Estrutura Social e Mobilidade no Brasil -...

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Estrutura Social e Mobilidade no Brasil

Prof. Dr. Marcelo Manzano

2018

manzano1968@gmail.com

Referências

Bibliográficas

• ANTUNES, D.; QUADROS, W.; GIMENEZ, D. (2012). Afinal, somos

um país de classe média? Mercado de trabalho, renda e transformações sociais no Brasil dos anos 2000. Carta Social e do Trabalho, nº 20. Campinas, SP: Cesit/Unicamp (disponível em: https://goo.gl/xrJVbs)

• MAIA, A. G. (2009) Estrutura de classes e desigualdade no Brasil. Col. Debates contemporâneos, economia social e do trabalho, nº 5. São Paulo: Ltr.

• POCHMANN, M.; MORAES, R. (2017). Capitalismo, classe trabalhadora e luta política no início do século XXI: experiências do Brasil, EUA, Inglaterra e França. São Paulo: Fundação Perseu Abramo (disponível em: https://goo.gl/rmM4hw)

• QUADROS, W. (2014) 2009 a 2012: heterodoxia impulsiona melhorias sociais. Texto para discussão nº 230. Instituto de Economia/Unicamp. Campinas, SP: Unicamp. (disponível em: https://goo.gl/wmzV3B)

• SOUZA, J. A classe média no espelho (2018). São Paulo: Ed. Sextante.

Estrutura Social

• Até a idade moderna as estruturas sociais eram bastante rígidas (castas e estamentos), definidas por aspectos religiosos, hereditários ou militares.

• A perspectiva de mobilidade social é, portanto, uma ideia recente, que ganha vida com a emergência do protestantismo, as revoluções burguesas e com a emergência do capitalismo.

• Na modernidade, a posição social passa a ser definida de acordo com uma multiplicidade de fatores socioeconômicos.

Classes Sociais na visão de Marx• Para MARX “a história de todas as sociedades até hoje é a história da

luta de classes”, isto é, a luta entre opressores e oprimidos.�uma classe se define em oposição à outra, mesmo que os indivíduos de uma

mesma classe concorram entre si.

• Para MARX, as classes seriam moldadas por fatores histórico-sociais.

• No capitalismo haveria uma tendência de ampliação do antagonismo de classes, acentuando-se a distância entre proprietários dos meios de produção (capitalistas) e trabalhadores assalariados (proletários)

Classes Sociais na visão de Weber

• Para WEBER as diferentes classes sociais são formadas por tipos sociais que se diferenciam dos demais a partir de três características básicas: • A situação no mercado (posse de bens; local de inserção no mercado de

trabalho)

• O prestígio ou status social (probabilidade de valorização)

• O poder político (sucessão intergeracional)

• Nesta perspectiva NÃO HÁ necessariamente um antagonismo entre as classes, podendo até ocorrer solidariedade entre elas.

Nova Classe Social

• Com o desenvolvimento do capitalismo, foi ficando mais difícil identificar grupos sociais homogêneos (classes sociais).

• Já nas primeiras décadas do século XX assistiu-se à formação de um novo e importante grupo social intermediário (a nova classe média) composto pelos chamados empregados de colarinho branco (diretores, gerentes, especialistas, funcionários, etc.)

⇒W. Mills (um sociólogo weberiano) foi o grande teórico dessa temática.

• O ápice dessa sociedade de classe média se deu durante os anos de ouro do capitalismo (1945-1973)

� Grandes corporações organizadas sob o regime fordista (administração científica do trabalho com complexa hierarquia funcional),

� Sistemas de relações de trabalho complexos e estáveis (contratos coletivos de trabalho)

� Estado de Bem-Estar Social (segurança social e econômica)

Nova Classe Social

(cont.)

NOTE-SE:

�Embora estejam na mesma situação dos operários (“colarinhos azuis”) quanto à posse dos meios de produção, a classe média se distingue do ponto de vista da renda, do prestígio e do poder.

�Seus membros não lidam com máquinas, mas com símbolos, papeis e pessoas.

�Sem patrimônio material relevante, os indivíduos da classe média dependem do acesso aos monopólios sociais para manterem o status de “gente diferenciada”.

�A mobilidade social passa por conquistar o acesso aos monopólios socias.

A era neoliberal e a dissolução do

meio

• Desde a década de 1970 aquele arranjo econômico-político-social que favorecia a expansão da classe média se desfez.

• NOVO CONTEXTO:

�Desregulação das economias nacionais (globalização financeira e comercial)

�Avanço das tecnologias de Comunicação e Informação (TI) - 3ª Rev. Industrial

�Toyotismo (redução das hierarquias, terceirização, just-in-time, etc.)

�Fragmentação das plantas industriais;

�Automação e desqualificação do trabalho;

A Divisão Internacional

do Trabalho Pós-Breton

Woods

ECONOMIAS CENTRAIS

• Polarização das ocupações

�Hipertrofia do setor terciário (serviços), especialmente de serviços pessoais;

�Aumento do trabalho precário, parcial, temporário, informal (PRECARIADO);

�Aumento do desemprego estrutural;

ECONOMIA PERIFÉRICAS

�Deslocalização das ocupações industriais para o sudeste asiático (China e satélites), ao longo das Cadeias Globais de Valor;

�Deisdustrialização dos capitalismos tardios.

BRASIL

Um caso de capitalismo tardio e desindustrialização precoce

Ascensão e declínio do

desenvolvimento capitalista no

Brasil

• Industrialização (1930-1980)�Restringida (1930-1955)

�Pesada (1956-60/1961-80)

• Crises e Estagnação (década de 1980)

• Desindustrialização Precoce (1990 �?)

Industrialização Restringida

• As restrições externas constituem um obstáculo aos investimentos necessários para o desenvolvimento industrial.

• Não foi possível consolidar um sistema industrial integrado e profundo capaz de autonomizar uma dinâmica de inversões produtivas;

• Incompatibilidade entre escalas x demanda x rentabilidade x prazo de maturação

• De 1937-1945 (Estado Novo) se consolida a “ossatura do leviatã brasileiro”, protagonista da industrialização nas décadas seguintes

Industrialização Pesada

(anos JK)

• Liderança do setor produtivo estatal: infraestrutura e fornecimento de insumos básicos (baratos!)

• Entrada das Transnacionais: Bens Duráveis e Bens de Capital

• Papel subordinado das empresas privadas nacionais: fornecedoras para as grandes empresas e Bens não duráveis.

• Plano de desenvolvimento nacional (Plano de Metas –31 no total)

• Criação de ocupações de classe média (diretores, gerentes, administradores, advogados, bancários, contadores, secretárias, etc.)

Industrialização Pesada

(Ditadura)

• Reformas estruturais 1964-1967 (PAEG)

• Criação de grandes holdings estatais (Telebras, Siderbras, Nuclebas, Eletrobras, Embratel)

• “Milagre Econômico” 1968-1973 (enriquecimento da classe média)

• II PND (grandes investimentos em infraestrutura e bens intermediários)

• Inchaço das grandes cidades (“favelização”)

• Crises externas (choques do petróleo e choque de juros = crise da dívida)

Anos 1980:

“a década perdida”

• Estrangulamento externo�Transferências líquidas para os credores externos;

�Política econômica priorizando as exportações (prod. Básicos);� Desvalorizações cambiais

�Colapso das finanças públicas;

�Sucateamento das estatais e dos serviços públicos� Adesão à ideias neoliberais

• Espiral inflacionária� Criação de mecanismos de proteção da renda e da riqueza

� Ciranda financeira

� Avanço e instauração dos interesses rentistas

� Desestímulo aos investimentos produtivos

Anos 1990:

DesindustrializaçãoPrecoce

• Abertura comercial e financeira• Collor e FHC

• Privatizações�Redução da musculatura estatal impacta negativamente as

expectativas de investimento privado de longo prazo

�Diminuição da ação anticíclica dos gastos estatais, ampliando a vulnerabilidade externa e a volatilidade da economia nacional;

• Plano de estabilização monetária com âncora cambial�Perda de competividade externa (câmbio favorece produtos

importados);� Fechamento de empresas

� Aumento do desemprego

�Necessidade de captar dólares via elevação de juros internos� Desestímulo aos investimentos produtivos

� Estímulo a acumulação rentista

� Endividamento do setor público

Anos 2000:

Desenvolvimento contingente

• Crescimento via distribuição de renda�Fôlego curto

�Criação de empregos (20 milhões)

�Crescimento real dos salários

�Redução da desigualdade

• Maior protagonismo do setor estatal (pós-2006)• Bancos públicos

• Petrobrás / Eletrobrás

• Manutenção do tripé macroeconômico�Mantém os constrangimentos à expansão do investimento e

do produto.

�Mantém os estímulos à acumulação rentista;

�Crise internacional de 2008�Avanço da manufatura chinesa

2015-2018:

Retorno ao neoliberalismo

• Choque recessivo (2015)�Ajuste fiscal

�Correção cambial (desvalorização do Real)

�Ajuste monetário (juros altos)

�Tarifaço

• Queda do PIB (-7% em dois anos)�Rápido aumento do desemprego

�Ampliação da pobreza e da desigualdade

• Estagnação pós-recessão (primeira na história do Brasil)

A dinâmica da sociedadeurbano-industrial no Brasil

Uma das mais intensas do capitalismo do século XX

O Processo de

Urbanização

12,818,8

32

52,9

82

111

137,8

161

28,4 33,139 41,6 39 36 31,8 29,8

1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2010

(Em milhões de pessoas)

Pop. Urbana Pop. Rural

Fonte: Censos (IBGE)

Distribuição da

População(Rural x Urbano)

31%36%

45%

56%

68%76%

81% 84%

69%64%

55%44%

32%24%

19% 16%

1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2010

Pop. Urbana Pop. Rural

Fonte: Censos (IBGE)

Indicadores da desindustrialização precoce

Evolução da participação da Indústria de Transformação no emprego formal brasileiro(1985 -2015)

Evolução da participação da Indústria de Transformação no emprego formal paulista(1985 – 2015)

PIB por setores da economia brasileira - 2016

Empregados formais por setores da economia brasileira2015

Mobilidade Intergeracional

Mobilidade intergeracional

(homens)

Mobilidade intergeracional

(mulheres)

A evoluçãoda distribuição de renda

Estrutura Social e

“modernizaçãoconservadora

Distribuição da Renda (PEA)

1960 1970 1980 1991*

20% + Pobres 3,5% 3,2% 3,0% 2,3%

20% seguintes 8,1% 6,8% 5,8% 4,9%

20% seguintes 13,8% 10,8% 9,0% 9,1%

20% seguintes 20,2% 17,0% 16,1% 17,6%

20% + Ricos 54,4% 62,2% 66,1% 66,1%

100,0% 100,0% 100,0% 100,0%

10% + Ricos 39,7% 47,8% 51,0% 49,7%

5% + Ricos 27,7% 34,9% 34,9% 35,8%

1% + Ricos 12,1% 14,6% 18,2% 14,6%

Fonte: Bonelli; Ramos (1995)

*Pnad anual, não diretamente comparáveis com censos

Fonte: CENSO e PNAD (IBGE)

Evolução da renda do 1%

mais rico

Evolução da renda do 1%

mais rico

BRASIL

8 9 8 7 8 8 10 11 11

16 18 17 16 17 18 19 21 21

2527 27 26 27 27

2727 27

51 46 48 51 48 47 45 42 41

1976 1981 1985 1989 1995 2001 2006 2011 2014

Evolução da Distribuição Da Renda(Anos Selecionados)

Pobres (-40%) Baixa Cl. Média (30%)

Média Cl. Média (20%) Alta Cl. Média/Ricos (+10%)

Fonte: PNAD (IBGE)

Brasil:Desigualdade

de Renda

0

5

10

15

20

25

30

35

1976

1977

1978

1979

1981

1982

1983

1984

1985

1986

1987

1988

1989

1990

1992

1993

1995

1996

1997

1998

1999

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2011

2012

2013

2014

Raz

ão 1

0/4

0 (

%)

Razão da renda domiciliar per capita(10% mais ricos/40% mais pobres)

Fonte: PNAD (IBGE)

Índice de Gini

Evolução do Salário Mínimo (1940-2012)(R$ de 2012)

Período democático

Ditadura InflaçãoCrônica

Govern.FHC

Gov.PT

GV

Evolução daEstrutura Ocupacionalno período recente

Grupos Ocupacionais 1985 1990 1995 2003 2007 2011

Executivos, Adm, Gerentes 5 7 7 6 6 5

Profissionais e Técnicos 8 8 9 10 11 12

Suporte Administrativo 9 9 8 9 9 10

Vendedores 9 11 12 13 13 14

Serviços 6 8 8 10 11 12

Trab. Manuais 30 31 32 28 29 29

Emprego Doméstico 6 6 8 8 8 8

Trab. Rurais 26 23 16 16 12 11

Distribuição dos Trabalhadores por Grupo Ocupacional

Fonte: PNAD (IBGE)

5

12

10

14

12

29

8

11

11

23

16

11

17

20

0

1

Executivos, Adm, Gerentes

Profissionais e Técnicos

Suporte Administrativo

Vendedores

Serviços

Trab. Manuais

Emprego Doméstico

Trab. Rurais

Brasil x EUAEstrutura Ocupacional - 2011

EUA BRASIL

RENDA FAMILIAR

PER CAPITA

RENDA FAMILIAR

MÉDIA

ESTRUTURA SOCIAL

FAMILIAR (em %)

23,412,2 11,4 10,3 9,8 9,8 8,3 7,4 8,1 6,6 7,5

30,9

37 34,7 33,1 32,9 30,927,7

25,1 24,823,2

25,2

29,233

34,6 35,7 36,9 38,742

43 44,3 46,2 44,4

10,2 10,9 11,7 12,8 12,9 13 14 15,6 14,3 14,8 14,4

6,3 6,9 7,6 8,1 7,5 7,6 7,9 8,9 8,5 9,1 8,5

2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 2012 2013 2014 2015

Miseráveis Massa trabalhadora Baixa cl. média Média cl. média Alta cl. média

Fonte: PNAD (IBGE)

Distribuição Social dos Indivíduos

(em mil pessoas)

Fonte: PNAD (IBGE)

18.262

29.701

92.504

46.487

13.168

17.019

28.793

88.852

50.475

14.983

Alta cl. média

Média cl.média

Baixa cl. média

Massatrabalhadora

Miseráveis

2015 2014