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Dinâmica da Produção e Circulação da Citricultura n o Município de Rio Real –
Bahia de 1980-2009
Simone de Lisboa Santana1 symonelysboa@hotmail.com
Prof. Robson Lins² rolcaverna@hotmail.com
Resumo O Brasil por seu clima, solos e condições hidrográficas favoráveis é o maior produtor mundial de citros, e também é o maior exportador de suco concentrado de laranja. A Bahia encontra-se como o segundo maior produtor de citros do Brasil e o município de Rio Real se destaca como o segundo maior em área plantada e o quinto em produção sendo responsável por abastecer vários estados e o mercado exterior. O presente estudo desenvolveu-se no município de Rio Real – Bahia. A descrição e definição da área em estudo se deram por meio de trabalho de campo, procedendo-se posteriormente na análise do material coletado. Palavras - chave: citricultura, produção, circulação
1 INTRODUÇÃO
A produção agrícola e os estabelecimentos rurais no Brasil datam desde os
primórdios da colonização, começando com o cultivo da cana - de - açúcar, por volta
de 1830 dá início o ciclo do café, e posteriormente outras culturas foram sendo
cultivadas pelo país, dentre essas a laranja.
De acordo com dados do IBGE, o número de estabelecimentos rurais aumentou de 982, em 1960, para 2.242, em 1970. No mesmo período cresceu a produção de arroz, feijão, milho, mandioca (...). Diminuiu a produção de cana - de - açúcar. Se compararmos os dados relativos a 1950 e 1970 (...), observaremos o aumento no volume da produção de banana (...) e laranja. (IANNI. 1981, p.103)
No entanto como podemos observar, assim como houve o progresso no
cultivo de diversas culturas com a laranja não foi diferente, hoje o cultivo da laranja
rende ao país alguns bilhões de dólares por ano.
No início era difícil a circulação dos produtos oriundos da agricultura pelo
país, já que o mesmo tem uma dimensão continental, pois o transporte era feito em
lombo de animais e por rios, tornando complicado a circulação e a comercialização
dos produtos agrícolas. Tempos depois passam a existir no Brasil as ferrovias e por
volta de 1960 às rodovias, o transporte hidroviário também passa por algumas
1 Graduanda do curso de geografia pela Universidade do Estado da Bahia - CAMPUS XI SERRINHA
2 Professor Orientador
mudanças e para modernizar ainda mais as aerovias começam a se expandir por
grande parte do território brasileiro dando outro ritmo a circulação dos produtos. De
acordo com Ianni (1981) “em poucos anos o caminhão, o automóvel, o trator e o
avião passam a conferir, combinadamente, novo ritmo e andamento as relações
sociais no lugar. Dinamizam-se as forças produtivas e as relações de produção.”
Como podemos perceber a partir da década de 60 o Brasil pode dinamizar cada vez
mais seus produtos agrícolas por grande parte do território que antes era impossível.
O Brasil por seu clima, solos e condições hidrográficas favoráveis é o maior
produtor mundial de citros, em 2003 colheu aproximadamente 17 milhões de
toneladas, acompanhados pelos Estados Unidos, México e Espanha. No país
teremos alguns Estados que se destacam com esse cultivo que são: Bahia, Minas
Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, São Paulo, Sergipe entre outros. Sendo que o
Estado de São Paulo se destaca como o maior produtor dessa cultura
correspondendo 78,4% da produção nacional, (gráfico 1).
Fonte: Perspectivas da cadeia produtiva da laranja no Brasil: A Agenda 2015 Elaboração: LISBOA, Simone. 2010
Podemos ver ao analisarmos o gráfico 1, o estado de São Paulo apresenta a
maior produção de citros consequentemente o maior número de pés em produção e
novas áreas plantadas.
O Brasil é também é o maior exportador de suco concentrado de laranja do
mundo, gráfico 2, tendo como mercado alvo os Estados Unidos e a Europa, ficando
para o mercado interno apenas 2% da produção.
Fonte: Perspectivas da cadeia produtiva da laranja no Brasil: A Agenda 2015 Elaboração: LISBOA, Simone. 2010
O primórdio da agricultura baiana também não foi diferente a do Brasil, pois
destacava atividades tradicionalmente desenvolvidas em todo o país, como o cultivo
da cana - de - açúcar, café, algodão a mandioca, etc., mas assim como o Brasil a
Bahia tem demonstrado um dinamismo com relação a sua produção agrícola nos
últimos anos, pois vem modernizando sua agricultura tradicional e implantando
novas atividades agrícolas como a soja, o arroz, a fruticultura, com a tentativa de
ganhar os mercados nacionais e internacionais para distribuição de suas culturas.
Assim como o Brasil o estado da Bahia também se destaca como grande
produtor cítrico. Como esse estudo está direcionado ao município de Rio Real e este
está localizado no estado na Bahia figura 1, precisamente na Mesorregião Nordeste
Baiano e na Microrregião de Alagoinhas, com uma população estimada para 2009
de 38.095 mil habitantes, vamos nos dedicar a esta análise.
Figura 1. Localização do Município de Rio Real
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedi
Localização do município de Rio Real
A principal área cítrica do Estado da Bahia encontra-se na parte litorânea,
segundo SILVA (2004) “hoje, os maiores produtores estão no Litoral Norte, onde há
uma integração da citricultura baiana com a de Sergipe, especialmente com a
agroindústria, que compra parte da produção baiana” deixando o Estado em
destaque como o segundo produtor nacional de laranja e limão do Brasil. Dentro do
Estado teremos o município de Rio Real como o maior destaque nessa produção,
com uma área plantada de 20 mil hectares e produção anual de 360 mil toneladas,
onde representa 46,5% da área total plantada no Estado que é de 55.755 mil
hectares, o município se encontra como o quinto maior produtor e o segundo em
área plantada de citros do país de acordo com o IBGE- (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística) em 2009, (Tabela 1).
Tabela 1 - Os Maiores Produtores de Laranja do Bras il – 2009
Municípios Área Colhida (ha)
Produção (t)
Rendimento médio (kg/há)
Casa Branca (São Paulo) Itápolis (São Paulo) Mogi Guaçu (São Paulo) Matão (São Paulo) Rio Real (Bahia) Brotas (São Paulo)
18750 22000 15625 12910 20000 8000
486000 462000 408000 387300 360000 359000
26112 21000 26112 30000 18000 44875
Brasil 787250 17618450 22380 Fonte: IBGE - Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Agropecuária, Produção Agrícola Municipal Elaboração: LISBOA, Simone de.
Já o município de Rio Real é responsável pelo abastecimento de vários
estados. De acordo com o senhor E. F. Coordenador de ATER Agroecológica da
CEALNOR (Central das Associações do Litoral Norte) “A produção de laranja de Rio
Real é distribuída principalmente para o estado de Sergipe usada na fabricação de
suco concentrado de laranja para comércio internacional (principalmente mercado
Europeu) e mercado interno a fruta in natura (laranja de mesa) para os estados de
Pernambuco (Recife), São Paulo (São Paulo), Rio de Janeiro (Rio de Janeiro), Santa
Catarina (Espírito Santo) e na própria Bahia.”
Rio Real ganha prestigio não só na produção de laranja pêra, mas também de
limão, tangerina e laranja lima. Assim como a maioria da produção agrícola no
Brasil, a maior parte da produção de laranja de Rio Real é oriunda basicamente de
estabelecimentos de pequenos produtores rurais.
O presente trabalho tem como objeto de estudo o município de Rio Real –
Bahia na perspectiva da cadeia cítrica para a compreensão da produção agrícola do
referido município, o período de estudo compreende de 1980 a 2009. Neste
contexto, o referido trabalho tem como objetivo investigar a dinâmica da produção e
circulação da citricultura no município de Rio Real – Bahia de1980 há 2009.
No intuito de atingir o objetivo proposto a metodologia foi dividida em duas
fases: a primeira em fontes secundárias através de pesquisas bibliográficas e
eletrônicas e a segunda em fontes primárias com trabalho de campo como
observação semi-estruturadas, entrevistas com técnicos de órgãos como a EBDA e
da CEALNOR com o objetivo de levantar questões relevantes para a pesquisa.
2 PRIMÓRDIO DA CITRICULTURA NO BRASIL, NA BAHIA E E M RIO REAL-BA
A citricultura é implantada no Brasil desde o período da colonização, quando
o governo português decide colonizar as terras brasileiras, repartido o território para
pessoas de sua inteira confiança, em um processo de Capitanias Hereditárias. O
primeiro registro dessa cultura no país se da na Capitania de São Vicente, onde se
encontra hoje os estados de são Paulo e Rio de Janeiro.
No início do século XX, a citricultura começa a ser encarada como uma
alternativa agrícola, com a crise do café a citricultura foi ganhando um espaço maior.
A partir de 1930 a laranja brasileira passou a ser exportada e em 1939, a laranja se
tornou um dos dez produtos mais importantes na exportação do país, atualmente o
Brasil é o maior produtor cítrico do mundo tendo como característica básica a
produção para o comercio internacional, sendo também o maior exportador de suco
concentrado de laranja.
Inicialmente, a citricultura baiana se desenvolveu a um ritmo não muito
acelerado, a partir de 1950 a citricultura se instalou no Recôncavo, nos municípios
de Santo Antônio de Jesus e Cruz das Almas, fundamentada em pequenas
propriedades. Posteriormente a citricultura ganha mais espaço dentro do estado
devido à crise na citricultura sergipana como a escassez de terras para o cultivo
dessa cultura, a redução no valor da tonelada, a elevação do custo para manter os
pomares produzindo e a queda na produtividade por hectares, favorecendo a
expansão da citricultura na fronteira entre os dois estados e deixando a Bahia como
o segundo maior produtor de citros do Brasil.
O inicio da citricultura no município de Rio Real começa por volta da década
de 1970, isso devido às diversas crises que vinham ocorrendo na citricultura do
estado de Sergipe. Nesse período a citricultura sergipana vinha passando por
processos de modernização na produção, o que vinha ocorrendo em todo o país, ou
seja, uma agricultura voltada para exportação, nesse momento os produtores tinham
que se adequar ao capital esse apoiado pelo Estado, e grande parte dos produtores
não tinham como seguir os rumos que o capital ditava, é ai que muitos citricultores
de Sergipe desapropriados pelo capital abandonam seus pomares e encontram na
Bahia uma fronteira agrícola para expandir a citricultura, sendo essa fronteira o
município de Rio Real, que hoje é o terceiro maior produtor de citros do Brasil, o
único que nesse ranking que não é do estado de São Paulo.
2 PRODUÇÃO CÍTRICA DO MUNICÍPIO DE RIO REAL DE 1980 - 2009
No inicio dos anos 1980 o município já tinha uma área de 217 hectares
plantados e uma produção de 2.525 toneladas em todo o município, a qual pode ser
vista como uma cultura que foi bastante acelerada, isso se deve também aos preços
razoáveis que os produtores conseguiram para seus citros nesse inicio de década
atraindo mais produtores para a região. Porém é em meados da década 1980
especificamente nos anos de 1982 a 1984 que o município passa por sua primeira
crise na citricultura, isso por que os agricultores deixaram de cuidar dos pomares já
existentes, e não se animam em plantar novas áreas por falta de credito, ou seja, os
bancos começam a perceber que não era viável financiar mais a citricultura, porque
nesse momento no município começa a ter uma fase para o cultivo do maracujá,
onde essa cultura esteve por três anos sendo o carro chefe para a economia do
município, então nesse período não foi possível perceber nem um aumento na área
cítrica do município de Rio Real, ou seja, ficou estagnada durante dois anos, e
começa a crescer gradualmente a partir de 1984, tabela 2.
Tabela 2- Área colhida e produção cítrica de 1980 a 1989 no Município de
Rio Real
Ano Área Colhida (h)
Produção (t)
1980 217 2525 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989
240 160 160 200 1518 2000 2000 2300 10800
3130 2086 2086 2038 16533 26080 26800 29992 140832
Total 19595 252102 Fonte: IBGE - Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Agropecuária, Produção Agrícola Municipal Elaboração: LISBOA, Simone de.
Passado essa primeira crise, os bancos voltam a financiar a citricultura e nas
décadas posteriores o município continua expandindo-se e incorporando outras
áreas agrícolas para a produção de citros, isso por que nesse período começa a se
instalar as primeiras indústrias de suco concentrado de laranja no estado de Sergipe
especificamente no Centro-Sul do estado atraindo novos agricultores para o
município de Rio Real.
Foi especificamente nos anos de 1985 que a Maratá Sucos do Nordeste
LTDA, compra sua primeira área cítrica no município de Rio Real, a empresa que
chega ao município para comprar maracujá vê na citricultura uma boa alternativa
para seus investimentos. Rio Real termina a década de 1980 com avanços
significativos na sua área cítrica, obtendo preços razoáveis para sua produção e
podendo dizer que no termino dessa década a citricultura de Rio Real não só era
composta de sergipanos, mas era possível perceber muitos baianos vindos de várias
partes da Bahia para investir no cultivo da citricultura.
No inicio da década de 1990 a citricultura em Rio Real ainda segue os rumos
do final da década de 1980 sem grandes avanços nas áreas cítricas, mas sendo
possível verificar pequenos aumentos nas áreas colhidas e na produção. Mas é a
partir do ano de 1994 que Rio Real passa a ampliar suas áreas cítricas, chegando
ao ano de 1997 como o maior município em área plantada (foto 1) da Bahia e do
Nordeste, ganhando caminhos econômicos e atraindo investimentos do Estado e de
empresas processadoras de suco de laranja. Santos (2009) “Em 1997, o município
de Rio Real obteve 25.000 hectares colhidos, o que correspondeu a 72% da área
colhida regional e 46% estadual. Entre os anos de 1990 e 1997, o município
alcançou um crescimento de mais de 112% na sua área citrícola.”
Foto 1- Plantação de Citros do município de Rio Rea l
Fonte: LISBOA, Simone de. Trabalho de Campo, 2011
Entretanto, no mesmo período que a citricultura tem um dos seus maiores
saltos no município de Rio Real, também foi possível verificar sua segunda crise que
se estende de 1994 a 1997. No período que vai de 1994 a 1995 a crise acontece
devido a um período de muita seca no município onde acarretou na perca da
produção cítrica e o segundo momento que vai de 1996 a 1997, apesar de sua área
continuar crescendo em ritmo acelerado e a produção aumentar nesse ultimo ano
ocorreu uma crise devido aos preços que caem consideravelmente chegando a R$
70,00 por tonelada, desestimulando ainda mais os produtores.
Após sua queda em 1997 a citricultura volta a se erguer no município (tabela
3), principalmente por dois motivos, o primeiro por causa do mercado internacional,
com as geadas que o estado da Florida nos Estados Unidos da América vinha
passando, esse sendo o maior consumidor de suco concentrado de laranja, acaba
recorrendo ao Brasil para suprir sua demanda. E o segundo foi sem dúvida a
diminuição dos plantios de citros do estado de São Paulo que é o maior produtor
nacional, para o plantio da cana – de – açúcar e devido a constante ameaça de
pragas como a CVC, o cancro cítrico e greening, essa ultima é a que mais preocupa
os produtores, pela sua velocidade em se alastrar pelos pomares, esses fatores
acarretaram na diminuição dos pomares do estado de São Paulo e vem
desestimulando cada vez mais os produtores desse estado.
Tabela 3- Área colhida e produção cítrica de 1990 a 1999 no Município de
Rio Real
ANO Área Colhida
(h) Produção (t)
1990 10800 140832 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999
13600 13800 13851 20000 20700 23000 25000 - 23000
177344 179952 180296 299920 303669 290283 407500 326000 281175
Total 163751 2586971 Fonte: IBGE - Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Agropecuária, Produção Agrícola Municipal Elaboração: LISBOA, Simone de.
É a partir de 1998 que a citricultura de Rio Real ganha caminhos econômicos,
com mais profissionalismo, aumentando cada vez mais a produção e os produtores
percebem que é um grande negocio para a região, apesar dessa alta e baixa dos
preços e as crises decorrentes da falta de chuvas que é fundamental para a
produção.
A produção cítrica do município de Rio Real começa essa ultima década
seguindo os avanços do final da década de 1990, e continua com esse ritmo por três
anos, com uma diferença marcante na produção, ou seja, um aumento cada vez
mais significativo na produção, isso possivelmente por causa da participação nessa
década dos investimentos do governo, pois são mais visíveis nessa região, com
instalação de órgãos de pesquisas, incentivo ao credito, intra-estruturas nas
rodovias que circula a produção, esses incentivos alegram os produtores que
passam a valorizar cada vez mais essa cultura na região. Também foi possível notar
nessa década algumas mudanças no modelo tecnológico utilizado na produção de
citros que avança cada dia mais.
Tais resultados indicam uma concentração, tanto da produção (tabela 4)
quanto do plantio de novos pés em áreas de renovação dos pomares antigos no
decorrer desta década no município Rio Real, já que esse não possui mais área
para expandir seus pomares, fato que, provavelmente, contribuiu para o aumento na
produção e no número de pés em produção observado em meados dessa década, o
ano de 2008 é o que mais se destaca nessa década, pois foi o ano que o município
mais produziu batendo o recorde do município de Itápolis no estado de São Paulo
que durante muito tempo foi considerado o maior produtor de citros do Brasil.
Tabela 4- Área colhida e produção cítrica de 2000 a 2009 no Município de
Rio Real
ANO Área Colhida
(h) Produção (t)
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
23000 23000 23000 20000 21000 21000 23000 23000 27000 20000
281175 460000 460000 300000 315000 315000 460000 460000 540000 360000
Total 224000 3951175 Fonte: IBGE - Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Agropecuária, Produção Agrícola Municipal Elaboração: LISBOA, Simone de.
De 2003 a 2005 o município passa pela sua terceira crise após sua
implantação, “foi um período critico na citricultura de Rio Real”, em 2003 foram em
média cinco meses sem chuva, o que acarretou na morte de alguns dos pomares
mais antigos que tinham sido implantados com pouca tecnologia, com sua raiz
principal rasas acabaram sofrendo com a seca e não resistiram. No ano de 2006 o
governo começa a financiar novos créditos para os produtores recuperarem seus
pomares. Em 2007 e 2008 teve um acréscimo das pragas, mas nada tão relevante
quanto à seca de 2003.
Faremos agora uma análise de como o município de Rio Real vem crescendo
nessa primeira década do século XXI sua participação no cenário nacional com a
produção de citros. Como já citado anteriormente Rio Real não possui mais área
para expandir suas lavouras, mas com a implantação de novas tecnologias a
produção de citros tem crescido consideravelmente nesse inicio de século, que vem
deixando o município em destaque como um dos maiores produtores dessa cultura
no país.
No ano de 2003 os vinte maiores municípios produtores de laranja do país
encontravam-se no estado de São Paulo responsável por 79% do total da produção
brasileira. A exceção é o município baiano de Rio Real, o sexto maior produtor
nacional (tabela 5), que responde por 38,86% da produção do estado. A explicação,
segundo o coordenador de Agropecuária do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), Carlos Alberto Lauria, é que no entorno do município de Rio Real
existem duas indústrias de processamento de laranja que absorvem toda a produção
destinada à exportação.
Tabela 5- Principais Municípios Produtores de Citro s em 2003
Município Área Colhida (ha)
Produção (t)
Rendimento médio (kg/há)
Itápolis (São Paulo) Mogi Guaçu (São Paulo) Bebedouro (São Paulo) Matão (São Paulo) Tambaú (São Paulo) Rio Real (Bahia) Itapetininga (São Paulo)
29502 15300 18440 10250 9268 20000 11904
613632 459000 347460 335175 325800 300000 297600
20800 30000 18843 32700 35153 15000 25000
Brasil 836041 16917558 - Fonte: IBGE - Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Agropecuária, Produção Agrícola Municipal Elaboração: LISBOA, Simone de.
Já no ano de 2006, Rio Real garante a terceira posição na colheita de laranja.
A safra nacional de citros, “em 2006, totalizou 18.032.313 t (442,0 milhões de caixas
de 40,8 kg), 1,0% superior à de 2005, quando o país produziu 17.853.443 t (437,6
milhões de caixas). O estado de São Paulo concentrava, no ano de 2003, 79,7% da
produção nacional de laranja, com 14.367.011 t (352,1 milhões de caixas), em
571.532 hectares. O principal destaque municipal na cultura, entretanto, ficou com
Rio Real, na Bahia” (IBGE). O município baiano deu um salto da 6ª posição, em
2003, para a 3ª posição em 2006 (tabela 6) entre os maiores produtores de laranja
do país. É o único município nesse ranking que não é do estado de São Paulo.
Tabela 6- Principais Municípios Produtores de Citro s em 2006
Municípios Área Colhida (ha)
Produção (t)
Rendimento médio (kg/há)
Itápolis (São Paulo) Aguai (São Paulo) Rio Real (Bahia) Matão (São Paulo)
29500 15250 23000 11412
608360 533750 460000 447707
20622 35000 20000 39231
Brasil 805903 18032313 - Fonte: IBGE - Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Agropecuária, Produção Agrícola Municipal Elaboração: LISBOA, Simone de.
Há pouco mais de dez anos, costumava ver o município de Itápolis, em São
Paulo, com olhos promissores. A cidade segurava o título de maior produtora de
citros do mundo. O estado ainda participa com quase 80% da produção nacional de
citros, e Itápolis ainda é uma grande produtora. Porém em 2009, o IBGE, com seus
estudos da Produção Agrícola Municipal, apontou uma área colhida de 22.000
hectares de citros no município, mas superada em produção pela cidade de Casa
Nova, também localizada no estado de São Paulo. Nesse mesmo ano Rio Real, na
Bahia, se encontra como o segundo maior município com área colhida, porém com
uma produção inferior aos outros municípios do estado de São Paulo (tabela 7). A
produtividade, ou seja, a quantidade produzida por hectare, no entanto, do município
de Itápolis caiu consideravelmente.
Tabela 7- Principais Municípios Produtores de Citro s em 2009
Município Área Colhida (ha)
Produção (t)
Rendimento médio (kg/há)
Casa Branca (São Paulo) Itápolis (São Paulo) Mogi Guaçu (São Paulo) Matão (São Paulo) Rio Real (Bahia)
18750 22000 15625 12910 20000
486000 462000 408000 387300 360000
26112 21000 26112 30000 18000
Brotas (São Paulo) 8000
359000 44875
Brasil 787250 17618450 22380 Fonte: IBGE - Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Agropecuária, Produção Agrícola Municipal Elaboração: LISBOA, Simone de.
Muitos são as causas para essa queda considerável da cultura cítrica do
município de Itápolis, que se alavancou para o município de Rio Real e outros do
próprio estado de São Paulo, como preços, estiagem, avanço da cana-de-açúcar,
pragas, como o greening, doença de origem bacteriana e sem controle eficaz até
agora. Em Itápolis, e outras municípios do universo citricultor de São Paulo, as
lavouras se originaram e assim permaneceram por um bom tempo, de pequenos
produtores, 70% deles donos de pomares menores do que 50 hectares. E hoje não é
mais possível observar isso no município de Itápolis, pois as grandes indústrias de
suco de laranja concentraram a produção em apenas quatro grandes indústrias que
acabaram impondo o preço e clausulas que acabaram afastando os pequemos e
médios produtores naquela região. O que ainda não foi possível ser observado no
município de Rio Real, que 80% dos produtores possuem em torno de 10 hectares
em média.
A análise preliminar, envolvendo os últimos dez anos, aponta que o município
de Rio Real vem a cada ano superando as áreas cítricas do estado de São Paulo,
estudos apontam que isso se da por que o município é área livre da “Pinta Preta,
Cancro Cítrico, Mosca Negra dos Citros, Morte Súbita e greening”, doenças que
atacam os citros, conforme certificação do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento. A certificação é fruto do trabalho da SEAGRI - Secretaria da
Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária, por meio da ADAB, e dos produtores que
trabalham na busca da qualidade para valorizar cada vez mais os frutos do
município.
3 CIRCULAÇÃO DA CITRICULTURA
O Brasil possui o maior destaque mundial na produção e na exportação de
citros e produtos derivados. Porém para permanecer e até acender neste ramo, o
país terá que investir muito em infra-estrutura capazes de dar suporte para
produção, processamento, comercialização e principalmente no escoamento desses
produtos pelo território nacional e pelo exterior.
Um dos grandes desafios que o Brasil tem pela frente para enfrentar os
desafios que o mercado consumidor vem ditando nas últimas décadas é a busca
para a melhoria dos seus modais de transporte, pois a melhoria no sistema de
transporte tem um papel importante para se atingir os distintos mercados
consumidores, isso vai reduzir a distância entre os locais produtores e os mercados
consumidores, essas e outras mudanças serão decisivas para que o país continue
no topo do maior produtor e exportador de citros e seus derivados.
O modal rodoviário é o mais utilizado para circulação da citricultura e da
maioria dos produtos agrícolas produzidos no território brasileiro, o sistema de
transportes rodoviários é regulamentado e fiscalizado pela Agência Nacional de
Transporte Terrestre – ANTT, no entanto, isso se deve pela carência de
investimentos por parte dos governos em outros modais como em ferrovias e
hidrovias. O modal rodoviário é em muitos casos mais caro que as ferrovias e
hidrovias, pois um caminhão carrega menos carga que um trem e um comboio de
barcaças numa hidrovia, o que o torna inadequado para transporte de longa
distância a falta de investimentos nas rodovias brasileiras e os altos preços dos
pedágios, também a torna inadequada para os transportes de mercadorias, mas
mesmo assim verifica-se a predominância do setor rodoviário no transporte de
cargas no Brasil.
Por motivo da citricultura de Rio Real ser em sua maioria para o mercado da
fruta in natura sua circulação é em sua total maioria feito em rodovias através de
caminhões para supermercados e Ceasa, Rio Real fornece a laranja in natura para
alguns estados como Recife, Rio de Janeiro, São Paulo e Sergipe. Já depois do
suco beneficiado ele vai de caminhão para o porto que segue de navio para o
exterior.
A BR 101 circula os principais produtos tanto do suco quanto para o fruto in
natura que é através dessa BR que ganha os mercados de Recife e Salvador e os
portos mais próximos.
Hoje Rio Real possui seis (06) beneficiadoras, as quais se preocupam
simplesmente em lavar e passa uma cera na laranja para essa ficar brilhando e
conservar mais o fruto, já que segundo o entrevistado o consumidor gosta de beleza
e não o que tem dentro da fruta para ele é o suficiente para o mercado consumidor
dos frutos de Rio Real já que a mesma é destinada para o mercado consumidor e
cada beneficiadora já possui seus mercados consumidores e preparam a fruta com
as exigências dos seu consumidores. Os grandes produtores como possuem seu
próprios mercados consumidores e seus transportes, ou seja, uma infra-estrutura
capaz de suprir o mercado que eles já conhecem esses preparam bem seus
produtos, tem suas próprias balanças. A principal indústria de processamento de
suco de laranja é a Marata a qual também dita o preço desses produtos, e uma
pequena parcela ficam com a TropFruit.
CONCLUSÃO
A busca por uma matriz multimodal de transporte é fundamental para a
economia no escoamento da produção. Qualquer diminuição nos custos significa
aumento nos lucros, diminuição de preços e maior competitividade.
O consumo de frutas no Brasil vem crescendo a cada ano, mas esse
crescimento só será possível se os governos investirem em meios de circulação
mais rápidos e mais precisos que possibilite o escoamento do produto in natura
como também dos seus derivados.
A cultura cítrica do município de Rio Real também vem se destacando a cada
ano, o grande impasse que o município ainda enfrenta é a pouca produtividade dos
seus pomares com relação ao estado de São Paulo. Mas de acordo com os técnicos
entrevistados o município vem investindo cada dia mais em tecnologias que
favorecem a produção.
REFERÊNCIAS
IANNI, Otávio. A luta pela terra: historia social da terra e da lu ta pela terra numa
área da Amazônia . Vozes: Petrópolis, 1981.
SANTOS, Janio Roberto Diniz dos. A territorialização dos conflitos e das contradições: o capital versus trabalho nos laranja is baianos e sergipanos. São Paulo, 2009.
SILVA, Barbara – Christine Nentwig. Atlas Escolar Bahia: espaço geo-hietórico e cultural. 2. Ed. João Pessoa, PB : Grafeset, 2004.
Disponível em: http://www.ibge.gov.br Acesso em: 15 de jul de 2010