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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ
FACULDADES CEARENSES
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL
LORENA MARIA CORDEIRO DE BRITO
AS CONDIÇÕES DE TRABALHO DAS MULHERES NO SETOR TÊXTIL DE
FORTALEZA: UM ESTUDO DE CASO EM UMA FÁBRICA TÊXTIL
FORTALEZA
2013
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LORENA MARIA CORDEIRO DE BRITO
AS CONDIÇÕES DE TRABALHO DAS MULHERES NO SETOR TÊXTIL DE
FORTALEZA: UM ESTUDO DE CASO EM UMA FÁBRICA TÊXTIL
Monografia submetida à aprovação da Coordenação do Curso de Serviço Social do Centro Superior do Ceará, Faculdade Cearense como requisito parcial para obtenção do grau de Graduação. Orientador: Prof. Ms. José Cleyton Vasconcelos Monte
FORTALEZA
2013
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LORENA MARIA CORDEIRO DE BRITO
AS CONDIÇÕES DE TRABALHO DAS MULHERES NO SETOR TÊXTIL DE
FORTALEZA: UM ESTUDO DE CASO EM UMA FÁBRICA TÊXTIL
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de graduação em Serviço Social da Faculdade Cearense, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social.
Data de aprovação: _____/ _____/_____
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________
Professor Ms. José Cleyton Vasconcelos Monte (Orientador)
_______________________________________________
Professora Ms. Eliane Nunes de Carvalho
_________________________________________________
Professor Ms. Mario Henrique Castro Benevides
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A todos que fizeram parte deste longo
processo.
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AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, agradeço a Deus, pela permissão de chegar até aqui, concluindo
mais uma etapa de minha vida, que, apesar de todas as dificuldades, enfrentadas
pelos estudantes na academia, consegui concluir.
Agradeço também a minha família, em especial, a meu pai, Roberto, por acreditar
em mim, investir em um sonho e me auxiliar em muitos.
A meu companheiro, amigo e namorado, Thyago Dantas, pela paciência, apoio nos
momentos difíceis, por me oferecer momentos alegres, quando me desapontei com
algumas situações e, principalmente, por suportar todas as minhas tensões e
angústias.
A todas as minhas colegas de Curso, que estiveram presentes em todos os
momentos da caminhada; sem citar nomes, pois posso esquecer alguém, agradeço
especialmente a minha amiga e companheira Luciane Cosme, pois sempre
estivemos juntas durante esses quatro anos de muito esforço, dedicação, algumas
“briguinhas”, conversas, angústias e sucessos.
Ao professor José Cleyton Monte, pelo tempo que dedicou para construirmos esse
trabalho e pela confiança e atenção que ele me ofereceu durante todo o semestre.
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“Tudo vale a pena quando a alma não é
pequena.”
(Fernando Pessoa)
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RESUMO
A temática desta pesquisa é a qualidade de vida no trabalho, nela, conhecemos e
analisamos as condições de trabalho em uma fábrica têxtil e examinamos as
condições de trabalho que a fábrica oferece às mulheres; identificamos, a partir dos
relatos das entrevistadas, os sentidos atribuídos ao trabalho e acompanhamos a
rotina de atividades dentro da fábrica. Há um diálogo com as categorias trabalho,
qualidade de vida, gênero e precarização. A investigação teve como cunho
metodológico a pesquisa qualitativa, em que nos valemos de entrevistas
semiestruturas, aplicadas a mulheres com diferentes perfis. Concluímos em nossa
pesquisa que as mulheres da Guararapes se submetem a um trabalho precário e
fragilizado (galpões e fardas quentes, longa jornada de trabalho, banheiros sujos,
alimentação insatisfatória, desgaste físico e emocional), pois todas as 14
entrevistadas relataram que se submetem a estas situações porque precisam
trabalhar para terem sua independência financeira: sair para passear com a família e
amigos, pagar o colégio dos filhos e as despesas da casa, e até mesmo manter um
status na sociedade de mulher independente.
Palavras-chave: Trabalho, Mulheres, Qualidade de Vida e Precarização.
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ABSTRACT
This research theme is about quality of life on work. In it we will know and analyze
the working conditions in fabric factory and examine working conditions that the
factory offers to women; Based on interviewees reports we identified, the meanings
attributed to work and follow the daily routine activities at the factory. There is a
dialogue with work categories about quality of life, gender and precarious working
conditions. The methodological nature of investigation was a qualitative research, in
which we make use of semi structures interviews, applied to women with different
profiles. After all the study, we concluded that Guararapes working women are
exposed to fragile and precarious work environment (sheds, hot uniforms, long
working hours, dirty bathrooms, poor nutrition, physical and emotional exhaustion),
for all 14 respondents reported these situations because they need to work for
financial independence: family and friends recreation, children’s college expenses,
house expenses and even maintain a status in the society independent woman.
Key words: Work, Women, Quality of Life, Precarious
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ..................................................................................... 9
1 O HOMEM COMO SER SOCIAL: TRABALHO X HOMEM ................ 16
1.1 O trabalho e suas multifaces ............................................................. 19
1.2 Trabalho e precarização .................................................................... 23
1.3 Qualidade de Vida no Trabalho e alienação .................................... 26
2 A FÁBRICA .......................................................................................... 29
2.1 Industrial têxtil no Brasil e no Nordeste ........................................... 31
2.2 Histórico da fábrica .................................................................... 34
2.3 Corpos disciplinados ......................................................................... 39
3 EMANCIPAÇÃO FEMININA, RELAÇÕES DE CONQUISTA E
ANÁLISE DAS ENTREVISTAS ...........................................................
42
3.1 A emancipação feminina e as relações de conquista ..................... 43
3.2 Análise das entrevistas ...................................................................... 50
3.2.1 Percepção do trabalho ......................................................................... 50
3.2.2 Vida domestica x vida profissional ....................................................... 51
3.2.3 Qualidade de Vida no Trabalho ............................................................ 51
3.2.4 As condições da fábrica ....................................................................... 52
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................. 53
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................... 55
APÊNDICES......................................................................................... 59
APÊNDICE A – Questionário aplicado às funcionárias da fábrica . 59
ANEXOS ............................................................................................... 60
ANEXO A – Fotografias da fábrica .................................................... 60
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9
INTRODUÇÃO
Quais são, atualmente, as concepções de trabalho das mulheres
trabalhadoras? Como essas mulheres percebem o espaço da fábrica, suas vidas
domésticas e as tensões entre essas esferas? Quais as relações entre essas
percepções, a QVT (qualidade de vida no trabalho) e a precarização?
Diante de todos esses questionamentos, pretendemos analisar as
condições de trabalho numa fabrica têxtil, localizada na cidade de Fortaleza, para
conhecermos a realidade a que estão submetidas as trabalhadoras na fábrica;
identificar, a partir dos relatos dessas mulheres, os sentidos atribuídos ao trabalho; e
acompanharmos a rotina de trabalho dentro da fábrica.
Segundo Braz e Netto (2009), podemos dizer que o trabalho é a interação
do homem com a natureza, onde homens e mulheres transformam materiais naturais
em produtos que atendem suas necessidades, e todas essas transformações,
denominamos que
[...] o trabalho segundo Lukács: Tem lugar uma dupla transformação. Por um lado, o próprio homem que trabalha é transformado pelo seu trabalho; ele atua sobre a natureza; desenvolve as potências nela ocultas e subordina as forças da natureza ao seu próprio poder. Por outro lado, os objetivos e as forças da natureza são transformados em meios, em objetos de trabalho, em matérias-primas etc. O homem que trabalha utiliza as propriedades mecânicas, físicas e químicas das coisas, a fim de fazê-las atuar como meios para poder exercer seu poder sobre outras coisas, de acordo com sua finalidade. (ANTUNES, 2011, p. 144).
Inicialmente, o que despertou interesse de pesquisar esse tema foi ter
cursado, no quinto semestre da faculdade, a disciplina de Serviço Social e Processo
de Trabalho, quando tivemos a oportunidade de conhecer alguns autores (Karl Marx,
Ricardo Antunes, Durkheim e outros) – que propiciaram a leitura e o conhecimento
sobre a exploração do trabalhador assalariado na sociedade capitalista, os perigos
que enfrentamos na sociedade contemporânea – e vários seminários e debates
apresentados em sala de aula.
Consequentemente, todos esses debates foram uma motivação para
pesquisarmos qual a concepção de trabalho para as operárias, as quais, muitas
10
vezes, exercem suas atividades remuneradas em situações insalubres1 em
ambientes desfavoráveis, como galpões escuros e quentes, banheiros sujos com
máquinas que, por ventura, quebram onde é grande a competitividade em seus
setores. Essas e outras questões nós vemos nos noticiários, nos programas de
televisão, com pessoas de nosso convívio que são trabalhadoras e vítimas do
capitalismo.
Sendo assim, podemos assegurar que o trabalho é compreendido como
fundamento da sociabilidade2 como processo de autocriação humana. A lógica do
valor desvendada por Marx no século XlX, permanece como núcleo essencial do
capitalismo na sua bárbara versão contemporânea. Há entretanto, a ampliação da
subsunção do trabalho como os componentes de alienação, fetichismo e reificação
do capital3 destruindo o componente humanista do trabalho como processo de
socialização e de emancipação.
O trabalho continua sendo o eixo fundamental da sociabilidade humana; é
a dimensão capaz de criar, ou seja, a atividade capaz de nos tornar seres
portadores de uma natureza diversa da dos demais seres naturais (animais) que,
não obstante, desenvolvem trabalhos com níveis diversos de sofisticação no âmbito
do mundo animal. Segundo Grenemann (ano, p. 5):
O homem por ser o único animal que fabrica os seus instrumentos de trabalho alarga as suas potencialidades e pode realizar feitos que não poderia sem os instrumentos por ele fabricados. Tal capacidade estabelece firme distinção entre o trabalho humano e aquele desenvolvido por outros animais, já que o ato de planejar a execução de uma atividade- o próprio trabalho de criar um instrumento ou a transformação de uma matéria em outro objeto – exige do homem uma pré-figuração (teleológica), antes em sua consciência, do que irá executar para, então, em momento posterior, dar curso a uma ação e realizar o que fora pré-concebido.
Este estudo constitui-se em uma análise sobre as condições de trabalho
em uma fabrica têxtil, localizada no Bairro de Antônio Bezerra, em Fortaleza/CE.
Procuramos identificar os fatores intervenientes que impactam positiva e
negativamente na satisfação dessas operárias em relação a seu trabalho; e
1 “Insalubre: doentio; prejudicial à saúde; nocivo.” (BUENO, 2000, p. 350).
2 “Sociabilidade: tendência para a vida em sociedade; modos de quem vive em sociedade.” (BUENO,
2000, p. 588). 3 Segundo Carvalho e Iamamoto (1995): Reificação do Capital são as relações sociais que aparecem
como relações entre coisas/ mercadorias, esvaziadas de sua historicidade, invertidas naquilo que realmente são: expressões de relações entre classes sociais antagônicas.
11
abordamos também aspectos da construção da subjetividade do trabalhador, tendo
como base os fatores ambientais, organizacionais, estruturais e comportamentais,
determinantes para a qualidade de vida no trabalho4. O corpo é o principal
instrumento de trabalho do homem e dele o homem depende para sobreviver, tendo
em vista que a maioria das mulheres pesquisadas desenvolve trabalho braçal e
possuem baixa escolaridade.
A problemática do trabalho vem sendo debatida e marcada pela
exploração de pessoas: crianças, negros e mulheres, pois essa é a mão de obra
mais barata para os capitalistas, que faz com que essas pessoas depositem uma
carga horária de trabalho muito maior que o necessário para a produção, com um
pagamento bem menor que o estimado.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia de Estatística (IBGE) que foram
divulgados no site do G1 no dia 05/12/2013 mostram que a desigualdade entre
homens e mulheres não mudou muito durantes os últimos dez anos – eles
continuam ganhando mais. Quando o assunto é salário, ainda há diferenças. Essa
desigualdade de gênero fica mais explícita na aérea da construção civil, por
exemplo: uma mulher no cargo de chefia recebe apenas 37% do que um homem no
mesmo cargo receberia. Essa problemática se repete nos setores tradicionalmente
femininos, como os de educação, saúde e serviços sociais, nos quais as chefes
ganham somente 60% do salário que um homem ganharia.
Na divisão sexual do trabalho operada pelo capital dentro do espaço fabril, geralmente as atividades de concepção ou aquelas baseadas em capital intensivo são preenchidas pelo trabalho masculino, enquanto aquelas dotadas de menos qualificação, mais elementares e muitas vezes fundadas em trabalho intensivo, são destinadas às mulheres trabalhadoras (e, muito frequentemente também aos trabalhadores/os imigrantes e negros/as). (ANTUNES, 1999, p.105-06).
Conseqüentemente, abordaremos a qualidade de vida de mulheres que,
se comparadas aos homens, possuem uma resistência física e braçal inferior e
possuem uma longa jornada de trabalho, sem intervalos, com um desgaste físico e
mental contínuo.
4 Cumming e Huse (1985 apud RODRIGUES, 1994), falam que a QVT é, hoje, uma forma de
pensamento que envolve pessoas, trabalho e organizações, com destaque a dois aspectos distintos: a preocupação com o bem estar do trabalhador e com a eficácia organizacional; e a participação dos empregados nas decisões e problemas trabalhistas.
12
Acreditamos que todos esses fatores constituem pontos de partida
relevantes para um debate sobre a questão social, que está relacionada com o
sistema capitalista de produção, ou seja, com a forma como a riqueza, em uma
sociedade, é produzida e repartida. Poucas pessoas têm muitas riquezas e muitas
estão na zona de pauperismo, de modo que há uma grande desigualdade social; há
um choque de realidades heterogêneas – as pessoas que vivem na zona de pobreza
reivindicam por melhores situações de trabalho e de vida e, muitas vezes, por um
lugar para morar, como o MST5 (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra).
Por conta desses fatores, pessoas são submetidas a qualquer tipo de
função, para conseguirem sobreviver e suprir suas necessidades básicas:
alimentação, educação, saúde, moradia e também para poderem se divertir com o
lazer, viagens, passeios e festas. Há homens e mulheres que se submetem a uma
atividade precária, em ambiente insalubre, onde passam a maior parte do tempo
trabalhando em pé, usando sua força braçal e não tendo intervalo para descanso.
Tudo isso para poder manter uma casa, pagar aluguel, água, energia e as despesas
básicas de uma casa, não sobrando, assim, quase nada para desfrutar de um
momento de lazer com a família.
Além disso, algumas entrevistadas relataram que o trabalho fez com que
elas tivessem sua independência financeira, como ter a casa própria e poder ter um
padrão de vida melhor, ajudar a família e poder consumir (comprar uma roupa de
marca, ir ao salão de beleza, fazer compras no shopping etc) sem depender de
ninguém.
Dessa forma, o trabalhador se sente exausto e apresenta doenças (dores
musculares, psicológico afetado, devido às longas horas de trabalho sem
interrupção para descanso etc.), pois o corpo é fraco e pode vir a manifestar sua
debilidade de várias formas ao longo da vida; ele não é uma máquina articulada para
aguentar qualquer tipo de trabalho, como o é a máquina que o capitalista pode
programar para nunca desobedecer ou adoecer.
A condição emocional do empregado precisa ser considerada e as
diferenças individuais também, pois, quando uma pessoa está doente, seja qual for
o motivo, ela produz menos, ou seja, o corpo mais debilitado pode vir a manifestar
5 MTS é o movimento de luta pela reforma agrária e pela justiça social. (www.mst.org.br)
13
sua debilidade de várias formas ao longo da jornada de trabalho. Além do
atendimento às necessidades básicas, as empresas não devem se descuidar de
outros aspectos, que geralmente nem exigem dispêndios financeiros, mas são
inexplicados, ignorados ou menosprezados na organização do trabalho e na
estruturação do desenho dos cargos, com evidentes prejuízos à qualidade e à
produtividade delas.
Gostaríamos de partilhar as dificuldades que encontramos para realizar a
pesquisa de campo. Passamos mais de um mês para conseguir dados internos da
instituição. Mas, no dia 13 de novembro de 2013, foi possível entrar na fábrica e
conhecer o universo fabril. Nossas entrevistas foram feitas na rua, no sol, no horário
de meio-dia. A priori, nosso campo de pesquisa seria a fábrica de calçados
Grendene, localizada no bairro Barra do Ceará, Fortaleza/CE; porém, a assistente
social não pôde nos receber. Tendo em vista essas dificuldades, tivemos que mudar
o campo e fazer a pesquisa na Fábrica de Guararapes Confecções LTDA.
Para ter maior acesso às entrevistadas, foi preciso conversar com a
esposa de um primo que trabalha na fábrica; ele falou com colegas de dois setores
(auxiliar de produção e costureiras) para nos ajudarem na realização da pesquisa.
Vale ressaltar que, sem a ajuda e o auxílio da esposa desse primo, não teríamos
conseguido realizar as 14 entrevistas, pois ela foi nosso contato direto com as
mulheres.
Temos como percurso metodológico a pesquisa qualitativa6; realizamos
entrevistas semiestruturadas com 14 mulheres de perfis distintos, em uma fábrica
têxtil, entrevistas essas que abordam a satisfação e/ou insatisfação com o trabalho,
a qualidade de vida e as concepções de trabalho, a fim de estabelecer os padrões
metodológicos e nos aproximar da vivência e realidade das trabalhadoras. São
mulheres casadas, solteiras, que têm filhos e trabalham na fábrica há pouco ou
muito tempo. Além disso, realizamos também uma entrevista com um dos
responsáveis pelo setor de Recursos Humanos.
6 Segundo Minayo (1995, p. 21-22): “A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares.
Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado, ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.”.
14
Esta pesquisa tem como base a pesquisa de campo, bibliográfica,
documental, qualitativa e de estudo de caso; realizamos visitas empíricas a uma
fábrica do setor têxtil. Para conseguir as informações necessárias, tivemos o tempo
de dois meses (outubro e novembro de 2013) para o recolhimento de dados e
depoimentos das operárias e do membro participativo do setor de RH, que nos
repassou algumas informações.
Passamos um mês para poder conseguir entrar na fábrica, com a qual
tentamos o primeiro contato por telefone, mas sem sucesso. Devido às dificuldades
pelos meios eletrônicos (telefone e e-mail), foi necessária uma visita à fábrica, onde
obtivemos respostas positivas, porém longas. Mesmo assim, ainda foi preciso ir à
fábrica duas vezes para conseguir encontrar o senhor Carlos Eduardo, a fim de que
ele disponibilizasse as informações necessárias.
Nosso primeiro contato com essas trabalhadoras se deu nas imediações
da fábrica, no horário de almoço, pois foi o único tempo disponível para o diálogo.
Avaliamos seu comportamento e realizamos as entrevistas, mas não pudemos ter
esse diálogo dentro de seu ambiente de trabalho, pois elas são monitoradas a
trabalharem e não podem deixar de executar suas funções para participarem de
uma entrevista7, principalmente que não seja da empresa.
Conhecemos de perto a realidade de algumas mulheres que passam
quase a metade de seu dia trabalhando, com fardas quentes, alimentação
insatisfatória e banheiros precários.
No primeiro capítulo, fazemos uma breve contextualização histórica sobre
a chegada do maquinário nas grandes fábricas de países europeus, juntamente com
a Revolução Industrial, até chegar no Brasil. Abordamos também a qualidade de
vida das operárias e o sentido do trabalho.
No segundo capítulo, abordamos o contexto fabril, explorando elementos
constitutivos da indústria têxtil brasileira e nordestina. No segundo momento,
apresentamos o grupo empresarial da fábrica, tratando de seu histórico, das áreas
7 De acordo com Minayo (1998): “A entrevista é o procedimento mais atual no trabalho de campo.
Através dela o pesquisador busca obter informes contidos na fala dos atores sociais. Ela não significa uma conversa despretensiosa e neutra, uma vez que se insere como meio de coleta dos fatos relatados pelos atores enquanto sujeito-objeto da pesquisa que vivenciaram uma determinada realidade que está sendo focalizada.”.
15
de atuação, produção e responsabilidade social da fábrica. Por fim, estabelecemos a
relação entre o trabalho na fábrica e a ideia de “corpos disciplinados”, elaborada por
Fourcault (1993).
No terceiro capítulo, há uma reflexão sobre a temática de gênero, em que
dialogamos com alguns(as) autores(as) (Saliba e Paula) sobre emancipação, lutas e
conquistas femininas e seu papel na sociedade contemporânea. Há uma relação da
teoria com a análise das entrevistas, que foram categorizadas e tiveram seus
aspectos mais importantes destacados.
Dessa forma, podemos concluir que os sentidos que as mulheres
atribuem a seu trabalho é algo essencial e fundamental em suas vidas; essa
atividade é fruto de seu esforço, independência, satisfação pessoal e social.
16
1 O HOMEM COMO SER SOCIAL: TRABALHO X HOMEM
O trabalho continua sendo o eixo fundamental da sociabilidade humana; é
a dimensão capaz de criar, ou seja, a atividade capaz de nos tornar seres
portadores de uma natureza diversa da dos seres naturais (animais) que, não
obstante, desenvolvem trabalhos com níveis diversos de sofisticação no âmbito do
mundo animal.
Dessa forma, podemos fazer um breve resgate histórico sobre a
Revolução Industrial, que é de grande importância para a compreensão da história
das condições de trabalho. Desde o século XVI, os trabalhadores/artesãos que, por
exemplo, produziam sapatos, eram os mesmos que participavam de sua própria
construção, cortavam o couro, costuravam, colavam, pintavam e realizavam todos os
procedimentos sozinhos. Mesmo com a revolução das máquinas, estas não
conseguiram substituir totalmente o trabalho humano, pois toda máquina precisa de
um homem para conduzí-la.
Com o fim das corporações e o crescimento do mercado capitalista, cada
operário passou a ter uma função especializada na fábrica; o mesmo homem que
cortava o couro não participa mais de todas as etapas da objetivação da mercadoria,
pois ele é capacitado para desenvolver somente sua atividade. Mesmo que os
empreendedores do ramo têxtil investissem pesadamente num maquinário que
substituísse o trabalho de uma dúzia de homens, seu lucro seria superior do que se
tivesse doze homens trabalhando ativamente, pois o patrão pagaria apenas um
funcionário para manusear a máquina e garantir seu lucro pela máquina.
“O homem inventa e, portanto, produz conhecimento em qualquer tipo de
sociedade.” (IAMAMOTO, 2011, p. 40). Podemos dizer que, desde os primórdios da
humanidade, o homem, para satisfazer suas necessidades, produz matéria-prima,
cria formas e instrumentos que facilitam a produção de valores de uso para o
consumo individual, gera valores de uso diferentes para satisfazer necessidades que
também são criadas a partir da evolução dos meios de produção e a partir de sua
própria evolução:
O homem, por ser o único dos animais que fabrica os seus instrumentos de trabalho alarga as suas potencialidades e pode realizar feitos que não poderia sem os instrumentos por ele fabricados. Tal capacidade estabelece
17
firme distinção entre o trabalho humano e aquele desenvolvido por outros animais, já que o ato de planejar a execução de uma atividade – o próprio trabalho de criar um instrumento ou a transformação de uma matéria em outro objeto – exige do homem uma pré-figuração (teleológica), antes em sua consciência, do que irá executar para, então, em momento posterior, dar curso a uma ação e realizar o que fora pré-concebido. (GRANEMANN, ano, p. 5).
Ou seja, o trabalho mostra-se essencial na vida do homem, para sua
condição de existência; é o ponto de partida para a humanização do ser social, um
complexo articulado que inclui a sua grandeza fundante e um agrupamento de
outros campos da atividade humana.
No Brasil, desde os anos de 1980, vem ocorrendo uma série de
mudanças nos empregos como um todo, mas principalmente nas empresas
capitalistas. Tais mudanças são determinadas pela nova dinâmica da acumulação
capitalista e respondem à necessidade de integração a um mercado cada vez mais
competitivo e globalizado.
O trabalho, em sua estrutura, como um todo, implica causalidade, busca
dos meios, teleologia (capacidade que o homem tem de pensar, objetivar e produzir)
e sua objetivação. Com todo esse tipo de processo mental e físico, o individuo acaba
por ter um dispêndio de energia muito grande, gastando toda sua força física e
mental para produzir o que lhe é imposto.
Nas últimas décadas, a sociedade vem passando por profundas
metamorfoses, tanto nas formas de materialidade8 como na forma de pensar, dadas
as complexas relações entre essas formas de ser e existir da sociabilidade humana.
Todas essas transformações acarretam inúmeras consequências, como grande
massa de trabalhadores em condições precárias, pois o mercado de trabalho está
cada vez mais exigente e competitivo, querendo pessoas com maiores qualificações
e competências para ocuparem espaço em grandes empresas; já as pessoas que
não se enquadram nesse perfil acabam tendo que trabalhar em empregos,
provisórios sem nenhuma garantia, com salários abaixo da média e tendo que
suportar essa situação precária para sobreviver.
Dessa forma, o trabalhador se desgasta emocional e fisicamente, em suas
atividades rotineiras e cansativas, trabalhando algumas vezes sem ter nenhuma
perspectiva de melhorias; isso acaba gerando comodismo por parte deles, que
8 “Materialidade: qualidade do que é material; estupidez.” (BUENO, 2000, p. 402).
18
aceitam essas situações e se tornam trabalhadores alienados9, meros executores de
atividades.
Devido a essas situações, os operários adquirem doenças emocionais e
físicas, pois têm de trabalhar muito em situações precárias: patrões exigentes,
ambiente conflituoso, ausência de higiene em banheiros, além de terem de trabalhar
por longas horas para sustentar a família. Todos esses fatores contribuem para que
o trabalhador perca sua qualidade de vida, tanto dentro como fora do ambiente de
trabalho, pois acabam acumulando todos os aspectos negativos para si.
Podemos dizer que todos esses fatores fizeram com que o capital
assumisse, em seu processo, uma lógica em que o valor de uso10 das
coisas/mercadorias fosse totalmente subordinado a seu valor de troca11.
A situação de exploração contra o homem está presente na sociedade
desde os tempos da colonização12 no Brasil. Esse sistema opressor já passou por
várias modificações, mas sua essência de exploração perpetua-se até a
contemporaneidade.
Atualmente, no Brasil, ainda há algumas e/ou poucas fábricas onde a
jornada de trabalho ultrapassa oito horas diárias, como a Guararapes, por exemplo,
onde a jornada de trabalho chega a nove horas diárias, segundo as entrevistadas.
Fazendo uma referência às leis que protegem e defendem os
trabalhadores no Brasil, Carrion (2008) comenta sobre a Consolidação das Leis do
Trabalho (CLT), que diz, em seu capítulo ll, no Art. 58: “A duração normal do
trabalho, para os empregados em qualquer atividade privada, não excederá de oito
horas diárias, desde que não seja fixado expressamente outro limite. [...] Art. 58-A.
Considera-se trabalho em regime de tempo parcial aquele cuja duração não exceda
a vinte e cinco horas semanais.” (BRASIL, 1943); e sobre o Art. 7° da Constituição:
9 Podemos salientar que o trabalhador alienado é aquele que não se reconhece naquilo que produziu;
o produto final é apenas um produto e não a construção de todo um trabalho individual. 10
Segundo Marx, em sua obra O Capital (2013, p. 114), “[...] valor de uso se efetiva apenas no uso e no consumo. Os valores de uso formam o conteúdo material da riqueza, qualquer que seja a forma social desta.”. 11
“Já o valor de troca aparece inicialmente como a relação quantitativa, a proporção na qual valores de uso de um tipo são trocados por valores de uso de outro tipo, uma relação que se altera constantemente no tempo e no espaço.” (MARX, 2013, p. 114).
12
Segundo Bueno (2000, p. 140), “colonização é o ato efeito de colonizar; povoação.”.
19
“São direitos dos trabalhadores [...] Xlll - duração do trabalho normal não superior a
oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de
horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de
trabalho.” (BRASIL, 1988).
Isso significa dizer que a jornada normal é uma falha de tempo durante o
qual o empregado deve prestar serviço ou permanecer à disposição, com
habitualidade, excluídas as horas extraordinárias; nesse sentido amplo, há uma
“jornada” normal diária e semanal. Pelo limite imposto pela Carta Magna, a diária é
de oito horas, limitada pelo horário semanal, que é de 44 horas.
Após os trabalhadores passarem por um longo período de alienação13 e
exploração, muitos operários, cansados de serem explorados, por trabalharem
longas horas ininterruptas e por sofrerem acidentes com o maquinário, como relata o
filme Daens,14 eles despertaram, para lutar por seus direitos. Dessa forma, através
da luta por direitos, surgiram os conflitos entre os operários e patrões. Revoltados
com as péssimas condições de trabalho, eles perceberam que, unidos, a forma a de
conseguirem melhorias no trabalho era fazer manifestações, saqueamento de
máquinas e instalações fabris.
1.1 O trabalho e múltiplas faces
As condições de expedientes na fábrica pesquisada resultam na
relevância única do assunto no âmbito trabalhista enquanto atividade braçal,
principalmente em relação à função de costureiros, que são pessoas que estão
vulneráveis ao desgaste emocional, fruto do exercício repetitivo, reconhecidamente
de risco à saúde física, pois muitos trabalhadores possuem uma longa jornada de
trabalho, muitas vezes passado horas e horas sentados ou até mesmo em pé.
13
Alienação, segundo Marx, é “o estranhamento entre o trabalhador e sua produção”; isso significa dizer que o trabalhador não se reconhece como produtor daquela mercadoria produzida por ele, e seu resultado é o “trabalho alienado”, que se torna independente do produtor, hostil a ele, estranho, poderoso, e que, ademais, pertence a outro homem, que o subjuga – o que caracteriza uma relação social. (BARBOSA; OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 2011). 14
Filme Daens: Um grito de justiça se passa na cidade belga de Aalbst, no final do século XIX; filme retrata centenas de trabalhadores que vivem em estado de miséria, por conta de baixos salários.
20
Sujeitos a processos de avaliação e produção em mutação constante,
intermitentes inovações tecnológicas, os costureiros e costureiras e auxiliares de
produção têm de estar acompanhando o ritmo de produção exigido pelo sistema;
caso contrário, são excluídos ou substituídos por outras pessoas, por não terem sido
suficientemente competentes para seus determinados cargos. Sendo assim, o medo
de errar uma costura, bordar um bolso, costurar um botão, atrasar a produção e de
não cumprimento de horário, por exemplo, expõe os trabalhadores
permanentemente a processos de ajustamento ao trabalho que realizam.
Podemos citar o Taylorismo15, em que cada sujeito é encarregado apenas
de realizar sua função, em um determinado tempo e de forma mecânica. O oficio de
produzir roupas comporta singularidades; exige atividade intelectual e atenção
redobrada. Dessa forma, cada operário deve se manter concentrado em seu ato de
produção, pois, se houver qualquer falha na peça, ela será descartada da produção.
Segundo Marx (2013, p. 113): “A mercadoria é, antes de tudo, um objeto
extremo, uma coisa que, por meio de suas propriedades, satisfaz necessidades
humanas de um tipo qualquer.”. O homem vende sua força de trabalhado para o
capitalista, fazendo de sua força um objeto que é vendido como mercadoria, em
troca de dinheiro no final do mês. Definido o que é mercadoria, podemos debater o
que são valor de uso e valor de troca:
A finalidade do capitalismo é “expandir” constantemente o valor de troca, ao qual todos os demais, desde as mais básicas e mais intimas necessidades dos indivíduos até as mais variadas atividades de produção, materiais e culturais [...] Ou seja, para converter a produção do capital em propósito da humanidade era preciso separar valor de uso e valor de troca, subordinando o primeiro ao segundo. (ANTUNES, 1999, p. 21).
Podemos dizer que valor de uso é o valor que a mercadoria tem apenas
para o consumo individual, seja qual for sua forma social; o valor de troca, por sua
vez, tem uma relação quantitativa para a sociedade – “[...] a proporção na qual
valores de uso de um tipo são trocados por valores de uso de outro tipo.” (MARX,
2013, p. 114) –, porém, é uma relação que muda de acordo com o seu espaço e seu
tempo.
15
“Taylorismo é a linha de produção, onde cada operário realiza uma única operação simples e num tempo determinado mecanicamente (pela velocidade da estrutura de produção), deveria eliminar os chamados ‘tempos mortos’ da indústria.” (CARLOS, 1999, p. 51).
21
Para que um produto possa se tornar mercadoria16, ele precisa ter seu
valor de troca, sua importância deve ser útil para outras pessoas, para que possa ter
um valor de uso. Nenhum utensílio pode ser valor sem ser objeto de uso – alguém
tem de usufruí-lo. Caso ele seja inútil, o dispêndio da força17 que foi usado nele será
inválida, não terá valor algum:
Como regra geral, quanto maior é a força produtiva do trabalho, menor é o tempo de trabalho requerido para a produção de um artigo, menor a massa de trabalho nele cristalizada e menor seu valor [...] quanto menor a força produtiva do trabalho, maior o tempo de trabalho necessário para a produção de um artigo e maior seu valor. Assim, a grandeza de valor de uma mercadoria varia na razão direta da quantidade de trabalho que nela é realizado e na razão inversa da força produtiva desse trabalho. (MARX, 2013. p. 11).
Marx (2013) explica que concebe o trabalho tanto na dimensão positiva,
sem fazer apologia à tarefa estranha, assalariada, como na negativa, sem negar
indistintamente o labor. É importante destacar que há, em Marx (2013), a distinção e
a íntima relação entre trabalho útil-concreto (positivo) – “trabalho vivo”, que produz
valor de uso, indispensável à produção e reprodução humana – e o abstrato
negativo, o “trabalho morto”, contido nas mercadorias, cujo principal fim é a criação
de mais-valia, a valorização do custo, a reprodução e autovalorização do capital.
O trabalho útil-concreto é de cunho qualitativo e cria valores de uso
necessários ao ser humano, para satisfazer socialmente suas necessidades físicas e
espirituais; ele produz valor de uso e não é uma substância metafísica, genérica,
vaga e imprecisa, que não se põe na realidade histórico-social, mas uma atividade
de autodesenvolvimento e autorrealização do homem, atividade primária, natural,
necessária e presente em todas as formas de sociabilidade humana, inclusive na
capitalista, pois, mesmo sob controle, não muda sua essência.
O trabalho abstrato, por sua vez, é puro e simplesmente quantitativo, a
substância e a grandeza do valor, e produz mais-valia para o capital; é atividade
dirigida com o fim de criar valores de uso, de apropriar-se dos elementos naturais
16
Segundo Barbon (apud MARX, 2013, p. 115): “Um tipo de mercadoria é tão bom quanto outro se seu valor de troca for da mesma grandeza. Pois não existe nenhuma diferença ou possibilidade de diferenciação entre coisas cujos valores de troca são da mesma grandeza.”. 17
“Dispêndio de forças de trabalho do homem, por meio de sua duração, assume a forma da grandeza de valor dos produtos de trabalho; finalmente, as relações entre os produtores, em que aquelas características sociais de seus trabalhos são ativadas, assumem a forma de uma relação social entre os produtos de trabalho.” (ANTUNES, 2011, p. 147).
22
que sirvam para satisfazer as necessidades, e só pode produzir à medida que se
trabalha, pois, sem a atividade, não é possível pensar na produção e na reprodução
social, ou seja, na vida humana, ou em qualquer forma de sociabilidade; o trabalho
abstrato é o dispêndio da força de trabalho, no qual o homem gasta toda sua força
física e mental para produzir uma mercadoria.
É, por um lado, a ação simples, homogênea, indiferente às diversas
variedades de trabalho; por outro lado, ele é socialmente necessário para o homem;
é o “trabalho morto”, contido, inserido num produto, quer dizer, o tempo de consumo
na produção de coisas – de modo que o produto perde seu caráter, seu valor de
uso, particular, sua diferença qualitativa, passando a ser apenas uma mercadoria,
um quantum de tempo cristalizado.
Muita gente pensa que o fato de uma pessoa estar empregada é apenas
uma ligação entre o homem e a natureza, Marx (2011) observa, em O Capital, que o
trabalho envolve diversas dimensões; é uma atividade social, coletiva, tendo em
vista um fim, e é aplicada à natureza – o objeto universal do exercício humano e os
seus meios, como ferramentas, instrumentos, com os quais o homens transforma a
natureza; é uma atividade complexa, que envolve a relação do homem com o objeto,
produto, resultado da objetivação de seu esforço; e envolve a relação do homem
com sua vida genérica e a relação do homem com outros homens.
Podemos dizer que a sociedade brasileira atual não é simplesmente o
conjunto de homens e mulheres que a constitui, mas algo além disso; são seres
sociais que formam a sociedade em conjunto com outros seres (homens e
mulheres), e pelo trabalho eles se relacionam.
Como destacam Braz e Netto (2006, p. 43, grifo do autor): “O trabalho é
constitutivo do ser social, mas o ser social não se reduz ou esgota as ações. Quanto
mais se desenvolve o ser social, mais as suas objetivações transcendem o espaço
ligado diretamente ao trabalho.”. Ou seja, o desdobramento do ser social acarreta o
surgimento de uma racionalidade, de delicadeza e de uma atividade que tem
sustentação do trabalho e cria suas próprias objetivações.
23
O homem, como ser social18, vem sendo investigado numa escala de
milhares de anos. Através do trabalho, o homem, uma espécie natural, sem deixar
de participar da natureza, modificou-se, transformando-se em algo diversificado da
natureza, mas essa modificação originou-se à sua própria atividade. Foi mediante o
seu esforço que integrantes dessa categoria se tornaram seres que, a partir de uma
base natural (seu corpo, suas pulsões, seu metabolismo etc.), desenvolveram
características e traços que os diferenciam da natureza.
1.2 Trabalho e precarização
O trabalho é um processo de transformação e faz parte da essência do
ser humano. Os homens são o que produzem, o que fazem. Ele é a mediação entre
o homem e a natureza. Por meio dele o homem transforma a si mesmo, pois, nessa
relação planejada teleologicamente, faz projetos, representa mentalmente os
produtos que quer transformar. Essa teoria vem, portanto, denunciar sua alienação
no mundo moderno, onde o trabalho transforma-se em mercadoria e desumaniza o
homem.
Fazendo um breve resgate histórico da palavra trabalho, observa-se que,
no grego, essa palavra distingue-se entre labor (cujo homem usa sua força, precisa
de seu corpo para sobreviver), é a mão de obra do homem, ele mesmo fabrica seus
produtos, e a práxis, que é a ação política na sociedade. O fato de o homem buscar
a produção e a reprodução de sua vida societal por meio do esforço e luta por sua
existência, cria e renova as suas próprias condições de reprodução.
O trabalho pode ser uma atividade penosa, um fardo ou uma doença
quando não possui condições básicas, como: banheiros limpos, iluminação e bom
relacionamento com os colegas. Quando a atividade é prazerosa, os trabalhadores
se sentem satisfeitos por fazerem parte daquela equipe e constroem um crescimento
pessoal e profissional dentro da empresa, sentindo-se realizados. E o que
18
Segundo Braz e Netto (2006, p. ??): “O Ser Social se particulariza por realizar atividades teleologicamente orientadas; objetivar-se material e idealmente; comunicar-se e expressar-se pela linguagem articulada; tratar-se suas atividades e a si mesmo de modo reflexivo, consciente e autoconsciente; escolher entre alternativas concretas; universalizar-se e sociabilizar-se. O ser social é a síntese dessas determinações estruturais.”.
24
precisamos são de boas condições de trabalho, pois ele ocupa a maior parte do
tempo na vida das pessoas.
Essa concepção foi evoluindo ao longo da história, desde a mera
satisfação das necessidades básicas até as condições vitais e essenciais. Marx
(1968) é quem analisa, de forma detalhada, o significado concreto do trabalho para o
desenvolvimento do homem e suas distorções na sociedade capitalista. Dá-lhe um
significado mais abrangente, definindo-o como operação humana de transformação
da matéria natural em objeto de cultura, em que o homem entra em ação para
sobreviver e realizar-se, criando instrumentos e, com isso, todo um universo de
vinculação com a natureza, realização de uma obra de reconhecimento social.
A teleologia é uma atividade única e exclusiva dos homens, somente o
ser humano tem a capacidade produzir, criar e reinventar. O trabalho, em seu
sentido concreto, é uma atividade exclusivamente humana; mesmo que uma aranha
faça operação semelhante às de um costureiro ou uma abelha supere um arquiteto
ao construir sua colmeia, tais operações ofuscantes não substituem o homem
quando ele se vale de sua força braçal.
Para Marx (2013), o trabalho não é um simples fazer repetitivo, fortuito,
quase mecânico, restrito e impulsionado de acordo com uma estrutura orgânica e,
por isso, norteado apenas para uma necessidade específica; mas uma atividade
livre e consciente, subordinada à vontade, pois o homem, antes de fazer, constrói
mentalmente sua obra, imprimindo nela o projeto que tinha a priori na consciência.
O homem, antes de produzir qualquer peça, em um primeiro momento,
mentaliza todo o processo de produção, até chegar ao produto final para, somente
depois, comprar o material necessário para produzir o que idealizou e construir tudo
conforme o planejado; os animais, por sua vez, desenvolvem suas atividades pelo
extinto, mesmo que, muitas vezes, pareça que um pássaro racionaliza na hora de
construir seu ninho, para ficar perfeito.
A precarização do trabalho refere-se ao surgimento de novas formas, a
partir de um processo de mudanças estruturais no capitalismo, que procuram
garantir a competitividade entre as empresas, por meio da flexibilização de suas
relações. Nesse processo, ocorrem novas bases institucionais para o
25
desenvolvimento do capitalismo; ele passa a se basear em modelos flexíveis de
produção.
Para Alves (2007), no Brasil, a experiência da precarização é resultado da
síndrome objetiva da insegurança de classe (insegurança de emprego, de
representação, de contrato), que emerge como numa textura histórica; possui, como
base objetiva, a intensificação (e a ampliação) da exploração da força de trabalho e
o desmonte de coletivos de resistência sindical-corporativa, a fragmentação social
nas cidades, em virtude do crescimento exacerbado do desemprego total, e a deriva
pessoal no tocante a perspectivas de carreira, devido à ampliação de um precário
mercado.
De acordo com Mézarios (2002), estamos diante de um ataque à classe
operária, em todo o mundo, que se revela, de um lado, no desemprego crônico em
todos os campos de atividade, disfarçado como práticas trabalhistas flexíveis
(eufemismo para a política de precarização da força de trabalho) e para a máxima
exploração administrável do trabalho em tempo parcial; e, de outro, numa redução
significativa do padrão de vida até mesmo dos trabalhadores em ocupações de
tempo integral.
A precarização econômica e a regressão social convergem com a
omissão do Estado em funções fundamentais no âmbito do trabalho e da proteção
social. Nesse contexto, questiona-se a legitimidade de um Estado que, pautado pela
racionalidade da ordem econômica dominante, ausenta-se na redefinição das
regularidades contratuais e salariais anteriores e nem mesmo consegue
desempenhar seu papel na compensação das desigualdades e fragilidades sociais,
bem como na reparação das injustiças; um Estado que, frente ao enorme
contingente do moderno “exército industrial de reserva”19, gerado pelo desemprego
em massa, oferece, quando muito, alternativas de reinserção circunstancial,
negociadas com as empresas, por meio de incentivos financeiros e redução ou
isenção de encargos sociais.
19
Segundo Canuto (2013), exército Industrial de reserva é a força de trabalho que estará disponível para ser explorada de acordo com as necessidades variáveis da expansão do capital.
26
1.3 Qualidade de Vida no Trabalho e alienação
Notamos que o conceito de Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) baseia-
se na premissa de oportunizar a melhoria na qualidade de vida das pessoas,
abrangendo todos os aspectos desse viver: a pessoa, a família, o grupo social e o
ambiente, levando-se em conta que, atualmente, não podemos limitar a QVT, pois
há dois contextos que influenciam nessa qualidade, o dentro e o fora da fábrica.
O homem precisa ter motivação para trabalhar, ambiente limpo e
harmonioso, equipamentos em perfeitas condições de uso, salários em dia, bom
relacionamento dentro da fábrica, segurança etc. Todos esses fatores podem
parecer simples ou de pouca relevância para algumas pessoas; mas, para os
trabalhadores que têm o salário mínimo como único fator de renda e têm de exercer
sua função com qualidade, são extremamente importantes, pois, com salários
atrasados e sem os demais determinantes, essas pessoas não têm motivação para
saírem de suas casas, pegarem um transporte coletivo lotado e irem para seus
empregos.
Considerava-se como dimensões da Qualidade de Vida no Trabalho – QVT – a adequada e satisfatória recompensa; segurança e saúde do trabalho, desenvolvimento das capacidades humanas, crescimento e segurança profissional, interação social, direitos dos trabalhadores, espaço total de vida no trabalho e fora dele, e relevância social. (BUENO; SILVEIRA, 2002, p. 50).
Alguns autores que conceituam QVT; Eda Fernandes (1996) define a
QVT como a gestão dinâmica e contingencial dos fatores físicos, tecnológicos e
sócio-psicológicos que afetam a cultura e renovam o clima organizacional, refletindo
no bem estar do trabalhador e na produtividade das empresas.
Mas, de acordo com Fristch e Silveira (2002, p. 57), qualidade de vida,
segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), “[...] é a percepção do indivíduo
de sua posição na vida, no contexto da cultura e sistema e valores nos quais ele vive
e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações.”. Esse
conceito traduz a subjetividade e o caráter multidimensional da qualidade de vida.
Se pensarmos a qualidade de vida no trabalho, precisamos relacionar com a
categoria “trabalho”.
27
Ao tratar de todo esse processo de trabalho, precarização e qualidade de
vida, não podemos esquecer de nos referirmos ao processo de alienação.
O fundamento da alienação, para Marx (2013), encontra-se na atividade
humana prática: o trabalho. Ele faz referência principalmente às manifestações da
alienação na sociedade capitalista.[...] o fato econômico é “[...] o estranhamento
entre o trabalhador e sua produção”; isso significa dizer que o trabalhador não se
reconhece como produtor da mercadoria que produz, e seu resultado é o “trabalho
alienado”, que se torna independente do produtor, hostil a ele, estranho, poderoso e
que, ademais, pertence a outro homem, que o subjuga – o que caracteriza uma
relação social. O trabalhador não se sente responsável pelo que produziu.
Barbosa, Oliveira e Quintaneiro (2009, p. ??) observam que Marx destaca
três aspectos da alienação:
1) o trabalhador relaciona-se com o produto do seu trabalho como algo alheio a ele, que o domina e lhe é adverso, e relaciona-se da mesma forma com os objetos naturais do mundo externo; o trabalhador é alienado em relação as coisas; 2) a atividade do trabalhador tampouco está sob seu domínio, ele a percebe como estranha a si próprio, assim como sua vida pessoal e sua energia física e espiritual, sentidas como atividades que não lhe pertencem; o trabalhador é alienado em relação a si mesmo; 3) a vida genérica ou produtiva do ser humano torna-se apenas meio de vida para o trabalhador, ou seja, seu trabalho – que é sua atividade vital consciente e que o distingue dos animais – deixa de ser livre e passa a ser unicamente meio para que sobreviva.
O trabalhador chega a um ponto em que não consegue ver que ele
produziu determinada mercadoria; ele apenas costura e faz os acabamentos do
colarinho de uma camisa e, depois, a camisa já é repassada para outras costureiras
terminarem, o que faz com que os sujeitos não reconheçam que fizeram parte da
construção daquela camisa.
Podemos citar também, brevemente, o filme Tempos Modernos, no qual o
operário Carlitos – interpretado por Charles Chaplin –, em uma cena, é condicionado
a trabalhar em uma linha de montagem (Taylorismo) em que ele desenvolve
somente uma função, a de apertar parafusos, e seu corpo está preparado para
exercer essa função, de modo que ele tem apenas alguns segundos para ir ao
banheiro e, em seu caminho, ele continua apertando parafusos sistematicamente,
enquanto o capitalista fica vendo por um monitor todos os movimentos da fábrica.
28
Dito de outra forma, o trabalhador na sociedade capitalista e suas
propriedades humanas só existem para o capital. Se ele não tem trabalho, não tem
salário, não tem existência na sociedade. “O processo por meio do qual a essência
humana dos operários se objetivava nos produtos do seu trabalho e se contrapunha
a eles por serem produtor alienados e convertidos em capital.” (MARX, 2013. p. 19).
Diante das falas das entrevistados, notamos que na maioria delas, as
mulheres relataram que percebem seu trabalho como fonte de riqueza e
independência; outras dizem que é apenas uma atividade qualquer que serve para
sustentar a família; algumas se submetem a exercícios precários, pois precisam
trabalhar para sobreviver; e poucas buscam crescer cada vez mais profissional e
financeiramente, algumas vezes passando por cima de qualquer principio ético e
moral e não refletindo sobre suas ações, fazendo de seu trabalho uma fonte de
riqueza e lucros.
29
2 A FÁBRICA
Neste capítulo, abordamos o contexto da fábrica no Brasil e no Nordeste,
onde muitas mulheres fazem parte de um contexto histórico de lutas e conquistas
que nos reflete nos dias atuais, como o Dia Internacional da Mulher; e realizamos a
pesquisa em um setor têxtil de Fortaleza, onde pudemos conhecer a realidade de
mulheres que trabalham todos os dias, em condições precárias.
Na fase de implantação referente ao novo sistema tarifário, em 1844, foi
traçada a primeira indústria brasileira, quando as tarifas alfandegárias tiveram uma
elevação para a média de 30%; isso provocou protestos em várias nações
europeias. Com essa medida, foi oferecido um estimulo à industrialização para o
ramo têxtil, que foi pioneiro desse processo (PRADO, 1997), chegando até o
Nordeste brasileiro.
Em relação à Guararapes, fazemos uma breve relação entre a visita de
campo com a obra Vigiar e Punir, de Foucault (1993) – que trata da disciplina e dos
corpos dóceis –, pois, no contexto da Guararapes, as mulheres têm de trabalhar
numa linha de disciplina estreita, sendo monitoradas o expediente inteiro.
Marx nos faz refletir que, com o desenvolvimento das máquinas do
mercado, o sistema maquinário era e continua sendo um sistema de alta produção e
eficiência. Após a Revolução Industrial, a máquina passou a ter uma maior
visibilidade para o capitalista, que utiliza o trabalhador somente para manuseá-la,
descartando seu pensamento científico e fazendo dele um mero executor de tarefas;
outros trabalhadores passaram por um processo de especialização, ficando
responsáveis de realizar somente uma atividade específica.
A máquina possuía um trabalho mais emancipado e que ultrapassava as
forças humanas e acabou superando o pilar da manufatura: “O corpo humano entra
numa maquinaria de poder que o esquadrilha, e desarticula e recompõem.”
(FOUCAULT, 1993, p. 127).
A divisão do trabalho que reaparece na fábrica automática consiste, antes de mais nada, na distribuição dos trabalhadores entre as máquinas especializadas, bem como de massas de trabalhadores que, entretanto, não chegam a formar grupos articulados entre os diversos departamentos as fábrica, onde trabalham em máquinas-ferramentas do mesmo tipo,
30
enfileiradas uma ao lado da outra, de modo que entre eles, ocorre apenas a cooperação simples. (MARX, 2013, p. 492).
Desde muito antes da Revolução Industrial, homens e mulheres
desempenhavam papeis diferentes na sociedade, havendo uma divisão sexual do
trabalho – as mulheres eram encarregadas do trabalho mais manual e repetitivo, e
os homens tinham o trabalho que requeria mais técnica.
As formas de inserção de homens e mulheres no mercado de trabalho
revelam as representações sobre o gênero masculino e feminino construídos
culturalmente, ou seja, essas representações culturais são a base da divisão sexual
do trabalho, “[...] estabelecendo ‘os lugares’ a que estão destinados homens e
mulheres desde a inserção no mercado de trabalho, as estratégias de qualificação e
os postos de trabalho a serem ocupados.” (NEVES, 2001, p. 107).
Sabemos que homens e mulheres possuem estruturas físicas distintas; os
homens possuem mais habilidades quando falamos de força braçal, e as mulheres
têm mais sensibilidade e fazem um trabalho mais detalhado e cuidadoso.
Segundo o Programa Nacional da CUT de prevenção da LER, a lesão por esforço repetitivo é definida como um conjunto de doenças que atingem músculos, tendões e nervos dos membros superiores (dedos, mãos, punhos, antebraços, braços e pescoço) e têm relação direta com as exigências das tarefas, os ambientes físicos e a organização do trabalho. (ALVES, 2005, p. 83).
Saliba e Paula (1998, p. 287), em artigo de ambas sobre uma fábrica de
veículos, constaram que a fábrica possuía uma desqualificação do trabalhado
feminino, pois “[...] as mulheres não se ocupavam dos ajustes e preparação dos
equipamentos, nem do controle de qualidade, sempre atribuídos aos homens”. A
fábrica alegava que as mulheres tinham menos força física e tinham que ter um
trabalho mais leve e mais simples. A pesquisa foi realizada em mais outras quatro
empresas e todas tinham a mão de obra feminina desqualificada.
O capitalista realmente se importa com as condições de trabalho que sua
empresa oferece para os funcionários? As melhorias implementadas nas
fábricas/empresas viabilizam a satisfação do trabalhador? Por que será que
inúmeras pessoas se submetem a trabalhos precários?
31
2.1 Industrial têxtil no Brasil e no Nordeste
A indústria têxtil brasileira é caracterizada por sua heterogeneidade no
que se refere ao porte, à linha de produtos e ao estágio tecnológico e gerencial. No
segmento de fiação, é expressivo o grau de integração vertical com as demais
etapas do processo produtivo. Já no segmento de tecelagem plana, a maior parte
das empresas não é integrada. Apenas as maiores empresas que compõem o setor,
geralmente produtoras de cama, mesa e banho e fabricantes de tecidos de algodão
e brins, são integradas em fiação, tecelagem e acabamento. Na malharia, é grande
o grau de verticalização, especialmente com a confecção. (TESSARI, 1999).
Apresentaremos, inicialmente, aspectos nativos dos artesões, observadas
a tendência e a evolução econômica desse setor, devido às condições locais de fácil
adaptação e à matéria-prima. Essas tarefas estavam ligadas diretamente às culturas
de fibras naturais, algodão, seda, linho e outros.
Segundo Caldas (2004), a industrialização, no Brasil teve início com a
chegada dos portugueses, quando os índios que aqui habitavam e já exerciam suas
atividades artesanais (objetos e acessórios) e produziam suas telas, para várias
finalidades, inclusive para proteção do próprio corpo. Parte-se do princípio de que,
com a ocupação do território brasileiro, em 1500, podem ser identificadas quatro
etapas importantes para a definição da evolução da indústria têxtil no pais: a fase
colonial, a de implantação, a de consolidação e a fase dos anos 2000.
O processo de industrialização foi acelerado, podendo ser levado em
consideração o período de 1844 até 1913, com ênfase na fase de implantação da
indústria no Brasil. Em 1864, o país já permitia uma razoável cultura algodoeira –
matéria-prima básica na cultura têxtil – e já tinha mão de obra abundante e um
mercado consumidor que se encontrava em crescimento. (CALDAS, 2004).
Em 1864, funcionavam aproximadamente vinte fábricas em todo território
brasileiro, com cerca de 15.000 fusos e 385 teares. Menos de vinte anos depois, ou
seja, em 1881, o total cresceu para 44 fábricas e 60.000 fusos, gerando
aproximadamente cerca de 5.000 empregos. Com o passar dos anos, houve um
crescimento do processo de industrialização e, às vésperas da Primeira Guerra
32
Mundial, contávamos com mais ou menos 200 fábricas, as quais geravam,
aproximadamente, 78.000 empregos. (PRADO, 1997).
Já nos anos de 1990, no governo Collor de Melo, a economia começou a
passar por reformas em sua estrutura. Em 1993, as vendas regrediram no mercado,
devido às profundas transformações que ocorreram na política brasileira e na
economia, como a abertura do mercado econômico interno aos fornecedores
externos, iniciada em 1990, referente à redução de tarifas; esse foi um dos motivos
pelos quais várias empresas fecharam, para que pudessem se modernizar e investir
em sua estrutura, a fim de voltarem ao mercado.
Na estratégia da competitividade de grandes empresas, e com as
tecnologias implementadas no setor têxtil, elas se estabeleceram nas regiões
Sudeste, Sul, entre os estados de Minas Gerais e Porto Alegre, principalmente no
estado de São Paulo, onde grande parte da indústria têxtil realizou um significativo
ajuste em suas plantas no final dos anos de 1980 e início dos anos de 1990.
No movimento geral da integração dos mercados nacionais, o Nordeste,
entretanto, teve uma perda de importância, tanto no contexto nacional como no
regional, em vista da ação de incentivos diferenciados (de mercado e estatais),
beneficiando o setor têxtil do Centro-Sul. Mesmo assim, em 1989, estimava-se que a
indústria têxtil nordestina gerava cerca de 20% do total produzido no País.
(CARVALHO, 1989)
Com a criação da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste
(SUDENE)20, a indústria têxtil nordestina sofreu um processo de intensa
modernização; inúmeras empresas arcaicas chegaram a seu fim, e outras,
tecnologicamente atualizadas, nasceram. Com esse processo de mudança,
Pernambuco sofreu grandes perdas na localização do parque regional, na maior
parte da Região Metropolitana de Recife; nos anos de 1969 e 1897, foi excluída da
faixa. E foi o incentivador para trazer a indústria têxtil para o Nordeste.
Levando em consideração o peso que as inovações tecnológicas passam
a representar quando se trata da modernização da industrial têxtil na região
20
A Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) é uma autarquia especial, administrativa e financeiramente autônoma, integrante do Sistema de Planejamento e de Orçamento Federal, criada pela Lei Complementar n° 125, de 03 de janeiro de 2007, com sede na cidade de Recife/PE; é vinculada ao Ministério da Integração Nacional.
33
Nordeste, segundo Caldas (2004), um fator de competitividade para essa indústria é
o desempenho dos equipamentos, relacionado, por exemplo, ao aumento da
capacidade produtiva e à qualidade dos produtos obtidos, sem alterar os
conhecimentos necessários por parte do operador, embora suas inovações exijam
novas qualificações referentes à área de informática e comunicação.
A indústria têxtil/confecções do Ceará, mais especificamente de
Fortaleza, nasceu como um dos importantes centros do setor, tanto em nível
regional como nacional. Entre os anos de 1970 e 1985, por exemplo, o número de
estabelecimentos têxteis do Ceará cresceu de 155 para 358, enquanto os ligados ao
vestuário passaram de 152 para 850 (Censos Industriais – IBGE).
Segundo o Sindicato da Indústria de Confecções do Ceará, em 1991, o
pólo cearense reunia cerca de 3.000 empresas, gerava 60.000 empregos diretos e
era responsável por 12% do ICMS do Ceará. Esses dados, mesmo que possam ser
superados, ilustram a dinâmica das atividades do Estado.
Na origem da indústria têxtil/confecções cearense, encontram-se as
habilidades artesanais das "rendeiras", as vocações e qualificações de uma
população afeita ao setor, juntamente com os tradicionalmente baixos níveis
salariais e a disponibilidade de algodão.
A partir dos anos de 1980, foram organizadas feiras de moda que, pouco
a pouco, ganharam espaço em nível nacional e que hoje reúnem mais de 400
empresas. Para isso, contribuiu também a organização dos produtores em
associações e sindicatos, tanto na dinamização de mercados como na busca por
apoio do Estado. Esse apoio tomou a forma de incentivos fiscais estaduais, bem
como do FINOR (Fundo de Investimentos do Nordeste)/SUDENE (Superintendência
do Desenvolvimento do Nordeste).
As facilidades dos incentivos atraíram grandes projetos para Fortaleza,
na tecelagem21 e principalmente na fiação22. Outros fatores, como o dinamismo
empresarial, a qualidade dos produtos, associada a preços competitivos, e a própria
diferenciação de produtos das confecções impulsionaram fortemente a expansão do
pólo cearense.
21
“Trabalho ou indústria de tecelão; tecedouro.” (BUENO, 2000, p. 607).
22
“Ação ou modo de fiar; lugar onde se fia.” (BUENO, 2000, p. 281).
34
É importante levar em conta que o parque têxtil/confecções de Fortaleza
apresenta-se competitivo em nível nacional, e, no caso da fiação, em nível
internacional, em função de sua atualização tecnológica. Os segmentos de
tecelagem e de confecções, embora apresentem as heterogeneidades
características do desenvolvimento desigual, contam com um padrão de nível
tecnológico semelhante ao existente no Centro-Sul do País, mesmo que este esteja
em média dez anos atrasado em relação ao padrão dos países mais avançados do
setor, conforme afirmaram alguns empresários entrevistados por supostos
jornalistas, em Fortaleza, no final da década de 1991.
Embora a maquinaria descarte tecnicamente o velho sistema da divisão do trabalho, este persiste na fábrica, num primeiro momento, como tradição da manufatura fixada no hábito, ate que, sob uma forma ainda mais repugnante, ele acaba reproduzindo e consolidando de modo sistemático pelo capital como meio de exploração da força de trabalho. (MARX, 2013, p. 494).
Embora o maquinário tenha chegado no mercado industrial para substituir
o homem, a presença de um sujeito para manusear a máquina é fundamental.
Podemos dizer que a maquinaria surgiu para somar com o trabalho humano, de
modo que indivíduo e máquina possam trabalhar juntos, um auxiliando o outro.
2.2 Histórico da Fábrica
Nesta subseção, abordamos projetos que a empresa disponibiliza aos
operários, algumas observações feitas nas visitas realizadas à fábrica e o histórico;
porém, não tivemos acesso à bibliografias dentro da empresa, pois Carlos Eduardo,
membro do RH, não pôde nos fornecer esses dados e disse que o histórico da
fábrica estava disponível na internet. O que nos foi repassado é que alguns dados
da empresa não podem ser divulgados e que o senhor Carlos Eduardo não poderia
nos passar essas informações por materiais escritos.
A história da fábrica têxtil teve início em 1947, quando Nevaldo Rocha
abriu sua primeira loja de roupas, chamada “A Capital”, em Natal/RN. Quatro anos
depois, a empresa implantou uma pequena confecção em Recife/PE e adquiriu
vários pontos de venda, em um momento em que o mercado de roupas no Nordeste
começava a se desenvolver.
35
Em outubro de 1956, os irmãos Nevaldo Rocha e Newton Rocha
fundaram a Guararapes, em Recife/PE. Dois anos depois, a matriz foi transferida
para Natal/RN, com a inauguração de sua primeira fábrica, com 2.500 m² de área
construída e onde se mantém até os dias de hoje.
No início da década de 1970, o capital da empresa foi aberto e, em 1976,
foram construídas as fábricas de Fortaleza/CE, hoje com 60.000m², e a de
Mossoró/RN, com 9.800m² de área construída. Nesse mesmo ano, foi criada a
cadeira de lojas Super G.
Em 1979, adquiriu-se as cadeias de Lojas e Wolens, expandindo sua
atuação para o varejo têxtil, área responsável pelo maior crescimento do grupo
atualmente. Desde o inicio, o objetivo do grupo é comercializar produtos de alta
qualidade e a preços baixos, sempre buscando satisfazer e agregar valores a seus
clientes, objetivo inalterado até hoje. Ainda em 1979, foi inaugurada a fábrica têxtil
em Natal/RN.
Idealizada por Flávio Rocha, em 1982, foi lançada a marca Pool, grife que
sempre se manteve conectada com os jovens e foi ícone de moda nos anos de
1980, além de ter sido a principal patrocinadora do piloto Ayrton Senna no início de
sua carreira. Hoje, a marca se multiplicou, para atingir mais de um segmento: público
jovem feminino, jovem masculino e para público adulto masculino.
Em 1997, a unidade fabril de Natal/RN foi transferida e ampliada para o
distrito industrial de Extremoz/RN, responsável pela produção da malharia do grupo
e por parte da camisaria, enquanto as três unidades fabris de Fortaleza/CE
produzem tecido plano (sarja, jeans e camisaria).
O grupo vem investindo em pesquisa, criação, desenvolvimento e no
processo de distribuição, para aperfeiçoar sua operação e intensificar a elaboração
do modelo integrado, a fim de aperfeiçoar seu timing entre o desenvolvimento do
produto e sua entrega nas lojas. Para isso, conta com dois grandes centros de
distribuição: um em Extremoz/RN, inaugurado em 2000, e outro em Guarulhos (SP),
inaugurado em 2002, os quais, junto com a Transportadora Casa Verde, são
responsáveis pela logística do grupo.
Segundo os donos/responsáveis pela fábrica, atualmente, o grupo
Guararapes é um exemplo de estabilidade no mercado; representa a maior
36
confecção de vestuário da América Latina, com uma produção de quase 200.000
peças por dia, que são totalmente comercializadas pela Riachuelo. Além da
Riachuelo, o grupo é proprietário do Shopping Midway Mall, inaugurado em abril de
2005, em Natal/RN, e da Midway Financeira.
O pólo de Fortaleza é composta por três fábricas: a Fábrica 1, que
confecciona somente jeans; a Fábrica 2, que confecciona jeans, sarja e roupas
sociais e a Fábrica 3, que confecciona jeans, camisas e sarja e onde funciona o
setor de Recursos Humanos (RH). A empresa conta com 6.000 funcionários, dos
quais 70% são mulheres e 30%, homens; das 70% de mulheres, a maioria é casada.
A fábrica atende também a um público bastante juvenil, jovens a partir dos 18 e 19
anos são inseridos no mercado de trabalho têxtil.
Na Fábrica 3, localiza-se o Centro Cultural, onde são desenvolvidas,
mensalmente, atividades de leitura na biblioteca – que tem mais de 2.400 livros –;
cinema duas vezes por mês, após o horário de serviço – mais ou menos às 17:30,
com direito a pipoca –; acesso a computadores (a empresa disponibiliza dez
unidades), que servem como fonte de pesquisa ou entretenimento; e palestras
voltadas para temas preventivos, as quais são, de acordo com a empresa, muito
bem aceitas pelos(as) funcionários(as), porém, poucas vezes as operárias
confirmaram essa afirmação.
Foi-nos relatado pelo senhor Carlos Eduardo que esses equipamentos
são usados duas vezes por mês (cinema e informática) e que os livros estão
disponíveis a qualquer hora. Mas todas essas atividades são desenvolvidas depois
dos expedientes.
Se o trabalho se torna dotado de sentido, será também (e decisivamente) através da arte, da poesia, da pintura, da literatura, da música, do tempo livre, do ócio, que o ser social poderá humanizar-se e emancipar-se em seu sentido mais profundo. (ANTUNES, 2011, p. 113, grifo do autor).
O autor nos mostra que o trabalho não pode ser arcaico; que, nele, pode
haver atividades vitais para os trabalhadores, para que possam ocupar o tempo ócio
e humanizar-se, sendo uma motivação para trabalharem.
Tivemos a oportunidade de conversar com um dos funcionários de
Recursos Humanos (RH), o senhor Carlos Eduardo; ele nos relatou que a fábrica
possui Responsabilidade Social, setor responsável pela parte social e individual
37
dos(as) operários(as), por meio do qual a empresa realiza palestras com temáticas
preventivas, como prevenção do câncer de mama, dengue, doenças sexualmente
transmissíveis (DST), entre outros assuntos. O setor também é responsável por
fazer com que os trabalhadores se envolvam nas atividades de leitura e informática.
Assim, tem-se em vista o âmbito social do trabalhador, para que ele se previna de
doenças e possa se emancipar perante a sociedade.
Segundo ele, é um setor que se preocupa com a qualidade de vida dos
funcionários, pois a Guararapes conta com o apoio de 23 profissionais que cuidam
da saúde dos trabalhadores e do âmbito social; a equipe é formada por médicos,
enfermeiros(as), técnicos de enfermagem, engenheiros de segurança do trabalho,
fisioterapeuta e outros profissionais. Outro compromisso da empresa é desenvolver
festas temáticas, como Dia das Mães, São João, Dia da Costureira (25 de maio),
Páscoa, Natal e outras datas comemorativas.
Outro projeto que a empresa oferece é um evento chamado 25 Anos
Guararapes, em que a empresa se mobiliza, anualmente, para prestigiar todos os
funcionários que estejam com 25 anos ou mais de empresa. A equipe se organiza,
todos os anos, e aluga buffet, prepara decoração e cerimônia, seja para um café da
manhã, almoço ou jantar, para uma solenidade com a presença da diretoria, a fim de
agradecer e homenagear todos esses funcionários que fazem parte do sucesso da
fábrica. São confeccionadas placas de homenagem com a foto dos funcionários e
uma mensagem de agradecimento, para que eles percebam que são importantes
para a empresa. A média de trabalhadores homenageados desse ano de 2013 foi de
125 trabalhadores.
Vale a pena destacar um evento grande como esse, pois sabemos que
está cada vez mais difícil uma pessoa chegar aos 25 anos ou mais de empresa, vez
que o mercado encontra-se cada vez mais instável.
Ele ainda afirma que esse evento – no qual todos os funcionários são
lembrados anualmente – serve para mostrar que a empresa tem responsabilidade e
compromisso para com eles.
A empresa possui também um portal sobre ética, no qual qualquer
funcionário da fábrica pode fazer suas críticas, denúncias e demonstrar suas
38
insatisfações sem ser identificado, para que o trabalhador se sinta satisfeito na
empresa da qual faz parte.
Quanto ao restaurante, as operárias relataram que, há 4 anos elas
pagavam uma taxa mensal de R$ 20,00 e a comida tinha uma qualidade melhor;
hoje, pagam o valor de 0,20 centavos (R$ 4,00 por mês) por refeição, mas a comida
é ruim. Além disso, alguns trabalhadores(as) possuem problemas de saúde, como
pressão alta, mas o restaurante não se adapta a essas pessoas e nem faz uma
alimentação balanceada com verduras ou atenta às necessárias de saúde desses
trabalhadores. Assim, todos acabam tendo de almoçar uma comida, muitas vezes,
sem gosto.
Cada setor (auxiliar de produção, costureiras, corte do tecido etc.) possui,
no máximo, 50 funcionários, pois cada um deles precisa se manter organizado. Em
cada um, há um chefe que fica “fiscalizando” o trabalho para manter a ordem e a
agilidade do ambiente de trabalho; e neles ficam, em média, 35 mulheres e 15
homens.
A fábrica parece claramente um convento, uma fortaleza, uma cidade fechada; o guardião «só abrirá as portas à entrada dos operários, e depois que houver soado o sino que anuncia o reinicio do trabalho»; quinze minutos depois, ninguém mais terá o direito de entrar [...] (FOUCAULT, 1993, p. 131).
Os funcionários trabalham em grandes galpões (altos), porém, por existir
muitos operários trabalhando no mesmo galpão, ele se torna pequeno e apertado.
São galpões escuros, onde a única iluminação é a do sol, que transpassa pela
muralha de quebrassol e arames de solda de malha. O murro tem um leve tom de
cinza, que ameniza o calor do sol. As grandes mesas formam uma espécie de
esteira de produção, onde os(as) operários(as) ficam de pé, exercendo suas funções
com o auxílio de cadeiras acolchoadas, para poder aliviar o cansaço. Homens e
mulheres dividem o mesmo ambiente de trabalho.
Quando termina o horário de almoço, o pátio fica “deserto”: todos os
operários estão em seus setores, a única coisa que se vê no pátio são as motos e
carros de funcionários, e se ouve um grande barulho de máquinas trabalhando.
Segundo o relato de algumas entrevistadas, há um setor na fábrica 1 –
onde são confeccionados os jeans mais pesados – que possui um tapete anti-
39
estresse, pois os trabalhadores passam longas horas seguidas trabalhado em pé, e
esse tapete serve para amenizar o cansaço, e eles não percam o ritmo de trabalho.
Notamos também que algumas mulheres se reúnem nas proximidades
das arvores (onde há sombra) e fazem orações e louvores; outras ficam
conversando, deitadas na grama, nos bancos de cimento, comprando sobremesa
nas redondezas da fábrica ou vão pagar suas dívidas na entrada da fábrica, onde
outras mulheres ficam esperando pelo pagamento de produtos comprados.
Quando estivemos fazendo as observações de campo, pudemos
observar, inúmeras vezes, os funcionários dos serviços gerais fazendo a limpeza do
ambiente da fábrica, deixando-o sempre muito limpo e organizado, pois, como era
horário de almoço, alguns funcionários entravam comendo alguma coisa e jogavam
no pátio.
Todos os dias, vendedores ambulantes montam suas barracas nos dois
lados das fábricas, ocupando a calçada inteira, onde são vendidas diversas
mercadorias: sandálias, roupas, cintos, brinquedos, água, comida e até sobremesas,
vendidas principalmente no horário de almoço, pois é o momento dos funcionários
comprarem. Quando o horário de almoço termina, às 13h20, todos desmontam suas
barracas e recolhem seus produtos para o dia seguinte voltarem.
Apesar de todas essas informações, o que foi unânime nas falas das
entrevistadas foi o fato de o ambiente ser muito quente e de a farda contribuir para o
calor; por isso, muitas mulheres vão trabalhar de short na altura do joelho e de
sandálias abertas.
2.3 Corpos disciplinados
Podemos iniciar esta subseção definindo o que é corpo dócil, segundo
Foucault (1993, p. 126): “É dócil um corpo que pode ser submetido, que pode ser
utilizado, que pode ser transformado e aperfeiçoado.”; ou seja, um corpo fácil de
dominação e obediente.
Quando se domestica o corpo humano, ele está disposto a se conformar,
obedecer, responder e se modelar com tudo que lhe é imposto. Isso faz com que o
40
capitalista explore mais esse trabalhador, sem que este se revolte ou se rebele
contra o patrão ou a própria fábrica. Os corpos dóceis são úteis para o capitalismo
devido a essa zona de conformismo, são essenciais para o capital se utilizar e
explorar essas pessoas que foram “domadas”.
Depois que um corpo é disciplinado, dificilmente ele desobedece às
ordens impostas e certamente responde com fidelidade a esses comandos e os
acata. Assim, o capitalista pode usufruir desse corpo da maneira que quiser, pois é
um corpo com sabe obedecer e executar funções.
É notável como as pessoas são domadas. Todos os funcionários têm
hora certa para entrar e sair da fábrica. Durante o expediente, pudemos perceber
que não havia funcionários andando pelo pátio, todos estavam em seus devidos
lugares, trabalhando, dentro dos galpões, todos a executar suas funções, sob a
fiscalização de um supervisor. “O corpo humano entra numa maquinaria de poder
que o esquadrilha, o desarticula e o recompõem.” (FOUCAULT, 1993, p. 127).
[...] métodos que permitem o controle minucioso das operações do corpo, que realizam a sujeição constante de suas forças e lhe impões uma relação de docilidade-utilidade, são o que podemos «disciplinas». Muitos processos disciplinares existiam há muito tempo: nos conventos, nos exércitos, nas oficinas também. Mas as disciplinas se tornaram no decorrer dos séculos XVII e XVIII fórmulas gerais de dominação. (FOUCAULT, 1993, p. 126).
Relacionando esse ponto teórico com o campo de pesquisa, pudemos
observar, na visita de campo, que, durante o horário de almoço – aproximadamente
às 12h –, a empresa disponibiliza três seguranças que garantem a passagem dos
trabalhadores de um lado para o outro da avenida, para que possam se deslocar
para o refeitório e, em seguida, voltar à fábrica.
Essa passagem é feita dos dois lados; ambos os seguranças colocam
uma corda nas passagens e esperam o sinal de outro, que fica no semáforo, para
que, quando a luz ficar verde, os trabalhadores passem; um dos seguranças apita,
para que os outros dois seguranças liberem a passagem e os funcionários
atravessem a avenida com segurança. Essa metodologia é usada até às 12h30.
Outro aspecto que as entrevistadas colocaram em ênfase foi o refeitório,
pois perdem muito tempo para se deslocarem ao outro lado da avenida e chegarem
até ele; e, quando chegam, passam cerca de 20 minutos na fila para poderem
41
almoçar, e, se quiserem repetir o almoço, têm de pegar a fila novamente. Podemos
fazer uma relação com o texto de Foucault (1993, p.134)
A ordenação por fileiras, no século XVIII, começa a definir a grande forma de repartição dos indivíduos na ordem escolar: filas de alunos na sala, nos corredores, nos pátios; colocação atribuída a cada um em relação a cada tarefa e cada prova [...].
Dessa forma, podemos dizer que as filas surgiram na intenção de se
manter organização, disciplina do corpo em relação ao ambiente e às pessoas,
seres domesticados e disciplinados, aprendendo a respeitar o espaço do outro.
42
3 EMANCIPAÇÃO FEMININA, RELAÇÕES DE CONQUISTA E ANÁLISE DAS
ENTREVISTAS
Neste capítulo, abordamos as relações de conquista das mulheres na
sociedade, dados que comprovam uma relação de poder e hierarquia entre homens
e mulheres, e fazemos análise das entrevistas, para conhecer a realidade das
mulheres operárias que trabalham na fábrica.
A problemática feminina, desde o século XVIII, é marcada pela
desigualdade, opressão e discriminação; essas condições já haviam desde o
sistema patriarcal23, que se caracteriza essencialmente pela força masculina, que
denomina o homem como “ser maior” e coloca as mulheres em uma situação de
inferioridade e subordinação ao sexo oposto.
A categoria gênero contribui para desnaturalizar e historizar as desigualdades entre homens e mulheres, sendo entendido de modo histórico e relacional e não como “oposições decorrentes de traços inerentes aos distintos seres” para que não se incorra no erro de deixar de identificar “os diferentes poderes detidos e sofridos por homens e mulheres”. (SAFFIORTI, 1992, p. 193).
Podemos entender que a busca pela igualdade de gênero está para além
da igualdade entre homens e mulheres, ou mesmo da conquista de um novo papel
da mulher na sociedade.
Para Walker (2006), homem e mulher possuem tanto identidade como
papéis diferentes, portanto, têm também atitudes diferentes. Entendemos que, se os
dois sexos possuem ações distintas, não há possibilidade de se manterem tão
iguais; no entanto, isso não determina quem é superior ou inferior, assim como
declara a Constituição Brasileira, em seu capítulo I, artigo 5º: “Homens e mulheres
são iguais em direitos e obrigações.” (WALKER, 2008, p. 7).
Com isso, é possível notar que essas mulheres se propuseram a um
grande desafio, que seria se livrar das amarras do preconceito, do império masculino
e, assim, fixar sua autonomia, seu direito à cidadania, como prevê o Código dos
Diretos Humanos, em um espaço que tinha (e tem até hoje, de certa forma) a maior
23
O Sistema Patriarcal era o sistema no qual o homem era o chefe da família e tinha, por principio, preservar a linhagem e a honra familiar, procurando exercer sua autonomia sobre a mulher, filhos e demais dependentes. As mulheres, depois de casadas, passavam da tutela do pai para a do marido, cuidando dos filhos e da casa, no desempenho das atividades domésticas. (RODRIGUES, 200?).
43
parte dominada pela ordem masculina.
Pudemos observar, durante a pesquisa de campo, que, na fábrica, não há
esse preconceito ou descriminação; homens e mulheres compartilham das mesmas
funções e cargos.
3.1 A emancipação feminina e as relações de conquista
Segundo Regina (2003, p. 13):
Desde os primórdios da Revolução Francesa
24, no século XVIII é possível
observar que as mulheres já lutavam (mesmo que de forma desorganizada) pelos seus direitos e sua cidadania, a uma existência legal fora de seus lares, único lugar que eram reconhecidas como esposas e mães. Na metade do século XIX e nas primeiras décadas do século XX as manifestações e lutas se espalham por alguns países, em uma campanha pelos direitos políticos de votarem e de serem votadas. Desta forma as mulheres tiveram voz na sociedade e no mundo.
Ainda fazendo o resgate histórico, podemos lembrar alguns fatos sobre a
emancipação feminina na sociedade, como um que aconteceu no ano de 1857, na
Europa e nos Estados Unidos.
Durante muitos anos, a mulher conservadora assumiu um papel
fundamental na família: ser dona de casa, mãe e esposa. O homem era encarregado
de sustentar a família com os recursos financeiros. Com o surgimento da Revolução
Industrial (século XVIII), na Inglaterra, muitas mulheres começaram a se inserir no
mercado de trabalho, mesmo em situações precárias e com salários muito inferiores
aos dos homens.
No dia 8 de março de 1857, as operárias de uma fábrica têxtil de Nova
Iorque, cansadas de serem exploradas, entraram em greve e ocuparam a fábrica,
para lutarem e reivindicarem por uma redução da jornada de trabalho de 16 horas
diárias para oito horas e por melhores condições de trabalho. Porém, nesse mesmo
dia, essas mulheres foram trancadas na fábrica, supostamente pelos patrões, onde
24
Revolução Francesa: “Na França, ela representou de imediato a ruptura definitiva com o Antigo Regime, levando ao poder a burguesia e criando condições para o desenvolvimento do “Estado de direito” e do capitalismo. [...] de um lado, ela representou a burguesia; de outro, a luta de todos os povos contra qualquer forma de poder autoritário e a favor da liberdade, da democracia, do progresso e da modernização.” (GERALDO, 2003, p. 192).
44
houve um incêndio, e 130 mulheres morreram queimadas. Dezenas delas foram
queimadas vivas, sem piedade, por lutarem contra a exploração e a desigualdade
salarial. Essa foi uma das formas de tentar reprimir a luta das mulheres por melhores
condições.
Desde então, passamos a comemorar, no dia 8 de março, o Dia
Internacional da Mulher, um dia marcado por lutas, tragédias, violência, conquistas e
vitórias.
Na Inglaterra, no final do século XlX, inúmeras mulheres estiveram ativas
nas ruas, travando lutas no campo da educação, por um mercado de trabalho
ampliado e justo, por salários iguais e maior proteção à maternidade.
No Brasil, a atuação das mulheres também foi expressa de diversas
formas; embora apresente suas particularidades histórico-culturais, aparece
inicialmente na segunda metade do século XX, com as reivindicação sindicais.
Segundo Costa (2005, p.3), em “O movimento feminista no Brasil:
Dinâmicas de uma intervenção política”:
Em fins do século XIX, as mulheres brasileiras inseridas à produção social desempenhava uma parte significativa da força de trabalho empregada, ocupavam de forma cada vez mais crescente o trabalho na indústria, chegando a constituir a maioria da mão-de-obra empregada na indústria têxtil. Influenciadas pelas ideias anarquistas e socialistas trazidas pelos trabalhadores imigrantes espanhóis e italianos, já se podiam encontrar algumas mulheres incorporadas às lutas sindicais na defesa de melhores salários e condições de higiene e saúde no trabalho, além do combate às discriminações e abusos a que estavam submetidas por sua condição de gênero.
Mas somente na década de 1970 o movimento feminista ganha forças,
aliado às comemorações do Ano Internacional da Mulher e ao contexto de
resistência ao Regime Militar, adentrando no processo de reabertura política, o que
desencadeou uma série de mudanças e conquistas, relacionadas à luta por uma
nova condição da mulher no país.
No ano de 1980, foram criadas as primeiras Delegacias Policiais
Especializadas em Atendimento à Mulher, com um corpo profissional todo composto
por mulheres.
Considerada em sua historicidade, a categoria “gênero” se apresenta de
modo complexo. Homens e mulheres apresentam características distintas sobre
45
elementos culturais, sexuais, físicos e morais. Trata-se de entender como se
caracterizam os sujeitos em suas particularidades, mediante a forma como se
organizam e o modo como absorvem e reproduzem valores, em diferentes
ambientes, como família, trabalho, política e suas relações sexuais.
De acordo com a cartilha do Senado Federal intitulada Emancipação da
mulher: uma luta de todos (2008, p. 3): “As mulheres são protagonistas na afirmação
de um projeto nacional de desenvolvimento para o nosso país. Sua participação nas
esferas de poder e a ampliação de seus espaços na vida política, econômica e
social, são garantias da construção de uma sociedade justa, fraterna e igualitária.”.
As mulheres construíram sua própria história; fizeram aumentar,
gradativamente, sua participação no mercado de trabalho e não se limitam a um
campo pequeno; elas estão presentes em setores ditos masculinos, trabalhando
com serviços e produção direta, setores administrativos, nas gerências e serviços
burocráticos. Esse aumento ganhou intensidade em meados dos anos de 1980, e
elas estão conseguindo se igualar aos homens em relação a ocupações
profissionais; porém, ainda há barreiras a serem rompidas.
Essa discussão teórica pode ser relacionada à visita de campo, quando
as entrevistadas relataram que o papel do homem na fábrica é de carregar peso,
fabricar os jeans “mais pesados”, manutenção e funções que exigem mais esforço
físico e braçal; e as mulheres têm o papel de cuidar da costura, fazer o acabamento
das peças, costurar os bolsos e fazer as calças com mais detalhes, como fazem as
costureiras e auxiliares de produção. Essa divisão sexual do trabalho nos remonta a
um passado em que as mulheres eram submissas a seus maridos, em que tinham
de cuidar das atividades mais delicadas (costurar e cozinhar, por exemplo),
enquanto os homens iam trabalhar, para sustentar a casa.
Esses relatos nos mostram que há diferenças entre os campos de
trabalho de homens e mulheres; um deles é que as mulheres possuem postos
menos qualificados, quase não trabalham na operação de máquinas maiores e/ou
que exijam níveis mais altos de qualificação. (SALIBA; PAULA, 1997).
Podemos perceber que sociedade ainda nos educa dessa forma. A
mulher tem a tarefa de procriar, acalmar os conflitos familiares, ser esposa, mãe e
cuidar dos afazeres domésticos; já o homem é encarregado do trabalho fora do
46
espaço doméstico, para manter e sustentar a casa financeiramente. Mas, em
contrapartida, vivemos em uma sociedade em que temos inúmeras mulheres que,
todos os anos, buscam sua independência financeira no mercado de trabalho.
Encontramos algumas famílias tradicionais, que ainda seguem esse
modelo patriarcal, segundo o qual as mulheres ficam em casa e os homens vão
trabalhar, mas as mulheres, cada vez mais, estão se libertando dessa subordinação.
Apesar de recebermos uma educação patriarcal, de acordo com a qual as
mulheres devem cuidar do lar, essas mesmas mulheres vem lutando por seus
direitos, por exemplo, através de partidos políticos e/ou movimentos sociais; elas
estão lutando por sua emancipação e por melhores condições de trabalho na
sociedade.
Com todos os avanços, vivemos em uma época em que o trabalho
feminino vem crescendo anualmente, e as mulheres estão ganhando maior espaço
no mercado de trabalho. Mesmo com todas as conquistas (independência financeira,
realização pessoal, trabalho, etc.), sabemos que ainda há preconceito contras as
mulheres, muitas delas possuem um trabalho precário e com salários inferiores aos
dos homens, muitas vezes com o mesmo nível de escolaridade.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
em 2009, os homens ganhavam mais que as mulheres. E essa desigualdade de
rendimentos se mantém em todos os estados e regiões, e em todas as esferas de
estudo, tanto as mulheres com grau de escolarização igual ou inferior a três anos de
estudo ganham menos (61,5%) que os homens com o mesmo grau de escolaridade,
como as mulheres com maior grau de escolarização (11 anos ou mais de estudo)
ganham menos (57,1%) que os homens com esse mesmo grau de estudo.
47
Gráfico 1 – Rendimento médio habitual da população ocupada masculina, por
escolaridade, segundo grupamentos de atividade – 2009*
Fonte: IBGE. Disponível em: <www.ibge.gov.br>. Acesso em: 10 dez. 2013.
Gráfico 2 – Rendimento médio habitual da população ocupada feminina, por
escolaridade, segundo os grupamentos de atividade – 2009*
Fonte: IBGE. Disponível em: <www.ibge.gov.br>. Acesso em: 10 dez. 2013.
Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), de 2009,
apontam que cerca de 64,2% do contingente de mulheres ocupadas tinha entre 25 e
49 anos de idade; entre os homens, esse percentual era de 61,5%.
48
Gráfico 3 – Distribuição da população com 10 anos ou mais de idade, por condição
de atividade, segundo o sexo – 2009*
*Média das estimativas mensais.
Fonte: IBGE. Disponível em: <www.ibge.gov.br>. Acesso em: 10 dez. 2013.
É nesse momento que o capitalismo age para obter seus lucros, fazendo
com que a mão de obra feminina se barateei:
Na divisão sexual do trabalho operada pelo capital dentro do espaço fabril, geralmente as atividades de concepção ou aquelas baseadas em capital intensivo são preenchidas pelo trabalho masculino, enquanto aquelas dotadas de menos qualificação, mais elementares e muitas vezes fundadas em trabalho intensivo, são destinadas às mulheres trabalhadoras (e, muito frequentemente também aos trabalhadores/ os imigrantes e negros/as). (ANTUNES, 1999, p.105-06).
O trabalho feminino ainda é discriminado; porém, o número de mulheres
que ingressam no mercado de trabalho vem crescendo todos os anos. Mesmo com
todas as conquistas (independência financeira, realização pessoal e profissional),
muitas possuem um trabalho precário e com salários inferiores aos dos homens;
além disso, inúmeras mulheres têm uma jornada de trabalho maior ou igual à dos
homens mas com remuneração inferior. É nesse momento que o capitalismo se
aproveita, para obter suas fontes de lucro, fazendo com que a mão de obra feminina
se barateei.
Na Guararapes, não há essa diferença de salários entre homens e
mulheres, mas sim por funções; há uma escala de cargos mais “importantes”: os
homens que fazem parte dos serviços gerais ganham menos que os(as) auxiliares
49
de produção, os quais ganham, por sua vez, menos que os(as) costureiros(as), mas
essa estimativa não fica abaixo do salário mínimo.
Os cargos de comando, que pudemos conhecer superficialmente, como
RH (Recursos Humanos), recepção e gerência, são formados por homens e
mulheres. O setor de RH possui dois homens e uma mulher; na recepção, ficam
duas mulheres e nenhum homem, de modo que há heterogeneidade em relação aos
cargos.
Em contrapartida, o trabalho é precário, pois elas são obrigadas a
trabalhar no “escuro”, somente com a luz do sol, que entra pelas grades; no período
do inverno, trabalham molhadas, porque a frente da fábrica fica alagada; têm de
dividir seis banheiros com mais de três mil mulheres, sendo que os banheiros
passam dias para serem higienizados. Podemos citar a fala de uma das
entrevistadas, que mostra suas insatisfações em relação ao ambiente de trabalho.
As condições? É quente, muito! Só que agora eles tão dando um jeitinho até que ta mais fresquinho, mais é muito quente. A questão do refeitório também é muito ruim essa passagem, em tempo de chuva nem se fala, fica tudo alagado a gente não consegue passar, tem que passar por dentro da água, é humilhante. (RISOS) É humilhante a gente tem que passar por dentro da água, debaixo de chuva mesmo, molhada. (Claúdia, 32 anos, casada)
As operárias reconhecem que trabalham somente por conta dos salários,
de sua independência financeira e para ajudar a família. Para o capitalista, sua fonte
de riqueza e exploração começa quando o trabalhador chega ao seu local de
trabalho, mas, para o trabalhador, sua riqueza está no final do mês, quando recebe
seu pagamento. As operárias não consideram seus trabalhos como fonte de prazer,
pois, na maioria dos casos, elas trabalham em pé, por seguidas horas, sem
descanso; trabalham para viver e ter algum momento de lazer. Ou seja, elas não se
satisfazem com o trabalho, pois se torna repetitivo e se nega diante da mercadoria.
Mesmo com todas as dificuldades e indignações, elas não lutam por
melhorias; chegaram a um ponto em que já se conformaram com o que lhes é
imposto: chegam à fábrica, executam sua função e vão embora, para descansar,
para, no dia seguinte, começar mais uma jornada de trabalho. Algumas relatam que
não têm motivos para reclamar, pois nunca são ouvidas. São mulheres apáticas e
cansadas. Há um conformismo, uma zona de conforto – apenas trabalhar e receber
o salário é o suficiente, pois reivindicar não funciona.
50
3.2 Análise das entrevistas
Nesta subseção, trataremos um pouco da rotina e da realidade de
algumas mulheres assalariadas que prestam seus serviços em troca de um salário
mínimo.
O acelerado processo de mudanças na economia global, nos últimos
anos, e a reestruturação produtiva reconfiguraram as relações de gênero. A inserção
da mulher no mercado de trabalho está cada vez maior:
O aumento da participação feminina no mercado de trabalho está associado à necessidade de sobrevivência familiar, ou seja, de um maior numero de pessoas da família trabalhando, quando a oferta dessa mão-de-obra muitas vezes cria suas oportunidades de trabalho. (DOWBOR; KILSZTAJN, 2001, p. 285-86).
Podemos observar, em alguns depoimentos, que essa realidade é bem
presente. Algumas mulheres estão inseridas no mercado de trabalho para compor o
orçamento financeiro do companheiro nas atividades domésticas, para pagar um
colégio de qualidade para seus filhos e/ou manter a própria família.
3.2.1 Percepção do trabalho
Pra mim é tudo né porque antigamente eu não trabalhava e quando eu entrei aqui, eu atingi várias metas da minha vida que eu nunca pensei em um dia jamais alcançar. Foi bom e está sendo bom. (Rosa, 27 anos, divorciada) Minha independência, eu tenho minha profissão, pra mim é uma profissão muito útil. Eu fabrico, eu faço, eu costuro é uma coisa bem diferente. (Débora, 32 anos, solteira)
Bem né, só em a gente ganhar nosso próprio dinheiro honestamente já é bom demais. (Maria Auxiliadora, 30 anos, solteira)
Notamos que, nas três falas, as entrevistadas percebem o trabalho como
algo útil e gratificante, pois é através dele que elas conseguem ter sua
independência e conquistar sonhos; porém, observamos que, em uma das falas,
deixa-se transparecer certo conformismo – como se só trabalhar e ter o salário fosse
suficiente.
51
3.2.2 Vida doméstica x vida profissional
Bem cansativa, chego em casa muito cansada ainda tenho filhos, tenho tudo pra ajeitar, é bem difícil conciliar, mais a gente tem que conciliar né. (Rosa 27 anos, divorciada)
A relação é só mesmo o meu salário né, e que dá pra mim manter um padrão de vida melhor. (Débora, 32 anos, solteira)
Assim, eu diferencio, trabalho é trabalho, casa é casa. (Luciene, 30 anos, solteira)
O cansaço predominou na fala da maioria das entrevistadas, em que
foram relatados o estresse, dores musculares e desgaste mental. Das 14 mulheres
entrevistadas, apenas uma relatou que não consegue diferenciar o trabalho de sua
vida doméstica; as outras disseram que conseguem fazer essa diferenciação.
3.2.3 Qualidade de Vida no Trabalho
Deixa bastante cansada. As consequências, ai mulher as conseqüências é o desânimo, cansaço físico, só. (Claúdia, 32 anos, casada) Mulher trabalhar demais, é muito trabalho. Eu não acho que é um bom trabalho não. Chego em casa muito estressada, principalmente com minha chefe. (Jéssica, 24 anos, solteira) O trabalho cansa? Cansa demais e muito né, o trabalho da gente é um trabalho ergonômico, então pelo fato da gente passar muito tempo sentada, a maioria trabalha sentada, ele pode causar dores musculares, a gente pode adquirir doenças futuramente, entendeu? Aquelas doenças no osso, na mão e tudo ne, inchaço entendeu? Tem a ginástica laboral que a gente faz uns dez minutinhos, mas não ajuda muito não. E fora o sono que dá de tão estressante que é. (Sara, 31 anos, solteira)
Observamos, durante as falas, que as operárias estavam com uma
aparência apática, esgotada, devido ao desgaste físico, o que mostra suas
insatisfações em relação ao ambiente de trabalho que lhes é oferecido.
Dessa forma, podemos entender, em modo integral, que as dores e
limitações da LER25 influenciam e estimulam os sintomas depressivos, de
ansiedade, angústia e medo de adquirirem doenças futuras.
Marx nos diz exatamente isso, que na ordem do capital o homem tem que
25
LER: Lesão por Esforço Repetitivo.
52
se adequar a ter a máquina como instrumento de trabalho; é preciso ter
conhecimentos para saber operar e manusear com seus exatos cuidados, para que,
por ventura, não venha a acontecer alguma eventualidade: “Todo trabalho na
máquina exige instrução prévia do trabalho para que ele aprenda a adequar seu
próprio movimento ao movimento uniforme e contínuo de um autônomo.” (MARX,
2013, p. 492).
3.2.4 As condições da fábrica
O banheiro é muito ruim, porque é pouco banheiro pra muita gente, se for tomar banho não dá pra todo mundo tomar banho junto, assim, não da pra todo mundo tomar banho, tem que correr, ficar esperando, só é seis banheiro pra mais de 3 mil mulher, é pouco demais mesmo. (Maria Auxiliadora, 30 anos, solteira) A farda não é confortável, é quente, mais tá melhorando agora, algumas coisas tão melhorando, como a ventilação e outras piorando como a comida. Em relação a comida é ruim, porque não é essas coisas toda: é insossa, uma coisa assim sem gosto, tem vez que tá ótimo mais tem vez que ruim. (Elena, 25 anos, casada) Antigamente tinha dois restaurantes, tinha um restaurante pra quem tinha problema de pressão alta essas coisas e a comida era um pouco mais insossa pra eles e o nosso era normal. Ai depois eles juntaram tudo, depois disso a comida vem insossa, as vezes não vem bem torrada a carne. (Cintia, 30 anos, casada) A questão do refeitório, também é muito ruim essa passagem, em tempo de chuva nem se fala, fica tudo alagado a gente não consegue passar, tem que passar por dentro da água, é humilhante. (RISOS) É humilhante a gente tem que passar por dentro da água, debaixo de chuva mesmo, molhada. (Claudia, 32 anos, casada)
É notória a insatisfação dessas mulheres em relação a seu ambiente de
trabalho – um ambiente quente e com pouca iluminação, com um restaurante de
difícil acesso.
Podemos dizer que elas se submetem a um trabalho precário, como já foi
citado no capitulo 1; muitas estão nessa situação em busca de um crescimento
profissional e pessoal, sempre almejando independência financeira e poder se
divertir com o fruto de seu trabalho, do que concluímos que as mulheres, mesmo
insatisfeitas, trabalham para manter suas conquistas pessoais e sociais.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A princípio, esta pesquisa se realizaria na fábrica da Grendene, mas,
devido a dificuldades que a Assistente Social expôs, foi preciso mudar o campo para
a Guararapes, onde foi possível encontrar – enquanto pesquisadora – e alcançar o
objetivo de conhecer como funciona o sistema de empresas capitalistas atualmente.
Através dos dados coletados e informações fornecidas por um
representante do RH da Guararapes, pudemos observar duas visões distintas sobre
o mesmo campo. As operárias relatavam problemas na fábrica, como sujeira e
número pequeno de limpeza dos banheiros, ambiente de trabalho quente, fardas
quentes, comida ruim e cansaço físico e mental. O representante do RH, por sua
vez, informou-nos que a fábrica se preocupa com a saúde do trabalhador; que a
comida, às vezes, é insossa, devido ao fato de alguns funcionários possuírem
problemas de saúde; e que a empresa disponibiliza um Centro Cultural para os
funcionários usufruírem de salas de informática, biblioteca e cinema, visando
melhorias de trabalhado para os operários e as operárias.
Em cada depoimento, observamos um olhar cansado, apático, apressado
e receoso de falar de conhecimentos e experiências empíricas dentro e fora da
fábrica, para poder declarar os desagrados. Poder conhecer a realidade de algumas
mulheres trabalhadoras foi extremamente gratificante, pois notamos de perto o
quanto existem pessoas insatisfeitas e satisfeitas com seus empregos, agregando a
eles valores de independência, conquista pessoal e honra.
No primeiro dia, foi relativamente “fácil” realizar as entrevistas, pois havia
uma operária conhecida na fábrica e isso facilitou para que ela convidasse suas
amigas a participarem. No segundo dia, porém, foi complicado, pois ela não tinha
mais pessoas tão próximas para serem entrevistadas e muitas se negaram; no
entanto, depois de passar uma hora no sol, ela conseguiu algumas mulheres, e as
entrevistas puderam ser concluídas.
Para entrevistar um membro do RH, houve muita dificuldade, pois ele
nunca respondia os e-mail e ligações; depois de ir à fabrica duas vezes, na terceira
tentativa, foi possível falar com ele, quando ele marcou nossa conversa para a
semana seguinte, que não deu certo, e a visita foi novamente remarcada. Somente
54
na quarta visita pudemos conhecer o lado interno da fábrica, recolher algumas
informações e tirar algumas fotos.
Pensamos, em diversos momentos, que não obteríamos as informações e
dados necessários, pois nunca conseguíamos nos comunicar com o senhor Carlos
Eduardo, mas insistimos até conseguir. E esses foram os dias enquanto
pesquisadora: de angústias, espera, gratificação, dedicação, inspiração e paciência.
Estou extremamente realizada com esta pesquisa, pois foi possível
trabalhar com uma temática de que gosto e na qual pretendo me aprofundar
futuramente, dando continuidade a minha carreira de estudante.
As entrevistas foram de extrema importância para mim, enquanto
pesquisadora, pois pude conhecer a realidade e dinâmica de como funciona o
sistema têxtil da Guararapes.
E por fim, podemos dizer que a relação dessa temática com o serviço
social é que a profissão pode atuar diretamente com os sujeitos (patrões e
empregados), viabilizando direitos e deveres de ambas as partes e fazendo uma
mediação de conflitos sociais quando ambos não conseguem entrar em um
consenso. Outra atuação da profissão é sensibilizar os operários (as) para que os
mesmos venham a participar de campanhas de prevenção a doenças e eventos que
a empresa oferece aos seus funcionários.
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APÊNDICES
APÊNDICE A – Questionário aplicado às funcionárias da fábrica
Nome:
Idade:
Estado civil:
Tempo de trabalho na empresa:
Nível de escolaridade:
Função:
1. Como é que você percebe o seu trabalho?
2. Você acha que seu trabalho te deixa cansada? Se sim, quais as
consequências desse cansaço?
.
3. Qual a relação entre suas vidas doméstica e profissional?
4. Quais são as condições de trabalho na fábrica?
60
ANEXOS
ANEXO A – Fotografias da fábrica
ESPAÇO CULTURAL: BIBLIOTECA
ESPAÇO CULTURAL: INFORMÁTICA
61
ENTRADA DA FÁBRICA 1
FÁBRICA 1
62
FÁBRICA 1
FÁBRICA 1: MURRO E GRADE DE VENTILAÇÃO