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EIXO TEMÁTICO: ( ) Biogeografia e a Paisagem ( ) Biogeografia e as
Mudanças Climáticas ( ) Biogeografia e a Educação Ambiental ( )
Biogeografia e Saúde ( ) Biogeografia Histórica ( X) Biogeografia e
Conservação ( ) Biogeografia e Agronegócio ( ) Biogeografia e
Agroecologia ( ) Biogeografia e SAFs
Conservação e Reabilitação de Pinguins migratórios (Spheniscus
magellanicus) nos litorais brasileiros.
Conservation and Rehabilitation of Migratory Penguins (Spheniscus
magellanicus) on Brazilian
coastlines.
Giorgio da Silva Grigio Graduando, UNINOVE, Brasil.
ggrigio1000@hotmail.com
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RESUMO Com o intuito de apresentar o desenvolvimento de
metodologias de conservação e entender as migrações da espécie
Spheniscus magellanicus, este trabalho, por meio do levantamento
bibliográfico visará explicar o projeto e o programa nacional,
responsáveis pelo monitoramento, preservação, tratamento, soltura e
mitigação dos impactos antrópicos sob os encalhes e mortes de
pinguins nos litorais brasileiros. Os Pinguins-de-Magalhães,
espécie Spheniscus magellanicus, objeto de estudo deste trabalho,
são endêmicos da região sul da América do Sul, e encontram-se quase
ameaçados de extinção por prováveis causas antrópicas que
interferem no seu habitat natural de modo direto ou indireto, e
deste modo causam grandes perdas populacionais. Possuem hábitos
migratórios em direção aos litorais sul e sudeste brasileiros, e
são encontrados pelas populações costeiras debilitados ou até mesmo
mortos, sendo assim, por necessitam de cuidados e atenção especial
com objetivo de conservar e não causar mais danos populacionais e
na cadeia trófica da espécie, faz-se necessário medidas de
acompanhamento e monitoramento das rotas migratórias, causas dos
encalhes e da mortes, e levantamento de dados quantitativos de
ocorrências e aparecimentos por parte das agências governamentais,
ONGs e empresas privadas do território brasileiro que exercem
atividades costeiras e marítimas. PALAVRAS-CHAVE: Spheniscus
magellanicus, Pinguins-de-Magalhães, conservação, pinguins, rotas
migratórias. ABSTRACT In order to present the development of
conservation methodologies and understand the migrations of the
species Spheniscus magellanicus, this work, through the
bibliographic survey will aim to explain the project and the
national program, responsible for monitoring, preservation,
treatment, release and mitigation of impacts humans under
stranding’s and penguin deaths on Brazilian coastlines. The
Magellanic Penguins, species Spheniscus magellanicus, object of
study of this work, are endemic to the southern region of South
America, and are almost threatened with extinction due to probable
anthropic causes that interfere in their natural habitat in a
direct or indirect way, and in this way, they cause great
population losses. They have migratory habits towards the southern
and southeastern coast of Brazil, and are found by coastal
populations weakened or even killed, therefore, because they need
special care and attention in order to conserve and not cause
further damage to the population and the trophic chain of the
species., measures to accompany and monitor migratory routes,
causes of stranding’s and deaths are necessary, and a survey of
quantitative data on occurrences and appearances by government
agencies, NGOs and private companies in the Brazilian territory
that exercise coastal and maritime activities. KEYWORDS: Spheniscus
magellanicus, Magellanic Penguins, conservation, penguins,
migratory routes. RESUMEN Con el fin de presentar el desarrollo de
metodologías de conservación y comprender las migraciones de la
especie Spheniscus magellanicus, este trabajo, a través del
relevamiento bibliográfico, tendrá como objetivo explicar el
proyecto y el programa nacional, responsable del monitoreo,
preservación, tratamiento, liberación y mitigación de impactos.
humanos varados y muertes de pingüinos en las costas brasileñas.
Los pingüinos de Magallanes, especie Spheniscus magellanicus,
objeto de estudio en este trabajo, son endémicos de la región sur
de América del Sur, y se encuentran casi amenazados de extinción
por probables causas antrópicas que interfieren en su hábitat
natural de forma directa o indirecta., y de esta forma provocan
grandes pérdidas de población. Tienen hábitos migratorios hacia la
costa sur y sureste de Brasil, y son encontrados por poblaciones
costeras debilitadas o incluso muertas, por lo tanto, necesitan
cuidados y atenciones especiales para conservar y no causar mayores
daños a la población y cadena trófica de la especie., son
necesarias medidas de acompañamiento y seguimiento de rutas
migratorias, causas de varamientos y muertes, y un relevamiento de
datos cuantitativos sobre ocurrencias y apariciones de organismos
gubernamentales, ONG y empresas privadas en el territorio brasileño
que ejercen actividades costeras y marítimas. PALABRAS CLAVE:
Spheniscus magellanicus, Pingüinos de Magallanes, conservación,
pingüinos, rutas migratorias.
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1. INTRODUÇÃO
Atualmente é aceito que estão ocorrendo mudanças climáticas e que
por consequência, está afetando
a biodiversidade da fauna e flora global. Por conta do crescimento
da atividade humana, muitos
poluentes que são lançados na atmosfera acabam alterando a
qualidade da vida marinha (DONEY, et
al, 2011). Além das mudanças climáticas causarem alterações na
temperatura e química da água do
mar, tais fatores acabam por alterar as funções fisiológicas e
comportamentais de muitas espécies
marinhas, além de causar efeitos demográficos em produtores
primários, assim, desequilibrando toda
a cadeia trófica marinha (DONEY, et al, 2011).
Um grupo de animais altamente ameaçado pelas mudanças climáticas
são as aves marinhas, pois
sofrem de estresse fisiológicos por conta de escassez de alimento e
poluição, desenvolvimento
costeiro antrópico incluindo a pesca, perda e degradação de habitat
por espécies invasoras (SYDEMAN,
et al, 2012). As aves aquáticas, como pinguins, são altamente
dependentes da estabilidade nos
ecossistemas marinhos, em decorrência das correntes marítimas que
são utilizadas para realizar as
migrações (SIMEONE, et al, 2003).
A espécie Spheniscus magellanicus, conhecida como
Pinguim-De-Magalhães, faz parte da Red List da
International Union for Conservation of Nature – IUCN, o que
evidencia seu decaimento populacional
devido aos impactos ambientais, antrópicos e climáticos.
Endêmica e distribuída por toda a região costeira sul da América do
Sul e nas Ilhas Malvinas, realizam
migrações para se alimentarem e se protegerem do inverno (PÜTZ, et
al, 2000). Colônias grandes de
Pinguins-de-Magalhães de Punta Tombo, Argentina, e das Ilhas
Falkland/Malvinas, migram para o
norte no inverno, até chegarem às praias brasileiras (PÜTZ, et al,
2007).
2. OBJETIVO
O artigo tem como objetivo geral, compreender a biogeografia e as
migrações da espécie Spheniscus
magellanicus e analisar as medidas de conservação e monitoramento
das espécies nos litorais
brasileiros.
3. METODOLOGIA / MÉTODO DE ANÁLISE
A metodologia para o desenvolvimento deste trabalho foi baseada na
pesquisa bibliográfica acerca do
tema de interesse, em artigos científicos, documentos, fotografias
e informações disponíveis nas
plataformas digitais. Neste trabalho, sobre os
Pinguins-de-Magalhães a sua migração anual e a
conservação a espécie no litoral brasileiro, a pesquisa
bibliográfica foi realizada com a utilização das
palavras-chave: “Pinguins-de-Magalhães”, “Spheniscus magellanicus”,
”migrações”, “programas de
monitoramento Pinguins-de-Magalhães” com o objetivo de obter
informações e dados relevantes para
demonstrar a importância da preservação da espécie
Pinguim-de-Magalhães (Spheniscus
magellanicus), por meio de ações de acolhimento, triagem,
tratamentos veterinários, alimentação,
anilhamento, e retorno a vida livre.
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O Pinguim-de-Magalhães (Spheniscus magellanicus), é uma ave marinha
da família dos Spheniscidae,
da ordem Sphenisciformes ou Ciconiformes. Derivada do grego,
spheniskos (σφηνσκος, σηνσκος) e
significa cunha ou machado. Provavelmente pela forma da asa,
similar a aleta, ou pelo formato do
corpo, ou ainda pela forma do mergulho, quando perfura o mar. A
palavra pinguim deriva do latim
“pinguis” que significa gordura; ou de “pin-wing” asas pequenas.
Conhecidos popularmente por pato-
marinho, vivendo em populosas colônias na Argentina, Ilhas Falkland
(Malvinas), Uruguai, Peru e Chile,
mas realizam anualmente movimentos migratórios para o Brasil,
durante o inverno sul americano
(MAFALDA, 2020 e STOKES, 2014).
Os Pinguins-de-Magalhães medem de 65 a 75 cm e 4,5 a 6 kg de peso e
um corpo fusiforme. Recobertos
por um tipo modificado de pena, a maior parte dos exemplares
apresenta na cabeça uma faixa branca,
que passa por cima das sobrancelhas, contorna as orelhas e se une
anteriormente no pescoço; partes
inferiores brancas com uma faixa negra e fina contornando o peito e
a barriga anteriormente. As patas
possuem membranas interdigitais, que auxiliam no nado, chegando a
40 km/h. Normalmente os
Pinguins-de-Magalhães vivem entre 15 e 20 anos (WIKIAVES,
2018).
Figura 1: Pinguins-de-Magalhães
Os Pinguins-de-Magalhães realizam anualmente movimentos migratórios
para o Brasil, percorrendo
rotas pela plataforma continental, afastadas até 100km do
continente, durante o inverno sul
americano, de maio a agosto, quando as temperaturas muito baixas
atingem as áreas de nidificação.
Normalmente eles migram para o litoral do Rio Grande do Sul,
podendo chegar até o Pernambuco. Em
2008, devido às águas mais frias e a escassez de alimento, foi
registrado a arribada de Pinguins-de-
Magalhães quase na linha do Equador (WIKIAVES, 2018).
As migrações acabam sendo uma viajem cheia de problemas, pois o
estado de conservação e os
impactos ambientais nos oceanos, impõem às populações de pinguins
migratórios transtornos para a
saúde e bem estar dos indivíduos, como a falta de alimentos,
excesso de poluentes (plásticos e papel),
trânsito de embarcações e principalmente os vazamentos de petróleo
(PINTO, et al, 2006 e MÄDER, et
al, 2010).
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Fonte: ecosystemsentinels.org
Segundo Mäder (2010), que conduziu um estudo sobre as dietas dos
Pinguins-de-Magalhães,
utilizando estômagos coletados em carcaças de animais encontrados
mortos em praias do norte do
Rio Grande do Sul:
Foram analisados 65 conteúdos gástricos de pinguins jovens em
boas
condições (carcaças frescas). Em torno de 18% não apresentam
itens
alimentares, e estes apresentaram umas grandes quantidades de
parasitos
estomacais. Em 6% das amostras havia a presença de petróleo no
estômago.
Os itens antrópicos mais encontrados foram nibs e snips (partículas
naturais
do plástico e produto utilizado para limpeza de navios) (49,4 %) e
o plástico
que foi bastante presente nas amostras (19%). No total 62.3 %
apresentavam
itens de origem antrópica (MÄDER, et al, 2010).
Percorrendo longas jornadas chegam ao território brasileiro em
diferentes regiões do litoral, muitos
chegam debilitados, doente e alguns mortos, assim o governo
brasileiro criou programas de
monitoramento e muitas instituições distribuídas ao longo do
litoral brasileiro, recebem essas aves,
desenvolvem ações para a recuperação e retorno ao oceano
Atlântico.
Atualmente possuímos dois programas de monitoramento dos Spheniscus
magellanicus, sendo eles o
do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio)
do Ministério do Meio
Ambiente (MMA) chamado de Projeto Nacional de Monitoramento Do
Pinguim-De-Magalhães e o
outro é o Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos
(PMP-BS), licenciado pelo Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(IBAMA) do Ministério do Meio
Ambiente, porém possui alguns projetos de empreendimentos com a
Petrobras.
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O Projeto Nacional de Monitoramento do Pinguim-De-Magalhães tem por
objetivo zelar pela
conservação da avifauna, e essa espécie de ave marinha está
classificada como “Quase Ameaçada de
Extinção” (IUCN, 2018). Com intuito de ampliar o conhecimento da
conservação em prol da
fomentação de pesquisas, reabilitação e soltura, e monitoramento,
possibilitando a contribuição
cientifica biológica de uma espécie migratória (ICMBio e MMA). Este
projeto desenvolveu cartilhas e
boletins para avaliação das atividades desenvolvidas através do
monitoramento, de modo a incentivar
e demonstrar a importância da preservação da espécie uma vez que
ela possui grande contato com os
humanos nas bacias e encostas marinhas dos estados do Sul e Sudeste
do Brasil.
Os Boletins de Pinguins no Brasil 1 e 2, do projeto do ICMBio,
publicado em abril e outubro de 2011,
apresenta detalhes do manual de campo desenvolvido para colheita e
armazenamento de informações
e amostras biológicas dos Pinguins-de-Magalhães e do monitoramento
das migrações e estado físico
dos animais. Trabalhos científicos desenvolvidos a partir de
amostras sanguíneas dos pinguins,
possibilitou a identificação de hemoparasitoses que podem estar
correlacionados com a não aptidão
reprodutiva, debilitação física e desta forma com a redução
populacional e extinção da espécie, e
também trabalhos desenvolvidos com as amostras estomacais e dados
físicos corpóreos dos animais
demonstraram que alguns indivíduos estão mudando seu comportamento
migratório, predatório e
tendo bem mais contato com os humanos no decorrer de suas rotas
migratórias, de modo a encontrar
partículas de plástico e petróleo no interior do estômago de alguns
pinguins encalhados (MÄDER et al.
2010), além da perda de gordura e massa corpórea devido ao grande
gasto energético pela competição
alimentar devido aos altos índices de pesca de anchoíta (Engraulis
anchoita), principal fonte alimentar
dos pinguins. A publicação destes boletins providos pelo programa
em conjunto com o ICMBio,
demonstra mais uma vez, que o monitoramento das migrações e resgate
dos indivíduos atracados nos
litorais brasileiros é importante para acompanhamento e
reabilitação das populações destes animais.
Todo e qualquer indivíduo resgatado deverão passar por exames e
tratamentos e posteriormente
deverão ser direcionadas ao Centro de Recuperação de Animais
Marinhos (CRAM) na cidade de Rio
Grande, que é gerenciada pela Universidade Federal do Rio Grande
Sul – UFRG, um hospital dedicado
à reabilitação de animais como: pinguins, gaivotas, tartarugas,
lobos e leões marinhos, e que está
diretamente ligada a reabilitação e reintrodução desta espécie de
pinguins em vida livre (PROJETO
NACIONAL DE MONITORAMENTO DO PINGUIM-DE-MAGALHÃES, 2011).
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Fonte: Acervo CEMAVE, Boletim número 1 Pinguins no Brasil,
2011.
Figura 4: Carcaça petrolizada encontrada no Rio Grande do Sul em
2008 (Foto Aurélea Mäder).
Fonte: Boletim número 1 Pinguins no Brasil, 2011.
O Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS),
possui por objetivo o
acompanhamento da interferência das atividades petrolíferas sobre a
fauna marinha dos litorais dos
estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo e do Rio de Janeiro,
através do monitoramento das praias
e do atendimento veterinário aos animais vivos e mortos. O PMP-BS
tem caráter regional e está
relacionado a alguns processos de licenciamento ambiental da
Petrobras na Bacia de Santos
(PETROBRAS, 2020).
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Figura 5: Mapa de monitoramento e postos de atendimento
PMP-BS.
Fonte: Comunicação Bacia de Santos, PETROBRAS, 2020.
As atividades realizadas pelo projeto da Bacia de Santos e a
Petrobras, visa o resgate e atendimento
dos animais debilitados encontrados nos litorais, os animais vivos
encontrados pelas equipes de campo
são avaliados, para que seja realizado diagnóstico preliminar dos
indivíduos, caso necessidade de
atendimento veterinário os mesmos são direcionados para uma das 14
instalações da rede de
atendimento distribuídas entre Laguna (SC) e Araruama (RJ). As
bases de atendimento oferecem
tratamento completo e reavaliações para atestar se os animais
resgatados estão aptos a serem soltos,
e a soltura ocorrerá após marcação dos indivíduos, permitindo assim
acompanhamento e histórico
clínico e migratório caso o animal reapareça nos litorais
brasileiros (PETROBRAS, 2020).
As atividades voltadas para os animais que são encontrados mortos
ou contaminados por petróleo, se
dá pela rede veterinária composta por sete Centros de Reabilitação
e Despetrolização de Animais
Marinhos (CRD) localizados nos municípios de Araruama (RJ), Angra
dos Reis (RJ), Ubatuba (SP),
Guarujá (SP), Cananéia (SP), Pontal do Paraná (PR) e Florianópolis
(SC); seis Unidades de Estabilização
de Animais Marinhos (UE), localizados no Rio de Janeiro (RJ), São
Sebastião (SP), Praia Grande (SP), São
Francisco do Sul (SC), Penha (SC) e Laguna (SC), além da base de
apoio no Parque do Superagui (PR), e
uma Unidade de Necropsia de Mamíferos Marinhos, localizada no Rio
de Janeiro (RJ), o objetivo do
monitoramento e necropsia, é para avaliar os impactos antrópicos
sobre a avifauna marinha, de modo
a detectar se a pesca, embarcações e vazamentos de óleos estão
interferindo nas rotas migratórias
dos animais, níveis populacionais e possível impacto que está
correlacionado ao risco de extinção da
espécie (PETROBRAS, 2020).
Para viabilizar o monitoramento e compilar os resultados dos
estudos realizados para conservação e
preservação da fauna marinha, o PMP-BS disponibiliza anualmente
relatórios das atividades do
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projeto. O relatório de dezembro de 2019, 4° Relatório Técnico
Anual do Projeto de Monitoramento
de Praias da Bacia de Santos – Área SC/PR, possui o período de
referência de setembro/2018 a
agosto/2019, e o resultado do mesmo demonstra que o
Pinguim-de-Magalhães é uma das espécies
alvo do projeto. O monitoramento tanto terrestre quanto embarcado
demonstrou que 91,3% de todos
os animais encontrados estavam mortos, e que o acionamento do
projeto para aves vivas em âmbito
geral foi frequente como nos demais anos, o que evidencia que as
aves marinhas tiveram mais relatos,
sendo 9.667 exemplares de 43 espécies.
Foi registrada a alta presença dos Pinguins-de-Magalhães no litoral
paranaense, durante o período do
monitoramento. Das ações tomadas pelos parceiros do projeto, foram
realizadas 3.456 necropsias de
indivíduos das espécies alvo do projeto, onde 650 animais
precisaram passar por reabilitação e dos
demais 2.806 indivíduos, 55,8% foram de aves já encontradas mortas
nos litorais. Inúmeras análises
foram realizadas para constatar se as mortes foram por ações
antrópicas ou naturais, porém do total
de indivíduos já encontrados mortos, somente em 738 indivíduos foi
possível identificar a causa da
morte (PMP-BS, 2019), sendo a mais frequente a de morte natural
(afogamento e parasitismo são as
principais causas encontradas). O relatório do PMP-BS explica que a
impossibilidade de estabelecer
uma causa da morte dos demais animais, varia com o estágio de
decomposição dos corpos
encontrados.
O relatório demonstra que ações antrópicas também influenciou no
óbito das espécies alvo do
programa. Foram registrados 27 animais banhados a óleo, deste 24
eram aves, e deste total 14 eram
Spheniscus magellanicus, ou seja, Pinguins-de-Magalhães. A maior
incidência de animais oleados
ocorreu em setembro de 2018 (n = 11), sendo que a maior parte
ocorreu no Paraná (n = 8) e norte de
Santa Catarina (n = 3), e sendo todos pinguins-de-Magalhães
(PMP-BS, 2019).
Figura 6: Pinguim coberto de óleo foi achado na Baía de
Guanabara
Fonte: O Globo, 2012.
De acordo com o relatório de atendimento veterinário do Projeto de
Monitoramento de Praias da
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Bacia de Santos, de animais vivos, mostrou diferenças nas taxas de
reabilitação, variando de 32,9%
para aves, 25,5% em tartarugas marinhas e 47,1% em mamíferos
marinhos, sendo estes últimos os
que responderam melhor a reabilitação. O relatório informa que a
avaliação do Índice de Saúde - IS
(utilizado para indicar o estado geral de saúde dos exemplares
necropsiados) mostrou que, ao
comparar todo o período do PMP-BS (2015 a 2019), é possível
observar que para as três classes há
uma tendência de melhora (redução) dos valores médios de IS do
Litoral Paranaense até o Litoral Sul
Catarinense, apesar de haver considerável sobreposição dos desvios
padrões.
Possíveis causadores de encalhes e mortes em pinguins é a presença
de Poluentes Orgânicos
Persistentes (POPs), que de acordo com o Ministério do Meio
Ambiente são substâncias químicas
utilizadas como agrotóxicos e para fins industriais, com
características de alta persistência no
organismo dos seres vivos. Um estudo salientou a presença de muitos
POPs no organismo desta
espécie de pinguins encontrados no Brasil e Chile, fazendo que os
animais ficassem em baixas
condições alimentares ou mortos (BALDASSIN et al. 2016). Todo o
sistema de monitoramento
proporcionado por esses projetos e programas em conjunto com as
diversas ONGs, permite uma
educação ambiental as populações humanas envolvidas, além da
possibilidade do aprofundamento
científico e biológico para a conscientização, conservação,
preservação e reabilitação das aves
marinhas como os Pinguins-de-Magalhães e outras espécies alvos dos
projetos.
5. CONCLUSÃO
Ficou evidenciado por meio da presente pesquisa a importância que
precisa ser dada aos Pinguins-de-
Magalhães (Spheniscus magellanicus), pois, se tratando de uma
espécie em processo intermediário de
extinção, mesmo não sendo endêmica do Brasil, ela anualmente migra
para os litorais brasileiros, em
busca de alimento e melhores temperaturas, merecendo receber os
cuidados necessários à sua
sobrevivência.
Mesmo existindo programas específicos de monitoramento e muitas
instituições trabalhando em prol
desses animais, é necessária a intervenção das políticas públicas
na causa, no sentido de ampliar o
incentivo na criação de novas instituições tanto para pesquisa como
para o recebimento desses
animais, bem como, a manutenção e o aprimoramento das existentes,
por meio de investimentos
públicos e privados, não podendo esquecer também, o trabalho de
conscientização da sociedade em
geral, sobre a preservação da espécie visitante.
Portanto, só com uma estrutura nacional preparada para a
conservação da espécie, onde se realiza
ações de monitoramento, resgate, triagem, identificação,
alimentação, cuidados veterinários e retorno
ao mar, que os Pinguins-de-Magalhães (Spheniscus magellanicus),
terão uma oportunidade melhor de
sobreviver e sair do atual perigo de extinção.
6. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
BIRDLIFE INTERNATIONAL. 2018. Spheniscus magellanicus. The IUCN Red
List of Threatened Species 2018: e.T22697822A132605485.
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