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* Geografia Ambiental e da Saúde
DEPÓSITOS TECNOGÊNICOS EM PRESIDENTE PRUDENTE-SP: A INTERVENÇÃO HUMANA NA FORMAÇÃO DE NOVAS PAISAGENS
Lucas Junior Pereira da Silva lucasjuniorgeo@gmail.com
Licenciado e Bacharelando em Geografia Faculdade de Ciências e Tecnologia – Unesp Presidente Prudente
Bolsista PIBIC/CNPq
João Osvaldo Rodrigues Nunes joaosvaldo@fct.unesp.br
Docente do Departamento de Geografia Faculdade de Ciências e Tecnologia – Unesp Presidente Prudente
Resumo
Depósitos tecnogênigcos se constituem como materiais sedimentares resultantes da ação humana. Deste modo se apresentam como testemunhos da relação sociedade-natureza que ocorre no espaço geográfico. Assim este estudo de caso propõe descrever as transformações ocorridas por esta relação no município de Presidente Prudente-SP ao caracterizar a intervenção humana na formação dos depósitos tecnogênicos e de novas paisagens no espaço rural e urbano. Para analisar estas transformações foram realizados de trabalhos de campos para o reconhecimento do entorno e análises texturais dos depósitos realizadas em laboratório. Os resultados apontaram diferenças na classificação dos depósitos encontrados no espaço rural e urbano, sendo classificados em induzidos e úrbicos respectivamente, de acordo com a intervenção humana ocorrida no local e as novas paisagens que ocorreram devido à relação sociedade-natureza. Palavras Chave: depósitos tecnogênicos; relação sociedade-natureza; novas paisagens.
INRODUÇÃO
O ser humano possui uma relação de dependência com o meio natural, pois é
dele que se retiram os recursos para sua sobrevivência. Porém, essa relação mostra-
se desequilibrada a partir do momento, que a sociedade sobressai e altera o espaço
geográfico no qual está inserida. Nesse sentido, torna-se necessário que estudos a
respeito da relação sociedade-natureza, sejam elaborados com o propósito de garantir
que essa união seja equilibrada assegurando os recursos naturais que o ser humano
necessita. A importância de se reconhecer o Homem como agente geológico,
considerando que este influi diretamente na dinâmica da natureza, através de suas
formas de apropriação e ocupação de determinado lugar, e que acarreta em novas
características geomorfológicas; levou determinados estudiosos a elaborar o termo
tecnogênico. Este termo foi proposto como forma de relacionar as transformações da
natureza com o uso das diferentes técnicas, através da evolução do pensamento
humano. Para Chermekov apud Oliveira (1990) depósitos tecnogênicos são materiais
formados como resultado da atividade humana sobre a natureza.
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O estudo sobre depósitos tecnogênicos é um importante instrumento na
compreensão dos efeitos negativos causados, quando a sociedade apropria-se da
natureza de forma desequilibrada.
Por isso foram escolhidos quatro pontos no município de Presidente Prudente-
SP, dois na zona rural e dois na área urbana, com o propósito de caracterizá-los,
compará-los, e mostrar como a intervenção humana sobre a natureza resulta na
formação de novas paisagens.
O trabalho está dividido em três partes sendo a primeira a fundamentação
teórica e a problemática em torno do tema, a segunda com os resultados e discussões
apontadas e a última com as conclusões.
Objetivos
Pretende-se neste trabalho descrever os resultados de pesquisas realizadas
em nível de iniciação científica sobre a formação de depósitos tecnogênicos em
planícies aluviais no município de Presidente Prudente-SP.
Para auxiliar no objetivo principal utilizou-se de outros objetivos como:
Revisão bibliográfica dos conceitos relacionados a temática dos depósitos
tecnogênicos;
Compreender a história de ocupação do entorno como fator de intervenção
humana no local.
Interpretar e analisar as frações granulométricas das camadas tecnogênicas
coletadas em campo.
Procedimentos Metodológicos
Após a realização do estudo dos conceitos e classificações dos depósitos
tecnogênicos, foram realizados trabalhos de campo a fim de identificar os elementos
naturais da paisagem, os impactos ambientais e a seleção dos pontos de coleta. As
coletas foram realizadas em áreas próximas aos cursos d’água, sendo a maior parte
associadas as planícies aluviais ou em erosões de taludes.
Para a retirada das amostras foram introduzidos, a uma profundidade
aproximada de um metro, canos de PVC de seis polegadas de diâmetro, e extraindo
toda a coluna de sedimentos tecnogênicos, conforme procedimento de coleta de perfis
tecnogênicos elaborado no Laboratório de Sedimentologia e Análises de Solos da
FCT-UNESP, como pode ser verificado na Figura 1.
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Figura 1 - Trincheira aberta para retirada do depósito tecnogênico.
Fonte: Foto do autor (2009)
Posterior a retirada em campo, os perfis foram levados ao Laboratório de
Sedimentologia e Análises de Solos e postos para secagem, facilitando o
reconhecimento das camadas do material sedimentado. A identificação foi realizada
com base nas diferenças entre cores e textura, bem como na medida da espessura de
cada camada. Depois de caracterizadas as camadas, foram realizadas análises
texturais, adaptando a metodologia preconizada pelo Manual de Métodos de Análise
de Solo (EMBRAPA, 1997).
Fundamentação Teórica
Para compreensão dos fatores que levaram a formação dos depósitos
tecnogênicos na área de estudo foi necessário entender seu conceito, que originou-se
na Geologia, e suas classificações.
De acordo com Oliveira (1990) depósitos tecnogênicos são materiais formados
como resultado da atividade humana. Seu nome está relacionado com o emprego da
técnica, que se desenvolve no seio da sociedade. Bertê (2001) apud Korb (2006)
caracteriza como testemunho da participação humana em determinado ambiente e
pelo emprego da técnica, utilizada em determinado momento histórico:
É o testemunho material da atividade humana que, ao se apropriar da natureza através de suas relações de produção e do emprego de uma técnica que reflete um momento histórico específico do seu nível de desenvolvimento, acaba por produzir modificações na fisiografia e fisiologia das paisagens. (Bertê, 2001 apud Korb 2006 p.54).
A relação entre processos naturais e processos antrópicos ocorre de maneira
complexa. Devido à dificuldade em se classificar os depósitos tecnogênicos, faz-se
necessário entender a inter-relação existente entre sociedade e natureza
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Quanto às classificações dos depósitos tecnogênicos, Pellogia apud Oliveira et.
al. (2005) apresenta:
1) Depósitos de primeira ordem ou geração, a partir da sistemática geral proposta por Oliveira (1990) , que diferencia depósitos construídos ( resultantes da ação humana direta; por exemplo, aterros), induzidos ( resultantes de processo naturais modificados, por exemplo, depósitos de fundos de vale, assoreamento produzido por erosão antrópica) e modificados (depósitos naturais preexistentes, mas alterados como solos contaminados) e, 2) De segunda ordem, depósitos remobilizados (por exemplo, depósitos de fundo de vale, formados por escorregamentos de aterros) e retrabalhados (propostos por Nolasco, 1998, por exemplo, aterros ravinados). (Pellogia apud Oliveira et al, 2005 p. 366).
Outra proposta de classificação, diz respeito a depósitos tecnogênicos oriundos
do espaço urbano, caracterizados como “solos altamente influenciados pelo homem”,
onde são classificadas em quatro categorias de acordo com a caracterização do
material que testemunha a intervenção humana no local. Desta forma, de acordo com
Fanning & Fanning (1989) apud Pellogia (1998):
1- Materiais “úrbicos” (do inglês urbic): tratam-se de detritos urbanos, materiais terrosos que contêm artefatos manufaturados pelo homem moderno, freqüentemente em fragmentos, como tijolos, vidro, concreto, asfalto, pregos, plástico, metais diversos, pedra britada, cinzas e outros, provenientes, por exemplo, de detritos de demolição de edifícios. 2- Materiais “gárbicos” (do inglês garbage): são depósitos de material detrítico com lixo orgânico, de origem humana e que, apesar de conterem artefatos em quantidades muito menores que a dos materiais úrbicos, são suficientemente ricos em matéria orgânica para gerarem metano em condições anaeróbicas. 3- Materiais “espólicos” (do inglês spoil): materiais escavados e redepositados por operações de terraplanagem em minas a céu aberto, rodovias ou outras obras civis. Incluiríamos aqui também os depósitos de assoreamento induzidos pela erosão acelerada. Seja como for, os materiais contêm muito pouca quantidade de artefatos, sendo assim identificados pela expressão geomórfica “não natural”, ou ainda por peculiaridades texturais e estruturais em seu perfil. 4- Materiais “dragados”: materiais terrosos provenientes da dragagem de cursos d’água e comumente depositados em diques em cotas topográficas superiores às da planície aluvial (PELOGGIA, 1998 p. 74).
Ao se trabalhar o conceito de paisagem Suertegaray, 2001 discute o conceito
como a materialização das condições sociais sobre a natureza:
De nosso ponto de vista, percebemos paisagem como um conceito operacional, ou seja, um conceito que nos permite analisar o espaço geográfico sob uma dimensão, qual seja o da conjunção de elementos naturais e tecnificados, sócio-econômicos e culturais. Ao optarmos pela análise geográfica a partir do conceito de paisagem,
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poderemos concebê-la enquanto forma (formação) e funcionalidade (organização). Não necessariamente entendendo forma–funcionalidade como uma relação de causa e efeito, mas percebendo-a como um processo de constituição e reconstituição de formas na sua conjugação com a dinâmica social. Neste sentido, a paisagem pode ser analisada como a materialização das condições sociais de existência diacrônica e sincronicamente. Nela poderão persistir elementos naturais, embora já transfigurados (ou natureza artificializada). O conceito de paisagem privilegia a coexistência de objetos e ações sociais na sua face econômica e cultural manifesta. (Suertegaray, 2000).
Deste modo a paisagem se comporta e apresenta suas formas de acordo com
a dinâmica social existente em determinado espaço geográfico. Os depósitos
tecnogênicos se constituem como os testemunhos dessa relação e se apresentam
como as formas transfiguradas da natureza artificializada, pois a evolução da técnica
e do processo de manufatura dos objetos tecnificados da sociedade, interferem e
alteram a dinâmica natural tendo como resultado final a formação destes depósitos.
Resultados e Discussões
Depósitos Tecnogênicos coletados na Zona Rural de Presidente Prudente-SP.
Os resultados da pesquisa levaram em conta qual o tipo de ocupação do
entorno e os resultados das análises texturais, com o propósito de buscar uma inter-
relação entre eles.
O primeiro tipo de ocupação caracterizada como uso rural, do entorno da
represa da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo),
foram coletadas duas amostras nas planícies aluviais próximos a foz dos córregos do
Cedro e Cedrinho com a represa.
O tipo de ocupação do córrego do Cedro, se mescla entre urbana e rural, com
a presença de bairros residenciais e de uso pastoril e agrícola, sendo possível notar
como a paisagem local foi alterada devido a impactos causados pela sociedade.
Estes ocorrem devido à carga de detritos (sólidos e líquidos), lançados nos
fundos de vale, advindos dos bairros da parte sudoeste da cidade (Condomínio
Fechado Dhama, Conjunto Habitacional Mario Amato e Ana Jacinta), alterando a
dinâmica natural, bem como outras formas de degradação nas vertentes, ocasionando
processos erosivos e conseqüente carga de sedimentos que se depositam na represa
da SABESP.
A parte rural da bacia hidrográfica também foi identificado vários impactos
ambientais significativos, devido ao uso agropecuário inadequado do solo. Este tipo de
uso, sem um planejamento ambiental adequado, provoca o desgaste do solo, no qual
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os sedimentos são transportados para os fundos de vale acarretando no
assoreamento dos córregos e na formação dos depósitos tecnogênicos. Na figura 2
pode-se visualizar o entrono da bacia hidrográfica do Cedro.
Figura 2 - Imagem de satélite do Google Earth (2007), mostrando a localização do ponto de
coleta e do entrono da Bacia do Córrego do Cedro.
Fonte: Google Earth (2007)
Após a realização da análise textural do depósito retirado na foz do córrego do
Cedro, este apresentou onze camadas tecnogênicas mescladas entre arenosas e
argilo-siltosas. A nona camada localizada a 63 cm de profundidade apresentou 49%
de silte, sendo um padrão muito alto para os solos da região. A tabela abaixo mostra
a profundidade de cada camada, a cor e a medida em g.kg-1 das frações de areia, silte
e argila:
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Tabela 1 – Características texturais identificadas nas camadas dos sedimentos tecnogênicos
do ponto 1.
Nº Espessura das Camadas
Cor
Areia (g.kg
-1)
Silte (g.kg
-1)
Argila (g.kg
-1)
1ª 0 - 6,8 cm 10YR 4/2: marrom acinzentado escuro 627 208 165
2ª
6,9 - 12,8 cm
10YR 7/2 com manchas de 5YR 5/6: marrom claro com manchas de vermelho amarelado
923
34
43
3ª
12,9-16.6 cm
10YR 6/3 com manchas de 10YR 5/2 e 5YR 5/6: Marrom pálido com manchas de marrom acinzentado e vermelho amarelado.
687
180
133
4ª 16.7-22.1 cm 10YR 8/2: marrom muito pálido 904 17 79
5ª 22.2-27.8 cm 10YR 7/2: cinza claro 930 12 58
6ª 27.9-31.2 cm 7.5YR 7/2: cinza claro 840 95 65
7ª 31.3-40.9 cm 10YR 6/4: marrom amarelado claro 851 64 85
8ª 41-63.4 cm 10YR 6/3: marrom claro 703 173 124
9ª 63.5-75.4 cm 10YR 5/3: marrom 170 494 346
10ª 75.5-87.4 cm 10YR 4/3: marrom 676 131 193
11ª 87.5-100 cm 10YR 7/4: marrom muito claro 976 16 8
O depósito (Figura 3) apresentou da camada 1 até a camada 8 (0 a 63 cm) a
predominância de classes texturais arenosas, classificando as camadas 1, 3 e 8 como
sendo franco arenosa, as camadas 2, 4 e 5 como Areia e as camadas 6 e 7 como
areia franca.
Nas camadas 9 e 10 observou-se maior quantidade da fração de silte e argila
respectivamente. Desta forma, na camada 9 ficou classificada como franco argilo
siltosa, e a camada 10 como franco argilo arenosa. Na camada 11 identificou-se uma
elevada presença de areia (976 g.kg-1), classificando essa camada como areia.
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Figura 3 – Perfil Tecnogênico do Ponto 1 – Córrego do Cedro
Fonte: Elaborado pelo autor.
Baseado no tipo de ocupação do entorno do córrego do Cedro e nos resultados
da análise granulométrica (que apresentou uma mescla de camadas diferenciadas)
classificou, de acordo com Oliveira (1990) este depósito em induzido, já que os
sedimentos depositados na planície aluvial representam o processo natural de
deposição modificado pela intervenção humana, que ocorreu a montante do ponto de
coleta, através da ocupação urbana e da cultura agropecuária.
A bacia hidrográfica do córrego do Cedrinho (segundo ponto) é caracterizada,
essencialmente, pelo uso rural de pequenas e médias propriedades destinadas a
culturas agrícolas e a pastagem. Com a retirada da vegetação nativa, o solo ficou
exposto e surgiram problemas ambientais como o aparecimento de erosões, como
pode ser visualizado na figura 4:
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Figura 4 - Imagem de satélite do Google Earth (2007), mostrando a localização do ponto de
coleta e do foco erosivo.
O segundo depósito apresentou características de areia similares ao 1° ponto.
Após a caracterização das camadas e da análise granulométrica chegou-se aos
seguintes resultados (Tabela 2):
Tabela 02 – Características Texturais Identificadas nas camadas dos sedimentos tecnogênicos do ponto 2.
N° Espessura das Camadas
Cor Areia (g.kg
-1)
Silte (g.kg
-1)
Argila (g.kg
-1)
1ª 0-20 cm 10YR 6/4: marrom amarelado claro 673 211 116
2ª 21-26 cm 10 YR 8/3: marrom muito claro 892 233 85
3ª 27-39 cm 10 YR 7/4: marrom muito claro 659 206 135
4ª 40-54 cm 10 YR 8/4: marrom muito claro 896 68 36
5ª 55-57cm 10YR 8/3: marrom muito claro 343 414 243
6ª 58-68 cm 10 YR 7/4: marrom muito claro 774 162 64
7ª 69 -74cm 10 YR 6/4: marrom muito claro 707 226 67
8ª 75-85 cm 10 YR 7/2: cinza Claro 828 156 16
9ª 86-97 cm 10 YR 8/3: marrom Amarelado Claro 929 52 19
10ª
98- 100 cm
10 YR 8/4 C com manchas 10 YR 7/8 e
10 YR 6/3: marrom muito claro com
manchas de amarelo e marrom Claro.
638
414
95
Assim com os dados de areia, silte e argila e de acordo com o diagrama de
classes texturais, realizou-se a classificação textural de cada camada, como pode ser
verificada na Figura 3:
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Figura 5 - Perfil tecnogênico coletado na foz do córrego do Cedrinho com a represa da
SABESP.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Com base nos resultados das frações texturais, identificou-se que na 5ª
camada (55 cm), há uma elevada presença de material siltoso. Chamou atenção pelo
fato que, a profundidade dessa camada e a significativa presença de silte são muito
semelhante ao resultado apresentados na 9ª camada do depósito analisado do
córrego do Cedro. Deste modo, a formação deste perfil tecnogênico pode ter passado
pelas mesmas condições.
Dada ás características semelhantes ao primeiro depósito, visto que a planície
aluvial de coleta do segundo ponto estava bem próxima a uma erosão em atividade,
classificou-se este depósito como induzido.
Depósitos Tecnogênicos coletados no perímetro urbano Presidente Prudente-
SP.
Para a caracterização e análise dos depósitos tecnogênicos no perímetro
urbano, foram selecionados dois pontos: o Distrito Industrial e o Residencial Maré
Mansa.
O Distrito Industrial (NIPP 1) de Presidente Prudente-SP, localiza-se na parte
sul do perímetro urbano, sediando grande parte das indústrias instaladas da cidade e
também o depósito de lixo a céu aberto. Constitui-se como uma área bastante alterada
pela dinâmica da sociedade, visto que esta última atividade, se não realizada com um
planejamento ambiental adequado, provoca problemas graves na dinâmica natural.
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A instalação do “lixão” foi sobre o compartimento geomorfológico de topo de
colina próxima a uma área de cabeceira de drenagem, o que gera alguns problemas
ambientais como a infiltração do chorume e a deposição do lixo que escoam e se
transportam para os fundos de vale.
Figura 6 - Aspectos da degradação ambiental apresentada próximo ao ponto de coleta:
deposição de lixo em fundos de vale (a); lagoa de deposição do chorume (b) e ponto de coleta
em um sulco erosivo (c).
Fonte: Foto do autor (2010).
Os resultados da análise granulométrica do depósito do Distrito
Industrial apontaram duas camadas texturais distintas, sendo a primeira classificada
como Franco Arenosa e a segunda como Franco Argilo Arenosa. Os valores
granulométricos da primeira camada apresentaram maior presença de partículas
arenosas, e a segunda camada de partícula finas de silte e de argila, que juntas em
valores percentuais, representam quase 40% do total.
Tabela 3: Características Texturais Identificadas nas camadas dos sedimentos tecnogênicos do
ponto 3.
Espessura das camadas
Cor Areia (g.kg-
1) Silte
(g.kg-1) Argila (g.kg-1)
1ª 21 cm Marrom 737,53 214,47 48
2ª 38 cm Marrom Escuro 609,825 152,175 238
Foram encontrados fragmentos de artefatos manufaturados como plásticos e
tijolos na segunda camada, o que evidencia a interferência da sociedade naquele
local. A figura 5 apresenta o perfil do depósito retirado:
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Figura 7 - Perfil Tecnogênico do depósito retirado do Distrito Industrial.
Visto a quantidade de materiais encontrados, bem como da interferência da
sociedade no entorno, que se deu através da deposição de resíduos sólidos optou-se
neste depósito em classificá-lo de, acordo com Fanning & Fanning (1989), em
depósito úrbico.
O Residencial Maré Mansa está situado no setor noroeste do perímetro urbano
de Presidente Prudente-SP e se encontra de forma descontínua ao tecido urbano.
Sobre o ponto de vista geomorfológico, a ocupação urbana do entorno do ponto de
coleta do depósito se fixou sobre uma área de topo e de vertentes retilíneas seguindo
para os fundos de vale com morfologia em V e se aproximando dos cursos d’água.
Na área do ponto de coleta foi realizado um aterro, durante a construção do
bairro, com o objetivo de conter erosões causadas pelo escoamento de águas
superficiais. Neste local também foi realizado um reflorestamento com o objetivo de
preservar o fundo de vale e de conter a erosão acelerada.
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Figura 8 - Retirada do depósito tecnogênico em uma área de aterro e reflorestamento do fundo
de vale.
Fonte: Foto do autor
Com o material em laboratório, após a abertura dos canos, foram reconhecias
4 camadas de deposição no total (Tabela 4).
Tabela 4: Características Texturais Identificadas nas camadas dos sedimentos tecnogênicos do
ponto 4.
Espessura das camadas
Cor Areia
(g.kg1) Silte
(g.kg-1) Argila (g.kg-1)
1ª 9cm Marrom com
manchas de amarelo pálido.
770,44 162,56 67
2ª 8 cm Vermelho amarelado
com marrom avermelhado.
649,095 155,905 195
3ª 20 cm Amarelo pálido 630,335 179,665 190
4ª 16 cm Vermelho amarelado 655,965 140,035 204
Neste depósito, se comparado com os anteriores, obteve-se maiores
quantidades de partículas finas de silte e argila. A presença de maiores quantidades
dessas partículas estão relacionadas ao aterro realizado pela ação antrópica no local,
já que nestes são utilizados sedimentos compostos por partículas menores (areia
muito fina, silte e argila) para melhor compactação do material.
Na figura 7 podemos visualizar o perfil tecnogênico com suas camadas
texturais e os artefatos encontrados nele:
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Figura 9 - Perfil tecnogênico do depósito coletado no Residencial Maré Mansa.
Devido ao depósito tecnogênico estar localizado em uma área de um antigo
aterro procurou classificá-lo de acordo com a classificação de Oliveira (1990) de
construído por se tratar de uma interferência antrópica direta ao remover toda camada
pedológica do local.
Conclusões
Procurou-se neste trabalho descrever a formação dos depósitos tecnogênicos
no município de Presidente Prudente-SP, selecionando pontos de coleta na zona rural
como no perímetro urbano.
Mesmo em área rural do município não sendo densamente povoada, a
interferência da sociedade se fez presente, com a retirada da cobertura vegetal e o
uso de práticas agrícolas, que sem um planejamento ambiental adequado, provocaram
o assoreamento das várzeas dos cursos d’água com sedimentos oriundos de erosões
aceleradas pela ação antrópica. Deste modo, a ação humana ocorreu de forma
indireta na formação destes depósitos, caracterizando-os como induzidos.
No perímetro urbano a interferência da sociedade, diferentemente da zona
rural, ocorreu de forma direta com a deposição de resíduos sólidos e detritos urbanos
de maneira indiscriminada e sem um controle adequado, formando-se materiais
terrosos com produtos manufaturados. No perímetro urbano os depósitos foram
classificados como úrbico (Distrito Industrial) e construído (Residêncial Maré Mansa)
levando em consideração o material encontrado e a ação que se deu no local.
Deste modo, formam-se novas paisagens, novas formas materializadas no
espaço geográfico, que ocorreram de acordo com a organização e o modo de
produção que a sociedade implementa. Isso pode ser observado com as diferenças de
formação dos depósitos tecnogênicos de dois espaços distintos, no qual a utilização
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diferenciada do uso solo gerou camadas tecnogênicas diferentes entre o rural e o
urbano. Porém, ambos os depósitos analisados se caracterizam como novas
paisagens, haja visto que a paisagem natural transformou-se em artificializada.
Neste sentido, os depósitos tecnogênicos apresentam, em sua essência, uma
geograficidade relevante, pois além de representar a relação Sociedade - Natureza
são testemunhos e materialidade dos efeitos contraditórios da sociedade com os
recursos naturais importantes para sobrevivência humana. Deste modo, a Geografia
enquanto ciência holística possui ferramentas e categorias de interpretação
importantes para a análise deste conceito.
Referências Bibliográficas
EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos (Rio de Janeiro, R.J.). Manual de
Métodos de Análise de Solos. 2.ed. Rio de Janeiro, 1997. 212p. Il. (EMBRAPA –
CNPS. Documentos; 1).
OLIVEIRA, A. M. S. Depósitos tecnogênicos associados a erosão atual. In: 6 CBGE IX
COBRAMSEF. Salvador, 1990.
OLIVEIRA, A. M. S. et al. Tecnógeno: registro da ação geológica do homem. In:
PELOGGIA, A. O homem e o ambiente geológico: geologia, sociedade e ocupação
urbana no município de São Paulo. São Paulo: Xamã, 1998.
SOUZA, C. R. G. [et al] (ed.) Quaternário do Brasil. Ribeirão Preto: Holos, 2005.