Post on 07-Apr-2016
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Cárlisson Galdino nasceu em 1981 no município de Arapiraca, Alagoas, sendo Membro Efetivo da Academia Arapiraquense de Letras e Artes (ACALA) desde 2006, com a cadeira de número 37, do patrono João Ribeiro Lima.
Poeta, contista e romancista, possui um livro de poesias publicado em papel, além de dois romances, duas novelas, diversos
contos e poesias publicados na Internet, em seu sítio pessoal: http://www.carlissongaldino.com.br/.
Como cordelista, iniciou publicando o Cordel do Software Livre, que foi distribuído para divulgação dos ideais desse movimento social.
Bacharel em Ciência da Computação pela Universidade Federal de Alagoas, onde hoje trabalha, é defensor do Software Livre e mantém alguns projetos próprios. Presidente do GUSLA – Grupo de Usuários de Software Livre de Arapiraca.
Literatura de cordel é um tipo de poesia popular especialmente no Nordeste brasileiro. Tradição de Portugal, os livretos deste tipo de poesia eram vendidos em feiras, pendurados em barbante (ou cordel).
O cordel da Pirataria é escrito em sétimas (estrofe de sete versos com rima x-A-y-A-B-B-A) em redondilhas maiores (versos de sete sílabas poéticas). A capa é de autoria de Karlisson Bezerra (http://nerdson.com).
2011
Cordel da Pirataria
Naquele tempo antigoDos grandes descobrimentosNavios cruzavam maresLevando dor e tormentoÀs terras por toda a vidaFossem novas ou antigasSem respeito e violentos
Iam à costa africanaCom suborno ou então bravosDeixavam terra levandoDezenas de homens, escravosOutros levavam empregadosE muitos deles, coitados,Eram mortos por centavos
Esses homens nesses barcosDominavam o mar selvagemSubjugando outros povosMas tinham uma boa imagemPois nos livros de HistóriaAinda hoje levam glóriaPor cada dessas viagens
Nesse mar, sem ter direitoA ter u'a vida de genteMuitos se reagruparamNum caminho diferenteNessa realidade ingrataCriaram as naus piratasE enfrentaram o mar de frente
Piratas, os homens livresDiferiam dos demaisDentro da embarcaçãoTinham direitos iguaisCultivavam parceriaContra toda a tiraniaConfrontando as naus reais
Atacavam naus tiranasRoubando o que foi roubadoMatavam os ocupantesEscravos, são libertadosOnde gastar o obtido?Tudo o que era conseguidoMundo afora era trocado
Esses eram os piratasDaquela época esquecidaQue se ergueram contra reisNessa tortuosa vidaDe "crimes", mas foi assimPois em alto mar, no fim,Não tinham outra saída
Mas vamos falar agoraDe algo dos dias atuaisQue é estranho e nasceuJá nem tanto tempo fazHoje o tema da poesiaChamam de piratariaE os direitos autorais
Para contar essa históriaDe leis, direito e valorTemos que entender primeiroComo a gente aqui chegouPor isso, como esperadoVamos voltar ao passadoOnde tudo começou
No ano de 62Do século XVIIO país, a InglaterraE a censura, um caniveteCortava a produçãoDe tudo que era impressãoPois besta em tudo se mete
E os livreiros desse tempoCada editora antigaPrecisava de um avalPara que imprimir consigaO aval do Rei, do EstadoQue se não for do agradoDeles, a impressão não siga
Um monopólio formadoPra controlar a leituraTerminou dando poderesAlém do que se procuraDessa forma os livreirosCresceram muito ligeiroNessa forma de censura
Já no século XVIIIBem lá no ano de 10Naquela mesma InglaterraUma nova lei se fezHoje ninguém lembra maisDe direitos autoraisFoi ela a primeira lei
Right em inglês é direitoE copy é copiarO Estatuto de AnneSó disso ia tratarDireito direcionadoAos livreiros, que afetadosTinham que se acostumar
Pois copyright falavaDe cópia em larga escalaE o direito é o monopólioSobre cada obra criadaE esse direito, notamosDurava quatorze anosE o monopólio acabava
Note que essa nova leiNão veio favorecerOs livreiros da InglaterraE o monopólio a nascerNão era bem algo novoE era o bem ao povoQue essa lei veio fazer
Nasceu o Domínio PúblicoNesta distante IdadeOs livreiros exploravamSeus direitos à vontadeMas terminado o prazoToda obra era, no casoDoada à Humanidade
Os livreiros reclamaramPedindo ampliaçãoPara aquele monopólioMas não teve apelaçãoPois se fosse concedidaMais outra seria pedidaE o prazo seria em vão
Isso lá naquele tempoEles podiam preverQue se o prazo aumentasseDe novo iam quererSempre após mais alguns anosE o prazo se acumulandoNo fim "pra sempre" ia ser
Mas o mais interessantePros livreiros e editoresÉ que o que eles previamHouve com novos atoresE hoje o direito autoralVale tanto, que é anormalPra agradar exploradores
Por que, vê se faz sentidoA desculpa que eles dãoPra monopólio de livrosÉ incentivo à criaçãoSe é assim, por que, ora poisEle dura anos depoisDa morte do cidadão?
Que eu saiba depois de mortoEu garanto a vocêPor grande artista que sejaEle não vai escreverSó se for, caso aconteçaCom um médium, mas esqueçaNão é o que a Lei quis dizer
O direito agora valePor toda a vida do autorDepois mais setenta anosDepois que a morte chegouPra incentivar o defuntoMesmo estando de pé juntoContinuar a compor
Por que funciona assimNão é difícil notar"Incentivo" é só desculpaPara o povo aceitarQuem lucra são editoresSendo atravessadoresÉ a Lei da Grana a mandar
As empresas mais gigantesQue corrompem os governosQue publicam propagandasDe produtos tão maneirosCom um gigantesco ganhoArtistas são seu rebanhoE a Lei garante o dinheiro
Toda essa exploraçãoFunciona desse jeitoO pobre artista criaO seu trabalho perfeitoUm trabalho bom e novoEle faz é para o povoPoder ver o que foi feito
Para o povo ter acessoAo que ele produziuNão é algo assim tão fácilAtingir todo o BrasilPra isso que produtores,Gravadoras, editoresTudo isso se construiu
Porém esse monopólioGarantido ao autorÉ o preço que eles cobramPra fazer esse "favor"Se a editora tem confiançaFacilmente a obra alcançaAlém do que se sonhou
O autor perde o direitoSobre a sua criaçãoQuem vende é atravessadorE lhe paga comissãoAlguns centavos pingadosE o maior lucro somadoÉ da empresa em questão
Vejam só que curiosoSão "direitos autorais"Mas pra chegar no mercadoAlguns contratos se fazE os direitos de repenteA que tanto se defendeDo autor não serão mais
Como se vendesse a almaPara uma empresa privadaNem ele pode copiarA obra por ele criadaMesmo quando ele morrerA empresa é que vai dizerComo a obra é usada
Autores bem talentososQue se encontram no caixãoSem obras suas à vendaCom fãs, uma legiãoMesmo a pedidos dos fãsToda essa força é vãPra ter republicação
Pois o direito estaráNuma empresa transferidoQue é quem dirá se é viávelAtender a esse pedidoE se ela não publicarNenhuma outra poderáPois o direito é exclusivo
Esse jogo de direitosIlude a maioriaDos artistas existentesComo uma loteriaOnde muita gente investeMas pra poucos aconteceAlgum sucesso algum dia
E os artistas que investiramEnriquecendo a empresaOlham para os de sucessoNão percebem serem presasSonhando chegarem láSeguem a financiarEssa indústria com firmeza
Quem tem direito exclusivoCobra o quanto quiserEsse é o mal do monopólioMas sempre é assim que éQuando surge alternativaA essa prática nocivaReclamam, não saem do pé
Copiar é ilegal?É, mas a Lei que hoje valeFoi feita por essa genteQue corromper tudo sabeAlterando o DireitoPara funcionar do jeitoQue melhor a elas agrade
Desde os tempos mais antigosAlguém canta uma cantigaOutro aumenta um pouquinhoE ela cresce e toma vidaNa cultura popularLogo ela se tornaráBem melhor do que a antiga
Com cultura é desse jeitoQue se faz evoluçãoSempre se inspira nos outrosNa imagem, prosa ou cançãoDo Teatro à LiteraturaCultura gera culturaNão queira fingir que não
Hoje com toda mudançaQue fizeram, quem diria?Compartilhar e expandirChamam de PiratariaE o direito à cultura?Criou-se uma ditaduraComo há muito se temia
O que querem impedindoO poder da interaçãoÉ tornar todos iguaisSeja massa a multidãoÉ uma questão de PoderPra mais lucro acontecerTodos com o mesmo feijão
Deixo então esta perguntaQue ainda não tem soluçãoNum país de tradiçõesQue futuro elas terão?O que será da culturaVivendo na ditaduraDos livreiros, da opressão?
Piratas no fim das contasApoiavam igualidadeHoje chamam de pirataQuem age contra a maldadeE compartilha o que temDando cultura por bemQuem tem solidariedade
-- Cárlisson Galdino-- http://www.carlissongaldino.com.br/
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