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Diretoras do Instituto de Educação Presidente Kennedy
(Rio Grande do Norte, 1965 - 1975)
Maria Claudia Lemos Morais do Nascimento (UFRN)
E-mail: claudia_lemos_@hotmail.com
Maria Arisnete Câmara de Morais (UFRN)
E-mail: maria.arisnete@pq.cnpq.br
RESUMO
A pesquisa analisa as Práticas das Professoras Diretoras que dirigiram o Instituto de
Educação Presidente Kennedy em Natal, Rio Grande do Norte, entre (1965 – 1975).
Insere-se na temática da História das Instituições escolares e da formação de
professores. Fundamenta-se nos pressupostos da História Cultural de (CHARTIER,
1990), (MORAIS, 2002; 2003; 2006), dentre outros autores. Realizamos a coleta de
dados no acervo do Instituto Superior de Educação Presidente Kennedy e no acervo do
Grupo de Pesquisa História da Educação, Literatura e Gênero/UFRN. Entre a presença
das Professoras analisadas, destaco: Francisca Nolasco Fernandes, primeira Diretora da
Escola Normal de Natal, nomeada em 30 de setembro de 1952; Crisan Siminéa, diretora
da Instituição entre os anos de 1967 a 1970; Ezilda Elita do Nascimento, diretora da
unidade Escola de Aplicação entre 1963 a 1968; Teresinha Pessoa Rocha, diretora do
Jardim de Infância entre 1960 a 1970 e Maria Arisneide de Morais entre os anos de
1970 a 1975. O estudo evidenciou que estas professoras fazem parte das primeiras
diretoras do Instituto de Educação Presidente Kennedy e por, a partir delas,
especificamente na figura de Dona Francisca Nolasco Fernandes, observarmos o
estabelecimento de um novo quadro de gestão predominantemente feminino. Esse
trabalho justifica-se pelo nosso interesse em conhecer e analisar o papel dessas mulheres
frente à educação.
Palavras-Chave: História da Educação. Instituições escolares. Diretoras.
Palavras Iniciais
Este trabalho faz parte do Projeto História da Leitura e da Escrita no Rio
Grande do Norte (1910-1980)/CNPq, vinculado ao Grupo de Pesquisa História da
Educação, Literatura e Gênero (MORAIS, 2014). A relevância em pesquisar a atuação
das Professoras/Diretoras do Instituto de Educação Presidente Kennedy justifica-se pelo
nosso interesse em conhecer e analisar o papel dessas mulheres frente à educação. Esta
investigação pretende contribuir para a historiografia da educação no Brasil e, em
especial, no estado do Rio Grande do Norte.
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Entre a presença das diretoras, destacamos: Francisca Nolasco Fernandes,
primeira Diretora da Escola Normal de Natal, nomeada em 30 de Setembro de 1952 a
30 de Janeiro de 1956; e na segunda gestão de 24 de Março de 1959 a 1966; Crisan
Siminéa em 1967 a 1970; Ezilda Elita do Nascimento, diretora da unidade Escola de
Aplicação, entre os anos de 1963 – a 15 de março de 1968; Teresinha Pessoa Rocha,
diretora do jardim de infância entre os anos de 1960 a 1970 e Maria Arisneide de
Morais, diretora da Escola Normal entre 1971 a 1975. O Instituto de Educação
Presidente Kennedy consolidou-se como responsável pelo preparo dos mestres
primários no Rio Grande do Norte.
O trabalho fundamenta-se metodologicamente nas teorizações de Chartier
(1990) que evidencia a importância do estudo sobre as práticas para a compreensão de
uma realidade social numa perspectiva histórica. O conceito de representação postulado
por este autor nos permite entender as práticas das referidas diretoras/professoras como
a representação de uma realidade vivenciada pelas diretoras. Essa representação se
configurava na maneira como administravam o Instituto de Educação Presidente
Kennedy no período analisado.
Desta forma, também entendemos que os “atores envolvidos no processo
educativo” conforme assinala Gatti Júnior (2002), são representados pelas professoras
estudadas. Nessa perspectiva, se torna indispensável a análise do cotidiano do espaço
materializado no Instituto de Educação Presidente Kennedy, buscando configurar as
práticas dessas gestoras nos diversos acontecimentos que ajudaram a reconstituir em
parte suas trajetórias profissionais vividas na referida instituição.
Na busca por fontes documentais acerca das práticas das diretoras e professoras
Francisca Nolasco Fernandes, Crisan Siminéa, Ezilda Elita do Nascimento, Teresinha
Pessoa Rocha e Maria Arisneide de Morais, pesquisamos nos arquivos do Instituto de
Educação Superior Presidente Kennedy (atual nomenclatura da Instituição), no Arquivo
Público do Estado do Rio Grande do Norte e no Acervo do Grupo de Pesquisa História
da Educação Literatura e Gênero e também nos acervos disponíveis das professoras
estudadas.
Nesses acervos dialogamos com – Livro de informações sobre a Escola Normal
de Natal, resumo das atividades da secretaria de Educação e Cultura do período entre
1964-1965; e planos para o ano de 1966, fotografias, registros de cursos, diplomas das
educadoras e dos acervos pessoais disponíveis. Fizemos, ainda, uma entrevista com a ex
diretora Maria Arisneide de Morais, realçando as suas atividades enquanto diretora do
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Instituto de Educação Presidente Kennedy. Pesquisamos ainda no livro Menina feia e
amarelinha (FERNANDES, 1973) que forneceu informações sobre a atuação da
Diretora Francisca Nolasco Fernandes. Estes documentos permitiram o conhecimento
das atividades desenvolvidas nesse estabelecimento de ensino, sob a coordenação das
referidas educadoras. Tomar as práticas dessas professoras e diretoras como objeto de
pesquisa, significa também estudar importantes acontecimentos que nortearam o
contexto educacional do Rio Grande do Norte.
Sobre o Instituto de Educação Presidente Kennedy
O Instituto de Educação Presidente Kennedy foi construído e inaugurado em
22 de novembro de 1965. Essa realização se deu no Governo Aluísio Alves, com
investimentos advindos do convênio firmado entre o Estado/ Superintendência do
Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), Ministério da Educação (MEC) e a Aliança
para o Progresso/United States Agency for International Development (USAID).
Destinou-se à instalação da Escola Normal de Natal, à Escola de Aplicação, ao Jardim
de Infância, bem como a criação de aperfeiçoamento de professores e cursos de
especialização.
O Instituto de Educação Presidente Kennedy, no final do ano de 1966, formava
a sua primeira turma, conferindo aos formandos o diploma de professor primário,
assinado pelo secretário de Educação Jarbas Bezerra e Francisca Nolasco Fernandes de
Oliveira – Dona Chicuta – diretora (MORAIS, 2006). Dona Chicuta, foi a primeira
mulher a dirigir a Escola Normal de Natal, após sete direções masculinas, e esteve a
frente dessa instituição entre os anos de 1952-1956 e 1959-1966, período de mudanças
de espaço, estrutura e nomenclatura - Instituto de Educação e, posteriormente passou a
se chamar Instituto de Educação Presidente Kennedy.
Além de Dona Francisca Nolasco Fernandes, enfatizamos nesse trabalho a
presença feminina nas direções do Instituto Kennedy, seja na direção geral, seja nas
direções das suas unidades: Escola Normal de Natal, Escola de Aplicação e Jardim de
Infância. A presença das professoras/diretoras: Crisan Siminéa (diretora geral), Ezilda
Elita do Nascimento (diretora da Escola de Aplicação), Teresinha Pessoa Rocha
(diretora do Jardim de Infância) e Maria Arisneide de Morais (diretora geral da Escola
Normal de Natal) que atuaram nessa Instituição e contribuíram para o funcionamento e
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consolidação deste espaço de formação de professores, durante a primeira década de seu
funcionamento.
Francisca Nolasco Fernandes
Francisca Nolasco Fernandes, filha de Pedro Nolasco de Sena e Paulina Maria
da Conceição, foi Educadora, escritora e jornalista; nasceu em Jardim de Piranhas,
Caicó, Rio Grande do Norte em 15 de Dezembro de 1908. “Caicó, sua cidade natal, está
sempre presente nos seus textos, nas suas memórias.” (MORAIS, 2006, p. 35). Aspectos
que a mestra Francisca Nolasco revive em suas crônicas e reminiscências.
Dona Chicuta, foi a primeira mulher a dirigir a Escola Normal de Natal, após
sete direções masculinas, e esteve a frente dessa instituição entre os anos de 1952-1956
e 1959-1966, inclusive quando essa instituição passou a funcionar no Instituto de
Educação Presidente Kennedy. As marcas desse período de significativas mudanças,
nos usos e costumes da sociedade natalense, são abordadas no livro de Morais (2006),
intitulado Chicuta Nolasco Fernandes, intelectual de mérito.
Foto 1 – Dona Chicuta Nolasco entre as normalistas no Instituto de Educação – Atualmente E.
E. do Atheneu Norte – Riograndense (Década de 1950).
Fonte: Aquino (2007).
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De professora à primeira Diretora. Em 04 de Junho de 1951 Dona Chicuta foi
nomeada professora da Escola Normal da cadeira Português. Assim foi a história de sua
admissão como professora dessa instituição:
Segundo suas reminiscências, naquele tempo as pessoas alcançavam o
magistério por três caminhos: a) tempo útil de serviço público; b)
mérito provado no magistério; c) um bom pistolão. Ela, embora
relutante, incentivada pelo então diretor da Escola Normal, o professor
Clementino Câmara, embarcou na categoria C. (MORAIS, 2006, p.
64).
O ato de nomeação como Diretora da Escola Normal de Natal, saiu no Diário
Oficial de 30 de setembro de 1952, conforme o artigo 86 do decreto-lei n. 123 de 28 de
Outubro de 1941, ocupando a vaga existente deixada pelo professor Clementino
Hermógenes da Silva Câmara.
Francisca Nolasco Fernandes conquistou uma postura de educadora
competente, dedicada e atuante frente a instituição que tanto se orgulhara de fazer parte.
“Na direção da Escola Normal, entre as metas da professora Chicuta Nolasco Fernandes
estava a valorização das professorandas, a partir mesmo do uso do uniforme completo.”
(MORAIS, 2006, p. 82).
Dignificar e enaltecer a figura da normalista foram palavras de ordem
entre os objetivos da educadora Chicuta Nolasco Fernandes. Pretendia
despertar nas suas alunas a consciência da sua valorização
profissional, a dignidade da carreira escolhida e o seu papel relevante
na sociedade. ‘Elas estão por aí, formadas, mais de setecentas, durante
a minha gestão’ (MORAIS, 2006, p. 83).
O depoimento do então Suplente de Senador e ex Secretário de Educação do
Rio Grande do Norte, João Faustino, durante o governo Tarcísio de Vasconcelos Maia,
mostrou bem o lado competente e dinâmico de Chicuta Nolasco:
Na condição de secretária cuidava dos meus afazeres e torcia todos os
dias pelo sucesso do nosso trabalho, redigia a minha correspondência
pessoal e em cada carta respondida, sempre com a linguagem limpa e
perfeita, existia uma lição de amizade, um exemplo de educadora,
uma palavra de afeto. O texto de Dona Chicuta era refinado, cheio de
sentimentos e de contornos poéticos.
Três décadas nos afastam de um tempo promissor para a educação do
Rio Grande do Norte. Época em que se implantou o estatuto do
magistério, se qualificou doze mil professores que eram leigos, se fez
a chamada escolar, se construiu 1.200 salas de aula, se criou a
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orquestra sinfônica do Estado promovendo concertos didáticos nas
escolas públicas, se deu celeridade e eficiência à máquina pública.
No contexto desse sucesso, estavam as pessoas, foram elas que deram
vida ás coisas criadas, delas saíram o talento e o idealismo, quase
revolucionários, para promover mudanças e edificar o momento de
grandes realizações na educação do Rio Grande do Norte.
Dentre essas pessoas estava Dona Chicuta, a competente e sempre
admirada ex-diretora da escola Normal de Natal, amiga otimista diante
dos desafios do cotidiano. (MORAIS, 2006, p. 93).
Dona Chicuta continua lembrada pelos pesquisadores que se interessam pela
história da educação no Rio Grande do Norte, exemplo das pesquisas de Morais (2006)
e Silva (2013).
Crisan Siminéa
Nasceu na cidade de Angicos/RN, em 27 de outubro de 1927. Filha do casal
Francisco Siminéa Filho e Maria do Carmo Siminéa. Foi alfabetizada pela mãe em
Angicos e passou longo período da infância aos cuidados dos avós maternos na Fazenda
Jordão. Em 1936, seus pais vieram residir em Natal, a fim de que os filhos estudassem.
No ano de 1940, seu pai faleceu, e sua mãe ficando viúva, passou muitas
dificuldades para continuar criando os oito filhos. Apesar de seu pai ter sido funcionário
do Ministério da Agricultura, não deixou pensão para a família, tornando a luta materna
ilimitada para educar os filhos, por isso o amor de Crisan por sua mãe era
incomensurável (CARVALHO, [19--]).
A educadora iniciou sua carreira como professora em 1942, ministrando aulas
particulares. Cursou o Técnico em Contabilidade no Colégio Nossa Senhora das Neves
de 1943/1949 e foi bacharelada e licenciada em Letras Neolatinas pela Faculdade de
Filosofia Ciências e Letras de Natal - UFRN. Também Licenciada em Pedagogia
Habilitação em Supervisão Escolar no ano de 1976 pela UFRN. Obteve Mestrado
concluído na Universidade de São Paulo (USP) (CURRICULO..., [19--]).
Ministrou aulas em vários estabelecimentos de ensino na capital potiguar,
dentre os quais destacamos: o Instituto Sagrada Família, a Escola Padre Miguelino, o
Colégio Estadual Ateneu Norte-Rio-Grandense, a Escola Técnica Federal do Rio
Grande do Norte (atualmente Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Rio Grande do Norte – IFRN), o Colégio Santo Antônio Marista, a Associação Potiguar
de Ensino e Cultura, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte e a UNIPEC (atual
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nomenclatura Universidade Potiguar). Dos anos de 1960 a 1990, boa parte da vida da
professora é dedicada à educação, alternado e conciliando as funções de professora e
diretora. “Seu legado tem caráter didático e educacional através do qual é lembrada
como uma educadora de referência.” (SILVA, 2013, p. 130).
Integrou o conselho Estadual de Educação e como representante deste, o
conselho de Administração do Instituto de Formação de Professores Presidente
Kennedy.
Enquanto educadora, Crisan Siminéa participou de diversos estudos e
projetos visando estabelecer e enfatizar a importância da educação
enquanto instrumento do crescimento humano e cultural. Suas
publicações, essencialmente voltadas para a proposição de parâmetros
e definições do ato de estudar e da compreensão da língua enquanto
ferramenta, são frutos de pesquisas e trabalhos desenvolvidos ao longo
dos anos junto aos seus alunos e com a parceria de professores
colaboradores. (MEDEIROS; MORAIS, 2002, p. 6).
Durante a gestão no Instituto de Educação Presidente Kennedy, a educadora
realizou diversos cursos nas áreas administrativas e de planejamento, entre eles: Curso
de Administração Escolar – Centro Regional de Treinamento em Administração –
Universidade do Ceará em 1967, Curso de Perspectivas do Desenvolvimento Global –
Fundação José Augusto em 1970, Treinamento em Técnicas de Trabalho em Grupo –
Centro de Educação Integrada (CIE), em 1970, Curso de aperfeiçoamento para
Diretores 2º grau – SEEC em 1972 (CURRICULO..., [19--]).
Participou da elaboração do Regimento escolar do Instituto de Educação
Presidente Kennedy em 1968 e Coordenou Cursos de Titulação de Professores Leigos a
nível de 2º grau – Instituto de Educação Presidente Kennedy – SEEC/MEC –
19773/1974 (CURRICULO..., [19--]).
Com o seu exemplo e perseverança conseguiu formar a equipe de professores
de que necessitava e orgulhava. Para a diretora, era um compromisso de honra
encaminhar as jovens na retidão, lealdade, responsabilidade preparando-as
integralmente, isto é, desenvolvendo a capacidade de resolverem problemas, aptidões
para enfrentarem a realidade lógica das coisas, e, naturalmente serem educadas para
poderem educar. Sua energia transbordava e transformava o comportamento das futuras
professoras. Ela não desejava o bom, exigia o ótimo. Segue as palavras de Crisan:
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A convivência foi curta, mas a doação foi profunda. Direção,
professores e alunos se doaram num mesmo fim. – a educação.
Já vos disse que a educação é uma dinâmica de conjunto, e só a
formação do espírito garante a perpetuidade, resiste ao tempo, e a
onda adversa não abaterá sua vitalidade, a luz brilhará sempre lata e
pura.
A educação exige sacrifícios, renúncia e assim fostes preparados.
Caminhaste com sacrifício três anos para um colégio quase que fora
da cidade. Aceitastes ensinamentos e disciplina, renunciastes festas,
mas formastes o fosso espírito. Confio que tudo isto não foi em vão, o
desejo que tendes de servir à educação como retribuição de que
recebestes será sentido pelo poder Público na década de 70, já
anunciada e decantada como Década da Educação.
A necessidade de professores especializados, ou melhor mais bem
formados é uma verdade constatada. Para auxiliarmos a suprir esta
necessidade, não temos medido esforços, todavia, não sentimos o
prazer e a felicidade de vê-los aproveitados. A culpa talvez seja por
falta de recursos do próprio Estado pois os vencimentos não condizem
com a profissão. O comércio, a indústria oferecem mais e a
necessidade de sobrevivência afasta-os da sala de aula. Entre o leigo,
que às vezes por falta de preparo não pôde ingressar em outra
atividade, o magistério apresenta-se como o mais fácil. A inversão de
valores sempre foi marcante. A política partidária, os interesses
pessoais, muitas vezes não deram lugar a justiça.
Acreditamos na reorganização do país, confiamos no sacrifício dos
homens atuantes, pois a reeducação é muito mais árdua, e eles agora
trabalham e lutam por isto.
Sabemos que esta geração é a do sacrifício para o bem futuro. Aceitai
o sacrifício como nós o aceitamos. Pensai na geração futura, pensai no
Brasil, pensai na união entre os homens, vós fostes preparados com
civismo, com amor, com doação, com renúncia para que inicieis
aquilo que sempre pensamos em fazer: a formação integral, a
formação do homem para a vida.
O professor primário tem mais oportunidade que o professor no
Ensino Médio e o Universitário. Ele é um cultivador, um modulador
de almas em formação. Prepará-los bem, é o nosso dever.
Não foi em vão que analisamos juntos o discurso do então Presidente:
‘’Sou oferta e aceitação’’. Sêde oferta, sede aceitação, aceitação do
que for justo. Não aceiteis por interesses pessoais, mas pelo interesse
coletivo, pelo bem comum, pelo bem do Brasil.
Não vos pergunteis – o que vou fazer? ENSINAI. Segui os
ensinamentos do Cristo, ensinai. Recordai as palavras do patrono de
vosso Colégio. Presidente John Kennedy: ‘Não penso naquilo que
meu país pode fazer por mim, mas no que eu posso fazer por ele’.
(SIMINÉA, [197-?], p. 1-2).
Hoje a Biblioteca do Instituto de Formação de Professores Presidente Kennedy
(I.F.P.), leva o nome da Professora Crisan Siminéa, inaugurada em Junho de 1995 nas
presenças Exmo. Sr. Governador do Rio Grande do Norte, Garibalde Alves Filho –
Secretário de Educação, Cultura e Desportos, Prof. João Faustino Ferreira Neto –
Diretor Geral do I.F.P. Prof. Francisco Quinho Chaves Filho como forma de prestar
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homenagem deixando sua imagem gravada junto aos livros que fizeram parte tão
próxima da sua vida.
Teresinha Pessoa Rocha
A professora e diretora Teresinha Pessoa Rocha, em acordo com os álbuns do
jardim de infância remanescentes no arquivo do Instituto de educação presidente
Kennedy, foi Diretora da unidade Jardim de Infância da referida Instituição por, pelo
menos durante uma década, entre – 1960 – 1970. Segue a imagem da professora
Terezinha Pessoa, localizada no acervo da Instituição:
Foto 2 – Professora Teresinha Pessoa Rocha
Fonte: Arquivo do Instituto de Educação Presidente Kennedy.
Segundo as lembranças de uma das ex-alunas do Jardim de Infância no Instituto
de Educação Presidente Kennedy, Maria Coeli, assim a professora Teresinha Pessoa é
lembrada:
Dona Teresinha era alta, magra, loira, postura elegante. Bastava ela
olhar para entendermos o que ela queria dizer. Professora
comprometida que trabalhava com o grupo. Havia integração e bom
relacionamento entre as Diretoras. (MARIA COELI, 2015).
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Ezilda Elita do Nascimento
Dona Ezilda Elita do Nascimento foi diretora da unidade Escola de Aplicação
no Instituto de Educação Presidente Kennedy, entre os anos de 1963 a 1968. Obteve a
sua aposentadoria aos 15 dias do mês de março do ano de 1968, por decreto datado de
16 de fevereiro do ano em curso a pedido da professora. Segundo relato de uma ex-
aluna da escola de aplicação, assim dona Ezilda é lembrada:
Dona Ezilda era uma mulher forte e comprometida. Diretora atuante,
preocupada em como os professores desempenhavam seu papel. Era
ao mesmo tempo: orientadora, coordenadora e supervisora. (MARIA
COELI, 2015).
Na percepção de Thompson (1998), as entrevistas orais, quando bem
conduzidas, se transformam em um instrumento eficiente para diminuir a distancia entre
os informantes e o pesquisador e, por consequência, o acesso aos documentos privados,
como é o caso das fotografias e correspondências.
Foto 3 – Recordação escolar da Escola de Aplicação do Instituto de educação – ano 1964. Sob a
direção da professora Ezilda Elita do Nascimento
Fonte: Arquivo pessoal da professora Maria Coeli
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Maria Arisneide de Morais
A professora Maria Arisneide de Morais nasceu no estado do Rio Grande do
Norte, na cidade de Patú, a 20 de Setembro de 1939. Filha do casal Aristides Benigno
de Morais e Maria Cristina de Morais; teve uma ampla atuação no cenário educacional
do Rio Grande do Norte. Atuou como professora, coordenadora de prática de ensino e
diretora da Escola Normal de Natal, entre os anos de 1970-1975. Ingressou na Escola
Normal de Natal no ano de 1959, fazendo parte da turma Governador Aluísio Alves –
50º – ‘A’ em 1961.
A educadora Maria Arisneide lecionou em vários estabelecimentos de ensino a
exemplos do: Grupo Escolar Augusto Severo; Foi professora de Didática dos Estudos
Sociais, Didática das Ciências, Didática da Linguagem, História da Educação, Didática
Geral e Educação Pré-primária no Curso Normal do Instituto Maria Auxiliadora; além
de Professora no Curso de atualização em técnicas de ensino para professores da Escola
Normal do Instituto de Educação Presidente Kennedy. A mesma, relatou-me o seguinte:
Eu era considerada uma professora que não reprova nenhum aluno,
porque quando sentia alguma dificuldade me voltava para resolver.
Gostava de criar e elaborar estratégias para facilitar a compreensão
dos meus alunos, atividades pedagógicas práticas e diferentes.
Dificilmente fazia estudos de grupo porque não acredito muito nesse
método de aprendizagem, acaba-se por diluir o aprendizado. (MARIA
ARISNEIDE, 2014).
Foto 4 – Formatura de Maria Arisneide de Morais (1961).
Fonte: Arquivo pessoal da professora Maria Arisneide.
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Diplomou-se também no curso Superior de Pedagogia pela Universidade
Federal do Rio Grande do Norte em 20 de dezembro de 1966, fazendo parte da primeira
turma do curso de Pedagogia diplomada no contexto da Federalização (SILVA, 2013).
Aprovada em Concurso Público, Maria Arisneide foi nomeada para exercer a
docência no Instituto de Educação Presidente Kennedy na cadeira de Didática Geral e
Práticas de Ensino. Foi professora das Disciplinas de Sociologia Educacional, Didática
Geral e História da Educação. Certificou-se em 27 de Fevereiro de 1971 no Curso de
Diretores de Estabelecimentos de Ensino Normal do Nordeste, oferecido pelo Instituto
Nacional de Estudos Pedagógicos no Centro Regional de Pesquisas Educacionais do
Recife, em Recife/PE (CURRICULO..., 1973).
Além disso, trabalhou na Secretaria de Educação na unidade setorial de
planejamento e no Ministério da Educação e Cultura (MEC) e na Fundação Estadual de
Planejamento Agrícola do RN. Na extinção da Fundação a professora passou a exercer
atividades no Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente/IDEMA.
Hoje se encontra aposentada (MARIA ARISNEIDE, 2014).
Palavras finais
Em todas as fases da história, a presença da mulher na educação sempre foi de
fundamental importância. No Rio Grande do Norte algumas mulheres conseguiram se
destacar, tanto na vida intelectual quanto em sala de aula, ora escrevendo, ora dirigindo
escolas, ora desenvolvendo atividades políticas (FURTADO, 2006).
Saliento que este trabalho destaca a trajetória da vida profissional das primeiras
diretoras do Instituto de Educação Presidente Kennedy em sua primeira década de
funcionamento “professoras que atuaram em momentos significativos de transição
organizacional” (SILVA, 2013, p. 122).
A pesquisa realizou-se principalmente, a partir de fontes documentais, as quais
foram selecionadas, organizadas e analisadas permitindo lançar um novo olhar em
velhas fontes. Buscar entre os vestígios, identificar e conhecer as práticas educativas das
referidas educadoras.
Concluímos que ainda há muito a ser feito, em termos de pesquisas que
evidenciem as práticas educativas das professoras/diretoras que contribuíram para a
formação de gerações ao longo da História da Educação no Estado do Rio Grande do
Norte.
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Referências
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Educação Presidente Kennedy (1950 – 1965): configurações, limites e possibilidades
da formação docente. 2007. 259 p. Tese (Doutorado em Educação) – Programa de Pós
Graduação em Educação. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, 2007.
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CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. Tradução
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CURRICULO Vitae de Crisan Siminéa. Natal, [19--]. (Datilografado).
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FERNANDES, Francisca Nolasco, 1910 – Menina feia e amarelinha. Natal,
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 1973. Literatura Brasileira. I. Título.
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MORAIS, Maria Arisnete Câmara. Chicuta Nolasco Fernandes, intelectual de
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GATTI JUNIOR, Décio. Apontamentos sobre a pesquisa histórico-educacional no
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MG, v. 1, n. 1, p. 29-31. jan./dez. 2002.
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leitura-mundo: Crisan Siminéa e sua arte de educar. In: CONGRESSO BRASILEIRO
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MORAIS, Maria Arisnete Câmara de. Leituras de mulheres no século XIX. Belo
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______. Chicuta Nolasco Fernandes, intelectual de mérito. Natal: Editorial A
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______. História da leitura e da escrita no Rio Grande do Norte (1910-1980).
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SILVA, Francinaide de Lima. A Escola Normal de Natal (Rio Grande do Norte,
1908-1971). 2013. 163 f. Tese (Doutorado em Educação) – Programa de Pós-Graduação
em Educação. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, 2013.
SILVA, Francinaide de Lima. A Escola Normal de Natal (Rio Grande do Norte,
1908-1971). 164 f. Tese (Doutorado em Educação). Programa de Pós-Graduação em
Educação. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 2013.
SIMINÉA, Crisan. Palavras de Crisan Siminéa. Discurso realizado no Instituto de
Educação Presidente Kennedy. Natal, [197-?].