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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS
ANY ELISA DE SOUZA SCHMIDT GONÇALVES
COMPOSTOS BIOATIVOS DO CAMU-CAMU (Myrciaria dubia
McVaugh): CARACTERIZAÇÃO E ATIVIDADE BIOLÓGICA
São Paulo
2012
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS
Programa de Pós-Graduação em Ciência dos Alimentos
Área de Bromatologia
Compostos bioativos do camu-camu (Myrciaria dubia McVaugh):
caracterização e atividade biológica
Any Elisa de Souza Schmidt Gonçalves
Tese apresentada à Faculdade de
Ciências Farmacêuticas da Universidade
de São Paulo para obtenção do título de
DOUTOR
Orientador: Prof. Dr. MARIA INÉS GENOVESE
São Paulo
2012
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Any Elisa de Souza Schmidt Gonçalves
Compostos bioativos do camu-camu (Myrciaria dubia McVaugh):
caracterização e atividade biológica
Comissão Julgadora
da
Tese para obtenção do grau de Doutor
______________________________________
Profa. Dra. Maria Inés Genovese
orientador/presidente
___________________________________
1o. examinador
___________________________________
2o. examinador
___________________________________
3o. examinador
__________________________________
4o. examinador
São Paulo, ____________________________ de _________.
iv
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos meus pais, César e Maria,
e aos meus irmãos Talita e Gustavo, por estarem
sempre ao meu lado, em todos os momentos.
Ao meu companheiro querido André Ricardo e
ao meu pequeno, Caio, minha motivação e minha vida.
Meu amor por vocês é eterno!
Os verdadeiros são poucos, mas são suficientes para mim!
v
AGRADECIMENTOS
A Jeová Deus, em primeiro lugar, sempre, por me proporcionar uma ótima vida, me dar forças
em todos os momentos e viver ao lado de pessoas que amo e que me amam também.
Ao meu filho Caio, por ter me feito ver quais são as verdadeiras prioridades da minha vida.
Agradeço pelo seu sorriso, por ter mudado minha vida, pela felicidade que me proporciona, pelo
carinho e pela compreensão nos momentos em que a dedicação aos estudos foi exclusiva.
Aos meus pais, César e Maria, que são meus maiores exemplos de amor, profissionalismo,
abnegação, carinho, dedicação e respeito ao próximo. Agradeço pelas horas em que ficaram ao
meu lado não me deixando desistir e me mostrando que sou capaz de chegar onde desejo, sem
dúvida, vocês foram quem me deram o maior incentivo para conseguir concluir esse trabalho.
Aos meus irmãos, Talita e Gustavo, por estarem presentes (mesmo distante), no coração, pois
nada eu seria sem amizade, força, apoio, motivação, carinho de vocês, mas principalmente amor,
que sempre nos uniu.
Ao meu companheiro, André Ricardo de Lima Damásio, pelo apoio, confiança, amizade, amor e
por estar ao meu lado nos momentos que precisei, juntamente com sua família.
A professora Maria Inés Genovese pela oportunidade de adquirir conhecimento, por acreditar no
meu trabalho, pela paciência e dedicação durante esses quatro anos.
Aos professores Andre Marette, Yves Desjardins pelo período de bolsa sanduiche no INAF
(Institut des Nutraceutiques et des Aliments Fonctionnels) Quebec, Canadá. Foi a melhor
experiência profissisonal que obtive. Um país extremamente organizado, uma língua diferente e
pessoas sempre dispostas a ajudar e fazer dar certo. Tive a oportunidade de trabalhar com
pessoas de bom coração, além de ótimos pesquisadores, que sempre me respeitaram, acreditaram
no meu trabalho e servirão como exemplo.
A professora Marília Seelaender, por ter colaborado neste trabalho, e disponibilizado seu
laboratório quando precisamos assim como sua aluna Renata Silvério por ter sido prestativa.
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Ao professor Rui Curi por ter me permitido “invadir” seu laboratório e realizar novos
experimentos. Durante esse período, tive oportunidade de conhecer dois excelentes
pesquisadores, Camilo Lellis e William Festuccia, que me ensinaram, dividiram o conhecimento
e me ajudaram na conclusão deste trabalho.
Aos professores do Departamento de Alimentos e Nutrição Experimental que em algum
momento auxiliaram e contribuíram para minha formação.
Aos meus amigos especiais que enriqueceram minha experiência e foram meus companheiros de
laboratório, dividindo alegrias, tristezas, conversas e almoços durante esses anos: Marcela
Roquim, Thiago Belchior, Gabriela Vieira, Diully Mata, Maria Cecília Azevedo, Rafaela Rossi,
Santiago Suarez, Ismael Rockenbach e Helena Barros por terem me apoiado e me ajudado neste
trabalho.
A Lucia Justinos, Márcia Moraes, Tania Shiga, pelo auxílio na execução deste projeto. Aos
secretários do Departamento de Alimentos e Nutrição Experimental e de Pós Graduação Edilson,
Mônica, Cléo, Jorge e Elaine.
Ao CNPq pela bolsa no período de doutorado e ao programa ELAP pela bolsa-sanduíche no
Canadá.
A todos, muito obrigado!!!!
“Tell me and I'll forget; show me and I may remember; involve me and
I'll understand.”
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"Change your opinions, keep to your principles;
Change your leaves, keep intact your roots."
Victor Hugo
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RESUMO
GONÇALVES, A.E.S.S. Compostos bioativos do camu-camu (Myrciaria dubia McVaugh):
caracterização e atividade biológica. Tese (Doutorado) – Faculdade de Ciências Farmacêuticas
– Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012.
O camu-camu é considerado uma excelente fonte de vitamina C, e com capacidade
antioxidante in vitro cerca de 120 vezes maior em relação às outras frutas, além do alto teor de
ácido elágico. Desta forma, o objetivo deste trabalho foi caracterizar fruta e polpa comercial de
camu-camu em relação ao conteúdo de fenólicos totais, flavonóides, ácido elágico livre e total,
proantocianidinas e capacidade antioxidante in vitro, e verificar o efeito da ingestão de extrato
bruto e frações purificadas da polpa comercial de camu-camu sobre o perfil bioquímico de ratos
diabéticos e caquéticos, capacidade antioxidante do plasma, e a atividade das enzimas catalase,
superóxido dismutase e glutationa peroxidase em plasma e eritrócitos. Também foi avaliado o
efeito de extrato bruto e frações purificadas da polpa comercial em diferentes linhagens
celulares. A polpa comercial de camu-camu apresentou maior teor de compostos bioativos que o
fruto e por isso foi escolhida para continuar os estudos in vivo. Os teores de flavonóides variaram
de 10 a 47 mg/ 100 g para quercetina, 4,8 a 5,0 mg/100 g para miricetina e 23 a 37 mg/100 g
para rutina; os teores de ácido elágico livre variaram de 25 a 50 mg/100 g e 620 a 740 mg/100 g
para ácido elágico total. Também foram identificados elagitaninos e oligômeros de
proantocianidinas. Os extratos bruto e frações purificadas também foram testados em culturas
celulares de miócitos (L6), macrófagos (J774), hepatócitos (FaO), beta pancreáticas (INS) e
adipócitos (3T3). Os animais diabéticos e caquéticos tratados tanto com o extrato bruto quanto
com a fração purificada de compostos fenólicos da polpa comercial de camu-camu apresentaram
alterações do perfil lipídico plasmático, com reversão do alto colesterol total e triacilgliceróis, e
ainda aumento nos níveis de HDL-colesterol. Outros efeitos como a redução da peroxidação
lipídica e aumento da capacidade antioxidante plasmática também foram observados. Em
linhagens celulares, os extratos bruto e purificado foram eficientes em estimular a captação de
glicose em L6, reduzir a produção de óxido nítrico em macrófagos e L6 e ainda diminuir a
expressão de citocinas pro-inflamatórias em 3T3. Juntos, estes resultados demonstraram que o
camu-camu pode ser considerado uma excelente fonte de compostos bioativos e o seu consumo
pode ser associado à prevenção de alterações metabólicas causadas pelo diabetes e caquexia,
como a dislipidemia.
Palavras-chave: camu-camu, compostos fenólicos, estresse oxidativo, capacidade antioxidante,
caquexia, diabetes.
ix
ABSTRACT
GONÇALVES, A.E.S.S. Bioactive compounds of camu-camu (Myrciaria dubia McVaugh):
chemical characterization and biological activity. PhD Thesis – Faculdade de Ciências
Farmacêuticas – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012.
Camu-camu fruit is considered as an excellent source of vitamin C and presented
antioxidant capacity in vitro 120 times higher when compared to others fruits, in addition the
high content of ellagic acid. Thus, the aim of this work was to characterize camu-camu
commercial frozen pulp and fruit in relation to total phenolics, flavonoids, free and total ellagic
acid content, proanthocyanidins and in vitro antioxidant capacity; besides to investigate the
effect of the administration of crude and purified fractions of camu-camu commercial frozen
pulp on biochemical profile of diabetic an cachetic rats, plasma antioxidant capacity and
antioxidant enzymes activity of catalase, superoxide dismutase and glutathione peroxidase in
plasma and erythrocytes. The effects of crude and purified fractions of camu-camu commercial
frozen pulp were also evaluated. Commercial frozen pulp of camu-camu showed a higher
content of bioactive compound when compared to the fruit and so was chosen for further studies
in vivo. Flavonoids content varied from 10 to 47 mg/ 100 g of quercetin, 4.8 to 5.0 mg/100 g of
myricetin and 23 to 37 mg/100 g of rutin; free ellagic acid content varied from 25 to 50 mg/100 g
and 620 to 740 mg/100 total ellagic acid. Ellagitannins and proanthocyanidins oligomers have
also been identified. The effects of camu-camu crude and purified fractions was also tested in
culture cells of myocytes (L6), macrophages (J774), hepatocytes (FaO), pancreatic-beta cell
(INS) and adipocytes (3T3). Animals treated with crude and purified fractions of phenolic
compounds of camu-camu commercial frozen pulp showed changes in plasma lipid profile,
reversing high level of total cholesterol and triacylglycerol and increase of HDL-cholesterol in
diabetic and cachetic rats. Reduction on lipid peroxidation and increase on plasma antioxidant
capacity was also observed. In cell line culture, crude and purified extracts of camu-camu were
effective to stimulate glucose uptake in L6 cells, reduce the production of nitric oxide (NO) in
macrophages and L6, as well as decrease the expression of pro-inflammatory cytokines in
adipocytes. Taken together, these results demonstrated that camu-camu may be considered an
excellent source of bioactive compounds and its consumption can be associated with prevention
of metabolic disorders caused by diabetes and cacheixa, such as dyslipidemia.
Keywords: camu-camu, phenolic compounds, oxidative stress, antioxidant capacity, cachexia,
diabetes.
x
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Estrutura química dos flavonóides. .................................................................................. 5
Figura 2. Ácido elágico e derivados. ............................................................................................... 8
Figura 3. Estrutura das procianidinas do tipo B (A) e tipo A (B). .................................................. 9
Figura 4. Esquema geral da biodisponibilidade de compostos fenólicos. ..................................... 11
Fluxograma 1. Obtenção do extrato bruto a partir da polpa comercial de camu-camu...............28
Fluxograma 2. Obtenção do extrato purificado a partir da polpa comercial de camu-camu.......29
Figura 5. Perfil cromatográfico dos flavonóides da polpa comercial de camu-camu, detectados a
270 nm; (A) eluato de flavonóides neutros e (B) eluato de flavonóides ácidos. ........................... 46
Figura 6. Perfil cromatográfico dos flavonóides da fruta camu-camu, detectados a 270 nm; (A)
eluato de flavonóides neutros e (B) eluato de flavonóides ácidos. ............................................... 47
Figura 7. Perfil cromatográfico das proantocianidinas da fruta (A) e polpa comercial de camu-
camu (B), detectados a 276 nm de excitação e 316 nm de emissão. ............................................. 49
Figura 8. Perfil cromatográfico de elagitaninos da polpa comercial (A) e fruta camu-camu (B),
detectados a 260 nm. ..................................................................................................................... 52
Figura 9. Teor de compostos fenólicos e vitamina C presentes nas duas doses utilizadas nos
estudos in vivo. .............................................................................................................................. 53
Figura 10. Efeito dos extratos de camu-camu sobre consumo diário de água (A), ração (B),
glicemia (C) e o peso corpóreo (D).. ............................................................................................. 55
Figura 11. Efeito dos extratos de camu-camu sobre glicose plasmática (A), insulina plasmática
(B), glicosúria (C) e teste de tolerância à insulina (1,5 U/kg, i.p.) (D). ........................................ 56
Figura 12. Efeito dos extratos de camu-camu sobre colesterol total (A), triacilgliceróis (B),
colesterol HDL (C) e teste de tolerância oral ao triacilglicerol (D).. ............................................ 57
Figura 13. Efeito dos extratos de camu-camu sobre peso do fígado (A), tecido adiposo marrom
(B) e tecido adiposo branco (C). ................................................................................................... 59
Figura 14. Efeito dos extratos de camu-camu sobre hemoglobina glicada (A), ácido úrico (B),
capacidade antioxidante plasmática - ORAC (C) e peroxidação lipídica - TBARS (D). ............. 60
Figura 15. Efeito dos extratos de camu-camu sobre a atividade das enzimas antioxidantes em
plasma GPx (A) e SOD (B), e em eritrócitos, CAT (C), GPx (D) e SOD (E). ............................. 62
Figura 16. Efeito dos extratos de camu-camu sobre capacidade antioxidante do plasma - ORAC
(A), ácido úrico (B), peroxidação lipídica em plasma - TBARS (C) e peroxidação lipídica em
fígado - TBARS (D).. .................................................................................................................... 66
xi
Figura 17. Efeito dos extratos de camu-camu sobre a atividade das enzimas antioxidantes em
plasma CAT (A), GPx (B) e SOD (C), e em eritrócitos, CAT (D), GPx (E) e SOD (F). ............. 68
Figura 18. Efeito do tratamento com camu-camu sobre a expressão gênica das enzimas
antioxidantes glutationa peroxidase (A), catalase (B) e superóxido dismutase (C) no fígado.. .... 69
Figura 19. Efeito do tratamento com camu-camu sobre a expressão gênica de IL-10 (A), TNF-α
(B) e a razão IL-10/TNF-α (C) no fígado.. .................................................................................... 69
Figura 20. Efeitos dos extratos de camu-camu sobre a captação de glicose em miócitos (L6). ... 71
Figura 21. Efeito dos extratos de camu-camu sobre a atividade de iNOS em macrófagos J774.1
(A e B) e miócitos L6 (C). ............................................................................................................. 74
Figura 22. Efeito dos extratos de camu-camu sobre a produção hepática de glicose em FaO. .... 76
Figura 23. Efeito dos extratos de camu-camu sobre a expressão gênica de citocinas em adipócitos
(3T3.1). .......................................................................................................................................... 78
xii
LISTA DE TABELAS
Quadro 1. Principais metabólitos formados pela ação da microbiota intestinal. .......................... 13
Tabela 2. Composição centesimal e teor de vitamina C da fruta e polpa comercial de camu-camu.
....................................................................................................................................................... 41
Tabela 3. Teores de elementos minerais e valores de ingestão diária recomendada (IDR) de
minerais (mg/dia ou μg/dia) para adultos e contribuição mineral para IDR (%) em relação a 100
g de amostra. ................................................................................................................................. 42
Tabela 4. Capacidade antioxidante da polpa comercial de camu-camu e da fruta determinada
através do método de capacidade redutora do Folin-Ciocalteu (mg equivalentes de catequina/g
amostra b.s.), DPPH (µmoles equivalentes de trolox/g amostra b.s.), ORAC (µmoles
equivalentes de trolox/g amostra b.s.) e FRAP (µmoles equivalentes de trolox/g de amostra b.s.).
....................................................................................................................................................... 43
Tabela 5. Composição e teor de flavonóides, ácido elágico livre e total (mg/100 g de amostra
b.s.). e proantocianidinas (mg equivalente de procianidina B2/100 g de amostra b.s.) da polpa
comercial e fruta camu-camu. ....................................................................................................... 44
Tabela 6. Identificação dos elagitaninos encontrados na fruta e polpa comercial de camu-camu.
....................................................................................................................................................... 50
Tabela 7. Ganho de peso corpóreo durante o período experimental e peso relativo dos tecidos (%
de peso corpóreo total) após sacrifício. ......................................................................................... 64
Tabela 8. Perfil lipídico, glicose e insulina plasmáticos determinados após o período
experimental. ................................................................................................................................. 65
xiii
LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS
®: marca registrada
%: por cento
º C: grau Celsius
μ: micro
μg: micrograma
μL: microlitro
μM: micromolar
nM: nanomolar
B.s.: base seca
B.u.: base úmida
CEAGESP: Companhia de entrepostos e
armazéns gerais de São Paulo
CLAE: Cromatografia líquida de alta
eficiência
SPE: Solid-phase extraction
PTFE: Politetrafluoroetileno
LDL: Lipoproteína de baixa densidade
HDL: Lipoproteína de alta densidade
GLUT: transportador de glicose
MDA: malonaldeído
SOD: superóxido dismutase
GPx: glutationa peroxidase
CAT: catalase
UV: ultravioleta
NO: óxido nítrico
min: minuto
H: hora
cm: centímetro
DPPH: 2,2-difenil-1-picrilhidrazil
EC: código enzimático
et al.: e colaboradores
g: grama
Kg: quilograma
L: litros
M: molar
mg: miligrama
mg Hb: miligrama de hemoglobina
mL: mililitro
mM: milimolar
m/v: massa por volume
nm: nanômetro
ORAC: Capacidade de absorção do radical
oxigênio
FRAP: Ferric reducing antioxidant power
pH: potencial hidrogeniônico
TROLOX: Ácido 6-hidroxi-2,5,7,8-
tetrametilcromana-2-carboxílico
TBARS: espécies reativas ao ácido
tiobarbitúrico
HCl: ácido clorídrico
U: unidade de atividade enzimática
mg/dL: miligrama por decilitro.
PAC: proantocinidinas
IDR: Ingestão diária recomendada
ERO: Espécies reativas de oxigênio
ERN: Espécies reativas de nitrogênio
DNA: Deoxyribonucleic acid
RNA: ribonucleic acid
iNOS: inducible nitric oxide synthase
IL-1: Interleucina 1
NF-B: Nuclear factor kappa-light-chain-
enhancer of activated B cells
COX: ciclooxigenase
TNF-α: Tumor necrosis factor alpha
1
Sumário RESUMO .................................................................................................................................... viii ABSTRACT .................................................................................................................................. ix
Sumário ......................................................................................................................................... 1 1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 3
1.1 Compostos bioativos de alimentos ................................................................................... 3
1.1.1 Flavonóides ..................................................................................................................... 4
1.1.2 Ácidos Fenólicos ............................................................................................................. 6
1.1.3 Taninos ............................................................................................................................ 7
1.2 Biodisponibilidade: interação entre compostos fenólicos e microbiota intestinal .............. 10
1.3 Atividade biológica de compostos fenólicos: efeito sobre o estresse oxidativo .................. 14
2. OBJETIVOS ............................................................................................................................ 18 3. MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................................... 19
3.1 Material ................................................................................................................................ 19
3.2 Métodos ............................................................................................................................... 19
3.2.1. Composição centesimal ............................................................................................... 19
3.2.2 Obtenção dos extratos para análises in vitro ................................................................. 21
3.2.3 Determinação da capacidade redutora do Folin Ciocalteu e teor de fenólicos totais ... 21
3.2.4 Determinação colorimétrica de proantocianidinas pelo método DMAC ...................... 22
3.2.5 Sequestro de radicais livres (DPPH) ............................................................................ 22
3.2.6 Método ORAC (Capacidade de Absorção de Radicais de Oxigênio) .......................... 23
3.2.7 Método FRAP (Capacidade Antioxidante por redução do ferro) ................................. 23
3.2.8. Determinação do teor de ácido ascórbico (Vitamina C) .............................................. 24
3.2.9 Identificação e caracterização dos compostos fenólicos do camu-camu ...................... 24
3.3 Preparo das frações enriquecidas em compostos fenólicos do camu-camu ........................ 27
3.3.1 Obtenção do extrato bruto para experimento com animais .......................................... 27
3.3.2 Obtenção das frações purificadas para experimento com animais ............................... 28
3.3.4 Extratos bruto e purificado para experimento em cultura de células ............................ 30
3.4 Atividade biológica do camu-camu ..................................................................................... 30
3.4.1 Determinação do efeito do camu-camu em modelo animal de diabetes induzido pela
estreptozotocina ..................................................................................................................... 30
3.4.2 Determinação do efeito do camu-camu em modelo animal de caquexia ...................... 31
3.4.3 Capacidade antioxidante do plasma .............................................................................. 32
2
3.4.4 Determinação de substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBARS) ..................... 33
3.4.5. Atividade das enzimas antioxidantes ........................................................................... 33
3.4.6 Extração de RNAm ....................................................................................................... 34
3.4.7 Real-time PCR das enzimas antioxidantes ................................................................... 34
3.5 Determinação do efeito do camu-camu em modelos in vitro: cultura de células ................ 35
3.5.1 Cultura de células e tratamentos ................................................................................... 35
3.5.2 Transporte de glicose em miócitos (L6) ....................................................................... 36
3.5.3 Determinação da concentração de NO em miócitos (L6) e macrófagos (J774.1) ........ 36
3.5.4 Determinação da produção hepática de glicose (FaO) ................................................. 37
3.5.5 Determinação da expressão gênica de citocinas em adipócitos (3T3.1) ....................... 37
4. ANÁLISE DOS RESULTADOS ............................................................................................ 39
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................................ 40 5.1. Caracterização química do camu-camu .............................................................................. 40
5.2 Atividade biológica do camu-camu ..................................................................................... 54
5.2.1 Efeito do camu-camu em modelo animal de diabetes induzido pela estreptozotocina . 54
5.2.2 Efeito do camu-camu em modelo animal de caquexia ................................................. 63
5.3 Efeito dos extratos de camu-camu em modelos in vitro: cultura de célula ......................... 70
5.3.1 Efeito dos extratos de camu-camu sobre o transporte de glicose em miócitos (L6) ..... 70
5.3.2 Efeito dos extratos de camu-camu sobre a concentração de NO em macrófagos
(J774.1) e miócitos (L6) ......................................................................................................... 72
5.3.3 Efeito dos extratos de camu-camu sobre a produção hepática de glicose (FaO) .......... 75
5.3.4 Efeito dos extratos de camu-camu na expressão gênica de citocinas em adipócitos
(3T3.1) ................................................................................................................................... 76
6. CONCLUSÕES ....................................................................................................................... 80
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................. 81
APÊNDICE A - Chemical characterization and comparison of Brazilian Myrciaria dubia
Mc. Vaugh (Camu-camu) fruit and commercial frozen pulp, submetido ao Food
Chemistry. .................................................................................................................................. 101
APÊNDICE B - Camu-camu (Myrciaria dubia Mc. Vaugh) phenolic-rich extracts restore
plasma lipid profile in cachectic rats, submetido ao Nutrition Research. .......................... 126
APÊNDICE C - Camu-camu extracts inhibit glucose production and induce glucose uptake
in L6 myocites cells, but only improve biomarkers of oxidative stress and plasmatic lipid
profile in streptozotocin-induced diabetic rats, a ser submetido ao Molecular Nutrition and
Food Research. ...................................................................................................................... 15101
3
1. INTRODUÇÃO
1.1 Compostos bioativos de alimentos
Inúmeros fatores afetam a qualidade da vida moderna, de forma que a população deve ter
consciência da importância de alimentos contendo componentes que auxiliam a promoção da
saúde, trazendo com isso uma melhora no estado nutricional. A incidência de morte devido a
acidentes cardiovasculares, câncer, acidente vascular cerebral, arteriosclerose, enfermidades
hepáticas, dentre outros, pode ser minimizada através de bons hábitos alimentares. As
recomendações nutricionais sugerem que o consumo de cinco porções (80 gramas cada porção)
diárias de frutas e verduras é ideal e necessário para obtenção de uma alimentação saudável
(HEIMENDINGER et al., 1996).
Os vegetais sintetizam dois tipos de metabólitos: primários e secundários. Enquanto os
metabólitos primários respondem pela sobrevivência do vegetal, exercendo função ativa nos
processos de fotossíntese, respiração e assimilação de nutrientes; os metabólitos secundários
estão intimamente associados ao processo de defesa das plantas (SIMÕES et al., 2001).
Já foram reportados em torno de 8000 compostos fenólicos, ou polifenóis, e estes
representam uma ampla classe de metabólitos secundários de plantas e a maior categoria de
agentes fitoquímicos (CROZIER; CLIFFORD; ASHIHARA, 2006). Estes se encontram
amplamente distribuídos no reino vegetal e são derivados da via fenilpropanoídica (WINKEL-
SHIRLEY, 2001). Os três maiores grupos de fenólicos da dieta são os flavonóides, os ácidos
fenólicos e os taninos, e são conhecidos por apresentarem atividades biológicas ditas promotoras
da saúde, tais como atividades antioxidante, anti-inflamatória, hipocolesterolêmica e/ou
anticarcinogênica. Entre estes podemos citar os compostos polifenólicos, tais como as catequinas
do chá verde e do vinho, as antocianinas dos frutos vermelhos, os flavonóis em destaque na
cebola e folhas verdes e as isoflavonas da soja (SAURA-CALIXTO; GOÑI, 2009).
O Brasil é o terceiro maior produtor de frutas do mundo, atrás apenas da China e da Índia.
A produção brasileira de frutas é de 41,1 milhões de toneladas (IBRAF, 2007). As exportações
brasileiras de frutas, polpas e sucos tiveram uma evolução no valor das exportações, entre 2002 e
2009, de 16,16% ao ano. Entre as frutas nativas da Amazônia que apresentam maior dinâmica da
produção, comercialização e inserção nos mercados nacional e internacional estão o açaí
(Euterpe oleracea Mart) e o cupuaçu (Theobroma grandiflorum) (NOGUEIRA; SANTANA,
2009). Ainda, as condições climáticas brasileiras favorecem uma grande diversidade de espécies
frutíferas tropicais nativas, como o camu-camu, que cresce próximo aos rios e lagos na região
4
Amazônica, e o buriti, uma fruta típica do cerrado (SOUZA FILHO et al., 2002; FRANCO;
SHIBAMOTO, 2000).
O camu-camu (Myrciaria dubia McVaugh) é considerado uma fruta nativa da bacia
Amazônica sendo cultivado no Brasil, Peru, Colômbia, Equador e Bolívia. O fruto é uma baga de
2-3 cm de diâmetro, pertencente à família Myrtaceae, e seu habitat varia desde solos férteis da
várzea do Peru, onde há influência direta dos Andes, até solos paupérrimos da praia de areia
branca do Rio Negro. As plantas conseguem adaptar-se conforme seu habitat; em solos férteis, as
raízes são curtas e ficam próximas ao caule principal; por outro lado, em solo pobre como areia
branca, o sistema radicular pode estender-se três vezes ou mais sua altura. Este fato pode
influenciar diretamente na produção de fruto, onde a planta bem nutrida produz todos os anos, e
as plantas em solos pobres produzem cada dois ou três anos (YUYAMA, 2011). A árvore
frutifica entre os meses de novembro a março, e é considerada a fruta com maior teor de
vitamina C (1-3 g/100 g) (PENN, 2006). Apesar disso, seu consumo no Brasil é restrito, com
exceção da região Norte, onde há comercialização de polpa da fruta e suco (RODRIGUES et al.,
2001). Na região Amazônica, já existe a tecnologia de produção. Os materiais melhorados
geneticamente com alto teor de acido ascórbico e alta produtividade podem chegar de 10 a 23 kg
de fruto/planta/safra, e por meio de técnicas de clonagem podem multiplicar-se vegetativamente
(YUYAMA, 2011). No Peru, o consumo da fruta já é popular, principalmente na produção de
sucos e sorvetes, e a demanda internacional do camu-camu também cresce entre os mercados
japoneses, europeus e norte-americanos (PENN, 2006).
Os trabalhos desenvolvidos em nosso laboratório demonstraram que algumas frutas
nativas brasileiras podem ser consideradas excelentes fontes de compostos bioativos. Dentre
elas, o camu-camu se destacou por ser uma fonte excelente de vitamina C, rico em antocianinas e
com capacidade antioxidante in vitro cerca de 120 vezes maior em relação às outras frutas, além
do alto teor de ácido elágico (GONÇALVES et al., 2010; GENOVESE et al., 2008).
1.1.1 Flavonóides
Os flavonóides são caracterizados estruturalmente como difenilpropanos (C6-C3-C6) com
15 átomos de carbono arranjados em três anéis, identificados como A, B e C, e ocorrem
naturalmente nos alimentos vegetais, sendo, portanto, componentes usuais da dieta humana
(KARAKAYA, 2004; HERTOG et al., 1992). A sua estrutura química permite sua classificação
em flavanonas, flavonas, flavonóis, flavanóis (catequinas), dihidroflavonóis, isoflavonas e
antocianinas (Figura 1). As diferenças individuais presentes em cada grupo são resultado da
5
variação no número e no arranjo dos grupos hidroxilas, assim como a natureza e a quantidade de
alquilações e/ou glicosilações destes grupos. Muitos deles se apresentam na forma glicosilada,
sendo D-glicose, L-ramnose, glicoramnose, galactose e arabinose os carboidratos mais
encontrados; o sítio mais comum de glicosilação é a posição 3, e o menos frequente, a posição 7
(SCALBERT et al., 2005; RICE-EVANS et al., 1996).
Figura 1: Estrutura química dos flavonóides (adaptado de CROZIER et al., 2009).
A capacidade antioxidante dos flavonóides está diretamente associada a um aumento dos
grupos hidroxilas e diminuição das glicosilações. Eles são encontrados nos alimentos geralmente
como O-glicosídeos com o açúcar normalmente ligado na posição C3, ou, no caso das
isoflavonas, C7 (KING; YOUNG, 1999). São levemente ácidos e por serem compostos polares
ou moderadamente polares, são solúveis em etanol, metanol e butanol, e combinações de
Esqueleto flavônico
Flavonol Flavona Flavan-3-ol Antocianidina
Flavanona Isoflavona Dihidroflavonol Flavan-3,4-diol
Cumarina Chalcona Dihidrochalcona Aurona
6
solventes com água. Apresentam intensa absorção no UV, exibindo duas bandas: banda I (320-
385 nm) representando à absorção do anel B e banda II (250-285 nm), correspondente a absorção
do anel A (YAO et al., 2004; HARBORNE, 1997).
Os flavonóides estão associados com o comportamento ecológico de algumas plantas. Por
exemplo, devido às cores vibrantes apresentadas por alguns flavonóides (flavonas e
antocianinas), estes podem agir como atrativos para insetos polinizadores; além disso, a
característica adstringente das catequinas e outros flavanóis representam um sistema de defesa
contra alguns insetos. Os flavonóides também podem agir como protetores de células vegetais
por sequestrar espécies reativas de oxigênio (ERO) produzidas pela radiação UV necessária à
fotossíntese (WINKEL-SHIRLEY, 2001).
Uma diversidade de estudos in vitro e in vivo tem mostrado que os flavonóides podem
inibir e, às vezes, induzir uma grande variedade de enzimas, envolvidas em importantes
processos reguladores como a divisão e proliferação celular, agregação plaquetária,
detoxificação, e resposta inflamatória e imune do organismo humano (KIM et al., 2011; DAÍ;
MUMPER, 2010; SEINFRIED et al., 2007; WILLIAMS et al., 2004). Além disso, a atividade
antioxidante dos flavonóides é devida a sua habilidade de sequestrar radicais livres, atuando
como doadores de hidrogênio, e quelar metais, reduzindo o potencial de ocorrência de doenças
crônico-degenerativas (GONZALO; ALONSO, 2002; RICE-EVANS et al., 1996).
1.1.2 Ácidos Fenólicos
Os ácidos fenólicos compreendem os ácidos benzóicos e derivados e os ácidos cinâmicos e
derivados. Ambos consistem de um anel aromático com grupos ligados à sua estrutura, sendo o
grupo hidroxila o mais comum (MANACH et al., 2005).
Os ácidos hidróxibenzóicos estão presentes em concentrações muito baixa nas frutas e
vegetais, e são encontrados principalmente nas frutas vermelhas, cebola e casca de batata. Os
principais representantes desta classe são: gálico, elágico, vanílico, protocatecuico e 4-
hidrobenzóico (CLIFFORD; SCALBERT, 2000). O ácido elágico, um dos focos deste trabalho,
é um dos precursores dos taninos hidrolisáveis. Pode ser encontrado na forma livre ou glicosilada
(glicose, ramnose e arabinose), mas em baixas quantidades (ESPÍN et al., 2007). O ácido elágico
é comumente encontrado em morango, romã, uvas muscadine, castanhas, amora silvestre e
framboesa. Trabalhos com ácido elágico reportaram que o composto se destaca por apresentar
atividade antioxidante e quimioprotetora (HEBER, 2008; ADAMS et al., 2006; LOSSO et al.,
2004).
7
Os principais representantes dos ácidos cinâmicos e derivados são: cumárico, cafeico,
ferulico, clorogênico e sináptico, sendo que o ácido cafeico corresponde a 70% dos ácidos
hidroxicinâmicos presentes em frutas (CLIFFORD; SCALBERT, 2000).
1.1.3 Taninos
Os taninos são compostos hidrossolúveis de alto peso molecular e tem como característica
principal a capacidade de precipitação de proteínas e alcalóides. Esta capacidade de precipitar
proteínas faz dos taninos substâncias adstringentes, propriedade vital em plantas na
sobrevivência contra patógenos (ARON; KENNEDY, 2008).
Os taninos são divididos em duas classes: taninos hidrolisáveis, que compreendem
polímeros de ácido gálico (galotaninos) ou elágico (elagitaninos), encontrados em frutas como o
morango, romã, amora e nas nozes; e os taninos condensados (proantocianidinas), polímeros de
catequina ou epicatequina, universais em Angiospermas (RIEDL; HAGERMAN, 2001;
TOMÁS-BARBERÁN; CLIFFORD, 2000).
Os taninos hidrolisáveis estão, atualmente, divididos em três subclasses: galotaninos,
elagitaninos e taninos C-glicosídicos (Figura 2). Os elagitaninos são compostos fenólicos
hidrossolúveis de alto peso molecular, ésteres do ácido hexahidroxidifênico (HHDP) e um
açúcar, geralmente uma D-glicopiranose (POUYSÉGU et al., 2011; YOSHIDA et al., 2008).
Os monômeros de elagitaninos podem ser oxidados nas plantas e formar dímeros, trímeros
e tetrâmeros com pesos moleculares de até 4000 Da. Quando expostos a ácidos ou bases, a
porção éster é hidrolisada e o ácido hexahidroxidifênico se rearranja espontaneamente
originando o ácido elágico, que é insolúvel em água. Essa reação é a base para a detecção e
quantificação indireta de elagitaninos (DANIEL et al., 1989). A proporção de ácido elágico livre
é altamente variável podendo chegar a até 50% do valor total, comparando-se valores antes e
após a hidrólise, porém, esta proporção depende principalmente do tipo de alimento (in natura
ou processado) analisado (SHARMA et al., 2010; PINTO et al., 2008).
Proantocianidinas, também conhecidas como taninos condensados, são polímeros
constituídos por duas ou mais unidades monoméricas de flavan-3-óis (+)- catequina e (-)-
epicatequina. As estruturas das proantocianidinas podem variar de acordo com o grau de
polimerização (tamanho da cadeia), os diferentes padrões de hidroxilação, a estequiometria dos
três centros quirais e os tipos de ligações interflavonóides (BLADÉ et al., 2010).
8
O
O
OH
O
O
OH
HO
HO
O
O
OH
O
O
OH
HO
OO
OH
HO
HO
Figura 2. Ácido elágico e derivados (adaptado de LANDETE, 2011).
Vescalagina Punicalagina
Sanguiína H-6
Castalagina Telimagrandina II
Ácido elágico Ácido elágico pentose
9
As estruturas diméricas destes compostos são do tipo B (C30H26O12), se a ligação entre as
unidades monoméricas (ligação interflavonóide) é estabelecida entre o carbono C4 da unidade
superior e o carbono C8 ou C6 da unidade inferior (C4-C6 ou C4-C8), ou do tipo A (C30H24O12)
se, para além da ligação entre átomos de carbono, apresentam uma ligação éter C2-0-C7
adicional entre as duas unidades monoméricas (Figuras 3). (ARON; KENNEDY, 2008).
Figura 3. Estrutura das procianidinas do tipo B (A) e tipo A (B).
A
B
10
1.2 Biodisponibilidade: interação entre compostos fenólicos e microbiota intestinal
Há algum tempo os compostos fenólicos tem sido reconhecidos como componentes
promotores de saúde principalmente por serem descritos como agentes antioxidantes. Entretanto,
acredita-se atualmente que os mesmo estão envolvidos em mecanismos fisiológicos mais
complexos relacionados com a prevenção de diferentes patologias (CROZIER; JAGANATH;
CLIFFORD, 2009; SCALBERT et al., 2005).
Os estudos de biodisponibilidade em humanos relatam que a quantidade de polifenóis
intactos encontrados na urina pode variar de um composto para outro. Cerca de 75 a 99 % dos
polifenóis ingeridos não são detectados na urina. O nível de excreção urinária indica que
quantidades substanciais de metabólitos colônicos são absorvidas e distribuídas pelo sistema
circulatório antes de serem excretados (SCALBERT; WILLIAMSON, 2000).
Já se sabe que a maior parte dos polifenóis da dieta é metabolizada no cólon pela
microbiota intestinal antes da absorção, e esta conversão é essencial na modulação do efeito
biológico dos mesmos. Está claro que estes efeitos observados não são atribuídos aos compostos
nativos, mas sim aos metabólitos formados (DEL RIO et al., 2010; SETCHELL et al., 2002; XU
et al., 1995).
Por muitos anos acreditou-se que a principal função do intestino era apenas de reabsorção
de água e sais minerais e uma rota simples de excreção. O intestino humano, considerado um
ecossistema microbiano altamente complexo, abriga uma concentração de 1012
microrganismos
por grama de fezes, dentre bactérias e fungos, e é um sítio ativo no processo de metabolização.
Embora seja um número alto, a diversidade microbiana é limitada em oito classes bacterianas,
sendo duas delas mais predominantes, Firmicutes e Bacteroides, que juntos somam 90% da flora
intestinal, presentes principalmente no cólon (POSSEMIERS et al., 2011).
Em contraste à natureza oxidativa e conjugativa do metabolismo no fígado, o qual gera
produtos hidrofílicos de alto peso molecular, a natureza metabólica da microbiota intestinal, em
meio anaeróbico, é basicamente hidrolítico e de redução, dando origem a bioprodutos apolares
de baixo peso molecular (SOUSA et al., 2008).
O primeiro passo após a ingestão de compostos fenólicos presentes na dieta é a liberação
dos mesmos de sua matriz (Figura 4). A desglicosilação de flavonóides, a clivagem de
proantocianidinas poliméricas e a hidrólise de ácidos fenólicos esterificados são consideradas
pré-requisitos para absorção dos mesmos através da barreira intestinal (MANACH; DONAVAN,
2004).
11
Apenas uma pequena parte de compostos fenólicos ingeridos é absorvida pelo intestino
delgado. Este processo ocorre através de difusão passiva e está associada com hidrólise e
liberação da aglicona pela ação da lactase phloridzina hidrolase (LPH) presente nas
microvilosidades das células epiteliais do intestino (DONOVAN et al., 2006). Depois de
absorvida, a aglicona sofre metabolização no fígado, formando metabólitos sulfatados,
glicurônicos e/ou metilados através da ação respectiva das enzimas de fase II sulfotransferase
(SULT), uridina-50-difosfato glicuronosiltransferase (UGT) e catecol-O-metiltransferase
(COMT) (CROZIER; DEL RIO; CLIFFORD, 2010).
Figura 4. Esquema geral da biodisponibilidade de compostos fenólicos. Absorção parcial dos polifenóis
ocorre no intestino delgado, seguido da ação de enzimas de fase I e II e excreção através da bile de volta
para o intestino delgado. Em seguida, ocorre desconjugação pelas enzimas microbianas e transformação
dos polifenóis pela microbiota no cólon (adaptado de KEMPERMAN et al., 2010).
12
Os produtos desta metabolização podem entrar na corrente sanguínea e serem excretados
através da urina, ou ainda, pela circulação enterohepática, uma fração considerável pode ser
excretada pelo fígado como componente da bile de volta para o intestino (MCBAIN;
MACFARLANE, 1998). Uma vez liberados no lúmen intestinal, estes conjugados podem ser
hidrolisados por enzimas bacterianas como as β-glicuronidases, sulfatases e glicosidases
CROZIER; DEL RIO; CLIFFORD, 2010; SELMA; ESPÍN; TOMÁS-BARBERÁN, 2009). Os
compostos que não são absorvidos no intestino delgado vão diretamente para o intestino grosso,
onde são degradados pela microflora colônica a compostos mais simples, como ácidos fenólicos,
e assim serem absorvidos pelo sistema circulatório (Quadro 1). Uma vez no intestino grosso, os
flavonóides e seus metabólitos podem apresentar benefícios a microbiota colônica por selecionar
bactérias probióticas ou inibir a proliferação de células cancerígenas (DEL RIO et al., 2010).
Estudos mais recentes já investigam a atividade biológica dos metabólitos colônicos de
compostos fenólicos. Verzelloni et al. (2011) demonstraram que metabólitos formados a partir
dos elagitaninos (urolitinas e pirogalol) foram capazes de inibir a formação de AGEs (Advanced
Glycation End-products), comumente chamados de produtos de glicação avançada, os quais
estão associados com a progressão de complicações cardiovasculares associadas ao diabetes.
Já foi relatado que o ácido hidrocafeico apresentou potente atividade antioxidante em
células endoteliais, atividade antiproliferativa em linhagens celulares de câncer de cólon e efeito
protetor em células da epiderme contra radiação UV, reduzindo a expressão de citocinas IL-6 e
IL-8 (POQUET; CLIFFORD; WILLIAMSON, 2008; HUANG; DE PAULIS; MAY, 2004).
Larrosa et al. (2009) demonstraram que os ácidos hidrocafeico, hidroferulico e 3,4-
dihidroxifenilacético, formados pela ação da microbiota no cólon, foram capazes de inibir a
inflamação em modelo de colite induzida, reduzir a peroxidação lipídica e reduzir a expressão de
citocinas envolvidas no processo inflamatório (TNF-α, IL-1b e IL-8).
Embora se saiba que a microflora intestinal tenha participação no metabolismo de
flavonoides, há falta de informação sobre os mecanismos envolvidos neste processo.
13
Quadro 1. Principais metabólitos formados pela ação da microbiota intestinal.
Composto Fenólico Metabólito
Isoflavona Daidzeína Equol
O-demetilangolensina
Flavonol Quercetina Ácido 2-(3,4-dihidroxifenil) acético
Ácido fenilacético
Ácido p-hidroxibenzóico
Ácido 2-(3-hidroxifenil) acético
Ácido 3,4-dihidroxibenzoico
Floroglucinol
Ácido 3-(3,4-dihidroxifenil) propionico
Ácido 3-(3-hidroxifenil) propionico
Ácido homovanílico
Caempferol Ácido 2-(4-hidroxifenil) acético
Flavanona Naringenina Ácido 3-(4-hidroxifenil) propionico
Floroglucinol
Flavan-3-ol Catequina e Epicatequina Ácido 3-(3-hidroxifenil) propionico
5-(3’,4’-dihidroxifenil)-γ-valerolactona
5-(3’-hidroxifenil)-γ-valerolactone
Ácido 5-(3,4-dihidroxifenil) valérico
Ácido 5-(3-metoxifenil) valérico
Ácido 3-(3,4-dihidroxifenil) propionico
Ácidos fenólicos Ácido gálico Pirogalol
Ácido protocatecuico Catecol
Ácido Vanílico Metil-catecol
Ácidos cinâmicos Ácido ferulico-4-O-sulfato
Ácido dihidroferulico-4-O-sulfate
Ácido dihidroferulico-4-O-glicuronideo
Ácido cafeico-3-O-sulfato
Ácido ferulico-4-O-sulfato
Ácido dihidrocafeico-3-O-sulfato
Ácido hidrocafeico
Ácido elágico Ver elagitaninos
Taninos Elagitaninos Ácido elágico
Urolitina A (3,8-dihidroxi-6H-dibenzopiran-6-
ona)
Urolitina B (3-hidroxi-6H-dibenzopiran-6-ona)
Isourolitina A
Urolitina C (3,7,8-trihidroxi-6H- dibenzopiran-
6-ona)
Proantocianidinas Ácido 2-(3,4-dihidroxifenil) acético
Ácido 3-(3-hidroxifenil) propionico
4-hidroxifenil-γ-valerolactona
Ácido fenilvalerico 3,4-dihidroxilado
Ácido hidrocafeico Adaptado de SERRA et al., (2012); GONZÁLEZ-BARRIO; EDWARDS; CROZIER (2011); SELMA;
ESPÍN; TOMÁS-BARBERÁN (2009).
14
1.3 Atividade biológica de compostos fenólicos: efeito sobre o estresse oxidativo
Os radicais livres e as espécies reativas de oxigênio (ERO), tais como ânion superóxido,
radical hidroxila e peróxido de hidrogênio, são produtos do metabolismo celular liberados
durante o processo de redução do oxigênio e utilizados para converter em energia os nutrientes
absorvidos dos alimentos (DRÖGE, 2002). Apesar da similaridade entre as terminologias, é
importante distinguir que as EROs incluem as espécies derivadas do oxigênio, tanto radicalares
quanto não radicalares; já os radicais livres são caracterizados por possuirem um eletron
desemparelhado em seu último orbital (HALLIWELL; GUTTERIDGE, 1998).
O principal local de produção dos radicais livres e EROs é a mitocôndria. Nesta organela, o
O2 sofre redução tetravalente, com aceitação de quatro elétrons, e forma água. A enzima
catalisadora dessa reação é a citocromo oxidase. Na parte terminal da cadeia transportadora de
elétrons, a referida enzima oxida quatro moléculas de citocromo c removendo um elétron de cada
uma delas. Esses elétrons são adicionados ao O2 para formar água. A ação da citocromo oxidase
controla a geração de radicais livres, impedindo sua geração excessiva na mitocôndria. No
entanto, cerca de 2% a 5% do oxigênio metabolizado nas mitocôndrias são desviados para outra
via metabólica, e reduzidos de forma univalente, dando origem aos radicais livres
(KOWALTOWSKI et al., 2009; VALKO et al., 2007).
As espécies reativas, quando em excesso no organismo, levam a formação do quadro de
estresse oxidativo, o qual atinge as células, os tecidos e os órgãos, e como consequência a
instalação de processos inflamatórios, alguns tipos de câncer e a progressão de doenças. As
EROs possuem baixo peso molecular, curta meia vida e alta reatividade com compostos
orgânicos. Quando uma molécula de oxigênio sofre redução incompleta na cadeia respiratória
mitocondrial, ela se torna um ânion superóxido (O2-). O peróxido de hidrogênio (H2O2),
molécula que não conta com um elétron desemparelhado, é menos reativo que o superóxido, e se
difunde mais facilmente, podendo atravessar a membrana plasmática. O radical hidroxila (OH),
produzido a partir de peróxido de hidrogênio na presença de íons metálicos, é altamente reativo,
capaz de se ligar ao DNA, lipídios e proteínas, oxidando-os (VALKO et al., 2006; GATÉ et
al.,1999).
Além das EROs, outras espécies reativas, as de nitrogênio, também são responsáveis por
danos aos tecidos, tendo o óxido nítrico (NO) como principal agente. O NO é sintetizado a partir
da L-arginina, pela enzima NO sintase, e age como modulador endógeno regulando vários
processos como transporte de glicose, respiração mitocondrial, além de controlar a produção de
hormônios, dentre eles a vasopressina e somastatina (MACCANN et al., 2005; PATTWELL et
al., 2004).
15
A homeostase do organismo também sofre influência do equilíbrio entre oxidantes e
antioxidantes. Por isso, os organismos aeróbicos, durante a evolução, não apenas se adaptaram à
existência de radicais livres, mas também desenvolveram mecanismos que permitiam o uso
vantajoso destes radicais em vários processos fisiológicos nas células (VALKO et al., 2007).
Dentre estes mecanismos, pode-se destacar um sistema antioxidante complexo, presente nas
células, para a detoxificação das EROs. As enzimas antioxidantes, componentes essenciais deste
sistema, atuam seqüestrando os radicais livres. O ânion superóxido, altamente reativo, é
rapidamente convertido a H2O2 pela superóxido dismutase (SOD), enzima que pode ser
encontrada no meio citosólico, na mitocôndria e no meio extracelular. A catalase (CAT), umas
das enzimas mais eficientes, está presente principalmente nos peroxissomos e é responsável pela
conversão do peróxido de hidrogênio em água e oxigênio. A glutationa peroxidase (GPx) é a
principal fonte de proteção da célula contra os efeitos danosos do peróxido, convertendo-o a H2O
e oxigênio. Fitoquímicos provenientes da dieta apresentam a propriedade de modular a atividade
destas enzimas bem como sua expressão gênica (SIMÕES et al., 2005; RODRIGUEZ et al.,
2004; HALLIWELL, 1999).
O grande interesse nos compostos fenólicos da dieta se deve à atividade antioxidante
destas substâncias e suas possíveis implicações benéficas à saúde humana. Estes fitoquímicos,
tradicionalmente considerados como não-nutrientes, por não estar estabelecido estado de
deficiência para os mesmos, vêm sendo vistos mais recentemente como um grupo de
micronutrientes presentes no reino vegetal que é parte importante da dieta humana e animal
(SÁNCHEZ-MORENO, 2002). A capacidade antioxidante pode ser considerada um marcador
sensível e confiável para detectar mudanças no estresse oxidativo in vivo, fornecendo ajuda na
elucidação de fatores fisiológicos e nutricionais importantes, e ainda, suprindo informações sobre
absorção e biodisponibilidade de compostos antioxidantes (BURTON-FREEMAN, 2010;
CROZIER; JAGANATH; CLIFFORD, 2009).
Nos últimos anos, os estudos envolvendo compostos polifenólicos têm focado na atividade
biológica associada à ingestão de compostos puros ou extraídos de uma matriz alimentar em
doses maiores do que as comumente consumidas. Vários estudos já demonstraram que a ingestão
de polifenóis está diretamente associada a um aumento do potencial antioxidante no plasma e
proteção cardiovascular. Acredita-se que o que realmente gera efeito na saúde humana é a ação
sinergista e cumulativa destes compostos presentes na dieta (PÉREZ-JIMENEZ et al., 2010;
SAURA-CALIXTO; GOÑI, 2009; MULLEN et al., 2007). Ainda, os estudos envolvendo
mecanismos de ação identificaram o estresse oxidativo, a inflamação e funções endoteliais como
alvos importantes onde os polifenóis podem exercer efeitos biológicos em potencial.
16
O Diabetes mellitus é uma desordem metabólica de etiologia múltipla caracterizada por
hiperglicemia crônica e distúrbios no metabolismo de proteínas, carboidratos e lipídios, resultado
de deficiência na secreção de insulina, característico do tipo 1, insensibilidade do receptor à
produção endógena deste hormônio ou ambos, definido como tipo 2 (WHO, 1999). De acordo
com o IDF Diabetes Atlas (International Diabetes Federation), em 2010, esta doença afetava
cerca de 285 milhões de pessoas com idades entre 20 e 79 anos, e já se calcula que este valor se
elevará para, no mínimo, 438 milhões em 2030. Estima-se que os gastos mundiais com a
prevenção e tratamento do diabetes e suas complicações foram de, pelo menos, 375 bilhões de
dólares (USD) em 2010. É considerada a doença crônica mais comum dos últimos 5 anos, e a
forma clínica predominante é o Diabetes mellitus tipo 2, correspondente a 90% dos casos. A
insulina é responsável pela diminuição dos níveis de glicose, facilitando a captação de glicose
principalmente pelo músculo esquelético e tecido adiposo, e por inibir a gliconeogênese no
fígado. Em indivíduos resistentes à insulina, estes órgãos não respondem adequadamente à
insulina, o que leva a hiperglicemia e aumento da secreção da mesma pelas células beta-
pancreáticas (SCHINNER et al., 2005).
O estresse oxidativo gerado pela hiperglicemia e o quadro crônico de inflamação no
Diabetes mellitus é responsável pela progressão da doença e, conseqüentemente, pelo desbalanço
entre o sistema antioxidante de defesa (CHUANG; MCINTOSH, 2011; RAINS; JAIN, 2011). Os
principais fatores que contribuem para o desenvolvimento do diabetes tipo 2 como predisposição
genética, sedentarismo, alimentação desregrada e obesidade, auxiliam no estímulo do estresse
oxidativo, o que pode acarretar em alterações na sensibilidade à insulina e tolerância a glicose.
Os mecanismos pelos quais isto ocorre ainda são desconhecidos e complexos, mas acredita-se
que quadros hiperglicêmicos causam alterações na mitocôndria levando à produção desregulada
de oxidantes (RAINS; JAIN, 2011; FINKEL, 2011).
O efeito benéfico dos compostos fenólicos em modelos de ratos diabéticos já vem sendo
estudado. Tanto a administração de alimentos ricos em flavonóides quanto a destes compostos
isolados foram responsáveis por reduzir as concentrações séricas de glicose, diminuir a
peroxidação lipídica, além de aumentar os níveis de insulina, de peptídeo-C e a expressão de
enzimas antioxidantes (JALIL et al., 2008; KAMALAKKANNAN; PRINCE 2006; QUINE;
RAGHU, 2005).
Trabalhos com cultura de células mostraram que compostos como quercetina,
caempferol, catequina e resveratrol foram eficientes em reduzir a expressão gênica de enzimas
como a COX-2 e iNOS, principais responsáveis na mediação da resposta inflamatória. Estes
modelos experimentais têm sido amplamente utilizados na tentativa de identificar quais as
17
principais vias de sinalização em que os compostos fenólicos atuam (PARK et al., 2009;
RAHMAN et al., 2006; AGGARWAL; SHISHODIA, 2006).
O envolvimento de ERO e também ERN nos mecanismos patogênicos da carcinogênese
tem sido amplamente documentado. As espécies reativas de oxigênio exercem um importante
papel no processo de iniciação, promoção e progressão do câncer, afetando assim, o ciclo
celular, a expressão gênica e causando dano ao DNA (HALIWELL, 2007; DREHER; JUNOD,
1996). Ainda, as ERO/ERN podem estar relacionadas com a ativação crônica não-específica de
citocinas pró-inflamatórias, particularmente, TNF-α e IL-1, que atuam como mediadores dos
mecanismos de lesões celulares e teciduais, de modificações de vias metabólicas e de
mensageiros secundários. A relação entre aquelas citocinas e as espécies reativas de oxigênio e
nitrogênio (ROS/RNS), aparentemente está na propriedade que ambas têm de ativar uma
proteína reguladora de transcrição chamada NF-κB, responsável pela transcrição de mais de 50
proteínas envolvidas na regulação da resposta imune e inflamatória (MANTOVANI, 2005;
TISDALE, 2001).
Os efeitos do uso e administração dos flavonóides em modelos de câncer são amplamente
estudados. Trabalhos com foco nos efeitos antimutagênicos da quercetina mostraram uma
redução dos danos ao DNA causados pelo terc-butil-hidroperóxido em culturas de células
HepG2, e ainda uma significativa redução na formação de cometa, diminuição das alterações do
estado redox celular, induzidos pela exposição a nicotina em cultura de linfócitos de ratos
(RAMOS et al., 2008; MUTHUKUMARAN et al., 2008).
18
2. OBJETIVOS
O camu-camu, fruta típica da floresta amazônica, ainda é pouco conhecido no Brasil e
tem seu consumo restrito à região norte do país. Já é exportada para países como Japão, Holanda
e Estados Unidos com forte apelo funcional devido ao seu alto teor de vitamina C. Trabalhos
desenvolvidos anteriormente em nosso laboratório mostraram que o camu-camu se destacou pelo
seu alto teor de vitamina C, além de apresentar polifenóis com relevante potencial funcional.
Com o intuito de explorar os efeitos dos compostos presentes nesta fruta, os objetivos
deste projeto foram:
- Caracterizar fruta e polpa comercial de camu-camu em relação ao conteúdo de fenólicos
totais, flavonóides, ácido elágico livre e total, proantocianidinas e capacidade antioxidante in
vitro, e identificar taninos hidrolisáveis e condensados da fruta e polpa comercial de camu-camu;
- Verificar o efeito da ingestão de extrato bruto e frações purificadas de compostos
fenólicos obtidos a partir da polpa comercial de camu-camu sobre o perfil bioquímico,
capacidade antioxidante do plasma, e a atividade das enzimas antioxidantes catalase, superóxido
dismutase e glutationa peroxidase em plasma e eritrócitos de ratos diabéticos;
- Determinar o efeito da administração do extrato bruto e frações purificadas de
compostos fenólicos obtidos a partir da polpa comercial de camu-camu sobre o perfil
bioquímico, expressão gênica de citocinas, enzimas antioxidantes (catalase, glutationa
peroxidase e superóxido dismutase), capacidade antioxidante do plasma, e a atividade dessas
enzimas em plasma e eritrócitos de ratos caquéticos.
- Verificar o efeito do extrato bruto e frações purificadas da polpa comercial de camu-
camu em ensaios que mimetizam condições fisiopatológicas do diabetes e obesidade em
diferentes tipos de linhagens celulares: transporte de glicose em miócitos (L6), produção de
óxido nítrico (NO) em macrófagos (J774.1) e em miócitos (L6), produção hepática de glicose em
hepatócitos (FaO) e expressão de citocinas em adipócitos (3T3).
19
3. MATERIAL E MÉTODOS
3.1 Material
A polpa comercial de Camu-camu foi obtida diretamente do produtor no estado do
Amazonas (CUPUAMA®). Segundo dados do produtor, para a obtenção da polpa comercial, foi
utilizado uma despolpadeira convencional, com uma peneira adequada (malha de
aproximadamente 1 mm), a fim de se obter o "suco concentrado" do camu-camu. A fruta “in
natura”, proveniente de um produtor do estado de São Paulo, foi obtida no CEAGESP
(Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo), de acordo com o período de
colheita. As amostras foram cortadas em pedaços, imediatamente congeladas em nitrogênio
líquido, trituradas em graal com pistilo e liofilizadas. Após liofilização, foi retirada a semente da
fruta, restando apenas polpa e casca. A polpa comercial e fruta foram homogeneizadas em
moinho analítico (modelo A10 S2, IKA Works Inc., Wilmington, NC) sob refrigeração e
posteriormente armazenadas a -20 ºC (freezer) até o momento da análise.
3.2 Métodos
3.2.1. Composição centesimal
3.2.1.1. Determinação de umidade
A determinação de umidade foi feita pesando-se cerca de 3 gramas de amostra, em
liofilizador à vácuo (Dura-Top MP, Bulk Tray Dryer, FST Systems®) durante 96 horas (AOAC,
2005). A determinação foi realizada em triplicata.
3.2.1.2. Determinação de cinzas
Os cadinhos de porcelana foram aquecidos em mufla a 600 ºC por uma hora. Dois gramas
da amostra foram adicionados a este recipiente e então deixados por duas horas na mufla nas
mesmas condições. Os cadinhos foram retirados da mufla e colocados para resfriar em
dessecador. As amostras foram umedecidas com álcool absoluto. Os cadinhos retornaram à
mufla por mais duas horas. Novamente, as amostras foram retiradas da mufla e resfriadas em
dessecador. O peso final foi registrado e a quantidade de cinzas foi calculada pela diferença entre
20
a massa inicial e a final; os resultados foram expressos em porcentagem de cinzas em base seca
(AOAC, 2005).
3.2.1.3. Determinação de proteínas
A determinação de proteína foi feita pelo método de micro Kjeldahl, em triplicata,
determinando-se o nitrogênio da amostra seca, com o valor 6,25 como fator de conversão
nitrogênio/proteína. (AOAC, 2005). Os resultados foram expressos em porcentagem de proteína
bruta (b.s.).
3.2.1.4. Determinação de lipídios
Esta determinação foi feita segundo o método de Soxhlet (AOAC, 2005). Dois gramas de
amostra foram pesados, em triplicata, dentro de cartuchos feitos de papel filtro e algodão. O
balão do Soxhlet foi previamente secado em estufa a 105 °C por 1 hora e seu peso, anotado. Éter
etílico foi adicionado em quantidade suficiente para permitir o sifonamento do mesmo. O
gotejamento foi uniforme e ocorreu por 8 horas. Secaram-se as amostras até resultar somente os
lipídios, mas antes que estes começassem a escurecer. Os balões foram colocados para secar em
estufa a 105 °C por uma hora, e então pesados. A quantidade de lipídios foi calculada pela
diferença entre a massa final e a massa do balão; os resultados foram expressos em porcentagem
de lipídeo (b.s.).
3.2.1.5. Determinação de fibras
Os teores de fibra alimentar solúvel (FAS) e fibra alimentar insolúvel (FAI) foram
determinados através do método enzimático-gravimétrico da AOAC (2005). As amostras
liofilizadas foram gelatinizadas pela alfa-amilase termorresistente e em seguida digeridas
enzimaticamente com protease e amiloglicosidase para remoção de proteína e amido presentes.
Etanol foi utilizado para precipitar a fibra solúvel. O resíduo foi então lavado com etanol e
acetona. Após a secagem, o mesmo foi pesado. O teor de fibra total foi calculado pela diferença
do peso do resíduo menos proteína e cinzas.
21
3.2.1.6. Composição mineral
A composição mineral da fruta e polpa comercial de camu-camu foi avaliada através da
determinação de sódio, nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio, enxofre, boro, zinco,
ferro, manganês, cobre e selênio. Para a quantificação destes minerais, inicialmente as amostras
foram submetidas a um processo de digestão ácida por 24 horas. A quantificação de sódio e
potássio foi realizada por fotometria de emissão de chamas, e os demais minerais por
espectrofotometria de absorção atômica (MALAVOLTA; VITTI; OLIVEIRA, 1997).
3.2.2 Obtenção dos extratos para análises in vitro
As amostras foram previamente pulverizadas com a ajuda de graal e pistilo, sob
nitrogênio líquido. As amostras foram extraídas, na razão 1:25 (m/v), com metanol:água 70%,
utilizando-se Ultra-turrax® (IKA® Labortechnix, T25 basic, Wilmington, EUA), por 1 minuto
em velocidade 5, em banho de gelo. O resíduo foi re-extraído mais duas vezes. Os extratos
obtidos foram filtrados utilizando-se papel de filtro Whatman n° 1.
3.2.3 Determinação da capacidade redutora do Folin Ciocalteu e teor de fenólicos totais
Foi feita de acordo com Genovese et al. (2003), utilizando-se 0,25 mL dos extratos
hidrometanólicos obtidos como em 3.2.2, ou diluição adequada dos mesmos, adicionados a 2 ml
de água destilada e 0,25 mL do reagente de Folin-Ciocalteu. Após 3 minutos à temperatura
ambiente, foram adicionados 0,25 mL de solução saturada de carbonato de sódio, e os tubos
foram colocados em banho a 37ºC durante 30 min para desenvolvimento de cor. A absorbância a
750 nm foi determinada em espectrofotômetro (Ultrospec 2000, Pharmacia Biotech) e a
capacidade redutora do Folin Ciocalteu foi expressa como equivalente de catequina. O teor de
fenólicos totais foi determinado descontando a participação de vitamina C pela capacidade
redutora do Folin Ciocalteu. Os resultados obtidos foram expressos como mg de catequina/g de
amostra (b.s.).
22
3.2.4 Determinação colorimétrica de proantocianidinas pelo método DMAC
As amostras foram extraídas, na razão 1:25 (m/v), com acetona:água:ácido acético
70:29,5:0,5%, utilizando-se Ultra-turrax® (IKA® Labortechnix, T25 basic, Wilmington, EUA),
por 1 minuto em velocidade 5, em banho de gelo. As proantocianidinas dos extratos de camu-
camu foram quantificadas pela metodologia DMAC (4-dimethylaminocinnamaldehyde, Sigma
Chemical Co., St. Louis, EUA) de acordo com Prior et al. (2010). O conteúdo de
proantocianidinas foi calculado utilizando-se uma curva padrão de prociadina B2 (HPLC, purity
> 99%, Extrasynthèse) com concentrações de 5 a 50 µg/mL. Os resultados foram expressos
como mg equivalente de prociadina B2/g de amostra (b.s).
3.2.5 Sequestro de radicais livres (DPPH)
A atividade antioxidante foi determinada através da redução do radical estável DPPH (2,2-
difenil-1-picrilhidrazila, Sigma Chemical Co., St. Louis, EUA) do meio de reação pelos
antioxidantes presentes na amostra (BRAND-WILLIAMS et al.,1995). Foi preparada uma
solução metanólica de DPPH (0,05 mM) de forma a apresentar aproximadamente 0,4 de
absorbância em 517 nm de comprimento de onda. As determinações foram realizadas em
microplaca de poliestireno com 96 cavidades (Costar, Cambrigde, MA) para uso em
comprimento de onda entre 340 e 800 nm. Em cada cavidade foram adicionados 250 L da
solução de DPPH, 50 L de metanol para o grupo controle, o mesmo volume para a solução-
padrão de Trolox e para os extratos obtidos em 3.2.2, adequadamente diluídos, quando
necessário. Foram efetuadas leituras de absorbância a 517 nm no tempo zero e após 20 minutos,
utilizando-se espectrofotômetro de microplaca Benchmark Plus (Bio-Rad Laboratories,
Hercules, CA) a 25 ºC.
Os cálculos foram efetuados com o auxílio da seguinte fórmula:
% descoloração do DPPH = [ 1- (A amostra – A branco da amostra) x 100]
A branco do ensaio DPPH
Onde:
A amostra = absorbância da amostra a 517 nm;
A branco da amostra = absorbância do branco da amostra a 517 nm;
A branco do ensaio DPPH = absorbância do branco do ensaio DPPH a 517 nm.
23
A curva padrão foi preparada com uma solução de Trolox em diferentes concentrações e
suas respectivas porcentagens de descoramento. Os resultados foram expressos em moles
equivalentes de Trolox/g amostra (b.s).
3.2.6 Método ORAC (Capacidade de Absorção de Radicais de Oxigênio)
A Capacidade de absorção de radicais de oxigênio foi determinada de acordo com
Dávalos et al. (2004), com as modificações a seguir. O extrato hidrometanólico das amostras (25
µL), obtido em 3.2.2, com as devidas diluições em tampão fosfato 75 mM, pH 7,4, o controle e
uma curva padrão de Trolox (0,002 M) foram misturados com 150 µL de uma solução de
fluoresceína (40 nM) e incubados a uma temperatura de 37ºC por 15 min antes da adição de 25
µL da solução do radical peroxila 2,2’-azobis (2-amidinopropano) dihidrocloreto (APPH) (153
mM), que dá início à reação. A intensidade de fluorescência (485 nm ex/520 nm em) foi verificada
a cada 1 minuto até o tempo final de 80 min, em espectrofotômetro de fluorescência, marca
Biotek modelo Synergy H1. A capacidade antioxidante foi determinada pela curva resultante da
perda de fluorescência da fluoresceína versus a concentração de antioxidante. Uma curva padrão
de trolox foi feita a cada ensaio, nas concentrações de 6,25 µM a 100 µM, e os resultados foram
expressos em µmoles equivalentes de Trolox/g de amostra (b.s.).
3.2.7 Método FRAP (Capacidade Antioxidante por redução do ferro)
A metodologia de FRAP, (poder antioxidante de redução do ferro) descrita
por Benzie e Strain (1996), adaptado para uso em microplaca, também foi utilizada para
determinar a atividade antioxidante dos extratos hidrometanólicos de camu-camu obtidos em
3.2.2. O reagente de FRAP foi preparado na concentração de 10:1:1 com as seguintes soluções:
(a) tampão acetato de sódio 300 mM a pH 3,6; (b) solução de 2,4,6-tripiridil-s-triazine (TPTZ)
10 mM em ácido clorídrico 40 mM e (c) solução de cloreto férrico 20 mM. Este reagente foi
preparado no momento da análise. Uma curva padrão de Trolox foi feita a cada ensaio, nas
concentrações de 50 µM a 400 µM. A leitura da absorbância foi feita após 4 minutos em 593 nm.
Os resultados foram exp ressos em µmoles equivalentes de Trolox/g amostra (b.s.).
24
3.2.8. Determinação do teor de ácido ascórbico (Vitamina C)
As análises do ácido ascórbico foram realizadas segundo Daood et al. (1994), com
algumas modificações. As amostras previamente pulverizadas com nitrogênio líquido foram
homogeneizadas com solução de ácido metafosfórico a 2% (m/v), em proporção 1:2 ou 1:5, por
1 minuto em homogeneizador ultra-turrax (IKA® Labortechnix, T25 basic, Wilmington, EUA).
Em seguida, as amostras ficaram em agitação por 15 minutos a 4°C com barra magnética. O
homogenato foi transferido para tubo e centrifugado por 5 minutos a 7500 g, sob refrigeração.
Após centrifugação, o sobrenadante foi filtrado em membrana Millipore® de 0,45 µm e
analisado. As amostras foram analisadas por Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE)
utilizando coluna S3C8 de 150 mm x 4.6 mm i.d., Waters, em gradiente isocrático, fase móvel
composta por tampão fosfato de potássio 0,1 M, metanol e hidróxido de tetrabutilamônio 40%
(97: 3: 0,05 v/v/v) e fluxo de 1 mL/minuto. A curva padrão foi feita com padrões de AA de
concentrações entre 10 e 100 µg/mL. A detecção foi realizada por UV a 265 nm. Os resultados
foram expressos em mg/ 100 g de amostra (b.s.).
3.2.9 Identificação e caracterização dos compostos fenólicos do camu-camu
3.2.9.1 Determinação de flavonóides e ácido elágico livre
A identificação e quantificação de flavonóides e ácido elágico livre foi feita de acordo
com Arabbi et al. (2004). As amostras foram extraídas com metanol aquoso 70%. Os extratos
obtidos foram filtrados utilizando-se papel de filtro Whatman n° 6. O resíduo foi re-extraído
mais 2 vezes. Para concentração dos extratos foi utilizado Rotaevaporador (RE 120 - Büchi), em
temperaturas de banho de 40°C (até ~ 20 mL). O volume foi então ajustado com água para balão
volumétrico de 25 mL e uma alíquota de 10 mL (pipetada sob agitação lenta) passada em coluna
de 1 g de Poliamida (CC 6, Macherey-Nagel), preparada em seringa própria de 6 mL (HPLC
Technology). As colunas foram pré-condicionadas pela passagem de 20 mL de metanol e 60 mL
de água. Após a passagem dos extratos aquosos, as colunas foram lavadas com 20 mL de água e
a eluição dos flavonóides foi feita com 50 mL de metanol seguido de 50 mL de metanol:amônia
(99,5:0,5), ocorrendo a eluição do ácido elágico livre nesta última. Foi utilizado manifold
Visiprep 24 DL (Supelco, Bellefonte, PA). Após secagem completa através de rotaevaporação,
as amostras foram ressuspendidas em 1 mL de metanol grau HPLC e filtradas em filtros de
polietileno com membrana PTFE (Millipore Ltd., Bedford, MA) de 0,22 de poro.
25
3.2.9.2 Determinação de ácido elágico total
A determinação de ácido elágico total foi realizada de acordo com as condições
otimizadas por Pinto et al. (2008). As amostras foram extraídas com acetona aquosa 80%, o
extrato foi colocado em banho de 37°C sob N2 até secura (Evaporador Analítico Organomation,
Berlin, MA) e hidrolisado em ácido trifluoroacético 2N em metanol, a 120ºC durante 90
minutos. Após a hidrólise, o extrato foi novamente seco sob N2, ressuspendido em metanol grau
CLAE e filtrado com filtros de polietileno com membrana PTFE (Millipore Ltd., Bedford, MA)
de 0,22 de poro para posterior análise por CLAE.
3.2.9.3 Cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE)
A identificação e quantificação de flavonóides e do ácido elágico e derivados foram
realizadas em coluna Prodigy 5 ODS(3) 250 x 4,60 mm (Phenomenex Ltd, Reino Unido). Foi
utilizado gradiente de solventes constituído por A. Água : Tetrahidrofurano : Ácido
trifluoroacético 98 : 2: 0,1 e B. Acetonitrila, na proporção de 17% de B por 2 min aumentando
para 25% B após 5 min, 35% B após mais 8 min e 50% B após mais 5 minutos. Para limpeza da
coluna foi aumentada então para 100 % B e a seguir re-equilibrada nas condições iniciais por 10
minutos. O cromatógrafo utilizado foi o do sistema Hewlett-Packard 1100, constituído por
injetor automático de amostras, bomba quaternária e detector de arranjo de diodo (DAD),
controlados pelo software ChemStation. As amostras foram injetadas em duplicata e os
compostos fenólicos foram identificados através da comparação do tempo de retenção e espectro
com o dos padrões. A quantificação foi baseada em calibração externa, e os padrões foram
obtidos da Sigma Chemicals Co. (St. Louis, U.S.A.) e da Extrasynthèse (Genay, França).
3.2.9.4 Caracterização estrutural e identificação dos elagitaninos
A extração dos elagitaninos da fruta e polpa comercial de camu-camu foi realizada
segundo Hager et al. (2008) em homogeneizador ultra turrax (IKA® Labortechnix, T25 basic,
Wilmington, EUA) a 12000 g por 2 minutos. As amostras foram extraídas com
acetona:água:acido acético (70:29,5:0,5 v/v/v). Os extratos obtidos foram filtrados utilizando-se
papel de filtro Whatman n° 6. O resíduo foi re-extraído mais 2 vezes. Para concentração dos
extratos foi utilizado Rotaevaporador (RE 120 - Büchi), em temperaturas de banho de 40 °C (até
26
~10 mL). Cerca de 3 g de Sephadex LH-20, preparada em seringa própria de 60 mL, foi
embebida e equilibrada com água por 4 horas. A coluna de LH-20 foi acondicionada com 25 mL
de acetona aquosa 50 %, seguido de 25 mL de metanol e, finalmente, 50 mL de metanol aquoso
30 %. O volume de 10 mL de extrato foi passado em coluna Sephadex LH-20, previamente
acondicionada. Após a passagem dos extratos aquosos, as colunas foram lavadas com 40 mL de
metanol aquoso 30 %. A eluição dos elagitaninos foi feita com 80 mL de acetona aquosa 70%.
Foi utilizado manifold Visiprep 24 DL (Supelco, Bellefonte, PA). Após secagem completa
através de rotaevaporação, as amostras foram ressuspendidas em 5 mL de acetona:água:acido
acético (70:29,5:0,5 v/v/v) e filtradas em filtros de polivinilideno (PVDF) (Chromspec, Ontario,
CA) de 0,45 µm de poro. O processo de purificação em Sephadex LH-20 é essencial na remoção
de compostos fenólicos e evitar possíveis interferências.
A identificação dos elagitaninos (ETs) da fruta e polpa comercial de camu-camu foi
realizada segundo metodologia descrita por Gasperotti et al. (2010). A separação dos
elagitaninos foi realizada em cromatógrafo UPLC Waters Aquity equipado com espectrômetro
de massa acoplado ao sistema de ionização por eletronebulização (ESI) e software MassLynx
(Waters Corp.) A coluna cromatográfica analítica utilizada foi AcquityTM
UPLC BEH C18 (50
mm x 2,1 mm d.i., 1,7 µm de diâmetro de partícula), Waters. No cromatógrafo líquido foram
utilizados ácido fórmico 1% e acetonitrila como fase móvel. O espectrômetro de massa foi
operado em modo negativo sob as seguintes condições: voltagem do capilar 3 kV, temperatura
da fonte 100 °C, temperatura de dessolvatação 350 °C e vazão do gás de dessolvatação (N2) 650
L/h. O comprimento de onda 260 nm foi utilizado para apresentação dos cromatogramas.
3.2.9.5 Caracterização estrutural e identificação das proantocianidinas
A extração das proantocianidinas da fruta e polpa comercial de camu-camu foi realizada
segundo Robbins et al. (2009). As amostras foram extraídas com acetona:água:acido acético
(70:29,5:0,5 v/v/v) em banho/ultrasom (UC-3200TA, Ningbo HaiShu Sklon E- Instruments Co,
China) a 37 °C por 1 hora. Os extratos obtidos foram deixados em repouso por 30 minutos e em
seguida centrifugados por 5 minutos a 3200 g. O resíduo foi re-extraído mais 1 vez. Para
concentração dos extratos foi utilizado Rotaevaporador (RE 120 - Büchi), em temperaturas de
banho de 40 °C (até ~ 6 mL). Cerca de 3 g de Sephadex LH-20, preparada em seringa própria de
60 mL, foi embebida e equilibrada com água por 4 horas. A coluna de LH-20 foi acondicionada
com 25 mL de acetona aquosa 50 %, seguido de 25 mL de metanol e, finalmente, 50 mL de
27
metanol aquoso 30 %. O volume de 6 mL de extrato foi passado em coluna Sephadex LH-20,
previamente acondicionada. Após a passagem dos extratos aquosos, as colunas foram lavadas
com 30 mL de metanol aquoso 30 %. A eluição das proantocianidinas foi feita com 70 mL de
acetona. Foi utilizado manifold Visiprep 24 DL (Supelco, Bellefonte, PA). Após secagem
completa através de rotaevaporação, as amostras foram ressuspendidas em 1 mL de
acetona:água:acido acético (70:29,5:0,5 v/v/v) e filtradas em filtros de polivinilideno (PVDF)
(Chromspec, Ontario, CA) de 0,45 µm de poro.
A identificação das proantocianidinas foi determinada de acordo com Robbins et al.
(2009). A separação das proantocianidinas (PACs) também foi realizada em cromatógrado
UPLC Waters Aquity acoplado ao detector de fluorescência. Como fase móvel, foram utilizados
diclorometano/ácido acético e metanol/ácido acético. A detecção da fluorescência foi conduzida
em 276 nm de comprimento de excitação e 316 nm de comprimento de emissão. A coluna
cromatográfica analítica utilizada foi Develosil (100 Diol-5, 250 × 4,6 mm, 5 µm de diâmetro de
partícula, Phenomenex).
3.3 Preparo das frações enriquecidas em compostos fenólicos do camu-camu
O extrato bruto e frações purificadas de compostos fenólicos foram obtidos a partir da
polpa comercial congelada, como descrito a seguir, e administrados por gavagem aos animais
nos estudos in vivo.
3.3.1 Obtenção do extrato bruto para experimento com animais
O extrato bruto foi obtido a partir da extração hidrometanólica da polpa comercial de
camu-camu. O Fluxograma 1 descreve como foi o processo de obtenção do extrato bruto
administrado aos animais por gavagem. Partiu-se de 20 e 60 gramas de polpa comercial de
camu-camu. As amostras foram extraídas com metanol aquoso 70%, em seguida filtradas
utilizando-se papel de filtro Whatman n° 6. O resíduo foi re-extraído mais 2 vezes. Finalmente, o
extrato foi rotaevaporado até secagem e em seguida ressuspendido em água, de acordo com a
dosagem estabelecida (1 ou 3 g/kg).
28
Fluxograma 1. Obtenção do extrato bruto a partir da polpa comercial de camu-camu.
3.3.2 Obtenção das frações purificadas para experimento com animais
O extrato purificado foi obtido a partir da extração hidrometanólica da polpa comercial de
camu-camu. O Fluxograma 2 descreve como foi realizado o processo de obtenção e purificação
do extrato purificado administrado aos animais por gavagem.
3 X
29
Fluxograma 2. Obtenção do extrato purificado a partir da polpa comercial de camu-camu.
Partiu-se de 60 gramas de polpa comercial de camu-camu. Esta foi extraída com metanol
aquoso 70%, em seguida filtrada utilizando-se papel de filtro Whatman n° 6. O resíduo foi re-
extraído mais 2 vezes. O extrato foi rotaevaporado até secagem e em seguida ressuspenso em 10
mL água destilada. Esta alíquota de 10 mL foi passada em coluna contendo 10 g de resina C18
SPE (Solid-Phase Extraction - Supelco®) preparada em seringa de 60 mL. Após a passagem do
extrato, a coluna foi lavada com 60 mL de água e a eluição dos compostos fenólicos foi feita
com 100 mL de metanol seguido de 100 mL de metanol:amônia (99,5:0,5). Após secagem
3 X
30
completa através de rotaevaporação, as amostras foram ressuspendidas em água de acordo com a
dosagem estabelecida (3 g/kg).
3.3.4 Extratos bruto e purificado para experimento em cultura de células
O extrato bruto e frações purificadas em poliamida e coluna de C18, para extração em
fase sólida, de compostos fenólicos foram obtidos a partir da polpa comercial congelada e
utilizados nas doses de 100 µg/mL, 500 µg/mL e 1000 µg/mL para os estudos em cultura de
células. A obtenção dos extratos foi realizada como descrita nos itens 3.3.1 e 3.3.2.
3.4 Atividade biológica do camu-camu
3.4.1 Determinação do efeito do camu-camu em modelo animal de diabetes induzido pela
estreptozotocina
Foram utilizados ratos machos jovens da linhagem Wistar de peso aproximado entre 200 a
300 g. Os animais foram mantidos a 25 ± 2° C e 75% umidade relativa em ciclos alternados de
12 h luz/12 h escuro, com ração padrão (NUVILAB CR 1) e água ad libitum. O protocolo
experimental foi aprovado pelo Comitê de Ética no Uso de Animais da Faculdade de Ciências
Farmacêuticas (Protocolo CEUA/FCF/280). Os animais foram aleatoriamente divididos em 2
grupos: não-diabéticos ou Controle (n = 10) e grupo diabético (n = 27). O diabetes foi induzido
por uma única dose de estreptozotocina (45 mg/Kg; Sigma, EUA) dissolvida em tampão citrato
0,1 M (pH = 4,5) pela via peniana. Os ratos não-diabéticos controle receberam a mesma dose de
tampão citrato. O Diabetes foi confirmado através da determinação da glicose sanguínea 48
horas após a aplicação de estreptozotocina. Os ratos com os níveis de glicose acima de 300
mg/dL foram considerados diabéticos e usados no experimento. Os ratos diabéticos (n = 30)
foram divididos aleatoriamente em três grupos:
Grupo Diabético (n = 10): animais diabéticos controle com dieta normal; este grupo
recebeu somente água, administrada por gavagem, durante 30 dias.
Grupo Extrato I (E I) (n = 10): animais diabéticos com dieta normal receberam extrato
bruto (descrito em 3.3.1) na dose correspondente a 1 g de polpa comercial liofilizada/kg
de peso corpóreo, por gavagem, durante 30 dias.
31
Grupo Extrato II (E II) (n = 10): animais diabéticos com dieta normal receberam
extrato bruto (descrito em 3.3.1) na dose correspondente a 3 g de polpa comercial
liofilizada /kg de peso corpóreo, por gavagem, durante 30 dias.
O consumo de ração e água e o peso corpóreo foram determinados diariamente. Anterior ao
sacrifício, os animais foram mantidos em jejum de 8 h com acesso a água ad libitum. Os animais
foram anestesiados com injeção intraperitoneal da mistura cetamina/xilazina (3:1; Imalgene e
Rompun, respectivamente) e foi realizada punção cardíaca para coleta de sangue em tubos
heparinizados. Para a obtenção de plasma, as amostras foram imediatamente centrifugadas por
10 minutos a 1000 g (4 ºC); o plasma separado foi armazenado a -80 °C até o momento da
análise. Em seguida foram coletados fígado e rins, os quais foram pesados e imediatamente
congelados em nitrogênio líquido e armazenados a -80 °C. Este protocolo foi repetido para
obtenção de dados adicionais em relação às alterações metabólicas nos animais e confirmação de
dados pré-existentes.
Com o intuito de verificar a eficiência da polpa de camu-camu sob os efeitos
fisiopatológicos do diabetes, alguns parâmetros bioquímicos (kits bioquímicos LABTEST®)
foram avaliados, sendo eles hemoglobina glicada, ácido úrico, triacilgliceróis, colesterol HDL e
colesterol total. Além dos parâmetros bioquímicos analisados em plasma, fígado, tecido adiposo
branco e marrom foram retirados e pesados. Para o teste de tolerância à insulina (iTT), realizado
no vigésimo dia do experimento, 1,5 UI/Kg de insulina foi injetada intraperitonealmente nos
animais. Amostras de sangue da cauda foram coletadas nos tempos 0, 15, 30, 45, 60 e 90
minutos após a injeção e a concentração de glicose determinada através de glicosímetro. Para o
teste de tolerância ao triacilglicerol (tTT), os animais receberam, por gavagem, 0,3 mL/kg de
ácido graxos. Alíquotas de 30 µL de sangue da cauda foram coletadas nos tempos 0, 2 e 4 horas
após a administração. As amostras foram centrifugadas e o triacilglicerol foi dosado no soro
através de kit bioquímico (LABTEST®).
3.4.2 Determinação do efeito do camu-camu em modelo animal de caquexia
Foram utilizados ratos machos jovens da linhagem Wistar de peso aproximado entre 160 a
180 g. Os animais foram mantidos a 25 ± 2 °C e 75% umidade relativa em ciclos alternados de
12 h luz/12 h escuro, com ração padrão (NUVILAB CR 1) e água ad libitum. O protocolo
experimental foi aprovado pelo Comitê de Ética no Uso de Animais da Faculdade de Ciências
Farmacêuticas (Protocolo CEUA/FCF/280). Células do tumor de Walker 256 (2 × 107 células)
32
foram injetadas subcutaneamente, no flanco direito traseiro dos animais (SEELAENDER et al.,
1996). Os animais foram aleatoriamente divididos em 4 grupos de ratos caquéticos, sendo um
grupo controle não tratado (n = 12) ou Grupo I e 3 grupos de ratos caquéticos tratados (n = 36).
Estes foram divididos aleatoriamente em três grupos:
Grupo I ou controle (n = 12): animais caquéticos controle com dieta normal; este grupo
recebeu somente água, administrados por gavagem, durante 44 dias.
Grupo Extrato I (E I) (n = 12): animais caquéticos com dieta normal receberam extrato
bruto (descrito em 3.3.1) na dose correspondente a 1 g de polpa comercial liofilizada /kg
de peso corpóreo, por gavagem, durante 44 dias.
Grupo Extrato II (E II) (n = 12): animais caquéticos com dieta normal receberam
extrato bruto (descrito em 3.3.1) na dose correspondente a 3 g de polpa comercial
liofilizada / kg de peso corpóreo, por gavagem, durante 44 dias.
Grupo Extrato Purificado (EP) (n = 12): animais caquéticos com dieta normal
receberam o extrato purificado (descrito em 3.3.2) na dose equivalente a 3 g de polpa
comercial /kg de peso corpóreo, por gavagem, durante 44 dias.
O consumo de ração e o peso corpóreo foram determinados diariamente. Anterior ao
sacrifício, os animais foram mantidos em jejum de 8 h com acesso a água ad libitum. Os animais
foram anestesiados com injeção intraperitoneal da mistura cetamina/xilazina (3:1; Imalgene e
Rompun, respectivamente) e foi realizada punção cardíaca para coleta de sangue em tubos
heparinizados. Para a obtenção de plasma, as amostras foram imediatamente centrifugadas por
10 min a 1000 g (4 ºC); o plasma separado foi armazenado a -80 °C até o momento da análise.
Em seguida foram coletados fígado, tecidos adiposos retroperitoneal, epididimal e mesentérico,
os quais foram pesados e imediatamente congelados em nitrogênio líquido e armazenados a -
80°C.
Com o intuito de verificar o efeito da administração do extrato bruto e fração purificada
da polpa de camu-camu sob a disfunção metabólica gerada pela caquexia induzida pelo tumor de
Walker 256, alguns parâmetros bioquímicos (kits bioquímicos LABTEST®) foram avaliados,
sendo eles, triacilgliceróis, colesterol HDL, colesterol LDL e colesterol total.
3.4.3 Capacidade antioxidante do plasma
A capacidade antioxidante total do plasma dos animais controle e tratados foi avaliada
através do método ORAC (oxygen radical absorbance capacity), conforme descrito no item
3.2.2.5, utilizando-se 100 µL de plasma diluído quando necessário.
33
3.4.4 Determinação de substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBARS)
A determinação de espécies reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBARS) do plasma foi feita
de acordo com o método de Ohkawa et al. (1979), com algumas modificações. Foram tomados
0,1 mL de plasma e, adicionados 0,1 mL de dodecil sulfato de sódio (SDS) 8,1%, 0,75 mL de
solução de ácido acético 20% pH 3,5 (ajustado com hidróxido de sódio), 0,75 mL de ácido
tiobarbitúrico (TBA) 0,8% e 0,3 mL de água deionizada. A mistura reativa foi agitada e então,
aquecida em banho-maria a 95 ºC por 1 h. Após resfriamento em água corrente, 1,4 mL de n-
butanol foi adicionado e agitado vigorosamente em vortex. Em seguida, o material foi
centrifugado a 2000 g por 10 minutos, a camada orgânica (superior) foi removida e sua
absorbância foi medida a 532 nm em espectrofotômetro (Ultrospec 2000, Pharmacia Biotech). O
malonaldeído (MDA) foi usado como padrão externo, e os níveis de peróxidos lipídicos foram
expressos como nmol de MDA/mL de plasma ou mg de proteína.
3.4.5. Atividade das enzimas antioxidantes
A atividade das enzimas antioxidantes foi determinada em plasma e eritrócitos. Após
centrifugação das amostras sanguíneas, os eritrócitos foram lavados três vezes com solução de
cloreto de sódio (NaCl) 0,9%. Em seguida, os eritrócitos foram diluídos em NaCl 0,9% obtendo-
se um hematócrito de 50% (1:1). A atividade da catalase (CAT) (EC 1.11.1.6) foi determinada
espectrofotometricamente segundo Aebi (1984), baseando-se no decaimento da absorbância a
230 nm (230=0,071 mM-1
.cm-1
) devido à decomposição do H2O2. Para a reação foi utilizada uma
alíquota de 15 uL de amostra, diluída quando necessária, e iniciada pela adição de 985 uL de
meio de reação contendo tampão Tris HCl 1 M, água miliQ e peróxido de hidrogênio (H2O2) 30
mM preparado no momento de uso. A atividade CAT foi dada pela variação na absorbância
(A230) por unidade de tempo por mL ou mg de proteína. A atividade da glutationa peroxidase
(GPx) (EC 1.11.1.9) foi determinada segundo a técnica de Lawrence e Burk (1976). A mistura de
reação consistia de tampão fosfato 75 mM com ácido etilenodiamino tetra-acético (EDTA) e
ázida sódica (NaN3) pH 7,0, 10 uL de amostra diluída quando necessário, nicotinamida adenina
dinucleotídeo fosfato (NADPH) 0,1 mM, glutationa (GSH) 4,0 mM, e 1,5 U de glutationa
redutase (GR) em um volume final de 1 mL a 37 °C. A reação foi iniciada pela adição de
hidróxido de terc-butil 0,5 mM. A mudança de absorbância durante a conversão de NADPH a
NADP foi determinada espectrofotometricamente a 340 nm por 3 min. A atividade da GPx foi
expressa como unidade de tempo/mL ou mg de proteína.
34
A atividade da superóxido dismutase (SOD) (EC 1.15.1.1) foi determinada
espectrofotometricamente a 560 nm utilizando-se o método de Durak et al. (1993). Para o meio
de reação foi utilizado tampão fosfato 50 mM, pH 7,8, cianeto de potássio 200 µM, EDTA 1mM,
xantina 500 µM, citocromo C e 15 uL de amostra, diluída quando necessário, em um volume
final de 1 mL. A mistura de reação consistiu em inibição induzida por SOD da redução de nitro
blue tetrazolium, usando um sistema gerador de radical livre de 0,5 nM de xantina e uma
quantidade de xantina oxidase suficiente para produzir uma mudança de absorbância de
0,025/min. A atividade de SOD foi expressa como unidades/mL ou mg de proteína, sendo que 1
unidade corresponde à quantidade de enzima requerida para inibir em 50% a formação de nitrito
em 1 mL de reação em 1 min a 37 ºC .
As concentrações protéicas foram determinadas com o método de Lowry (1976) usando
albumina de soro bovino (Sigma Chemicals Co.) como padrão. A concentração de hemoglobina
foi determinada utilizando o reagente de Drabkin.
3.4.6 Extração de RNAm
O RNA total do fígado foi extraído utilizando-se TRIzol (Invitrogen, Carlsbad, CA,
EUA), baseado no método de Chomczynski e Sacchi (1987), de acordo com o protocolo do
fabricante.
3.4.7 Real-time PCR das enzimas antioxidantes
O cDNA fita simples foi sintetizado a partir do RNA total com os iniciadores
oligonucleotídeos dT15 utilizando-se o kit cDNA synthesis kit (Transcriptor Reverse
Transcriptase, Roche). A análise dos níveis de RNAm para CAT, SOD e GPx foi realizada com
iniciadores desenhados para detectar os produtos dos genes previamente descritos (JONES et al.,
1995; KIM et al., 1993; HO; HOWARD, 1992; NAKASHIMA et al., 1989). Os
oligonucleotídeos para MnSOD foram 5′- CGTGACTTTGGGTCTTTTGAG-3′ e 5′-
GCGTGCTCCCACACATCAAT-3′ (195 pb); para CuZnSOD foram 5′-
AAGGCCGTGTGCGCGCTG AA-3′ e 5′-GTACAGCCT TGTGTATTGTC-3′ (167 pb); para
GPx1, 5′-GAATGGCAAGAATGAAGAGATAG-3′ e 5′-ACAGCAGGGCTTCTATATCG-3′
(333 pb); e para CAT 5′-AATGGCTATGGCTCACCA CA-3′ e 5′-
TCTTCCTGTGCAAGTCTTCC-3′ (135 pb). O PCR em tempo real foi feito utilizando-se o kit
35
comercial LightCycler FastStart DNA Master PLUS SYBR Green I da Roche, em equipamento
ROTOR GENE 3000 (Corbett Research, Mortlake, Austrália). As quantidades relativas dos
RNAm foram calculadas usando-se o método comparativo CT (“Cycle time”) e β-actina (5′-
CCTCTATGCCAACACAGT-3′ e 5′-AGCCACCAATCCACACAG-3′, 155 pb) foi utilizada
como controle.
3.5 Determinação do efeito do camu-camu em modelos in vitro: cultura de células
3.5.1 Cultura de células e tratamentos
Linhagens celulares de músculo esquelético (L6) foram cultivadas em meio Minimum
Essencial Medium Eagle (α-MEM) com 10% de soro fetal bovino (SFB) a 37 °C em incubadoras
umidificados com 5% de CO2 até alcançarem 80% de confluência. Para induzir a diferenciação
de mioblastos para miotúbulos, as células foram cultivadas em α-MEM contendo 2% de SFB por
7 dias. Os tratamentos com o extrato bruto e frações purificadas em poliamida e resina de C18
obtidos da polpa comercial de camu-camu foram realizados utilizando as doses de 100, 500 e
1000 µg/mL por 2 horas em células estimuladas e não-estimuladas com insulina; também foi
utilizando apenas a dose de 500 µg/mL do extrato bruto e frações purificadas em poliamida e
resina de C18 obtidos da polpa comercial de camu-camu 24 horas em células estimuladas com
citocinas (IFN-γ 1 µg/µL e TNF-α 10 ng/mL) e lipopolissacarídeo (LPS) em concentração de 10
µg/mL (KAPUR et al., 1997). Uma solução de vitamina C foi preparada e utilizada em todos os
experimentos para determinar se haveria ou não interferência por parte deste composto, já que o
camu-camu apresenta altas concentrações do mesmo.
Macrófagos J774.1 foram cultivados e mantidos em meio Dulbecco’s Modified Eagle
Medium (DMEM) com 10 % de SFB a 37 °C em incubadoras umidificados com 5% de CO2 até
alcançarem 80 % de confluência. Os tratamentos com o extrato bruto e frações purificadas em
poliamida e resina de C18 obtidos da polpa comercial de camu-camu foram realizados utilizando
apenas a dose de 500 µg/mL por 6 e 24 horas em células estimuladas com lipopolissacarídeo
(LPS) em concentração de 10 µg/mL.
Hepatócitos (FaO) foram plaqueados em placas de 12 poços e mantidos em meio RPMI
1640 com 10 % de SFB a 37 °C em incubadoras umidificados com 5% de CO2 até alcançarem
80 % de confluência. Os tratamentos com o extrato bruto e frações purificadas em poliamida e
36
resina de C18 obtidos da polpa comercial de camu-camu foram realizados utilizando apenas a
dose de 500 µg/mL por 5 horas em células estimuladas ou não com insulina (100 nM).
Fibroblastos embrionários de camundongo (3T3-L1) foram plaqueados em placas de 6
poços e mantidos com meio DMEM adicionado de 10% de SFB e 100 unidades/mL de
penicilina/estreptomicina a 37 °C em incubadoras umidificados com 5% de CO2 até alcançarem
80 % de confluência. A diferenciação foi induzida por agentes adipogênicos adicionados ao
meio: dexametasona 1 µM, IBMX (3-isobutil-1-metilxantina) 0,5 mM e rosiglitazona 5 µM e as
células incubadas por 2 dias. O meio foi trocado a cada 2 dias, adicionando meio DMEM mais
insulina por 10 dias (final do protocolo). Os tratamentos com o extrato bruto e frações
purificadas em poliamida e resina de C18 obtidos da polpa comercial de camu-camu foram
realizados utilizando apenas a dose de 500 µg/mL por 6 horas em células estimuladas com
lipopolissacarídeo (LPS) em concentração de 10 µg/mL.
3.5.2 Transporte de glicose em miócitos (L6)
Após os tratamentos com os extratos obtidos da polpa comercial de camu-camu, as
células L6 foram lavadas vez com solução salina tamponada com Hepes livre de glicose, pH 7,4
(140 mM NaCl, 20 mM Hepes/Na, 5 mM KCl, 2±5 mM MgSO4 e 1 mM CaCl2), e foram
incubadas por 8 minutos com 10 µM de 2-deoxi-D-glicose, contendo 0.3 µCi/mL de 2-deoxi-d-
[3H] glicose no mesmo tampão. Imediatamente após a incubação, o meio utilizado no ensaio de
transporte foi descartado, as células foram lavadas com solução salina gelada, e então rompidas
através da adição da solução de lise (NaOH 0,05N). A radioatividade associada às células foi
determinada por contador de cintilação beta. A concentração de proteínas foi determinada pelo
método do ácido bicinconínico (Kit Pierce) e os resultados expressos em pmol/min/mg de
proteína.
3.5.3 Determinação da concentração de NO em miócitos (L6) e macrófagos (J774.1)
Após os tratamentos com os extratos obtidos da polpa comercial de camu-camu, o nitrito
acumulado no meio foi usado como índice na produção de óxido nítrico (NO). O nitrito foi
determinado espectrofotomicamente pela adição do reagente de Griess ao meio de incubação: 1
% (m/v) sulfanilamida, 0,1 % (m/v) N-(1-naphthyl) ethylenediamine dihydrochloride. A
37
concentração de proteínas foi determinada pelo método do ácido bicinconinico (Kit Pierce). A
leitura das amostras foi realizada a 540 nm e os resultados expressos em µmol/g de proteína.
3.5.4 Determinação da produção hepática de glicose (FaO)
As células foram semeadas em placas de 12 poços (4 X 106/por placa). Após dois dias de
crescimento, foi adicionado meio sem SFB com ou sem insulina (100 nM) e mantido overnight.
Para o ensaio de glicose, foi utilizado meio HGP (meio DMEM sem glicose, 3,7 g de
bicarbonato de sódio, 20 mL de piruvato de sódio 100 mM, 2,24 g de L-lactato de sódio e pH
ajustado para 7,3). No dia seguinte, as células foram lavadas 3 vezes com meio HGP. Em
seguida, foram adicionados 300 µL de meio HGP em cada poço, juntamente com a insulina e os
extratos de camu-camu. As placas foram incubadas por 5 horas em atmosfera de 5% CO2, a 37
oC. Após 5 horas, o meio foi coletado para dosagem de glicose. A concentração de proteínas foi
determinada pelo método do ácido bicinconínico (Kit Pierce) e os resultados expressos em µM
de glicose/ mg de proteína.
3.5.5 Determinação da expressão gênica de citocinas em adipócitos (3T3.1)
Após os tratamentos com os extratos obtidos da polpa comercial de camu-camu, as
células foram removidas pela adição de tampão de lise. O RNA total das células foi extraído
utilizando-se kit RNeasy® (QIAgen), de acordo com o protocolo do fabricante. O cDNA fita
simples foi sintetizado a partir do RNA total utilizando-se o kit cDNA synthesis kit
(Invitrogen®). A quantificação do mRNA foi feita por absorbância a 260 nm (NanoDrop 2000,
Thermo Scientific). Os oligonucleotídeos utilizados foram leptina (5’-
CCAGGATGACACCAAAACCC-3’sense; 5’-TCCAACTGTTGAAGAATGTCC-3’ antisense),
adiponectina (5’-CATGACCAGGAAACCACGACT-3’ sense; 5’-TGAATGCTGAGCGGTAT-
3’ antisense), IL-6 (5’-AACGATGATGCACTTGCAGA-3’ sense; 5’-
GAGCATTGGAAATTGGGGTA-3’ antisense), iNOS (5’-TGGAACCACTCGTACTTGGGA-
3’ sense; 5’-CAAGAGTTTGACCAGAGGACC-3’ antisense), IL-10 (5’-
GGTGAAGAATGCCTTTAATAAGCTCC-3’ sense; 5’-
TTTCGTATCTTCATTGTCATGTAGGC-3’ antisense) e IL-1β (5’-
ATGGCCCTAAACAGATGAAGTGC-3’ sense; 5’-GAAGGGAAAGAAGGTGCTCAGG-3’
antisense). O PCR em tempo real foi feito utilizando-se o kit comercial SYBR Green
38
Quantitative RT-PCR (Sigma-Aldrich) em equipamento ROTOR-GENE 6000 (QIAgen/Corbett
Research, Mortlake, Austrália). As quantidades relativas dos RNAm foram calculadas usando-se
o método comparativo CT (“Cycle time”) e 36b4 (5′- GCGACCTGGAAGTCCAACTAC-3′
sense; 5′- ATCTGCTGCATCTGCTTGG-3′ antisense) foi utilizada como controle.
39
4. ANÁLISE DOS RESULTADOS
Os resultados referentes aos conteúdos de ácido elágico, fenólicos totais, flavonóides e
vitamina C foram analisados através da comparação das médias e desvios-padrões dos valores
obtidos para as triplicatas de extração e duplicatas de injeção no CLAE de cada uma delas.
Para a análise estatística dos resultados, tanto dos experimentos in vivo como in vitro, foi
utilizado o programa GraphPad Prism v.5.00.288 para Windows (GraphPad Software, San
Diego, CA, E.U.A). A comparação das médias foi realizada por análise de variância (ANOVA)
seguido pelo teste Newman-Keuls (p<0,05).
40
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1. Caracterização química do camu-camu
Um estudo recente avaliou a capacidade antioxidante de 10 frutas tropicais não
tradicionais encontradas na flora brasileira, sendo cinco destas frutas da família Myrtaceae,
incluindo o camu-camu. Os autores demonstraram que frutas nativas inexploradas do Brasil
podem apresentar nutrientes capazes de prevenir doenças degenerativas e são de interesse para a
agroindústria como possível fonte de renda para populações locais (RUFINO et al., 2010).
O camu-camu, em função do seu alto conteúdo de vitamina C, é um fruto com potencial
econômico na forma de produto exportável para o mercado de produtos naturais. A região
amazônica já é considerada grande produtora e exportadora de camu-camu, dada sua importância
econômica, além de outras frutas típicas da região. A demanda mundial é atendida pelo Peru, que
exportou 160 toneladas em 2004-2005 (BARDALES et al., 2008), onde incentivos do governo
resultaram em aumento significativo na produção da fruta (RODRIGUES et al., 2001).
O consumo e comércio de camu-camu no Brasil ainda são restritos. A fruta é encontrada
apenas em época de colheita, entre novembro e maio, e a polpa de fruta comercial congelada é
produzida na região norte do país. Por esta razão, fruta e polpa comercial foram analisadas e
comparadas em relação à composição química, e para a continuação dos estudos in vivo buscou-
se um produto comercialmente disponível e homogêneo. A polpa comercial de camu-camu foi
fornecida por um produtor da região amazônica (CUPUAMA®) e a fruta in natura, cultivada no
Estado de São Paulo, foi adquirida no CEAGESP (Figura 4).
A B
Figura 4. Polpa comercial de camu-camu (A) e fruta in natura (B).
41
A Tabela 2 apresenta a composição centesimal tanto para fruta quanto para polpa
comercial. Os teores de lipídios e fibras totais foram relativamente maiores para a fruta do que
para a polpa comercial, já que a fruta foi analisada por inteiro, sem a separação da casca. A
importância das fibras na saúde está bem estabelecida e relacionada a uma melhora das funções
gastrointestinais como motilidade, síndrome do intestino irritável, doença de Cröhn, além de
saciedade e efeitos prebióticos. É importante ressaltar que alguns compostos fenólicos podem
estar associados à parede celular, principalmente os taninos, sendo estes liberados da matriz
através da ação fisiológica de enzimas bacterianas presentes no cólon (SAURA-CALIXTO,
2011).
Tabela 2. Composição centesimal e teor de vitamina C da fruta e polpa comercial de camu-camu.
Composição % Polpa comercial Fruta
Umidade 92 ± 2a 89 ± 1
a
Cinzas 0,19 ± 0,01a 0,25 ± 0,05
b
Proteína 0,45 ± 0,01a 0,53 ± 0,01
b
Lipídeos 0,66 ± 0,01a 2,6 ± 0,1
b
Fibras
Solúveis 0,43 ± 0,01a 1,04 ± 0,06
b
Insolúveis 0,97 ± 0,02a 2,05 ± 0,15
a
Carboidratos totais* 6,7 ± 0,8a 7,6 ± 0,4
a
Vitamina C (mg/ 100 g b.s.) 1889 68a 2322 59
b
*calculado por diferença; Resultados expressos como média ± desvio-padrão (triplicata). Médias das amostras com
letras diferentes são significativamente diferentes (p < 0,05).
O conteúdo de vitamina C da fruta camu-camu foi maior do que o da polpa comercial. É
importante ressaltar que o processamento de frutas para obtenção de polpas comerciais pode
acarretar em degradação deste composto. Ainda assim, os teores de vitamina C relatados neste estudo
são similares a outros estudos, que reportaram teores de ácido ascórbico em camu-camu, variando
desde 1,4 g/100 g a 6,1g/100 g de fruta (MAEDA et al., 2007; YUYAMA et al., 2002).
No que se refere aos teores de elementos minerais da fruta e polpa comercial de camu-
camu, poucas informações são disponíveis. As condições de crescimento como o tipo de solo,
local de origem e as condições climáticas como abundância de chuva e sol, podem influenciar a
composição mineral de frutas e vegetais. Neste trabalho, foram determinados os minerais N, P,
K, Ca, Mg, S, B, Zn Fe, Mn, Cu, Na e Se nas amostras de fruta e polpa comercial (Tabela 3). Os
minerais detectados em maior quantidade foram potássio na polpa comercial e nitrogênio na
fruta. As diferenças encontradas nos teores de minerais podem estar relacionadas com a origem
das amostras. Contudo, ambas apresentaram quantidades similares de fósforo, cálcio, magnésio e
enxofre.
42
Com os resultados obtidos, foi possível calcular as contribuições percentuais dos minerais
mais importantes da dieta nas amostras de camu-camu analisadas em relação à Ingestão Diária
Recomendada (IDR) para um adulto (BRASIL, 2005). Para Na e K foram usados os valores de
Recommended Dietary Allowance (RDA) de 500 e 2000 mg para Na e K, respectivamente
(BERDANIER, 1998). As amostras foram classificadas de acordo com a definição da FDA
(Food and Drug Administration) em “excelentes” ou “boas” fontes de nutrientes quando uma
porção ingerida da fruta pode suprir pelo menos 20 e 10-20% da IDR, respectivamente
(MILLER-IHLI, 1996).
Tabela 3. Teores de elementos minerais e valores de ingestão diária recomendada (IDR) de minerais
(mg/dia ou μg/dia) para adultos e contribuição mineral para IDR (%) em relação a 100 g de amostra.
Minerais
(mg/100 g)
b.u.
Polpa
comercial
IDR (%) em
relação a uma
porção de 100 g
de amostra
Fruta
IDR (%) em
relação a uma
porção de 100 g
de amostra
IDR
N 68,8 - 146,3 - -
P 12 1,7 15,4 2,2 700 mg
K 151,2 7,6 123,2 6,1 2000 mg
Ca 4 0,4 5,5 0,5 1000 mg
Mg 7,2 2,7 8,8 3,4 260 mg
S 8,8 - 12,1 - -
B 0,03 - 0,01 - -
Zn 0,28 4 0,23 3,3 7 mg
Fe 0,71 5 0,47 3,3 14 mg
Mn 0,35 15,2 0,39 16,9 2,3 mg
Cu 0,11 12,2 0,09 10 900 µg
Na 0,70 0,14 0,01 0,002 500 mg
Se < LQ - <LQ - 34 µg LQ – Limite de quantificação: Se – 0,002 mg/kg
De modo geral, as amostras de camu-camu mostraram baixas concentrações dos
macrominerais Na e Ca. Dentre os macrominerais analisados, K foi o mais abundante tanto para
polpa comercial quanto para fruta. Entretanto, nenhum macromineral foi suficiente para suprir o
mínimo de 10% da IDR em 100 g de porção comestível.
Os micronutrientes Mn e Cu foram encontrados em maior teor tanto para polpa comercial
quanto para fruta e as concentrações encontradas suprem mais de 10 % da IDR, sendo, portanto,
essa uma boa fonte destes minerais. Os teores de B, Fe e Zn foram considerados baixos e não foi
detectado Se em ambas as amostras.
43
Akter et al. (2011) compilaram dados sobre a composição centesimal de camu-camu de
diferentes regiões. Apenas os teores de Fe, Zn e Cu foram semelhantes aos relatados neste
trabalho, mostrando que os diferentes tipos de solo, época de colheita e condições geográficas
podem alterar a composição química da fruta.
Os resultados da capacidade antioxidante das amostras de camu-camu estão expostos na
Tabela 4. A polpa comercial de camu-camu apresentou maior capacidade antioxidante quando
comparada com a fruta. Em trabalhos anteriores realizados em nosso laboratório, a fruta camu-
camu já havia se destacado em relação a outras frutas também da família Myrtaceae e apresentou
resultados semelhantes aos aqui obtidos (GONÇALVES et al., 2010; GENOVESE et al., 2008).
Chirinos et al. (2010) avaliaram a capacidade antioxidante do camu-camu peruano em 3
diferentes estágios de maturação. Os autores concluíram que o teor de fenólicos bem como a
capacidade antioxidante aumentam com o amadurecimento. O camu-camu em estágio maduro
apresentou valor de fenólicos totais duas vezes maior ao encontrados neste trabalho e valores de
DPPH semelhantes.
Tabela 4. Capacidade antioxidante da polpa comercial de camu-camu e da fruta determinada através do
método de capacidade redutora do Folin-Ciocalteu (mg equivalentes de catequina/g amostra b.s.),
sequestro de radicais livres DPPH (µmoles equivalentes de trolox/g amostra b.s.), capacidade de absorção
de radicais de oxigênio - ORAC (µmoles equivalentes de trolox/g amostra b.s.) e capacidade antioxidante
por redução do ferro- FRAP (µmoles equivalentes de trolox/g de amostra b.s.).
Polpa comercial Fruta
FC 317 ± 12a 199 ± 19
b
FT 249 ± 14a 156 ± 8
b
DPPH 1679 ± 75a 1159 ± 38
b
ORAC 1002 ± 27a 811 ± 12
b
FRAP 69 ± 2a 60 ± 5
a
FC = Capacidade redutora do Folin-Ciocalteu; FT = Teor de fenólicos totais. O teor de fenólicos totais foi
determinado descontando a participação da vitamina C. Resultados expressos como média ± desvio-padrão
(triplicata). Médias na mesma coluna com letras diferentes são significativamente diferentes (p<0,05).
O método de capacidade redutora do Folin-Ciocalteu não fornece valores exatos do teor
de fenólicos, já que compostos com ação redutora, como o ácido ascórbico, são considerados
interferentes (HUANG et al., 2005). Esse fato foi também observado em outro estudo realizado
por GENOVESE et al. (2003), que verificaram que concentrações de ácido ascórbico acima de 5
µM em extratos vegetais interferem na quantificação de fenólicos totais. Por isso, através de uma
curva padrão de ácido ascórbico foi possível estimar apenas a o teor de fenólicos (FT),
desconsiderando a vitamina C (FC).
44
Frutas da família Myrtaceae também foram analisadas em relação ao conteúdo de
compostos fenólicos através do método de Folin Ciocalteu e sua relação com a capacidade
antioxidante. Além do camu-camu, outras seis frutas foram consideradas ricas em compostos
fenólicos e apresentaram alta capacidade antioxidante (REYNERTSON et al., 2008).
Myoda et al. (2010) mostraram que a semente e a casca de camu-camu apresentaram
teores de compostos fenólicos muito maiores do que os resíduos de acerola, abacaxi e algumas
espécies de maracujá.
Ou et al. (2001) determinaram a capacidade antioxidante de 927 amostras de vegetais e
correlacionaram os métodos de ORAC e FRAP. Em resumo, foi concluído que os resultados
obtidos pelo método de ORAC são mais representativos, pois este método reflete o sequestro do
radical peroxil pelas amostras analisadas. Em contraste, o método do FRAP estima apenas
atividade redutora do Fe (III), o que não seria relevante em modelos fisiológicos.
Muitos estudos têm mostrado a capacidade antioxidante de compostos fenólicos in vitro,
a qual já está bem estabelecida. Contudo, deve-se enfatizar que a eficiência de um composto
antioxidante in vivo não deve ser estimada somente pela capacidade antioxidante plasmática.
Espera-se que os efeitos dos compostos fenólicos in vivo sejam menores devido às baixas
concentrações plasmáticas e a extensiva biotransformação (LOTITO; FREI, 2006).
As duas amostras de camu-camu também foram analisadas em relação aos teores de
flavonóides e ácido elágico livre e total por Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE), e
os resultados estão representados na Tabela 5.
Tabela 5. Composição e teor de flavonóides, ácido elágico livre e total (mg/100 g de amostra b.s.) e
proantocianidinas (mg equivalente de procianidina B2/100 g de amostra b.s.) da polpa comercial e fruta
camu-camu.
Polpa comercial Fruta
Ácido elágico livre 50 9 25 1
Ácido elágico total 737 18 624 14
Flavonóis
Derivados de quercetina* 51 3 10 1
Rutina 37 8 23 2
Antocianinas
Cianidina n.d. 283 13
Proantocianidinas 324 ± 6 1150 ± 30
n.d. não detectado. * outros que não a rutina
Os flavonóides são normalmente encontrados como derivados glicosilados. Neste estudo,
os teores de ácido elágico e quercetina foram expressos em concentração equivalente à das
45
respectivas agliconas. Os flavonóides identificados foram derivados de quercetina incluindo a
rutina. Apenas a fruta apresentou cianidina, presente na casca. O perfil de compostos fenólicos
de ambas as amostras foi similar, contudo a polpa comercial de camu-camu apresentou teores
maiores de ácido elágico e flavonóides (Figura 5 e 6).
Pinto et al. (2008) analisaram seis cultivares de morango consumidos no Brasil quanto ao
teor de flavonóides e ácido elágico total. O ácido elágico está presente nas plantas juntamente
com os elagitaninos (ETs). A polpa comercial de camu-camu apresentou teores de flavonóides e
ácido elágico total duas vezes maiores do que os encontrados para o cultivar de morango Dover.
A fruta camu-camu apresentou teores de flavonóides e ácido elágico total similares aos dos
outros cultivares de morango. O ácido elágico total é determinado através da hidrólise ácida dos
ETs, e quantificado por CLAE.
Com o intuito de determinar o teor de proantocianidinas (PACs), foi utilizado o método
do DMAC, um método colorimétrico aparentemente mais sensível do que os comumente
utilizados, desenvolvido por Prior et al. (2010). As possibilidades de interferências com
componentes das amostras, como as antocianinas, também são menores, já que as leituras são
feitas em 640 nm. A fruta camu-camu apresentou maior teor de PACs quando comparada com a
polpa comercial. Isto se deve principalmente devido à grande quantidade de taninos presentes na
casca. Wang et al. (2011) analisaram 6 tipos de frutas vermelhas, comumente consumidas na
América do Norte, e reconhecidas pelo alto conteúdo de antocianinas. Os teores de PACs
determinados para morango, blueberry e cranberry foram de 5 a 6 vezes maiores do que os
valores encontrados para a fruta camu-camu. As uvas apresentaram teores 10 vezes maiores de
proantocianidinas, já que a casca e a semente são ricas nestes compostos.
46
A
B
Figura 5. Perfil cromatográfico dos flavonóides da polpa comercial de camu-camu, detectados a 270 nm;
(A) eluato de flavonóides neutros e (B) eluato de flavonóides ácidos e derivados de ácido elágico.
47
A
B
Figura 6. Perfil cromatográfico dos flavonóides da fruta camu-camu, detectados a 270 nm; (A) eluato de
flavonóides neutros e derivados de ácido elágico (B) eluato de flavonóides ácidos e derivados de ácido
elágico.
48
Tanto a fruta quanto a polpa comercial de camu-camu também foram caracterizadas em
relação às PACs e os cromatogramas estão apresentados na Figura 7. Os perfis de PACs para as
duas amostras foram similares, e foram identificados dímeros, trímeros, tetrâmeros, e grande
quantidade de polímeros. Estes dados são relevantes, já que até dímeros são absorvidos.
As PACs são polímeros de flavan-3 óis e são mais abundantemente encontradas em vinho
tinto, semente de cacau, sementes de uva e chá verde. Assim como os ETs, as PAC também não
são absorvidas e sofrem metabolização pela microbiota intestinal. Por isso, são capazes de
neutralizar oxidantes, se complexarem com proteínas e amido e formarem complexos menos
digeríveis e ainda inibir a atividade da lipase gastrointestinal (SERRANO et al., 2009).
Serra et al. (2009) analisaram, por espectrometria de massa, plasma de ratos obtidos duas
horas após a ingestão de 1 g/kg procianidina de semente. Os principais metabólitos detectados
foram catequina e epicatequina glicuronídeo, catequina e epicatequina metilglicuronídeo e
catequina e epicatequina metilsulfato, todos em níveis de micromolar.
Os estudos epidemiológicos mostram que alimentos ricos em PACs apresentam efeitos
benéficos contra doenças cardiovasculares. Estudos in vivo e in vitro demonstraram que a
absorção intestinal de lipídeos, secreção de quilomícrons pelo intestino e secreção de VLDL no
fígado são reprimidos pela ação das PACs, levando à redução da hiperlipidemia (QUESADA et
al., 2011; BLADÉ et al., 2010, SCHROETER et al., 2006).
49
A
B
Figura 7. Perfil cromatográfico das proantocianidinas da fruta (A) e polpa comercial de camu-camu (B),
detectados a 276 nm de excitação e 316 nm de emissão.
50
A detecção de derivados de ácido elágico na fruta e polpa comercial de camu-camu
indicou a presença de ETs nas amostras. Isto foi confirmado através de hidrólise ácida das
amostras, resultando em aumento dos teores de ácido elágico livre, este quantificado como ácido
elágico total. Até então, não há relatos sobre a identificação de ETs em camu-camu. Por isso, na
tentativa de elucidar estruturalmente os ETs, a determinação destes compostos foi realizada a
260 nm por CLAE associada à espectrometria de massas e os cromatogramas estão apresentados
em seguida (Figura 8). O extrato de camu-camu, extraído com acetona aquosa 80%, foi
purificado em coluna Sephadex® LH-20. A Tabela 6 apresenta o perfil de ETs encontrados na
fruta e polpa comercial de camu-camu.
Tabela 6. Identificação dos elagitaninos encontrados na fruta e polpa comercial de camu-camu.
Fruta
Pico TR Íons característicos (MS) Composto
1 4,05 1401; 1065; 934; 532; 466 Elagitanino desconhecido
2 4,38 783 Ácido hidroxidifênico glicose /Sanguiína
H-10/ pedunculagina
3 4,77 1401; 1245; 980; 933; 539; 466 Lambertianina C
4 5,26 1086; 915; 542; 457 Elagitanino desconhecido
x’ 5,30 1069; 783; 610; 479; 391 Composto desconhecido
5 6,08 935; 691; 511; 493; 467; 447; 335 Casuarictina
6 7,25 1235; 935; 469 Sanguiina H-6
7 8,12 603; 449; 301 Derivado de ácido elágico
8 8,21 899; 449 Derivado de ácido elágico
9 8,90 433 Ácido elágico pentose
Polpa comercial
Pico TR Íons característicos (MS) Composto
x 2,86 969; 619; 339 Composto desconhecido
1 4,05 1401; 1065; 934; 532; 466 Elagitanino desconhecido
2 4,39 783
Ácido hidroxidifênico glicose /Sanguiína
H-10/ pedunculagina
3 4,77 1401; 1245; 980; 933; 539; 466 Lambertianina C
4 5,26 1086; 915; 542; 457 Elagitanino desconhecido
x’ 5,30 1069; 783; 610; 479; 391 Composto desconhecido
y 5,39 1205; 835; 417 Composto desconhecido
5 6,04 935; 691; 511; 493; 467; 447; 335 Casuarictina
6 7,24 1235; 935; 469 Sanguiina H-6
w 7,47 960; 479 Composto desconhecido
z 7,71 896; 447 Composto desconhecido
7 8,12 603; 449; 301 Derivado de ácido elágico
8 8,21 899; 449 Derivado de ácido elágico
9 8,89 433 Ácido elágico pentose
10 11,28 781; 735; 301 Ácido hexahidroxidifênico digaloilglicose TR, tempo de retenção; MS – espectro de massas. Massas em negrito representam o íon mais abudante
51
Uma vez que os padrões destes compostos ainda não estão disponíveis comercialmente,
os ETs foram tentativamente elucidados através da comparação entre massas já identificadas
para frutas como morango, uva, framboesa, romã e blueberry, fontes conhecidas de ETs.
Pode-se observar que a fruta e polpa comercial de camu-camu apresentaram perfil de
elagitaninos muito semelhantes, com exceção de alguns compostos desconhecidos presentes na
polpa comercial. O pico 1 (TR: 4,05; [M-H]-
466) apresentou massa similar ao descrito previamente
por Hanhineva et al. (2008) como elagitanino desconhecido, presente em flor de morango. O pico
2 (TR: 4,38; [M-H]-
783) não foi totalmente esclarecido por falta de dados nas análises, já que a massa
obtida pode ser tentativamente identificada como isômero de sanguiina H-10 (GASPEROTTI et al.,
2010), isômero de pedunculagina e isômeros de ácido hexahidroxidifênico glicose (HAGER et al.,
2008). O pico 3 (TR: 4,77; [M-H]-
933) foi tentativamente identificado como lambertianina C, já
identificado em amoras por Gasperotti et al.(2010) e Hager et al.(2008). O pico 4 (TR: 5,26; [M-
H]-
542) apresentou massa similar ao descrito previamente por Hanhineva et al. (2008) como
elagitanino desconhecido, presente em flores de morango. O pico 5 (TR: 6,04; [M-H]-
935) foi
tentativamente identificado como casuarictina, já identificado por Hanhineva et al. (2008) em
flores de morango e por Kähkönen et al. (2012), em cloudberry, uma fruta da família Rubus. O
pico 6 (TR: 7,25; [M-H]-
935) foi tentativamente identificado como sanguiína H-6, assim como
descrito por Hager et al.(2008), em amostras de amora. Os picos 7 e 8 (TR: 8,12 e 8,21; [M-H]-
301 e 449) foram tentativamente identificados como derivados de ácido elágico (HANHINEVA et
al., 2008; AABY et al., 2012). O pico 9 foi tentativamente identificado como ácido elágico
pentose, assim como identificado em suco de romã (FISCHER et al., 2011) e uva (SANDHU;
GU, 2010). Os picos x, x’, y, z e w não puderam ser identificados, já que ainda não foram
descritos compostos com as massas observadas.
Os ETs são polifenóis abundantes e foram reportados principalmente em frutas da família
Rosaceae como morangos, cranberry, blueberry e amora silvestres, além de nozes e amêndoas e
algumas sementes (KÄHKÖNEN et al., 2001). Kähkönen et al. (2012) reportaram que
elagitaninos de frutas da família Rubus, incluindo sanguiina H-6, sanguiina H-10 e lambertianina
C também apresentaram atividade como sequestrante de radicais e como antioxidantes na
oxidação lipídica em emulsões.
A hidrólise dos ETs com ácido ou base gera o ácido hexahidróxidifênico (HHDP), o qual
espontaneamente se lactoniza a ácido elágico (DANIEL et al., 1989). Os ETs e o ácido elágico
são metabolizados pela microbiota intestinal de diferentes mamíferos, incluindo ratos, porcos e
humanos. Em todos estes organismos, tanto o ácido elágico quanto os ETs produzem
dibenzopiranonas conhecidas como urolitina A (3,8-dihidroxi-6H-dibenzopiran-6-ona) e seu
52
análogo monohidroxilado conhecido como urolitina B (3-hidroxi-6H-dibenzopiran-6-ona)
(CERDÁ et al., 2005).
A
B
Figura 8. Perfil cromatográfico de elagitaninos da polpa comercial (A) e fruta camu-camu (B),
detectados a 260 nm.
Glicuronídeos e metil glicuronídeos de ácido elágico e particularmente derivados de
urolitinas A e C foram detectados na bile, confirmando a participação da circulação
enterohepática no processo de metabolização. As urolitinas A, B e ácido elágico
dimetilglicuronídeo também foram detectados em plasma (ESPÍN et al., 2007).
53
Gonzáles-Sarrías et al. (2010) encontraram recentemente que as urolitinas alcançam a
próstata após consumo de alimentos ricos em ETs. O principal metabólito detectado foi a
urolitina A glicuronídeo (até 2 ng/g de tecido), além de traços de urolitina B glicuronídeo e ácido
elágico metiléter.
Embora a presença de ETs e ácido elágico na circulação sanguínea seja quase inexistente,
as urolitinas podem alcançar concentrações em nível de micromolar. Tecidos de camundongos
tratados com elagitaninos revelaram que os principais locais de deposição tecidual das urolitinas
são próstata, intestino e cólon (SEERAM et al., 2007).
Em relação à atividade biológica, as urolitinas se mostraram com menor poder
antioxidante quando comparadas com os ETs. Contudo, em estudos com células cancerígenas, as
urolitinas foram capazes de inibir a proliferação celular e modular processos celulares
importantes associados ao desenvolvimento de câncer como a sinalização MAPK in vitro
(GONZÁLEZ-SARRÍAS et al., 2009; LARROSA et al., 2006).
Em resumo, fruta e polpa comercial de camu-camu se mostraram fontes de flavonóides,
proantocianidinas e elagitaninos, compostos com atividade biológica já conhecida. A polpa
comercial congelada de camu-camu, por apresentar capacidade antioxidante maior do que a da
fruta e alto teor de vitamina C e ser uma excelente fonte de flavonóides e de ácido elágico e seus
derivados, foi selecionada para dar continuidade em nossos estudos sobre o status antioxidante in
vivo e em ensaios in vitro. Além disso, por ser proveniente diretamente da região amazônica a
polpa de fruta já está disponível comercialmente. As doses utilizadas neste estudo foram
baseadas na quantidade de vitamina C e compostos fenólicos ingeridos por uma pessoa de 70 kg
ao tomar um copo de suco de camu-camu. A Figura 9 mostra a quantidade de compostos
fenólicos e vitamina C presentes nas doses de 1 g/Kg e 3 g/Kg de peso corpóreo.
Figura 9. Teor de compostos fenólicos e vitamina C presentes nas duas doses utilizadas nos estudos in
vivo.
54
5.2 Atividade biológica do camu-camu
5.2.1 Efeito do camu-camu em modelo animal de diabetes induzido pela estreptozotocina
O uso de agentes químicos para induzir o diabetes permite realizar estudos detalhados de
eventos bioquímicos e morfológicos que ocorrem durante a manifestação da doença. Estes
agentes químicos são substâncias com citotoxicidade específica, que destroem as células beta-
pancreáticas causando a deficiência primária de insulina; outras substâncias podem ainda atuar
sobre as células beta-pancreáticas sem destruí-las (RERUP, 1970).
Os dois agentes mais utilizados são aloxano e estreptozotocina. Ambos são considerados
diabetogênicos e específicos para as células beta-pancreáticas, embora apresentem diferentes
vias de ação (LENZEN, 2008).
A estreptozotocina é um agente antimicrobiano e também usado como quimioterápico
alquilante. Ela é transportada para dentro da célula beta-pancreática através do GLUT2, um
transportador de glicose presente na membrana celular, levando à morte da célula por
fragmentação do DNA. Além disso, existe um aumento na produção de espécies reativas de
oxigênio, resultando em dano tecidual e peroxidação lipídica (SZKUDELSKI, 2001).
Neste estudo, foi utilizada uma única dose de estreptozotocina (45 mg/Kg) para indução
do diabetes e posteriormente os animais foram tratados com os extratos de camu-camu para
verificar possíveis efeitos protetores sobre alterações fisiológicas causadas pelo diabetes.
Foram administrados a ratos machos Wistar, por um período de 30 dias, 1 e 3 g/kg/dia de
extrato correspondente a polpa comercial de camu-camu liofilizada, cujas doses forneceram a
cada animal, com peso médio de 250 gramas, 2,19 mg e 6,57 mg, respectivamente, de
compostos fenólicos por dia. A média diária de ingestão de polifenóis na dieta humana pode
variar de 1,4 mg a 28,5 mg/kg (CLIFFORD, 2004; ARABBI et al., 2004). As doses aqui
utilizadas (8,7 e 26,2 mg de fenólicos/kg/dia) estariam, portanto, nessa faixa. Além disso, as
doses forneciam 4,72 mg e 14,17 mg de vitamina C por dia, respectivamente. Em relação à
vitamina C, já foi constatado que o organismo humano saudável é capaz de absorver entre 60 e
100 mg/dia e o excesso é excretado através da urina (PADAYATTY et al., 2003).
A Figura 10 mostra o efeito da administração das duas doses de extratos de camu-camu
sobre o peso corpóreo, consumo diário de água e ração durante 30 dias de tratamento. O
diabetes acarreta em drásticas mudanças no peso corpóreo possivelmente devido a uma
degradação excessiva de proteínas estruturais e hidrólise de triacilgliceróis causados pela falta de
insulina (SEKAR et al., 2005; AL-SHAMANOY et al., 1994). Os extratos de camu-camu foram
55
eficientes em reduzir significativamente o consumo de água e ração dos grupos tratados, sendo
estes mais proeminentes na dose de 3 g/kg de peso corpóreo, quando comparados com o grupo
diabético.
Não houve diferença significativa no ganho de peso entre os animais diabéticos e tratados
com camu-camu. O extrato de camu-camu não foi capaz de reduzir a glicemia plasmática nos
animais diabéticos (Figura 10 C-D).
Consumo de água
Contr
ole D E IE II
0
50
100
150
200
250 bc*
a***
d**
mL
/dia
/rato
Consumo de ração
Contr
ole D E I
E II
0
20
40
60
80
b
c*b,c
a***
g/d
ia/r
ato
A B
C
D
1 5 16 20 25 30
0
200
400
600CTL
DB
EI
EII
Glicemia
Dias
mg
/dL
Ganho de peso
0 10 20 30 40
200
300
400
Controle
D
EI
EII
Dias
Peso
(g
)
Figura 10. Efeito dos extratos de camu-camu sobre consumo diário de água (A), ração (B), glicemia (C) e
o peso corpóreo (D). Os valores são expressos como média ± desvio-padrão (n=10/grupo). Colunas com
letras distintas diferem estatisticamente (* p < 0,05, ** p < 0,01, *** p < 0,001). Grupos Controle, D
(diabéticos), E I (1 g/kg peso corpóreo) e E II (3 g/kg peso corpóreo).
56
Outras características notáveis do diabetes são poliúria, compreendida como aumento do
volume urinário eliminado por dia, gerada devido ao excesso de glicose circulante e consequente
diurese osmótica; polidipsia, compreendida como aumento da atividade do centro da sede devido
à hiperosmolaridade extracelular; e polifagia, à hiperativação dos centros da fome e ausência da
ação da insulina sobre os centros da saciedade (GUYNTON; HALL, 2006).
Os modelos animais de diabetes são caracterizados pelo alto estresse oxidativo e
hiperglicemia crônica e persistente, o qual acarreta em dano no sistema antioxidante de defesa
promovendo a geração de radicais livres (LENZEN, 2008). A Figura 11 mostra o efeito dos
extratos de camu-camu sobre a glicose plasmática, a insulina plasmática, a glicosúria e teste de
tolerância à insulina.
Contr
ole D EI
EII
0
200
400
600 **
mg
/dL
Contr
ole D EI
EII
0
1
2
3
Insu
lin
a (
ng
/mL
)
Contr
ole D EII
0
5000
10000
15000
Gli
co
sú
ria (
mg
/dL
/24h
)
BA C
0 20 40 60 80 1000
200
400
600
CT
EI
EII
D
D
Tempo (min)
Glicose (
mg/d
L)
Figura 11. Efeito dos extratos de camu-camu sobre glicose plasmática (A), insulina plasmática (B),
glicosúria (C) e teste de tolerância à insulina (1,5 U/kg, i.p.) (D). Os valores são expressos como média ±
desvio-padrão (n=10/grupo). Colunas com letras distintas diferem estatisticamente (* p < 0,05, ** p <
0,01, *** p < 0,001). Grupos Controle, D (diabéticos), E I (1 g/kg peso corpóreo) e E II (3 g/kg peso
corpóreo).
57
Os níveis diários de glicemia, obtidos durante o tratamento, não apresentaram diferenças
significativas, já que a mesma foi dosada com os animais alimentados; contudo, a glicose
plasmática, determinada em jejum após a eutanásia dos animais, foi significativamente diferente
para o grupo tratado com a dose de 3 g/kg (Figura 11A). Os níveis de insulina plasmática e
glicosúria também não apresentaram diferenças significativas (Figura 11 B-C). No 20° dia de
tratamento foi conduzido o teste de tolerância à insulina. Alíquotas de 30 µL de sangue foram
obtidas da cauda do animal, a cada 15 minutos, durante 90 minutos. A curva glicêmica obtida
mostra que os níveis de glicose dos grupos tratados não foram significativamente diferentes
quando comparados ao grupo diabético (Figura 11 D).
A indução do diabetes pela estreptozotocina causou alteração no perfil lipídico dos
animais (LENZEN, 2008). Com isso, neste experimento, foram realizadas dosagens de colesterol
total, colesterol-HDL, triacilgliceróis (TAGs) e ainda teste de tolerância oral ao triacilglicerol
(tTT), apresentados na Figura 12.
contr
ole D E I
E II
0
50
100
150
200
a***a***a***
b
Co
leste
rol to
tal (m
g/d
L)
A B
C
contr
ole D E I
E II
0
200
400
600
800
a***
b
c***
d***
Tri
acilg
liceró
is (
mg
/dL
)
contr
ole D E I
E II
0
10
20
30
40
50 a***
b
c**c**
HD
L c
ole
ste
rol (m
g/d
L)
0 1 2 3 4 50
200
400
600CTL
DB
EI
EII
hours
mg
/dL
D
Figura 12. Efeito dos extratos de camu-camu sobre colesterol total (A), triacilgliceróis (B), colesterol
HDL (C) e teste de tolerância oral ao triacilglicerol (D). Os valores são expressos como média ± desvio-
padrão (n=10/grupo). Colunas com letras distintas diferem estatisticamente (* p < 0,05, ** p < 0,01, *** p
< 0,001). Grupos Controle, D (diabéticos), E I (1 g/kg peso corpóreo) e E II (3 g/kg peso corpóreo).
58
Altos níveis de colesterol e TAGs indicam desregulação do metabolismo de lipídios e,
consequentemente, aumento da incidência de disfunção cardíaca (ECKEL, 2008). Os TAGs não
são sintetizados apenas a partir de esterificação de glicerídeos, mas também pela transformação
de substâncias que estão em excesso em nosso organismo, como a glicose circulante, que de
forma fisiológica é transformada em reserva energética no tecido adiposo, indicando uma
possível relação entre o diabetes e o aumento dos níveis de TAG (SALTIEL; KAHN, 2001).
Os níveis de colesterol total e TAGs estavam significativamente mais elevados no grupo
diabético. Entretanto, pode-se observar que houve uma redução significativa tanto do colesterol
total quanto de TAGs nos grupos tratados com as duas doses de extrato de camu-camu. Os
compostos presentes no camu-camu também foram capazes de impedir um aumento no TAGs
plasmáticos 4 horas após a administração oral de lipídeos (Figura 12D). Já foi descrito que os
principais polifenóis presentes em chás e cacau, como catequinas e procianidinas, são capazes de
inibir a atividade da enzima lipase, responsável pela degradação de gorduras no intestino, e
reduzir a absorção de lipídeos. A redução dos níveis de lipídeos plasmáticos é considerada um
dos principais efeitos biológicos das procianidinas (IKARASHI et al., 2011; BLADÉ et al.,
2010).
Quesada et al. (2011) também mostraram que a ingestão oral de procianidinas presentes
nas sementes de uva reduziriu significativamente o aumento dos níveis de TAG plasmático após
o teste de tolerância oral aos lipídios. Eles concluíram que um dos mecanismos pelo qual os
extratos contendo procianidinas bloqueiam a secreção hepática de VLDL-TAG seria devido à
indisponibilidade de ácidos graxos na síntese hepática de TAG, ou seja, há um aumento da
oxidação de ácidos graxos logo após a administração e redução dos níveis plasmáticos de ácidos
graxos não-esterificados (NEFA) algum tempo depois.
Outros estudos também relataram redução dos níveis de colesterol e TAG em ratos
diabéticos com uso de flavonóides, e sugeriram que estes compostos são capazes de inibir a 3-
hidroxi-3-metilglutaril-coenzima A redutase (HMGCoA redutase), enzima responsável pelo
controle da velocidade de síntese do colesterol (FERNANDES et al., 2010; BOK et al., 1999).
Chao et al. (2009) mostraram que ratos diabéticos tratados com ácido elágico também
apresentaram redução nos níveis de TAG plasmáticos.
Na Figura 12C também se encontram os valores de colesterol-HDL. O colesterol-HDL
representa a fração de colesterol que circula na corrente sanguínea ligada às lipoproteínas
plasmáticas de alta densidade (HDL- High Density Lipoprotein). Valores elevados de colesterol
HDL estão diretamente relacionados com a redução do risco de doenças cardiovasculares
(NAVAB et al., 2011). As lipoproteínas de alta densidade (HDL) são responsáveis pelo
59
transporte do colesterol em excesso da corrente sanguínea para o fígado, onde é catabolizado.
Observou-se um aumento significativo nos níveis de colesterol HDL dos grupos tratados com os
extratos de camu-camu em relação ao grupo diabético.
A Figura 13 mostra o efeito dos extratos de camu-camu sobre o peso do fígado e tecidos
adiposos. Nos mamíferos, existem dois tipos de tecido adiposo: o branco (TAB) e o marrom
(TAM). As células do tecido adiposo branco armazenam TAGs em uma única e grande gota
lipídica que ocupa de 85-90% do citoplasma. O TAM é especializado na produção de calor
(termogênese) e, portanto, participa ativamente na regulação da temperatura corporal. Os
depósitos de TAM estão praticamente ausentes em humanos adultos, mas são encontrados em
fetos e recém-nascidos (FONSECA-ALANIZ et al., 2006).
O peso do fígado dos animais tratados não foi significativamente diferente quando
comparados ao grupo diabético, mostrado na Figura 13. O índice de adiposidade, representado
pela soma dos tecidos adiposos retroperitoneal, epididimal e inguinal, também não demonstrou
diferenças.
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2
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C
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b
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a
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Figura 13. Efeito dos extratos de camu-camu sobre peso do fígado (A), tecido adiposo marrom (B) e
tecido adiposo branco (C). Os valores são expressos como média ± desvio-padrão (n=10/grupo). Colunas
com letras distintas diferem estatisticamente (* p < 0,05, ** p < 0,01, *** p < 0,001). Grupos Controle, D
(diabéticos), E I (1 g/kg peso corpóreo) e E II (3 g/kg peso corpóreo).
60
A insulina promove o transporte da glicose em excesso para as células adiposas,
estimulando o armazenamento de gordura no tecido adiposo. Na ausência de insulina ou em
situações onde sua ação está comprometida, ocorre um aumento na lipólise do tecido adiposo,
resultando em altos níveis de ácidos graxos livres (DEFRONZO; FERRANNINI, 1991; JENSEN
et al., 1989). Os baixos níveis de insulina, apresentados na Figura 11, podem explicar a redução
da adiposidade e não-reversão do quadro mesmo com o uso dos extratos de camu-camu.
O teste de hemoglobina glicada permite identificar a concentração média de glicose
plasmática nos segundo e terceiro meses que antecedem o teste, complementando as medições
mais tradicionais de controle glicêmico como medição da glicose em plasma ou urina. Devido à
permeabilidade à glicose, a hemoglobina glicada é formada a uma velocidade dependente e
proporcional à concentração da glicose no plasma (KENNEDY; BAYNES, 1984). A Figura 14
mostra os resultados de hemoglobina glicada para os grupos avaliados. Não foi observada
diferença significante entre os grupos diabético e tratados. Isto pode indicar que o tempo de
tratamento não foi suficiente para uma redução efetiva da glicose plasmática.
A B
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Figura 14. Efeito dos extratos de camu-camu sobre hemoglobina glicada (A), ácido úrico (B), capacidade
antioxidante plasmática - ORAC (C) e peroxidação lipídica - TBARS (D). Os valores são expressos como
média ± desvio-padrão (n=10/grupo). Colunas com letras distintas diferem estatisticamente (* p < 0,05,
** p < 0,01, *** p < 0,001). Grupos Controle, D (diabéticos), E I (1 g/kg peso corpóreo) e E II (3 g/kg
peso corpóreo).
61
Outro parâmetro avaliado foi o ácido úrico no plasma. O ácido úrico é um produto do
metabolismo das purinas e sua forma ionizada, o urato monossódico, é a forma encontrada no
plasma. Sabe-se que a ausência ou pouca quantidade de insulina leva à desregulação do
metabolismo de proteínas/aminoácidos, atribuída a um aumento de proteólise muscular e
redução na síntese de proteínas (ABDUL-GHANI; DEFRONZO, 2010). Na Figura 14
encontram-se os valores de ácido úrico determinados neste experimento. O grupo diabético
apresentou nível significativamente maior quando comparados com os grupos tratados.
Observou-se que os níveis de ácido úrico dos grupos E I e E II foram semelhantes ao encontrado
para o grupo controle, indicando um possível efeito dos extratos de camu-camu no tratamento
destes animais.
A capacidade antioxidante do plasma também foi avaliada, indicada na Figura 14C.
Devido ao estresse oxidativo gerado pelo diabetes, é possível observar uma redução da
capacidade antioxidante plasmática do grupo diabético, sendo este efeito revertido com a
administração dos extratos de camu-camu, cuja dose de 3g/kg se mostrou mais eficiente.
A produção de radicais livres induz a peroxidação lipídica através da deterioração
oxidativa de ácidos graxos poliinsaturados, e pode ser minimizada enzimaticamente ou por
antioxidantes. Já foi relatado que elevados níveis de lipoperóxidos em plasma de ratos diabéticos
podem acarretar em dano tecidual (FERRALI et al., 1997). A peroxidação lipídica foi avaliada
através do método de TBARS, indicada na Figura 14D. Os níveis de TBARS no grupo diabético
estavam significativamente mais elevados. A administração oral dos extratos de camu-camu
reduziu a peroxidação lipídica a níveis próximos aos do controle, o que pode indica uma melhora
do status antioxidante.
Em alguns processos patológicos, como o diabetes, os antioxidantes exógenos podem ser
rapidamente depletados em função da alta produção de espécies reativas de oxigênio. Muitos
estudos evidenciam a influência do consumo de compostos fenólicos sobre a atividade e
expressão gênica das enzimas antioxidantes, CAT, SOD e GPX, consideradas as principais
defesas antioxidantes endógenas (ANNAPURNA et al., 2009; FERNÁNDEZ-PACHÓN et al.,
2009; PEREZ-JIMENEZ et al., 2009). A hiperglicemia decorrente do diabetes mellitus pode
levar à inativação das enzimas antioxidantes SOD, CAT e GPx, pela glicação destas proteínas
(BAGRI et al., 2009; SEKEROGLU et al. 2000). Neste trabalho, foi avaliada a atividade das
enzimas antioxidantes CAT, SOD e GPx em plasma e em eritrócitos, descrita na Figura 15. Não
foi possível avaliar a atividade de CAT em plasma. Contudo, em relação à atividade das outras
enzimas, observou-se que não houve diferença entre todos os grupos para GPx e houve aumento
62
da atividade de SOD dos grupos diabéticos, mas também sem apresentar diferenças significativas
quando comparados entre si.
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Figura 15. Efeito dos extratos de camu-camu sobre a atividade das enzimas antioxidantes em plasma
GPx (A) e SOD (B), e em eritrócitos, CAT (C), GPx (D) e SOD (E). Os valores são expressos como
média ± desvio-padrão (n=10/grupo). Colunas com letras distintas diferem estatisticamente (* p < 0,05,
** p < 0,01, *** p < 0,001). Grupos Controle, D (diabéticos), E I (1 g/kg peso corpóreo) e E II (3 g/kg
peso corpóreo).
A atividade tanto de CAT quanto de SOD foi significativamente maior nos grupos
diabéticos, indicando uma possível resposta metabólica, através destas enzimas, em diminuir os
níveis de radicais livres em excesso. A diminuição da atividade de CAT e SOD nos grupos
tratados E I e E II sugere que os antioxidantes presentes nos extratos de camu-camu seriam
suficientes para causar redução do estresse oxidativo, fato também comprovado pelo aumento da
capacidade antioxidante do plasma. Pelo fato de alguns flavonóides reduzirem a formação de
superóxidos e dado ao mecanismo de “feedback” das enzimas antioxidantes desencadeado pelos
flavonóides, a diminuição da concentração de substrato pode contribuir na redução da expressão
de SOD (CRESPO et al., 2008; BREINHOLT et al., 1999).
Neste modelo de diabetes apenas o extrato bruto, contendo flavonóides, taninos,
vitaminas e minerais, foi utilizado no tratamento. As principais alterações observadas foram no
perfil lipídico e capacidade antioxidante plasmática dos animais tratados. Não se pode afirmar
63
quais compostos foram responsáveis pela redução dos níveis de TAG e colesterol plasmáticos.
Entretanto, como foram identificados taninos condensados na polpa comercial, os resultados
obtidos sugerem que grande parte deste efeito pode ser atribuído as proantocianidinas como já
reportado por outros autores (IKARASHI et al., 2011; BLADÉ et al., 2010). O aumento da
capacidade antioxidante plasmática e a redução da peroxidação lipídica estão diretamente
associados aos compostos antioxidantes presentes no camu-camu, como a vitamina C.
5.2.2 Efeito do camu-camu em modelo animal de caquexia
O Tumor de Walker surgiu em 1928 em uma rata albina grávida no Laboratório de G.
Walker (John Hopkins University Medical School – U.S.A.) e graças às suas características de
transplantabilidade, bem como às técnicas de crioconservação e de cultura de tecidos esta
linhagem foi preservada até a atualidade, sendo descritas variantes morfológicas como sarcoma,
carcinossarcoma e carcinoma designadas genericamente como Tumor de Walker (HARD, 1986).
O Tumor de Walker 256 tem comportamento biológico agressivo, sendo localmente invasivo e
com alto poder de metástase por via linfática e hematogênica. Sua implantação em ratos tem sido
considerada um modelo adequado para estudar a síndrome da caquexia e tratamentos
antineoplásicos, por ser espécie-específica e facilmente transplantado (MUND, 2004;
GUAITANI et al. 1982). Em curto espaço de tempo após sua implantação verificam-se redução
no peso do animal, dificuldade de ingestão adequada de alimento (anorexia), catabolismo de
proteínas, lipídeos e carboidratos e inflamação (ARGILÉS et al., 2008; ARGILÉS et al., 1997).
Aos 14 dias após o implante a massa tumoral pode representar uma fração considerável do peso
do animal e a morte ocorre após este período (VICENTINO et al., 2002). Devido aos resultados
positivos obtidos no perfil lipídico de ratos diabéticos, os extratos de camu-camu foram usados
no modelo animal de caquexia, onde as alterações no perfil lipídico eram proeminentes.
Alguns estudos já mostram efeitos relevantes da administração de compostos
antioxidantes presentes na dieta, como a vitamina C e os flavonóides do mel, sob a migração e
inibição do crescimento celular do Tumor de Walker (TOMASIN; GOMES-MARCONDES,
2011; WYBIERALSKA et al., 2008). Estes trabalhos reportaram que tanto a metástase quanto a
migração celular estavam diretamente relacionadas com os níveis de EROs, e por isso,
compostos antioxidantes foram mais eficientes em reduzir os níveis destas espécies radicalares,
levando a inibição da motilidade celular (TOMASIN; GOMES-MARCONDES, 2011;
WYBIERALSKA et al., 2008).
64
Foram administradas aos animais, por um período de 44 dias, doses de 1 e 3 g/kg/dia de
extrato correspondente a polpa comercial de camu-camu liofilizada, fornecendo a um rato macho
Wistar adulto, com peso médio de 250 gramas, 2,19 mg e 6,57 mg, respectivamente, de
compostos fenólicos por dia, além de 4,72 mg e 14,17 mg, respectivamente, de vitamina C por
dia. Neste experimento, com o objetivo de comprovar se os efeitos observados são devido apenas
aos compostos fenólicos, incluiu-se um grupo de animais que recebeu a dose equivalente a 3
g/kg/dia de extrato purificado de camu-camu, contendo apenas 26,2 mg de compostos
fenólicos/kg.
Após um mês de experimento, os animais foram inoculados com células de
carcinossarcoma Walker 256 e, após duas semanas, foram sacrificados. Os resultados da Tabela
7 mostram que não houve diferença de ganho de peso durante o período experimental entre os
ratos que receberam os extratos de camu-camu e o grupo controle. A administração oral destes
extratos não apresentou efeito no peso relativo do fígado e depósitos de tecidos adiposos brancos
(epididimal e retroperitoneal) nos grupos tratados em relação aos animais controle. É importante
ressaltar que os grupos E I e E II apresentaram redução do peso do tumor quando comparados ao
controle (92 a 94,5 %, respectivamente), e o grupo EP apresentou apenas 1 rato com
desenvolvimento de tumor.
Tabela 7. Ganho de peso corpóreo durante o período experimental e peso relativo dos tecidos (%
de peso corpóreo total) após sacrifício.
Controle E I E II EP
Ganho de peso (g)
Fígado (%)
TAE (%)
TARP (%)
Gastrocnemius (%)
Tumour (%)
104,00 ± 3,09
4,54 ± 0,33
1,19 ± 0,08
1,25 ± 0,12
0,36 ± 0,02
3,11 ± 0,91
109,00 ± 3,13
4,09 ± 0,33
1,15 ± 0,13
1,08 ± 0,16
0,27 ± 0,02*
0,25 ± 0,16*
110,00 ± 3,55
3,93 ± 0,34
1,11 ± 0,10
1,26 ± 0,12
0,29 ± 0,01
0,17 ± 0,08*
98,00 ± 2,43
3,90 ± 0,22
0,99 ± 0,35
0,79 ± 0,09
0,29 ± 0,01
n.d. Os valores são expressos como média ± desvio-padrão (n=9/grupo). Grupos Controle, E I (1 g/kg peso corpóreo), E
II (3 g/kg peso corpóreo) e EP (extrato purificado 3g/kg de peso corpóreo). * p < 0,05.
Hipertrigliceridemia é um ponto chave na caquexia cancerosa (ARGILÉS et al., 1997) e
pode ser consequência da desregulação de diferentes vias metabólicas no fígado, como por
exemplo, uma diminuição da oxidação do ácido graxo (KAZANTZIS; SEELAENDER, 2005;
SILVÉRIO et al., 2011) e dano na formação e secreção de lipoproteína de densidade muito baixa
(VLDL) (LIRA et al., 2008). Os extratos de camu-camu foram capazes de reduzir alterações no
metabolismo lipídico encontradas nos ratos do grupo controle (Tabela 8). Os resultados mostram
65
um aumento dos níveis de TAG plasmáticos dos ratos caquéticos, já descrito na literatura
(SILVÉRIO et al., 2011; LIRA et al., 2008).
Os animais dos grupos E I, E II e EP apresentaram uma redução significativa nos níveis
de TAG em 27%, 39% e 53%, respectivamente, quando comparados ao grupo controle. Os
grupos E I e E II também apresentaram redução dos níveis de colesterol plasmático. Além disso,
o grupo EP também mostrou melhora no colesterol HDL (aumento de 25%) quando comparado
ao controle. Não houve alterações nos níveis de colesterol LDL, glicose e insulina plasmáticas.
Assim como observado no modelo de ratos diabéticos, os extratos de camu-camu não
apresentaram efeitos sobre o colesterol LDL e HDL, mas foram eficazes em reduzir o colesterol
total e TAG, confirmando, assim, o potencial destes fenólicos sob o metabolismo lipídico.
Tabela 8. Perfil lipídico, glicose e insulina plasmáticos determinados após o período experimental.
Controle E I E II EP
Triacilglicerol
(mg/dL) 126,2 ± 18,1 92,1 ± 14,4 76,9 ± 14,7 58,1 ± 5,4*
Colesterol total
(mg/dL) 145,4 ± 11,6 108,9 ± 5,9* 106,3 ± 4,8* 138,0 ± 11,8
Colesterol HDL
(mg/dL) 24,2 ± 4,4 22,1 ± 3,4 26,7 ± 2,5 30,3 ± 3,0
Colesterol LDL
(mg/dL) 151,5 ± 14,7 161,5 ± 13,0 155,3 ± 15,2 158,7 ± 14,5
Glicose
(mg/dL) 130,1 ± 5,6 121,7 ± 6,6 120,3 ± 8,1 115,1 ± 6,5
Insulina
(ng/mL) 0,41 ± 0,19 0,92 ± 0,30 0,92 ± 0,20 0,76 ± 0,25
Os valores são expressos como média ± desvio-padrão (n=9/grupo). Grupos Controle, E I (1 g/kg peso corpóreo), E
II (3 g/kg peso corpóreo) e EP (extrato purificado 3g/kg de peso corpóreo). * p < 0,05.
Dentre os compostos fenólicos presentes no camu-camu, estão ácido elágico e quercetina.
Alguns estudos têm mostrado que a quercetina é capaz de modular lipidemia, além de apresentar
alta capacidade antioxidante (KOBORI et al., 2010; GNONI et al., 2009). Kobori et al. (2010)
recentemente demonstraram que ratos alimentados com dieta ocidental e ingestão crônica de
quercetina reduziram o acúmulo de gordura no fígado. Outro estudo mostrou que a
administração do ácido elágico em combinação com a coenzima Q 10 em ratos hiperlipidêmicos
foi eficiente em reduzir os níveis de TAG e colesterol (RATNAM et al., 2009). Pelos resultados
obtidos neste trabalho estes compostos podem ser responsáveis, pelo menos em parte, pela
hipolipidemia apresentada nos animais tratados.
Os grupos tratados com os extratos de camu-camu também apresentaram aumento da
capacidade antioxidante do plasma em relação ao controle (Figura 16). Uma hipótese sugerida
66
seria que alimentos ricos em flavonóides contêm outras substâncias que também afetam a
capacidade antioxidante plasmática diretamente por fornecer vitamina C, ou indiretamente, por
estimular a produção de urato (LOTITO; FREI, 2006). Mais de 90 % de urato é reabsorvido nos
rins e pode proteger contra inflamação por sua capacidade de inibir reações de nitração mediadas
por peroxinitrito (HOOPER et al., 1998).
Foi observada redução nos níveis de ácido úrico dos grupos E I e E II, o qual pode estar
associado à presença de vitamina C (Figura 16), assim como observado no modelo de ratos
diabéticos. Já foi relatado que a vitamina C pode proteger os lipídios plasmáticos contra o dano
induzido por radicais livres (FREI et al., 1989). Além disso, o urato pode agir como um
antioxidante e regenerar o ascorbato em sistemas biológicos (NYYSSÖNEN et al., 1997).
Contr
ole E I
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A
C
B
D
Figura 16. Efeito dos extratos de camu-camu sobre capacidade antioxidante do plasma - ORAC (A),
ácido úrico (B), peroxidação lipídica em plasma - TBARS (C) e peroxidação lipídica em fígado - TBARS
(D). Os valores são expressos como média ± desvio-padrão (n=9/grupo). Colunas com letras distintas
diferem estatisticamente (* p < 0,05, ** p < 0,01, *** p < 0,001). Grupos Controle, E I (1 g/kg peso
corpóreo), E II (3 g/kg peso corpóreo) e EP (extrato purificado 3g/kg de peso corpóreo).
67
A peroxidação lipídica pode ser definida como uma cascata de eventos bioquímicos
resultante da ação das espécies reativas de oxigênio sobre os lipídios insaturados das membranas
celulares, levando à destruição de sua estrutura, falência dos mecanismos de troca de
metabólitos, danos ao DNA, carbonilação de proteínas e, numa condição extrema, à morte
celular (BENZIE, 1996). Guarnier et al. (2010) reportaram níveis elevados de peroxidação
lipídica durante a perda muscular e desenvolvimento de câncer em fases iniciais. Neste
experimento, a peroxidação lipídica do plasma e fígado foi determinada através da formação de
substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBARS) e está descrita na Figura 16. Houve uma
diminuição significativa nos níveis de peroxidação lipídica em todos os grupos que receberam os
extratos de camu-camu, sendo esta mais efetiva em plasma. Novamente, esse efeito foi similar ao
observado em ratos diabéticos, mostrando a consistência da ação dos compostos fenólicos do
camu-camu em situações patológicas.
A Figura 17 mostra o efeito dos extratos de camu-camu sobre a atividade das enzimas
antioxidantes no plasma e em eritrócitos. A atividade de CAT, GPx e SOD foi significativamente
reduzida para todos os grupos tratados com camu-camu. Crespo et al. (2008) também
observaram redução da atividade de glutationa em células de fígado inflamadas por citocinas e
tratadas com diferentes concentrações de quercetina. A hipótese sustentada por estes autores
seria que os flavonóides agem sobre a formação/eliminação de peróxido de hidrogênio e outros
peróxidos, considerados os principais substratos da GPx.
Em eritrócitos, também foi observada significante redução na atividade destas enzimas,
principalmente para o grupo EP. Em condições normais, os efeitos dos flavonóides podem ser
diferentes dos observados em situações patológicas. Barbosa et al. (2011) reportaram aumento de
todas as enzimas antioxidantes em eritrócitos de animais saudáveis tratados com isoflavonas.
Ainda, em ratos diabéticos, o efeito dos extratos sobre as enzimas antioxidantes não foi similar
ao efeito observado em ratos caquéticos.
68
A B C
D E
CAT
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15 a b* c*** b*
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0
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3000
4000a
aa
b***
SOD
UA
/min
/g H
b
F
Figura 17. Efeito dos extratos de camu-camu sobre a atividade das enzimas antioxidantes em plasma
CAT (A), GPx (B) e SOD (C), e em eritrócitos, CAT (D), GPx (E) e SOD (F). Os valores são expressos
como média ± desvio-padrão (n=9/grupo). Colunas com letras distintas diferem estatisticamente (* p <
0,05, ** p < 0,01, *** p < 0,001). Grupos Controle, E I (1 g/kg peso corpóreo), E II (3 g/kg peso
corpóreo) e EP (extrato purificado 3g/kg de peso corpóreo).
A Figura 18 mostra o efeito do tratamento com os extratos de camu-camu na expressão
gênica das enzimas antioxidantes em fígado. Houve significante aumento da expressão gênica
apenas da GPx. Não foi observado o mesmo efeito para SOD e CAT. Um padrão similar com
aumento dos níveis de RNAm e redução de proteína e atividade enzimática de GPx foi
observado em animais expostos ao etanol. Uma possível explicação seria a inativação da enzima
após a exposição a oxidantes e produtos da peroxidação lipídica (POLAVARAPU et al., 1998).
Alguns mecanismos podem explicar a atividade antinflamatória dos flavonóides como o
poder antioxidante/sequestro de radicais, modulação da atividade de enzimas ligadas ao
metabolismo do ácido aracdônico (fosfolipase A2, ciclooxigenase, lipoxigenase) e óxido nítrico
sintase, modulação da produção de moléculas pró-inflamatórias e modulação da expressão de
genes proinflamatórios (GARCÍA-LAFUENTE et al., 2009).
69
Contr
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EII
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2
3
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Figura 18. Efeito do tratamento com camu-camu sobre a expressão gênica das enzimas antioxidantes
glutationa peroxidase (A), catalase (B) e superóxido dismutase (C) no fígado. Os valores estão expressos
os valores expressos como média ± desvio-padrão (n=6 / grupo). * p < 0,05, ** p < 0,01, *** p < 0,001.
O efeito dos extratos de camu-camu sobre a expressão gênica de TNF-α e IL-10 está
descrito na Figura 19. O Fator de Necrose Tumoral alfa (TNF-α) é uma das citocinas secretadas
pelos macrófagos em resposta ao crescimento celular tumoral ou infecções bacterianas. O TNF-
α, também responsável por induzir outros mediadores inflamatórios, pode estar relacionado com
alguns fatores ligados ao desenvolvimento de câncer incluindo promoção, proliferação e
metástase, além dos efeitos metabólicos observados na caquexia (ARGILÉS et al., 2006). A IL-
10 caracteriza-se por apresentar atividade antiinflamatória e inibir a produção de várias citocinas
inflamatórias como IL-6 e TNF-α (BOLGER et al., 2002). Ainda, estudos têm demonstrado que,
em processos inflamatórios, há um aumento da produção de IL-10, e a mesma exerce função
imunomoduladora (LIRA et al., 2009; JUNG et al., 2008).
Con
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Figura 19. Efeito do tratamento com camu-camu sobre a expressão gênica de IL-10 (A), TNF-α (B) e a
razão IL-10/TNF-α (C) no fígado. Os valores estão expressos os valores expressos como média ± desvio-
padrão (n=6 / grupo). * p < 0,05, ** p < 0,01, *** p < 0,001.
Por não ter sido observado diferenças na expressão de IL-10 e um aumento na expressão
de TNF-α apenas no grupo EP, a razão IL-10/ TNF-α foi adotada como ferramenta para avaliar o
70
real efeito dos tratamentos na inflamação crônica (KAUR et al., 2006). O aumento na razão IL-
10/ TNF-α indica que os níveis de IL-10 são consideravelmente maiores que os níveis de TNF-
α, sugerindo efeito antinflamatório do tratamento (BATISTA JR. et al., 2010). A administração
com camu-camu também não alterou a razão IL-10/ TNF-α.
Em resumo, a suplementação com extrato de camu-camu em modelos animais de
patologias mostra consistência nos efeitos relacionados à melhora do perfil lipídico e status
antioxidante. Neste modelo, além das duas doses do extrato bruto, foi utilizada uma dose de
extrato purificado. A hipótese sugerida era avaliar apenas os efeitos dos compostos fenólicos
presentes no camu-camu, sem a interferência de vitaminas e minerais. O extrato purificado,
contendo apenas flavonóides e taninos, foi eficiente em reduzir os níveis de TAG plasmáticos,
sustentando a hipótese de que este efeito pode ser atribuído às proantocianidinas como já
reportado por outros autores (IKARASHI et al., 2011; BLADÉ et al., 2010).
5.3 Efeito dos extratos de camu-camu em modelos in vitro: cultura de célula
Com intuito de avaliar os efeitos dos compostos presentes nos extratos de camu-camu sob
o transporte de glicose, inflamação e produção hepática de glicose, os mesmos foram fracionados
em bruto e purificados em poliamida e coluna C18. Este fracionamento permite avaliar quais
compostos responsáveis pelos efeitos obtidos, e sugerir possíveis mecanismos destes compostos
em modelos animais.
5.3.1 Efeito dos extratos de camu-camu sobre o transporte de glicose em miócitos (L6)
O principal mecanismo relacionado à manutenção da homeostase de glicose é a rápida
ação da insulina em estimular a captação e metabolismo de glicose em tecidos periféricos
(CHOI; KIM, 2010). O músculo esquelético representa aproximadamente 40% da massa
corporal total e é responsável por aproximadamente 30% do consumo energético, além de ser um
dos principais tecidos responsáveis pela captação, liberação e estocagem de glicose (ABDUL-
GHANI; DEFRONZO, 2010). A captação de glicose pode ser ativada por duas vias distintas: a
primeira estimulada por insulina através da ativação da fosfotidilinositol-3quinase (PI3K) e Akt
resultando em aumento da translocação do transportador de glicose (GLUT4) intracelular para a
membrana; a segunda estimulada pela contração muscular através da proteína quinase ativada
por AMP (AMPK) (SALTIEL; KAHN, 2001).
71
As células L6 foram incubadas por 2 horas com doses de 100, 500 e 1000 mg/L de três
diferentes extratos de camu-camu: bruto e extratos purificados em resina de poliamida e C18.
Uma solução de vitamina C foi utilizada em todos os experimentos para determinar uma possível
ação deste composto e comparar com os efeitos do extrato bruto do fruto, já que o camu-camu
apresenta altas concentrações da mesma. Avaliação microscópica visual foi realizada em todos
os grupos experimentais e foi observado que a morfologia celular não foi afetada pelos
tratamentos.
A Figura 20 mostra os efeitos dos extratos de camu-camu sobre a captação de glicose.
Em células não estimuladas com insulina (basal), o extrato C18 na dose de 500 mg/L foi capaz
de aumentar em 92 % a captação de glicose quando comparado ao controle. Os extratos bruto e
purificado em PA foram capazes de aumentar esta captação em 43 e 45 %, respectivamente. Em
células estimuladas com insulina, o extrato C18 na dose de 500 mg/L novamente foi mais
eficiente e aumentou a captação em 87 %, seguido do extrato bruto, que com a mesma dose
aumentou a captação em 58 %.
Figura 20. Efeitos dos extratos de camu-camu sobre a captação de glicose em miócitos (L6). As células
foram tratadas com extrato bruto, frações purificadas (C18 e PA) e vitamina C por 2 horas. Os resultados
foram expressos como % relativa ao grupo basal e os valores expressos como média ± desvio-padrão (n =
8).
72
Apesar do extrato C18 na dose de 500 mg/L ter sido mais eficiente no transporte de
glicose, na ausência e presença de insulina, o extrato bruto demonstrou um efeito mais
significativo. A dose de 500 mg/L deste extrato foi capaz de aumentar 1,6 vezes a captação de
glicose na presença de insulina quando comparada aos estado basal. A vitamina C não
apresentou efeito significativo sobre a captação de glicose.
Pelo fato dos extratos de camu-camu terem apresentado efeitos similares aos da insulina, foi
avaliado o efeito dos mesmos extratos, apenas na dose de 500 mg/L, sobre a fosforilação de Akt,
uma proteína envolvida na captação de glicose estimulada por insulina em células musculares.
Entretanto, após 2 horas de tratamento, na ausência e presença de insulina, não foi observado
nenhum efeito (dados não apresentados).
Alguns trabalhos já mostraram o efeito de compostos fenólicos no aumento da captação
de glicose através da ativação da AMPK (ZYGMUNT et al., 2010; HWANG; KWON;YOON,
2009; BREEN et al., 2008). Por isso, também foi hipotetizado se os extratos de camu-camu
poderiam estar atuando sobre a ativação da AMPK. Entretanto, após 30 minutos e 1 hora de
tratamento, não foi observado nenhum efeito (dados não apresentados).
5.3.2 Efeito dos extratos de camu-camu sobre a concentração de NO em macrófagos
(J774.1) e miócitos (L6)
Os macrófagos são considerados peças fundamentais na resposta inflamatória, já que são
responsáveis pelo recrutamento de células inflamatórias e produção citocinas proinflamatórias
como TNF-α, além de mediadores inflamatórios como ERO e NO. O NO, um gás de pouca
duração e ERN altamente reativa, é produzido pelos macrófagos quando estimulados com LPS e
citocinas inflamatórias como interferon, interleucina-1 e TNF-α. O NO é sintetizado
fisiologicamente em baixas concentrações, a partir da L-arginina, pela enzima óxido nítrico
sintase (iNOS), como mecanismo de defesa do organismo por ter ação antimicrobiana
(MEDZHITOV, 2008). A estimulação de macrófagos pelo LPS ativa a via de sinalização do
Fator de Transcrição Nuclear kappa B (NF-kB), esta responsável pela indução da expressão de
vários mediadores inflamatórios, incluindo o NO (MONCADA et al., 1991). O NO também pode
reagir com EROs como ânion superóxido e produzir peroxinitrito. Os metabólitos formados
podem interromper muitos processos celulares por ações oxidativas e implicar em condições
patológicas como a sepse bacteriana e inflamação crônica (XIA; ZWEIER, 1997).
Com o intuito de avaliar o efeito dos extratos de camu-camu sobre a inflamação, os
macrófagos (J774.1) foram estimulados com LPS (10 µg/mL) por 6 e 24 horas. Apenas a dose de
73
500 mg/L foi utilizada no tratamento, por ter sido mais eficiente nos tratamentos em L6 (item
5.3.1). Células L6 também foram estimuladas por 24 horas com mix de LPS (10 µg/mL) e
citocinas (IFNγ 1 µg/µL, TNFα 10 ng/mL) para estimular a produção de NO através da iNOS, e
os resultados podem ser observados na Figura 21.
Pode-se observar que o extrato bruto foi responsável por reduzir completamente a
produção de NO em 6 horas de exposição ao LPS. Os extratos de C18 e vitamina C não
apresentaram diferenças significativas neste ensaio e foram capazes de reduzir a produção de NO
em até 75 % quando comparados ao grupo LPS.
Após 24 horas de exposição ao LPS, novamente o extrato bruto foi capaz de inibir a
produção de NO em 62 %. O tratamento com o extrato PA foi menos eficaz em ambos os
tempos. Em células L6, o extrato bruto reduziu em até 65 % a produção de NO no meio, mas foi
observada diferença significativa entre os tratamentos.
Pelo fato dos extratos de camu-camu terem apresentado efeitos significativos, foi
avaliado o efeitos dos mesmos, apenas na dose de 500 mg/L, sobre ativação da iNOS, enzima
envolvida na produção de NO, pelos macrófagos. Entretanto, em macrófagos, após 6 horas de
tratamento, apenas um resultado foi observado, não sendo considerado significativo; após 24
horas de tratamento, em macrófagos e L6, não foi observado nenhum efeito (dados não
apresentados). Isto pode indicar que os extratos bruto e purificado em C18 de camu-camu foram
capazes de inibir a produção de NO por atuarem como sequestradores de radicais no meio e não
pela inibição da atividade iNOS.
Schmid et al. (2012) avaliaram o efeito de um elagitanino presente em flores em
macrófagos estimulados com LPS por 24 horas. Os autores constataram que, apesar deste
composto reduzir a produção de NO e a expressão gênica de iNOS, não houve inibição da
atividade da enzima. Estes relatos podem sustentar a hipótese de que os extratos bruto e
purificado em C18 de camu-camu não interferiram na atividade desta enzima.
74
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LPS
% r
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tiva a
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/LP
S
B
C
J774 - 6h
L6 - 24h
J774 - 24h
Figura 21. Efeito dos extratos de camu-camu sobre a atividade de iNOS em macrófagos J774.1 (A e B) e
miócitos L6 (C). As células foram tratados com os extratos de camu-camu (500 mg/L) e incubados na
presença de LPS ou mix de citocina/LPS (IFNγ 1 µg/µL, TNFα 10 ng/mL e LPS 10 µg/mL) por 6 e 24
horas. A produção de nitrito foi determinada no meio e os resultados foram expressos como % relativa ao
grupo LPS ou Cito/LPS em média ± desvio-padrão (n = 6). Colunas com letras distintas diferem
estatisticamente (* p < 0,05, ** p < 0,01, *** p < 0,001).
75
5.3.3 Efeito dos extratos de camu-camu sobre a produção hepática de glicose (FaO)
A homeostase da glicose é mantida pelo equilíbrio entre absorção da mesma pelo
intestino, produção pelo fígado e rins e captação e utilização pelos tecidos. Sinais hormonais e
nutricionais provenientes do sistema nervoso central (SNC), pâncreas (insulina e glucagon) e
tecido adiposo (ácidos graxos e adipocinas) que agem sobre o fígado, assim como músculo e
tecido adiposo, para regular o metabolismo de glicose. Durante o jejum, o fígado é o principal
fornecedor de glicose para o cérebro e contribui para manter níveis constantes de glicose
plasmática (NORDLIE et al., 1999)
A produção hepática de glicose (PHG) surge a partir de duas fontes: degradação de
glicogênio (glicogenólise) e gliconeogênese a partir de lactato, piruvato, glicerol e aminoácidos.
Em contraste, durante a ingestão alimentar, a PHG é inibida e o fígado capta glicose plasmática
devido a um aumento na liberação de insulina e absorção de glicose pelo intestino
(CHERRINGTON, 1999). As enzimas-chave responsáveis pela regulação da glicogênese são
glicoquinase (GK) e glicogênio sintase (GS). A piruvato carboxilase, fosfoenolpiruvatoquinase
(PEPCK), frutose 1,6-bifosfato e glicose-6-fosfato (G6P) são responsáveis pela regulação da
gliconeogênese (PILKIS; CLAUS, 1991).
A insulina é o principal supressor hormonal e por isso, a manifestação de resistência à
insulina ou a absoluta deficiência da mesma pode levar a desregulação na atividade de enzimas
responsáveis pela glicólise e gliconeogênese. No diabetes, onde a PHG excessiva se manifesta, o
aumento da atividade das enzimas responsáveis pela gliconólise e gliconeogênese, bem como a
diminuição relativa da atividade de enzimas responsáveis pela glicólise e glicogênese ocorrem
simultaneamente (CHAODONG et al., 2005).
Com o intuito de avaliar o efeito dos extratos de camu-camu sobre a produção hepática de
glicose, os hepatócitos foram tratados com os extratos na ausência e presença de insulina por 5
horas (Figura 22). Os extratos de PA, C18 e vitamina C foram capazes de inibir a produção
hepática de glicose na ausência e presença de insulina. Não foi possível determinar o mecanismo
pelo qual os extratos reduziram a PHG. O extrato bruto, a nível basal, mostrou um aumento na
produção de glicose. A presença de açucares no extrato pode ter interferido nas análises.
76
CTL
Bru
to PA
C18
Vit
C
0
500
1000
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3500Basal
Insulina
Gli
co
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a)
Figura 22. Efeito dos extratos de camu-camu sobre a produção hepática de glicose em FaO. As células
foram tratados com os extratos de camu-camu (500 mg/L) e vitamina C (10 µg/mL) incubados na
ausência e presença de insulina (100 nM) por 5 horas. A produção de glicose foi determinada no meio e
os resultados foram expressos como µM de glicose / mg de proteína em média ± desvio-padrão (n = 3).
Alguns estudos já mostraram o efeito de compostos fenólicos na produção hepática de
glicose. A epigalocatequina galato (EGCG) reduziu a produção hepática de glicose através da
inibição da expressão das enzimas PEPCK e glicose-6-fosfato, responsáveis pela
gliconeogênese, de modo similar à insulina (WALTNER-LAW et al., 2002). Doses entre 25-100
µM de naringenina, a forma aglicona da naringina, também inibiram a produção hepática de
glicose em células de hepatoma, mas não afetaram a gliconeogênese (PURUSHOTHAM; TIAN;
BELURY, 2009).
5.3.4 Efeito dos extratos de camu-camu na expressão gênica de citocinas em adipócitos
(3T3.1)
Até recentemente, o papel da gordura no desenvolvimento da obesidade foi considerado
passivo, e os adipócitos eram apenas as células de armazenamento. Entretanto, o que se sabe
agora é que o tecido adiposo é um órgão endócrino ativo responsável pela secreção de um grande
número de proteínas denominadas adipocinas, sendo adiponectina e leptina as mais estudadas
(GREENBERG; OBIN, 2006). A adiponectina aumenta a sensibilidade à insulina no músculo e
fígado e estimula a oxidação de ácidos graxos livres em alguns tecidos. A redução da
adiponectina plasmática está diretamente correlacionada com o aumento da obesidade e
resistência à insulina. A leptina age diretamente no hipotálamo e desempenha papel chave na
regulação da ingestão calórica e gasto energético, além do apetite e metabolismo. Este hormônio
77
também é considerado um marcador da inflamação em resposta às citocinas produzidas pelo
tecido adiposo (MYERS et al., 2008; HOTTA et al., 2001).
Na obesidade, a inflamação sistêmica está marcadamente evidente, já que existe um
aumento da expressão de proteínas inflamatórias como TNF-α, interleucina 6 (IL-6), proteína
quimiotática de monócitos (MCP-1) e iNOS. De fato, grande parte das citocinas presentes no
tecido adiposo é produzida pelos macrófagos infiltrados (FAIN et al., 2004). Já foi reportado
que o LPS induz a expressão de citocinas próinflamatórias, pela via sinalização do NFB,
através de receptores Toll-like presentes em macrófagos e adipócitos e este evento está
diretamente ligado à resistência insulínica (LIN et al., 2000).
A Figura 23 mostra o efeito dos extratos de camu-camu sobre a expressão gênica de
marcadores da inflamação como leptina, adiponectina, iNOS, IL-10, IL-6 e IL-1β em adipócitos
diferenciados (3T3) após estimulação com LPS (10 ug/mL) por 6 horas. Com exceção da leptina,
os extratos de camu-camu não afetaram a expressão gênica destes marcadores. Entretanto, o
extrato bruto de camu-camu atenuou a expressão de IL-6 e iNOS, responsáveis pela inflamação.
Também foi observada uma tendência a aumentar a expressão da IL-10, uma citocina anti-
inflamatória e inibidora de macrófagos.
Muitos trabalhos já relatam que os polifenóis reduzem a inflamação por agirem como (a)
antioxidantes ou ativarem enzimas/proteínas antioxidantes, (b) bloqueando citocinas
próínflamatórias, (c) suprimindo a expressão de genes responsáveis pela inflamação e (d)
ativando fatores de transcrição antagônicos a inflamação crônica (CHUANG; MCINTOSH,
2011; GUO et al., 2008; RAHMAN et al., 2006; SURH et al., 2001).
78
Leptina
Contr
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S
Bru
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1
2
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S
Bru
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C18
0
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+ LPS
mR
NA
IL-10
Contr
oleLP
S
Bru
to PA
C18
0
10
20
30
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+ LPS
mR
NA
IL-6
Contr
oleLP
S
Bru
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C18
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10
15
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+ LPS
mR
NA
IL-1b
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S
Bru
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C18
0
5
10
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+ LPS
mR
NA
Figura 23. Efeito dos extratos de camu-camu sobre a expressão gênica de citocinas em adipócitos
(3T3.1). As células foram tratados com os extratos de camu-camu (500 mg/L) e incubados na presença
de LPS (10 µg/mL) por 6. A produção de nitrito foi determinada no meio e os resultados foram expressos
como % relativa ao grupo LPS ou Cito/LPS em média ± desvio-padrão (n = 6). Colunas com letras
distintas diferem estatisticamente (* p < 0,05, ** p < 0,01, *** p < 0,001).
79
Outros autores também mostraram que alguns compostos fenólicos possuem efeito pró-
inflamatórios em macrófagos em adipócitos, e atenuam a inflamação mediada por TNF-α e
ativam vias de sinalização envolvidas no processo inflamatório (SAKURAI et al., 2010;
OVERMAN et al., 2010).
Até recentemente, acreditava-se que o efeito benéfico dos compostos fenólicos estava
associado apenas às suas propriedades antioxidantes. Apesar dos inúmeros relatos sobre os
efeitos dos polifenóis in vitro, não se pode esperar que eles apresentem os mesmos efeitos in
vivo, já que estes compostos são metabolizados antes de serem absorvidos. Há agora uma
emergente evidência de que os metabólitos dos compostos fenólicos exercem efeitos sobre a
sinalização intracelular e modular funções vitais como crescimento, proliferação e apoptose
(WILLIAMS; SPENCER; RICE-EVANS, 2004). A identificação dos metabólitos e o
mecanismo de ação destes compostos é um passo importante a ser seguido e ajudará a explicar
muito dos resultados obtidos.
80
6. CONCLUSÕES
Fruta e polpa comercial de camu-camu foram analisadas em relação aos teores de
minerais, vitamina C e compostos fenólicos. A polpa comercial de camu-camu apresentou maior
teor de K e Na, e foi considerada boa fonte de Mn e Cu. Em relação aos compostos fenólicos,
apresentou maiores teores de flavonóides, ácido elágico livre e total, e maior capacidade
antioxidante in vitro que o fruto.
Tanto o extrato bruto quanto a fração purificada de compostos fenólicos da polpa
comercial de camu-camu reverteram o alto colesterol total e triacilgliceróis, e ainda aumentaram
o HDL-colesterol de ratos caquéticos. Também houve aumento da capacidade antioxidante do
plasma e redução da peroxidação lipídica e atividade das enzimas antioxidantes.
Os efeitos observados no perfil lipídco e status antioxidante dos extratos bruto e
purificado em C18 de camu-camu foram similares tanto para o modelo de ratos diabéticos
quanto ao de ratos caquéticos, mostrando a consistência da ação dos compostos fenólicos do
camu-camu em situações patológicas.
Em linhagens celulares, os compostos fenólicos do camu-camu foram eficientes em
aumentar a captação de glicose em miócitos, reduzir a produção de óxido nítrico em macrófagos
e miócitos, reduzir a captação de glicose em células hepáticas e estimularam a expressão gênica
de citocinas antiinflamatórias em tecido adiposo. Os mesmo efeitos não foram observados para a
vitamina C, indicando que o alto teor deste composto no camu-camu não interfere nos tratamento
das linhagens celulares.
Em resumo, os extratos de camu-camu, por apresentar altos teores de compostos
antioxidantes, foram mais efetivos em combater o estresse oxidativo gerado tanto nos modelos
animais quanto em células. O consumo da fruta e/ou do suco de camu-camu pode ser
considerado mais uma alternativa efetiva e promissora na proteção do organismo contra os danos
oxidativos, portanto, o seu consumo deve ser estimulado. Acredita-se que a redução no risco de
desenvolvimento de doenças crônico-degenerativas se dá pela combinação de micronutrientes,
antioxidantes, fitoquímicos e fibras presentes nos alimentos.
81
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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APÊNDICE A - Chemical characterization and comparison of Brazilian Myrciaria dubia
Mc. Vaugh (Camu-camu) fruit and commercial frozen pulp, submetido ao Food
Chemistry.
APÊNDICE B - Camu-camu (Myrciaria dubia McVaugh) phenolic-rich extracts restore
plasma lipid profile in cachectic rats, submetido ao Nutrition Research.
APÊNDICE C - Camu-camu extracts inhibit glucose production and induce glucose uptake
in L6 myocites cells, but only improve biomarkers of oxidative stress and plasmatic lipid
profile in streptozotocin-induced diabetic rats, a ser submetido ao Molecular Nutrition and
Food Research.