Estágio e docência

Post on 19-Dec-2014

4.545 views 1 download

description

 

Transcript of Estágio e docência

ESTÁGIO E DOCÊNCIA:DIFERENTES CONCEPÇÕES Seleção de trechos e Comentários ao texto de PIMENTA e LIMA (2006)- Por Nádia D F Biavati

Objetivos

Apresentar concepções de estágio e seus percursos em cursos de licenciatura.

Relacionar as práticas de estágio como exercício do conhecimento.

Relacionar a visão de estágio ao exercício de pesquisa.

Estágio na atualidade

Enquanto campo de conhecimento, o estágio se produz na interação dos cursos de formação com o campo social no qual se desenvolvem as práticas educativas.

O estágio poderá se constituir em atividade de pesquisa.

Teoria e prática: relações possíveis “...é necessário explicitar-se os conceitos de

prática e de teoria e como compreendemos a superação da fragmentação entre elas a partir do conceito de práxis, o que aponta para o desenvolvimento do estágio como uma atitude investigativa, que envolve a reflexão e a intervenção na vida da escola, dos professores, dos alunos e da sociedade.”

O estágio como pesquisa já se encontra presente em práticas de grupos isolados. É necessário entender como isso funciona.

A prática como imitação de modelos

“o modo de aprender a profissão, conforme a perspectiva da imitação, será a partir da observação, imitação, reprodução e, às vezes, da re-elaboração dos modelos existentes na prática, consagrados como bons.”

“Muitas vezes nossos alunos aprendem conosco, observando-nos, imitando, mas também elaborando seu próprio modo de ser a partir da análise crítica do nosso modo de ser.”

Aprendizado como imitação

Prática como imitação: ‘artesanal’, caracterizando o modo tradicional da atuação docente, ainda presente em nossos dias.

O pressuposto dessa concepção é o de que a realidade do ensino é imutável e os alunos que frequentam a escola também o são.

Aprendizado como imitação

observação e tentativa de reprodução da prática modelar do professor; como um aprendiz que aprende o saber acumulado.

Ao valorizar as práticas e os instrumentos consagrados tradicionalmente como modelos eficientes, a escola resume seu papel a ensinar; ignora o aprender do aluno.

visão de que se os alunos não aprendem, o problema “é deles, de suas famílias, de sua cultura diversa daquela tradicionalmente valorizada pela escola.”

Atividade docente tradicional Repasse de conhecimentos aprendidos,

ensinando o que aprendeu por imitação. Não valoriza a formação intelectual,

reduzindo a atividade docente apenas a um fazer, que será bem sucedido quanto mais se aproximar dos modelos que observou.

Por isso, gera o conformismo.

A prática como instrumentalização técnica

É necessária a utilização de técnicas para executar as operações e ações próprias.

Algumas profissões necessitam desenvolver habilidades específicas para operar os instrumentos próprios de seu fazer. O professor também, mas não é só isso.

A redução às técnicas não dá conta do conhecimento científico nem da complexidade das situações do exercício profissional.

A prática como instrumentalização técnica

Nessa perspectiva, o profissional fica reduzido ao ‘prático’, o qual não necessita dominar os conhecimentos científicos, mas tão somente as rotinas de intervenção técnica deles derivadas.

Essa visão gera posturas dicotômicas em que teoria e prática são tratadas isoladamente, o que gera equívocos graves nos processos de formação profissional. A prática pela prática e o emprego de técnicas sem a devida reflexão pode reforçar a ilusão de que há uma prática sem teoria ou de uma teoria desvinculada da prática.

Por isso, os alunos afirmam que prática e teoria são dissonantes.

A prática como instrumentalização técnica

“Nessa perspectiva, a atividade de estágio fica reduzida à hora da prática, ao como fazer, às técnicas a ser empregadas em sala de aula, ao desenvolvimento de habilidades específicas do manejo de classe, ao preenchimento de fichas de observação, diagramas, fluxogramas”.

Polêmica: oficinas pedagógicas, confecção de material didático sem a devida reflexão segue essa visão

Consequência da visão prática como instrumentalização ao estágio

Atividades de estágio têm sido utilizadas como cursos de prestação de serviço às redes de ensino, obras sociais e eventos, o que acaba submetendo os estagiários como mão-de-obra gratuita e substitutos de profissionais formados.

Micro-ensino e mini-aulas costumam valorizar a instrumentalização técnica se não forem objeto de reflexão.

“O processo educativo é mais amplo, complexo e inclui situações específicas de treino, mas não pode a ele ser reduzido”.

O perigo das técnicas e metodologias sem reflexão

“A exigência dos alunos em formação, por sua vez, reforça essa perspectiva, quando solicitam novas técnicas e metodologias universais, acreditando no poder destas para resolver as deficiências da profissão e do ensino, fortalecendo, assim, o mito das técnicas e das metodologias”.

Esse mito está presente não apenas nos anseios dos alunos, mas também entre professores.

O papel do estágio- uma tendência

Deve-se (re)pensar a didática de ensino assumindo a crítica da realidade existente, mas numa perspectiva de encaminhar propostas e soluções considerando os problemas estruturais, sociais, políticos e econômicos dos sistemas de ensino e seus reflexos no espaço escolar e na ação de seus profissionais.

Defesa das autoras

a universidade é o espaço formativo por excelência da docência, uma vez que não é simples formar para o exercício da docência de qualidade e que a pesquisa é o caminho metodológico para essa formação.

Se contrapõem, portanto, às orientações das políticas geradas a partir do Banco Mundial que reduzem a formação a simples treinamento de habilidades e competências.

Teoria, prática e ação docente Ação docente: prática e ação. A profissão docente é

uma prática social, ou seja, como tantas outras, é uma forma de se intervir na realidade social, no caso, por meio da educação que ocorre, não só, mas essencialmente nas instituições de ensino.

Para melhor compreendê-la, necessário se faz distinguir a atividade docente como prática e como ação.

Para Sacristán (1999), a prática é institucionalizada; são as formas de educar que ocorrem em diferentes contextos institucionalizados, configurando a cultura e a tradição das instituições

Ação docente

A ação (cf. Sacristán, 1999) refere-se aos sujeitos, seus modos de agir e pensar, seus valores, seus compromissos, suas opções, seus desejos e vontade, seu conhecimento, seus esquemas teóricos de leitura do mundo, seus modos de ensinar, de se relacionar com os alunos, de planejar e desenvolver seus cursos, e se realiza nas práticas institucionais.

Ação pedagógica

ação pedagógica: “ Atividades que os professores realizam no coletivo escolar, supondo o desenvolvimento de certas atividades materiais, orientadas e estruturadas. Tais atividades têm por finalidade a efetivação do ensino e da aprendizagem por parte dos professores e alunos”.

E as teorias....

o papel das teorias é o de iluminar e oferecer instrumentos e esquemas para análise e investigação, que permitam questionar as práticas institucionalizadas e as ações dos sujeitos e, ao mesmo tempo, se colocar elas próprias em questionamento, uma vez que as teorias são explicações sempre provisórias da realidade.

E o estágio? Qual é o lugar do estágio?

A prática educativa (institucional) é um traço cultural compartilhado e que tem relações com o que acontece em outros âmbitos da sociedade e de suas instituições.

Portanto, no estágio dos cursos de formação de professores, compete possibilitar que os futuros professores se apropriem da compreensão dessa complexidade das práticas institucionais e das ações aí praticadas por seus profissionais, como possibilidade de se prepararem para sua inserção profissional

A formação de professores

Num curso de formação de professores, todas as disciplinas, as de fundamentos e as didáticas, devem contribuir para a sua finalidade que é a de formar professores, a partir da análise, da crítica e da proposição de novas maneiras de fazer educação. Nesse sentido, todas as disciplinas necessitam oferecer conhecimentos e métodos para esse processo.

Estágio de aproximação entre teoria e prática

Pimenta e Gonçalves (1990) consideram que a finalidade do estágio é a de propiciar ao aluno uma aproximação à realidade na qual atuará.

Assim, o estágio se afasta da compreensão até então corrente, de que seria a parte prática do curso. Defendem uma nova postura, uma redefinição do estágio que deve caminhar para a reflexão, a partir da realidade.

Não considera metodologias prontas ou certezas absolutas. Teoria e(m)prática, constante reelaboração.

Pesquisa no estágio e estágio de pesquisa

A pesquisa no estágio, como método de formação dos estagiários futuros professores, se traduz pela mobilização de pesquisas que permitam a ampliação e análise dos contextos onde os estágios se realizam. Mas também e, em especial, na possibilidade de os estagiários desenvolverem postura e habilidades de pesquisador a partir das situações de estágio, elaborando projetos que lhes permitam ao mesmo tempo compreender e problematizar as situações que observam.

Esse estágio pressupõe outra postura diante do conhecimento, que passe a considerá-lo não mais como verdade capaz de explicar toda e qualquer situação observada

Estágio de observação e pesquisa Tendência que remonta aos anos 1990. Mobilização de pesquisas que permitam

análise dos contextos e possível atuação.

Projetos que permitam compreender e problematizar as situações que observam.

Formulação do estágio como atividade teórica instrumentalizadora da práxis.

Prevê a formação do profissional reflexivo.

Profissional reflexivo e professor-pesquisador

Base na epistemologia da prática: ação docente do professor pesquisador da própria prática.

Não separação entre teoria e prática: Portanto, o papel da teoria é oferecer aos

professores perspectivas de análise para compreenderem os contextos históricos, sociais, culturais, organizacionais e de si mesmos como profissionais, nos quais se dá sua atividade docente, para neles intervir, transformando-os. Daí, é fundamental o permanente exercício da crítica das condições materiais nas quais o ensino ocorre.

Epistemologia da prática

Os saberes teóricos propositivos se articulam, pois, aos saberes da ação dos professores e da prática institucional, resignificando- os e sendo por eles re-significados.

Segredo: reconhecer as limitações e tentar superá-las pela pesquisa e reflexão na docência em formação.

Epistemologia da prática

“Procedendo a uma análise de pesquisas realizadas no campo da didática e prática de ensino (Pimenta, 2002), conclui-se que as pesquisas estão privilegiando a análise de situações da prática e dos contextos escolares e revelando a importância que a perspectiva da epistemologia da prática vem assumindo.”

“As pesquisas sobre avaliação e fracasso escolar, por exemplo, revelam avanço significativo na abordagem do tema ao trazerem dados das situações concretas e propositivas, superando os discursos e adentrando a complexidade prática.”

O Desenvolvimento e amadurecimento da prática se dá pela pesquisa.

Professor- orientador e pesquisador

O estágio abre possibilidade para os professores orientadores proporem tanto a mobilização de pesquisas para ampliar a compreensão das situações vivenciadas e observadas nas escolas, nos sistemas de ensino e nas demais situações, como pode provocar, a partir dessa vivência, a elaboração de projetos de pesquisa a ser desenvolvidos concomitante ou após o período de estágio.

Professor pesquisador em formação

Quanto à concepção do professor como pesquisador, desenvolvida por Stenhouse, aponta que este não inclui a crítica ao contexto social em que se dá a ação educativa. Assim, reduz a investigação sobre a prática aos problemas pedagógicos que geram ações particulares em aula, perspectiva essa restrita, pois desconsidera a influência da realidade social sobre ações e pensamentos e sobre o conhecimento como produto de contextos sociais e históricos.

Professor pesquisador em formação

Giroux (1990) de que a mera reflexão sobre o trabalho docente de sala de aula é insuficiente para uma compreensão teórica dos elementos que condicionam a prática profissional. Por isso, o processo de emancipação a que se refere Stenhouse é mais o de liberação de amarras psicológicas individuais do que o de uma emancipação social.

superação de limites a partir de teoria(s) que permita(m) aos professores entenderem as restrições impostas pela prática institucional e pelo histórico social ao ensino, de modo a identificar o potencial transformador das práticas.

Professor pesquisador em formação

teoria(s) que permita(m) aos professores entenderem as restrições impostas pela prática institucional e pelo histórico social ao ensino, de modo a identificar o potencial transformador das práticas.

Libâneo: apropriação e produção de teorias.

Carr: Caráter transitório das práticas dos professores.

Charlot: Atenção aos professores e pares.

Conceito de professor reflexivo A análise crítica contextualizada do

conceito de professor reflexivo permite superar suas limitações, afirmando-o como um conceito político-epistemológico que requer o suporte de políticas públicas consequentes para sua efetivação.

Estágio como pesquisa

A complexidade da educação como prática social permite tratar o professor como imerso num sistema educacional, em uma dada sociedade e em um tempo histórico determinado. Uma organização curricular propiciadora dessa compreensão parte da análise do real com o recurso das teorias e da cultura pedagógica, para propor e gestar novas práticas, num exercício coletivo de criatividade.

Os lugares da prática educativa, as escolas e outras instâncias existentes num tempo e num espaço, são o campo de atuação dos professores (os já formados e os em formação). O conhecimento e a interpretação desse real existente serão o ponto de partida dos cursos de licenciatura.

Estágio como pesquisa

Esse conhecimento envolve o estudo, a análise, a problematização, a reflexão e a proposição de soluções às situações de ensinar e aprender. Envolve também experimentar situações de ensinar, aprender a elaborar, executar e avaliar projetos de ensino não apenas nas salas de aula, mas também nos diferentes espaços da escola.

Postura teórico- metodológica que visa desenvolver nos alunos, futuros professores, habilidades para o conhecimento e a análise das escolas, espaço institucional onde ocorre o ensino e a aprendizagem, bem como das comunidades onde se insere. Envolve, também, o conhecimento, a utilização e a avaliação de técnicas, métodos e estratégias de ensinar em situações diversas. Envolve a habilidade de leitura e reconhecimento das teorias presentes nas práticas pedagógicas das instituições

Estágio como pesquisa

Possibilita a relação entre os saberes teóricos e os saberes das práticas ocorra durante todo o percurso da formação, garantindo, inclusive, que os alunos aprimorem sua escolha de serem professores a partir do contato com as realidades de sua profissão.

Desafios: intercâmbio com trabalho coletivo. Conexões entre teoria e práticas exigem amadurecimento.

Referências

PIMENTA, Selma Garrido; LIMA, Maria. Estágio e docência: diferentes concepções. In: Revista Poíesis -Volume 3, Números 3 e 4, pp.5-24, 2005/2006. Disponível em: http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&ved=0CCwQFjAA&url=http%3A%2F%2Fwww.revistas.ufg.br%2Findex.php%2Fpoiesis%2Farticle%2Fdownload%2F10542%2F7012&ei=rd9CUqvHIfDs2AXT24CACg&usg=AFQjCNEE_dQkI-UUpRbEZs1kDbiQxhsnAQ&bvm=bv.53077864,d.dmg. Acesso em 10-9-2013.