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ENSINO DE GEOGRAFIA: TRABALHO DE CAMPO E ANÁLISE DA PAISAGEM URBANA1
Léia Aparecida Veiga lveiga.geo@gmail.com
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia Universidade Estadual de Maringá - UEM
Andresa Lourenço da Silva
andresageo@hotmail.com Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia
Universidade Estadual de Maringá – UEM
Alan Alves Alievi akalan@gmail.com
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Geografia Universidade Estadual de Londrina - UEL
RESUMO: O presente artigo tem como objetivo discutir a importância do trabalho de campo para o ensino de Geografia e apresentar uma proposta de trabalho de campo para os alunos do Ensino Médio da Rede de Ensino Público. A proposta é trabalhar as temáticas Desigualdades e Segregação Socioespacial na cidade de Londrina – Paraná, tendo como procedimento pedagógico o trabalho de campo. O estudo “in loco” da paisagem facilita a compreensão dos alunos acerca do espaço geográfico, pois os conteúdos abordados nas aulas de Geografia encontram-se “impressos” nas paisagens, sejam rurais sejam urbanas, que compõem e, ao mesmo tempo, são materializações daquele. Assim, opondo-se aos procedimentos didáticos/pedagógicos que priorizam os conceitos acabados, abstratos e longe da vivência do aluno, a prática do trabalho de campo pouco a pouco faz com que o aluno perceba que a paisagem e sua observação são um meio de compreensão do espaço geográfico, além de lhe imprimir a noção de que é um construtor do conhecimento, e mesmo um sujeito ativo na construção da sociedade. PALAVRAS-CHAVE:Trabalho de Campo; Ensino de Geografia; aprendizagem significativa.
INTRODUÇÃO O espaço geográfico, tal qual ele se apresenta, como na paisagem, por exemplo, sucinta
uma série de questionamentos àquele que procura compreender a razão de sua
configuração, das relações entre seus elementos e a maneira pela qual os mesmos se
distribuem no espaço, fazendo-o ser um produto da sociedade, tendo ainda (o espaço) a
peculiar característica de também ser o meio pelo qual aquela mesma sociedade se
reproduz enquanto tal.
Fruto de uma sociedade que o anima, o espaço geográfico é mais do que uma soma das
partes que o compõem, vai além da paisagem que se desenha para lhe dar forma material,
no entanto esta, a paisagem, é um momento cristalizado de parte do espaço geográfico que
primeiro nos vem aos sentidos e toma a apreensão de nossa mente que procura entender
tal conformação, ou seja, a paisagem é o aspecto visível e material do espaço geográfico,
sendo importante para o entendimento do espaço geográfico. É assim, um resultado real da
1 Eixo Temático: Ensino de Geografia.
dinâmica do espaço geográfico, acabado em função de sua aparente imutabilidade, e é
também um início, um ponto de partida para o pesquisador compreender àquele, o espaço
geográfico.
Mas esse olhar diferenciado, essa capacidade de ler a paisagem e principalmente, de
ultrapassar o campo de visão e entender os processos implícitos naquela paisagem não são
desenvolvidos naturalmente, é aí que entra o papel do professor, que deve chamar a
atenção dos alunos para a paisagem e para o que está por trás dela. A nosso ver, o trabalho
de campo é um dos recursos que podem e devem ser utilizados no processo de leitura da
paisagem, por ser o mesmo uma oportunidade de exercitar a atitude científica de investigar,
entrevistar, examinar, observar, comprovar, estabelecer o elo entre o conhecimento teórico
e empírico. Não é simplesmente contemplar o meio, é trazer a realidade para dentro da sala
de aula. O aluno retorna enriquecido quando sai a campo para o estudo do meio, e tenderá
a adotar a mesma atitude investigativa em outras oportunidades de observação. Esse
recurso pedagógico se opõe aos conceitos acabados, abstratos e longe da vivência do
aluno, pouco a pouco ele percebe que é um construtor do conhecimento e sujeito ativo na
construção da sociedade.
Diante do exposto, esse estudo objetiva discutir a importância do trabalho de campo para o
ensino de Geografia e apresentar uma proposta de trabalho de campo para os alunos do
Ensino Médio da Rede de Estadual de Ensino. Inicialmente discutiremos sobre a
importância do trabalho de campo, seguido de uma reflexão sobre o ato de planejar uma
aula de campo e por último apresentaremos uma proposta de trabalho de campo com a
temática segregação residencial na cidade de Londrina-PR.
A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO DE CAMPO Em muitas salas de aulas, devido uma série que motivos que não serão contemplados
nesse trabalho, a construção do saber geográfico, infelizmente, continua centrada nas aulas
expositivas e na leitura de textos didáticos, priorizando assim os conceitos acabados,
abstratos e longe da vivência do aluno. Consideramos que a importância que os alunos
atribuem a Geografia escolar no seu cotidiano pode em grande parte estar relacionada a
maior ou menor possibilidade de correlação da teoria e prática durante as aulas. Portanto,
neste artigo nos propomos a discutir a atividade empírica, enquanto recurso pedagógico,
que contribui na construção do saber geográfico (BRAUN, 2005).
No entendimento de Freire (1996), o trabalho de campo, não pode ser compreendido
apenas como coleta de dados e informações. Necessita ser entendido como um processo
de articulação do sujeito com a realidade, possibilitando a inserção do sujeito na sociedade,
reconstruindo o mesmo e a sua prática social. O ato e pesquisar, de ir a campo pressupõe a
interação e a vivência com a realidade pesquisada.
Dessa maneira, a preocupação de Cavalcanti (2002) é de que o educador proponha
objetivos que possibilitem a formação de atitude questionadora, a capacidade de identificar
e de resolver problemas, de construir conceitos e de processar informações.
Segundo Vesentini (2004), o trabalho de campo é importante para evidenciar as relações da
teoria com o real, também serve como contraponto à tentativa atual dos alunos se voltarem
mais para o computador, vídeo e os jogos que idealizam ou recriam a realidade. A
necessidade de aproximar o ensino da realidade é tão premente na atualidade que o autor
cita o caso do Japão, onde as escolas são obrigadas por lei, a realizar no mínimo um
trabalho de campo a fábricas ou a museus, etc. por semana.
Corrêa (1996) em seu artigo sobre trabalho de campo e globalização sinaliza como aspectos
fundamentais na formação do geógrafo as atividades de campo, onde enfatiza a análise da
sociedade local e global a partir das paisagens naturais e culturais.
Nas palavras de Cholley (1942) fica evidente que nada vale mais para a formação do
geógrafo que o contato com a realidade através, em parte dos trabalhos de campo, tanto
com finalidade pedagógica como visando à pesquisa. Na realidade o trabalho de campo
constitui-se em uma tradição cuja importância é reconhecida por todos e muito
especialmente, por aqueles que têm na paisagem natural ou cultural a objetivação da
geografia.
Para Corrêa (1996), os trabalhos de campo na formação do geógrafo, são importantes pelo
fato dos mesmos permitirem o treinamento dos olhos para ver e da mente para
generalização. O geógrafo deve aprender
[...] a reconhecer formas que expressam funções e processos, ver problemas implícitos na localização e extensão em área, pensar a respeito de ocorrências simultâneas ou não [...] ter a preocupação sobre a origem das formas, reconhecer tipos e variações, posição e extensão, presença ou ausência, função e derivação (SAUER APUD CORRÊA, 1996).
No Brasil a tradição dos trabalhos de campo remonta aqueles que desempenharam papel
crucial na formação da primeira geração de geógrafos brasileiros. Pierre Monbeing, Francis
Ruellan e Leo Waibel introduziram a tradição de longos e minuciosos trabalhos de campo
que serviram de base para estudos clássicos da literatura geográfica brasileira (CORRÊA,
1996).
Os trabalhos de campo no Brasil também chamados por Corrêa (1996) de expedições
geográficas tiveram suas limitações e críticas, principalmente no que concerne a não
conexão entre escala local, base espacial de grande parte dos trabalhos de campo e a
escala global que pode induzir aos graves erros de interpretação da realidade. Para Corrêa
(1996), a incapacidade de distinguir a essência da aparência constitui-se em equívoco que o
trabalho de campo pode permitir. Entretanto, ele é essencial para o profissional da
geografia, ainda que não seja suficiente para se desenvolver uma clara e lúcida visão crítica
da realidade.
A par do que foi colocado até o momento, se faz necessário esclarecer que as expressões
Trabalho de campo, Excursão pedagógica, Estudo do meio ou Expedições geográficas têm
sido utilizadas por diversos estudiosos que têm em comum, a análise de práticas de campo
enquanto um procedimento que não apenas relaciona teoria e prática, mas possibilita e
oportuniza a construção do conhecimento a partir do significado da realidade, do
engajamento no concreto e da compreensão da totalidade. Entretanto, guardadas as
especificidades de cada expressão, nesse estudo optamos por utilizar o termo trabalho de
campo, por estarmos mais familiarizados com o mesmo, e por concordarmos com o
afirmado por Ogallar2 (1996), que entende o trabalho de campo enquanto um estudo em
profundidade de algum aspecto já abordado em sala de aula.
No trabalho de campo o geógrafo deve estar atento a paisagem geográfica, que é a
expressão fenomênica de processos sociais que transformam a paisagem natural em um
conjunto de formas espaciais articuladas entre si. A paisagem deve ser analisada
considerando-se que, no limiar do século XXI, já se acumulara, inúmeras formas espaciais
que convivem lado a lado no mesmo lugar, assim como outras formas tiveram suas funções
alteradas. Em outras palavras, a paisagem do mundo globalizado é constituída por formas
criadas em momento, processos e agentes sociais distintos (CORRÊA, 1996).
A paisagem geográfica é também, e cada vez mais, polissêmica, isto é, susceptível de ser
lida de modo diferenciado pelos diversos grupos sociais e indivíduos que a vivenciam
diferentemente. Ela é, assim, rica de significados, cada um deles referenciando-se ás
possibilidades efetivas que indivíduos e grupos têm em decifrá-la (CORRÊA, 1996).
Nesse sentido, o trabalho de campo não deve se tornar uma armadilha para o geógrafo a
partir de paisagens e relações espaciais cada vez mais complexas e escamoteadoras.
Deve ser agora de forma mais crítica e teoricamente mais fundamentada, como foi no
2 Segundo Ogallar (1996) além do trabalho de campo, existe o itinerário didático, que diferentemente do trabalho
de campo, implica em visões panorâmicas de áreas pouco conhecidas e supõe a explicação da paisagem em campo.
passado, um dos principais meios através do qual o geógrafo aprende a ver, analisar e
refletir sobre o infindável movimento de transformação do homem em sua dimensão
espacial (CORRÊA, 1996). O mesmo cuidado se deve ter ao utilizá-lo como um recurso
pedagógico, o professor não pode cair noutra armadilha, a de tornar essa rica atividade um
simples passeio para descontrair a rotina de sala de aula, com a falsa impressão de se
estar fazendo uma aula diferente do habitual.
Para não incorrer nesse erro, a nosso ver, por mais simples que sejam os objetivos de um
trabalho de campo, o ato de planejar é de suma importância. De acordo com França
(2008), ao planejar uma saída a campo o professor deve levar em consideração alguns
princípios fundamentais, como: a adequação às características dos alunos e aos
conhecimentos que já possuem sobre o assunto; a utilização de metodologias que
possibilitem a aquisição de novos conteúdos; a formulação de objetivos; a programação
das atividades; o planejamento dos aspectos técnicos como transporte, autorização dos
pais, parada para o lanche, informação sobre roupas adequadas e materiais necessários,
entre outros.
Esse ato de planejar/preparar o trabalho de campo, também deve englobar além da
realização, a exploração em sala de aula e a avaliação. Cada uma destas fases deve ser
adequada aos objetivos que se pretendem atingir e estes, por sua vez, adequados ao nível
de escolaridade dos alunos.
PREPARANDO O TRABALHO DE CAMPO De acordo com França (2008), o ato de organizar a saída de campo requer do professor
além da preparação e realização do mesmo, o planejamento de como conduzir as aulas
após a atividade de campo e o encaminhamento do processo avaliativo.
Segundo a autora supracitada, na fase de preparação o professor deve fazer um
levantamento “in loco” com o objetivo de obter informações sobre o local e, na seqüência
selecionar os conteúdos a serem explorados de acordo com a série que realizará o trabalho
de campo. Esse reconhecimento do local, além do que foi dito, permite também que o
professor faça a identificação da área no sentido de tomar providencias durante a aula de
campo a fim de prevenir acidentes com os alunos (FRANÇA, 2008, p. 151).
Outros pontos importantes nessa fase de preparação dizem respeito ao desenho do trajeto,
formulação dos objetivos específicos e a confecção de um material específico para os
alunos, discriminando as atividades que os mesmos deverão realizar durante a aula de
campo. Por fim, nesse momento de preparação se faz necessário a sensibilização dos
alunos para o tema que se pretende tratar, aguçando o olhar dos alunos (FRANÇA, 2008,
p.151). A nosso ver, nesse momento de preparação dependendo da turma também é
necessário discutir com os alunos sobre a importância da aula de campo para o processo de
ensino-aprendizagem em Geografia, procurando desconstruir a idéia de passeio, ainda
presente em várias escolas/séries do ensino básico.
Realizada a aula de campo, é necessário que o aluno a partir da mediação do professor,
reelabore seus conceitos espontâneos e aprenda os conceitos científicos referentes a
disciplina de Geografia. Nesse momento denominado “exploração em sala de aula” por
França (2008), “[...] é importante que o professor auxilie o aluno a organizar os dados que
obteve para que este consiga analisar e reformular seus conceitos prévios”. Podendo,
segundo a autora, essa sistematização dos resultados do trabalho ser realizada de
diferentes maneiras, de acordo com a série, objetivo e conteúdo abordado na discussão
teórica e na aula de campo. Além do relatório de campo, França (2008, p.153) sugere as
seguintes atividades:
construção de representações tridimensionais (maquetes), enfatizando aspectos do trabalho; elaboração de mapas de locais visitados ou de itinerários; construção de gráficos ou de tabelas com as informações obtidas, visando à análise dos dados; realização de filmagens que podem ser editadas pelos alunos com textos e trilha sonora; exposição de fotografias legendadas, cartazes ou álbuns; apresentação do assunto através das artes plásticas ou cênicas; elaboração de textos narrativos, descritivos, poéticos, de opinião, assim como textos para jornal impresso, televisivo, radiofônico propaganda, panfletos informativos, “folders” turísticos, entre outros;
Por fim, a autora chama a atenção para a avaliação, que deve ser “[...] entendida como mais
um aspecto dentro do processo ensino-aprendizagem, não podendo ser realizada
isoladamente do planejamento e metodologia empregada pelo professor (FRANÇA, 2008, p.
153). O processo avaliativo deve ser realizado em consonância com a prática de ensino
selecionada pelo professor. Nesse sentido, como nas demais atividades, no trabalho de
campo a avaliação pode tomar como referência os objetivos traçados pelo professor durante
a preparação da aula de campo, sendo capaz de verificar qual o nível de apreensão dos
conteúdos pelos alunos. Mas isso só é possível se o professor estabeleceu claramente os
objetivos, de forma que os mesmos abordem aspectos realmente relevantes do conteúdo a
ser trabalhado, caso contrário o resultado da avaliação estará comprometido. Para França
(2008, p. 154) a avaliação é importante para saber o que os alunos aprenderam e
principalmente, serve de direcionamento para o trabalho do professor “[...] na medida em
que permite a reformulação de suas estratégias diante de possíveis constatações
negativas”.
Ainda segundo a autora, em se tratando de avaliação, se faz necessário ressaltar que além
dos objetivos e das estratégias utilizadas, ao avaliar seus alunos é importante que o
professor considere a própria subjetividade do processo avaliativo. Nas palavras de
Hoffmann (2003), “[...] é preciso que se tenha consciência da subjetividade e complexidade
inerente à avaliação do desempenho escolar”. Nesse sentido, em se tratando de trabalho de
campo, França (2008, p. 154) coloca que:
Num trabalho de campo, o aluno observa, analisa, conclui, utilizando conhecimentos prévios associados a informações obtidas através do professor e de suas pesquisas. Portanto, numa situação de avaliação, as respostas aos mesmos questionamentos podem variar de aluno para aluno. Muitas vezes, o professor necessita dialogar com seus alunos para melhor avaliar o que aprenderam. Ao discutir com os alunos as respostas obtidas, o professor proporciona a eles o aprendizado do que antes não aprenderam. As discussões, após uma situação de avaliação, são momentos preciosos para que o aluno aprenda o que não sabe e para reforçar o aprendizado adquirido.
Além desse diálogo com os alunos, o professor pode utilizar algumas das atividades sugeridas
anteriormente como ponto de partida para a avaliação do trabalho de campo, podendo até atribuir
nota ou conceito, tomando cuidado para destinar um peso maior da nota ou conceito para as
atividades de análise de dados e conclusão do trabalho, podendo ser essa sistematização e
análise realizadas em grupos e a conclusão individualmente, por meio da produção de texto
a partir de questionamentos diretos ou de situações-problemas a serem resolvidos pelos
alunos (FRANÇA, 2008).
PROPOSTA DE TRABALHO DE CAMPO: SEGREGAÇÃO RESIDENCIAL NA CIDADE DE LONDRINA – PR Dentre os conteúdos mínimos presentes nas Diretrizes Curriculares da Educação Básica do
Paraná, no tocante ao Ensino Médio, em específico nesse trabalho queremos chamar a
atenção para o seguinte conteúdo básico: A formação, o crescimento das cidades, a
dinâmica dos espaços urbanos e a urbanização recente, que de acordo com a abordagem
do espaço urbano em sala de aula pode ser desdobrado em vários conteúdos específicos,
que devem ser abordados a partir das dimensões geográficas próprias dos quatro
conteúdos estruturantes3. Em relação a ênfase:
[...] que o professor deseja dar a determinado conteúdo específico, é possível priorizar ora a abordagem de um conteúdo estruturante, ora de outro. Entretanto, a articulação entre todos eles deve ser explicitada pelo
3Segundo as Diretrizes Curriculares do Paraná de 2008, entende-se por conteúdos estruturantes, os
conhecimentos de grande amplitude que identificam e organizam os campos de estudos de uma disciplina escolar, considerados fundamentais para a compreensão de seu objeto de estudo e ensino. São, neste caso, dimensões geográficas da realidade a partir das quais os conteúdos específicos devem ser abordados. Os conteúdos estruturantes da Geografia são: Dimensão econômica do espaço geográfico; Dimensão política do espaço geográfico; Dimensão socioambiental do espaço geográfico e Dimensão cultural e demográfica do espaço geográfico (PARANÁ, 2008, p. 69).
professor para que o aluno compreenda que na realidade sócio-espacial eles não se separam (PARANÁ, 2008, p. 69).
No caso dessa proposta de trabalho de campo, consideramos que o referido conteúdo
básico desdobrado em conteúdos específicos, pode ser abordado nas quatro dimensões,
tendo a nosso ver maior ênfase a dimensão econômica (considerando as desigualdades
socioeconômicas materializadas no espaço urbano; o processo de urbanização em relação
ao uso do solo urbano e à especulação imobiliária) e a dimensão política (trabalhando o
espaço urbano pela ação dos movimentos sociais no espaço urbano e o direito ao
transporte, moradia, saneamento e saúde). Em verdade, a idéia central desse trabalho de
campo é o uso e ocupação do solo urbano e a segregação sócio-espacial, por isso a
dimensão econômica e política a nosso ver receberia maior ênfase.
Isso porque analisar o espaço urbano é discutir a sociedade como um todo, em um
processo que envolve diversos grupos sociais e seus profundos conflitos. A cidade é uma
forma de apropriação do espaço produzido do sistema capitalista de produção como
instrumento de criação da mais-valia, é condição e meio para que se instituam relações
sociais diversas. Nessa condição, apresenta um modo determinado de apropriação que se
expressa através do uso e ocupação do solo (SILVA, 1997).
A esse respeito Corrêa (1989) coloca que em uma sociedade de classes verificam-se
diferenças sociais no que se refere ao acesso a bens e serviços produzidos socialmente.
Essas diferenças são marcantes em países periféricos, e a habitação é um desses bens
cujo acesso é seletivo. Uma boa parcela da população não tem acesso, não possui recursos
financeiros para pagar aluguel ou comprar um imóvel. Para Corrêa (1989) este é um dos
mais significativos sintomas de exclusão social, aliado a desnutrição, ao desemprego, e ao
analfabetismo. A segregação residencial é uma expressão espacial das classes sociais.
Dentre os vários usos do espaço urbano destacamos o local de produção e o de moradia,
cujo acesso é mediado pela aquisição de parcelas a determinados preços.
Cabe ainda destacar que nesse processo de segregação residencial, podemos identificar na
cidade territórios diferenciados. Seria pensar a cidade a partir de um quebra cabeça, feito de
peças diferentes, onde cada qual conhece o seu lugar e se sente estrangeiro nos demais.
“[...] é como se a cidade fosse demarcada por cercas, fronteiras imaginárias e invisíveis, que
definem o lugar de cada coisa e de cada um dos moradores” (ROLNIK, 1995, apud SILVA,
2007, p22).
Justificada a idéia central da nossa proposta de trabalho de campo, faz-se necessário
explicitar os motivos que nos levaram a escolher determinadas áreas residenciais do espaço
urbano de Londrina-PR como o roteiro da aula de campo. Dentre as várias existentes na
cidade, optamos por duas de baixo poder aquisitivo (mapa 01) no caso o Jardim San Rafael
e o Jardim São Jorge e por duas de alto poder aquisitivo (mapa 02), sendo elas os
condomínios fechados horizontais Royal Golf e Alphaville. Escolhemos essas porções pelo
conhecimento empírico (residimos em Londrina-PR) e fundamentação teórica de cunho
geográfico sobre as mesmas. Em se tratando dos textos teóricos para embasamento
principalmente do professor, no caso da temática dessa proposta de trabalho de campo ter
como idéia central a segregação residencial, destacamos os trabalhos realizados por Postali
(2008) cujo título é “Autoconstrução e circuito inferior da economia: uma análise da
produção habitacional em Londrina/PR – estudo de caso dos jardins São Jorge e San
Rafael”; SILVA (2007) intitulado “Loteamentos Residenciais Exclusivos de Londrina: Outras
Fronteiras Imaginárias e Invisíveis” e Zanatta (2010) “Segregação residencial em Londrina:
os condomínios fechados horizontais e as áreas subnormais”.
Durante o trajeto e as paradas em cada área residencial, os alunos deverão proceder com
os registros (fotográficos/filmagem/croquis), observação da paisagem e anotarem os
apontamentos do professor e os elementos que julgarem relevantes. No momento da
observação da paisagem nessas diferentes áreas, por se tratar de segregação residencial
no espaço urbano, o professor deve chamar a atenção dos para a segregação manifestada
na paisagem urbana através da tipologia das casas (ver foto 01 e 02).
Posteriormente em sala de aula, num primeiro momento o professor poderá discutir com os
alunos sobre os pontos relevantes da observação feita em campo. Lembramos que nesse
momento de discussão em sala sobre os aspectos observados no campo, é muito
importante ouvir os alunos, suas idéias sobre a temática para posteriormente fazer
amarração com o conteúdo geográfico. Na seqüência das aulas o professor poderá lançar
mão de dados referentes ao número de pessoas por família, assim como a faixa etária,
escolaridade, profissão/ocupação, renda mensal dos membros da família, informações
essas disponíveis nos trabalhos4 acima citados ou em outros documentos produzidos por
4 Além desses dados, nesses trabalhos também foram analisados os seguintes questionamentos: principais
motivos para a busca de um condomínio fechado ou de uma área irregular; principais aspectos de satisfação ou de insatisfação; zonas de Londrina nas quais os residentes dos condomínios não gostariam de morar; local de procedência das famílias tanto dos condomínios como dos Jardins San Rafael e São Jorge; valor do investimento na casa e dimensão da mesma (Silva, 2007 e Postali, 2008).
Mapa 01: Localização do Jardim San Rafael e São Jorge na cidade de Londrina-PR. Fonte: Adaptado de Postali (2008), Zanatta (2010) e Barros (et al., 2008).
Org.: Alan Alves Alievi, 2010.
Foto 01: Casa de madeira localizada no Jardim São Jorge /Postali (2008).
Mapa 02: Localização dos Condomínios Fechados Horizontais Royal Golf Residente e Resort e Alphaville na cidade de Londrina-PR.
Fonte: Adaptado de Silva (2007), Zanatta (2010) e Barros (et al., 2008). Org.: Alan Alves Alievi, 2010.
Foto 02: Entrada do Condomínio Alphaville em Londrina-PR / Silva (2007)
órgãos municipais/IBGE etc. para enriquecer a temática, tendo em vista que nessa aula de
campo os alunos não procederão com entrevistas ou questionários.
Em se tratando da sistematização das atividades após a aula de campo, por estarmos
trabalhando com terceiro ano do Ensino Médio da rede estadual de ensino e dispormos da
TV Pen Drive em sala de aula, os alunos em grupos, a partir das filmagens feitas em campo
farão a edição incluindo textos, fotos e trilha sonora sob orientação do professor para
apresentarem à turma. Os alunos também produzirão um artigo de opinião individual sobre a
temática “Segregação sócio-espacial manifestada na paisagem urbana da cidade de
Londrina”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS Consideramos que o trabalho de campo, enquanto procedimento pedagógico é uma
possibilidade de compreensão da complexidade do mundo globalizado por parte dos alunos.
E que este pode ser mais envolvente e próximo da realidade dos alunos, fazendo-os
entender que a geografia não é algo distante em escala de país ou mundo, mas que o
conteúdo de Geografia também faz parte, em maior ou menor grau, do seu cotidiano,
podendo ser estudado e compreendido por ele. “[...] A Geograficidade do aluno, tomada
como contexto [...] pode fazer com que os conceitos [...]” (GOMES et al., 2008, p. 137) e
conteúdos historicamente acumulados trabalhados durante as aulas de Geografia tornem a
aprendizagem de fato significativa para o aluno.
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