Diretrizes e novo modelo Pastoral (DGAE 2011 2015)

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Diretrizes e novo modelo Pastoral (DGAE 2011 2015)

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DIRETRIZES E NOVO MODELO DE PASTORAL

1

As atuais Diretrizes Gerais respondendo ao apelo de Aparecida,

propõem levar adiante a renovação do Concílio Vaticano II.

2

Afirma Aparecida: “… tem nos faltado coragem, persistência e

docilidade à graça para levar adiante a renovação iniciada pelo Concílio Vaticano II, e impulsionada pelas anteriores Conferências Gerais

e para assegurar o rosto latino-americano e caribenho de nossa Igreja” (100h).

3

Prova disso, são “… algumas tentativas de voltar a uma eclesiologia e espiritualidade

anteriores à renovação do Vaticano II” (100b).

4

As DGAE, com Aparecida e na perspectiva do Vaticano II propõem uma conversão pastoral - uma mudança de modelo de ação:

“A conversão pastoral de nossas comunidades exige ir mais além de uma pastoral de mera conservação; passar para uma pastoral decididamente missionária” (n. 370).

5

As cinco Urgências das DGAE são cinco frentes de ação que compõem

um modelo de pastoral, que supera modelos ultrapassados

ou inconsequentes com o atual tempo de profundas mudanças.

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1. Modelos inconsequentes com os novos desafios do momento presente

Um modelo ultrapassado:

a pastoral de conservação (de cristandade)

Apesar de superado pelo Concílio Vaticano II, ela continua vigente na Igreja e existe há mais de mil anos. 7

Funciona centralizado no padre e na paróquia.

Para a maioria dos católicos,

é o único espaço de contato com a Igreja.

8

Em sua configuração pré-tridentina, a prática da fé é de cunho devocional, centrada no culto aos santos, novenas, procissões, romarias e promessas.

Já em sua configuração tridentina, a vivência cristã gira em torno do padre, baseada na recepção dos sacramentos e na observância dos mandamentos da Igreja.

9

Pressupõe-se cristãos evangelizados, mas são católicos não convertidos, sem iniciação à vida cristã.

A recepção dos sacramentos salva por si só, concebidos como “remédio” ou “vacina espiritual”.

Em lugar da Bíblia, coloca-se na mão do povo o catecismo da Igreja; em lugar de teologia enquadra-se os fiéis na doutrina.

10

No seio de uma paróquia territorial:

● em lugar de fiéis, há clientes;

● o administrativo predomina sobre o pastoral; ● a sacramentalização sobre a evangelização; ● o pároco sobre o bispo; ● o padre sobre o leigo; ● o rural sobre o urbano; ● o pré-moderno sobre o moderno; ● a massa sobre a comunidade.

11

Dois modelos fundados em falsas seguranças em meio à crise

a pastoral apologista (de neocristandade)

A pastoral apologista assume a defesa da instituição católica, bem como a guarda das verdades da fé, no modo como foram formuladas pela escolástica.

12

À desconstrução dos metarrelatos, que gera vazio, contrapõe-se o “porto de certezas” da tradição religiosa.

13

Em lugar do Vaticano II, que se rendeu

à modernidade, contrapõe-se a tradição anti-moderna que excomungou em bloco a modernidade.

Assume uma postura apologética e apóia-se numa “missão centrípeta”: sair para fora da Igreja e trazer de volta as “ovelhas desgarradas” para dentro dela.

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Numa atitude hostil frente ao mundo, cria seu próprio mundo, uma espécie de “sub-cultura eclesiástica”.

No seio qual, pouco a pouco se sentirá a necessidade de vestir-se diferente, morar diferente, evitar os diferentes, conviver entre iguais, em típica mentalidade de seita ou gueto.

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a pastoral secularista (de pós-modernidade)Trata-se de uma religiosidade que se propõe responder às necessidades imediatas das pessoas, em sua grande maioria, órfãs de sociedade e de religião.

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É integrada por pessoas em crise de identidade, machucadas,

em busca de auto-ajuda, desesperançadas.

Estão habitadas por um sentimento de impotência diante dos inúmeros obstáculos a vencer, tanto no campo material como no plano físico e afetivo.

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São pessoas buscando solução a seus problemas concretos e apostando em saídas providencialistas e imediatas.

Nestes meios, há um encolhimento da utopia no momentâneo: “eu quero ser feliz, aqui e agora”!

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Dado que o passado perdeu relevância e o futuro é incerto, o corpo é a única referência da realidade presente, deixando-se levar pelas “sensações”, professando uma espécie de “religião do corpo”.

Confunde-se salvação com prosperidade material, saúde física e realização afetiva.

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É a religião a la carte: Deus como objeto de desejos pessoais.

Solo fértil para os mercadores da boa fé, no seio do atual próspero e rentável mercado do religioso.

A religião já é o produto mais rentável do capitalismo.

20

Há um deslocamento da militância para a mística na esfera da subjetividade individual, do profético ao terapêutico e do ético ao estético.Uma estranha combinação de “confissão de fé” e “afirmação narcisista”, típica de um sujeito ameaçado.

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Neste contexto, a mídia contribui para a banali-zação da religião, reduzindo-a à esfera privada e a um espetá-culo para entreter o público.

Também a religião passa a ser consumis-ta, centrada no indivíduo e na degustação do sagrado, entre a magia e o esoterismo.

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Um modelo defasado:

a pastoral liberacionista (de encantamento com a modernidade)

Se reivindica da renovação do Concílio Vaticano II e da profética tradição latino-americana, a resposta mais avalizada à crítica da religião como alienação ou ópio do povo.

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Não quer perder de vista a indissociável conversão pessoal e das estruturas, que exige a militância dos cristãos também na esfera política, a partir da opção preferencial pelos pobres.

Não quer deixar a parceria com os movimentos sociais, que permitiu avanços nas políticas públicas de inclusão de amplos segmentos da população.

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Com a crise das utopias, a fragmentação do tecido social, dos ideais comunitários e o surgimento de novos rostos da pobreza, a pastoral liberacionista, sem as suas mediações históricas, sofreu um grande revés.

Em meio à perplexidade do presente, em lugar de tirar lições e buscar novas mediações, tende-se a minimizar ou mesmo a negar as mudanças atuais.

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Continua priorizando, quando não de modo exclusivo, a promoção de mudanças estruturais e a atuação no âmbito político e social.

Qualquer mudança é retrocesso. Questões mais ligadas à esfera da pessoa, à realização pessoal, autonomia, à dimensão sabática da existência, à experiência pessoal do sagrado, são tidas como preocupações burguesas.

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2. O grande desafio atual: desvencilhar-se do passado, mas guardando uma preciosa herança

Em tempos de mudanças, é preciso “virar a página”, não para trás (tradição tridentina), mas para frente.

Vaticano II e tradição latino-americana, estão longe de ser “páginas viradas”.

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A Igreja na América Latina fez do Vaticano II, sobretudo, um ponto de partida. Foram dados importantes passos, que continuam válidos ainda hoje.

Um novo paradigma pastoral para um tempo de mudanças, capaz de interagir com o mundo de hoje, acena para passagem:

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● dos dualismos corpo-alma, material-espiritual, sagrado-profano a uma antropologia unitária, que une evangelização e promoção humana;

● da missão como implantação da Igreja à encarnação do Evangelho (evangelização inculturada);

● da mera recepção dos sacramentos a processos de iniciação à vida cristã de estilo catecumenal;

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● da Igreja-massa a uma Igreja de pequenas comunidades acolhedoras e aconchegantes;

● da centralização na matriz a uma Igreja rede de comunidade de comunidades;

● do aumento do tamanho dos templos à multiplicação das pequenas comunidades;

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● de comunidades territoriais a comunidades por eleição e afeto;

● o monopólio clerical ao protagonismo dos leigos (das mulheres);

● do catecismo à Bíblia (centralidade da Palavra);

● da doutrinação à formação teológico-pastoral permanente, etc.

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● do exclusivismo católico, ao diálogo ecumênico e inter-religioso; ● de uma postura apologética, a uma Igreja em diálogo com o mundo

● de um Deus todo poderoso, que esmaga os inimigos, a um Deus Amor, impotente diante da liberdade humana.

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Da tradição latino-americana, um novo paradigma pastoral há de guardar:

de Medellín (1968) ● a opção pelos pobres; ● uma evangelização libertadora;● uma Igreja pobre e rede de CEBs;

● conversão pessoal e das estruturas;● uma reflexão teológica articulada com as práticas proféticas.

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de Puebla (1979) ● a prioridade da atenção aos jovens; ● a evangelização como inculturação do evangelho.

de Santo Domingo (1992) ● a necessária conversão pastoral;● o protagonismo dos leigos.

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de Aparecida (2007) ● chegar às pessoas, através de processos de iniciação cristã;● uma Igreja toda ela em estado de missão; ● a missão como irradiação do Evangelho e não proselitismo;

● a ratificação da opção pelos pobres (hoje: supérfluos e descartáveis);

● o protagonismo das mulheres na Igreja.

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3. O futuro da Igreja

Em meio aos escombros da modernidade, estão também as religiões institucionalizadas, o catolicismo.

O teólogo Joseph Ratzinger, em sua obra Fé e Futuro, de 1970, se perguntava como seria a Igreja na aurora do novo milênio.

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Naquele momento, olhando para o futuro, parecia-lhe certo:

“para a Igreja estão iminentes tempos muito difíceis. Sua crise verdadeira mal começou. Temos de contar com grandes abalos”.

Realista, previa que: “da crise de hoje, sairá amanhã uma Igreja que perdeu muito”.

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Ao contrário dos que apostam numa Igreja-massa, a volta da Igreja barroca, para o teólogo Ratzinger, a Igreja no novo milênio: “será pequena e, em grande parte, deverá começar do início. Ela não poderá encher muitas das construções que foram criadas no período de grande esplendor”.

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Dizia-se inteiramente certo que: “o processo será longo e penoso”.

Também daquilo que, afinal, vai restar: “não a Igreja do culto ritualista e social, “mas a igreja da fé”; “uma Igreja interiorizada”; “uma Igreja pobre e dos pequenos”; “uma comunidade de voluntários”, apoiada “na iniciativa de seus membros”.

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Como “comunidade pequena”, conhecerá “novas formas de ministérios e elevará ao sacerdócio, cristãos comprovados, que têm profissão”.Na sociedade secularista da aurorado terceiro milênio,

“as pessoas, solitárias, quando Deus tiver completamente desaparecido, hão de experimentar sua pobreza completa, horrível”.

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E então,

“hão de descobrir a pequena comunidade dos que crêem como algo inteiramente novo,

como uma esperança que lhes diz respeito, como uma resposta pela qual ocultamente sempre perguntaram”.

41

E estas pequenas comunidades vão

“reflorir e aparecer à humanidade como pátria que lhes dá vida e esperança para além da morte”.

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