Post on 07-Nov-2018
Prof.ª Maria Aparecida da Silveira
Disciplina: Modernidade e Envelhecimento 3º e 5ºsemestre – Serviço Social –Unicastelo –
2013
* Unidade 2: Contexto do Envelhecimento na modernidade
* 2.1 - Sociedade Moderna, Estado e Envelhecimento
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Modernidade e VelhiceTexto é baseado na tese de doutorado da Professora Vera Lúcia
Valsechhi de Almeida “Visualidade e Mundo Moderno: imagens da Velhice – 1999.
Questão Interrogativa: O que é a Velhice? (banca de qualificação)
Algumas pessoas consideradas velhas não o eram verdadeiramente: Ex.: Ulisses Guimarães, Edgar Morin (92), Oscar Niemayer (morreu aos 105 anos em plena atividade produtiva)....
Será que teríamos uma idade a partir da qual o indivíduo pode ser considerado velho ou idoso?
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Modernidade e Velhice
Edgar Morin, pseudônimo de Edgar Nahoum (Paris, 8 de Julho 1921), é um antropólogo, sociólogo e filósofo francês de origem judia.
Pesquisador emérito do CNRS (Centre National de la Recherche Scientifique). Formado em Direito, História e Geografia, realizou estudos em Filosofia, Sociologia e Epistemologia. Autor de mais de trinta livros, entre eles: O método (6 volumes), Introdução ao pensamento complexo, Ciência com consciência e Os sete saberes necessários para a educação do futuro.
Edgar Morin
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Modernidade e VelhicePara além da idade, há outras dimensões que devem
ser acionadas – um alerta para a fragilidade de uma concepção unilateral:
Referência ao vigor físicoAgilidade mentalDecrepitude física e ao comprometimento das funções
cognitivas
• Essa concepção evidencia a nossa dificuldade de pensar a velhice a partir de outros referencias que não estão ligados a “perdas” ou a “déficits”. Pág 37 – ideário de “velhice” (Ulisses Guimarães).
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Modernidade e VelhiceImagem positiva de velhice escapa ao nosso ideário – “fora
do lugar”. Como os velhos atípicos não são tão raros assim, preferimos vê-los como “pessoas que nunca envelhecem”, como “velhos jovens” ou como “idosos por idade mas jovens de corações e mentes”.
Ex.: Obra Velha Dama de Bertold Brecht (1898/1956) – pág. 37 – velha indigna – viúva
“Ela parecia ter encerrado a sua vida de família, e percorrer agora novos caminhos para os quais se sentia inclinada... Sofrera longos anos de servidão e gozara os breves momentos de liberdade”... (Brecht, 80/81)
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A Velhice como categoria social Homem universal → fruto do meio social onde está inserido → capacidade de
aprendizagem, adaptabilidade para viver os diferentes modos de vida. Edgar Morin (1975) é no “incabamento final” que reside uma das principais
características da espécie humana: Homo sapiens: Processo da evolução humana
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A Velhice como categoria social Featherstone (1998:12): “nas sociedades modernas há mais tentativa de demarcar a vida,
dividindo-a em estágios dentro de uma ordem cronológica: infância, adolescência e velhice ↔ etapas singulares da vida do indivíduo.
Século XIII – infância separada da vida adulta – marcada pela dependência
Século XIX – Adolescência ganha especificidade → fase crítica de transição entre a infância e idade adulta (Ocidente – para determinadas situações de classe).
Velhice: construção recente, configurada nas relações entre trabalho e capital dentro do modo de produção capitalista.
Joel Birman (1995: 33) “Estando em pauta a possibilidade sócio-política de reprodução e acumulação.....” Pág 40
O valor do indivíduo é medido por sua produtividade; nelas a individualidade é anacrônica* → fundada no princípio da identidade, sem o qual não existiria a troca, a economia capitalista é avessa à diferença. Pág. 41 : ...pois reduz ....
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A Velhice como categoria social Na economia capitalista, pensada por Georg Simmel como economia monetária, o
dinheiro: se refere unicamente ao que é... Pág. 41
Portanto na sociedade moderna: a velhice é sinônimo de recusa e banimento – segregação do convívio social e/ou outras vezes formas de tratamento sutis, cercadas de cinismo: palavras no diminutivo – atribui-lhes uma condição de menoridade – negação do sujeito.
Ecléa Bosi: “a sociedade industrial é maléfica para a velhice....” Pág. 42
Edgar Morin: “O ancião prudente converte-se no velhinho aposentado.....” pág. 42
A sociedade capitalista se constroi em torno de um ideário no qual a juventude ocupa o lugar central: vitalidade física e do pleno gozo das capacidades intelectuais e produtivas → resultado temos o mito da eterna juventude.
Renato Mezan (psicanalista) entende que: “O sonho da eterna juventude,..... Pág. 43 → resultado temos os “adultescentes”: adultos na faixa dos 40 anos com comportamento de adolescentes: roupas, estado de espírito adolescente: carecas de rabinho e patins, flácidos tatuados, avós surf praianos, dentre outros → culto do EU narcisista do mundo moderno valorizado e admirado pela beleza, encanto, celebridade e poder – atributos que declinam com o passar do tempo.
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A Velhice como categoria social Concepção de culto ao belo e jovem, reforça a cultura do consumo, como afirma
Featherstone em 1998: Pág. 44.
Assim a velhice dentro da categoria social, destina-se a um tempo, espaço e lugar: o tempo do idoso é passado: é o não lugar na sociedade moderna. Na modernidade há incompatibilidade entre velhice, presente e futuro.
Aos “velhos cabe apenas o presente”, qualquer aproximação entre a velhice e projeto de vida soa estranho aos ouvidos modernos, ou seja, ao idoso é negado a ideia de projeto de vida. Algo contraposto por Paulo Freire (1993) que dizia:
“É inviável para o ser humano continuar, se ele pára de pensar no amanhã. Não importa que seja um pensamento em torno do amanhã o mais ingênuo possível, o mais imediato, não importa. O que importa é que somos seres de tal maneira construídos que o presente, o passado e o futuro nos enlaçam.
Vera Lúcia, destaca: Caminhando nas margens das “águas revoltas do presente” e carregando as marcas do tempo duração, a velhice é o outro indesejado, espelhando o não ser da sociedade contemporânea. (....) A mesma sociedade que construiu a velhice transformou-a em um problema social, numericamente expresso.
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A Velhice como categoria social Problema social: na prática política e nos diversos níveis
da organização do Estado o envelhecimento da população é trabalhado em um contexto de inquietações, dentre elas vale destacar: a gestão administrativa dos serviços de saúde nos três níveis, além da remuneração da velhice, através de pensões, aposentadorias e outros benefícios.
Velhice como uma “questão social” : Debert pág. 46
Antropologia: é importante a compreensão dos mecanismos que contribuíram para que a velhice viesse a se constituir como uma categoria social singular e das representações, a ela associadas, com esta autonomização.
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Entre o visível e o visual A modernidade: produziu a velhice e ao mesmo tempo criou condições para que
ela fosse vivida mais longamente:
“Os avanços da medicina, o diagnóstico precoce e a prevenção de determinadas doenças, a ampliação das possibilidades de acesso aos serviços de saúde, a generalização dos serviços de saneamento básico, a alteração nos hábitos alimentares e de higiene, a prática de exercícios físicos, dentre outros fatores, contribuíram decisivamente para o aumento da “esperança de vida” (Carvalho, Almeida et alii, 1998:14)
Para alguns estudiosos este novo perfil demográfico trouxeram maior visibilidade da velhice. Segundo Birman:
“Na atualidade se processam transformações importantes nas relações estabelecidas pela sociedade com a velhice na nossa tradição cultural. A velhice passa a ser objeto de cuidado e atenção especiais [...] Parece que começou a se realizar no Brasil de maneira lenta um processo que indica uma reviravolta importante na relação de nossa cultura com a velhice [...] (ela) passa a receber um olhar e um início de reconhecimento social que não existe na memória da modernidade. (1995: 35-6)
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Bibliografia
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ALMEIDA, Vera Lúcia Valsecchi de. Modernidade e Velhice. In: Velhice e Envelhecimento. Revista Serviço Social e Sociedade, N. 75 Especial. São Paulo: Cortez 2003.