Post on 21-Jan-2019
O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE
VOLU
ME I
ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE NO ENSINO MÉDIO: A promoção da saúde em
foco
Autor: Márcia Cristina Amaral1
Orientador: Wilson Rinaldi2
RESUMO
O papel da escola na promoção da saúde cada vez mais vem se destacando em sua abrangência e múltipla possibilidade no processo de formação de um cidadão critica capaz de levá-lo a refletir sobre temáticas cotidianas e interferir positivamente em seu meio, sobretudo, em sua vida para transformá-la. E esta pesquisa objetivou verificar o entendimento que os alunos do 1º ano do ensino médio têm com relação ao tema atividade física e saúde, tendo em vista que a educação física como disciplina componente do currículo escolar deve proporcionar uma análise critica dos valores sociais que vem sendo destacada nas Diretrizes Curriculares nos seus conteúdos articuladores, tais como os padrões de beleza e de saúde, sobre a discriminação sexual e racial, sobre a aquisição de hábitos saudáveis a promoção da saúde entre outros que se tornaram dominantes no discurso hegemônico da sociedade. Para coleta de dados foram aplicados questionário, de forma descritiva, tomando por foco investigativo a fala destes. A metodologia usada foi análise de conteúdos, proposta por Bardin (1977). Conclui-se, nesta investigação a importância que certos conhecimentos trazem para a formação humana não apenas pelo viés biológico onde imputa ao individuo a responsabilidade de ter ou não saúde, mas também abordando os determinantes de saúde, ampliando a discussão sobre saúde.
Palavras chaves: educação física escolar; saúde; promoção da saúde.
ABSTRACT
The role of schools in promoting health is even more highlighted in its increasing and multiple possible in the process of critic citizen upbringing able to reflect on everyday issues and interfere positively in his/her way, especially in order to transform your life. This research aim to assess the understanding of the students of 1st year of high school to the topic physical activity and health as a subject of the school curriculum providing a more critical social values that are highlighted in “Diretrizes Curriculares”, such as contents of beauty and health standards, sexual 1 Professora da Rede Estadual de Ensino do Estado do Paraná, disciplina de Educação Física, lotada
no Colégio Estadual Juracy Rachel Saldanha Rocha. 2 Doutor em Biologia Celular pela UEM, Mestrado em Educação Física pela UNICAMP. Atualmente é
professor adjunto - Tide A do Departamento de Educação Física da UEM.
and racial discrimination, acquisition of healthy habits to promote health among others that have become dominant in the hegemonic discourse of society. For data collection a questionnaire was applied in a descriptive way, by taking the investigative focus of these talks. The methodology used was a content analysis proposed by Bardin (1977). It was concluded that in this investigation the importance of certain knowledge brings to the human upbringing not only by the biological attributes which the individual responsibility in having or not health, but also addressing the determinants of health, broadening the discussion on health.
Keywords: physical education; health; health promotion.
1 INTRODUÇÃO
O presente estudo tem como objetivo analisar junto aos alunos, o nível de
entendimento com relação à atividade física e saúde; na perspectiva de iniciar uma
reflexão crítica quanto à visão de promoção da saúde, em que a atividade física e
saúde estão inseridas. E não apenas na causalidade do exercício físico como
promoção da saúde, disseminando a idéia (ingênua) de quem pratica qualquer
atividade física terá saúde (e quem não pratica terá doença). E mais, acabam
reduzindo o significado de saúde, quando atribuem á atividade física como fonte de
saúde, ora enfocando o senso comum de que saúde é ausência de doenças.
Neste sentido a Educação Física escolar e seus conteúdos estruturantes
aliados aos elementos articuladores, dentre ele a cultura corporal e saúde propõe
um conceito mais ampliado sobre saúde que avancem para além do viés biológico e,
que tenha suporte teórico nas ciências humanas e sociais. Nessa direção autores
como Devide (2002), Palma (2000), Carvalho (2001) e outros demonstram grande
preocupação em conhecer novas possibilidades de atuação e compreensão sobre o
tema estudado.
Isso se deve a necessidade de compreender saúde em suas diferentes
dimensões, com o enfoque voltado para a promoção da saúde e entender todo o
contexto que está inserido, bem como as desigualdades sociais que impedem o
acesso aos serviços de saúde e á informação sobre seus direitos enquanto cidadãos
que contribuem com seus impostos e que não são beneficiados com políticas
públicas que promovam realmente a qualidade de vida das pessoas.
Dessa forma aumenta a crença de que o exercício físico previne e até cura
doenças, e não é reconhecido como mais um fator que influencia positivamente,
para aumentar a resistência do corpo por possíveis enfermidades, simplesmente
atribui à atividade física a responsabilidade de ser o gerador de saúde. Bagrichevsky
e Estevão (2005), Carvalho (2005) contribui com a reflexão ao colocarem que há
privilégio do enfoque biológico, resultando numa relação causal entre atividade física
e saúde desconsiderando assim os determinantes sócio-culturais e econômicos
existentes nesta relação.
Segundo Pitanga e Lessa (2005), com o processo da industrialização, existe
um recente número de pessoas que se tornam sedentárias com poucas
oportunidades de praticar atividades físicas. A revolução industrial iniciada em fins
do século passado levou o homem do campo para as cidades e passou a favorecer
uma vida com menor atividade física, com tendência ao sedentarismo. O ser
humano foi preparado para um tipo de vida extremamente ativa do ponto de vista
evolutivo e a vida moderna mudou radicalmente esta perspectiva.
Certamente é sabido que a inatividade deve ser combatida, pois o ser
humano necessita do movimento ele representa a evolução do próprio homem, e a
necessidade de movimentar-ser sempre esteve presente a princípio pela
sobrevivência, depois para defender-se e posteriormente a conquista por novos
horizontes. Bagrichevsky, Estevão e Vasconcelos-Silva (2007) ainda afirmam o
sedentarismo como símbolo emblemático da era persecutória em que vivemos.
Assim, o sedentarismo seria o mal a ser combatido e incentivar para se ter uma
alimentação saudável como; carboidratos, proteínas, fibras, água, atividade física
regular, sono adequado, lazer deve ser uma preocupação constante. Nesse sentido
Soares (1994) apud Devide (2003, p.139) faz algumas considerações:
(...) o exercício físico não é saudável em si, não gera saúde em si, é apenas (...) um elemento, num conjunto de situações, que pode contribuir para um bem estar geral e, nesse sentido, aprimorar a saúde, que não é um dado natural (...). Ao contrário (...) é resultado, porque mais do que o vigor físico ao nível corpóreo, compreende o espaço de vida dos indivíduos, daí não ser possível medi-la, nem avaliá-la apenas pela aparência de robustez ou de fadiga.
E ao invés disso muitos corpos adoecem pelos abusos feitos em prol da
ditadura do belo, padrões de beleza são postos como correto e não existe nenhuma
leitura feita através da ótica do humano. Não se faz nenhuma consideração a
respeito da particularidade de cada ser, seu biótipo, o lugar onde vive suas
condições financeiras e sociais. O que se tem são padrões indiscutíveis por
professores e alunos, sendo que essas normas são tomadas como base de avaliar e
comparar os indivíduos (Caponi, 2003).
Ele por si só não causaria esse pleno estado saudável, vários fatores
influenciam; a modernidade trouxe avanços em diversas áreas, mas também
pagamos um alto preço por certas comodidades, à falta de tempo para a realização
de práticas corporais e que estas práticas pudessem trazer prazer ou plena
satisfação, o stress, a genética, nutrição, poder aquisitivo, motivação etc.
Nesse sentido as práticas corporais devem ser vistas como mais um dos
meios de se promover saúde, não só como prática, mas também como iniciativas
que privilegiam a dimensão educativa. Capaz de ampliar a visão que se tem de
saúde subsidiando o aprendizado ao cuidado com o corpo de forma autônoma,
respeitando as particularidades de cada ser e dessa forma provocarem a mudança
do pensar e agir em saúde.
O interesse pelo estudo da temática relação da saúde com a atividade física
escolar se deve por causa das discussões no âmbito da escola e na
contemporaneidade verem a necessidade de estudar e entender melhor, toda essa
problemática do crescimento do sobrepeso/obesidade, doenças crônicas
degenerativas, a jornada de trabalho consumindo cada vez mais o individuo,
pessoas adoecendo devido ao alto stress que sofrem. Tudo isso tem gerado
problemas de saúde tanto físico como mental e entender toda essa relação nos
permite ir além do viés biológico e discutir os determinantes da saúde como também
fatores que influenciam para se ter Qualidade de vida e essa discussão deve ser
levada ao nosso aluno como forma de instrumentalizar melhor nosso educando a ter
uma visão ampla e crítica da realidade que ele está inserido não como mero
observador, mas um cidadão conhecedor de seus direitos e agente de transformações.
Todo esse processo deve começar nas séries iniciais, ser contínuo e ao longo de
sua vida escolar para que ele possa se tornar um indivíduo pleno e autônomo.
2 SAÚDE
A saúde tem sido definida de diferentes maneiras no decorrer da história,
sempre atrelada ao momento histórico que passa a humanidade, ela reflete a
conjuntura social, política, econômica e cultural. Ou seja, saúde não representa a
mesma coisa para todas as pessoas. Dependerá da época, do lugar, da classe
social, dependerá também de valores individuais, de concepções científicas,
religiosas e filosóficas. Embora se tenha avançado nas teorias sobre saúde ainda
não se consegue um conceito concreto, pela sua subjetividade e abrangência.
Algumas teorias já superadas como a da unicausalidade que a partir da
descoberta dos micróbios, determina que os mesmos sejam os causadores das
doenças, pela teoria da multicausalidade, afirma que o desequilíbrio em vários
aspectos no processo do viver humano pode determinar o adoecimento. Este
processo nos mostra que os outros fatores começam a influenciar nas modificações
de seu conceito e que não existe um consenso em relação ao tema. A definição de
saúde vem ampliando-se, incorporando diversas dimensões da vida humana, mas a
dificuldade de conceituar saúde continua e é reconhecida desde a Grécia Antiga.
A medicina da Grécia antiga era centrada no cuidado do corpo, onde o papel
do médico era procurar colaborar na restauração da harmonia Este modo de
entender a saúde e a doença tinha sua racionalidade na observação cuidadosa dos
fenômenos, na concepção da doença enquanto fenômeno natural, e, portanto
passível de explicação teórica, e na transmissão do conhecimento em condições
capazes de assegurar certo controle sobre a competência dos praticantes.
A medicina romana, em seu princípio, era mágica e sobrenatural, baseada
na crença de vários deuses, assim como na medicina grega. Explicações e práticas
relacionadas com o pensamento mágico, com o misticismo religioso e com a
doutrina hipocrática conviveram com a tradição empírica relacionada com o uso de
ervas medicinal, integrando os modos de viver dos diferentes grupos sociais.
Na Idade Média, apesar da excessiva religiosidade, colocando Deus como
causa de tudo, a igreja tinha o papel de órgão regulador da vida moral e espiritual
das pessoas. A Idade Média ficou conhecida como a “Era das Trevas”, do ponto de
vista dos cuidados à saúde. Neste período surgiram os conceitos de epidemia e
quarentena, sendo esta uma forma de prevenir o alastramento de doenças que
crescia com muita rapidez, que devastou mais de um quarto da população,
desorganizando o processo social e trazendo outras concepções sobre saúde e
doença. George Rosen citado por Barigreschevsky et al (2003, p.21), afirma que “[...]
ao longo da história humana,os principais problemas de saúde enfrentados sempre
estiveram relacionados á vida comunitária”.
A Idade Moderna corresponde a um período de transição do feudalismo para
o capitalismo (primitivo) e o Estado moderno foi se estruturando do século XV ao
XVIII, começa-se neste período, a economia pelo comércio (mercantilismo)
predominava. O objetivo era, então, evitar epidemias, pois as pessoas não podiam
morrer, porque seu trabalho era necessário para “desenvolver” a economia. Para
manter as pessoas vivas e haver um crescimento populacional também era preciso
dar atenção às condições de higiene. Começa-se exigir do Estado a política da
saúde, ou seja, exigir a intervenção para se garantir crescimento populacional. Por
isso ter saúde era considerado estar vivo, aumentar a população para atender as
necessidades econômicas da época. Isso corrobora com a idéia ”[...] a Educação
Física teve sua gênese orientada a partir de um ideário militar de disciplinamento e
controle biopolítico dos corpos, que buscava extrair-lhes, ao máximo, uma
funcionalidade servil” (BAGRICHEVSKY: PALMA. p.57).
A Revolução Industrial foi o marco das grandes mudanças, mudou o mundo
em sua forma de organização e também alterou o modo de se tratar a saúde, o
modo de compreender saúde, embora alguns médicos mantivessem clara a idéia de
que algumas doenças eram geradas pelas condições de trabalho. O ambiente
industrial gerando o acúmulo de pessoas nas cidades – a urbanização é
contemporânea à industrialização – mostrou que o industrial teria problemas em
manter a sua força de trabalho, pois o trabalho especializado precisaria ser mantido,
começa-se uma preocupação para que o trabalhador não ficasse doente e fosse
mantido no emprego. O Estado passa a ser responsável para garantir a saúde do
trabalhador. A saúde “[...] parece ser entendida de forma utilitarista no sentido de
oferecer condições aos sujeitos de cumprirem com suas rotinas diárias” (RINALDI:
LARA: RINALDI, 2008, P.397).
Dentre todas as definições para saúde marcadas pelo processo histórico
construído, percebe-se a relação intima ao modo de viver, de pensar e
especialmente voltada aos interesses das classes dominantes. E como não se
estabelece um modo ou estilo de vida saudável, pode-se considerar o que Dejours
(1988, p.61) citado por Bagrichevsky e Palma (2004):
[...] a saúde é a liberdade de dar ao corpo de comer quando tem fome, de fazê-lo dormir quando tem sono, de dar-lhe açúcar quando baixa a glicemia. Não é anormal estar cansado ou com sono, não é anormal ter gripe [...] Pode até ser normal ter algumas enfermidades. O que não é normal é não cuidar dessa enfermidade, não poder ir para a cama, deixar-se levar pela enfermidade [...].
Para Canguilhem (1995) a saúde consistiria em limites de tolerância às
infidelidades do meio social. Como este é dinâmico, comportam acontecimentos,
esta infidelidade é sua história. Assim, a saúde seria a possibilidade de agir e reagir,
de adoecer e se recuperar. Canguilhem ensina, muito bem, que a doença é uma
nova dimensão de vida. Porém, conceituar “saúde” é sem dúvida uma tarefa árdua,
pois os conceitos aparecem frágeis, não tão bem delimitados.
Já Devide (2003) destaca que saúde não é algo estático, é um processo de
aprendizagem, de tomada de decisão e ações para melhoria do próprio bem-estar.
Para Minayo (2006, p.30) saúde é um tema cultural abrangente e que deve
ser analisada no âmbito histórico, percebendo as diferenças existentes entre
classes, gêneros e faixas etárias, como também, entender que as condições de vida
e de trabalho “qualificam de forma diferenciada a maneira pela qual as classes, as
etnias, os gêneros e seus segmentos pensam, sentem e agem a respeito dela”
Dada a complexidade e abrangência do tema Saúde, a Organização Mundial
da Saúde (OMS – 1948) ampliou a definição de Saúde para além do organismo,
enquanto corpo físico, e a dimensionou para as condições psicológicas ou
emocionais e para os aspectos sociais, que deveriam atingir tal ponto de equilíbrio,
que proporcionasse o estado ideal do estar completamente bem. Saúde é um bem-
estar, físico, mental e social e não apenas ausência de doenças, conceito que
evolui, pois saúde, em sua concepção ampliada, é o resultado das condições de
alimentação, moradia, educação, meio ambiente, trabalho e renda, transporte, lazer,
liberdade e, principalmente, acesso aos serviços de saúde, conforme a VIII
Conferência Nacional de Saúde, realizada no Brasil em 1986.
Assim, saúde vista como questão humana e existencial, por Minayo (1999),
é um problema compartilhado indistintamente por diferentes segmentos sociais,
havendo, porém, diferenças no modo de agir e sentir sobre ela, como condição de
vida e trabalho, situação que se diferencia dependendo de que classe social esteja
se falando. Dessa forma, a atividade física deve ser vista como componente de uma
história, e o apelo do exercício apoiado apenas nas ciências biológicas não dá conta
de entendê-la dentro dessa mesma história, pois parece existir uma lógica dialética
que leva o sujeito a determinados comportamentos (sedentarismo, por exemplo).
Nesse sentido deve-se considerar que o art. 196 da Constituição Brasileira
(1988), declara: saúde é um dever do Estado garantido mediante políticas sociais e
econômicas, de condições dignas de vida e acesso permanente á serviços de
promoção, proteção e recuperação da saúde para todos os cidadãos do território
nacional. Todo esse processo só será legitimado quando os componentes
educativos passarem a capacitar indivíduos e comunidades acerca desses
determinantes de saúde e que possam interferir para uma melhoria da qualidade de
vida. E a Educação Física como disciplina implica na promoção da reflexão através
do conhecimento sistematizado, dando sentido crítico sobre práticas e discursos
presentes na sociedade.
Segundo Menestrina (2000):
A sociedade moderna exige indivíduos cada vez mais saudáveis e sempre mais conscientes, suscitando que educação e saúde se entrelacem como necessidades decisivas e imprescindíveis para a auto-realização humana. Nessa perspectiva surge à educação para a saúde, que se caracteriza como um trânsito entre as mais diversas áreas do conhecimento, para promoção de um melhor nível na qualidade de vida, para os indivíduos, para as comunidades e para a nação. A educação para a saúde exerce influência direta sobre a existência humana, pois, compreendem conhecimentos, atitudes e comportamentos que constituem o seu ser, o seu saber e o seu fazer. (MENESTRINA, 2000, p.29-30)
2.1 A relação da Saúde com a Educação Física Escolar
De acordo com as Diretrizes Curriculares do Paraná (2008) entende-se que
o professor de Educação Física tem como elemento articulador a cultura corporal e
saúde um norte para trabalhar saúde como mesma ela trás num sentido ampliado:
“permite entender saúde como construção que supõe uma dimensão histórico-social.
Portanto, é contrária á tendência dominante de conceber saúde como simples
volição (querer) individual” (Diretrizes Curriculares, 2008).
Nesse sentido, a educação física escolar por meio de seus professores
poderá mostrar que como área de conhecimento tem como responsabilidade
entender e discutir os aspectos biológicos, econômicos, históricos e sociais desses
seus ramos de conhecimento (Devide, 2003, p.144). Se não cumprir esse dever
estará colaborando para a continuidade de uma sociedade desigual, competitiva e
que não é incentivada a discutir, conhecer e recusar padrões.
Historicamente a Educação Física e Saúde sempre tiveram uma relação
histórica, essas novas idéias ou conceitos de saúde vão se modificando ou se
ampliando de acordo com o momento histórico, as condições sociais, a evolução
tecnológica, a cultura e o conhecimento das pessoas, no entanto em cada período
da história, e, mesmo atualmente ela é utilizada como instrumento ideológico e de
dominação.
Faremos uma abordagem das concepções de Educação Física até meados
dos anos 85, no sentido de entendermos melhor sua relação com a saúde.
Ghiraldelli (1998), explica que a Educação Física brasileira apresenta
concepções históricas e identificando-as em cinco tendências1: Higienista (até
1930), Militarista (de 1930 a 1945) Pedagogicista (1945 a 1964) e Competitivista
(1964 a 1985). Posteriormente podemos incluir a Educação Física Popular (1985 até
os dias atuais).
TENDÊNCIA HIGIENISTA
ÉPOCA/RELAÇÃO SÍNTESE
Até 1930
- Tema saúde abordado
indiretamente. Visão
biologicista e
individualista de saúde.
A Educação Física Higienista tem como papel
fundamental a formação de homens e mulheres sadios,
fortes e dispostos a ação. E mais do que isso não se
responsabiliza somente pela saúde individual das
pessoas, age como protagonista num projeto de
prevenção social. (Eugenia da raça)
TENDÊNCIA MILITARISTA
ÉPOCA/RELAÇÃO SINTESE
De 1930 a 1945
-Tema saúde abordado
indiretamente de forma
biologicista e individual.
Este período representou, segundo Castelhani filho
(1988), um período de militarização do corpo pelo
exercício físico, aprimoramento da raça, melhoria na
força de trabalho, como também militarização da mente
(espiritual), relacionada a segurança e defesa da pátria
com a colaboração civil por meio do esporte, senso de
superioridade, obediência, consciência.
TENDÊNCIA PEDAGOGICISTA
ÉPOCA/RELAÇÃO SINTESE
De 1945 a 1964
-Início de discussões
teóricas sobre o tema,
sob a visão biologicista
com caráter individual
sobre saúde.
O aspecto não crítico da Educação Física Pedagogicista
elencava alguns fins para os quais a Educação Física
deveria ser dirigida: 1. saúde: (saúde física e mental); 2.
caráter e qualidades mínimas de um bom membro de
família e bom cidadão; 3. preparação vocacional,
(desenvolveriam o controle emocional e liderança); 4.
uso contínuo das horas livres ou de folga: A EF
estaria relacionada com o intuito de ir contra o mau
aproveitamento do tempo livre, pois isto poderia destruir
a saúde, (GHIRALDELLI JUNIOR, 1994).
TENDÊNCIA COMPETITIVISTA
ÉPOCA/RELAÇÃO SINTESE
De 1964 a 1985
-Os alunos deveriam
possuir saúde para
tornarem-se atletas.
Desenvolvimento da
fisiologia e do
treinamento esportivo.
Somente aulas práticas.
Tema saúde abordado
indiretamente. Visão
biologicista e
individualista de saúde.
Assim como no estado novo, a Educação Física, agora
como disciplina acadêmica e como política social
voltada às demandas de lazer/tempo livre dos
universitários, teve uma função ideológica clara, a
qual coube à educação física o papel de colaborar, por
meio de seu caráter lúdico esportivo, com o
esvaziamento de qualquer tentativa de rearticulação
política do movimento estudantil no contexto universitário.
Desse modo, surgiram neste período os Jogos escolares,
jogos municipais, jogos abertos, jogos da juventude e
todas as demais competições em nível “amador”.
(GHIRALDELLI JUNIOR, 1994).
TENDÊNCIA POPULAR
ÉPOCA/RELAÇÃO SINTESE
DE 1985- ATUALIDADE
-Discussões teóricas sobre diversos
temas como o sedentarismo, as
doenças sexualmente transmissíveis,
A educação física popular é a única
concepção de educação física que,
“paralela e subterraneamente, veio
historicamente se desenvolvendo com e
o combate às drogas e os primeiros
socorros. O biologicismo começa a
declinar. Percepção de que somente a
dedicação aos exercícios não é
suficiente para a prevenção de
doenças. Crise epistemológica na
Educação Física, que provoca nova
leitura do seu papel como produtora de
saúde.
contra as concepções ligadas à ideologia
dominante”. (GHIRALDELLI JÚNIOR,
1988, p. 21). Nesta concepção, procura se
atender o maior número de pessoas para a
prática de atividade física, sem qualquer
distinção.
Tabela 01: Quadro síntese das tendências pedagógicas até 1985
Após exposição do quadro síntese vemos o aspecto não crítico da
Educação Física no seu processo histórico, nestes períodos, elencava alguns fins
sempre dentro da ótica de uma saúde individual e no viés biológico com a
preocupação de dominação do corpo e manipulação ideológica. Bagrichevsky &
Estevão (2005) afirmam:
que a matriz teórico-científica da área da Educação Física desconsidera, na maior parte das vezes a dimensão sociológica da saúde e defendem que aja uma análise contraponto ao “enfoque reducionista de saúde que a Educação Física tem hegemonicamente advogado, permitindo para si um papel difusor de idéias rasas e simplistas do tipo , pratique exercício e ganhe saúde” (p.69).
Dentro desta perspectiva compreendemos a necessidade de avançarmos
na discussão do conceito de saúde, não é possível compreender um ser somente a
partir da biologia e suas funções orgânicas. Aspectos como moradia, emprego,
saneamento básico, lazer, acesso a serviços de saúde, cultura são considerados
indispensáveis para aquisição da saúde.
Segundo Darido (2003) a partir do final da década de 70, surgem novas
concepções pedagógicas na Educação Física Escolar. Um fator importante para o
surgimento das novas concepções na área foi à valorização dos conhecimentos
científicos, que se deu principalmente com a volta de vários professores que se
especializaram nos principais centros de pesquisa no exterior e retorna ao país
como doutores, com uma nova visão a respeito dos objetivos da Educação Física na
escola.
A partir dos anos 80, cresce uma forte necessidade de rompimento com a
forma da execução da Educação Física no passado, negando as concepções
(tradicionais) anteriores dando origem ao movimento autodenominado “renovador”
(RESENDE, 1994).
Entre as teorias que apresentam propostas para a superação e rompimento
do modelo mecanicista/esportivista/tradicional, as que se tornaram mais conhecidas
foram: a psicomotricidade, a desenvolvimentista, a construtivista, a crítico-
superadora e a crítico-emancipatória (DARIDO, 2003). No mesmo sentido a proposta
contida nos Parâmetros Curriculares Nacionais-PCNs, documentos criados na década
de 90, pelo Ministério da Educação – MEC é apresentado como fonte orientadora das
práticas pedagógicas dos professores na escola, sendo uma possibilidade de discussão
no que se refere ao tema cultura corporal e saúde:
Nestas Diretrizes, os cuidados com a saúde não podem ser atribuídos tão somente a uma responsabilidade do sujeito, mas sim, compreendidos no contesto das relações sociais, por meio de práticas e análises críticas dos discursos a ela relativos. (p.56)
Atualmente, problema de saúde pública tem crescido em todo o mundo,
principalmente as doenças crônicas degenerativas, afetando boa parte da
população, acabaram encontrando na promoção da saúde uma maneira de
amenizar ou acabar com certas enfermidades, levando em conta, principalmente, a
capacidade do individuo em modificar seus comportamentos, como uma alimentação
saudável, prática regular de atividade física é tratada como forma individualizada de
se buscar saúde, transferindo ao próprio indivíduo a responsabilidade sobre ela.
Cabe-se a ele esforçar-se para ser saudável, caso contrário ele será o único
responsável pelo fracasso. Sabe-se, porém que existem algumas prerrogativas
importantes que precisam ser pontuadas; como o papel do Estado e da sociedade
em elaborarem políticas públicas em benefício da saúde e da coletividade.
Conforme afirma Palma (2003, p.27):
Assim, lamentavelmente a maior atenção foi e é dado ás intervenções para mudanças de comportamento individual e pouco á estratégia política populacional indicando a opção de modificação dos hábitos considerados de risco, tais como: fumar, sedentarismo, dieta etc.
O que se apresenta pela mídia é a forte idéia da prática de exercícios pelo
exercício, sem a mínima reflexão, sem questionamentos, apenas se dissemina e
valoriza a idéia que tudo vale para se ter corpos definidos e sarados. E começa uma
corrida frenética pela busca do corpo perfeito não medindo esforços e até sacrifícios.
Na atualidade nos deparamos com algumas vertentes sobre as práticas corporais
advindas de uma super valorização do corpo em detrimento a saúde: se por um lado
o avanço tecnológico trouxe a indústria da beleza (cirurgias plásticas, tratamentos
estéticos e uma variada opção de cosméticos), academias e clubes, personal
training, complemento e suplemento alimentar, por outro cresce o mercado de
produtos e serviços que oferecem tratamentos como promessas de verdadeiros
milagres e insistentemente vendem a idéia da relação da atividade física e saúde
como se fossem equacionar os problemas de saúde/doença que a sociedade
contemporânea passa e assim há influência sobre as pessoas que acaba por
ressaltar aspectos superficiais e banalizar a relação dessas pessoas com o cuidado
com o seu corpo (Carvalho, 2007).
E para Costa e Venâncio (p.63, 2004) “a mídia, de forma massificada, induz
muitas vezes a ressaltar a imagem do corpo saudável e belo, como formas de
constituir a identidade”, do outro lado percebem-se a tamanha desigualdade social
que assola o país, com alto índice de analfabetismo ou uma população acrescida do
analfabetismo funcional, trazendo consigo a continuidade do nepotismo tão bem
exercido pelos governantes. Tudo isso traz resultados devastadores quando se fala
em Promoção da Saúde, como promover vida dentro de um contexto que privilegia
uma pequena parcela da população. Carvalho (2004, p.28), sobre estas questões
nos leva a refletir, ao afirmar que:
o acesso á informação por meio, especialmente, dos veículos de comunicação em massa e da publicidade é limitante e reduzido, o que divulgam serve para reforçar o entendimento de que a atividade física produz saúde.
A Organização Mundial de Saúde define como promoção da saúde o
processo que permite às pessoas aumentar o controle e melhorar a sua saúde. A
promoção da saúde representa um processo social e político, não somente incluindo
ações direcionadas ao fortalecimento das capacidades e habilidades dos indivíduos,
mas também ações direcionadas a mudanças das condições sociais, ambientais e
econômicas para minimizar seu impacto na saúde individual e pública. Entende-se
por promoção da saúde o processo que possibilita as pessoas aumentar seu
controle sobre os determinantes da saúde e através disto melhorar sua saúde,
sendo a participação da mesma essencial para sustentar as ações de promoção da
saúde (HPA, 2004).
Também no ano de 1986 é realizada no Canadá, na cidade de Otawa, a I
Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde, que considera como
condições necessárias para a existência de saúde: paz, educação, habitação,
alimentação, renda, ecossistema estável, recursos sustentáveis, justiça social e
eqüidade (BUSS, 2000).
Embora, constata-se que, ainda hoje, a relação estabelecida entre a
Educação Física e a Saúde está fortemente marcada pelo viés exclusivamente
biológico (Palma, 2001). Novas questões, advindas da percepção da complexidade
das ações humanas, têm sido trazidas por este outro campo científico. Passa-se a
estudar a Educação Física em uma visão mais ampla, priorizando a
multidisciplinaridade, onde o homem, cada vez mais, deixa de ser percebido como
um ser essencialmente biológico para ser concebido segundo uma visão mais
abrangente, onde se considera os processos sociais, históricos e culturais.
Devide (2003) apud Bagrichesvky, Palma, Estevão (2003), p. 146,
esclarece:
O professor (a) de Educação Física deve estar atualizado ao conceito multifatorial da saúde, á sua dimensão social, portanto coletiva, para que, munido de instrumentalização teórica consiste, tenha condições de discutir e ampliar a relação de compromissos da educação Física para além da esfera da aptidão física, como uma via de educação para a saúde dos alunos (as).
3 METODOLOGIA
Esse estudo partiu do interesse de entender como alunos do ensino médio
(1º ano) compreendem a relação da atividade física e saúde, diante dos conteúdos
apresentados na escola, e sua articulação com outras fontes de informação.
Sendo um tema discutido na atualidade e também no ambiente escolar,
foram feitos alguns questionamentos, apontamentos, utilizando a leitura das obras e
seleção dos conteúdos investigativos, para posterior análise dos mesmos,
problematizando no sentido de apontar aproximações e distanciamentos entre teoria
e prática no que se refere à saúde. E assim promover uma discussão ampliada onde
os aspectos histórico-sociais possam fazer parte do entendimento desse tema.
A metodologia utilizada para o estudo foi a de análise de conteúdos de
Bardin (1977) que é definido como: “Um conjunto de técnicas de análise das
comunicações visando obter, por procedimentos, sistemáticos e objetivos de
descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que
permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de
produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens.”
Num primeiro momento, a investigação buscou elencar algumas obras e a
compreensão do elemento articulador saúde presente nas Diretrizes Curriculares da
disciplina de educação física numa perspectiva de problematizar a relação atividade
física e saúde nos aspectos social, biológico, político e filosófico que é discutido no
ensino médio, a partir do referencial teórico, e por pesquisadores que investigam o
tema.
O segundo momento voltou-se para uma investigação em campo. Os
instrumentos avaliativos utilizados foram questionários dissertativos, de modo a
acompanhar o andamento das atividades podendo interferir e modificar o
planejamento das aulas, isto contribuiu para o conhecimento da realidade.
Participaram da pesquisa 48 alunos de escola pública, do turno matutino.
O roteiro do questionário foi baseado nas indagações suscitadas pelos
alunos e as questões foram às seguintes: a) Para você, o que é saúde? b)O
conceito que você tem de saúde veio de qual fonte? c)Você considera o conteúdo
saúde importante dentro da disciplina de Educação Física? d)Para você qual a
relação existente entre atividade física e saúde? Você pratica outra Atividade Física
além das aulas de EF? Qual? Se não, qual razão? e)Você tem oportunidades de
atividades de lazer? Quais?
Os dados coletados foram analisados e interpretados, organizados em eixos
norteadores e por levantamento de categorias, sistematizando as informações ao
conhecimento saúde no que tange a educação física escolar.
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Os dados apresentados a seguir são resultados da pesquisa feita no
Colégio Estadual Juracy, Rachel Saldanha Rocha, na cidade de Marialva, através do
Programa Desenvolvimento Educacional (PDE), com alunos do 1º ano do ensino
médio, a execução desse estudo é relevante, na medida em que permite
compreender como esses alunos entendem essa relação (atividade física e saúde),
acerca dos determinantes de saúde, com o objetivo de promover uma reflexão e
discussão sobre questões pertinentes ao seu cotidiano.
Os dados a serem apresentados foram baseados nas informações contidas
nas respostas de seis perguntas feitas aos alunos num questionário de forma
dissertativa. Cada questão foi analisada levantando as unidades de significado para
cada resposta dada nos questionários.
Cada uma das questões e suas subdivisões serão apresentadas a seguir:
A concepção de saúde dos alunos do ensino médio
Tabela 01: Pergunta 1: Para você, o que é saúde?
Nº Unidades de Significado Freqüência
1. Boa alimentação e pratica de atividade física regular 16
2. Ausência de doenças 12
3. Conjunto de hábitos para se viver melhor 08
4. Bem-estar físico, psíquico e social 07
5. Bom funcionamento do corpo 05
Tabela 02: Levantamento de categorias
Nº Categorias Unidades de Significado que
compuseram a categoria Frequência
1. Parâmetros Individuais 1, 2, 3, 5 41
2. Determinante biológico 4. 07
Dentro desta questão a maioria das respostas dadas mostra que o
conhecimento que trazem esta pautada no viés biológico ainda numa visão
reducionista, apenas uma pequena parcela mostra um entendimento de saúde baseado
no que diz a OMS. Isso mostra que quando agrupam as unidades de significado em
categorias os alunos apresentam seus resultados pautados nos parâmetros individuais
reforçando a idéia de responsabilizar apenas o individuo pelo seu bem-estar.
De onde vem o conceito de saúde?
Tabela 03- Pergunta 2: O conceito que você tem de saúde veio de qual fonte?
Nº Unidades de categorias Frequência
1. Escola 18
2. Família 10
3. TV 07
4. Médico 03
5. Revistas 02
6. Amigos 02
7. Outros 06
Tabela 04: Levantamento de categorias
Nº Unidades de significado que
compuseram a categoria Frequência
1. Informação oral 1, 2, 4,6 33
2. Meios de comunicação 3 07
3. Meio impresso 02 02
4. Outros 06 06
Os resultados apresentados na tabela no item fonte de informação para o
conceito saúde ficam evidentes que a escola aparece com porcentagem maior. Isso
reforça que a escola, principalmente o professor de educação física trabalham a
temática saúde nas aulas e que necessariamente estes conceitos precisam ser
ampliados para um melhor entendimento sobre o assunto. Mas é importante destacar
que outras fontes de informação também contribuem para o conceito de saúde.
Estudo da saúde nas aulas de educação física
Tabela 05: pergunta 03: Você considera o conteúdo saúde importante dentro da
disciplina de Educação Física?
Nº Unidades de significado Frequência
1. Sim 44
2. Não 04
Tabela 06: Levantamento de categorias
Nº Categorias Unidades de Significado que
compuseram a categoria Frequência
1. Sim 1 44
2. Não 2 04
A maioria dos alunos como apresenta a tabela confirmam que estudam
sobre o tema saúde nas aulas de EF e acha importante. Embora alguns alunos
possuíssem outro entendimento com relação a este conteúdo, pode ser por falta de
interesse sobre o assunto, ausência na própria aula ou por terem um conhecimento
sem a crítica.
Percebe-se que para a maioria dos alunos entenderem de saúde é ter uma
vida saudável, livre de problemas e de doenças.
Relação da atividade física e saúde
Tabela 07: Pergunta 04: Para você qual a relação existente entre atividade física e
saúde?
Nº Unidades de Significado Freqüência
1. Para manter-se saudável 11
2. Pela prática de Atividade física 21
3. Melhoria da saúde 09
4. Alivia o stress 05
5. Não vê relação 02
Tabela 08: Levantamento de categoria
Nº Categorias Unidades de Significado
que compuseram a categoria
Frequência
1. Biológico 1,2 32
2. Qualidade de vida 3,4 14
3. Não, Pois não há relação com a EF 6 02
De acordo com a tabela apresentada é possível verificar que os alunos têm
dificuldade de relacionar atividade física e saúde para além do sentido biológico, não
conseguem vislumbrar a relação com as condições materiais necessárias á
sobrevivência e ás necessidades humanas básicas. Pode ser também pela alta
exploração que a mídia faz com relação a esse tema, passando a idéia ingênua que
quem tem uma vida ativa está isento de doenças.
A prática da atividade física
Tabela 09 - Pergunta 05: Você pratica outra Atividade Física além das aulas de EF?
Qual? Se não, qual razão?
Nº Unidades de Significado Frequência
1. Sim. Academia 04
2. Sim. Futebol 05
3. Sim. Vôlei 01
4. Sim. Caminhada 11
5. Sim. Ciclismo 01
6. Sim. Skate 01
7. Sim. Natação 03
8. Sim. Handebol 01
9. Sim. Corrida 03
10. Não. Por preguiça 04
11. Não. Por falta de tempo 05
12. Não. Por falta de interesse 05
13. Não. Por falta de oportunidade 04
Tabela 10: Levantamento de categorias
Nº Categoria Unidades de Significado que
compuseram a categoria Somatória Frequência
1. Sim. Esporte 2, 3, 5,6; 7;8 12
2. Sim. Exercício Físico 1 ,4,9 18
3. Não. Por preguiça 10; 12 09
4. Não. Falta de tempo 11; 13 09
Fica claro que a maioria dos estudantes realiza atividade física e/ou
esportivas para além das aulas de educação física, isto confirma que possuem
algum entendimento sobre saúde, mesmo que pelo viés biológico. O que mostra que
o conceito mais internalizado pelos alunos é o aspecto físico na relação com a
saúde. E que usam essas atividades como ocupação do tempo livre, nessa faixa
etária.
Quais as atividades de lazer presentes em sua vida?
Tabela 11- Pergunta 06: Você tem oportunidades de atividades de lazer? Quais?
Nº Unidades de Significado Frequência
1. Sim. Pela prática de esportes 08
2. Sim. Passear com a família 03
3. Sim. Sair com os amigos 10
4. Sim. Namorar 05
5. Sim. Ir ao shopping 08
6. Não. Por falta de oportunidade 13
Tabela 12: Levantamento de categorias
Nº Categoria Unidades de significado
que compuseram a categoria
Frequência
1. Sim. Pela prática de esportes 1 08
2. Sim. Convívio familiar 2,3,4 18
3. Sim. Meio social 5 08
4. Não. Falta de tempo/ oportunidade 6 13
Analisando a tabela acima e considerando, a atual conjuntura, fica evidente
que a maioria dos alunos mostrou que o entendimento de lazer vem assumindo um
caráter apenas de descanso, ou destinado ao convívio familiar. Outro fator limitante
é que as pessoas se vê obrigada a preencher seus momentos de lazer com novas
jornadas de trabalho para o atendimento de suas necessidades básicas de
sobrevivência ou pelo grande apelo ao consumismo que compromete drasticamente
a qualidade de vida que pode ser proporcionada pelo lazer.
5 DISCUSSÃO
Considerando os dados apresentados na pesquisa, pode-se considerar que
as aulas de educação física se encontram atreladas a temática saúde, mesmo que
ainda com forte apelo ao viés biológico e aos aspectos individuais, presentes ao
longo de toda história da EF. Outro ponto visto no decorrer da pesquisa é que o
conteúdo como é apresentado ao aluno, sem a criticidade necessária pode levar a
uma continuidade deste pensamento não promovendo uma discussão/reflexão sobre
saúde de forma ampliada.
Outras disciplinas também mantêm apenas o discurso biológico, que não
leva o aluno a uma reflexão com o seu dia a dia, nem mesmo a uma modificação de
sua postura enquanto cidadão. Como agora as disciplinas de Filosofia e Sociologia
(ciências sociais) são obrigatórias no ensino médio elas poderão auxiliar para a
formação da consciência critica.
Outro aspecto importante que o professor poderá estar enfatizando é a
freqüência e a inclusão destas práticas corporais em sua vida não só como forma de
saúde, mas também como fator de lazer, ocupação do tempo livre, sempre
acrescido de discussões sobre os determinantes da saúde (saneamento, educação,
trabalho, lazer etc.), proporcionando um maior conhecimento, sobre os benefícios da
atividade física, mas também que possam refletir sobre as questões políticas que
envolvem todo o processo do trabalho na sociedade neoliberal: assim Carvalho
(2005) trará para área de educação física
discussões fundamentadas no referencial das ciências humanas, o que pode
contribuir para que os profissionais específicos compreendam sua prática pedagógica de
maneira contextualizada, considerando os fatores culturais, históricos, econômicos, e
políticos, de modo que faça contraponto á visão estritamente biológica do corpo e relevando
os elementos da cultura corporal como manifestações e expressões humanas, portanto,
com historicidade e significado (p. 25).
Dentro da pesquisa também foi indagado aos alunos qual sua relação com
as atividades de lazer o que evidenciou um não entendimento destas práticas como
deveria e que precisa ser mais discutido dentro do espaço da EF como um direito,
buscando espaço para um melhor entendimento e luta contra a exploração,
alienação dos indivíduos em sociedade, desenvolvendo assim uma a consciência
reflexiva, que possa interferir e buscar saídas para a formação de sujeitos lúdicos e
com o compromisso do lazer e conseqüentemente melhoria da qualidade de vida.
Essa discussão ampliada de saúde começa fazer parte no âmbito escolar
devido aos inúmeros autores que discutem a saúde para além de seus aspectos
biológicos, como Devide (2002), Palma (2000), Carvalho (2001), Bagrichevsky
(2003), entre outros. Dentro deste contexto é preciso desenvolver uma educação
para a saúde que vá além das ciências biomédicas, onde se discuta saúde em todos
os seus determinantes: social, histórico, cultural, econômico, político e biológico,
assumindo os princípios da justiça, equidade, cumprindo assim seu papel por
condições dignas para todos, pois concordo com Carvalho (2005) ao afirmar que
somente através de transformações econômicas, sociais, e políticas resultando em
padrões saudáveis de existência é que se produz saúde.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante o desenvolvimento deste trabalho, pude perceber como a discussão
sobre saúde havia avançado e a necessidade do professor estar acompanhando
todo está discussão no campo cientifico, foi de grande relevância ser apresentada á
algumas obras e alguns autores que me ajudaram a compreender e entender sobre
certos posicionamentos postos pela sociedade hegemônica com relação ao tema
pesquisado “atividade física e saúde”. A discussão sobre saúde não é atual e nem
tão pouco antiga, ela faz parte do contexto histórico da humanidade, mas cabe a
cada área do conhecimento manter um diálogo permanente sobre questões
advindas de sua área de atuação e a educação física escolar terá um papel
fundamental na reflexão sobre a concepção ampliada de saúde, proporcionando aos
estudantes a possibilidade de discutir sobre questões que estão relacionados ao
processo de saúde-doença, a falta de tempo para a prática de exercícios físicos,
excesso de trabalho, salários não compatíveis para o suprimento das necessidades
básicas, falta de atendimento á saúde, pessoas sem acesso á educação, sendo este
primordial para a mudança de paradigma de uma sociedade capitalista.
Relacionando-os à capacidade dos escolares fazerem suas escolhas, tomarem
decisões e buscarem o acesso aos serviços essenciais que promovam a qualidade
de vida da população.
Menestrina (2005) faz algumas considerações a este respeito:
Quando a educação física volta suas atenções para a obtenção de saúde dos participantes em seus aspectos globais, contribuirá para a inter relação entre a educação e saúde realmente se concretize. Dessa maneira ela passará a cumprir, efetivamente, o seu papel político e pedagógico, justificando-se não apenas como atividade curricular do ensino
sistematizado, mas, também, como prática educativa de caráter social. Isso mostra a necessidade de iniciarmos uma discussão ampla e coletiva acerca do assunto proposto para propormos questionamentos/pesquisa dentro do universo escolar que é uma instituição privilegiada de intervenção.
Outro fato que acontece no âmbito escolar no que tange aos programas e
ações de saúde é de que estes são propostos, em sua maioria de forma
verticalizada e desvinculados dos conteúdos programáticos do currículo escolar,
sem ter a preocupação com a interdisciplinaridade e que muitas vezes a construção
do saber fica sem significados para o sujeito que não se apropria e não consegue
interferir no meio em que vive, é importante destacar que a falta de conhecimento é
um fator limitante, que impede o aluno/pessoa de perceber a realidade de forma
múltipla e a si mesmo como agente de transformação desta realidade.
Dentro deste contexto é preciso desenvolver uma educação para a saúde
onde promoção da saúde seja compreendida em todos os seus determinantes,
enfatizando a necessidade de se ter uma ação pedagógica que vá de encontro com
a formação para saúde em todos os sentidos, desmistificando certos padrões e
introduzindo a discussão/reflexão sobre práticas usadas para atenuar os problemas
sociais, delegando ao individuo a responsabilidade de ter ou não saúde. E a
disciplina de educação física através das diretrizes curriculares, como já citado,
considera a saúde em sua dimensão histórico-social, assim poderá promover
através do conhecimento sistematizado meios para trabalhar a temática saúde de
forma ampliada, pensando criticamente seus valores e como se articulam, práticas
corporais, saúde e sociedade, não como mera causalidade, mas como meio de
compreenderem as possibilidades e necessidades de transformar ou não esses
valores. Podemos ressaltar então “a escola, sozinha, não levará os alunos a
adquirirem saúde. Pode e deve, entretanto, fornecer elementos que os capacitem
para uma vida saudável” (BRASIL, 1998a, p.65).
Dessa forma estaremos cumprindo com o papel de educar para a cidadania,
contribuindo para algumas possibilidades de intervenção, respeitando as
especificidades e limites de nossa área, mas com a responsabilidade de incorporar
reflexões e ações criticas sobre o tema saúde em nossas aulas. Esclarecendo que
ter saúde vai além do bem-estar físico, psíquico e social, que esse estar-bem
dificilmente será adquirido por todos, nem em todos os sentidos e não é por isso que
a pessoa não será saudável, visto que saúde será a relação que esse indivíduo
mantém com o meio social.
Não é a consciência do homem que lhe determina o ser, mas, ao contrário,
o seu ser social que lhe determina a consciência. (Karl Marx)
REFERÊNCIAS
BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa, Portugal: Edições 70, [s.l.]1977. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Parâmetros Curriculares Nacionais: Temas Transversais Saúde. Brasília: MEC/SEF, vol. 9, 1998 a. BAGRICHEVSKY, M.; Estevão, A. Os sentidos da saúde e a Educação Física: apontamentos preliminares. Arquivos em movimento. Rio de Janeiro, 2005. Bagrichevsky, M.; Estevão, Silva, P.R.V. Sedentarismo, nós e o mundo (im) possível no contexto da Ciência. Ver. Saúde Pública, 41(5): 862-64, 2007. BAGRICHEVSKY, Marcos et al. A Saúde em Debate na Educação Física. BLUMENAU, SC: Edibes, 2003. BUSS, P. M. Promoção da Saúde e qualidade de vida. Ciência & Saúde Coletiva, 5(1): 163-177 2000. Carvalho, A. I. Princípios e prática da promoção da saúde no Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 24(1): 4-5, jan, 2008. CARVALHO, Y. M. de. O “Mito” da atividade física e saúde. São Paulo: Hucitec, 2001. Carvalho SR. Saúde Coletiva e Promoção da Saúde: sujeito e mudança. São Paulo: Hucitec; 2005 CANGUILHEM, G. O normal e o patológico. Rio de Janeiro, Forense Universitária, 1995. COSTA, E.M.B.; VENÂNCIO, S. Atividade física e saúde: discursos que controlam o corpo. Revista Pensar a Prática, v.7, n.1, p.59-74, 2004. CAPONI, S. A saúde como objeto de reflexão filosófica. In: BAGRICHEVSKY, M., PALMA, A.; ESTEVÃO, A. (org.). A saúde em debate na Educação Física. Blumenau: Edibes, 2003. p.115-136. CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA. 1988. Vade Mercum. 3ª Ed. Atual e ampliada. São
Paulo. Saraiva, 2007. DARIDO et al. Educação Física na Escola: questões e reflexões. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003. DIRETRIZES CURRICULARES DE EDUCAÇÃO FÍSICA PARA EDUCAÇÃO BÁSICA DO ESTADO DO PARANÁ. Secretaria de Estado e Educação, SEED. 2008 DEVIDE, Fabiano Pries. A Educação Física Escolar como via de Educação para a Saúde. A saúde em Debate na educação Física, Blumenau: Edibes, p.137-150, 2003. DEVIDE, F. P. Educação Física, Qualidade de Vida e Saúde: campos de intersecção e reflexões sobre a intervenção. Movimento, porto Alegre, v. 8, n. 2, p. 77-84 mai./ago. 2002. DEJOURS, C. Um novo conceito de saúde. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, v.5, p.58-76, 1988. GUIRALDELLI JUNIOR., Paulo. Educação Física Progressista. São Paulo: Loyola,1992. MENESTRINA, Eloi. Educação Física e Saúde. 2.ed. ver. Amp. Ijuí:Editora Unijuí, 2000. MINAYO, M. C. de S.O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo: Hucitec, 1999. MINAYO, M. C. de S. Saúde como responsabilidade cidadã. In: A saúde em debate na educação física – volume 2. Blumenau: nova lera, 2006. . MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 9 ed. Revista e aprimorada. São Paulo: Hucitec, 2006. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC/SEF, vol.9, 1998. PALMA, A. Educação física, corpo e saúde: uma reflexão sobre outros “modos de olhar”. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, V. 22, N. 2, 2001. PALMA, A.; ESTEVÃO, A.; BAGRICHEVSKY, M. Considerações teóricas acerca das questões relacionadas à promoção da saúde. In: A saúde em debate na educação física. Bagrichevsky, Palma e Estevão (orgs). Blumenau (SC): Edibes, p.15-31, 2003. PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Livro Didático de Educação Física: ensino médio: Curitiba: SEED, 2006. PARANÁ, Secretaria do Estado da Educação. Diretrizes Curriculares da Educação Básica: Educação Física. Curitiba: SEED, 2008. ROSEN, G. Uma história da saúde pública. São Paulo; HUCITEC, 1994.
RINALDI, Wilson; LARA, Larissa Michele; RINALDI, Ieda Parra Barbosa. Analogias da atividade física e saúde e o mito de Ulisses e a Sereias. Rev. Educação Física/UEM, Maringá, v. 19, n. 3, p. 391-401, mar. 2008. RESENDE, H. G. Tendências Pedagógicas da Educação Física Escolar. In: RESENDE, H. G. & VOTRE, S. Ensaios sobre Educação Física Esporte e Lazer. Rio de Janeiro: SBDEF, 1994.