Post on 26-Jan-2019
O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
Versão Online ISBN 978-85-8015-037-7Cadernos PDE
2007
VOLU
ME I
EDUCAÇÃO SOCIO-AMBIENTAL PARA FORMAÇÃO CIDADÃ
INTRODUÇÃO
As questões ambientais representam hoje um grande desafio para
a humanidade. São problemas que afetam a todos, pobres e ricos, que vão
desde a poluição e contaminação dos recursos físicos, como água, ar e
solo, gerando conseqüências desastrosas para os seres vivos, incluindo-se
o homem enquanto ser biológico, até questões de relevância social, tais
como ocupação de áreas de risco ambiental, como morros e manguezais,
por exemplo, e de ordem econômica que estimula o consumo exagerado e
muitas vezes irresponsável, em nome de um desenvolvimento nem um
pouco “sustentável”. Nesse contexto, a Educação Ambiental tem sido
apontada como uma das variáveis responsáveis por encontrar as soluções
para tais problemas. Pergunta-se, portanto, de que maneira a Educação
Ambiental pode contribuir para reverter este quadro gravíssimo que se
apresenta. Qual o papel da Educação Ambiental neste momento ? De que
tipo de Educação se está falando ?
Segundo as Diretrizes Curriculares de Ciências - DCE, do Estado do
Paraná (2006), o tema ambiente é considerado um conteúdo estruturante
no ensino de Ciências e sua abordagem deve contemplar a relação entre
ciência, tecnologia e sociedade (Movimento CTS), ao tratar dos
conhecimentos físicos, químicos e biológicos. Portanto, “o campo de
estudo deste conteúdo é amplo. Seus conteúdos específicos devem
considerar aspectos sociais, políticos, econômicos e éticos, intrínsecos aos
problemas ambientais” (DCE,2006,p.29). Sendo assim, a Educação
Ambiental deve contemplar os temas emergentes que inquietam,
interessam e preocupam a sociedade, bem como as condições de vida que
levam o homem a conviver ao mesmo tempo com avanços tecnológicos e
graves problemas sociais, tais como: altos índices demográficos em
algumas regiões do planeta, fome e miséria, baixos índices de
desenvolvimento humano (IDH), desigualdades socioeconômicas entre
1
países ricos e pobres.
Os problemas ambientais têm sido objeto de muitas discussões e
manifestações de vários setores sociais, especialmente a partir de 1960,
quando o modelo econômico adotado pelas sociedades modernas passou
a ser questionado, embora, muito antes já se tenha registros da
preocupação com a devastação ambiental provocada pela ação do homem
rumo ao desenvolvimento.
Quando Rachel Carson, lançou o clássico livro Silent Spring, em
1962, tratando dos problemas causados pelo uso excessivo de pesticidas e
inseticidas sintéticos e suas conseqüências para o ambiente, iniciou-se a
socialização do debate ambiental, atingindo um grande número de
pessoas nos mais diferentes países, que passaram a discutir sobre a
necessidade se reverter o quadro de consumo, poluição e degradação dos
padrões saudáveis de vida (Cascino, 2003). Já o primeiro grande texto a
respeito das questões ambientais e dos limites para o desenvolvimento
humano foi publicado em 1968, pelo chamado Clube de Roma, que
elaborou um relatório, considerado por muitos como polêmico e
apocalíptico. O relatório, “Os Limites do Crescimento”, apontava para as
características globais dos problemas ambientais e seu crescimento em
ritmo exponencial, caso não fossem tomadas medidas urgentes. Este
documento alertava que era preciso impor limites tanto para o
crescimento e desenvolvimento econômico como para o crescimento da
população. A partir de então, a questão ecológica passou a fazer parte da
agenda do dos governantes de países desenvolvidos, iniciando-se o
período das grandes conferências mundiais e eventos internacionais para
discutir problemas ambientais e a elaboração de propostas e de
estratégias de ação. (RAMOS, 2001). Surge, então, como estratégia da
sociedade para fazer frente aos problemas ambientais e buscar soluções
para a crise , a Educação Ambiental.
Foi em junho de 1972, em Estocolmo, na Suécia que se realizou a
1ª Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente, onde a Educação
Ambiental foi colocada como uma necessidade de âmbito mundial,
imprescindível, sendo recomendada à todos os países , com a propagação
2
de inúmeros projetos e programas para sua implementação. Mas, foi na
Conferência Intergovernamental de Tbilisi, realizada em 1977, na Geórgia,
que se definiu as bases para construção de uma Educação Ambiental que
realmente provoque mudanças na formação dos indivíduos. No
documento da Unesco, resultado desta Conferência, constam as
finalidades, os objetivos, princípios orientadores e estratégias para o
desenvolvimento da Educação Ambiental.
Passados quinze anos, em junho de 1992, realizou-se no Rio de
Janeiro, a ECO-92, a Conferência Internacional sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento, onde foi criada a Agenda 21, cujo capítulo 36 trata da
Educação Ambiental onde se reafirma as recomendações da Conferência
Intergovernamental de Tbilisi.
Percebe-se que mesmo tendo-se passado 30 anos da “Conferência
de Tbilisi”, seus princípios ainda hoje são de extrema importância, posto
que estabelece um programa de Educação onde os problemas ambientais
devem ser analisados na sua totalidade, considerando a ação humana e
suas inter-relações sociais, econômicas, políticas, éticas, entre outras.
Baseando-se nestes princípios e com a convicção de que as
mudanças necessárias devem passar pela sensibilização do individuo com
conseqüente mudança de comportamento, para que, então, provoque a
alteração no coletivo, ou seja , do particular para o global, é que
elaboramos a proposta de intervenção pedagógica para aplicação no
Colégio Estadual Rocha Pombo, no Município de Antonina, Estado do
Paraná.
O projeto foi desenvolvido com os alunos das 5ª a 8ª séries, do
Ensino Fundamental, no período da Manhã, bem como seus familiares,
professores, equipe técnico-pedagógica e demais pessoas integrantes da
comunidade do entorno do Colégio Estadual Rocha Pombo- Ensino
Fundamental e Médio .
O principal objetivo deste trabalho foi a sensibilização para as
questões ambientais a partir da realidade vivida pelo próprio aluno, dentro
da escola, em sua casa, no seu bairro, bem como a compreensão das
várias interfaces destes problemas, quais sejam de ordem econômica,
3
social ou cultural.
O tema central escolhido para a intervenção pedagógica foi a
produção e o destino do lixo na escola e em casa, visto ter sido este um
dos problemas vivenciados pelos alunos e que poderia ser solucionado em
parte pela comunidade envolvida. Este tema foi selecionado a partir de
pesquisas feitas, utilizando-se do método sugerido por Perez-Campanero
(1991), chamado de modelo ANISE (Análise de Necessidades de
Intervenção Sócio-Educativa), que buscou numa primeira fase reconhecer
os principais problemas vividos e sentidos pela comunidade escolar e seu
entorno. Entende-se que quando o individuo participa do processo de
escolha de um objeto de estudo, no qual ele se identifica, seja porque o
vivencia ou tem conhecimento de como este problema o afeta, estará
mais sensível para analisá-lo e buscar as possíveis soluções. Assim, o
aluno poderá analisar o ambiente e tudo que lhe diz respeito num
contexto entrelaçado de prática sociais, o que deverá lhe permitir uma
visão mais crítica do problema, onde também suas atitudes e
comportamentos poderão ser questionados, para uma possível mudança
em relação ao seu meio. Nesse sentido, segundo Vigotsky (1991) , a
Educação Ambiental pode assumir , “uma parte ativa de um processo
intelectual, constantemente a serviço da comunicação, do entendimento e
da solução dos problemas”. Para Jacobi ( 2003), “trata-se de um
aprendizado social, baseado no diálogo e na interação em constante
processo de recriação e reinterpretação de informações, conceitos e
significados, que podem se originar do aprendizado em sala de aula ou da
experiência pessoal do aluno”.
Este trabalho teve a intenção de mostrar como a Educação
Ambiental deve contribuir para a formação de valores saudáveis e
atitudes, necessários à manutenção da qualidade de vida e de um Meio
Ambiente equilibrado, a partir da realidade mais próxima do aluno,
contribuindo para a formação da cidadania responsável, onde cada
individuo tem direitos e deveres, sendo, portanto sujeito ativo nas
tomadas de decisões e não apenas agente passivo, incapaz de
compreender seu papel na teia da vida e de suas relações. Para Jacobi
4
(1998), “a relação entre meio ambiente e educação para a cidadania
assume um papel cada vez mais desafiador”, na medida que os problemas
ambientais se agravam e se intensificam, demandando uma participação
mais efetiva de todos os envolvidos, não apenas individualmente, mas
também coletivamente, no exercício de uma cidadania responsável.
Quando nos referimos à educação ambiental, situamo-na em contexto mais amplo, o da educação para a cidadania, configurando-a como elemento determinante para a consolidação de sujeitos cidadãos. O desafio do fortalecimento da cidadania para a população como um todo, e não para um grupo restrito, concretiza-se pela possibilidade de cada pessoa ser portadora de direitos e deveres, e de se converter, portanto, em ator co-responsável na defesa da qualidade de vida.
(Jacobi, 1998).
Assim, este projeto passou a ser chamado de Educação Sócio
Ambiental para a Formação Cidadã, visto que a Educação Ambiental deve
ter um caráter Social, contemplando as diferentes interfaces que formam
a sociedade, onde cidadãos conscientes e participativos sejam capazes de
desenvolver uma relação holística com o meio onde vivem.
Princípios da Educação Ambiental para Formação Cidadã
Para se iniciar o projeto de intervenção pedagógica na Escola,
tomou-se como base os princípios da “Conferência de Tbilisi”, que
estabeleceu as seguintes diretrizes, considerados como objetivos gerais
da intervenção pedagógica :
- Levar em conta a totalidade do ambiente, ou seja, considerar os
aspectos naturais e os construídos pelo homem, tecnológicos e sociais
(econômicos, políticos, histórico-culturais, morais, estéticos);
- Adotar uma perspectiva interdisciplinar, utilizando o conteúdo
específico de cada matéria, de modo a analisar os problemas ambientais
através de uma ótica global e equilibrada;
- Examinar as principais questões relativas ao ambiente tanto do
ponto de vista local como nacional, regional e internacional, para que os
educandos tomem conhecimento das condições ambientais de outras
5
regiões geográficas;
- Concentrar-se nas condições atuais e futuras do ambiente,
levando-se em conta a perspectiva histórica;
- Insistir na necessidade e na importância da cooperação em nível
local, nacional e internacional para prevenir e resolver os problemas
ambientais;
- Fazer com que os alunos participem da organização de suas
próprias atividades de aprendizagem, tendo a oportunidade de tomar
decisões e de aceitar as conseqüências;
- Inter-relacionar os processos de sensibilização, aquisição de
conhecimentos, habilidades para resolver problemas e especificação dos
valores relativos ao ambiente, em todas as idades, enfatizando sobretudo
a sensibilidade dos alunos mais jovens em relação ao ambiente de sua
própria comunidade;
- Ajudar os alunos a descobrirem os sintomas e as causas
verdadeiras dos problemas do ambiente;
- Ressaltar a complexidade dos problemas ambientais e, em
conseqüência, a necessidade de desenvolver o sentido crítico e as
aptidões necessárias à sua resolução;
- Utilizar diversos meios educativos e uma ampla gama de métodos
para transmitir e receber conhecimentos sobre o ambiente, enfatizando,
de modo adequado, as atividades práticas e as experiências pessoais.
(O Correio da Unesco, 1990,p.23)
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais(PCNs), do
Ministério da Educação(MEC), o meio Ambiente é tratado como um Tema
Transversal, e como tal deve ser abordado de forma interdisciplinar nas
diferentes áreas do conhecimento:
A principal função do trabalho com o Meio Ambiente é contribuir
para formação de cidadãos conscientes, aptos a decidir e atuar na
realidade socioambiental de um modo comprometido com a vida,
com o bem estar de cada um e da sociedade, local e global. Para
isso, é necessário que, mais do que informações e conceitos, a
escola se proponha a trabalhar com atitudes, com
formação de valores, com o ensino e aprendizagem de
procedimentos.(BRASIL,1998,p.187, grifo nosso) .
6
Portanto, mais do que informar a respeito dos problemas
ambientais a escola necessita estabelecer um programa de educação que
vise a formação de valores ambientais no educando, revisando seus
conceitos que fundamentam suas atitudes e comportamentos. Então, ela
estará cumprindo o seu papel na formação de cidadãos conscientes e
responsáveis para agir local e globalmente.
Nesse contexto, a Educação Ambiental pode ser chamada de Sócio
Ambiental e aqui, chamamos de Educação em Valores Ambientais, de
acordo com Vilma Barra (BARRA, 2000). Um projeto de Educação em
Valores Ambientais surge como uma esperança para um futuro menos
assustador, mas cuja responsabilidade vai além das atividades
programadas com início, meio e fim, num determinado espaço de tempo.
Tampouco, deve ser encarada como mais uma disciplina que enfoque os
problemas ambientais, mesmo que trabalhando de forma interdisciplinar.
Ela deve ser compreendida como um programa de desenvolvimento
humano, capaz de permear todas as ações individuais e coletivas na
sociedade, visando reverter ou, ao menos, frear o processo de degradação
ambiental no planeta Terra, nossa casa.
Assim, a proposta de intervenção pedagógica desenvolvida no
Colégio Estadual Rocha Pombo, partiu da premissa de que se faz
necessário sensibilizar o aluno para as questões ambientais, locais e
globais, sentidas e vividas a partir do seu meio, permitindo que ele
visualize os problemas, suas causas e possíveis soluções, além de
possibilitar o questionamento de suas ações, motivadas por valores e
atitudes nem sempre conscientes.
Educação em Valores Ambientais
A UNESCO realizou em Moscou, em 1987, o Congresso
Internacional sobre Educação e formação Ambientais, onde foram
reafirmados os princípios tirados da Conferência de Tbilisi. Um dos pontos
que merece destaque é o que pontua sobre a importância da tomada de
consciência do indivíduo e da coletividade sobre os problemas ambientais.
7
Diz:
A Educação Ambiental se concebe como um processo permanente em que os indivíduos e a coletividade tomam consciência de seu meio e adquirem os conhecimentos, os valores, as competências, as experiências e, também, a vontade capaz de fazê-los atuar, individualmente e coletivamente, para resolver os problemas atuais e futuros do meio ambiente.
(Unesco/Unep/IEEP, Moscou,1987, grifo nosso)
De acordo com Barra, "a Educação Ambiental é um processo
educativo permanente mediante o qual os indivíduos adquirem
conhecimentos, desenvolvem valores, atitudes, habilidades e
comportamentos que permitem-lhes tomar decisões responsáveis no
que se refere à sua interação no meio ambiente visando a manutenção da
qualidade ambiental e o desenvolvimento de sociedades
sustentáveis"(BARRA,2000, grifo nossso). Para Caride (1991,p.61) , “é pela
Educação Ambiental que as pessoas tomam consciência de sua realidade
físico-social e cultural, num processo educativo cujo objetivo é adquirir e
transmitir valores, atitudes e comportamentos” . Ressalta, ainda que “não
se trata de ampliar os conhecimentos sobre o meio ambiente, mas
representa acima de tudo um processo pedagógico multidisciplinar”.
Portanto, a responsabilidade da Educação Ambiental vai muito além da
transmissão de conhecimentos a respeito dos problemas que afetam o
meio, ela é um processo e como tal deve ser aberto e permanente,
individual mas também coletivo, com vistas à modificação das atitudes e
comportamentos das pessoas envolvidas. Para tanto, o processo educativo
precisa ser desenvolvido de forma a conferir aos indivíduos uma
consciência ambiental e ética, capaz de possibilitar a aquisição de valores
e de revisão dos seus conceitos em relação ao meio ambiente.
A Conferência do Rio, ou Rio-92, como ficou conhecida a
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento
(Unced), recomendou através da Agenda 21, entre outros programas a
reorientação da educação para o desenvolvimento sustentável e aumento
dos esforços para proporcionar informações sobre o meio ambiente que
promovam a conscientização popular. Nesta Conferência, também, entre
outros documentos foi elaborado o Tratado de Educação Ambiental para
8
Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, onde em alguns dos
seus princípios temos a preocupação com o estímulo da prática de valores
humanos , tais como a solidariedade,a igualdade, respeito aos direitos
humanos, justiça, cooperação, parceria, democracia e participação.
Para Barra, “os valores e as atitudes num projeto de Educação
em Valores Ambientais constituem, juntamente com os fatos,
conceitos, princípios e comportamentos o que chamamos de
conteúdos”( BARRA,2000, grifo nossso). Mas como identificar esses
valores nas atitudes e comportamentos? É comum se confundir valores
com crenças. Uma crença é a opinião que se tem a respeito de algo ou de
alguma coisa. Pode ser mudada em função de alguma experiência de vida.
Já um valor é algo mais concreto, expressa uma convicção mais
permanente própria de uma pessoa ou de um conjunto de pessoas que
condiciona suas percepções, suas atitudes, seu comportamento e a
avaliação que fazem dos comportamentos alheios. O valor é uma
convicção básica a partir da qual interpretamos o mundo, damos
significado aos acontecimentos e a nossa própria existência (ORTEGA,
1996,p.13). Nossas atitudes e comportamentos são determinados pelos
nossos valores e crenças, os quais vão sendo adquiridos ao longo de nossa
existência a partir de nossas experiências, conhecimentos, convívio
familiar, religião e relações sociais. Estes valores se desenvolvem no
processo de socialização, por isso é importante a relação dinâmica do
indivíduo com os problemas da realidade. É nesse contexto que ocorre a
interação da pessoa com seu entorno, possibilitando assim a formação de
conceitos e valores que fundamentam suas atitudes e comportamentos.
Os valores mudam ao longo da vida de cada um em função das
experiências, conhecimentos, interações sociais. Não são definitivos,
portanto, podem ser questionados e alterados sempre que se percebe que
os mesmo não podem responder às inúmeras questões ambientais, sociais
, éticas da sociedade. Eis o papel da Escola ao desenvolver um programa
de Educação voltado para o Meio Ambiente. Uma Educação em Valores
Ambientais deve “buscar suscitar nos indivíduos, valores e atitudes
favoráveis à conservação da melhoria do ambiente orientando-os à
9
resolução dos problemas ambientais, tomada de decisões e ação“
(BARRA,2000). Nesse sentido, passou-se a desenvolver um programa de
Educação Sócio-Ambiental voltada para a formação cidadã dos educandos,
direcionando-os para a participação ativa na busca pela solução de
problemas, partindo da identificação dos mesmos, reconhecendo suas
causas e conseqüências, além de compreensão de que suas atitudes e
comportamentos são baseados em valores que necessitam ser revisados.
Implementação da Proposta Pedagógica
Este trabalho buscou observar os problemas ambientais locais com
uma visão global da origem e causas dos mesmos, analisando os
conceitos e valores que fundamentam as atitudes e comportamentos da
população em relação ao seu meio e que contribuem para a geração de
tais problemas.
Para a fase inicial da intervenção, foi utilizado o método proposto
por Perez-Campanero (1991) chamada de modelo ANISE (Análise de
Necessidades de Intervenção Sócio-Educativa), cuja primeira etapa baseia-
se no reconhecimento dos problemas vividos pela comunidade envolvida.
O Modelo para Análises de Necessidades de Intervenção Sócio-
Educativa (A.N.I.S.E.) utilizado neste projeto se propõe a encontrar
soluções para os problemas que efetivamente são sentidos pela
população. Nesse sentido, espera-se que as pessoas envolvidas sintam-se
responsáveis pela necessidade de diagnosticar seus problemas e
principalmente, buscar as soluções possíveis para os mesmos. Sem esse
envolvimento não é possível estabelecer um programa de ação que
promova mudanças permanentes nesta comunidade. É necessário que as
pessoas sintam-se parte do processo que permitirá a real mudança nos
seus valores, atitudes e comportamentos em relação ao meio ambiente
onde estão inseridas.
Assim, no final do 2º semestre de 2007, de forma preliminar, foram
aplicados questionários aos alunos, pais e professores a respeito da
10
situação atual da escola e do seu entorno, onde foram apontados por eles,
os principais problemas sócio-ambientais que afetam essa comunidade. O
instrumento de coleta de dados utilizado foi um questionário curto com
questões abertas, onde foram sugeridos pelos entrevistados quais os
prováveis problemas que poderiam ser alvos de investigação pela escola.
A partir destes dados iniciais foram elaborado três tipos de instrumentos
de pesquisa, um para pais, outro para alunos e outro para professores.
Foram entrevistados 103 alunos das 6ª, 7ª e 8ª séries, do período da
manhã, 40 pais e 15 professores. Foram aplicados aos pais e alunos
questionários fechados, contendo alternativas baseadas nas questões
abertas aplicadas anteriormente na 1ª fase da pesquisa. Neste
instrumento, foram abordados os problemas que mais chamaram a
atenção de pais e alunos na fase anterior, cujas questões apontavam para
problemas de indisciplina na sala de aula, importância da educação ,
estrutura física da escola, relacionamento entre pais, alunos e
professores , entre alunos e alunos, problemas ambientais dentro e fora
da unidade escolar, participação de pais na gestão e no processo ensino
aprendizagem dos filhos, entre outros. Para os professores do
Estabelecimento de Ensino, foi aplicado um instrumento baseado numa
escala de atitudes, a Escala Lickert, onde foram abordados os principais
problemas citados pelos professores anteriormente, bem como foi feita
uma sondagem a respeito do pensamento destes em relação ao ensino da
Educação Ambiental, centrada em valores sócio-educacionais.
A fase seguinte, foi a definição dos principais problemas que
afetam a comunidade escolar a partir da interpretação dos dados
coletados na pesquisa preliminar. No início do ano letivo de 2008, foram
tabulados os dados coletados, elaborando-se gráficos estatísticos, onde foi
possível visualizar os principais problemas sócio-ambientais apontados
pelas pesquisas. Estes dados foram analisados pelas turmas envolvidas, 7ª
e 8ª séries, e apresentados aos professores e equipe pedagógica em
reunião própria para este fim. Em seguida foi elaborada a proposta de
intervenção pedagógica na Escola e comunidade do entorno, propondo
soluções para os problemas identificados. Em reunião pedagógica,
11
realizada na escola, professores e equipe pedagógica após análise dos
dados, definiram as principais ações a serem desenvolvidas com os
alunos, através de um projeto interdisciplinar onde seriam abordados os
principais problemas sócio-ambientais destacados. É muito importante
salientar que os problemas identificados por esta comunidade, vão desde
a questão do espaço físico do prédio, como também das relações entre
eles, em especial entre alunos e alunos, e alunos, professores e
funcionários da escola. Como critério utilizado para escolher o objeto de
estudo na intervenção, foi o fato de que teria de ser algo que a
comunidade escolar pudesse realmente solucionar. Entre os principais
problemas citados está a indisciplina em sala de aula, o péssimo estado
de conservação do prédio escolar, o desrespeito entre professores e
alunos, e entre alunos e alunos, o lixo no ambiente, em sala de aula e fora
dela, a participação dos pais na vida escolar dos filhos, além da falta de
conscientização da comunidade escolar sobre a importância da Escola.
Constatou-se nesta pesquisa que uma das situações que mais incomodava
os alunos era o lixo na sala de aula e em toda escola, além da falta de
limpeza nos banheiros e salas; aproximadamente 34% deles apontavam
estes problemas. É interessante, também, registrar que mais de 48% dos
entrevistados apontam para os próprios alunos a responsabilidade pelos
problemas citados e, ainda, que o aluno destrói ou não cuida da escola
porque acha que ela é muito ruim (33%) ou porque existe alguém para
limpar ou consertar o que foi estragado (20%). Mas, ainda é importante
registrar que 55% dos alunos apontam para a conscientização de todos
sobre a importância da Educação e da Escola, além de sugerir que se
melhore o relacionamento entre alunos, pais, professores, direção e
demais funcionários. Na pesquisa efetuada com Pais, 72,5% afirmaram
que o problema que mais interfere na Educação dos filhos é a indisciplina
e bagunça na sala de aula e 12,5% apontou o vandalismo e a destruição
do prédio escolar. Mas, também, é consenso entre pais e alunos que a
Escola poderia ser melhor se pais participassem mais das decisões e
projetos da escola. Para isso, ou seja, para conscientizar a todos sobre a
importância da escola, 47% dos entrevistados disseram que é preciso
12
melhorar o relacionamento entre alunos, pais, professores, direção e
demais funcionários, e ainda, que a escola pode ajudar a resolver os
problemas se envolver toda a comunidade escolar, além de autoridades e
líderes comunitários para discutir os problemas e propor soluções. Na
pesquisa feita com os professores, percebe-se nos resultados que um dos
maiores problemas na Escola, hoje, é a indisciplina dos alunos que se
caracteriza pelo desinteresse nas atividades propostas e bagunça na sala
de aula. Dos entrevistados, 67% acham que o comportamento dos alunos,
em geral, mostra que a escola precisa desenvolver um programa
educacional que considere as questões éticas e os valores humanos
universais, no trato não só das questões ambientais como, principalmente,
nos relacionamentos entre todos os indivíduos. Concordam na sua grande
maioria (80%) que um dos objetivos da Educação Ambiental é desenvolver
valores e atitudes positivas nos alunos, tais como cooperação,
solidariedade e respeito entre todos os envolvidos. Também concordam
que quando são desenvolvidas atividades que levam em consideração o
contexto onde vive o aluno e que envolvem outras pessoas da
comunidade, percebe-se que o interesse e a participação da turma é bem
maior, e 87% acredita que a Proposta Pedagógica deve contemplar a
participação da comunidade escolar e do entorno da Escola, permitindo
que esta seja um lugar de discussão e de criação de projetos que possam
solucionar problemas vividos pelos alunos e suas famílias. Dos professores
ouvidos, 87% acreditam que se os alunos se identificam com os problemas
apontados, seu envolvimento nas atividades de Educação Ambiental é
mais efetivo, e que os professores devem conhecer os problemas sócio-
ambientais da comunidade escolar para então planejar as atividades .
Apesar da clareza que têm os professores a respeito da necessidade de se
implantar um projeto pedagógico que contemple a ampla participação de
todos os envolvidos, no entanto, também se percebe, nesta pesquisa, um
certo equívoco em relação a quem cabe a responsabilidade pela Educação
em Valores Ambientais. Ao mesmo tempo em que 93% concordam que a
Educação em Valores Ambientais deve ser ensinada na escola em todas as
oportunidades e, que por ser um tema que abrange todas as áreas da
13
vida , não só do homem mas também dos demais seres vivos, todas as
disciplinas devem se preocupar em abordar as questões ambientais , 60%
dos professores ouvidos defendem a idéia de que a Educação Ambiental,
pela importância que tem, deveria constar como uma disciplina no quadro
curricular em todos os níveis de ensino. Esta idéia necessita ser explorada
mais profundamente pela equipe pedagógica, visto que alguns
professores ainda tem certa resistência a participar de projetos
interdisciplinares por considerar apenas a sua disciplina, tendo dificuldade
de contextualizar seus conteúdos. Apesar disso, todos concordam que as
atividades de Educação em Valores Ambientais visam fornecer
informações e desenvolver nos alunos habilidades e atitudes responsáveis
em relação ao meio ambiente.
A partir desta análise, ficou definido que o problema sócio-
ambiental que poderia ser resolvido de imediato pela comunidade era o
lixo na escola e fora dela. Assim, foi elaborado um programa de ação que
contemplasse as reais necessidades da comunidade envolvida, no que diz
respeito à produção e destino do lixo no ambiente . Após o
reconhecimento da análise de necessidades da comunidade, na fase
seguinte, se propôs a tomada de decisões pelos participantes, elaborando-
se, então, o projeto de intervenção pedagógico. Definiu-se a
implementação efetiva da proposta pedagógica, tomando como objeto de
estudo o problema do lixo. O ponto de partida foi a análise de hábitos e
comportamentos de cada um em relação, principalmente, ao lixo
doméstico e escolar.
Os objetivos específicos da intervenção foram definidos a partir dos
princípios estabelecidos na Conferência de Tbilisi, de forma a adotar uma
perspectiva interdisciplinar, utilizando o conteúdo específico de cada
matéria, de modo a analisar os problemas ambientais por uma ótica global
examinando as principais questões relativas ao ambiente tanto do ponto
de vista local como nacional, regional e internacional, para que os alunos
tomem conhecimento também, das condições ambientais de outras
regiões geográficas. Assim, buscou-se cumprir as seguintes metas,
definidas pelos objetivos específicos, durante a aplicação da proposta:
14
- A sensibilização dos alunos a respeito da crise ecológica vivida
local e globalmente. Os problemas atuais, de cunho ambiental, do planeta
foram discutidos com os alunos, como “aquecimento global”, “falta de
água potável”, ”fome” , “desertificação”, “destruição de florestas”, entre
outros.
- A identificação dos principais problemas sócio ambientais que
afetam o ambiente local e globalmente. Foi feito um levantamento dos
problemas ambientais de Antonina, tais como a “ocupação e aterros dos
manguezais”, “destino final do lixo da cidade”, “falta de tratamento de
esgoto e conseqüente poluição e contaminação da baía”, entre outros.
- A compreensão das questões ambientais a partir do seu dia a dia.
Para isso, durante uma semana, foi feito uma investigação sobre o lixo
produzido nas salas de aula, no período da manhã, na escola sede do
projeto, levando em conta a quantidade, tipo de material, origem e
destino final.
- O reconhecimento de que seu comportamento e hábitos diários
podem contribuir para a ampliação ou diminuição da intensidade dos
problemas ambientais verificados. No período de um mês os alunos
puderam identificar, quantificar e classificar os principais tipos de lixo
produzido em sua casa. Nesta fase também foi discutido sobre o destino
final deste lixo, para a reciclagem ou simplesmente descartado no lixão da
cidade.
- A compreensão da relação entre os problemas ambientais e a
produção de bens e consumo. Os alunos puderam estabelecer uma
relação entre a produção de bens e o consumo destes produzidos pelo
homem e os recursos naturais disponíveis.
- O reconhecimento da necessidade de uma nova consciência de
consumo dos recursos, tanto naturais quanto os produzidos pelo homem,
15
ao examinar os seus principais hábitos e comportamentos desenvolvidos
diariamente em casa ou na escola que são prejudiciais a um ambiente
saudável de qualidade pra todos, visando a sua modificação. Nesta fase
foram identificados os materiais mais comuns utilizados em sala de aula,
bem como a matéria prima utilizada, sua origem, processos e custos de
produção além do seu destino final, enquanto resíduo sólido (tempo de
decomposição na natureza). Os alunos puderam discutir a respeito do
gasto sem controle de materiais, identificando seus custos. Ao se buscar o
cumprimento dos objetivos, passou-se a implementação efetiva da
proposta, onde os alunos puderam através de tarefas simples tomar
consciência de um problema de extrema complexidade.
O projeto foi desenvolvido, mais efetivamente, com os alunos do
período da manhã, durante os meses de maio a junho de 2008. Foram
envolvidos professores e professoras de todas as disciplinas, direção, pais
e funcionários da escola. A abordagem teve caráter multidisciplinar, onde
cada série estudou os problemas sócio ambientais a partir dos elementos
físicos e biológicos, que são objeto de estudo nas diferentes séries a partir
da disciplina de Ciências.
Foi desenvolvido nas seguintes etapas:
1ª – Sensibilização para a problemática ambiental através de
exibição de filmes, documentários, reportagens escritas divulgadas na
mídia, fotografias, etc. Durante esta etapa, buscou-se despertar o
interesse dos alunos para a temática ambiental, visto que a despeito de
toda a informação apresentada na mídia, nem sempre se mostra
suficientemente capaz de provocar mudança de comportamento e de
posicionamento em relação ao problema apresentado.
2ª – Pesquisa bibliográfica , através livros, revistas, jornais ou
internet , sobre causas e conseqüências dos problemas ambientais
globais. Os textos apresentados na pesquisa serviram para que os alunos
pudessem confirmar suas observações no ambiente em que vivem.
16
3ª – Pesquisa de campo, onde puderam ser observados e
comprovados os problemas ambientais locais. O município de Antonina, no
litoral do Estado do Paraná, onde está localizado o Colégio Estadual Rocha
Pombo, pertence a uma APA (Área de Proteção Ambiental). Os problemas
ambientais observados em escala global, também se fazem presentes
nesta pequena cidade. Desde a produção excessiva de lixo, sem destino
adequado, até a ocupação de áreas de morros e manguezais para
moradia.
Diante dessa realidade, pode-se perceber a imensa
responsabilidade de se educar para a sensibilização ambiental, visto que a
situação de pobreza de boa parte da população contribui também para o
avanço da degradação do meio natural, fato este que é conseqüência de
um modelo de desenvolvimento que contempla a produção e o consumo
insustentável e que precisa ser revisto urgentemente. Segundo
DIAS(2000, p.15) , “a sociedade humana experimenta um profundo
colapso de ética e de valores humanísticos, verificável em suas atitudes
diárias” , e ainda “tornou-se mais injusta, desigual e insensível”. Nesse
sentido, a Educação Ambiental tem um papel fundamental na formação
do educando, mostrando-lhe as conseqüências ecológicas de suas ações
(DIAS,2000,p.16) .
4ª - Criação de mapa temático com a localização dos principais
problemas ambientais no município de Antonina. Integrando a disciplina
de Ciências com a Geografia, os alunos mais novos, de 5ª e 6ª séries,
puderam confeccionar um mapa da cidade, onde era possível identificar
as áreas mais atingidas por problemas no ambiente, utilizando para isso
imagens feitas por fotografias ou pesquisadas em meios de comunicação,
tais como jornais locais.
5ª - Elaboração de tabelas e gráficos para acompanhamento da
produção de lixo na escola e em casa. Nesta etapa, alunos das 7ª séries,
divididos em equipes, fizeram uma coleta do lixo produzido nas salas de
aulas no período da manhã, durante uma semana, ao final da qual
17
puderam ser analisados a quantidade de resíduos produzidos, o tipo de
material descartado, bem como a avaliação de qual a sala de aula que
produzia maior quantidade de lixo. Ao final desta coleta, na sexta-feira, os
sacos de lixo foram abertos no pátio e os alunos de cada turma puderam
analisar a quantidade de materiais escolares descartados, a maioria sem
necessidade. Durante esta exposição foi possível conversar com os alunos
a respeito de seu comportamento em relação ao material escolar
comprado pelos pais e sua responsabilidade em relação não só ao uso
correto dos mesmos, como a respeito de seu compromisso em relação ao
meio ambiente. Após esse trabalho, foram elaborados gráficos e tabelas
para representar a quantidade de lixo produzida na escola, só em relação
ao material escolar.
6ª - Identificação dos principais tipos de lixo produzido em suas
casas, verificando se o mesmo é separado para a reciclagem ou não.
Durante essa etapa, os alunos das 7ª séries, divididos em equipes
efetuaram pesquisas a respeito do lixo doméstico. Elaboraram
questionários e entrevistaram pais, familiares e moradores do seu bairro,
cujos resultados foram apresentados em gráficos, após a pesquisa. Com
este trabalho, também puderam observar o destino do lixo, em suas casas
e na comunidade, possibilitando a discussão da necessidade de se separar
o lixo para reciclagem , além de observar a produção excessiva de lixo
pela população. Nesta etapa, os alunos da 8ª série, aproveitando os
conhecimentos básicos de química, fizeram a análise dos rótulos das
embalagens, analisando as substâncias químicas contidas nos produtos
alimentícios, de higiene e limpeza, bem como seus impactos no ambiente
pelo uso e também pelo descarte de embalagens.
7ª- Realização de entrevistas com “agentes ambientais”
(carrinheiros) ,Secretaria Municipal de Meio Ambiente e funcionários
responsáveis pela coleta de resíduos sólidos, no Município, identificando
as principais dificuldades apresentadas no recolhimento e destinação do
lixo. Os alunos elaboraram questionários e foram às ruas para efetuar as
18
entrevistas com garis, carrinheiros e funcionários do serviço municipal de
coleta de lixo.
9ª - Palestras com educadores sociais, líderes religiosos e
comunitários sobre problemas sociais e ambientais e a responsabilidade
de cada um. Uma das palestras foi dada pelo presidente da ACAPRA
(Associação de Catadores de Materiais Recicláveis de Antonina ), um dos
líderes comunitários que enfatizou a importância da separação do lixo
doméstico e escolar, além de conversar com os alunos sobre o
preconceito e a discriminação sofrida pelos catadores durante seu
trabalho.
10ª - Debates em sala de aula a respeito dos valores humanos que
estão por trás das atitudes e comportamentos de cada um em relação ao
meio e ao seu próximo, tais como a responsabilidade, a solidariedade, a
justiça social, a paz e a fraternidade entre os povos, a começar pela
escola.
11ª - Oficina de materiais recicláveis, especialmente, PET,
desenvolvida por um convidado especial , funcionário da Prefeitura
Municipal de Antonina e, também, nas aulas de Artes, sob orientação da
Professora.
12ª - Desenvolvimento de uma peça de teatro, cujo tema foi “O lixo
na sala de aula”, ensaiada no contra-turno, por alunos da 8ª série
13ª - Avaliação final do projeto com apresentações de resultados.
No dia 27 de junho foi feita a apresentação final dos trabalhos
desenvolvidos, neste período, à comunidade escolar, através de painéis
montados em espaços apropriados na escola, com os resultados das
pesquisas desenvolvidas. Neste dia também foi apresentado um teatro
sobre o problema do lixo escolar, desenvolvido pelos próprios alunos da 8ª
série. Após esta apresentação, foi feita a avaliação geral dos resultados
19
obtidos, pelos professores, direção e equipe pedagógica.
Embora, se saiba que não se faz um trabalho de Educação em
Valores Ambientais a curto prazo, com inicio,meio e fim, essa experiência
desenvolvida no Colégio Estadual Rocha Pombo foi extremamente positiva
servindo para demonstrar que é possível desenvolver um programa de
Educação onde os próprios alunos possam atuar como protagonistas da
intervenção, em seu ambiente.
Na avaliação final com a Equipe Pedagógica, professores,
funcionários e também com os alunos envolvidos, foi feita a análise dos
resultados alcançados até aquele momento, considerando a relevância do
tema proposto para atender os problemas da realidade escolar
Foi possível observar alguns resultados da intervenção pedagógica, tais
como a postura crítica diante dos fatos apresentados, especialmente no
que diz respeito ao lixo escolar, em relação à sua produção e destino.
Percebeu-se que houve uma pequena, mas considerável, diminuição na
quantidade de lixo nas salas de aulas e no entorno da Escola. Notou-se,
também, um maior respeito para com os profissionais da limpeza, não
apenas da escola como os da limpeza pública, incluindo os catadores. Nos
debates em sala de aula, durante as apresentações por parte de
palestrantes convidados, alunos pesquisadores e professores, percebeu-se
que os demais alunos participam, assumindo postura crítica e
apresentando alternativas para solução dos problemas apresentados.
Nesse sentido, espera-se que ao examinar suas atitudes, costumes e
comportamentos diários, os alunos tenham tido a oportunidade de rever
seus valores e conceitos em relação ao meio ambiente bem como sua
responsabilidade para com o mesmo. Apesar de se saber que
comportamentos e atitudes desenvolvidos ao longo da vida,
especialmente se forem reforçados pela cultura familiar, não mudam da
noite para o dia e, que portanto, se faz necessário um trabalho efetivo a
longo prazo, acredita-se que experiências como esta desenvolvida na
Escola possam provocar a sensibilização para a mudança necessária no
modo como a natureza e seus recursos são utilizados.
20
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao terminar este trabalho pode-se considerar alguns aspectos
importantes para a intervenção pedagógica, centrada na Educação Sócio-
Ambiental, que foram observadas durante o desenvolvimento do projeto
no Colégio Estadual Rocha Pombo, em Antonina.
Em primeiro lugar destaca-se a concepção que os Educadores
envolvidos têm de Educação Ambiental , onde se percebe que os
conceitos que fundamentam a ação pedagógica , às vezes limitam-se à
discussão e a ações pontuais, como por exemplo, sobre reciclagem e
plantio de árvores. Nota-se que alguns professores ainda vêem o ambiente
como algo destacado do homem, com concepções naturalista e
antropocêntrica, o que na prática dificulta a visão do todo integrado. E
apesar de todas as discussões relacionadas ao tema, onde se evidencia a
necessidade de pensar o ambiente numa perspectiva mais abrangente,
ainda persiste um reducionismo no conceito da palavra, no sentido de
identificá-lo através de pressupostos ecológicos. Os professores precisam
estar cada vez mais preparados para reelaborar as informações
ambientais, para que possam compreender e transmitir conceitos sobre o
meio ambiente e a ecologia nas suas múltiplas determinações e
intersecções. Para Guimarães(1995), “e preciso que o educador trabalhe
intensamente a integração entre o ser humano e ambiente e se
conscientize de que o ser humano é natureza e não apenas parte dela”.
Percebe-se, ainda, que os professores das demais disciplinas
acreditam que os conteúdos de cunho “ecológico” devem ser abordados
dentro da disciplina de Ciências, o que dificulta também a possibilidade de
se interdisciplinar os conteúdos das diferentes áreas. Por outro lado, na
pesquisa efetuada com professores, a maioria defende que as questões
ambientais devem ser objeto de estudo numa disciplina em particular, a
Educação Ambiental, embora concordem que estas questões, bem como
os valores sócio-ambientais, devem ser abordados na escola em todas as
disciplinas, o que sugere uma pequena contradição no desenvolvimento
21
das atividades pedagógicas.
É necessário, portanto, rever as concepções que permeiam a
proposta curricular de cada disciplina ao propor um trabalho de Educação
Ambiental que integre o conjunto dos conteúdos abordados em cada uma.
Assim, a Escola estará abrindo espaço para repensar práticas sociais e os
professores atuarão como mediadores e transmissores de um
conhecimento necessário fornecendo aos educandos bases para
compreensão do meio ambiente global e local, da interdependência dos
problemas e soluções e da importância da responsabilidade de cada um
para construir uma sociedade planetária mais eqüitativa e
ambientalmente sustentável (Jacobi, 1998). Nesse sentido, é importante
lembrar que a interdisciplinaridade na Escola é fundamental para que o
aluno possa visualizar as questões ambientais sob várias óticas,
permitindo que faça uma leitura da realidade com diferentes abordagens,
além de possibilitar que o conteúdo dado nas diversas disciplinas, que
compõem a matriz curricular, sejam compreendidos a partir dos
problemas reais vivenciados por ele. Para isso, é fundamental que a
Equipe Pedagógica da Escola atue como mediadora entre as diferentes
áreas do conhecimento, possibilitando o encontro das partes envolvidas,
ou seja, dos professores das diversas disciplinas, para que haja realmente
a participação efetiva de todos , no planejamento, implementação,
desenvolvimento e avaliação dos resultados da proposta pedagógica
voltada para a Educação Sócio-Ambiental.
Também é necessário considerar que o trabalho pedagógico,
desenvolvido na Escola, com a visão sócio-ambiental deve partir da
sensibilização desta comunidade para com os problemas que a afetam.
Isso só é possível interagindo com ela, buscando nos próprios alunos e os
demais envolvidos nela quais são os reais problemas que lhe incomodam
e necessitam intervenção. Nesse sentido, o método utilizado neste
trabalho, para definição do objeto de estudo é eficaz, pois permite que a
própria comunidade identifique seus problemas e participe da busca por
soluções. Este projeto desenvolvido na Escola, embora pareça bastante
simples, foi extremamente importante no sentido de que os próprios
22
alunos foram protagonistas da intervenção pedagógica. Apesar do pouco
tempo para o desenvolvimento de todas as etapas do projeto, foi
fundamental a participação dos alunos envolvidos e comprometidos com
as tarefas propostas, na medida em que elaboraram questionários para
entrevistas, saíram às ruas para conversar com os moradores e agentes
responsáveis pela coleta do lixo, seja formal ou informal, quando
coletaram o próprio lixo nas salas de aulas e ao produzirem seus relatos,
inclusive tabulando dados para confecção de gráficos. Nesse contexto,
concordamos com Reigota (1998), quando diz que a educação ambiental
aponta para propostas pedagógicas centradas na conscientização,
mudança de comportamento, desenvolvimento de competências,
capacidade de avaliação e participação dos educandos. Para Jacobi (1998)
“a educação para a cidadania representa a possibilidade de motivar e
sensibilizar as pessoas para transformar as diversas formas de
participação em potenciais caminhos de dinamização da sociedade e de
concretização de uma proposta de sociabilidade baseada na educação
para a participação”. Entendemos que a formação educacional para o
exercício da cidadania deve contemplar este tipo de abordagem
pedagógica, permitindo que o aluno cidadão compreenda seu papel na
sociedade participando das tomadas de decisões para a escolha de novos
estilos de vida, mais saudáveis e responsáveis.
Finalmente, é preciso reafirmar que o projeto educacional
desenvolvido nesta Escola, procurou enfocar as questões ambientais sob
uma visão holística, relacionando o homem e a natureza como partes de
um todo, onde as ações sobre cada um afetam o outro, provocando
conseqüências nem sempre positivas.
E, sendo o ser humano dotado de consciência se faz necessário o
repensar de suas ações sobre o meio onde vive. É fundamental que no
desenvolvimento da Educação Ambiental se reafirme a necessidade de
uma nova forma de encarar a relação do homem com a natureza,
permitindo que se forme uma nova consciência, local e planetária, a
respeito de seus recursos, finitos e preciosos. Para Sorrentino (1998), os
grandes desafios para os educadores ambientais são, de um lado, o
23
resgate e o desenvolvimento de valores e comportamentos (confiança,
respeito mútuo, responsabilidade, compromisso, solidariedade e iniciativa)
e de outro, o estímulo a uma visão global e crítica das questões
ambientais e a promoção de um enfoque interdisciplinar que resgate e
construa saberes.
Mais do que nunca se faz necessário a revisão dos valores que
embasam as atitudes e comportamentos, não só em relação ao meio físico
e natural, mas sobretudo, é de fundamental importância resgatar os
valores éticos que devem balizar as relações entre os seres humanos,
permitindo o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e igualitária.
REFERÊNCIAS
BARRA, V.M.M. – Exploração de necessidades sócio-educativas e análise de programas formativos de educação ambiental com caráter experimental. Tese de Doutorado. Santiago de Compostela, 2000.
BRASIL.Parâmetros Curriculares Nacionais – Meio Ambiente. Brasília: MEC/SEF, 1998.
CASCINO, Fabio – Educação ambiental: princípios, histórias, formação de professores. 3ª ed. – São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2003.
DIAS, Genebaldo Freire – Educação ambiental:princípios e praticas. 6ª ed.rev. e ampl. pelo autor - São Paulo: Gaia, 2000.
GUIMARÃES, Mauro – A dimensão ambiental na educação. 4ª ed., Campinas, SP: Papirus, 2001.
JACOBI, P. et al. (orgs.). Educação, meio ambiente e cidadania: reflexões e experiências. São Paulo: SMA, 1998.
ORTEGA,P.;MINGUEZ,R.;GIL,R. –Valores y educación. Barcelona.Ariel,1996.
24
PARANÁ,Secretaria de Estado da Educação- Diretrizes Curriculares de Ciências para a Educação Básica. Curitiba,2006
PELIZZOLI,M.L. –Correntes da ética ambiental. 2ª ed., Petrópolis, RJ: Vozes,2002
PENTEADO, H. D. – Meio Ambiente e Formação de Professores. São Paulo: Cortez, 1997.
PEREZ-CAMPANERO, M. P. –Como detectar las necesidades de intervencion socioeducativa. Madrid, Narcea,S.A., 1991.
RAMOS, E. C. – Educação Ambiental:evolução histórica, implicações teóricas e sociais. Uma avaliação crítica. Curitiba, 1996. Dissertação de Mestrado – Universidade Federal do Paraná.
AGRADECIMENTOS
A Deus pelas bênçãos da vida, proteção e saúde!
Ao meu filho, Pedro Henrique, inspiração pela busca de um mundo melhor,
pelas noites que dormiu sozinho, esperando a volta de sua mãe das aulas
do PDE.
Aos meus pais pelo amor, dedicação e orações.
A professora Vilma Maria Marcassa Barra, orientadora deste trabalho, pela
amizade, confiança, incentivo e sobretudo pela sua boa vontade, na difícil
tarefa de educar para um mundo melhor.
A Secretaria de Estado de Educação do Paraná, pelo Programa de
Desenvolvimento Educacional - PDE, que permitiu que nos afastássemos
de sala de aula por um ano, para que pudéssemos repensar nossas
práticas pedagógicas, nos dando a oportunidade de aprender e de
reafirmar nossa esperança na Educação Pública e de Qualidade!
Antonina, 11 de dezembro de 2008.
25