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CONSIDERAÇÕES ACERCA DAS ÁREAS DE RECARGA DO AQUÍFERO SERRA
GERAL EM LONDRINA (PR)
Alan Alves Alievi1
Eixo temático: O CAMPO E A CIDADE
RESUMO: Procurou-se, neste artigo, verificar as condições das áreas de recarga do Aquífero Serra
Geral em Londrina (PR), para realizar algumas considerações acerca das condições ambientais das
referidas áreas. Desta forma, foi possível verificar quais são os tipos de uso do solo nas áreas de
recarga do Aquífero Serra Geral na área urbana. Com isso, houve a possibilidade de apontar alguns
impactos que podem ser provocados por estes diferentes usos nas características dos recursos hídricos
subterrâneos. As localidades mais problemáticas do ponto de vista sócio-ambiental e de risco de
contaminação dos mananciais subterrâneos são as áreas que apresentam população de baixa renda, e
que não são completamente assistidas por infraestrutura de saneamento básico. Este trabalho objetiva,
em última instância, promover a discussão de questões ligadas a esse assunto, bem como ampliar os
estudos e planos de delimitação e proteção das áreas urbanas de recarga de aquíferos.
PALAVRAS-CHAVE: Londrina (PR), uso do solo, área de recarga, aquífero Serra Geral
1 INTRODUÇÃO
Há, nos últimos, um crescente uso das águas subterrâneas devido à relativa facilidade
de sua obtenção e diminuição de custos, sendo o esse uso quase irrestrito, devido à boa
qualidade destas águas. Isto resulta com que as mesmas sejam uma alternativa viável, mas, ao
mesmo tempo, preocupante, caso não sejam realizadas algumas considerações mais profundas
acerca das áreas de recarga, muito importantes quando se trata das águas subterrâneas.
1Licenciado em Geografia, mestrando em Geografia, Dinâmica Espaço Ambiental pela Universidade Estadual de
Londrina – UEL. Email: akalan@gmail.com.
A importância da água subterrânea pode ser resumida em alguns números
apresentados pelo IBGE (2000), em que se verificou que aproximadamente 61% da população
brasileira é abastecida, para fins domésticos, com água subterrânea, sendo que 6% se auto-
abastece das águas de poços rasos, 12% de nascentes ou fontes e 43% de poços profundos. O
número de poços tubulares em operação no Brasil está estimado em cerca de 300.000, com
um número anual de perfurações de aproximadamente 10.000 (MMA, 2002).
Objetiva-se, neste trabalho, realizar um levantamento dos diferentes usos do solo sobre as
áreas de recarga do Aquífero Serra Geral em Londrina-PR, assim como realizar algumas
considerações em termos de impactos sócio-ambientais resultantes destes usos sobre a água
que ingressa nestes solos e que abastece as reservas subterrâneas.
O levantamento do aspecto geológico, em que se encontra Londrina (PR), permite
inferir sobre as áreas de lineamentos estruturais, numa escala local, caracterizando-os como
pontos de recarga do aquífero Serra Geral, aquífero este caracterizado por ser do tipo
fraturado, contido em rochas basálticas oriundas de processos vulcânicos da Formação Serra
Geral. O fraturamento desta formação geológica permite o condicionamento de água em suas
fissuras, compondo, desta forma, um reservatório denominado Aquífero Serra Geral.
Esta avaliação é necessária devido à importância de se estabelecer políticas de gestão
de recursos hídricos, tanto com embasamento teórico e empírico na proteção das áreas de
recarga de aquíferos, como com a implantação de ações práticas devido à importância
gradativa que estes recursos hídricos subterrâneos vêm adquirindo nas últimas décadas,
principalmente no que tange ao seu uso no abastecimento público.
A partir de levantamentos de campo, bem como de pesquisa bibliográfica em estudos sobre
uso e ocupação do solo em Londrina (PR), realizados por Barros (et al, 2008) e Kishi (2003),
verificou-se os tipos de uso do solo nas áreas de recarga do aquífero Serra Geral em Londrina
(PR). Assim, avaliaram-se algumas consequências desses diferentes usos nas características
desses recursos hídricos subterrâneos.
2 GEOLOGIA DA ÁREA DE ESTUDO
A cidade de Londrina (PR) localiza-se a 23°18'36" S e 51°09'46" O e está situada
sobre a Formação Serra Geral, caracterizada por ser formada de rochas vulcânicas basálticas,
representadas pelos sucessivos derrames (CELLIGOI & DUARTE, 1997, p. 118). Estes
derrames são geralmente constituídos de efusivas basálticas ou simplesmente basaltos,
independentemente de sua eventual variação litológica. Segundo Rebouças (1978), a
circulação e acúmulo de água subterrânea nesta unidade são determinados pelas zonas de
fraturamento e falhamentos, bem como pelas descontinuidades entre os derrames – zonas
vesículo-amigdaloidais.
Segundo Filho (1997), a água que se infiltra no solo pode ser dividida em 3 partes
diferentes: a primeira permanece na zona não-saturada, a zona onde os vazios do solo estão
parcialmente preenchidos por água e ar, acima do nível freático. A segunda, denominada
interfluxo (escoamento sub-superficial), pode continuar a fluir lateralmente e alcançar os
leitos dos cursos d’água. Por fim, a terceira parte pode percolar até o nível freático,
constituindo a recarga do aquífero. A profundidade deste nível freático varia conforme
mudanças climáticas, topografia da região e permeabilidade da rocha (LEINZ, 2003, p. 78).
Neste último nível, abaixo da superfície piezométrica, que também é conhecido como
zona saturada, a água subterrânea preenche os poros – vazios intergranulares – das rochas
sedimentares, ou as fraturas, falhas e fissuras das rochas compactas (cristalinas). Leinz (2003)
afirma que as águas atingem esta zona por gravidade, até alcançar uma profundidade limite,
onde as rochas estão tão saturadas que a água não pode penetrar mais, simplesmente porque
os poros e capilares estão cada vez menores, devido à compressão das rochas superiores.
A taxa de ingresso da água na zona de recarga deste tipo de aquífero depende
basicamente do grau de fraturamento, dos afloramentos rochosos assim como do tipo de solo
existente nos topos dos mesmos, da inclinação, da cobertura vegetal, e da intensidade de
chuvas (chuvas pouco intensas e prolongadas aumentam a taxa de infiltração, aumentando a
possibilidade de armazenamento no aquífero) (MOTA, 1995).
Em se tratando de zonas urbanas como a que se discute neste trabalho, outro elemento a se
destacar é a superfície impermeabilizada formada pelas ruas, calçadas, prédios, casas, etc.,
que dificulta a ingresso das águas da chuva que viriam a recarregar o aquífero, logo abaixo
desta superfície. Entretanto, além deste problema, sabe-se que os resíduos gerados das
diferentes atividades humanas neste ambiente, provocam a poluição dos recursos hídricos
tanto superficiais como subterrâneos. Não sendo suficiente, a dificuldade promovida pela
superfície impermeabilizante da zona urbana na capacidade de infiltração da água da chuva,
ainda existe o prejuízo do contato destas águas com substâncias poluidoras, oriundas das
atividades da sociedade sobre esse espaço urbano.
3 RELEVO DE LONDRINA (PR)
Para reconhecer as feições do relevo que reflitam as condições geológicas de
determinada localidade, faz-se uso da interpretação visual por meio de fotografias aéreas,
mapas de relevo (topográficos), etc., das feições lineares identificáveis no terreno. Estas
feições lineares (ou mesmo curvilíneas), quando significantes no relevo, são denominadas
lineamentos. Segundo Hudgson (1974, p. 4) “[...] um lineamento é considerado uma feição
mapeável da superfície, linearmente simples ou composta, que está alinhada de forma
retilínea ou suavemente encurvada”.
A partir do relevo podem-se verificar quais são as áreas mais propícias à infiltração da
água de precipitação. Geralmente, os aquíferos fraturados como é no caso do Serra Geral, são
abastecidos por meio das fraturas e fissuras que ocorrem na própria formação geológica. É
possível analisar as formas de relevo e identificar as possíveis ocorrências de fraturas a partir
de alguns aspectos do mesmo, principalmente, por meio do estudo da rede de drenagem, que
pode fornecer fortes indícios de fraturas (diáclases ou falhas), permitindo então a localização
das mesmas e seu mapeamento. Então, através do mapeamento dos lineamentos, que são
interpretados como fraturas presentes nas rochas, podem-se identificar as áreas de recarga de
aquíferos ou que, pelo menos, sejam as mais propícias para tal.
Figura 1. Zonas de fraturamento do embasamento rochoso da Formação Serra Geral, onde se assenta
o perímetro urbano de Londrina (PR). Adaptado de Celligoi & Duarte (1997).
No caso de Londrina (PR), verifica-se que as zonas de recarga compreendem
principalmente os pontos mais altos do relevo conforme figura 01 acima, pois mesmo que as
fraturas do relevo estejam condicionando os cursos d’água da cidade, o que se levaria a
deduzir que são os rios que abastecem o aquífero, na verdade, não é o que acontece, pois estes
rios são caracterizados por serem do tipo efluente, ou seja, são eles próprios abastecidos pelos
mananciais subterrâneos e não o contrário.
Contribui para isto o clima subtropical úmido da cidade, que apresenta precipitação
pluviométrica o ano todo, abastecendo assim os reservatórios subterrâneos que por sua vez
abastecem os cursos d’água da cidade. Diferente do que ocorre, por exemplo, nas zonas
áridas, em que devido a pouca umidade e precipitação, os rios tendem a infiltrar no solo e
abastecer os reservatórios subterrâneos de água, pois o nível hidrostático do aquífero em
questão está abaixo no nível do rio, ou mesmo lago, lagoa, etc.
Portanto, neste trabalho verifica-se a existência da zona de recarga nas porções mais
altas do relevo do perímetro urbano de Londrina, e assim, o mapeamento destas áreas se
conformou como na figura 01.
4 ÁREAS DE RECARGA DA ÁREA DE ESTUDO
A origem da água subterrânea está relacionada ao ciclo hidrológico, que é um sistema
natural (fechado) em que a água circula do oceano para a atmosfera, para depois ser
precipitada para os continentes e então, retornar ao oceano superficialmente e/ou
subterraneamente. Nesse último meio (subterrâneo), parte da água infiltrada é retida pelas
raízes das plantas e acaba evaporando por meio da capilaridade2 do solo ou pela
evapotranspiração destes vegetais. A outra parte move-se para camadas mais profundas, por
efeito da gravidade, formando assim as águas subterrâneas.
Assim, numa das etapas do ciclo hidrológico, que é o ciclo de movimentação da água
pelo planeta e que abrange os meios atmosférico, aquoso e terrestre (simplificadamente), a
água infiltra-se no solo para então alcançar o meio subterrâneo, compondo então o aquífero
daquela determinada localidade. Para tanto, a água da superfície precisa ter as condições
2 Capilaridade é a subida (ou descida) de um líquido através de um tubo fino, que recebe o nome de capilar.
necessárias para infiltrar-se no solo, percolar os diferentes horizontes do mesmo, para
posteriormente alcançar o leito rochoso. (MOTA, 1995)
Desta forma, boa parte da água subterrânea se origina da superfície do solo, sendo a
recarga feita da precipitação, cursos d’água e reservatórios superficiais (MOTA, 1995, p.
141). Segundo o mesmo autor, as águas subterrâneas podem ocorrer em duas zonas: na zona
não saturada, ou de aeração, onde os interstícios estão parcialmente ocupados por água e
parcialmente ocupados por ar; e na zona de saturação, na qual todos os interstícios estão
ocupados por água sob a pressão hidrostática (MOTA, 1995, p. 141)
Interessante ressaltar que a água pode mover-se verticalmente num aquífero saturado,
ou então lateralmente, e conforme assevera Mota (1995, p. 144) “[...] O tipo de movimento
influi na percolação e sobrevivência dos poluentes, bem como na distância que os mesmos
podem alcançar a partir de determinada fonte”. Desta forma, pode-se afirmar que a
movimentação de poluentes segue o sentido do fluxo da água no meio subterrâneo,
considerando que as águas que percolam todo o substrato pedológico e alcancem a zona
saturada, e que porventura apresentem traços de elementos poluentes, podem movimentar-se
horizontalmente nesta zona, é possível inferir que estas mesmas águas venham a abastecer os
rios efluentes3 que estejam localizados próximos às áreas de afloramento do aquífero,
tangencialmente ao nível freático do mesmo.
5 USO DO SOLO NAS ÁREAS DE RECARGA
Cabe sempre ressaltar que determinados tipos de solos têm determinadas respostas à
sua utilização, o que pode provocar, dependendo do tipo de uso, uma degradação mais
contundente, contribuindo, assim, para uma maior propagação de agentes
poluidores/contaminantes no meio pedológico e, consequentemente, no meio hídrico
subterrâneo.
Segundo BARROS et al (2008), verifica-se que os latossolos e nitossolos ocupam a
maior parte do perímetro urbano, sendo que a malha urbana e principalmente as áreas de
recarga, estão sobre esses tipos de solo. No caso do latossolo, as maiores áreas de ocorrência
do mesmo situam-se na Zona Norte (bairros como Eldorado, Cinco Conjuntos, Cidade
Industrial, Pq. Indústrias Leves, Ouro Verde, Coliseu, Lindóia) e na Zona Sul (Esperança,
3 Rios efluentes são rios em que a recarga é feita tanto pelo aquífero como pela precipitação em sua cabeceira,
tornando-o perene e caudaloso.
Vivendas do Arvoredo, Terra Bonita), ocorrem também margeando a porção central da
cidade, mais precisamente acompanhando o curso do ribeirão Cambé (que forma o Lago
Igapó) seguindo pela sua vertente direita, e outra pequena área abarca alguns bairros da Zona
Leste, como o Ernani, Antares, Hospital Universitário e Aeroporto.
Segundo STIPP (2000) os latossolos ocorrem nos espigões divisores d’água, ou seja,
ocupam normalmente posições de topo até o terço médio das encostas suave-onduladas,
típicas das áreas de derrames basálticos, são solos com alta permeabilidade à água, o que se
traduz numa maior infiltração (EMBRAPA, 2009). São solos muito apropriados à recarga de
aquíferos.
Conforme Embrapa (2009), os nitossolos formam-se sobre rochas básicas e ocupam as
porções média e inferior de encostas onduladas até fortemente onduladas. É comum sua
ocorrência em áreas bem drenadas, próximas a cursos d água onde predominam rochas
básicas (basalto, diabásio). Estão frequentemente associadas à Latossolos vermelhos escuro.
Verifica-se que estas áreas coincidem, na sua maioria, nas áreas de ocorrência de
latossolos, que como demonstrado, ocupam os topos de morro. Os usos destes solos são
diversificados, basicamente são de uso residencial, comercial, industrial, áreas públicas
(praças, campos de futebol, etc.), áreas verdes e vazios urbanos.
Segundo Kishi (2003), as áreas mais verdes de Londrina (PR) encontram-se na zona Sul, que
apresenta um relevo mais acidentado, enquanto que na zona Norte encontra-se um relevo que
favorece a ocupação, propiciando o desmatamento destas áreas e a subsequente ocupação dos
solos desta localidade pela malha urbana. Grande parte desta malha está sobre as áreas de
recarga, principalmente nas zonas Norte e Oeste e em parte da zona Central e da zona Sul.
A porção da área de recarga mais a Oeste (na direção de Cambe) abrange os bairros
Cilo 34, Cilo 2, Leonor, Bandeirantes, Jamaica, Champagnat, Quebec, Shangri-lá e Sabará. O
uso do solo para essa área se resume a uso residencial, principalmente nos bairros Shangri-lá,
Quebec, Champagnat, Bandeirantes, Jamaica, Leonor e Coliseu. As zonas industriais e
atacadistas concentram-se principalmente nos Bairros Cilo 2 e Cilo 3 e margeando a Av.
Tiradentes, até a altura do bairro Quebec. Nestes mesmos bairros, excetuando o Quebec,
encontram-se muitos vazios urbanos, caracterizados por terrenos sem ocupação alguma,
tomados muitas vezes por mato e até mesmo sendo utilizados como depósitos de lixo, assim
como há terrenos sem vegetação alguma sobre eles.
4 Na década de 1970, o poder público delimitou a implantação de indústrias próximas ao centro urbano em
espaços mais vantajosos para esta atividade, estes espaços foram denominados CILOS. (KISHI, 2003)
Existem também áreas de uso especial, que segundo Barros (et al, 2008), são áreas
abertas que contam muitas vezes com a presença de vegetação que influencia beneficamente
na infiltração da água no solo, como também no clima urbano. Correspondem à localização de
instituições, em grande maioria, públicas como a Universidade Estadual de Londrina, o
Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR, o Aeroporto de Londrina e o Autódromo
(BARROS et al, 2008). Entretanto, como os autores afirmam, ocupam apenas 2,97% do
perímetro urbano.
Nesta área Oeste, identifica-se o Parque de Exposições Ney Braga e o terreno que era
ocupado pelo Hipódromo. Atualmente, parte deste é utilizada pela Pontifícia Universidade
Católica de Londrina (PUC). Existe, ainda, no bairro Cilo 3, o uso agrícola, com pequenas
propriedades rurais e sítios. Cabe ressaltar que, nos bairros residenciais da zona Oeste também
se encontram praças públicas e verdes viários, dentre outros, tal como pode-se verificar em
outras zonas da cidade. Esses são lugares que de certa forma, facilitam a infiltração da água
das chuvas no solo.
Na zona Norte, a área de recarga recobre bairros como o Eldorado, Perobinha, Parigot
de Souza, Ouro Verde, Vivi Xavier, Cinco Conjuntos, Autódromo e Pacaembu. Nesta zona
encontra-se variados usos, mas principalmente o uso residencial se faz mais presente. Os
vazios urbanos podem ser encontrados em quase todos estes bairros, mas no que se refere
àqueles situados sobre a área de recarga, os vazios urbanos mais relevantes estão nos bairros
Vivi Xavier, Eldorado, Ouro Verde e Pacaembu.
Dentre todos estes bairros, somente o Perobinha apresenta um uso agrícola mais
relevante (BARROS et al, 2008). Após a década de 1950, com o declínio da produção
cafeeira, houve a substituição da cultura perene (café) pela rotativa cerealista, como a soja e o
trigo. Isto acarretou uma série de problemas ambientais, pois houve um aumento na utilização
de insumos agrícolas no controle de pragas (KISHI, 2003). Atualmente, estas áreas agrícolas
remanescentes, próximas à malha urbana estão ocupadas por pequenas propriedades (culturas
de pequeno porte) e sítios utilizados dentre outras coisas, para o lazer. Entretanto, ainda
podem-se observar resquícios das atividades anteriores nos solos provavelmente
contaminados por pesticidas, dentre outros insumos agrícolas usados para o controle de
pragas.
Outra questão relevante sobre o uso do solo na área de recarga é a utilização do
mesmo para cemitérios. Na zona Norte de Londrina-PR, encontra-se o cemitério Jardim da
Saudade, mais precisamente na Av. Saul Elkind, no conjunto Vivi Xavier. Este é um
cemitério implantado no ano de 1984, e que tem atualmente cerca de dois mil jazigos,
segundo dados da Acesf (Administração de Cemitérios e Serviços Funerários –
www.acesf.com.br).
A decomposição dos corpos enterrados pode gerar contaminantes para águas
subterrâneas, caso os mesmos estejam enterrados de maneira inapropriada e localizados em
áreas onde a profundidade do solo seja pequena, onde ocorram as possibilidades de que as
valas tenham uma profundidade que alcance o nível freático local. A contaminação pode se
dar por necrochorume (efluentes líquidos resultantes da decomposição dos corpos) e
substâncias químicas que compõem os caixões.
Até o momento, nenhum estudo preliminar identificou problemas dessa natureza em
relação a este cemitério e seus túmulos foram construídos seguindo os requisitos mínimos
instituídos pelo IAP (Instituto Ambiental do Paraná). Ainda assim, faz-se necessário um
monitoramento contínuo dos solos e das águas de superfície e sub-superfície dos cemitérios,
posicionados em áreas de recarga.
A zona Norte caracteriza-se por apresentar em sua maioria, como antecipado, um uso
residencial dos solos. Observando o mapa de áreas de recarga, obtém-se a justaposição deste
uso residencial na maior parte destas áreas. A condição sócio-econômica da população
residente nestas localidades caracteriza-se por ser de baixa renda, com pouco acesso a
infraestrutura de saneamento básico em alguns bairros, notadamente, alguns ocupam as áreas
de recarga do aquífero.
Na área central de Londrina (PR) verifica-se também a ocorrência de outra zona de
recarga. No entanto, a malha urbana, que aqui se encontra mais concentrada, funciona como
uma capa impermeável, promovendo o fluxo de água das chuvas superficialmente por esta
malha, que acaba por não ingressar o solo, não atingindo o nível freático. A área central de
Londrina (PR), densamente ocupada e, portanto, pouco permeável devido à superfície ser
recoberta por construções, calçadas, asfalto, etc., localiza-se justamente no ponto mais alto do
espigão divisor de águas, local típico de uma zona de recarga. Caracteristicamente, nesta área
central o uso do solo se resume ao residencial, comercial, espaços públicos como praças,
bosques (que ajudam na infiltração das águas) e uso especial.
No sentido Oeste-Sul, abrangendo os bairros Sabará, Olímpico, Universidade,
Palhano, Vivendas do Arvoredo e Guanabara, o uso do solo compreende grandes áreas de
vazio urbano, loteamentos residenciais, áreas de uso especial como a Universidade Estadual
de Londrina, algumas porções de uso agrícola nas proximidades da mesma Universidade, rede
viária e algumas unidades de conservação de mata nativa. Devido à ocupação não ser
pronunciada como nas outras áreas destacadas, os impactos ambientais destes usos sobre as
áreas de recarga são possivelmente menores, exceto no caso de bairros como o Sabará e
Olímpico, que apresentam, junto de outros bairros em outras localidades da cidade, os
mesmos problemas anteriormente levantados.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
partir do exposto, cabe tecer algumas considerações que necessitam ser levadas em
conta no uso e manejo dos solos do perímetro urbano de Londrina (PR) que se encontra sobre
as zonas de recarga do Aquífero Serra Geral, conforme demonstrado neste estudo.
Verificou-se que a zona de recarga recobre áreas da cidade caracterizadamente
residenciais que não apresentam maiores impactos sobre os solos em que se assentam. Os
maiores impactos se resumem à impermeabilização promovida pelas construções, arruamento
e calçadas de concreto que impedem o ingresso das águas da chuva no solo abaixo. Na zona
Oeste, onde se verifica uma maior área de ocorrência da zona de recarga, observa-se também
uma quantidade considerável (ainda que menor do que na zona Norte) de vazios urbanos que
podem, de certa forma, contribuir para a infiltração das águas. Porém, é preciso levar em
conta que muitos desses vazios acabam se tornando depósito de lixo, tanto doméstico como
de construção, que quando em contato com as águas de precipitação, podem contribuir para a
contaminação destas e consequentemente poluir a água subterrânea subsequente, entretanto,
são necessários maiores estudos acerca deste fato.
Ainda não existem estudos sistemáticos, até o presente momento, que demonstrem
uma profícua contaminação das águas subterrâneas nas zonas industriais de Londrina (PR).
Segundo dados da CODEL (Instituto de Desenvolvimento de Londrina), a cidade apresenta
um complexo industrial constituído de cerca de 3.107 indústrias de diversos setores. Destas,
as mais relevantes em questão de número e possível impacto ambiental, a partir da forma
como praticam suas atividades sobre os terrenos onde estão instaladas, são as indústrias dos
setores de produtos minerais não-metálicos; metalurgia; couros; peles e similares; vestuários;
produtos alimentares; química; bebidas; dentre outras.
Todos estes setores geram resíduos que podem vir a contaminar as águas superficiais,
assim como os solos adjacentes. No entanto, a maioria destas indústrias não está localizada
sobre as zonas de recarga, e as poucas que estão ainda não foram investigadas a respeito.
Sendo mais um indicativo da necessidade de maiores estudos acerca do assunto abordado
neste trabalho.
As localidades de maior risco do ponto de vista sócio-ambiental e de contaminação
dos mananciais subterrâneos são as áreas que apresentam população de baixa renda, e que não
são completamente assistidas por infraestrutura de saneamento básico. Muitos destes lugares,
como os bairros Olímpico e Sabará (zona Oeste), assim como porção considerável da zona
Norte, detêm elevada quantidade de fossas rudimentares (negras) que muito contribuem para a
provável contaminação de águas subterrâneas, sendo um agravante o fato de que muitas
destas fossas se encontram sobre as áreas de recarga apontadas neste trabalho, e não se
presume até que ponto a contaminação das águas que por ali percolam alcançaram limites
insustentáveis de poluição.
REFERÊNCIAS
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