Clara de Assis : biografia e cartas / Monica de Azevedo

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Apresentação de Monica de Azevedo para o Congresso Clariano do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 20 e 21 set. 2012.

Transcript of Clara de Assis : biografia e cartas / Monica de Azevedo

A vida de alguém se torna

referência e ideário na nossa

vida quando de alguma

forma nós nos identificamos

com esta pessoa.

Clara, como sol,

iluminou o meu caminho...

Atas do

Processo de

Canonização

Bula de

Canonização

Legenda

1194 – Nascimento de Clara na casa paterna,

em Assis.

Filha mais velha

de Hortolana

e de Favarone,

teve duas irmãs,

Catarina (Inês) e

Beatriz.

“Quando sua mãe a estava esperando,

foi à igreja e estando diante da cruz a orar

atentamente, pedindo a Deus que a

socorresse e ajudasse no perigo do parto,

ouviu uma voz que lhe disse: No parto, terás

uma luz que vai iluminar o mundo.” PC 3 e 6

•Aprendeu a ler e

escrever, o que

sabia fazer muito

bem.

•Sensibilidade

com os pobres –

doações.

•Vivência Religiosa

•Formação na cultura da nobreza

Os nobres são exilados de Assis

pelos burgueses.

A família de Clara refugia-se em Perusa,

onde permanece até 1204.

Clara estava prometida em casamento

a um jovem nobre da cidade de Assis.

Clara se encontrou frequentemente

com Francisco

“Francisco era a coluna e a única

consolação depois de Deus”;

foi o fundador, o plantador e o auxílio...

(Test 38, 48)

Quais são

as pessoas concretas

que em nossa história

de vida tornaram-se

referências –

plantadores de nossos

sonhos e ideais

de vida?

Francisco e Clara

se encantaram

mutuamente pelo modo

de seguir Cristo e viver

o Evangelho.

Conseguimos

nos deixar encantar

pela vida de um(a)

irmão(ã) que convive

conosco e em nosso

tempo?

Domingo de Ramos.

Clara sai de casa e se consagra a Deus

na Porciúncula.

“O domingo de ramos, com a bênção

e procissão de ramos de palmeira,

desde muito possui um caráter

nupcial. Liturgicamente é celebrada a

entrada festiva de Jesus em

Jerusalém, e misticamente a união de

amor de Jesus com sua esposa, a

Igreja, e para o povo esta era uma

ocasião favorável para se procurar

uma noiva ou se acertar um noivado.” Anton Rotzetter

“Francisco tinha visto bem a razão

para sugerir a Clara a fuga de casa,

no início da Semana Santa.

Toda a vida cristã, e portanto também

a vida de consagração especial,

constituem um fruto do Mistério pascal

e uma participação na morte e na

ressurreição de Cristo.

Na liturgia do Domingo de Ramos, dor

e glória entrelaçam-se, como um tema

que depois se desenvolve nos dias

seguintes, através da obscuridade da

Paixão, até à luz da Páscoa.

Com a sua escolha, Clara revive este

mistério. No dia dos Ramos recebe,

por assim dizer, o seu programa.

Depois, entra no drama da Paixão,

cortando os seus cabelos e com eles

renunciando inteiramente a si mesma

para ser esposa de Cristo na humildade

e na pobreza.

Francisco e os seus companheiros já são a

sua família. Depressa chegarão irmãs...

No seu significado profundo, a

«conversão» de Clara é uma conversão

ao amor.

Ela já não terá as vestes requintadas da nobreza

de Assis, mas a elegância de uma alma que se

despende no louvor a Deus e no dom de si mesma.

No pequeno espaço do mosteiro de São Damião,

na escola de Jesus-Eucaristia contemplado com

afeto esponsal, desenvolver-se-ão no dia-a-dia as

características de uma fraternidade regulada pelo

amor a Deus e pela oração, pela solicitude e pelo

serviço. É neste contexto de fé profunda e de

grande humanidade que Clara se faz intérprete

segura do franciscano ideal, implorando aquele

«privilégio» da pobreza(...).” Papa Bento XVI

Seguir Jesus Cristo na condição

dos pobres de seu tempo.

Francisco dá às Irmãs a sua

primeira forma de vida.

1216 – Por pressão de Francisco,

Clara aceita a regra de São Bento

e o título de abadessa.

Mas também

consegue

o “Privilégio

da Pobreza”

de Inocêncio III.

Clara, como Francisco, descobriu que

é impossível seguir Jesus Cristo e

viver sozinha o Evangelho.

O critério básico

para as decisões

na vida da comunidade

de irmãs

é o bem comum.

Uma das marcas da

organização

da convivência

comunitária

realizada por Clara

é a participação

co-responsável.

As decisões importantes

devem contar com a participação

e o consenso de todas: admissão de candidatas;

eleição da abadessa e sua deposição;

contração de alguma dívida;

eleição das discretas e das responsáveis

pelos diversos ofícios;

capítulo semanal – que tem como finalidade a

revisão de vida, a distribuição das tarefas de

cada uma, a decisão sobre o destino das

esmolas e outros aspectos que forem

necessários ao bem comum.

“Todas as irmãs

devem ser ouvidas,

porque muitas vezes

é à menor

que Deus manifesta

sua vontade.”

Regra de Santa Clara

Em São Damião,

todas as irmãs

eram obrigadas

ao trabalho,

e não havia distinção

entre trabalho mais nobre

e trabalho menos nobre.

Clara dava o exemplo.

Em outros mosteiros femininos da época

havia se criado uma dupla categoria

de monjas:

as coristas e as conversas ou serventes.

Em 1234, entra na Ordem das Damas

Pobres, Inês de Praga. No mesmo ano,

Clara lhe escreve sua primeira carta.

Clara escreveu seu Testamento

provavelmente pelo ano de 1247.

Em 1250, agrava-se o estado de saúde de

Clara e, provavelmente, por este tempo

começa a escrever a sua Forma de Vida.

1 2 5 3

•Clara escreve sua última carta a Inês de

Praga.

•Dia 09 de agosto, após visita a Clara,

Inocêncio IV manda apressar a aprovação

de sua Regra.

•Dia 10 de agosto, a bula com a aprovação

da Forma de Vida é levada para Clara em

seu leito de morte.

•Dia 11 de agosto, Clara passa para a vida

eterna. Os solenes funerais contaram com a

presença do Papa e dos cardeais.

Regra

Testamento

Bênção

Cinco cartas

A base da espiritualidade

que perpassa os seus escritos

é a experiência de Jesus Cristo

amado e pobre.

Inês de Praga nasceu em 1205 e era filha

do rei da Boêmia, Otocar I.

Quatro cartas conhecidas.

Pelas cartas, Clara anima, inspira força e

estimula Inês com o que a ela mesma dá

vigor espiritual e suavidade ao coração.

Clara escreve a primeira carta após

receber a notícia de que Inês

desejava seguir seus passos.

Podemos deduzir que a carta foi escrita por

Clara antes do dia 11 de junho de 1234 –

dia de Pentecostes, quando ocorreu uma

festa de despedida oferecida pela corte

real de Praga a Inês.

“... indigna fâmula de Jesus Cristo e serva

inútil das senhoras enclausuradas do

mosteiro de São Damião, sua serva

sempre submissa, recomenda-se

inteiramente e deseja, com especial

reverência, que obtenha a glória da

felicidade eterna. Sabedora da boa fama

de vosso santo comportamento e vida, que

não só chegou até mim, mas foi

esplendidamente divulgada em quase toda

a terra, muito me alegro e exulto no

Senhor.”

O motivo que perpassa toda a carta de

Clara é a “sagrada troca” que Inês fez:

•Ser esposa de Jesus Cristo em lugar de

ser esposa de Frederico II;

•a troca das pompas e honras do mundo

pela santíssima pobreza e as privações

corporais, com toda a alma e com todo o

afeto do coração;

•deixar as coisas temporais pelas eternas;

• deixar os bens terrestres pelos bens

celestes....

Pobreza - Contemplação

Relação intensa

com Jesus Cristo

Privações - Esponsalidade

“Ó bem-aventurada pobreza,

que àqueles que a amam e abraçam

concede as riquezas eternas.

Ó santa pobreza, aos que a têm e desejam

Deus prometeu o reino dos céus (Mat 5,3),

e são concedidas sem dúvida alguma a

glória eterna e a vida feliz!

Ó piedosa pobreza, que o Senhor Jesus

Cristo dignou-se abraçar acima de tudo,

ele que regia e rege o céu e a terra,

ele que disse e tudo foi feito!(Sl 32,9;148,5).”

O contexto da segunda carta está situado

no fato de papa Gregório IX exigir que os

bens do mosteiro e do hospital de Praga

fossem administrados por Inês.

Clara se coloca do lado de Inês na luta

pela pobreza.

“O fio condutor da segunda carta

é o Caminho.”

“Não confie em ninguém, não consinta com

nada que queira afastá-la desse propósito,

que seja tropeço no caminho (cfr. Rm

14,13), para não cumprir seus votos ao

Altíssimo (Sl 49,14) na perfeição em que o

Espírito do Senhor a chamou. ... Se alguém

lhe disser outra coisa, ou sugerir algo

diferente, que impeça a sua perfeição ou

parecer contrário ao chamado de Deus,

mesmo que mereça sua veneração, não

siga o seu conselho.”

A terceira carta é uma carta de consolação

a Inês e o consolo se traduz na imagem da

morada: Inês é morada de Deus.

“Você vai conter quem pode conter você

e todas as coisas (cfr. Sb 1,7; Cl 1,17),

vai possuir algo que, mesmo comparado

com as outras posses passageiras deste

mundo, será mais fortemente seu.”

“Tenho a maior alegria e transbordo com a

maior exultação no Senhor ao saber que

está cheia de vigor, em boa situação e

obtendo êxitos no caminho iniciado para

obter o galardão celeste.

Ouvi dizer e estou convencida de que você

completa maravilhosamente o que falta em

mim e nas outras Irmãs para seguir os

passos de Jesus Cristo pobre e humilde.

Eu me alegro de verdade, e ninguém vai

poder roubar-me esta alegria, porque já

alcancei o que desejava abaixo do céu:

vejo que você, sustentada por maravilhosa

prerrogativa de sabedoria da própria boca

de Deus, já suplantou impressionante e

inesperadamente as astúcias do esperto

inimigo: o orgulho que perde a natureza

humana, a vaidade que torna estultos os

corações dos homens.

Vejo que são a humildade, a força da fé e

os braços da pobreza que a levaram a

abraçar o tesouro incomparável escondido

no campo do mundo e dos corações

humanos, com o qual compra-se (cfr. Mt

13,44) aquele por quem tudo foi feito (cfr.

Jo 1,3) do nada. Eu a considero, num bom

uso das palavras do Apóstolo, auxiliar do

próprio Deus, sustentáculo dos membros

vacilantes de seu corpo inefável.

Quem vai me dizer, então, para não exultar

com tão admiráveis alegrias? Por isso,

exulte sempre no Senhor (cfr. Fp 4,4)

também você, querida.

Não se deixe envolver pela amargura e o

desânimo, senhora amada em Cristo, gozo

dos anjos e coroa (Fp 4,1) das Irmãs.”

Maria se fez

morada de Deus e

trouxe Jesus ao

mundo

materialmente.

Inês (e todos nós)

pode trazê-lo

espiritualmente em

seu corpo ao

mundo.

“Ponha a mente no espelho da eternidade, coloque

a alma no esplendor da glória (cfr. Heb 1,3). Ponha o

coração na figura da substância (cfr. Heb 1,3) divina

e transforme-se inteira, pela contemplação, na

imagem (cfr. 2Cor 3,18) da divindade. Desse modo

também você vai experimentar o que sentem os

amigos quando saboreiam a doçura escondida (cfr.

Sl 30,20), que o próprio Deus reservou desde o

início para os que o amam. Deixe de lado tudo que

neste mundo falaz e perturbador prende seus cegos

amantes e ame totalmente o que se entregou inteiro

por seu amor, aquele cuja beleza o sol e a lua

admiram, cujos prêmios são de preciosidade e

grandeza sem fim (Sl 144,3).”

“Rogo e suplico no Senhor, querida, que deixe,

com sabedoria e discrição, essa austeridade

exagerada e impossível que eu soube que

você empreendeu, para que, vivendo, sua vida

seja louvor (cfr. Is 38,19; Sir 17,27)do Senhor,

e para que preste a seu Senhor

um culto racional (cfr. Rom 12,1)

e seu sacrifício seja sempre temperado com

sal (Lev 2,13; Col 4,6).”

A quarta carta é uma carta de despedida e

Clara partilha com Inês o louvor de Deus.

O tema central desta carta é o Espelho,

no qual resplandecem a pobreza, a humildade

e a caridade que pode ser contemplada

com a graça de Deus.

“Olhe dentro desse espelho todos os dias, ó

rainha, esposa de Jesus Cristo, e espelhe nele,

sem cessar, o seu rosto, para enfeitar-se toda,

interior e exteriormente, vestida e cingida de

variedade (Sl 44,10), ornada também com as

flores e roupas das virtudes todas, ó filha e

esposa caríssima do sumo Rei. Pois nesse

espelho resplandecem a bem-aventurada

pobreza, a santa humildade e a inefável

caridade, como, nele inteiro, você vai poder

contemplar com a graça de Deus.

Preste atenção no

princípio do espelho: a

pobreza daquele que,

envolto em panos, foi

posto no presépio (cfr.

Lc 2,12)! Admirável

humildade, estupenda

pobreza! O Rei dos

anjos, o Senhor do céu

e da terra (cfr. Mt

11,25) repousa numa

manjedoura.

No meio do espelho, considere a humildade,

ou pelo menos a bem-aventurada pobreza, as

fadigas sem conta e as penas que suportou

pela redenção do gênero humano.

E, no fim desse mesmo espelho, contemple a

caridade inefável com que quis padecer no

lenho da cruz e nela morrer a morte mais

vergonhosa. Assim, posto no lenho na cruz, o

próprio espelho advertia quem passava para o

que deviam considerar: ó vós todos que

passais pelo caminho, olhai e vede se há outra

dor igual à minha (Lm 1,12). Respondamos a

uma voz, num só espírito, ao que clama e grita:

Vou me lembrar para sempre e minha alma vai

desfalecer em mim (Lam 3,20). ”

“Filha bendita, como a língua do corpo não

pode expressar melhor o afeto que tenho por

você, peço que aceite com bondade e devoção

isto que eu escrevi pela metade, olhando ao

menos o carinho materno que me faz arder de

caridade todos os dias por você e suas filhas.”

“Que o Senhor

esteja sempre

com vocês e

que vocês

estejam sempre

com Ele.”

Bênção de Santa Clara