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1. INTRODUÇÃO: INSTRUMENTO DE PRESERVAÇÃO DAS CARACTERISTICAS CULTURAIS
DO URBANO EM JOÃO PESSOA
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1. INTRODUÇÃO: INSTRUMENTO DE PRESERVAÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS CULTURAIS DO URBANO EM JOÃO PESSOA
“Os geógrafos há muito têm interesse por paisagens relíquias, usando-as geralmente como pistas para a reconstrução de antigas geografias” (CORRÊA; ROSENDAHL, 2004, p.117).
As imagens “geofotográficas”, ou seja, fotografias utilizadas numa
pesquisa geográfica, caem como luva ao tentar-se fazer uma leitura das diversas
figuras presentes na mesma; para iniciar pode-se ler facilmente a mensagem não-
verbal transmitida diretamente à sua capacidade perceptiva a partir das imagens
expostas nas figuras (1 e 2):
LAGOA - Parque Solon de Lucena/PB LAGOA - Parque Solon de Lucena/PB Foto: autor desconhecido (1934) Fonte: acervo de Eduardo Pazera (2008)
Deste ponto em diante faz-se entender que o ritmo cotidiano da sociedade
torna despercebidos detalhes importantes da dinâmica urbana de cada lugar,
detalhes estes que possibilitam uma leitura aprofundada das ações humanas sobre
a superfície terrestre, que voluntária ou involuntariamente findam por interferirem de
forma relevante no núcleo vital de toda uma comunidade.
O estudo em pauta está inserido diretamente na Geografia Urbana devido
pontuar circunstâncias e conseqüências das atividades sócio-econômicas, culturais
e políticas sobre a área urbana do município de João Pessoa/PB, tomando como
gancho teórico a Geografia Cultural e da Percepção, tendo em vista a análise de
imagens fotográficas antigas identificadas no “Álbum de Memória Acervo Museu
Walfredo Rodrigues 1871-1942” publicado na cidade de João Pessoa/PB, fazendo
uso do método de análise comparativa (fotografia antiga mais fotografia do ambiente
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atual) e principalmente relacionando-as com as transformações urbanas produzidas
pela sociedade pessoense.
As imagens representam fragmentos de momentos históricos, culturais,
políticos, sociais que se refletem a todo instante de fotografia a fotografia, nas
imagens de igrejas, estação ferroviária, praças, estabelecimentos comerciais,
automóveis, pedestres, solenidades e muitos outros, proporcionando ao leitor uma
rica e infindável retrospectiva de um tempo maquiado pelas transformações, porém
vivenciado por gerações e gerações e inevitavelmente perenizado na memória de
cada um.
Para analisar mais precisamente as mudanças urbanas na referida cidade, foi
essencial observar registros fotográficos atuais, para contrastar com as fotografias
antigas buscando uma nítida leitura das imagens que expressam as principais
mudanças ocorridas no urbano de João Pessoa; dando a devida importância ao
elemento humano como principal agente de tais transformações refletidas nas
fotografias analisadas.
Tomou-se como base uma sólida fundamentação teórica como: (FURLAN
2006, CORRÊA, R. L. ROSENDAHL 2001, FERRARI 1986, MARIANO NETO 2001,
LACAZE 1995, MÉLO 2005, SANTOS 1996, etc.) que veio enriquecer
cientificamente toda esta pesquisa; com o auxílio de câmera fotográfica e
documentos adquiridos em associações e departamentos públicos sérios e
competentes como: a Fortaleza de Santa Catarina, Igreja de São Francisco, Sebo
Cultural de João Pessoa, Casa da Pólvora e etc.
Tomando como objeto de estudo o patrimônio histórico do município de João
Pessoa – PB, tornou-se inevitável perceber que casarões abandonados no centro da
cidade possuem notáveis arquiteturas de período colonial os quais vêm perdendo
seus brilhos através do tempo e conseqüentemente ocultando aos olhares da
população atual a sua riqueza cultural.
É legítimo que providências imediatas sejam necessárias acerca desta
problemática, tendo em vista que se tratam de prédios muito antigos e, portanto
fragilizados perante as bruscas condições do tempo meteorológico.
A geografia é uma ciência preocupada com categorias de análise como a do
território enquanto unidade definida por ações sociais em que o poder é
fundamental. O planejamento urbano e a constituição de espaços patrimoniais
marcados pela dinâmica do espaço-tempo e pela relação sociedade-natureza
também estão na linha de frete das argumentações geográficas. Estas são
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possibilidades com as quais buscaram-se respostas para essa produção acadêmica
de especialização.
O exemplo dos casarões abandonados é o fio condutor para um levantamento
geográfico do acervo arquitetônico existente no espaço urbano de João Pessoa
enquanto necessidade de tombamento, recuperação, ativação e preservação que
possam marcar as rugosidades do espaço-tempo expressos no lugar e na paisagem
urbana de João Pessoa. Se no Trabalho Acadêmico Orientado (TAO), para a
conclusão do curso de licenciatura em Geografia, se trabalhou com a percepção do
espaço urbano a partir de imagens geofotograficas, agora voltar-se-á para as
possíveis intervenções que o espaço urbano vive em função de novos arranjos
arquitetônicos, descomprometidos com o passado urbano e responsável pelo
abandono ou pela degradação do patrimônio arquitetônico e geográfico que a cidade
possuiu.
A seguir, o presente trabalho de pesquisa apontará os objetivos propostos
seguidos de justificativa, metodologia e fundamentação teórica.
Objetiva-se analisar recortes urbanos da Capital através de fotografias antigas
e atuais visando perceber significativas transformações que interferem nos
movimentos da cidade e na qualidade holística do espaço em foco.
A pesquisa em questão justifica-se por utilizar fotografias como sendo um rico
instrumento para o planejamento de uma cidade, apontando transformações na
paisagem, produzidas pelos sistemas político-econômico e sócio-cultural interferindo
profundamente na qualidade de vida da população local.
O planejamento urbano pode tranquilamente partir da necessidade de
tombamento, recuperação e preservação do patrimônio arquitetônico, espacial e
cultural de uma cidade. No estudo de caso para o patrimônio histórico de João
Pessoa, se destaca um significativo conjunto de obras abandonadas tanto pelo
poder público local, quanto pela iniciativa privada de alguns proprietários que nem
sempre possuem a compreensão preservacionista ou condições financeiras para
conservar seu patrimônio.
Outra forte intervenção urbana pode ser percebida nos espaços com maior
valorização comercial, nas quais, antigos prédios são comprados, demolidos e em
seu lugar, construídas obras completamente distantes do antigo patrimônio urbano
existente. Estudar esta questão foi fundamental para se pensar em geografia capaz
de intervir espacialmente para indicar caminhos para o planejamento urbano local.
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O estudo foi fundamentado em pesquisa empírica e em observação direta.
Considerando o espaço urbano enquanto cenário de relações sociais com as quais
são estabelecidas as intervenções e transformações espaciais.
Nas concepções de Corrêa e Rosendahl (2004), a cultura é um instrumento
que altera, modifica, transforma, como também destrói, partindo das mãos do ser
humano, como um ser imperfeito e inacabado.
A paisagem natural está sendo submetida a uma transformação nas mãos do homem, o último é para nós o fator morfológico mais importante. Por meio de suas culturas faz uso das formas naturais, em muitos casos alterando-as, em alguns destruindo-as (CORRÊA; ROSENDAHL, 2004, p.56).
Ainda segundo Corrêa e Rosendahl (2004), a partir do momento em que o
homem dá significados, cria e torna-se também símbolo da paisagem, o mesmo vai
se apropriando de suas criações e conseqüentemente do meio por ele transformado.
Todas as paisagens possuem significados simbólicos porque são produtos da
apropriação e transformação do meio ambiente pelo homem (CORRÊA;
ROSENDAHL, 2004, p.108).
Segundo Mélo (2005), a relação memória e cotidiano é o conjunto simbólico
das experiências e das recordações que servem de peças interdependentes e
precisas ao despertar-nos para a leitura do espaço urbano.
O tecido urbano corresponde a uma construção social, que se (re) organiza simbolicamente no universo individual e coletivo, a partir da relação entre memória e cotidiano. Estes fornecem quadros de orientação e leitura que possibilitam compreender espaço, a partir da experiência da recordação que se enraíza na paisagem, na imagem e nos vários personagens que encenam e/ou encenaram suas peças no palco da cidade (MÉLO, 2005, p.9).
O aprofundamento destas questões foi feito com base em referenciais
teóricos que apontem para a idéia de planejamento urbano e para a elaboração de
diagnósticos capazes de explicitar os problemas urbanos relativos a degradação do
patrimônio arquitetônico da cidade e da vida urbana do município de João Pessoa
/PB.
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1.1 A Microrregião de João Pessoa na Mesorregião da Mata Paraibana
O estudo em pauta está inserido diretamente na Geografia Urbana devido
pontuar circunstâncias e conseqüências das atividades sócio-econômicas, culturais
e políticas sobre a área urbana do município de João Pessoa/PB que apresenta a
seguinte localização geográfica:
(Mapa 1) – Mapa Rodoviário Paraíba – 2002 – DNIT (Departamento Nacional de Infra – Estrutura de Transportes).
O atual município de João Pessoa está localizado na Mesorregião da Mata
paraibana a qual compreende uma área de 5.231,0Km² composta por 28 municípios,
limitando-se ao Norte com Rio grande do Norte, ao Sul com Pernambuco, a Leste
com o Oceano Atlântico e ao Oeste com a Mesorregião do Agreste Paraibano. A
cidade localiza-se na porção mais oriental das Américas e do Brasil, com longitude
oeste de 34º47'30" e latitude sul de 7º09'28. O local é conhecido como a Ponta do
Seixas. A altitude média em relação ao nível do mar é de 37 metros, com altitude
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máxima de 74 metros nas proximidades do rio Mumbaba, predominando em seu
sítio urbano terrenos planos com cotas da ordem de 10 metros, na área inicialmente
urbanizada. O clima da cidade é quente e úmido, do tipo intertropical, com
temperaturas médias anuais de 26°C. O inverno inicia-se em março e termina em
agosto. São duas estações climáticas definidas, as chuvas ocorrem no período de
outono e inverno e durante todo o resto do ano o clima é de muito sol. A
denominação mais usual para o clima da cidade é o de tropical úmido.
Umidade relativa do ar: a média anual é de 80%. Entre os meses de maio a
julho, o índice atinge o máximo, 87%, correspondendo à “época das chuvas”.
No período mais seco, é reduzido para 68%.
Vegetação: Mata Latifoliada Perenifólia Costeira (Mata Atlântica). Embora
bastante devastada, a cidade conta com importantes resquícios da Mata
Atlântica original preservados.
Densidade demográfica: 3.293,3 habitantes por km². Região Metropolitana1
Gráfico (01): FONTE: Barsa Planeta
1 A Região Metropolitana de João Pessoa, é constituída pelos municípios de Bayeux, Cabedelo, Conde, Cruz do Espírito Santo, João Pessoa, Lucena, Mamanguape, Rio Tinto e Santa Rita. A região abriga atualmente uma população de 1.062.791 hab. IBGE/2006.
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Box (01): Turismo e Cultura em João Pessoa/PB
Praia de Cabedelo. Estação Cabo Branco Recife de Picãozinho. Farol do Cabo Branco. Igreja de N.S. das Neves. Por do Sol na Praia do Jacaré. Praia do Jacaré. Teatro Santa Roza.
"Uma das capitais que emerge como um forte destino turístico no Nordeste do Brasil é João Pessoa,
cidade que vem apresentando grande crescimento do fluxo de visitantes todos os anos. A conquista
de um espaço no disputado ranking turístico está fazendo com que o Governo Municipal invista
principalmente na qualidade de vida como um dos principais atrativos do lugar. Várias campanhas se
espalham pela cidade. Numa garantia de cidadania e bem estar para todos os habitantes de João
Pessoa e seus visitantes. "
(FONTE: Secretaria Executiva de Turismo da Paraíba)
Localidades Histórica2 Museus3
2 Casa da Pólvora, Hotel Globo, Fonte do Tambiá (Localizada no Parque Arruda Câmara), Fonte de Santo Antônio (Localizada no Conjunto Arquitetônico São Francisco), Porto do Capim, Teatro Santa Roza, Palácio da Redenção, Forte de Santa Catarina (Localizado no município de Cabedelo), Igreja de São Francisco, Igreja de Santo Antônio,Igreja São Frei Pedro Gonçalves, Igreja do Carmo, Casarão dos Azulejos.
3 Museu Cultural do Centro de São Francisco, Museu José Lins do Rego, Casa do Artista Popular, Espaço Energisa, Memorial Augusto dos Anjos, Museu e Cripta do Oresidente Epitácio Pessoa, Arquivo Histórico do Estado da Paraíba, Museu José Américo de Almeida.
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Box (02):
Memória da cidade de João Pessoa é preservada (Publicado em 17/12/2007)
A preservação do patrimônio histórico está entre as ações de destaque do Governo do Estado. O resgate e identificação de informações arquitetônicas, históricas e artísticas do patrimônio histórico estão entre as ações de destaque do Governo do Estado, que nos últimos cinco anos tem buscado a reconstrução da história de João Pessoa, restaurando e recuperando monumentos, num trabalho realizado em parceria com diversas instituições, entre as quais o governo da Espanha.
“O maior patrimônio da humanidade é preservar sua memória, o que estamos buscando fazer, com todo o esforço, buscando parcerias”, comentou o governador Cássio Cunha Lima, quando participou da inauguração da restauração da Igreja da Misericórdia, na Capital.
É por isso que o reconhecimento do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan, ao tombar o Centro Histórico de João Pessoa como patrimônio nacional, foi recebido com euforia por parte da equipe do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba – Ipahep, ao lado da equipe da Comissão Permanente de Desenvolvimento do Centro Histórico de João Pessoa.Terceira cidade mais antiga do Brasil e considerada a segunda mais verde do mundo, João Pessoa há muito tempo aguardava esse título, considerado de grande importância pela diretora executiva do Iphaep, Regina Mota, principalmente do ponto de vista da identidade cultural e de sustentabilidade do Centro Histórico.
Ela aproveitou para agradecer o empenho e a colaboração efetiva da direção regional do Iphan e dos demais parceiros na conquista deste tombamento, cuja concessão, segundo acredita, possibilitará a atração de novos parceiros, bem como a construção de relações institucionais que viabilizem ações de sustentabilidade do denominado Centro Histórico de João Pessoa.
Das restaurações realizadas pelo Governo do Estado no Centro Histórico da Capital destacam-se as obras realizadas no ano passado no Hotel Globo, considerado um dos mais belos cartões postais de João Pessoa, cujo trabalho envolveu órgãos como a PBTur, Suplan e Iphaep, resgatando um pouco da história vivida pela sociedade paraibana no auge do plantio de algodão.
A reforma atingiu a parte estrutural física do prédio como instalações elétricas e hidráulicas, enquanto a restauração se deu no piso e teto preservando as características originais. Foram investidos cerca de R$ 150 mil na recuperação e restauração da obra resultado da parceria entre o Ministério do Turismo e o Governo do Estado, através da Empresa Paraibana de Turismo (PBTur).
As obras possibilitaram que o Hotel Globo assumisse ares de um verdadeiro memorial: lá estão expostas diversas peças do antigo mobiliário, bem como utensílios que faziam parte do dia-a-dia das atividades do hotel, a exemplo de pratarias e porcelanas e espelhos. Os móveis e objetos foram doados por integrantes da família de Henrique Siqueira - proprietário do estabelecimento que inicialmente funcionou na Rua Duque de Caxias, e que em 1929 foi instalado no Largo de São Pedro até o seu fechamento.
A reforma também serviu para adequar as dependências do Hotel Globo para abrigar o Centro de Informações Turísticas, instalado pela PBTur com o objetivo de oferecer um suporte aos turistas, que ali também podem contemplar uma exposição permanente de obras de artesãos do Programa A Paraíba em Suas Mãos e uma mostra sobre o próprio hotel. Nesse sentido, o Centro serviu para dar maior vitalidade ao Hotel Globo, como também para incrementar a atração de turistas para o Centro Histórico. Como ação complementar para tornar o antigo Hotel Globo cada vez mais atrativo aos turistas também foram implementados projetos de paisagismo, jardinagem e de iluminação. Além disso, passagens de visitantes foram refeitas para evitar o acúmulo de poças d´água, em dias de chuva.
A União
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1.2 Reflexos Teóricos
Segundo Furlan e Barbedo (2006), o planejamento urbano, rural e/ou
ambiental obtêm na leitura de imagens, sejam essas fotografias analógicas,
geofotografias, fotogrametrias digitais ou fotos de satélite, um recurso científico de
alta precisão para o pleno desenvolvimento urbano e a sustentabilidade do mesmo.
A preservação do patrimônio cultural, bem como o planejamento e o desenvolvimento urbano podem contar com recursos e técnicas cada vez mais avançados, advindas da ciência e da tecnologia. Um destes recursos está na utilização de imagens [...] as quais oferecem dados confiáveis e nítidos sobre o desenvolvimento e crescimento urbano, além de análises ambientais (FURLAN; BARBEDO, 2006, p.39).
Enfatiza ainda que se tais imagens forem analisadas em calculados intervalos
de tempo e de maneira sistematizada é possível conseguir resultados relevantes que
podem asseguram a preservação de determinadas áreas: Através da leitura das imagens, pôde-se realizar um inventário e iniciar o processo de monitoramento do patrimônio. Novas imagens geradas periodicamente [...] foram utilizadas para o monitoramento do crescimento das áreas, verificando intervenções ocorridas [...] tais como ampliações, e desenvolvimento urbano (FURLAN; BARBEDO, 2006, p.39).
O conceito de planejamento urbano se constrói gradativamente, de acordo
com o quadro holístico de cada área bem como as necessidades da comunidade, é
dessa forma maleável que o plano diretor deve se adequar ao que se propôs
previamente. O planejamento urbano é o processo de criação e desenvolvimento de programas que buscam melhorar ou revitalizar certos aspectos (como qualidade de vida da população) dentro de uma dada área urbana (como cidades ou vila); ou do planejamento de uma nova área urbana em uma dada região, tendo como objetivo propiciar aos habitantes a melhor qualidade de vida possível (ECIVIL, 2008, p.1).
Para Di Sarno (2004), o Urbanismo é entendido hoje como:
[...] uma ciência, uma técnica e uma arte ao mesmo tempo, cujo objetivo é a organização do espaço urbano, visando o bem – estar coletivo, realizado por legislação, planejamento e execução de obras públicas que permitam o desempenho harmônico e progressivo das funções urbanas elementares: habitação, trabalho, recreação e circulação no espaço urbano. (DI SARNO, 2004, p. 07)
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Afirma Fernandes (2000), que as questões urbanas e ambientais requerem
uma ampla compreensão dos vários fatores envolvidos, principalmente através de
um enfoque interdisciplinar que articule e integre os diversos processos, agentes e
mecanismos que determinam o processo de crescimento urbano e de exclusão
socioespacial. Enfatiza ainda que:
Juntamente com o avanço da legislação urbanística, o avanço da legislação ambiental tem sido contínuo desde os anos 30, embora até a década de 1980 a ordem jurídica ambiental tenha se caracterizado pelo tratamento fragmentado de aspectos parciais do processo amplo que hoje se chama ‘meio ambiente’. (FERNANDES, 2000, p. 24).
Para o bom desempenho do estudo em pauta, devido o mesmo está contido
de uma linha de pesquisa complexa, que aborda temas que embora façam parte de
um mesmo contexto não deixam de ser distintos como, por exemplo, de um lado
estão as técnicas obrigatórias de um Plano Diretor e do outro as memórias culturais
de uma população, o planejador precisa buscar na Fenomenologia esse portal da
maneira mais fiel possível.
Sartre (2006), menciona acertadamente Husserl, cujo fundador da
Fenomenologia, deixa claro que não se pode separar o homem do mundo, ou seja,
para tentar compreender o homem ou o mundo é indispensável que se inicie pela
essência dos fatos que constituem uma realidade constantemente mutável, levando
a compreender que as essências dos fatos retratados nas imagens fotográficas
estão justamente na emoção que possivelmente causariam.
Husserl foi tocado inicialmente por esta verdade: há incomensurabilidade entre as essências e os fatos, e quem começa sua investigação pelos fatos nunca conseguirá recuperar as essências. [...] é sempre assumir o seu ser, isto é, ser responsável por ele em vez de recebê-lo de fora como faz uma pedra (SARTRE, 2006, p.20 – 22).
É assim que se consegue perceber o quanto é importante poder contar com a
Geografia Cultural juntamente com a Fenomenologia como auxílio para o
Planejamento Urbano.
24
2. TRANSFORMAÇÃO URBANA E GEOGRAFIA CULTURAL
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2. TRANSFORMAÇÃO URBANA E GEOGRAFIA CULTURAL
[...] “as cidades testemunham com uma força expressiva rara o que foram as etapas anteriores das civilizações humanas. [...]”. Relata o autor que as cidades de hoje estão perdendo pouco a pouco o que “fazia a sua força e originalidade: a capacidade para agregar os homens em torno de seus ideais comuns, para produzir convivência, sociabilidade, tolerância, para permitir a coexistência tranqüila de destinos individuais contrastados, [...]” (LACAZE, 1995, p.07).
2.1 O Lugar, a Paisagem e seus significados
As transformações externas e internas, visíveis e invisíveis fazem parte do
cotidiano de todos os modelos de sociedade, porém enxergá-las, entendê-las para
melhor se adequar às mesmas é uma tarefa difícil e de longo prazo, tal dificuldade
deve-se principalmente a indiferença cultural a qual engloba uma série de fatores
como a insensibilidade e a insensatez de uma ideologia capitalista, disposta as
maiores atrocidades em prol de um pseudodesenvolvimento social, onde o
progresso torna-se cada vez mais distante da maioria.
Portanto, o presente capítulo vem tentar minimizar tal dificuldade de
compreender o contexto sócio-cultural, utilizando a Geografia Cultural e analisando a
visão de alguns teóricos preocupados com as conseqüências de um problema
aparentemente irrelevante, mas que vem acarretando a destruição da memória
cultural de uma geração à outra e desta maneira agravando a intolerância entre os
diversos grupos humanos em submissão à hegemonia imperialista.
Corrêa e Rosendahl (2000), mostram uma relação de interdependência entre
a geografia cultural e a geografia natural tendo em vista a complementação do
raciocínio acerca das transformações produzidas pela existência da vida humana e o
mundo natural. [...] os geógrafos culturais compartilham o mesmo objetivo de descrever e entender as relações entre a vida humana coletiva e o mundo natural, as transformações produzidas por nossa existência no mundo da natureza e, sobretudo, os significados que a cultura atribui às suas relações com o mundo natural (CORRÊA; ROSENDAHL, 2000, p.34).
No contexto da geografia cultural existem diferentes fenômenos de analises
nas quais os autores destacam a busca da imaginação poética a principal fonte de
cultura, pois é nela que se encontra uma grande diversidade que não se deixa
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confundir. “A imaginação poética é a que desperta maior interesse nos geógrafos
culturais. Ao gerar sentidos novos a criatividade poética é o elemento que produz
culturas e as diferencia” (CORRÊA; ROSENDAHL, 2000, p.42).
Corrêa e Rosendahl (2000), complementam acerca da atuação de grande
parte dos geógrafos culturais que: Os geógrafos culturais e outros estudiosos desta rede interligada de lugares têm que refletir sobre suas próprias práticas intelectuais e as práticas intelectuais dos outros. Todavia ninguém que ocupe os “lugares incompatíveis” dentro desta disciplina deve ser excluído, afinal há muita diferença entre ser incompatível e estar errado (CORRÊA; ROSENDAHL, 2000, p.82).
Assim, a escolha teórica e a linha de pensamento da geografia que privilegia
a cultura e o espaço, foram de fundamental importância para esta pesquisa, pois a
escolha do objeto e o trato com as questões da imagem fotográfica na análise do
espaço urbano são bem melhor trabalhadas pelos argumentos dos geógrafos
culturais.
Segundo Santos (1996), apesar do “lugar” apresentar suas singularidades ele
também transparece características de outros lugares cujas relações que mantêm
entre si, estão carregadas de marcas comuns e de relações estabelecidas entre as
pessoas de diferentes lugares. Todos os lugares são mundiais, mas não há um espaço mundial. Quem se globaliza mesmo são as pessoas e os lugares. [...] cada lugar não importa onde se encontre, revela o mundo (no que ele é, mas também naquilo que ele não é), já que todos os lugares são suscetíveis de intercomunicações (SANTOS, 1996, p. 32).
O argumento de Santos (1996), desperta para a importância do lugar na
geografia cultural, pois cada local guarda em essência e identidade do que lhe é
particular e também do que não lhe é.
Como afirma Corrêa e Rosendahl (2004), ao analisarem Sauer sobre suas
idéias acerca de “Paisagem” nas quais vê a mesma como um produto de ações
culturais. A paisagem natural ou geográfica resulta da ação, ao longo do tempo, da cultura sobre a paisagem natural. Nas palavras de Sauer: “A paisagem cultural é modelada a partir de uma paisagem natural por um grupo cultural. A cultura é o agente, a área natural é o meio, a paisagem cultural o resultado” (CORRÊA; ROSENDAHL, 2004, p.9, apud. SAUER,1924, p.17-33).
Nas concepções de Corrêa e Rosendahl (2004), a cultura é um instrumento
que altera, modifica, transforma, como também destrói, partindo das mãos do ser
humano, como um ser imperfeito e inacabado.
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A paisagem natural está sendo submetida a uma transformação nas mãos do homem, o último é para nós o fator morfológico mais importante. Por meio de suas culturas faz uso das formas naturais, em muitos casos alterando-as, em alguns destruindo-as (CORRÊA; ROSENDAHL, 2004, p.56).
Trata-se de uma rara análise de Corrêa e Rosendahl (2004), quando explicam
que uma mesma paisagem pode ser enxergada de maneiras distintas dependendo
da cultura a que pertence o observador, e que esse tal conjunto de observações
individuais é o que tende sempre a generalizar, seja a paisagem, a sociedade ou o
indivíduo.
Sobre o observador na posição de geógrafo, a visualização de tal paisagem
torna-se bem mais ampla, pois o geógrafo não descreve apenas o que vê como faz
um pintor de paisagens, e sim, além de descrever imagens invisíveis na paisagem o
mesmo analisa de maneira ilimitada, desvenda enigmas e por fim, define e classifica
os tipos e variações de paisagens, comparando-as cientificamente.
[...] a paisagem não é simplesmente uma cena real vista por um observador. A paisagem geográfica é uma generalização derivada da observação de cenas individuais. [...] “O geógrafo que descreve uma paisagem, tem a mesma tarefa de um pintor de paisagem”, tem, portanto somente validade limitada. O geógrafo pode descrever a paisagem individual como um tipo ou provavelmente uma variante de um tipo, mas ele tem sempre em mente o genérico e procede por comparação (CORRÊA; ROSENDAHL, 2004, p.24).
Ainda segundo Corrêa e Rosendahl (2004), a partir do momento em que o
homem dá significados, cria e torna-se também símbolo da paisagem, o mesmo vai
se apropriando de suas criações e conseqüentemente do meio por ele transformado.
Todas as paisagens possuem significados simbólicos porque são produtos da
apropriação e transformação do meio ambiente pelo homem (CORRÊA;
ROSENDAHL, 2004, p.108). Corrêa e Rosendahl (2000), explicam com categoria o “toque” sutil da
imaginação popular no contexto cultural. A imaginação é considerada aquilo que dá significado ao mundo, pois é por meio dela que o ser humano inicialmente realiza as transformações que condicionam sua existência na natureza. A imaginação não resulta apenas do intelecto, e seu papel não se vincula puramente à produção nem a reprodução social. Através de metáforas, a imaginação atribui novos significados aos diversos aspectos naturais e sociais da realidade (CORRÊA; ROSENDAHL, 2000, p.12).
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Mariano Neto (2001), diz que a imagem conta uma história e quando se junta
aos sentimentos de quem a olha torna-se poesia recheada de proximidade, apego,
cumplicidade, afetividade que ultrapassam tempos e espaços ali, inertes e
sacramentados pela ação instantânea de seu registro. A voz das imagens pode dar sentido ao espaço/tempo ritmadas pela luz e sombra do olhar. Uma linguagem poética da paisagem em que a fala de quem olha traça palavras que ultrapassam o sentido e a forma dos limites da afetividade momentaneamente congelada pelo clique do olhar (MARIANO NETO, 2001, p.105).
De acordo com Mariano Neto (2001), é através da experiência que o indivíduo
dá formas ao seu imaginário; logo, a mente, a imaginação e a razão tornam-se
fatores que aguçam os sentidos, revelando a todo o momento o que se sonha, o que
se acredita e o que se vivencia.
De modo como sabemos, as imagens em nossas cabeças formam um saber baseado na experiência e na imaginação, em que a mente é a natureza revelada; a imaginação o filme e o olhar, e a razão um negativo momentâneo, diante do oculto, místico, esotérico ou ainda não desvelado (MARIANO NETO, 2001, p.104).
São apenas nas imagens cotidianas produzidas pelo homem que o mesmo
será capaz de se reconhecer como produtor do espaço em que vive e desta forma
valorizar-se culturalmente.
2.2 Fragmentos do vazio urbano
[...] antes de qualquer passo no sentido de obter soluções no meio urbano, é necessário o diagnóstico da situação atual para que os problemas existentes sejam apontados e identificados (FERRARI,1986).
A cidade de João Pessoa já perdeu importantes monumentos arquitetônicos,
mais isso não é o vazio mais importante em foco, pois existem diferentes relações
de “vazios” urbanos estabelecidas entre cidadão e cidadão; cidade e cidadão e
cidadão e poder público. Estas são bases para este momento da pesquisa e sem os
quais a cidade poderá se descaracterizar por completo a cada nova geração.
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Grande oposição pública pode fazer com que as autoridades municipais ou governamentais recusem-se a suportar um dado plano diretor. Oposição pública acontece porque ou grande parte da população acha que tal plano irá beneficiar apenas uma pequena parcela da população da cidade ou que sairá caro demais para cidade, seja em termos econômicos ou culturais (ex: demolição de patrimônios históricos, etc) (ECIVIL, 2008, p.6).
O “vazio” não é de todo vazio, pois nele conserva-se a aura de tudo aquilo
que um dia ali esteve, devido cada matéria ter a sua razão de ocupar lugar no
espaço o qual um dia foi um espaço exclusivamente seu, de maneira que a essência
dos fatos que ali se sucederam, não serão encontradas em outro espaço senão
naquele. É de conhecimento geral a situação alarmante em que se encontra a maioria das cidades brasileiras, devido principalmente a um crescimento rápido e desordenado: de um país tipicamente rural até 1940, o Brasil tem hoje 77% de sua população total vivendo nas cidades (SANTOS, 1996).
Ao observar-se a ausência de um determinado prédio, nota-se o “vazio” em
seu sentido mais literal e, portanto da maneira mais óbvia e perceptível, por outro
lado observarem-se pequenas lacunas quase imperceptíveis, é o mais essencial na
perspectiva deste estudo, seguindo o raciocínio de Corrêa e Rosendahl (2004), visto
que o vazio urbano não está apenas na demolição de uma casa, edifício, igreja,
teatro, etc., mas também na ausência das suas características arquitetônicas
originais, nas lacunas preenchidas por um pseudomelhoramento.
Na verdade, uma indicação de seu status residual é a dificuldade que tem os arquitetos de encontrar um estilo apropriado para o papel cultural da igreja na vida moderna. Igrejas antigas tornaram-se discotecas e supermercados baratos, enquanto os prédios das novas igrejas parecem discotecas e supermercados baratos (CORRÊA; ROSENDAHL, 2004, p.118).
Não se trata de desvalorizar a arquitetura moderna e menos ainda banalizar o
crescimento horizontal e/ou vertical urbano, trata-se de preservar os traços culturais
presentes no desenho de um antigo prédio, para que o mesmo possa ser
identificado em meio a uma “selva” de muitos outros com seus designs de ponta,
cujas formas tão modernas e mirabolantes, num futuro não muito distante,
expressarão também toda sua história, o tempo a qual pertenceram, a arte dos
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homens do seu tempo, a qualidade dos materiais utilizados e uma infinidade de
revelações que serão úteis para o progresso de qualquer meio urbano. No município, um dos pontos mais importantes e decisivos nos caminhos que a cidade poderá tomar na questão ambiental urbana é em relação ao Plano Diretor. Na atualidade, sob obrigação legal, a elaboração do Plano Diretor propicia, quando desenvolvido com a preocupação sustentável, além das tarefas de intervenção fiscalizadora, normativa ou de fomento, também a fixação de objetivos, prioridades e diretrizes para as atividades econômicas, local e regionalmente abordados, de forma a permitir sua evolução, desempenho e perspectivas, incluindo aí também a geração de tributos (NASCIMENTO; CAMPOS, 2006, p.2).
Outros tipos de “vazio urbano” que não se percebem de imediato através das
imagens geofotográficas, mas que de alguma maneira ao analisar-se mais
profundamente em conjunto com as narrativas do imaginário popular, podem ser
encontrados nas relações cidade/cidadão, cidadão/cidadão e cidadão/poder público.
Tais relações fazem parte de todo tipo de grupo social, não importa o país, a classe
social, ou a cultura. Observe:
Na relação cidade/cidadão – existe hoje um vazio presente no descaso do
cidadão para com a cidade, como a indiferença e inconseqüência com o meio
ambiente (poluição sonora, poluição visual, infrações, etc.) o que não deixa de
interferir nas outras relações.
Na relação cidadão/cidadão – detecta-se a insegurança para com o outro,
gerando conflitos graves e distância (violência, desconfiança, negligência,
isolamento, etc.) desestruturando o vínculo cultural entre as pessoas, gerando o
individualismo e despreocupação com o conjunto da sociedade.
Na relação cidadão/poder público – o vazio se expande quando o cidadão não
se percebe como agente de transformação, quando o mesmo desconhece a força da
gestão participativa da sociedade (acomodação, conformação, impunidade, etc.)
desencadeando revoltas fantasiadas de revoluções.
As primeiras práticas de planejamento urbano, no Brasil, foram isoladas e, de maneira geral, refletiram a iniciativa de governos locais. Assim, no conjunto, nunca chegaram a configurar uma política urbana para o país. Inicialmente, foram desenvolvidos apenas para as grandes cidades, e, depois, reproduzidos nos outros núcleos. Essa adaptação, muitas vezes, se fazia de forma inapropriada aos propósitos estabelecidos, não sendo consideradas as particularidades de cada núcleo. Sendo assim, o planejamento urbano, no período que antecede 1964, caracterizava-se pela
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abordagem do espaço como uma variável autônoma e isolada, tendendo a promover a segregação do espaço urbano e a concentração de investimentos nos setores espaciais, destinados ao uso da burguesia urbana (NASCIMENTO; CAMPOS, 2006, p.5).
O mais grave é que o poder local concentra-se nas mãos de uma minoria e o
conjunto da sociedade no máximo aclama com a democracia indireta do voto e na
maioria das vezes nem a crítica faz. Assim, a cidade que é transformada sem uma
profunda reflexão dos seus cidadãos, termina por perder a essência e o sentido
cultural de sua existência.
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3.PEÇAS QUE SE ENCAIXAM: O “ONTEM” E O “HOJE”
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3. PEÇAS QUE SE ENCAIXAM: O “ONTEM” E O “HOJE” Planejadores urbanos de sucesso levam o caráter, de "casa" e "senso de lugar", identidade local, respeito por heranças naturais, artísticas e históricas, e o entendimento dos (possíveis) principais problemas como tráfego, transporte, utilidades e desastres naturais (ECIVIL, 2008, p.7).
3.1 Revelação da Paisagem Geofotográfica
O trabalho com as imagens fotográficas aqui selecionadas demonstra a
constituição de um texto de imagens, considerando que as fotografias em preto e
branco, são fotografias extraídas do “Álbum de Memória” A Cidade de João Pessoa -
coletânea do Acervo Museu Walfredo Rodrigues (1871-1942) e suas respectivas
legendas datadas, no mais, todas as fotografias coloridas são imagens do ano de
2008 e feitas pela autora, considerando então, o espaço-tempo como as duas
categorias gerais de análise comparativa das imagens e suas diferentes situações
geográficas. A escolha por esta seqüência de imagens foi proposital e sua
disposição aqui no trabalho monográfico é para que cada leitor construa seu próprio
entendimento do que as imagens representam para a vivência urbana.
Como se pôde perceber até o momento, são os habitantes de uma cidade
que as desenham através do tempo e mantêm uma relação de topofilia com o seu
lugar, conquistando sua territorialidade gradativamente de deixando como herança
para as novas gerações e essa ligação física e cultural lugar/Homem/cultura é
sempre abordada desde o planejamento de cidades muito antigas e desde então
super desenvolvidas, como se segue:
Habitantes de cidades da antiguidade criaram certas áreas destinadas para encontros, recreação, comércio e culto religioso. Muitas destas cidades possuíam muralhas em volta, cujo objetivo era impedir (ou, ao menos, de dificultar) o acesso de possíveis inimigos à cidade. A construção de prédios públicos e monumentos são outros exemplos de planejamento urbano nos tempos antigos, das quais, as cidades mais famosas são Roma e Atenas (ECIVIL, 2008, p.2).
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Quadro 01
Praça Pedro Américo (1912) – 1º Batalhão da Polícia Militar (esquerda), Prédio comercial (centro) e Teatro Santa Roza (direita). Na atualidade (2008) temos a rua larga, asfaltada e composta de sinalizações de trânsito o que melhorou bastante a qualidade de acessibilidade e circulação para os pedestres e os motoristas.
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Quadro 02
Beco da Misericórdia (1931) – Rua Peregrino de Carvalho, na atualidade (2008) nota-se que apesar do trecho carregar ainda o mesmo desenho arquitetônico o mesmo encontra-se deteriorado, denunciando o descaso com o patrimônio histórico no centro da cidade, outro ponto de destaque é a pobreza arbórea em contraste com a arborização de 1931, quando João Pessoa ainda nem havia recebido o título de 2ª cidade mais verde do mundo.
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Quadro 03
Colégio Nossa Senhora das Neves (1920) – Temos aqui um belíssimo exemplar de preservação, o antigo colégio Nossa Senhora das Neves, hoje (2008) tornou-se uma Faculdade de Ciências Médicas e apesar da construção da capela (esquerda) manteve toda a sua riqueza arquitetônica, provando que é possível se modernizar sem perder a identidade cultural.
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Quadro 04
Rua Nova (1940), atual General Osório – Vê-se os brotos das árvores que se apresentam em 2008 todos adultos e envergados encobrindo a visão da bela igreja ao fundo, a fotografia da rua Nova em 1940 transparece uma tranqüilidade diária de cidade do “interior” enquanto que a tranqüilidade na foto de 2008 só foi possível por ser uma tarde dominical, visto que hoje toda extensão da rua General Osório é 90% comercial.
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Quadro 05
Antiga Cadeia Pública (1920) – depois Palácio da Viação, atual (2008) Central da Polícia, construção de 1860 nota-se uma grande perda das características arquitetônicas através do processo de ampliação do prédio. Em 1920 a sua direita se avistara o Rio Sanhauá, hoje essa visão foi substituída pela arborização da Rodoviária Interestadual.
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Quadro 06
Rua Duque de Caxias (1871) – Nota-se o Cruzeiro ao fundo, é o mesmo que se encontra em frente a Igreja de São Francisco o qual se apresenta mais pra direita na fotografia antiga, já na fotografia atual ele aparece mais pra esquerda essa transformação se deu por conta do avanço das casas (do lado esquerdo da rua) sobre a calçada, no entanto nota-se que o desenho arquitetônico das casas foi preservado, como também o recorte das calçadas (do lado direito) tornou a rua mais reta.
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Quadro 07
Ponte do Rio Sanhauá (1920) – A ponte interligando o município de Bayeux à Capital, durante muitas décadas proporcionou uma acessibilidade rápida aos transeuntes e comerciantes, principalmente àqueles que viviam da pesca do caranguejo, mas com o desenvolvimento industrial a qualidade e a quantidade dos transportes viários inviabilizaram o tráfego através da ponte, que por ser estreita não possibilitava mão-dupla, nem mão única devido o comprometimento da sua estrutura física, sendo assim interditada nos anos 90 e substituída pela construção da Avenida Nova Liberdade.
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Quadro 08
Paraíba Palace Hotel (sem data) – O ângulo da fotografia acima nos permite constatar que o prédio passou por uma redução horizontal significativa e posteriormente por uma ampliação vertical, dando ao hotel uma larga fachada e uma cobertura de varanda extensa e ampla com um térreo composto por estabelecimentos comerciais, característica típica de hotel localizado no centro da cidade. Percebe-se que a tranqüilidade e a segurança do cenário antigo expressadas pelas ruas livres do comércio e do barulho dos automóveis (havendo apenas o Bonde), já não são privilégios do cenário urbano atual (2008).
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Quadro 09
Praça das Mercês (1910) – O planejamento sem compromisso com a cultura, com a preservação e com o imaginário, pode empobrecer de maneira irreversível determinadas paisagens. A antiga Igreja das Mercês localizava-se onde hoje há a bifurcação na Praça 1817 (2008). Não é necessário ser especialista em planejamento urbano para perceber que seria plenamente possível existir a bifurcação juntamente com a Igreja.
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Quadro 10
Ponto de Cem Réis (1920) – As características arquitetônicas sofreram muitas modificações o que tornou a identificação do trecho quase impossível, até o momento não se pode afirmar que a Igreja da foto antiga é a mesma da foto atual, porém não há na cidade outro local mais idêntico a esse. Fazendo uma leitura superficial da imagem observa-se que os formatos dos janelões dos sobrados à direita carregam ainda o mesmo formato no atual prédio do Banco Bradesco e que o calçadão continua tendo a mesma função para os que ali transitam. Observa-se uma mancha escura no centro do calçadão o que se acredita ser a construção do busto de Duque de Caxias presente na foto atual.
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Quadro 11
Coreto da Praça João Pessoa (1916) – Antiga praça Felizardo Leite, nota-se a substituição do antigo coreto pelo monumento a João Pessoa, a arborização ainda é a mesma, no entanto essa praça perdeu muito no que diz respeito a sua função urbana que era de acolher os moradores de suas redondezas no final das tardes, hoje (2008) tornou-se um ambiente agitado, cenário estratégico para protestos populares visto que se localiza diante dos prédios dos três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) do estado da Paraíba.
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Quadro 12
Palácio do Governo e o Convento dos Jesuítas (1878) – Vê-se que foram preservados os traços arquitetônicos, além de ter passado por uma boa restauração o prédio do antigo convento dos Jesuítas também recebeu um acréscimo em sua torre com a instalação de um relógio no seu topo dando a noção do Tempo e impondo a “pontualidade” como ordem social e hoje abrigando a Faculdade de Direito da UFPB.
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Quadro 13
Tribunal de Justiça (1932) – Solenidade para inauguração do monumento a João Pessoa cuja escultura se encontra bem no centro da atual Praça João Pessoa em frente ao Tribunal de Justiça o qual passou por uma ampliação horizontal e uma reforma considerável para a preservação do patrimônio histórico de João Pessoa/PB. Constata-se que foram mantidos sua arborização e seus lustres.
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Quadro 14
Av. Baurepaire Rohan (2008) – A foto atual foi tirada a partir da Av, B. Rohan, pois já não é possível obter o mesmo ângulo da fotografia antiga visto que a rua Barão do Triunfo na atualidade apresenta uma direção diferente da qual não se avista mais o Teatro Santa Roza de frente, como se avistara em 1910.
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Quadro 15
Igreja de São Francisco (1900) – Este é mais um exemplo de preservação e ativação do patrimônio histórico pessoense, pois além de ser um cartão postal para a cidade, contribui para a representação da arquitetura barroca recebendo turistas e pesquisadores. Atualmente, os azulejos que compõem os muros laterais do largo estão sendo restaurados, devido a sua deteriorização no transcorrer do tempo.
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Quadro 16
Rua Marciel Pinheiro (1916) – Nota-se que a rua continua exercendo a sua função comercial, embora seus prédios tenham passado por pequenas modificações funcionais como o prédio do antigo Banco do Brasil que hoje se tornou uma loja de autopeças, houve uma ampliação lateral que preencheu a lacuna do antigo beco existente a sua esquerda. A rua calçada e a estrada de ferro deram lugar ao asfalto, tornando-a ainda mais movimentada por pedestres e automóveis que se locomovem até ela em virtude de seu comércio.
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Quadro 17
Estação Ferroviária (1942) – Pela análise das fotografias percebe-se que não houve modificações arquitetônicas no local, o mesmo não podendo dizer em relação a sua funcionalidade que agora passa a ter um menor fluxo diário em virtude do acesso a outros meios de transporte, além de que a população atual que se beneficia desse tipo de condução é predominantemente formada pela camada social de menor poder aquisitivo contrastando com a época anterior quando só que tinha acesso era a classe média e alta da sociedade.
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Quadro 18
Rua da Areia (1906)- A maior modificação foi à construção do viaduto cortando a rua transversalmente. A igreja continua sendo vista ao fundo das imagens, sendo percebido também que houve uma preservação na fachada de muitos imóveis mantendo-se as características arquitetônicas originais. A curvatura continua sendo mantida, embora agora o calçamento dê lugar ao asfalto.
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Quadro 19
Antigo mercado Montenegro (1920) – A paisagem encontra-se totalmente transformada já que o mercado foi totalmente demolido para dá lugar a pequenos estabelecimentos comerciais na atual Av. Baurepaire Rohan.
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Quadro 20
Praça Antenor Navarro (1928) – Sobrados Demolidos – onde hoje é o chamado “Centro Histórico” da Capital, detalhe para a Torre da Igreja que já não se consegue avistar em 2008.
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4. PLANEJANDO O FUTURO ATRAVÉS DO PASSADO
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4. PLANEJANDO O FUTURO ATRAVÉS DO PASSADO
Um plano diretor mostra a cidade como ela é atualmente e como ela deveria ser no futuro. [...] mostra como o terreno da cidade deve ser utilizado e se a infra-estrutura pública de uma cidade como educação (escolas e bibliotecas), vias públicas (ruas e vias expressas), policiamento e de cobertura contra incêndio, bem como saneamento de água e esgoto, e transporte público, deve ser expandida, melhorada ou criada (ECIVIL, 2008, p.4).
4.1 Recortes Urbanos: pontos positivos e negativos para a dinâmica urbana de João Pessoa
Três coisas são fundamentais para entender o espaço geográfico de João
Pessoa a partir das imagens fotográficas aqui expostas:
A primeira é no sentido de que o leitor ao fazer um passeio pela cidade,
poderá encontrar um roteiro de elementos arquitetônicos intactos, “tatuados” apenas
pelas marcas do tempo e expostos enquanto textos historicamente constituídos
pelas mãos humanas;
A segunda é observar significativas transformações vividas pelo espaço,
provocadas pelo processo de demolição, surgimento de novas edificações, alteração
dos roteiros de ruas, novas ocupações, reconstrução de fachadas e o próprio
abandono de algumas áreas e;
A terceira é a possibilidade de a partir das imagens fotográficas, perceber que
o trabalho da memória e da imaginação pode fazer com que se (re)viva momentos e
movimentos humanos, em cenas do cotidiano, em cenários de um espaço urbano
que guarda na fotografia congelada um outro tempo, um outro espaço e uma outra
cultura, que são ao mesmo tempo de ontem e que estão aqui e agora. Não mais nos
mesmos humanos, mas nos seus descendentes diretos ou em outras pessoas que
aqui chegaram e que por aqui passaram e de uma maneira ou de outra, marcaram
com suas impressões, a paisagem, o lugar e a cultura estabelecida socialmente. [...] o Urbanismo trabalha (historicamente) com o desenho urbano e o projeto das cidades, em termos genéricos, sem necessariamente considerar a cidade como agente dentro de um processo social conflitivo, enquanto que o planejamento urbano, antes de agir diretamente no ordenamento físico das cidades, trabalha com os processos que a constroem (ainda que indiretamente, sempre atue no desenho das cidades) [...] o planejamento urbano é multidisciplinar e o Urbanismo uma disciplina autônoma (ECIVIL, 2008, p.1).
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Nesse sentido, foram estabelecidos os vinte pares de imagens que aqui foram
entendidos enquanto textos, não constituídos por palavras, mas representados por
sentidos imagéticos que dizem muito, sobre o cotidiano do lugar e sobre a
organização estabelecida espacialmente pela sociedade, pelos cidadãos e pelo
poder local. E, tanto o cidadão, quanto a sociedade está na base de constituição do
poder local, mas esse pode ser político, cultural e religioso, o que representa nas
imagens a força de significados que cada uma carrega em si.
Às vezes as imagens de um determinado ponto da cidade, podem trazer
significados de outros lugares, sentidos de movimentos ou deslocamentos de coisas
e pessoas, como em um roteiro ou itinerário de sentidos. Basta observar a estação
ferroviária e ler nas entrelinhas das fotografias que aquele espaço já teve grande
significado para João Pessoa e hoje são atribuídos novos significados ao mesmo
lugar.
Outro elemento de poder observado no cenário urbano é o espaço do
sagrado, que pode nem ser percebido nesse aspecto, mas diz respeito ao sentido
religioso de poder, revestido de fé e que ocupa área privilegiada do sítio urbano,
dando sentido de organização e direcionamento para a vida na cidade. Os prédios
representados pelas igrejas conjugam forças da cultura local, apresentam cenas do
cotidiano e estabelecem os princípios norteadores dos muitos cidadãos.
A igreja foi o tijolo fundamental para soerguimento das milhares de cidades
brasileiras. Em João Pessoa a história se repete e as fotografias testemunham essa
significativa constituição espacial do sagrado, ordenando as outras unidades e
equipamentos urbanos que compõem a cidade de João Pessoa os quais é possível
ler em cada fotografia. A praça, a rua, a padaria, o Hotel, as lojas comerciais e as
residências em destaque, estes são testemunhos imagéticos de uma ordenação
espacial, ora conservada ora alterada e que permitem importantes análises
comparativas da paisagem e da cultura local possibilitando planos viáveis de
desenvolvimento urbano. Durante o processo de elaboração do plano diretor, os planejadores urbanos, representados por profissionais de várias áreas, como engenheiros, arquitetos e urbanistas, economistas, sociólogos, geógrafos, juristas, estatísticos, biólogos, analisam a realidade existente do município e, com a participação da sociedade civil, representada por comerciantes, agricultores, associações de moradores, ongs e movimentos sociais, propõe novos rumos de desenvolvimento do município, buscando-se alcançar a realidade desejada por toda a população (ECIVIL, 2008, p.5).
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Mariano Neto (2001), refere-se à construção das imagens como resultado da
comunicação entre as sensações percebidas pelos sentidos e pelo comportamento
humano.
Sensação, percepção, representação, comunicação, e identidades. Um pentagrama do universo emocional e material do humano, confirmando-se assim os sentidos superiores, onde as sensações recebidas e percebidas se comunicam para a construção das imagens que permitem todos os comportamentos que nos identificam (MARIANO NETO, 2001, p.101).
Os verdadeiros significados da trajetória humana estão em tudo aquilo que,
embora tenha passado permanecerão pra sempre nas “esquinas” da memória, pois
é impossível definir cultura sem antes senti-la na própria pele ou através das
crenças, costumes e valores de cada povo.
A sociedade atual abre as portas para culturas alheias aos seus costumes,
deste modo se dá um processo gradativo de aculturação onde o principal fator não é
abrir as portas para outras culturas e sim deixar que a sua própria cultura vá embora
por essa mesma porta.
Devido à vulnerabilidade cultural da sociedade constata-se uma dificuldade de
identificar suas raízes, e acabam por se equivocarem assimilando “culturas”
impostas pelo poder capitalista o qual consegue atrofiar nossas crenças, valores e
costumes, transformando não somente o meio em que vivemos, mas também nossa
maneira de viver, de ver e de ser.
Assim como a imagem geofotográfica oferece uma rica possibilidade de
elementos para análise, cada modalidade cultural possibilita a leitura de outras
culturas, observe que nas imagens em questão, pode-se notar a expressão de
outras culturas como, por exemplo, a cultura arquitetônica, de artefatos e
vestimentas, até mesmo da própria fotografia, a maneira como foi produzida é muito
diferente da forma como se produz fotografia hoje, sendo também uma
transformação cultural.
Como já foi expresso, o objetivo é instigar múltiplas indagações, pois é
buscando respostas dentro da Geografia da Percepção, da Geografia Cultural e da
Geografia Urbana que se edifica uma consciência cultural logo é através desta que
se constrói um espaço adequado ao nosso grupo social.
58
O dia-a-dia de um planejador urbano inclui principalmente melhorias na qualidade de vida dentro de uma certa comunidade. Uma comunidade é vista por um planejador urbano como um sistema, em que todas as suas partes dependem umas das outras [...] precisam prever o futuro e os possíveis impactos, positivos e negativos, causados por um plano de desenvolvimento urbano, os quais muitas vezes vai favorecer ou contrariar os interesses econômicos dos grupos sociais para os quais trabalham (ECIVIL, 2008, p.1).
Pois para Corrêa e Rosendahl (2004), a geografia está em toda parte,
reproduzida diariamente por cada um de nós (CORRÊA; ROSENDAHL, 2004,
p.121).
59
CONSIDERAÇÕES FINAIS Fundamentando-se minuciosamente com o propósito de buscar
conhecimentos precisos sobre um tema pouco explorado dentro da geografia,
detectou-se o quanto a Geografia Cultural e da Percepção são capazes de
fundamentar qualquer debate geográfico, visto que a cultura e a percepção são
elementos produzidos pela humanidade e esta por sua vez é responsável pela
produção do espaço como um todo.
A leitura das imagens fotográficas antigas e atuais de João Pessoa/PB,
representadas em quadros que retratam o “antes” e o “depois” de alguns trechos da
cidade objetivou-se aguçar a percepção do leitor, o que o faz além do visível,
estimulando também a memória e o imaginário de quem viveu ou não o momento
retratado.
Na análise geofotográfica do urbano que se acaba de esboçar, com o
propósito de alcançar uma forma mais clara e precisa de leitura de paisagens para
compreensão das circunstâncias que produzem transformações na cidade, e
respectivamente as conseqüências dessas transformações dentro do contexto sócio-
cultural e urbano, convence-se que a fotografia para fins científicos, especificamente
urbanísticos é comprovadamente um instrumento essencial para a obtenção de
resultados consistentes e rendimento para a pesquisa.
Ao longo do trabalho em questão, foi possível constatar que os aspectos
urbanos confundem-se com os aspectos culturais e estes por sua vez dão um
caráter todo particular à cidade. Vê-se que as particularidades do urbano são
produzidas pelas singularidades do humano, expressadas através da cultura a qual
é responsável por desenhar toda trajetória das sociedades, gravando em cada lugar
algo que as identificam.
O processo de transformação urbana observado na cidade de João
Pessoa/PB se deu de maneira complexa e relacionou-se aos diversos processos da
dinâmica urbana, o que levou-se em consideração foi o fenômeno produzido e
depois percebido fotograficamente, de modo que proporcionou singular
compreensão ao pesquisador. Portanto detectou-se que através daquele instante
congelado na fotografia se é possível analisar tempos passados e prever tempos
futuros, logo, conservar o que é positivo e descartar os erros de intervenções
causadas no espaço. Um claro exemplo dessa argüição foi à demolição da Igreja
das Mercês onde hoje é uma bifurcação na Praça 1817, uma perda irreparável e
60
desnecessária já que se podia planejar a bifurcação juntamente com a Igreja. A
fotografia que retrata a riqueza arquitetônica da Igreja é uma demonstração fiel da
necessidade de planejamento urbano em qualquer circunstância, seja ela obrigatória
e urgente para viabilizar o tráfego de veículos ou apenas uma questão estética da
cidade.
O diferencial entre os planejadores e os planejadores geógrafos está
justamente na consciência preservacionista, está em saber que o patrimônio
histórico pode viver em harmonia com a modernidade.
Observou-se durante todo este estudo que tais aspectos negativos presentes
no desenvolvimento e transformação da cidade, ao interferirem no contexto cultural
urbano podem acarretar a “opacidade” das características culturais de um
determinado lugar e desta maneiras ocultá-las do conhecimento de gerações futuras
cuja identidade cultural, desde suas raízes, encontra-se ali concentrada, pré-
disposta e inexplorada, onde, o observador aplicando e estimulando de algum modo,
a percepção, a análise, o estudo e explorando a “luminosidade” da imagem,
indubitavelmente encontraria respostas para perguntas que estão durante séculos e
séculos impedindo a humanidade de conhecer a si mesma.
João Pessoa vista pelo prisma dos seus diferentes fotógrafos, os quais
conseguiram guardar em seus registros, elementos da paisagem que em muitos
casos restam apenas naquelas imagens ou na memória dos seus antigos
moradores, que viram e viveram aqueles momentos e transformações urbanas. No
entanto, a memória que não se registra se perde com quem as constituiu em sua
historia cotidiana de vida. Daí dizer que a fotografia é uma memória congelada, é
uma matéria da memória que a fotografia registra e permite que as gerações
posteriores possam constituir novos elementos memoriais daquelas imagens.
Como é bom observar uma fotografia e ver o que permanece, ver o que
mudou, observar as pessoas em seus trajes de época, os sentimentos e emoções
vividos em épocas passadas e que se percebe na memória dos velhos que viveram
aquelas cenas e que podem contar para o pesquisador. Aqueles eventos ou aqueles
lugares fotografados, quando observados pelo leitor que conhece aquela paisagem,
consegue construir estas imagens em movimentos como se fossem filmes que o
transportasse para aquele momento observado. Viajar na fotografia, ler os antigos
jornais de época que circulavam durante os eventos culturais da cidade e escutar as
narrativas de quem viveu aquelas imagens é poder valorizar culturalmente o espaço
e a memória enquanto patrimônios da humanidade.
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Considera-se então que o presente trabalho ao analisar as imagens
geofotográficas do urbano reconhece metodologicamente que a fotografia seja um
meio de aproximação entre o geógrafo e um mundo perdido no tempo, onde se
revela a memória cultural de diferentes gerações, expressas em suas ações sociais
e que de diferentes maneiras interferiram na paisagem e deixaram registradas para
as gerações futuras.
62
REFERÊNCIAS CIDADE DE JOÃO PESSOA: “Álbum de Memória” - Acervo Museu Walfredo Rodrigues (1871-1942) / Fernando Moura (organizador): João Pessoa: PMJP. Marca de Fantasia. 2006. 104p.
CORRÊA, R. L; ROSENDAHL, Z. (org.) Matrizes da Geografia Cultural / Rio de Janeiro: EdUERJ, 2001.
_______ Geografia Cultural: Um Século (2). Tradução: Tânia Shepherd/ Rio de Janeiro: UERJ, 2000. 112p.
_______ Paisagem, Tempo e Cultura. 2ª ed. Rio de Janeiro: UERJ, 2004. 124p. CORRÊA; R. L. ROSENDAHL, Z. (org.) Paisagem, Tempo e Cultura 2ª ed. Rio de Janeiro: UERJ, 2004. 124p.
DI SARNO, Daniela Campos Libório. Elementos de Direito Urbanístico. Barueri, SP: Manole, 2004.
FERNANDES, Edésio. Direito urbanístico e política urbana no Brasil. Belo Horizonte: Del Rey, 2000.
FERRARI, C. Curso de Planejamento Municipal Integrado. São Paulo, Pioneira, 1986. 631p.
LACAZE, Jean-Paul. A Cidade e o Urbanismo. Lisboa, Portugal: Flammarion, 1995. MARIANO NETO, Belarmino. ECOLOGIA E IMAGINÁRIO: memória cultural, natureza e submundialização. João Pessoa: Universitária, 2001. 206p.
MÉLO, Evaneide Maria de. Lendo Imagens: representações imaginárias de Jardim do Seridó/RN (1950 -1980). Trabalho de pós-graduação em andamento, Natal: 2005.
SANTOS, Milton. Por uma Geografia Nova. da crítica da geografia a uma geografia crítica, 4ª ed. São Paulo: HUCITEC. 1996, 236p.
________, M. A Urbanização Brasileira. São Paulo, HUCITEC, 3ª ed., 1996.157p.
SARTRE, Jean – Paul. Esboço para uma Teoria das Emoções (Tradução: Paulo Neves). Porto Alegre: L&PM. 2006, 96p.
63
Artigos em revistas, anais de congressos, jornais e Internet:
ECIVIL. Planejamento Urbano. Disponível em: http://www.ecivilnet.com/artigos/pdf/planejamento_urbano.htm Acessado em 23.11.08 FURLAN, Erich de Araujo, BARBEDO, Simone Angélica Del-Ducca, INPE. Imageamento como Ferramenta para Preservação e Monitoramento de Centros Históricos Brasileiros in ARC – Revista Brasileira de Arqueometria Restauração Conservação p.39 Edição Especial Nº 1 AERPA Março 2006.
NASCIMENTO D. T., CAMPOS E.T. Instrumento de Planejamento Territorial Urbano: Plano Diretor, Estatuto da Cidade e a Agenda 21 in Artigo COBRAC 2006.
64
ANEXOS
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Anexo (1)
Livro: Fonte das fotografias antigas expostas no trabalho.
66
Anexo (2)
Organograma - SEPLAN
67
Anexo (3)
O Planejamento Urbano em Joaão Pessoa/PB desde 1931
Sala técnica da Prefeitura Mucicipal da Capital
68
Anexo (4)
Mapa Rodoviário da Paraíba (2002) DNIT