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Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extenso- CONPEEX (2010) 4233 - 4247
RELATRIO FINAL PIVIC 2009/2010
A HISTRIA URBANA DE JATA DE 1836 A 1936 Orientador: Prof. Dr. Marcos Antonio de Menezes-pitymenezes@terra.com.br
Aluno: Adriano Freitas Silva afs.histor@yahoo.com.br
Universidade Federal de Gois - CEP: 75.804-020 - Brasil
Palavras-chave: Espao urbano, regio, Jata/GO.
INTRODUO
Todos ns, que vivemos em cidades, temos nelas pontos de ancoragem da memria: lugares em que nos reconhecemos, em que vivemos experincias do cotidiano ou situaes excepcionais, territrios muitas vezes percorridos e familiares ou, pelo contrrio, espaos existentes em um outro tempo e que s tm sentido em nosso esprito porque narrados pelos mais antigos, que os percorreram no passado. (PESAVENTO, 2008, p. 10)
O processo de urbanizao brasileira teve incio no fim do sculo XVII e
incio do XVIII, quando a minerao do ouro e da prata se expandiu e quando
as ordenanas portuguesas sobre a proibio de fundar cidades no interior do
territrio se afrouxaram. Em Gois, os primeiros arraiais surgiram com a
explorao mineral, principalmente do ouro, no sculo XVIII, quando o estado
ainda fazia parte da Capitania de So Paulo.
Quando a minerao dava seus ltimos suspiros, no restava outra
opo aos mineiros seno a ocupao de reas prximas aos centros
mineradores. Eles se apossaram das terras, requereram as sesmarias e
procuraram legaliz-las, com o intuito de desenvolver uma agricultura bsica
que alimentasse a si e aos seus (CHAUL, 2002). Assim, de acordo com
Barbosa, Teixeira Neto e Gomes (2004), a agropecuria, que j era uma
atividade econmica paralela e associada minerao, ganhou maior
importncia e expresso, impulsionando a formao de cidades.
Alfredo dEscragnolle Taunay, viajante que percorreu as terras goianas
durante o sculo XIX, acrescenta:
Os filhos daqueles inquietos exploradores compreenderam que era impossvel continuar a ingrata minerao que exaure o solo e s enriquece o forasteiro, e ento puseram-se no mais a cavar terra, mas cultiv-la, e de pronto colheitas feracssimas,
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uma aps outras, cada qual mais copiosa, recompensaram o abenoado trabalho. (TAUNAY, 2004, p. 35)
Com base nessas informaes, este trabalho busca reconstituir uma
dada memria acerca da cidade de Jata a partir da histria urbana do
municpio, ou seja, da construo do seu primeiro ncleo urbano e sua
trajetria at 1936. O que se quer saber quais foram as transformaes
ocorridas nesse perodo e o que as teria gerado.
A chegada s margens do Rio Claro: o incio do processo de povoamento da
cidade de Jata
Com a decadncia do ouro, muitas famlias que exerciam a atividade
mineradora foram ao declnio econmico. Os mineiros que permaneceram em
Gois iniciaram novas atividades: a pecuria extensiva e a agricultura de
subsistncia, que impulsionaram a expanso e ocupao do territrio goiano,
uma vez que geraram aumento populacional, atraindo correntes migratrias
vindas de outros estados.
Os imigrantes vindos da zona leste do Brasil, atravs do Rio So
Francisco, tomaram conta de Minas Gerais e chegaram at Gois e Mato
Grosso. A imigrao para o sudoeste goiano data dos anos 30 do sculo XIX,
aps o esgotamento das terras no Tringulo Mineiro. A penetrao na regio
foi rpida, devido principalmente aos incentivos do Governo Imperial. Em 30
anos a regio foi ocupada.
Outro fator que ajudou na imigrao para o sudoeste goiano foi a
abundncia de terras boas para pastagens e a facilidade de acesso
propriedade. Seguindo o caminho das guas e desbravando o territrio
goiano, tais ocupaes se constituam em verdadeiras propriedades
latifundirias que deram origem a cidades como Rio Verde, Jata, Caiapnia,
Quirinpolis, Mineiros, dentre outras (TEIXEIRA NETO, 2002, p. 30).
No perodo de ocupao do sudoeste goiano, mais especificamente de
Jata, algumas reas em torno do Rio Paranaba estavam sendo usadas para a
criao de gado. No caso de Jata, os pioneiros Francisco Joaquim Vilela e o
seu filho Jos Manuel Vilela (figura 1) saram da sua cidade (Esprito Santo
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dos Coqueiros, atual cidade de Coqueiral no Estado de Minas Gerais) e em
1836 entraram pelo leste, atravs de Rio Verde, nos sertes do sudoeste
goiano, em busca de terras produtivas e tambm para a criao de gado. Eles
se instalaram s margens dos rios Claro e Ariranha. A posse das terras,
segundo Basileu Toledo Frana (2004), dava-se pelas leis imperiais ou ento
pela fora.
Figura 1: Jos Manoel Vilela (sentado) ao lado do filho de mesmo nome.
Fonte: www.jatai.not.br
Em 1837, o jovem Jos de Carvalho Bastos, proveniente de Franca, So
Paulo, acompanhado de sua esposa Ana Cndida Gouveia de Moraes, chegou
regio, atravs de Santana do Paranaba, em busca de boas terras goianas e
se instalou s margens do Ribeiro Bom Jardim.
Basileu Toledo Frana, um dos primeiros memorialistas jataienses,
relata a chegada dos pioneiros cidade e destaca algumas caractersticas
deles:
Tudo comeou com os nossos desbravadores no sculo passado, e com as famlias que vieram depois para povoar o serto do Rio Claro. Chegaram com o objetivo de ficar e trouxeram, no mais das vezes, os rudimentos essenciais que aprenderam em seus lugares de origem. Sabiam ler, escrever e contar a fim de atender s necessidades dirias de passar recibos, assinar escrituras, remeter mensagens a parentes que ficaram distantes, ou ainda acompanhar com nmeros e pequenos clculos as transaes simples (...). Portanto, tivemos o privilgio de contar entre os nossos pioneiros com pessoas no s destemidas e laboriosas, mas tambm com algum conhecimento, embora muito primrio, das tcnicas
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sociais da escrita, da leitura e dos nmeros. (...) Deixaram atrs deles, nas Minas Gerais e em So Paulo, especialmente, famlias organizadas com esses mesmos padres culturais mnimos (...), porm fundamentais mesmo nas longnquas terras do Sudoeste de Gois, que vieram domesticar para a civilizao e daqui nunca mais sairiam. (FRANA, 1998, p. 21)
Do encontro dos dois pioneiros ficou acertado amigavelmente que as
terras banhadas por guas da margem esquerda do Ariranha pertenceriam aos
Vilela e as percorridas por afluentes do Bom Jardim seriam dos Carvalho. A
citao a seguir, retirada do livro Os Pioneiros, de Basileu Toledo Frana,
relata esse acerto feito pelos pioneiros na distribuio de terras:
A palestra de Jos Manuel e Carvalho Bastos, sobre guas vertentes do Ariranha e Bom Jardim, no mereceu a ateno de Ana Cndida, quando foi atender ao marido naquele dia. Se quisesse, no repetiria mais do que farrapos do dilogo, palavras soltas, sem sentido completo. Ali, porm estava sendo resolvido assunto de vital importncia para o futuro das duas famlias: os chefes acertaram de modo definitivo, simples e prtico, que todas as terras banhadas por guas afluentes do Ariranha pertenciam aos Vilelas e as percorridas por tributrios do Bom Jardim seriam dos Carvalhos. Na topografia levemente ondulada do sudoeste, isto representava um espigo mestre de doze lguas. Verdadeiro estado. (FRANA, 1998, p. 74)
Ao correr 1838, Jos Manuel Vilela e Jos de Carvalho Bastos foram a
Minas Gerais em busca de gado para procriao. No incio, interessava-lhes a
quantidade, sendo que teriam mais couros para os laos e arreios, sapates e
chinelos, catres e cintos, tacas e ajoujos, tiradeiras e toldas. O gado ia se
tornando o elemento consolidador da penetrao no sudoeste da provncia de
Gois, a principal fonte de riqueza do homem: absorvente e apaixonante
atividade. Iniciava-se a civilizao do couro no extremo sudoeste de Gois.
Desde o incio, os pioneiros se empenharam no desenvolvimento da
regio, fazendo a doao de terras para que fosse erguida a primeira igreja da
cidade, em torno da qual foram construdas casas que passaram a formar o
centro das comemoraes religiosas do povoado que se instalou. Exemplo
disso foi a doao, feita em 13 de maio de 1848 por Francisco Joaquim Vilela e
sua esposa Genoveva Maximina Vilela, de uma parte de suas terras para a
implantao do ncleo inicial do povoado e para a construo, margem do
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crrego Jata, da capela em louvor ao Divino Esprito Santo (padroeiro da
cidade).
A citao abaixo um trecho da escritura assinada por Francisco Vilela,
descrevendo a localizao das terras:
O crrego denominado Jatahy encostado a minha fazenda do Bom Sucesso, sendo os limites desta doao: principiando na barra do dito crrego, pela parte de baixo, guas vertentes do dito crrego, at o alto, dividindo do alto por diante com Jos da Rosa e seguindo pelo espigo mestre at o fim e seguindo pelo espigo guas vertentes do Jatahy, divisando com a mesma fazenda do Bom Sucesso e seguindo por este abaixo at a sua origem, cujo acima declarado doamos. (FRANA, 1998, p. 98)
Depois de doadas as terras para a formao da Capela do Divino
Esprito Santo de Jatahy, Jos Manuel Vilela passou, por volta de 1856, a
projetar a criao de um povoado e a edificao do templo religioso. Importa
lembrar que desde 1836, quando Francisco Joaquim Vilela e seu filho Jos
Manuel Vilela iniciaram o processo de povoamento em Jata, esse territrio era
ligado Cidade de Gois (capital do estado), porm isso mudou em 06 de
novembro de 1856, quando Rio Verde se desmembrou da capital e, com ele,
os vilarejos de Torres do Rio Bonito e Jata, pertencentes ao municpio de Rio
Verde.
Em 17 de agosto de 1864 Jata foi elevado categoria de Distrito,
conforme a Resoluo n 362 do Governo da Provncia de Gois. Pelo artigo 2
desse documento, os habitantes da cidade ficaram obrigados a paramentar s
suas custas e com a necessria decncia a respectiva Matriz. O artigo 4
determinava: Logo que for canonicamente provida, o presidente expedir
ordens para eleio dos Juzes de Paz.
Essa resoluo trouxe muita euforia para a populao da ento
freguesia de Jata, pois a vinda de um vigrio para a localidade significaria no
ir mais a outras cidades em busca de padres para a realizao de casamentos
e batizados, mas tambm imps a necessidade de se construir logo a igreja e
tambm um cemitrio.
Esse sonho se concretizou em 09 de junho de 1867, quando houve o
lanamento da pedra fundamental da primeira Igreja Matriz de Jata (figura 2),
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com missa celebrada pelo padre Antnio Marques Santarm e acompanhada
por grande nmero de fiis. A pedra fundamental do cemitrio localizado
direita da sada para Rio Verde, em uma elevao aps o crrego Jata foi
lanada sete dias depois, em 16 de junho de 1867, com beno do mesmo
padre.
Figura 2: Primeiro templo religioso de Jata
Fonte: www.jatai.not.br
As festas religiosas eram ocasies que motivavam intenso movimento
no povoado. Aconteciam procisses em homenagem ao Divino Esprito Santo,
cavalhadas e corridas de raia. A pedido do vigrio da poca, Pe. Brito, os
fazendeiros levavam seus escravos para que eles pedissem esmolas.
Em 02 de agosto de 1875, o presidente da Provncia de Gois, Antro
Cicero de Assis, aprovou a Resoluo n 547, delimitando as divisas do
municpio de Jata, que ficaram assim estabelecidas:
Das cabeceiras do rio Doce, pela estrada geral que da cidade de Goiaz vai para Coxim; por ella at o rio Verdinho, e por este at sua foz no rio Paranahyba, e por este acima at a barra do rio Claro, e por esta at a barra do rio Doce, e por este at suas cabeceiras, onde comeou a divisa.
Sete anos mais tarde, em 29 de julho 1882, a Assemblia Legislativa
aprovou e o presidente da Provncia sancionou a resoluo n 668, que
elevava categoria de vila a freguesia de Jata, determinando que, logo que os
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habitantes apresentassem os edifcios para a instalao da Casa de Cmara e
Cadeia, seria providenciada a instalao da nova vila.
Em abril de 1883, um grupo de escravos iniciou o transporte de toras de
aroeira das margens do Rio Claro para o largo da futura cadeia pblica. Vrios
homens puseram-se a trabalhar, sob a direo do carpinteiro Miranda, que foi o
responsvel pelos primeiros casares slidos e durveis de Jata. Ele ergueu,
segundo a tradio oral, a casa de Jos Manuel na cidade, o sobrado de
Serafim de Barros, a sede da fazenda So Pedro, o pao municipal, a cadeia
pblica, alm das pontes do Rio Claro e do Paraso.
No ano seguinte, quando acabaram a construo do pao municipal e
dos cubculos da cadeia, o Governo da Provncia determinou a realizao de
eleies, a fim de constituir a primeira Cmara de Vereadores.
Esse fato empolgou o povoado e serviu para dar a todos a conscincia
exata da evoluo administrativa, no momento em que os habitantes iam
escolher representantes polticos para compor a primeira Cmara. Como era
natural naquela poca, no houve disputa; os vereadores foram indicados
pelos moradores de maior poder econmico, de mais prestgio social e de
reconhecida capacidade de comando.
Em 02 de maro de 1885 foram empossados como vereadores o tenente
Jos Inocncio da Costa Lima, Joo Jos Carneiro, Jos Manuel Vilela Jnior e
Joo Manuel de Carvalho. No dia da posse, eles prestaram o seguinte
juramento: Juro aos Santos Evangelhos desempenhar as obrigaes de
vereador da Cmara Municipal da Vila de Jata, de promover quanto em mim
couber, os meios de sustentar a felicidade e integridade do municpio.
(FRANA, 1998, p. 209-210).
No dia 31 de maio de 1895, a sede do municpio foi elevada categoria
de cidade pela Lei Estadual n. 56.
Referencial Terico
A disciplina Histria tem, nos ltimos setenta anos, experimentado uma
intensa renovao. Desde a dcada de trinta do sculo passado, com o
advento dos Annales, que se contrapunha histria positivista, novas
temticas vm sendo propostas aos historiadores. O alargamento do campo
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ganhou impulso notadamente com a Nouvelle Histoire, que questionara o lugar
de onde o historiador escreve, propondo um deslocamento sentido tambm na
perspectiva marxista: de Gramsci a Hobsbawn e Thompson, um estado de
profunda efervescncia intelectual ganhou corpo na arena do conhecimento
histrico.
Nos ltimos anos, porm, os estudos histricos passaram por uma
importante mudana de nfase, a partir do interesse cada vez maior pela
Histria Cultural. Segundo Moutinho (2004), as crticas disciplina (Histria) e
ao prprio conceito de mentalidades contriburam de fato para essa redefinio,
fazendo com que a Histria Cultural se apresentasse como um grande refgio
epistemolgico.
Somos, pois, historiadores formados no bojo dessa renovao
historiogrfica do sculo XX, que viu o esgotamento das explicaes oferecidas
por modelos tericos globalizantes, com tendncias totalidade, nos quais o
historiador era refm da busca da verdade. tal fato que nos fez, no mbito
desta pesquisa, optar pelos mtodos da chamada Nova Histria Cultural.
Entretanto, no nos limitamos a eles. Adotamos tambm alguns procedimentos
da Micro-histria, uma vez que esta um desdobramento terico intimamente
ligado ao surgimento da Nova Histria Cultural.
O arcabouo intelectual que deu origem Nova Histria Cultural est
fortemente vinculado ao surgimento, no final da dcada de 1920, na Frana, de
uma nova forma de se pensar as questes historiogrficas, identificada como
Histria das Mentalidades. Essa vertente de interpretao dos fatos histricos
buscava fugir da histria historicizante: uma histria que se furtava ao dilogo
com as demais cincias humanas: a antropologia, a psicologia, a lingustica, a
geografia, a economia e, sobretudo, a sociologia.
No lugar desse tipo de manejo dos fatos histricos, era preciso adotar,
segundo Vainfas (2002, p. 17),
uma histria problematizadora do social, preocupada com as massas annimas, seus modos de viver, sentir e pensar. Uma histria com estruturas em movimento, com grande nfase no mundo das condies de vida material, embora sem qualquer reconhecimento da determinncia do econmico na totalidade social, diferena da concepo marxista da histria. Uma histria no preocupada com a apologia de prncipes ou generais em feitos singulares, seno com a sociedade global,
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e com a reconstruo dos fatos em srie passveis de compreenso e explicao.
O referencial terico a possibilitar essa abordagem o da Nova
Histria Cultural, que traz uma nova forma de a histria tratar a cultura,
segundo Pesavento (2004, p. 15), no mais como uma mera histria do
pensamento, onde se estudava os grandes nomes de uma dada corrente ou
escola. Mas, enxergar a cultura como um conjunto de significados partilhados e
construdos pelos homens para explicar o mundo.
Cabe salientar que esse novo paradigma no nega a importncia das
outras cincias humanas. Sobre essa questo, Vainfas (2002, p. 56) assegura
que os historiadores da cultura no chegam propriamente a negar a relevncia
dos estudos sobre o mental. No recusam, pelo contrrio, a aproximao com
a antropologia e demais cincias humanas, admitem a longa durao e no
rejeitam os temas das mentalidades e do cotidiano.
Portanto, podemos afirmar, concordando com Lacerda Filho (2005),
que a Nova Histria Cultural revela uma especial afeio pelo informal, por
anlises historiogrficas que apresentem caminhos alternativos para a
investigao histrica, indo onde as abordagens tradicionais no foram. E foi
nesse mar de possibilidades novas que vrios historiadores passaram a
navegar.
No podemos nos desviar da classificao de Histria Local ou
Regional que uma pesquisa como a que fazemos pode receber. Os trabalhos
identificados como de Histria Regional so constantemente questionados pelo
fato de que toda pesquisa aborda determinado espao; da todas as pesquisas
serem regionais, no necessitando enfatizar a metodologia.
Com base no entendimento de que a Histria Regional estuda o
contexto histrico de determinado espao, tomando-o como delimitao para o
objeto de estudo, Barros (2004, p. 152) disserta que,
quando um historiador se prope a trabalhar dentro desse mbito, ele se mostra interessado em estudar diretamente uma regio especfica. Importa destacar que o espao regional no estar necessariamente associado a um recorte administrativo ou geogrfico, podendo se referir a um recorte antropolgico, a um recorte cultural ou a qualquer outro recorte proposto pelo historiador de acordo com o problema histrico que ir examinar.
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A respeito disso, Gonalves, Reznik e Figueiredo (2000, p. 546)
consideram um engano julgar que a eleio de um local, sob a perspectiva de
uma histria local, implica uma simplificao do nmero de variantes e
aspectos da trama social e ressaltam:
O local alado em categoria central de anlise pode vir a constituir uma nova densidade no quadro das interdependncias entre agentes e fatores constitutivos de determinadas experincias histricas ento eleitas pela lupa do historiador. Nessa nova pintura, cada aparente detalhe, insignificante para um olhar apressado ou na busca exclusiva dos grandes contornos, adquire valor e significado na rede de relaes plurais de seus mltiplos elementos constitutivos.
importante explicarmos tambm que Histria Regional e Micro-
histria no so a mesma coisa. A Micro-histria faz uma reduo de escala
de observao para perceber aspectos que poderiam no ser percebidos na
anlise macro, enquanto a Histria Regional faz o estudo da realidade
recortada por ela mesma.
Enfim, consideramos a abordagem sob o recorte da Histria Local um
campo privilegiado de investigao para os diversos nveis em que se tranam
e constituem as relaes de poder entre indivduos, grupos e instituies.
Trata-se de um territrio instigante que convida e provoca o pesquisador para a
anlise dos imbricados processos de sedimentao das identidades sociais,
em particular dos sentimentos de pertencimento e dos vnculos afetivos que
agregam homens, mulheres e crianas na partilha de valores comuns, no gosto
de se sentir ligado a um grupo.
Metodologia
Para viabilizar a pesquisa, reconstituir e registrar a histria e a memria
do espao urbano de Jata, pretendemos utilizar fontes de diversas naturezas:
fotos, plantas arquitetnicas, licenas e alvars de construo emitidos pela
prefeitura, plano diretor urbano, plano de higiene pblica e outros documentos
pblicos e privados, escritos e iconogrficos, alm de fontes orais. Esse ser o
primeiro momento da pesquisa.
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O trabalho com fontes orais se pautar na perspectiva de Thompson
(2002, p. 176) de que todas as fontes so falveis e sujeitas a vis, e cada uma
delas possui fora varivel em situaes diferentes. Em alguns contextos, a
evidncia oral o que h de melhor; em outras, ela suplementar, ou
complementar, a de outras fontes.
Ser considerado o conceito de representao de Roger Chartier: a
representao como dando a ver uma coisa ausente, o que supe uma
distino radical entre aquilo que representado; a representao como
exibio de uma presena, como apresentao de algo ou de algum.
Seguindo a perspectiva do autor, propomos, nesta pesquisa, dar a ver aquilo
que est ausente. O conceito de simblico apresentado por Chartier uma
representao moral atravs de coisas naturais ou imagens nos ajudar no
trabalho com as fontes.
Resultados:
O que se quer preservar a memria do espao urbano de Jata e a
representao que se faz sobre o passado da cidade. compreendendo que
cada marca deixada pelo homem no espao urbano constri memria que este
trabalho pretende contribuir para que o passado de Jata no se perca no
tempo, no vire p, como o que est ocorrendo com muitas das suas
construes centenrias.
Buscaremos tambm catalogar, registrar e documentar toda a pesquisa,
a partir da qual sero produzidos ensaios e artigos cientficos e um catlogo
fotogrfico sobre o patrimnio arquitetnico de Jata a organizao deste
est entre as primeiras providncias a se tomar, pois as edificaes do sculo
XIX so raras e esto em pssimo estado de conservao. A documentao
relativa a essas construes, bastante antiga, compe outro rico material que
ser reproduzido e organizado para exposio.
Resultados Obtidos:
Acesso a livros que contm leis e resolues (Instituto Frei Simo da
Cidade de Gois); neles foram encontradas as resolues n 547, que
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delimita as divisas do municpio de Jata, e n 668, que eleva categoria
de vila a freguesia de Jata.
Acesso s leis estaduais (Arquivo Estadual) leis de elevao
categoria de vila e cidade, documentos referentes segurana pblica e
atas eleitorais.
Participao de encontros na rea de Histria, apresentando os
resultados das pesquisas.
Referncias:
FONTES PRIMRIAS IMPRESSAS:
1 Documentos do Cartrio Civil da Comarca de Jata.
2 Documentos de batismo da Igreja Catlica de Jata.
3 Arquivo Pblico do Estado de Gois.
4 Arquivo do Museu das Bandeiras.
5 Arquivo da Diocese da cidade de Gois.
6 Arquivo Frei Simo na cidade de Gois.
7 Arquivos do Instituto de Pesquisas e Estudos Histricos do Brasil Central
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Capa ndice
4248
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extenso- CONPEEX (2010) 4248 - 4261
A Identidade do Pronto-Sorriso, seus Efeitos e Causa no Processo
de Humanizao entre os Acadmicos, os Pacientes e os
Colaboradores do Hospital das Clnicas de Goinia
Aguinaldo Gabarron Murcia Filho, Ftima Maria Lindoso da Silva Lima
Universidade Federal de Gois, 74001-970, Brasil
gabarron_mf@hotmail.com e fatimalindoso@hotmail.com
PALAVRAS-CHAVE: Pronto-Sorriso; Relao Mdico-Paciente; Medicina.
1 INTRODUO
O Pronto-Sorriso foi criado em 1998 por acadmicos da Faculdade de
Medicina como um projeto de extenso da Universidade Federal de Gois, sem fins
lucrativos, e coordenado pela gastropediatra Dra. Ftima Maria Lindoso da Silva
Lima. O grupo est em atividade desde maro de 1999, no Hospital das Clnicas de
Goinia e eventualmente em eventos em creches, hospitais e postos de sade. O
projeto desenvolvido por uma equipe multidisciplinar, envolvendo profissionais de
diversas reas, como medicina, pedagogia, artes cnicas e arte circense.
Em 2007 o Pronto-Sorriso foi inserido no modelo de Ncleo Livre, fazendo
com que a durao passasse de um ano e seis meses para dois anos, divididos em
dois ncleos de atividades, com durao de um ano em cada fase.
2 JUSTIFICATIVA
Capa ndice
4249
O Pronto-Sorriso, apesar de similar a outros projetos de palhaos de
hospital, possui algumas singularidades. um projeto vinculado a uma instituio de
ensino (UFG), a qual permite a qualquer aluno participar do mesmo, cumprindo
assim, uma importante funo social de integrao de indivduos de diferentes reas
do conhecimento. No entanto, como caracterstica principal, a maior parte desses
alunos so graduandos em Medicina dos primeiros perodos do curso. Tal fator de
especial relevncia para estes acadmicos, haja vista que o pronto-sorriso
proporciona um primeiro contato desses indivduos tanto com o ambiente hospitalar
quanto com os pacientes, sob uma viso diferente da relao aluno-paciente
tradicional.
3 OBJETIVOS
Temos por objetivos:
1. Traar o perfil de diferentes projetos com objetivos e procedimentos
semelhantes ao Pronto-Sorriso;
2. Identificar, descrever e analisar semelhanas e diferenas entre tais
projetos e o Pronto-Sorriso;
3. Analisar as influncias exercidas pelo ambiente hospitalar e seus
freqentadores nos doutores-palhaos e na estrutura do curso.
4 METODOLOGIA
Este estudo foi desenvolvido no Hospital das Clnicas da Universidade
Federal de Gois durante o perodo de agosto de 2009 a julho de 2010. Trata-se de
um estudo observacional, qualitativo, quantitativo e longitudinal, tornando-se
transversal na pesquisa com os acompanhantes dos pacientes da pediatria.
Capa ndice
4250
Os sujeitos da pesquisa foram acadmicos, mdicos e assistentes do
Hospital das Clnicas que participaram ou que estavam participando do Pronto-
Sorriso e demais funcionrios do hospital que estavam em contato com este projeto.
Alm dos acompanhantes da pediatria.
Foram includos os acadmicos que estavam iniciando suas atividades no
Grupo Pronto-Sorriso. Neste grupo a coleta dos dados ocorreu em 2 etapas: 1-
durante o incio do curso de formao do palhao, no momento anterior as entradas
no hospital e o 2 ao final do curso aps s atividades na unidade hospitalar. Em
ambos os momentos foram aplicados o mesmo questionrio a esses alunos.
Tambm foram includos pacientes e colaboradores do Hospital das Clnicas do ano
de 2009. Houve excluso dos acompanhantes de pacientes que estavam em mal
estado geral, bem como daqueles que ainda no receberam visita dos doutores-
palhaos. Foram enviados questionrios, via e-mail, aos projetos similares ao
Pronto-Sorriso em todas as regies do pas.
Os questionrios utilizados foram os de Morgana Masetti, a Escala
Multidimensional de Satisfao de Vida para Crianas, de Claudia Holfheinz
Giacomoni e o Questionrio de Avaliao de Motivao, de Rafael de Deus Pires.
Tais questionrios foram escolhidos aps levantamento bibliogrfico, seguido de
fichamento e anlise.
A aplicao dos questionrios validados se efetivou aps a coleta das
assinaturas do termo de livre consentimento para a participao do sujeito na
pesquisa. Foram aplicados os testes aos alunos do Pronto Sorriso, aos
colaboradores do Hospital das Clnicas e aos acompanhantes dos pacientes em
duas fases: primeiro, no incio do curso Prtico-terico; segundo, no fim das suas
entradas e performances no Hospital das Clinicas de Goinia (ao final do semestre).
Aps a coleta dos dados, estes foram analisados e seus resultados confrontados
com os da anlise bibliogrfica. Por fim, a elaborao deste relatrio final.
Capa ndice
4251
Os dados obtidos com as respostas objetivas foram analisados com
ferramentas estatsticas Microsoft Excel e EpiInfo - e transformados em grficos
para melhor compreenso. J os colhidos atravs de respostas subjetivas foram
avaliados atravs da anlise de contedo de Bardin (1977) e Minayo (1999, p. 22) e
tambm tratados com a utilizao de ferramentas estatsticas (Microsoft Excel e
EpiInfo).
5 RESULTADOS E DISCUSSO
Tendo sido, a princpio, inspirado no trabalho realizado pelos Doutores da
Alegria, de So Paulo, e nas idias do Dr. Patch Adams, como a humanizao do
ambiente hospitalar, ao longo dos anos de atuao o Pronto Sorriso desenvolveu
uma personalidade prpria. Ao aprofundarmos nossa anlise, podemos perceber
diferenas cruciais. Em sua misso os Doutores da Alegria propem:
Nossa misso ser uma organizao proeminentemente dedicada a levar
alegria a crianas hospitalizadas, seus pais e profissionais de sade, atravs
da arte do palhao, nutrindo esta forma de expresso como meio de
enriquecimento da experincia humana. (http://www.doutoresdaalegria.org.br.
2009)
No Pronto Sorriso a misso humanizar os mdicos e outros profissio-
nais por meio de uma viso inter-relacional palhao-paciente. De acordo com nossa
pesquisa, 57,5% dos alunos procuram o projeto buscando crescimento pessoal e
apenas 8,5%por altrusmo (Grfico 1).
Grfico 1: Motivo da participao dos alunos no Pronto-Sorriso
Capa ndice
4252
Sem desprezar a capacidade dos doutores-palhaos de melhorarem o
ambiente e at influenciarem na boa recuperao dos internos em hospitais, o
Pronto-Sorriso acredita que as possibilidades deste tipo de projeto vo muito alm.
Baseados na afirmao de que todo relacionamento modifica ambas as partes, o
Pronto-Sorriso cuida desta relao como um todo, preparando no s o atuante para
incorporar o personagem palhao, como tambm para avaliar e incorporar as
vivncias proporcionadas pelo projeto em sua futura vida profissional.
A maior parte dos projetos pesquisados, de um total de 36, representando
as 5 regies do pas, trabalha com voluntrios de profisses variadas (58,3%), ou
com atores que se especializam na arte do palhao (11,1%), como podemos ver no
Grfico 2.
Grfico 2: Distribuio dos participantes de acordo com sua fase profissional nos
projetos de interveno hospitalar.
Capa ndice
4253
Os doutores-palhaos do Pronto-Sorriso so, em sua maioria,
estudantes de medicina (49,1% -n1=106) e de outras faculdades da sade
Psicologia, Odontologia, Enfermagem e da rea biolgica Biologia, Agronomia -
(25,5% -n=106) como verificado no grfico 3. Neste sentido, encontramos dois
projetos (5,5% n=36) que trabalham com acadmicos, sendo que um abrangendo
cursos diversos e outro abrangendo acadmicos de medicina e psicologia.
Grfico 3: distribuio dos acadmicos de acordo com os cursos
Capa ndice
4254
Outra preocupao do Pronto-Sorriso o incentivo produo cientfica
por parte dos alunos. De acordo com os dados levantados, 58,3% dos grupos
pesquisados declararam no realizar nenhum tipo de produo cientifica. (grfico 4)
Grfico 4: Distribuio dos grupos em relao a produo cientfica
Outro dado relevante a durao dos projetos. De todos os projetos
analisados, 14 (38,9%) tem apenas dois anos de durao e outros 38,9% no
ultrapassam os dez anos de intervenes (Grfico 5). O Pronto-Sorriso por sua vez,
tem doze anos de existncia, e, portanto, um tempo de existncia maior do que
77,8% dos grupos analisados. Nesses doze anos o Pronto-Sorriso sofreu diversas
modificaes. Desde sua transformao em Ncleo livre, o corpo de docentes rev
semestralmente suas atividades, realizando mudanas baseadas em avaliaes e
em relatos de experincia dos alunos. O longo tempo de existncia do projeto tem
sido essencial para o aprimoramento do mesmo, tornando-o mais eficiente em sua
contribuio acadmica.
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4255
Grfico 5 distribuio temporal dos grupos de interveno/clown nos hospitais
Em relao ao numero de participante destes projetos constatamos que
nos projetos pesquisados mais da metade (58,3%) atingiram abaixo de 50
participantes ao longo de sua existncia. Os de maior alcance atingiram no mximo
300 participantes. (Grfico 6). O Pronto-Sorriso prepara uma mdia de 100 alunos
por ano, com uma carga-horria de 12 horas-ms. Estes dados do a medida do
alcance do projeto na UFG, tendo atingido em seus 12 anos de atuao a mais de
mil alunos.
Grfico 6: Distribuio em relao a quantidade(n) de participantes e tempo de
durao do projeto
Capa ndice
4256
Baseados na afirmao de que todo relacionamento modifica ambas as
partes, o Pronto-Sorriso cuida desta relao como um todo, preparando no s o
atuante para incorporar o personagem palhao, como tambm para avaliar e
incorporar as vivncias proporcionadas pelo projeto em sua futura vida profissional.
Alm da evidncia sinalizada pelo fato dos alunos buscarem o projeto mais por
crescimento pessoal que por altrusmo, outro sinal est na expectativa ao se
inscreverem, como a de realizao pessoal (39,6%) que est bem prxima de
levar bem estar ao prximo (41,5%). Ambas seguidas pela de auto-superao
(perda da timidez) e pela de melhoramento nas relaes inter-pessoais (com 26,4%
respectivamente) como observamos no Grfico 7. Estes nmeros mostram que, sem
esquecer-se do objetivo altrusta de melhorar o ambiente hospitalar, os alunos esto
cientes da importncia que esta vivncia pode ter na sua formao como
cuidadores.
Capa ndice
4257
Grfico 7: distribuio dos motivos de procura ao projeto Pronto-Sorriso
Analisando outras diferenas entre o Pronto-Sorriso e os demais projetos
afins encontramos a dinmica de oferecimento do treinamento no curso de
palhao.
Para fins de anlise, classificamos os tipos de treinamento em:
- Estgio Quando o treinamento se resume ao acompanhamento, j no
local da apresentao, por atuantes mais experientes;
- Oficina Quando o treinamento de menos de uma semana;
- Curso Quando o treinamento de mais de uma semana;
- Palestra Quando o treinamento no envolve exerccios prticos.
A grande maioria dos projetos (36%) trabalha com oficinas. 25% fazem
estgios e somente 22% fazem curso (Grfico 8).
Hoje, no Brasil, pululam os projetos de palhaos de hospital. Alguns,
espelhando-se nos Doutores da Alegria, esmeram-se em desenvolver
uma tcnica de relacionamento e abordagem adequada a pblico to
diferenciado, mas, infelizmente, a imensa maioria de projetos bem
Capa ndice
4258
intencionados feitos por voluntrios que tentam brincar de palhao
com as crianas hospitalizadas. (CASTRO, 2005. P. 226)
Grfico 8 Tipo do treinamento para a formao dos doutores-palhaos
A maior parte dos treinamentos relatados se refere a tcnicas de atuao.
Somente 19,4% relatam receber treinamentos ou informaes relativas s
especificidades do trabalho em hospital, como o cuidado com infeces e medidas
como lavar as mos sempre que for interagir com outro paciente. Apenas um projeto
relata fazer trabalhos de integrao com o grupo de atuao.
O foco do treinamento dos grupos pesquisados sempre o produto, a
atuao do palhao em si.
Os grupos que realizam treinamentos voltados somente para as artes
cnicas trabalham pela qualidade final de um produto artstico. O Pronto-Sorriso
trabalha pelo processo, valorizando mais o desenvolvimento pessoal que o produto
artstico, ainda que sem descuidar da qualidade final. Isto porque a funo da
Medicina vai alm do tratamento de patologias, com uso de drogas ou com
intervenes cirrgicas. O ponto fundamental deste ncleo livre est voltado as
Capa ndice
4259
relaes interpessoais e o autoconhecimento dos acadmicos, ampliando os
horizontes do conhecimento dentro de uma concepo biopsicosocial-cultural e
espiritual, para que ele se torne um profissional diferenciado, crtico, sensvel,
comunicativo e com uma nova concepo do cuidar.
6 CONCLUSO
1- O Pronto-Sorriso um dos poucos, seno o nico projeto dentre os
pesquisados cujo foco est na relao, e no no produto final, cuja misso
humanizar os acadmicos, os mdicos e outros profissionais por meio de uma viso
inter-relacional palhao -acadmico e palhao-paciente.
2- A maior parte dos projetos pesquisados, trabalha com voluntrios de
profisses variadas (58,3%), ou com atores que se especializam na arte do palhao
(11,1%). Os doutores-palhaos do Pronto-Sorriso so, em sua maioria, estudantes
de medicina (49,1% /106) e de outras faculdades da sade : Psicologia,
Odontologia, Enfermagem e da rea biolgica: Biologia, Agronomia (25,5% /106).
3- O treinamento dos acadmicos no Pronto Sorriso oferece uma viso
holstica ampliando os horizontes, favorecendo o autoconhecimento, aprimorando as
relaes interpessoais, que promove melhoria na relao acadmico- acadmico,
acadmico-paciente, acadmico- cuidador e acadmico- professor, dentro do
processo ativo de ensino- aprendizagem, promovendo uma nova modalidade do
cuidar.
4- O Pronto-Sorriso prepara no s o acadmico para incorporar o
personagem palhao, como tambm para avaliar e incorporar as vivncias
Capa ndice
4260
proporcionadas pelo projeto em sua futura vida profissional.
5- Os alunos buscam o projeto mais por crescimento pessoal que por
altrusmo, e a expectativa ao se inscreverem de realizao pessoal (39,6%), bem
prxima de levar bem estar ao prximo (41,5%), seguida pela de auto-superao
(26,4%) e por melhoramento nas relaes inter-pessoais (26,4%).
6- Esta pesquisa proporcionou ao grupo uma avaliao dos 12 anos de
existncia do Pronto-Sorriso nos trazendo momentos de reflexo, e necessidade de
reorganizao, baseados em avaliaes e em relatos de experincia dos alunos
durante o perodo deste estudo. Tal prtica essencial ao aprimoramento do projeto
como um todo.
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Campylobacter spp. em Carne de Aves de Lotes de Frangos Abatidos
em Agroindstrias de Gois: Identificao e Avaliao da
Suscetibilidade a Antimicrobianos
Alessandra Arnez Pacheco, Cntia Silva Minafra e Rezende
Escola de Veterinria - Universidade Federal de Gois, CEP: 74.001-970 Brasil
alessandrarnez@hotmail.com, cintia@cpa.vet.ufg.br
PALAVRAS-CHAVE: Campylobacter spp., carcaas, moelas
1 INTRODUO
A produo de carnes no Brasil um importante segmento do
agronegcio. Tendo em vista a avicultura de corte, apesar de o Brasil ser
considerado o terceiro Pas em produo mundial, ficando atrs dos Estados Unidos
da Amrica e China, o volume de carne exportado, no primeiro semestre de 2008,
referiu-se ao embarque de 1,8 milhes de toneladas, crescimento de 19% em
comparao ao mesmo perodo do ano anterior (ABEF, 2008).
No Brasil, em 2007, o consumo per capita de 37,83 Kg caracterizou a
relevncia do segmento avcola e correspondeu a 2,30% de aumento sob o ano de
2006 (UBA, 2008). Estes dados revelam a representatividade da cadeia produtiva da
carne: fruto de organizao, do uso de tecnologia, da insero direta de pesquisas
cientficas associadas ao gerenciamento ostensivo dos padres genticos, prticas
de manejo, nutrio, ambincia, sanidade, processamento, beneficiamento e
industrializao.
Aves de corte esto entre os principais carreadores de patgenos em
abatedouros e apresentam alta correlao com a contaminao cruzada por
Salmonella sp. e Campylobacter spp.. Estes agentes so patognicos e constituem
severidade para a sade pblica e segurana alimentar. A legislao nacional
determina o controle de Salmonella em carcaas de frango (BRASIL, 2003), porm
para Campylobacter spp., um patgeno de propores e risco similares, no h
legislao especfica para sua avaliao em alimentos e tampouco para seu controle
em lotes de frangos de corte. Para KUANA (2006) h o aceno de uma anlise desta
questo pelas autoridades nacionais num futuro prximo.
Capa ndice
4263
A campilobacteriose tem sido apontada com um dos relatos zoonticos
mais freqentes, associados a doenas de veiculao alimentar na Unio Europia
nos cinco ltimos anos, sendo que Campylobacter jejuni o patgeno de maior
ocorrncia. Alguns dados obtidos pela Autoridade Europia Satefy Authority
revelaram que as aves so a principal fonte do agente (HUGAS et al, 2009;
WESTRELL et al., 2009).
No Brasil, CARVALHO et al. (2002) analisaram 291 amostras de
diferentes pontos em abatedouros e isolaram Campylobacter em 42% das amostras
de fezes e em 38% das amostras de penas. Este patgeno compe a lista dos
microrganimos relacionados veiculao de doenas por alimentos, sendo que isto
ocorre sem distino de localidade.
De modo geral, relatos descrevem que em alguns casos podem ocorrer
graves seqelas da infeco, como a Sndrome de Guillain-Barr (desmielinizao
de neurnios), a sndrome de Fisher, uma variante da Sndrome de Guillain-Barr; e
a Sndrome de Reiter ou artrite reativa (DORREL; WREN, 2007).
Este patgeno emergente e preocupante para a avicultura mundial e
para rgos com aes diretas sade pblica (HARIHARAN et al., 2004).
Em 2007, FREITAS & NORONHA, descreveram o isolamento de
Campylobacter spp. em 93,7% das amostras de fgado, moela, corao, pele,
pescoo e carcaas coletadas em aougues clandestinos, feiras-livres e
supermercados da cidade de Belm, constituindo a primeira notificao de
ocorrncia deste microrganismo em alimentos expostos ao consumo da Regio
Amaznica.
Outro fator importante e preocupante a considerar o aparecimento de
cepas de Campylobacter spp. resistentes a diversos princpios antimicrobianos, o
que ressalta a urgncia de vigilncia e monitoramento com ao precpua de
assegurar a qualidade dos alimentos associada aos preceitos da sade pblica.
Estudos recentes (KUANA et al., 2008) evidenciam as conseqncias adversas da
ocorrncia de cepas resistentes, que se dividem em duas categorias: infeces que
no ocorreriam se no houvesse a cepa resistente e aumento na freqncia de
tratamentos mal sucedidos, bem como o aumento na severidade das infeces
(WHO, 2002).
Por esses motivos, o estudo da presena de Campylobacter spp. em
carne de aves, carcaas e moelas, e a verificao do perfil de suscetibilidade a
Capa ndice
4264
antimicrobianos torna-se tema relevante para assegurar a consequente qualidade
microbiolgica da carne de frango e como forma de resguardar e proteger a sade
da populao.
2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo geral
2.1.1 Verificar a ocorrncia de Campylobacter spp. em frangos destinados
ao abate.
2.2 Objetivos especficos
2.2.1 Verificar a ocorrncia de Campylobacter spp. em carcaas e moelas.
2.2.2 Avaliar a suscetibilidade das cepas isoladas frente a antimicrobianos.
2.2.3 Avaliar o isolamento bacteriano convencional para o agente em
questo em contraste tcnica de reao em cadeia pela polimerase em
tempo real.
3 METODOLOGIA
Foram analisadas 54 amostras de ambiente de trs frigorficos distintos
(A, B e C) do estado de Gois, compostas por 27 carcaas inteiras e 27 moelas. As
amostras foram colhidas dentro dos abatedouros e foram friccionadas com suabes
estreis. Estes suabes foram armazenados em temperatura de 5oC e em sacos
plsticos apropriados, identificados e transportados imediatamente ao Laboratrio de
Biologia Molecular do Centro de Pesquisa em Alimentos da Universidade Federal de
Gois, para que as anlises fossem efetuadas. No laboratrio, as amostras foram
submetidas a dois tipos de anlise, o isolamento convencional bacteriano e PCR em
tempo real.
3.1 Isolamento convencional bacteriano
Adotou-se a metodologia segundo a ISO 10272-1 (2006), que determina a
execuo das fases de enriquecimento, plaqueamento diferencial, seleo de
colnias caractersticas, confirmao e testes bioqumicos. Inicialmente os suabes
foram introduzidos em tubos contendo 9 mL de caldo Bolton, encaminhado
Capa ndice
4265
incubao em atmosfera microaerfila a 371 C/ 4-6 horas e depois incubado a
41,51 C/ 444 horas. Aps este perodo de incubao, estriou-se de cada cultura
de caldo Bolton uma alquota em placa de Petri contendo gar Charcoal
Cefoperazona Desoxicolato Modificado (m-CCDA) e em placa de Petri contendo
gar Campylobacter. As placas estriadas foram incubadas 41,51 C/ 444 horas.
Terminado o perodo de incubao, selecionaram-se as colnias tpicas
de Campylobacter spp (colnias acinzentadas, geralmente com brilho metlico,
planas e midas, com tendncia ao espalhamento, no gar m-CCDA). Do gar
Columbia (CDA), selecionaram-se colnias em colorao bege, espalhadas e
levemente metalizadas. Todas as colnias foram repicadas em gar Columbia e as
placas incubadas a 41,51 C/ 444 horas.
A partir das placas em gar Columbia, selecionou uma colnia tpica de
Campylobacter spp e procedeu-se suspenso em 1 mL de caldo Brucella para
observao da motilidade e morfologia.
Tambm a partir das placas incubadas em gar Columbia estriou-se uma
colnia em outra placa de gar Columbia e incubou-se a 25C/ 444 horas, em
microaerofilia. Ainda, estriou-se novamente uma colnia em gar Columbia e
incubou-se a 41,5C /444 horas em aerobiose.
Aps estes procedimentos, colocou-se um disco ou fita de papel de filtro
no interior de uma placa de Petri, sendo que o centro do papel ficou embebido com o
reagente de Kovacs para o teste de oxidase (soluo aquosa 1 % de cloridrato de
N,N,N,N-tetrametil-p-fenilenodiamina). Com uma ala esterilizada, removeu-se
pequena quantidade da cultura em CBA e espalhou-se sobre o reagente no papel,
observando a ocorrncia do desenvolvimento de cor azul intensa, em
aproximadamente dez segundos (teste positivo). O no-desenvolvimento da cor azul
no intervalo de um minuto indicou teste negativo. Bactrias do gnero
Campylobacter so oxidase positivas.
3.2 Reao em cadeia pela polimerase em tempo real
Na anlise de PCR em tempo real, seguiu as determinaes de STERN et
al. (2001) e WANG et al. (1997), respectivamente. Alm dos iniciadores utilizados na
tecnologia PCR convencional, utilizou-se um terceiro oligonucleotdeo (sonda
TaqMan). Essa sonda tem sua extremidade 5 ligada a um fluorforo e sua
Capa ndice
4266
extremidade 3 a uma molcula quencher, essa molcula capaz de um fenmeno
denominado FRET Fluorescence Ressonance Energy transfer, que absorve a
fluorescncia emitida por esse fluorforo transfere o sinal ao aparelho que o
converte em curvas especificas.
medida que a reao ocorria e os ciclos aumentavam a fluorescncia
tambm aumentou. Quando essa fluorescncia emitida pelo fluorforo atingiu limiar
acima da fluorescncia basal da reao, o software do sistema utilizado
correlacionou o ciclo em que isso ocorreu (Ct), apresentando o resultado de
positividade das amostras.
Para a anlise de PCR em tempo real do presente estudo, as culturas em
caldo Bolton foram comprimidas no carto FTA com auxlio de suabes esterilizados,
os cartes foram dispostos em fluxos laminares para a secagem. Aps a secagem
seguiu-se para a eluio do DNA das amostras. A eluio do DNA foi realizada
segundo o protocolo do fabricante. Ao DNA extrado foi adicionado o mix PCR
contendo os primers e sondas desenhados e sintetizados de acordo com a regio
conservada do genoma para o gnero Campylobacter. Aps a adio dos reagentes
a leitura da fluorescncia foi feita pelo equipamento Step One Plus, que durou em
torno de 1hora e 40 minutos.
A reao de PCR em tempo real ocorreu em um intervalo de 99,5% de
confiana e foram adotados tanto os controles positivos quanto os controles
negativos que em testes anteriores apresentaram resultados satisfatrios.
3.3 Suscetibilidade a antimicrobianos
Quanto suscetibilidade aos antimicrobianos, a verificao referiu-se
somente s cepas isoladas pelo ICB. Deste modo, a cepas isoladas foram testadas
quanto aos seguintes princpios: cido nalidxico (30g), cefalotina (30g), cefoxitina
(30g), cefotaxima (30g), eritromicina, enrofloxacina (10g), sulfazotrim (25g) e
cloranfenicol (30g).
Para tanto foi utilizada a tcnica de difuso em gar com adoo de
discos impregnados por antimicrobianos. A metodologia referiu-se preconizada por
Kirby-Bauer (Bauer et al., 1966), com as modificaes de ambiente de incubao,
quanto atmosfera de microaerofilia, por 41,51 C/ 444 horas.
Capa ndice
4267
4 RESULTADOS
O presente estudo ao avaliar a freqncia do ptogeno em lotes de
frangos de corte, identificou que 66,70% das carcaas destinadas ao mercado
interno e externo esto contaminadas com Campylobacter spp. Do total de 27
carcaas analisadas, verificou-se que em 18 suabes isolou-se o agente, o que pode
ser visto na Tabela 1. Ainda nesta Tabela, observa-se que para a PCR em tempo
real, no houve diferena no percentual detectado para suabes de carcaas.
No entanto, analisando os percentuais isolados e detectados em suabes
de moelas, por isolamento convencional bacteriano e PCR em tempo real,
respectivamente, pode-se inferir que pela estatstica descritiva, 18,52% de amostras
positivas ao PCR em tempo real foi mais representativo quando contrastados aos
11,27% por isolamento.
Tabela 1 Ocorrncia de Campylobacter spp. em suabes de carcaas e de moelas de agroindstrias do estado de Gois, perodo de setembro de 2009 a julho de 2010
Categoria de Amostras
positivas/ analisadas
Frequncia relativa
ICB* (%)
Frequncia relativa
PCR tr** (%) ICB* PCR tr** Suabes de carcaas 18/27
18/27 66,70 66,70
Suabes de moelas 3/27 5/27 11,27 18,52
TOTAL 21/54 23/54 38,90 42,59 * ICB isolamento convencional bacteriano
** PCR tr reao em cadeia pela polimerase em tempo real
Considerando as duas categorias de amostras como alimentos
destinados a populao humana, 38,90% apresentaram-se contaminados com o
microrganismo vivel, ou seja, ele foi capaz de utilizar os meios de cultura
empregados e multiplicar-se em condies microaerfilas. Por outro lado, a
deteco do agente em PCR tr maior ou de 42,59% reporta a presena do agente
em condies de multiplicao ou em estgio letal.
Estes resultados reportam a maior contaminao do agente em carcaas
inteiras e menor contaminao vsceras comestveis.
Capa ndice
4268
Quanto suscetibilidade aos antimicrobianos, importante mencionar
que a verificao referiu-se somente s cepas isoladas pelo ICB. Deste modo, das
21 cepas testadas, o perfil de suscetibilidade pode ser visualizado na Tabela 2.
Tabela 2 Nmero de cepas e perfil de sensibilidade de Campylobacter spp. isoladas de suabes de carcaas e suabes de moelas, provenientes de agroindstrias A, B e C, do estado de Gois, no perodo de setembro de 2009 a julho de 2010.
Antimicrobiano Nmero de cepas de Campylobacter spp. e perfil de suscetibilidade
Resistente Intermediria Sensvel
cido nalidxico - - 21
Cefalotina - - 21
Cefoxitina - - 21
Cefotaxima - - 21
Eritromicina 10 11 -
Enrofloxacina 5 5 11
Sulfazotrim - 7 14
Cloranfenicol - 8 13
5 DISCUSSO
Considerando que este estudo est entre os primeiros do estado de
Gois para anlise de carne de aves, quanto presena de Campylobacter spp.
cabe ressaltar que os resultados demonstrados na Tabela 1 so extremamente
alarmantes quando considera-se lotes de frangos encaminhados ao abate.
Principalmente pelo risco microbiolgico que este microrganismo oferece.
A ocorrncia do patgeno em carcaas (66,70%) e em moelas (11,27%),
vsceras comestveis muito apreciadas pelo mercado nacional e internacional,
determina expressiva contaminao dos alimentos de alto consumo.
Por outro lado, considerando os percentuais identificados pela tcnica de
PCR em tempo real, observou-se certa similaridade, o que justifica sua adoo
considerando o tempo de finalizao da anlise (24 horas) em comparao com o
isolamento bacteriano convencional (oito dias).
Capa ndice
4269
Ainda, h que salientar a perpetuao do patgeno no ambiente de
abate, possibilitando a contaminao dos lotes isolados e daqueles que ainda
entraro para a linha de abate, favorecendo a contaminao do produto acabado,
das diversas linhas de operaes, contaminao de mos de manipuladores e riscos
para a sade pblica.
KUANA et al. (2008) revelaram que 81,8% de lotes de frangos de corte na
granja apresentaram-se positivos para Campylobacter spp.. No entanto, 97,4% das
carcaas deste lote, mostraram-se positivas aps a fase de depenagem, o que foi
superior para as categorias de amostras do presente estudo. Em comparao aos
resultados obtidos em Gois, pode-se afirmar que a situao identificada demonstra
similaridade de contaminao, fato agravante para o controle de qualidade da
matria prima e para a avaliao dos perigos e pontos crticos de controle.
Estes resultados reportam a maior contaminao do agente em carcaas
inteiras. Porm, mesmo apresentando menor contaminao, as moelas so
alimentos ou vsceras comestveis, facilmente associadas ao no cozimento efetivo
o que aumenta o risco de exposio da populao consumidora.
Quanto ao perfil de resistncia, pode-se afirmar que 100% das cepas
foram sensveis a quatro princpios antimicrobianos, o denota tranqilidade quanto
s questes pertinentes aos tratamentos clnicos previstos para a populao
humana. Porm, para a eritromicina observou-se que 47,62% (10/21) das cepas
isoladas foram resistentes. Para a enrofloxacina, uma fluoroquinolona, observou-se
23,81% de resistncia (5/21) o que compromete a eleio desta droga para as
principais ocorrncias mdicas devido ao seu espectro de ao abrangente para
microrganismos Gram positivos e Gram negativos, concordando parcialmente com
as informaes de WHO (2000).
Para cloranfenicol, observou-se 38,10% de resistncia intermediria o que
revolve a discusso sobre microrganismos emergentes quanto alterao de seu
perfil de suscetibilidade.
Todos estes resultados denotam a necessidade de aes que envolvam os
diversos segmentos da explorao avcola, ou seja, ambientes de criao, de abate
e processamento e alimentos prontos. A fiscalizao efetiva de toda a cadeia
produtiva ser determinante para a proteo aos plantis e alimentos.
A avicultura de corte orgulha-se de ser um segmento do agronegcio
dinmico, competitivo, empreendedor e dotado de programas de controle de
Capa ndice
4270
qualidade em suas diversas instncias, que vo desde a alimentao das aves at
seu efetivo processamento. Ainda assim, os dados obtidos neste estudo salientam
precariedade quanto presena de Campylobacter spp. no alimento de origem
avcola.
6 CONCLUSO
Considerando os resultados do presente estudo, pode-se concluir que
carcaas de frangos e moelas so importantes veculos de transmisso do agente
para humanos, alm de favorecerem a contaminao das operaes de abate e ao
processamento da carne avcola.
7 BIBLIOGRAFIA ABEF Associao Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos de Corte. Estatsticas 2008. Disponvel em: www.abef.com.br. Acesso em 30/07/2008. BAUER, A.W.; KIRBY, W.M.M.; SCHERRIS, J.C.; TURCK, M. Antibiotic susceptibility testing by a standadized single disk method. American Journal of Clinical Pathology, Washington, v.45, p.493-496, 1966. BRASIL. Instruo Normativa N 70, de 10 outubro de 2003 do Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento. Dirio Oficial [da] Repblica Federativa do Brasil, Poder Executivo, Braslia, DF, 10 out. 2003. Seo 1, p. 9. CARVALHO, A. C. F. B.; LIMA, V. H. C.; PEREIRA, G. T. Determinao dos principais pontos de risco de contaminao de frangos por Campylobacter, durante o abate industrial. Higiene Alimentar, v. 16, n. 99, p. 89-94, 2002. DORREL, N.; WREN, B. W. The second century of Campylobacter research: recent advances, new opportunities and old problems. Current Opinion in Infectious Diseases, v. 20, n.5, p. 514-518, 2007. FRANCHIN, P.R.; AIDOO, K. E.; BATISTA, C.R.V. Sources of poultry meat contamination with thermophilic Campylobacter before slaughter. Brazilian Journal of Microbiology, v. 36, p. 157-162, 2005. FREITAS, J.A; NORONHA, G.N. Ocorrncia de Campylobacter spp. em carne e midos de frango expostos ao consumo em Belm, Par. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinria e Zootecnia, v.59, n.3, p.813-815, 2007.
Capa ndice
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4272
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extenso- CONPEEX (2010) 4272 - 4286
Isolamento e Cultivo de Leishmania sp em Amostras de Pacientes com Leishmaniose Tegumentar Americana Atendidos no
Ambulatrio de Endemias do Hospital de Doenas Tropicais, Goinia, GO
Alexandre Jesus Silva, Anna Karoline Aguiar Fleuri, Grazzielle Guimares de Matos,
Ledice Incia Arajo Pereira, Fernanda Duarte Bugalho, Sebastio Alves Pinto, Milton Adriano Pelli de Oliveira; Ftima Ribeiro-Dias, Miriam Leandro Dorta
Instituto de Patologia Tropical e Sade Pblica da Universidade Federal de Gois, CEP: 74060-070, Goinia, GO, Brasil
e-mail: aj-silva@biologia.grad.ufg.br; mldorta@uol.com.br
PALAVRAS-CHAVE: LTA, Bipsia, Isolamento, Leishmania
1 INTRODUO
A Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA) uma zoonose causada
por protozorios do gnero Leishmania, que acomete a pele e/ou mucosas de
diferentes espcies de animais silvestres, sobretudo roedores, animais domsticos e
eventualmente o homem. Vrias espcies de Leishmania so reconhecidas como
agentes etiolgicos da LTA, elas so morfologicamente similares, porm produzem
um amplo espectro de manifestaes clnicas da doena. No Brasil, as principais
espcies responsveis pela LTA pertencem a dois subgneros: (1) Viannia,
representado pelas espcies L. (V.) braziliensis e L. (V.) guyanensis, associadas
com leses cutneas localizadas ou disseminadas e leses mucocutneas e (2)
Leishmania, representado pela espcie L. (L.) amazonensis, associada com o
desenvolvimento de leses cutneas localizadas ou com a forma clnica difusa
(GONTIJO & CARVALHO, 2003).
L. (V.) braziliensis a espcie que possui maior distribuio geogrfica no
Brasil, incluindo a regio Centro-Oeste (DORTA et al., 2003; LIMA JUNIOR et al.,
2009). Freqentemente est associada ao desenvolvimento das leses mais graves
da doena, com leses cutneas mltiplas ou extensas, e cerca de 2% dos casos
esto relacionadas invaso de mucosa. A forma mucocutnea apresenta leses
destrutivas do tecido e da mucosa naso-farngea, podem ser desfigurantes e
tambm incapacitantes, gerando grande repercusso no campo psicossocial do
Capa ndice
4273
indivduo. L. (L.) amazonensis est presente numa extensa rea geogrfica, que
compreende as regies Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste. A doena
causada por L. (L.) amazonensis relativamente rara, sendo amplamente variado o
espectro clnico da doena, podendo ocorrer leso ulcerada, geralmente nica, a
forma visceral da Leishmaniose ou a forma cutnea difusa (REIS et al., 2008;
SILVEIRA et al., 2009).
O diagnstico de LTA abrange aspectos epidemiolgicos, clnicos e
laboratoriais e freqentemente a associao de alguns desses elementos
necessria para se chegar a uma concluso final. A demonstrao do parasito
feita por meio de exames direto e indireto. A probabilidade de encontro do parasito
inversamente proporcional ao tempo de evoluo da leso cutnea, sendo rara aps
um ano. Nos casos de infeco por L. (V.) braziliensis a probabilidade est em torno
de 100% nos dois primeiros meses de evoluo, 75% aos seis meses e 20% acima
dos doze meses (FURTADO, 1980). O exame indireto consiste no isolamento do
parasito por meio do cultivo in vitro ou inoculao em animais de laboratrio do
material coletado da leso (OLIVEIRA et al., 2010). Os exames diretos consistem
em mtodos de identificao dos parasitos por histopatologia e por esfregao da
leso ulcerada (OLIVEIRA et al., 2010). Nos ltimos anos, tcnicas moleculares vm
sendo utilizadas para a deteco e identificao de Leishmania e se tornaram
importantes ferramentas no diagnstico da Leishmaniose, como por exemplo, a
amplificao de sequncias especficas de DNA extra-nuclear presentes no
cinetoplasto (kDNA) do parasito (GOMES et al., 2008; LUZ et al., 2009).
Mtodos imunolgicos so tambm utilizados no diagnstico da doena.
Dentre os exames imunolgicos, os testes sorolgicos e a Intradermorreao de
Montenegro (IRM) so os mais utilizados (PDUA VIDIGAL et al., 2008). A IRM
fundamenta-se na visualizao da resposta de hipersensibilidade celular tardia.
Geralmente persiste positiva aps o tratamento, ou cicatrizao da leso cutnea
tratada ou curada espontaneamente, podendo se tornar negativa nos indivduos
fraco-reatores e nos precocemente tratados (BRASIL, 2007).
Os testes sorolgicos tm sido empregados, com considervel
importncia, no diagnstico e em inquritos epidemiolgicos. A anlise de anticorpos
anti-Leishmania permite avaliar o curso evolutivo da infeco, bem como fornecer
dados sobre as caractersticas de sua resposta imune. Vrios perfis e nveis de
imunoglobulinas especficas a Leishmania tm sido detectados em pacientes com
Capa ndice
4274
LTA, parecendo refletir no s a carga parasitria, mas tambm a espcie envolvida,
o tempo de infeco e fatores intrnsecos do prprio hospedeiro (GUTIERREZ et al,
1991). Dentre os mtodos sorolgicos, a reao de Imunofluorescncia Indireta (IFI)
a mais utilizada. Trata-se de uma tcnica sensvel, porm com possibilidade de
reaes cruzadas especialmente com a Doena de Chagas e Leishmaniose
Visceral. Habitualmente negativa na forma cutnea difusa, sua sensibilidade foi
estimada em 71% nas formas cutneas e 100% na forma mucosa (GONTIJO &
CARVALHO, 2003).
Um dos problemas para se avaliar a imunidade contra a L. (V.)
braziliensis a dificuldade do isolamento desta espcie a partir de leses dos
pacientes. Isto faz com que no haja muitos estudos sobre o comportamento de
diferentes isolados da espcie de Leishmania mais importante para a doena no
Brasil. A infeco de animais experimentais com L. (V.) braziliensis foi pouco
investigada at o momento. Tais fatos se devem tambm pelo limitado nmero de
animais susceptveis e pela dificuldade em manter o parasito em cultura axnica, o
que dificulta a obteno de uma grande quantidade de leishmanias para a realizao
dos estudos. Portanto, devem ser destinados esforos para que se consiga isolar os
parasitos desta espcie para uma melhor caracterizao imunobiolgica e
planejamento de melhores medidas profilticas e teraputicas contra estes
parasitos.
Conforme descrito acima, diante das formas apresentveis da doena, da
variedade de espcies do gnero Leishmania envolvidas e dos diferentes
prognsticos que a doena pode tomar depender da espcie envolvida com o
hospedeiro, justifica-se a importncia das propostas deste trabalho pois, o
isolamento in vivo e in vitro permitir a obteno de espcies de Leishmania
prevalentes na regio centro-oeste que, por sua vez ,permitir conhecer melhor as
espcies envolvidas com a doena nesta regio.
2 OBJETIVOS
- Isolar parasitos, a partir de bipsia de leso cutnea de pacientes com
suspeita de LTA, em meio de cultura (ex vivo) ou em animais de experimentao (in
vivo) - camundongos C57Bl/6 deficientes em interferon gama (C57Bl/6 IFNKO),
comparando a eficincia das duas tcnicas;
Capa ndice
4275
- Analisar o comportamento biolgico dos isolados, quanto ao crescimento
in vitro em culturas axnicas e in vivo em camundongos BALB/c e C57Bl/6;
- Estocar os novos isolados no Banco Imunobiolgico das Leishmanioses
da Regio Centro-Oeste (Leishbank).
3 METODOLOGIA
3.1 Pacientes
Os pacientes que apresentavam suspeita de LTA atendidos no
ambulatrio de endemias do Hospital de Doenas Tropicais Anuar Auad (HDT) de
Goinia, Gois, entre janeiro de 2009 a junho de 2010. A LTA foi diagnosticada por
meio dos aspectos clnicos, dados epidemiolgicos e exames laboratoriais, sendo
estes o isolamento do parasito in vitro, a intradermorreao de Montenegro (IRM),
histopatolgico e imunofluorescncia indireta. O projeto associado ao projeto
Banco imunobiolgico (Leishbank) das leishmanioses da regio Centro-Oeste e
projetos associados, o qual foi aprovado pelo Comit de tica em Pesquisa Animal
e Humana do Hospital das Clnicas (HC/UFG) e todos os pacientes assinaram o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, para participarem da pesquisa
(Protocolo 126/04).
3.2 Camundongos
Camundongos isognicos, machos com idade entre 6 a 8 semanas, das
linhagens BALB/c, C57Bl/6 e C57BL/6 deficientes em interferon-gama (C57BL/6
IFN-KO) criados e mantidos no Biotrio do Instituto de Patologia Tropical e Sade
Pblica da Universidade Federal de Gois (IPTSP/UFG), foram usados neste
estudo.
3.3 Isolamento dos parasitos
Fragmentos de bipsias, obtidos da leso dos pacientes com suspeita de
LTA, eram macerados em 500 L de soluo salina tamponada com fosfato pH 7,3
(PBS, phosphate buffer saline), sendo que da suspenso 50 L eram inoculados no
Capa ndice
4276
coxim plantar de dois camundongos C57Bl/6 IFNKO (inculo nas duas patas
traseiras) e o restante da suspenso era incubada em uma garrafa de cultura de
clulas (Costar, Cambridge, MA, EUA), contendo 5 mL de meio Grace completo
(Graces Insect Medium, Sigma Chemical Co., St Louis, MD, EUA), suplementado
com 20% Soro Fetal Bovino (SFB, Cripion, Andradina, SP, Brasil) inativado, 2 mM
de L-glutamina (Sigma), 200 U/mL de penicilina (Sigma) e 200 g/mL de
estreptomicina (Sigma). A garrafa era incubada 26C, at o crescimento dos
parasitos (descarte aps 4 semanas se no houvesse crescimento). Aps 4 a 8
semanas do inculo, os animais eram sacrificados e as patas e os linfonodos
drenantes da leso (poplteo) eram retirados e macerados em PBS. Como na
primeira etapa com a bipsia, parte da suspenso celular resultante era cultivada em
garrafas de cultura de clulas 26C e parte era re-inoculada em novos
camundongos C57Bl/6 IFNKO, para manuteno do parasito in vivo.
3.4 Manuteno dos Parasitos in vitro e Criopreservao
Os parasitos eram mantidos in vitro em garrafas de cultura, em meio
Grace completo, suplementado com 20% de SFB inativado, 2 mM de L-glutamina
(Sigma), 200 U/mL de penicilina (Sigma) e 200 g/mL de estreptomicina (Sigma), em
estufa BOD 26C, sendo repicados pela primeira vez quando havia alta densidade
de parasitos. Aps a adaptao s culturas in vitro, os parasitos passaram a ser
repicados iniciando a cultura com 5 x 105 parasitos/mL ou com 1 x 106 parasitos/mL
(em caso de isolados que apresentavam menor taxa crescimento in vitro). A
quantificao dos parasitos era realizada, aps diluio de uma alquota da cultura
em formalina 2%, em hematocitmetro. Os parasitos foram criopreservados em
nitrognio lquido, em fase logartmica do crescimento, para isto 1 x 107 parasitos/mL
eram adicionados a uma mistura contento 10% de dimetilsulfxido (DMSO, Sigma) e
80% de SFB sendo, em seguida, transferidos para -80C por dois dias e depois
eram estocados em nitrognio lquido e armazenados neste local at o uso
(Leishbank, Banco Imunobiolgico das Leishmanioses da Regio Centro-Oeste,
IPTSP/UFG).
3.5 Caracterizao biolgica dos isolados de Leishmania
Capa ndice
4277
3.5.1 Curva de crescimento dos parasitos in vitro
Os parasitos foram cultivados em meio Grace completo 26C em
garrafas de cultura, iniciando a cultura com 1 x 106 parasitos/mL. As curvas de
crescimento in vitro foram feitas em triplicata, sendo o crescimento avaliado por
contagem diria do nmero de parasitos em hematocitmetro, durante 12 dias de
cultivo. A quantidade de parasitos foi expressa em nmero de parasitos/mL. Para
cada parasito foram determinadas a fase logartmica e a estacionria do
crescimento, as quais so caracterizadas, respectivamente, pelas formas procclicas
e metacclicas (infectantes) dos parasitos. Foram preparadas lminas contendo os
parasitos, usando citocentrfuga Fanem (1x 106 parasitos/100 uL de meio Grace
Completo, 400 rpm, 50 segundos), as quais foram coradas usando kit Instant Prov
(Pinhais, PR, Brasil), sendo visualizadas e fotografadas sob microscopia de luz.
3.5.2 Curva de crescimento dos parasitos in vivo
Os parasitos, no sexto dia de cultivo, foram inoculados na pata traseira
direita de camundongos das linhagens C57Bl/6 e BALB/c (5 x 105 parasitos por pata
/50 L). Para cada isolado foram usados 10 animais, sendo cinco de cada linhagem.
Aps o inculo, foi acompanhado semanalmente o tamanho das patas desses
animais com o auxlio de um paqumetro. Os dados representam o tamanho da
leso, sendo a mdia das diferenas entre as patas infectadas (pata direita) e as
patas controles no inoculada (pata esquerda). Quando as patas apresentavam
leso de 5 mm, leso ulcerada ou os animais atingiam 12 semanas de crescimento,
os animais eram sacrificados.
4 RESULTADOS E DISCUSSO
4.1 Obteno dos isolados de Leishmania sp
Entre janeiro de 2009 a junho de 2010 foram processadas 40 amostras
de fragmentos de bipsias obtidas de leso cutnea ou de leso mucosa de
pacientes com suspeita de LTA atendidos no ambulatrio de endemias do Hospital
de Doenas Tropicais Anuar Auad, Goinia, GO. Destes, foram confirmados o
Capa ndice
4278
diagnostico de LTA em 35 pacientes, dois pacientes no retornaram com os
resultados dos exames (NC) e trs apresentavam outras patologias, erisipela,
eczema meato nasal e hansenase.
Os provveis locais de contgio desses pacientes foram os Estados do
Acre (1), Amazonas (1), Gois (18), Maranho (2), Mato Grosso (8), Par (3),
Rondnia (2), Tocantins (1) e Roraima (1). A idade dos pacientes variou entre 13 e
75 anos de idade.
Do total de casos confirmados, 29 pacientes realizaram o histopatolgico.
Neste exame foi possvel a visualizao de formas amastigotas em 17 casos. A IRM
foi realizada em 26 casos confirmados e foi positiva em 18 casos, enquanto que na
IFI de 23 casos confirmados apenas nove casos foram positivos nessa metodologia
(Tabela 1).
Tabela 1. Freqncia absoluta de LTA detectada por diferentes mtodos de diagnstico.
Culturaa Camundongob Histopatolgicoc IRMd IFIe
Positivos
5
3
17
18
9
Negativos
30
32
12
8
14
Totalg
35
35
29
26
23
Em 35 pacientes foram confirmados o diagnstico de LTA por pelo menos um dos exames laboratoriais; a Observao de crescimento de parasito em meio Grace a partir do processamento de bipsias; b Observao do desenvolvimento de leso na pata inoculada por macerado de bipsia; c Observao de amastigotas; d Intradermorreao de Montenegro (IRM) mensurada aps 48 horas da injeo na intraderme de antgeno de L. (L.) amazonensis com dimetro da indurao maior que 5 mm; e Imunofluorescncia indireta (IFI) com ttulo acima de 40; f Total de pacientes confirmados o diagnstico para LTA que foram submetidos ao mtodo de diagnstico especificado.
Dos pacientes com o diagnstico confirmado para LTA, em seis deles
foram isolados parasitos (DLP9, JM9, ORN9, PPP9, RFJ9, SPC10), dentre estes
cinco foram isolados ex vivo (DLP9, JM9, ORN9, PPP9, SPC10), um foi isolado
apenas in vivo (RFJ9) e dois foram isolados tanto ex vivo quanto in vivo (DLP9,
ORN9). O paciente SPC10 apresentou a cultura in vitro positiva, entretanto houve
contaminao por leveduras e no foi possvel estocar este isolado no Leishbank.
Os dados dos pacientes, bem como dos parasitos, foram catalogados no
Leishbank. Como pode ser observado na Tabela 2 os isolados foram codificados
como MHOM/BR/2009/DLP, MHOM/BR/2009/JM, MHOM/BR/2009/ORN,
MHOM/BR/2009/PPP, MHOM/BR/2009/RFJ. Os isolados JM9 e PPP9 so de
pacientes que relatam o estado de Gois como provvel local de infeco. Para os
Capa ndice
4279
isolados DLP9, ORN9 e RFJ9, o local provvel de infeco so os Estados do
Maranho, Roraima e Amazonas, respectivamente. A forma clnica de LTA foi
leishmaniose cutnea (LC) para todos os isolados. Todos os isolados obtidos so de
pacientes do sexo masculino, a idade variou entre 19 e 63 anos com mediana de
45,5 anos (Tabela 2).
A maioria dos pacientes que apresentaram a cultura in vitro ou in vivo
positiva (5) mora em zona rural e mantm contato com locais de circulao do
agente etiolgico desta doena em ambientes silvestres como reas ribeirinhas,
reas de mata fechada e de desmatamento, fazendas e um paciente (RFJ9) mora
em zona urbana, porm adquiriu a doena aps manter contato com rea endmica
na regio Amaznica.
Tabela 2. Dados dos isolados de Leishmania sp.
Isolado LTA Local de contgio Sexo Idade
(anos)
MHOM/BR/2009/RFJ LC Regio Amaznica Masculino 35
MHOM/BR/2009/DLP LC Ribamar (MA) Masculino 63
MHOM/BR/2009/ORN LC Cacoal (RO) Masculino 19
MHOM/BR/2009/JM LC Aruan (GO) Masculino 45
MHOM/BR/2009/PPP LC Acrena (GO) Masculino 46
MHOM/BR/2010/SPC LC Orizona (GO) Masculino 63
O isolamento ex vivo foi positivo em 14% das amostras dos pacientes
com casos confirmados, enquanto que o isolamento in vivo foi positivo em apenas
9% destas amostras. BOTELHO et al. (2007) obtiveram resultados que esto de
acordo com nossos dados. Em um total de 41 bipsias processadas foram obtidos
nove novos isolados in vitro e apenas um isolado in vivo, apresentando uma
eficincia de 22,5% e 2,5%, respectivamente.
Neste estudo alguns fatores interferiam na obteno isolados de
Leishmania sp. Freqentemente ocorria contaminao da cultura por fungos e/ou
bactrias impossibilitando o isolamento in vitro. No isolamento in vivo, ou os animais
morriam ou ento a leso na pata dos camundongos no se desenvolvia e isso
tambm dificultou o isolamento de Leishmania sp. JOELMA et al. (2008)
apresentaram resultados diferentes dos nossos, a tcnica de isolamento in vivo foi
mais eficiente na obteno de isolados do que