,85 48,54
34,42 34,6427,04 27,72
37,88
0
10
20
30
40
50
60
0 1 2 3 4 5 6
PER
CEN
TAG
EM (
%)
AMOSTRAS
Variação da composição do adubo Blend
Sulfato de amónio granulado DAP Cloreto de Potássio
Imagem 5: Componentes do adubo
Blend utilizado no ensaio
Gráfico 1: Variação da composição do adubo Blend nas cinco amostras.
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Com os dados anteriores, representados no gráfico 1 e na tabela 2, concluiu-se que
existe um processo de estratificação durante o transporte do adubo na tremonha do
adubador. Este processo deve-se ao facto do adubo Blend ter composições, tamanhos
e densidades diferentes entre grânulos. Os grânulos com maior densidade ficam nas
camadas inferiores, devido ao seu peso. Este processo dá origem a uma alteração da
composição do adubo ao longo da tremonha devido ao movimento dos componentes
(tabela 3). Consequentemente, a distribuição do adubo segue o mesmo
comportamento, com o espalhamento de uns componentes em maior quantidade do
que outros.
2. Medição da homogeneidade na distribuição (kg/ha) de um adubo Blend e NPK
Complexo
Para avaliar a homogeneidade da distribuição deste tipo de adubos, foi feita a
distribuição com o tractor e um espalhador de adubo a lanço com 18 metros de largura
de trabalho. Os 18 metros de largura foram divididos, colocando bandejas com uma
distancia de 3 metros umas das outras, ou seja, foram colocadas 7 bandejas. Para
demonstrar o efeito que a estratificação causada pelo transporte tem na distribuição do
adubo ao solo o tractor tinha que percorrer uma distância. Assim, foram colocadas as 7
bandejas com 3 repetições, com 50 metros de distância (como ilustrado na imagem 6).
Amostras Fórmulas do adubo Blend
com efeito da estratificação
Proporções de fabrico do Blend (%)
Sulfato Amónio DAP
Cloreto Potássio
Carbonato Cálcio
Armazém 11-22-20 12 48 34 6
4/4 11-26-20 4 57 34 5
3/4 13-20-16 24 44 27 5
2/4 12-23-16 17 50 27 6
1/4 10-22-23 8 48 38 6
Fórmula Comercial do Blend ORIGINAL
11-23-23 10 50 38 2
Tabela 3: Fórmulas do Blend após estratificação e respectivas proporções de fabrico
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Foi feita a distribuição com adubo Blend e a distribuição com adubo complexo. O
objectivo desta distribuição foi a aplicação de 250 Kg de adubo por hectare.
Imagem 6: Esquema do ensaio com bandejas
Imagem 7: Medição das
distâncias entre bandejas
Imagem 8: Adubo Blend na bandeja após distribuição
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Foram analisados os conteúdos das bandejas. A primeira análise feita foi o teste de
granulometria (tabela 4 e 5).
Os testes de granulometria efectuados provam a heterogeneidade entre o tamanho dos
grânulos do adubo Blend, que sendo uma mistura de vários adubos diferentes os
grânulos situam-se nos intervalos de 2 - 3,2mm e 3,2 - 5mm, tendo alguma percentagem
de grânulos nos restantes dois intervalos. O adubo NPK complexo, apresenta 83% dos
grânulos no intervalo dos 3,2-5mm.
BLEND
Granulometría
< 2 mm 2 – 3,2 mm 3,2 – 5 mm > 5mm
% adubo 10 32 53 5
NPK
COMPLEXO
Granulometría
< 2 mm 2 – 3,2 mm 3,2 – 5 mm > 5mm
% abubo 0 10 83 7
Tabela 4 e 5: Resultados do teste de granulometria do NPK Complexo e do Blend,
respectivamente
Imagem 9: Estudo da
granulometria do adubo complexo Imagem 10: Estudo da
granulometria do adubo Blend
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A segunda análise foi pesar o adubo de cada bandeja e fazer os cálculos de modo a
transformar este valor em kg/ha. No caso do adubo de mistura, foram separados os
componentes do adubo presentes em cada bandeja e assim calculadas as quantidades
de cada um e as unidades de fertilizantes correspondentes (tabela 6).
A tabela 6 apresenta a soma dos resultados das 3 repetições de cada bandeja, dos 0 aos
18 metros, em kg/ha, calculando também o desvio ao objectivo inicial dos 250kg/ha e o
resultado em unidade de fertilizante para N, P e K.
Pode observar-se, no caso do adubo NPK complexo, uma média aplicada por hectare de
244 kg, e uma média de desvios apenas de 5%. Como o adubo é homogéneo em termos
de densidade e dimensão do grão não existem grandes desvios do objectivo, os
250Kg/ha. Quanto às unidades de fertilizante, não existem intervalos significativos uma
vez que a quantidade distribuída ao longo do ensaio é constante e que as unidades são
as mesmas em todos os grânulos.
REPETICÃO Kg/ha
fertilizante Desvio em
% UF N/ha UF
P205/ha UF
K20/ha
BLEND (11-23-23)
0 124 - 50 % 13 29 27
3 152 - 39 % 17 37 31
6 300 + 20 % 32 72 66
9 386 + 55 % 38 74 100
12 320 + 28 % 33 70 77
15 219 - 12 % 25 56 43
18 165 - 34 % 18 38 37
Média BLEND 238 35% 25 54 54
COMPLEXO
0 220 - 12 % 24 51 51
3 251 0 % 28 58 58
6 248 0 % 27 57 57
9 244 - 2 % 27 56 56
12 230 - 8 % 25 53 53
15 241 - 3 % 27 56 56
18 278 + 11 % 31 64 64
Média COMPLEXO 245 5 % 27 56 56
Tabela 6: Quantidades de adubo por bandeja e respectivas unidades de fertilizantes
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Os componentes que formam o adubo Blend espalham-se de forma diferente,
originando quantidades diferentes ao longo da parcela e consequentemente, valores de
unidades N, P e K diferentes.
Como cada componente do adubo corresponde a determinados nutrientes e não a uma
quantidade estabelecida de todos os nutrientes por grânulo como no caso do adubo
complexo, as unidades de fertilizante espalhadas apresentam grandes desvios. No caso
de nutrientes como o fósforo, por exemplo, que apresenta uma mobilidade reduzida no
solo, a quantidade mínima aplicada é de 29 unidades e a quantidade máxima é de 74
unidades. Algumas plantas terão défice ou excesso de nutriente, ou seja, terão uma
nutrição desequilibrada que provoca uma diminuição da produção e uma
heterogeneidade no desenvolvimento vegetativo da cultura.
Imagem 11: Esquema das quantidades aplicadas do adubo Blend por hectare
12
43% Área recebe mais adubo do que o objectivo
57 % Área recebe menos adubo do que o objectivo
Imagem 12: Esquema das unidades de fertilizante por hectare em função dos componentes do adubo
Blend recolhido nas bandejas
Imagem 13: Esquema dos desvios das quantidades de adubo Blend distribuído
13
3. Incumprimento de “tolerâncias a desvios de nutrientes” em adubos Blend
A tolerância vigente para os adubos complexos segundo o Regulamento CE 2003/2003
é de 1,1 para cada um dos macronutrientes (N, P e K), mas o somatório dos três desvios
não pode ultrapassar o valor de 1,9.
Foram retiradas 126 amostras do adubo Blend utilizado no ensaio para fazer as
medições da quantidade em nutrientes e consequentes desvios. Destas 126 medições,
88 estavam fora da norma, ou seja, 88 não cumpriam os valores declarados da fórmula
comercial do Blend 11-23-23.
4. Estudo económico da adubação com um Blend
Para o estudo económico, foram utilizados os dados recolhidos no ensaio com bandejas.
Este ensaio permitiu conhecer as quantidades de fertilizante aplicado, bem como as
unidades de N, P e K. Posteriormente, com o conhecimento da produção real obtida e o
custo do fertilizante, fez-se o estudo económico da sua aplicação. A cultura utilizada no
ensaio foi um cereal de Outono/Inverno.
BLEND 372€/ton
m
kg/ha Desvio (%) Custo Produção Receita Bruta
0 124 -50% 46 € 2.550 390 €
3 152 -40% 57 € 2.550 390 €
6 300 20% 112 € 3.100 474 €
9 386 55% 144 € 3.200 490 €
12 320 38% 119 € 3.100 474 €
15 219 -12% 81 € 2.900 444 €
18 165 -34% 61 € 2.550 390 €
Média 35% 93 € 436 €
NPK 407 €/ton
m
kg/ha Desvio (%) Custo Produção Receita Bruta
0 220 -12% 90 € 2.900 444 €
3 251 0% 102 € 3.000 459 €
6 248 0% 101 € 3.000 459 €
9 244 -2% 99 € 3.000 459 €
12 230 -8% 94 € 2.950 451 €
15 241 -3% 98 € 2.950 451 €
18 278 11% 113 € 3.050 467 €
Média 5% 101 € 456 €
Tabela 7 e 8: Resultados do estudo económico da fertilização com um adubo Blend e um
adubo NPK complexo.
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O adubo Blend utilizado tinha o preço de 372 euros por tonelada. Sendo que, o custo
médio por hectare deste adubo foi de 93 euros (com uma média de aplicação de
250kg/ha). A receita bruta desta cultura foi de 436 euros por hectare.
O adubo NPK Complexo com um preço de 407 euros por tonelada, teve um custo médio
de 101 euros por hectare com a aplicação de 250kg/ha. A receita bruta da cultura com
o adubo complexo foi de 456 euros por hectare.
O adubo complexo teve um benefício por hectare (receita bruta – custo do adubo) de
355 euros enquanto o adubo Blend teve um benefício de 343 euros por hectare.
15
CONCLUSÃO:
Diferença nas receitas: o adubo complexo teve uma receita bruta de 456 euros, ou seja, 20
euros por hectare superior ao adubo Blend que obteve uma receita de 436 euros por hectare.
Diferença nos benefícios (receita – custo do adubo): o adubo complexo obteve um benefício 12
euros por hectare superior ao benefício do adubo Blend, mesmo sendo um produto com um
custo superior por tonelada.
Gráfico 2: Simulação do preço por tonelada requerido para o
adubo Blend atingir o lucro obtido pelo adubo NPK complexo.
BENEFÍCIOS:
Para obter o mesmo benefício, o adubo Blend teria que ser 82 euros/tonelada
mais barato que o adubo Complexo.
340
345
350
355
360
372 € 360 € 350 € 330 € 325 €
Be
nef
ício
(€
/ha)
(re
ceit
a -
cust
o a
du
bo
)
Preço do Adubo Blend (€/ton)
Complexo NPK (407€/ton)
Preço do adubo Blend
utilizado no ensaio.
Benefício de 343 euros.