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Cartilha de Estudos do
28° Encontro Arquidiocesano de CEBs
Arquidiocese de Porto Alegre
Vicariato Episcopal de Canoas
Tema: CEBs - Fermento de Transformação da Sociedade.
Lema: Povo de Deus, Dialogando com as Realidades a Serviço da Vida.
Novembro de 2015
Rede de Comunidades Sagrado Coração de Jesus - Canoas
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Comunidades Eclesiais de Base (CEBs)
Arquidiocese de Porto Alegre
Vicariato Episcopal de Canoas
Cartilha de Estudos do 28° Encontro Arquidiocesano de CEBs.
Tema: CEBs- Fermento de Transformação da Sociedade
Lema: Povo de Deus, Dialogando com as Realidades a Serviço da Vida
Organização e Revisão:
Equipe de Articulação das CEBs - Arquidiocese de Porto Alegre:
Adelaide Klein
Ir. Antonia Resende
Tanise Medeiros
Marta Gomes
Ir. Nelci Bernardi
Frei Wilson Dallagnol
Waldir Bohn Gass
Carlos Cordova
Frei João Osmar
Marcelo Soares de Moura
Sobre o Cartaz
Os prédios representam o grande mundo urbano de nossa região metropolitana, e os
desafios que este nos lança.
O povo em marcha, que sai de um mundo de dificuldades e sem vida [A grande
concentração populacional, a violência, drogas, desemprego, falta de direitos básicos
como saúde, moradia, educação, cultura...] e unidos/as com suas bandeiras,
organizações, movimentos populares, bebem da fonte da Palavra de Deus, se
alimentam de coragem, ousadia, profetismo e retornam para transformar o mundo
que habitavam.
As linhas em tons laranja e vermelho representam o Espirito Santo e sua ação
impulsionadora no mundo e na vida das pessoas.
A bíblia representa a fonte de luz que gera mudanças, ao ler e refletir suas passagens
o povo ganha força e coragem pra enfrentar os problemas do mundo.
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Sumário
Mensagem às Comunidades da Arquidiocese de Porto Alegre ..................................... 5
Introdução - A sensibilidade de fé do Povo de Deus ...................................................... 6
Mensagem do Papa Francisco ao 13º Intereclesial das CEBs ........................................ 8
Memória Histórica dos Encontros Arquidiocesanos de CEBs ........................................ 9
Reflexões sobre o Tema e Lema do Encontro .............................................................. 11
Costurando Novas Realidades - Com os olhos na vida do Povo ............................... 11
Oficina 1- CEBs e o Contexto Atual ............................................................................... 13
Um Olhar a Partir dos/as Discípulos/as de Emaús – Lc 24,13-35 ............................. 13
Oficina 2- Identidade das CEBs ..................................................................................... 18
CEBs: Comunidades Eclesiais de Base ...................................................................... 18
Oficina 3 - Fé e Política ................................................................................................. 23
Pequeno apontamento sobre Fé e Política .............................................................. 23
CEBS: Povo de Deus, Fermento, Transformação e Vida ........................................... 25
Oficina 4 - CEBs e a Igualdade de Gênero .................................................................... 29
Gênero, Feminismo e Diversidades .......................................................................... 29
Oficina 5 - CEBs e Juventudes ....................................................................................... 33
Coragem e Ousadia - Entre o medo da novidade e o ............................................... 33
Projeto do Reino ....................................................................................................... 33
Oficina 6 - CEBs e o Diálogo Inter-religioso .................................................................. 38
Ecumenismo e Diálogo Inter-religioso: Celebrando a Vida no ................................. 38
Caminho da Paz......................................................................................................... 38
A prática ecumênica da REJU: Fé, Incidência e Utopias ........................................... 40
Oficina 7- CEBs e a Sustentabilidade Econômica e Ambiental ..................................... 42
Qual será nosso futuro? ............................................................................................ 42
Economia Solidária e Feminista: Por uma vida melhor ............................................ 44
Cantos das CEBs ............................................................................................................ 48
Informações sobre o 28° Encontro Arquidiocesano de CEBs ....................................... 55
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Roteiro de Sugestão para os Encontros de Estudos
Este é um roteiro de sugestões para o momento de estudo da Cartilha do 28°
Encontro Arquidiocesano de CEBs. Este roteiro não é uma receita pronta, cada
comunidade pode usar toda sua criatividade e acrescentar coisas novas de acordo
com sua realidade.
Organizar o ambiente com antecedência, de acordo com a realidade da
comunidade e com o tema de cada encontro, providenciando símbolos que
auxiliem na reflexão do tema: cartaz do 28°, bandeiras de lutas, vela, flores, bíblia,
etc.
Cuidar para que seja um ambiente simples mas bem atraente e confortável.
Acolher com carinho os e as participantes, deixando todos e todas à vontade.
É importante que todos possam se apresentar e se conhecer melhor.
Antes do estudo, fazer um breve momento de oração. Iniciar com um mantra
ou canto conhecido, para criar um ambiente de oração, reflexão e partilha.
É bom sempre ter a Bíblia junto, ler um texto, ou um salmo preparado
anteriormente. A mesa da Palavra é tão importante quanto à mesa da Eucaristia.
Ao iniciar o estudo da cartilha é importante pôr os pés no chão, retomando as
lutas da comunidade e fazer as ligações entre a vida da comunidade e as realidades
que estão ao nosso redor. Ao situar os objetivos do estudo, fazer as relações com a
realidade apresentada. Retomar a importância das CEBs, perguntando quem já
participou de algum encontro arquidiocesano ou outro encontro de CEBs e
conversar sobre a importância da participação da comunidade para construir as
soluções para os problemas constatados.
Dicas para depois de ler o texto:
Às vezes é necessário e importante ler o texto mais de uma vez, devagar e
pausadamente, para somente depois conversar sobre o texto e responder algumas
questões, respeitando cada um e cada uma, em suas colocações.
Organizar de maneira criativa o registro do encontro, a partilha do tema e, no
final, os compromissos que o grupo decidir assumir.
Depois de lido, refletido e partilhado o tema em conjunto, pode-se fazer um
momento de silêncio para interiorizar o texto e as reflexões, e depois fazer uma
oração em forma de prece individual ou uma oração conjunta, entregando ao
Senhor nossas dificuldades, nossos sonhos, nossos projetos.
Para concluir o encontro pode-se cantar, realizar uma benção de envio, rezar
a oração do 28° Encontro (ver na contracapa dessa cartilha) e convidar todos e
todas para um próximo encontro (agendar horário e local do próximo estudo).
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Mensagem às Comunidades da Arquidiocese de Porto Alegre
Queridos irmãos e irmãs,
Dirijo-me às distintas comunidades que compõem nossas Paróquias e às Redes
de Comunidades de nossa Arquidiocese para convidá-las para o 28º Encontro das
Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Esse encontro acontecerá nos dias 7 e 8 de
novembro de 2015, na Rede de Comunidades Sagrado Coração de Jesus, na cidade
de Canoas.
O encontro tem como tema “CEBs – Fermento de Transformação da Sociedade”
e o lema “Povo de Deus, dialogando com as realidades a Serviço da Vida”.
As Comunidades Eclesiais de Base são um instrumento que permite ao povo
“chegar a um conhecimento maior da Palavra de Deus, ao compromisso social em
nome do Evangelho, ao surgimento de novos serviços leigos e à educação da fé dos
adultos” (Doc. de Aparecida, n.178). As Comunidades Eclesiais de Base “trazem um
novo ardor evangelizador e uma capacidade de diálogo com o mundo que renovam a
Igreja” (Evangelii Gaudium, 29).
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil destacou recentemente o fato de
que as Comunidades Eclesiais de Base “são a presença da Igreja junto aos mais
simples, comprometendo-se com eles em buscar uma sociedade mais justa e
solidária. Elas constituem uma forma privilegiada de vivência comunitária da fé,
inserida no seio da sociedade em perspectiva profética” (Doc. 100, n. 229).
Possa esse 28º encontro ser expressão da fé de um povo que tem consciência de
ser fermento de transformação da sociedade, segundo os critérios do Reino
anunciado por Jesus Cristo.
Invocamos as luzes do Espírito Santo de Deus para a preparação e a realização
desse encontro, a fim que, unidos na fé, possam ser encontradas indicações seguras
para a construção de uma ‘Terra sem males’.
Confio os trabalhos de preparação deste Encontro à intercessão, inspiração e
proteção da Santa Mãe de Deus.
Dom Jaime Spengler
Arcebispo de Porto Alegre
Porto Alegre, 26 de maio de 2015
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Introdução - A sensibilidade de fé do Povo de Deus
As Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) são uma inspiração do Espírito Santo,
próprias do Brasil e que aos poucos se espalharam pelo Continente Latino-Americano e Africano, inclusive chegando até a alguns países de Europa. Não é uma Igreja diferente, e muito menos paralela, mas “um jeito de ser Igreja” para reconduzir ao núcleo central, ou seja, ir ao encontro da intuição de Jesus Cristo, levado a termo pelas Primeiras Comunidades Cristãs (cf. At 2,42-47; 3, 32-37; 5, 12-16).
O Povo de Deus é portador de uma sensibilidade de fé que lhe é própria e peculiar. O próprio Deus Criador e Libertador colocou esta sensibilidade (uma espécie de “antena”) no coração de cada pessoa e no próprio seio de todo o Povo, enquanto agente social, coletivo e comunitário. Esta sensibilidade de fé nos leva a sintonizar com os clamores e anseios mais íntimos e sutis do sofrimento e das injustiças que são cometidas contra o Povo. Aqueles que não são do Projeto de Deus oprimem, dominam, exploram... Mas, os que estão com Deus e seu Projeto estão unidos e trabalham junto para construir o Projeto de Deus. A sensibilidade de fé leva à solidariedade e ao compromisso.
Sob o tema “CEBs – fermento de transformação da sociedade” e o lema “Povo de Deus, dialogando com as realidades a serviço da vida”, iniciamos a preparação do 28º Encontro Arquidiocesano de CEBs, na Rede de Comunidades Sagrado Coração de Jesus (Bairro Harmonia – Canoas). As Comunidades Primitivas sempre compreenderam que, a exemplo de Jesus de Nazaré, são fermento de transformação. Não são comunidades mortas ou preocupadas somente com os ritos e belas liturgias. Tudo isto é válido, mas se não forem “fermento, sal, luz” de transformação, de nada adianta sermos bons piedosos e belos beatos e beatas. Acreditamos e construímos um jeito de ser Igreja que dialoga com todo o Povo de Deus, com as culturas, com as etnias, com as opções de vida e de gênero. Todos os que promovem, incentivam e defendem a vida são nossos aliados. Para nós, a vida está em primeiro lugar (cf. Jo 10,10).
Este modo de ser Igreja nos vem inspirado pelos 50 anos do Concílio Vaticano II, onde a Igreja do mundo inteiro se debruçou e debateu saídas para dialogar com o mundo, ser uma Igreja mais próxima, serva e ecumênica. Ao mesmo tempo, o tema e lema da Campanha de Fraternidade 2015, da Conferência dos Bispos do Brasil, nos animaram e nos inspiraram nesta tomada de decisão.
As CEBs, por todo o mundo, e também em nosso Brasil, já deram muitos mártires, graças ao seu engajamento social e político. Só para recordar alguns exemplos: Santos Dias da Silva, sindicalista, metalúrgico, membro das CEBs do ABC Paulista e Ministro da Comunhão, que recebeu uma homenagem da Casa da Partilha, em novembro do ano passado; Dom Oscar Romero da América, arcebispo de San Salvador, mártir de fé e dos direitos humanos, recentemente beatificado pelo Papa Francisco; Roseli Nunes da Silva, a popular Rôse, que por aqui passou na marcha dos Sem Terra, da Fazenda Anonni até Porto Alegre, e que continua inspirando a luta das mulheres campesinas; e nossa lista poderia continuar sem fim.
A orientação de nossa Igreja, da CNBB, nos dá legitimidade e inspiração quando escreve em seus documentos sobre as CEBs. Aqui somente trazemos dois destes documentos. “As CEBs são um instrumento que permite ao povo ‘chegar a um
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conhecimento maior da Palavra de Deus, ao compromisso social em nome do Evangelho, ao surgimento de novos serviços leigos e à educação da fé dos adultos’ (DA 178). Elas ‘trazem um novo ardor evangelizador e uma capacidade de diálogo com o mundo que renovam a Igreja’, mas, para isso, é preciso que elas ‘não percam o contato com esta realidade muito rica da paróquia local’ (EG 29)” (CNBB, Comunidade de Comunidades, nº 228). “As CEBs são a presença da Igreja junto aos mais simples, comprometendo-se com eles em buscar uma sociedade mais justa e solidária. Eles constituem ‘uma forma privilegiada de vivência comunitária da fé, inserida no meio da sociedade em perspectiva profética’ (DGAE 2011-2015, nº 102)” (Idem, nº 229).
“As Comunidades Eclesiais de Base, as CEBs, alimentadas pela Palavra, pela fraternidade, pela oração e pela Eucaristia, são sinal de vitalidade da Igreja. São também presença eclesial junto aos pobres, partilhando as suas alegrias e angústias e se comprometendo na construção de uma sociedade justa e solidária. Também elas se deparam com os desafios da mudança de época e se veem desafiadas a não esmorecer, mas discernir, na comunhão da Igreja, caminhos para enfrentar os desafios oriundos de um mundo plural, globalizado, urbanizado e individualista” (DGAE 2015-2019, nº 104).
À luz do livro dos Atos do Apóstolos, que são o relato da ação das Primeiras Comunidades Cristãs, do texto inspirador da Campanha da Fraternidade da CNBB 2015, com o lema “Eu vim para servir”, também nós, como CEBs, sentimo-nos desafiados a olhar “nosso passado com gratidão”, nosso “presente, com alegria” e nosso “futuro, com esperança” (Papa Francisco). Viver a fé cristã só é possível em Comunidade de fé, esperança e caridade. Não existe cristão ou cristã sem Comunidade, sem eclesialidade, sem reunir-se, sem encontrar-se. É caminhando juntos, é somando que construímos um mundo novo, um novo céu e uma nova terra (cf. Is 25,17; Ap 21,1).
Este material, com os textos que orientam a temática de nosso 28º Encontro Arquidiocesano de CEBs, é oferecido a todas as Comunidades e Grupos de Base, Pastorais, Serviços e pessoas que desejam sinceramente refletir, rezando e se preparando, para o encontro que teremos nos dias 7 e 8 de novembro de 2015. Procuremos seguir as orientações, lendo atentamente e em grupos os textos, debatendo e sintetizando a opinião das pessoas que refletem conosco esta temática.
A todos e todas um bom estudo e uma boa reflexão. Bem-vindos e Bem-vindas ao 28º Encontro Arquidiocesano de CEBs.
Frei Wilson Dallagnol
Animador da Rede de Comunidades Sagrado Coração de Jesus
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Mensagem do Papa Francisco ao 13º Intereclesial das CEBs1
Queridos irmãos e irmãs,
É com muita alegria que dirijo esta mensagem a todos os participantes no 13º
Encontro Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base, que tem lugar entre os dias
7 e 11 de janeiro de 2014, na cidade de Juazeiro do Norte, no Ceará, sob o tema
“Justiça e Profecia a Serviço da Vida”.
Primeiramente, quero lhes assegurar as minhas orações para que este Encontro
seja abençoado pelo nosso Pai dos Céus, com as luzes do Espírito Santo que lhes
ajudem a viver com renovado ardor os compromissos do Evangelho de Jesus no seio
da sociedade brasileira. De fato, o lema deste encontro “CEBs, Romeiras do Reino, no
Campo e na Cidade” deve soar como uma chamada para que estas assumam sempre
mais o seu importantíssimo papel na missão Evangelizadora da Igreja.
Como lembrava o Documento de Aparecida, as CEBs são um instrumento que
permite ao povo “chegar a um conhecimento maior da Palavra de Deus, ao
compromisso social em nome do Evangelho, ao surgimento de novos serviços leigos e
à educação da fé dos adultos” (n.178). E recentemente, dirigindo-me a toda a Igreja,
escrevia que as Comunidades de Base “trazem um novo ardor evangelizador e uma
capacidade de diálogo com o mundo que renovam a Igreja”, mas, para isso é preciso
que elas “não percam o contato com esta realidade muito rica da paróquia local e que
se integrem de bom grado na pastoral orgânica da Igreja particular” (Exort. Ap.
Evangelii Gaudium, 29).
Queridos amigos, a evangelização é um dever de toda a Igreja, de todo o povo
de Deus: todos devemos ser romeiros, no campo e na cidade, levando a alegria do
Evangelho a cada homem e a cada mulher. Desejo do fundo do meu coração que as
palavras de São Paulo: “Ai de mim se eu não pregar o Evangelho” (I Co 9,16) possam
ecoar no coração de cada um de vocês!
Por isso, confiando os trabalhos e os participantes do 13º Encontro Intereclesial
das Comunidades Eclesiais de Base à proteção de Nossa Senhora Aparecida, convido a
todos a vivê-lo como um encontro de fé e de missão, de discípulos missionários que
caminham com Jesus, anunciando e testemunhando com os pobres a profecia dos
“novos céus e da nova terra”, ao conceder-lhes a minha Bênção Apostólica.
Vaticano, 17 de dezembro de 2013.
1 Mensagem destinada ás CEBs do Brasil por ocasião do 13° Intereclesial (encontro a nível
nacional), realizado em Juazeiro do Norte-CE, terras de Padre Cícero, em janeiro de 2014.
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Memória Histórica dos Encontros Arquidiocesanos de CEBs
Muitos cristãos e cristãs, sentindo a necessidade de viver o Evangelho encostado
na vida, e seguindo o exemplo dos primeiros cristãos e cristãs, começaram a se
organizar em grupos, fazendo encontros, celebrações, círculos bíblicos e ao mesmo
tempo reuniam-se para resolver seus problemas de moradia, saúde, trabalho,
segurança, transporte, educação. Mas sempre iluminados e iluminadas pela Palavra
de Deus.
Foi assim que nasceram as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), como “um
novo jeito de ser Igreja”. Iluminadas pela presença e ação do Espírito Santo, foram
descobrindo novas maneiras de rezar, de ler e entender a Bíblia e de viver o Projeto
de Deus. Muita gente foi se descobrindo como Igreja, unindo Fé e Vida, Bíblia e Ação.
Ao mesmo tempo assumiam lutas pela Justiça, Liberdade e Paz, procurando
transformar a Igreja e o mundo. Como cristãos e cristãs, como Igreja-Comunidade, foi-
se procurando ser cada vez mais o Povo de Deus.
Estas experiências foram acontecendo em lugares diferentes de nossa
arquidiocese e em ritmos diferentes, mas sempre inspiradas pelo Espirito Santo e
alimentadas por uma espiritualidade que ajudou o povo a se libertar das opressões de
cada dia. Pouco a pouco sentiu-se a necessidade de partilhar as experiências dessa
caminhada... Surgiram, então, os Encontros Arquidiocesanos de CEBs.
Vamos recordar um pouco dessas histórias de lutas, de fé e missão!
1°- Outubro de 1980 - A Raiz De Nossos Problemas.
2°- Abril de 1981 - O Povo De Deus Em Busca Da Libertação - Vila 1° De Maio /
Porto Alegre.
3°- Setembro de 1981 - A Nossa Participação Politica- Lomba do Pinheiro / Porto
Alegre.
4°- Abril de 1982 - Fé e Política - Vila Santo Operário / Canoas.
5°- Setembro de 1982 - Saber Unir Para Reivindicar - Canoas.
6°- Março de 1983 - Povo Unido Semente De Uma Nova Sociedade - Lomba Do
Pinheiro / Porto Alegre.
7°- Setembro de 1983 - Os Frutos da Semente Semeada - Vila Cruzeiro / Porto
Alegre.
8°- Outubro de 1984 - Povo Que se Organiza em Busca Da Vida - Cachoeirinha.
9°- Setembro de 1985 – CEBs: Povo Unido Buscando a Igualdade - Vila Jardim /
Porto Alegre.
10°- Setembro de 1986 - CEBs Povo de Deus em Busca da Terra Prometida - Vila
Restinga / Porto Alegre.
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11°- Setembro de 1987 - O Menor e o Mundo Do Trabalho - Vila Santa Isabel /
Viamão.
12°- Outubro de 1988 - Povo de Deus a Caminho da Libertação - Eldorado Do Sul.
13°- Outubro de 1989 - Povo de Deus a Serviço das Organizações da Libertação –
Partenon / Porto Alegre.
14°- Outubro de 1990 – Mulher: Filha de Deus Geradora de Vida - Cidade de Deus
/ Porto Alegre.
15°- Outubro de 1991 - Evangelização das Culturas Oprimidas e do Mundo do
Trabalho - Bairro Harmonia / Canoas.
16°- Setembro de 1993 – Moradia - Vila Santa Isabel / Viamão.
17°- Novembro de 1994 – Família: Conheça suas Origens para Construir Vida Nova
- Vista Alegre / Gravataí.
18°- Outubro de 1995 - No Princípio Tudo Era Belo - Ilha da Pintada / Porto Alegre.
19°- Novembro de 1996 - Fé e Politica, Justiça e Paz - Vila Santa Rosa / Porto
Alegre.
20°- Novembro de 1997 - CEBs Rompendo Prisões - São José do Murialdo, Partenon
/ Porto Alegre.
21°- Outubro de 1999 - CEBs Buscando Alternativas de Trabalho - Santa Clara -
Lomba Do Pinheiro / Porto Alegre.
22°- Setembro de 2001 - CEBs Missões Populares e Projetos Alternativos - Rede de
Comunidades São Pio X - Bairro Mathias Velho / Canoas.
23°- Setembro de 2003 – CEBs: O Rosto Urbano de Ser CEBs - Vila Cerne / Canoas.
24°- Novembro de 2005 - CEBs Solidárias na Construção de Novas Relações -
Paróquia Santa Ana / Gravataí.
25°- Outubro de 2007 – CEBs: Espiritualidade Bíblica e Ecologia Humana -
Comunidade Santo Agostinho / Viamão.
26°- Festa de Pentecostes: 21 e 22 de maio de 2010 – CEBs: Comunidades
Ecológicas e Missionárias - Comunidade Santa Rita De Cássia - Paróquia Nossa
Senhora da Paz / Guaíba.
27°- Festa de Pentecostes: 18 e 19 de maio de 2013 - Tema: Justiça e Profecia a
Serviço da Vida. Lema: CEBs Proféticas e Missionárias na Vivência do Reino - Rede de
Comunidades Jesus De Nazaré - Bairro Mário Quintana / Porto Alegre.
28°- 07 e 08 de novembro de 2015 - Tema: CEBs: Fermento de Transformação da
Sociedade e Lema: Povo de Deus, Dialogando com as Realidades a Serviço da Vida -
Rede de Comunidades Sagrado Coração de Jesus, Bairro Harmonia / Canoas.
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Reflexões sobre o Tema e Lema do Encontro
Costurando Novas Realidades - Com os olhos na vida do Povo
Gestar, pensar, organizar um encontro não é tarefa fácil, ainda mais quando
este não é qualquer encontro. Os encontros das CEBs de nossa Arquidiocese de Porto
Alegre são os grandes momentos de celebração da nossa caminhada, partilha das
experiências comunitárias, e também um momento de sonhar novos rumos.
Assim, como em toda caminhada das comunidades, o 28° Encontro
Arquidiocesano das CEBs vem sendo construído em mutirão. Sua construção parte do
chão que pisamos, das experiências, sedes e anseios de cada militante das
comunidades. Esta foi tarefa primeira pra sabermos o que queríamos desse encontro.
A partir das nossas próprias realidades começamos a dar corpo pro 28°. Tarefa
segunda foi escolher uma temática.
Tendo em vista que essa temática deve ressoar na vida das comunidades pelos
próximos dois, três anos, a tarefa de começarmos a delinear Tema e Lema foi
importantíssima para nossa construção. Tínhamos presente que a escolha da temática
sempre procura estar em sintonia com a caminhada das CEBs a nível estadual e
nacional. Como no momento não tinham sido escolhidas essas temáticas, nos
propomos a seguir adiante em nossas escolhas. Mas não estávamos muito longe, pois,
as reflexões tanto a nível estadual como nacional seguiram pelo mesmo caminho.
Em nossa construção foram surgindo apontamentos importantes e profundos
que nos deram base pra nossa escolha:
- As realidades de nossas comunidades;
- As várias transformações das realidades sociais e eclesiais:
- Os novos excluídos/as da sociedade - como ser voz profética neste
contexto?
- As juventudes, o diálogo com as minorias da sociedade;
- A mobilidade urbana;
- A desigualdade social – O capitalismo destruindo a vida e levantando
nossos clamores: pobreza, câncer, violência, lixo, ameaça ecológica, etc;
- Protagonismo Popular X Poder das Elites;
- As Comunidades Proféticas - A Igreja a serviço da justiça; a nova
sociedade protagonizada pelos Profetas de ontem e hoje; o momento
eclesial, com a abertura do Papa Francisco que deseja uma “Igreja em
saída”, mais Samaritana que dialogue com as minorias.
- Os ecos do 13º Intereclesial, com seu Tema e Lema: Como dar continuidade?
- A Campanha da Fraternidade de 2015, que tem como tema “Fraternidade:
Igreja e Sociedade” e lema “Eu vim para servir” (cf. Mc 10,45). Inserindo a campanha
12
nas comemorações do jubileu do Concílio Vaticano II, com base nas reflexões
propostas pela Constituição Dogmática Lumen Gentium e a Constituição
Pastoral Gaudium et Spes, que tratam da missão da Igreja no mundo.
- o Jubileu dos 50 anos do Concílio Vaticano II.
Por fim, inspirados pelo Espírito Santo de Deus, fomos gerando o tema e lema,
costurando as várias sugestões que foram surgindo. Ficou assim:
Tema: CEBs – Fermento de Transformação da Sociedade!
Lema: Povo de Deus, Dialogando com as Realidades a Serviço da Vida.
O próximo passo agora é saber como esse tema e lema nos ajudam a refletir, e
nos posicionarmos frente os vários desafios que essas realidades nos apresentam.
O que de fato implica afirmarmos que as CEBs são Fermento de
Transformação? Qual a conduta, o posicionamento que esperamos das CEBs perante
situações que não condizem com o Projeto de Deus? E sobre a Sociedade, o que
queremos transformar? O que está acontecendo ao nosso redor que não nos agrada?
Somos Povo de Deus, um povo escolhido. Ops! Escolhido pra quê? Qual nossa
missão enquanto cristãos/ãs seguidores/as do CAMINHO percorrido por Jesus de
Nazaré? O que estamos fazendo para atender ao pedido do Papa Francisco de sermos
essa Igreja em saída, Samaritana, mais aberta, acolhedora e profética? Qual nosso
posicionamento político perante a atual conjuntura do país? Ou ainda pensamos que
igreja (fé, religião) e política não se misturam e não se discutem?
Dialogando: Interessante! Ao dizer que somos povo que dialoga não nos
colocamos a parte das diversas realidades onde estamos inseridos, mas nos
mantemos em contato-diálogo, às vezes mais perto, às vezes mais distante. Quais são
mesmo essas Realidades de nossa sociedade e igreja que queremos transformar?
Olhando para essas realidades, quem são esses novos excluídos/as? Eles/as têm
rosto? Corpo? Sofrem? Por quê? Como nós, CEBs, podemos contribuir para que
eles/as se tornem sujeitos/as e transformem essas realidades de exclusão?
Bom, nesses caminhos certos e incertos, em meio a tantas perguntas, dúvidas,
desejos e anseios, nossa fé sempre nos aponta caminhos, nos põe a Serviço da Vida. E
é esse desejo por Vida que nos leva a olhar pra vida do povo, enxergar essas novas
realidades, recriando as relações, unindo lutas comuns e formando comunidades.
Com Coragem e Ousadia, sigamos os próximos passos pra fazer as
transformações acontecerem.
Para ajudar a responder essas perguntas e focar em temas mais urgentes, que
mexem com nossas vidas, nossa identidade e atuação, pensamos em seis oficinas com
temáticas específicas. No decorrer da cartilha, teremos textos que nos ajudarão a
refletir um pouco mais sobre esses temas.
13
Oficina 1- CEBs e o Contexto Atual
Um Olhar a Partir dos/as Discípulos/as de Emaús – Lc 24,13-352
E o reconheceram ao repartir o pão. “Não estava ardendo o nosso
coração quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escritura?”
No primeiro dia da semana, eis que discípulos e discípulas viajavam para um
vilarejo chamado Emaús, que ficava a uns dez quilômetros de Jerusalém. Eles iam
conversando sobre todas essas coisas que tinham acontecido. Enquanto
conversavam e discutiam, o próprio Jesus se aproximou e se pôs a caminho com eles.
Mas os olhos estavam como que embaçados e não o reconheceram. Jesus lhes disse:
“Sobre o que vocês estão falando enquanto caminham?” Eles pararam com o rosto
triste.
Ficaram surpresos com aquela companhia que lhes fazia arder o coração e
foram despejando o que fazia a sua tristeza:
Olha só a bancada ruralista, o agro e hidronegócio, as mineradoras, madeireiras,
os grandes projetos do capital, o trabalho escravo, o judiciário criminalizador, as
empresas de veneno e transgênicos, o Legislativo que constantemente ameaça
reduzir direitos já conquistados, os governos e suas polícias, as mídias golpistas e os
setores conservadores do país fazendo a noite demorada, ameaçando a democracia
na negação de direitos dos povos da terra e da cidade.
Os direitos já fragilizados dos povos indígenas, quilombolas, assentados e
acampados, pescadores, ribeirinhos, posseiros e camponeses são esmagados pelos
interesses de um modelo de desenvolvimento que devora terras, territórios, tradições
e modos de vida distorcendo a lei a seu dispor, cooptando e corrompendo processos e
lideranças, usando a força e até assassinatos. Sofrem a juventude, as mulheres e
crianças das comunidades. É uma noite escura e de medo: fica difícil de andar na
escuridão.
Conquistas importantes acenderam luzes nos últimos anos, fruto da luta no voto
e nas lutas nas bases. Essas luzes prometiam a claridade de acesso aos direitos de
terra, pão, trabalho e casa, saúde e dignidade. Mas o direito e o poder de “acender e
apagar” continuou fora das nossas mãos. As reformas necessárias não vieram! Nem
reforma agrária! Nem reforma urbana! Nem reforma política. Nem reforma do marco
2 Waldir José Bohn Gass - Articulador das Pastorais Sociais da- CNBB Sul III e Assessor Estadual
das CEBs do RS.
14
regulatório da mídia! Os governos negociam e negam nossas conquistas para
contentar as elites e impedem que programas e políticas acendam os caminhos da
igualdade e da dignidade.
Mesmo em nome de Deus, setores das igrejas cristãs apoiam políticos, governos
e polícias que criminalizam a luta pela água, pela terra e na terra e abençoam o
latifúndio e a privatização da natureza. Querem apagar a luz do evangelho subversivo
de Jesus vivo na vida dos pobres, homens e mulheres lutadoras/es do campo e da
cidade. Querem fazer virar mercadoria o pão e a água da vida. Querem apagar as
luzes das religiões de outras matrizes, altares de terreiros e rituais de torés. Faz escuro
e silêncio na longa noite da religião do patriarcalismo, individualismo e consumismo.
E não é só no Brasil que isso acontece. Olha só por esse mundão de Deus: o
poder econômico tomou conta de tudo. Mais e mais vai concentrando a riqueza,
aumentando o já imenso abismo entre ricos e pobres. Dizem que só 1% (Sim: um por
cento) dos mais ricos, em 2016, vão abocanhar 50%, isto é a metade de toda riqueza
produzida e não por eles, mas à custa do suor e mesmo do sangue dos trabalhadores.
A globalização atual é uma tentativa de anular os direitos humanos do sujeito
vivo. Essa é a crise do humanismo hoje: em nome da totalização dos mercados e da
propriedade privada, cuja consequência é a anulação, passo a passo, dos direitos
humanos resultantes das lutas de emancipação dos últimos dois séculos. Importantes
conquistas históricas e civilizatórias foram aplastadas pela onda neoliberal, a nova
feição de um capitalismo selvagem e triunfante fundado na defesa intransigente do
Estado mínimo, da total liberdade dos mercados e do capital financeiro especulativo,
onde prevalece a lei do mais forte e do mais esperto.
O mercado financeiro contamina toda sociedade através da publicidade
intensiva e sem limites éticos, verdadeiras lavagens cerebrais que criam falsas
necessidades, exacerba o consumismo das classes mais ricas, aumenta as
desigualdades sociais e agrava cada vez mais os impactos sobre o meio ambiente. “Os
padrões dominantes da produção e consumo estão causando devastação ambiental,
redução de recursos e uma massiva extinção de espécies. Comunidades estão sendo
arruinadas...” (Carta da Terra).
Tudo isso é um escândalo e nos revolta. O próprio papa Francisco diz que essa
economia mata e que é lei de Deus não matar. E num encontro com representantes
dos movimentos populares, lá mesmo no Vaticano, disse “que os pobres já não
esperam e querem ser protagonistas, se organizam, estudam, trabalham, reivindicam
e, sobretudo, praticam essa solidariedade tão especial que existe entre os que sofrem,
entre os pobres, e que a nossa civilização parece ter esquecido ou, ao menos, tem
muita vontade de esquecer.”
Mas, como?
Nós nos sentimos impotentes e isso nos enche de tristeza.
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Então Jesus lhes disse: “Oh, insensatos e lentos de coração para acreditar em
tudo o que os profetas anunciaram!” Será que não era necessário que o Messias
sofresse tudo isso e entrasse na sua glória? E explicou-lhes o que dizia respeito a ele
em todas as Escrituras.
Vocês falaram do papa Francisco. Na sua Exortação Apostólica Alegria do
Evangelho (EG) e em outros diálogos ele, de fato, tem criticado duramente esse
sistema que gera o sofrimento e a morte de tantas pessoas, só para satisfazer a sua
ganância ilimitada. Disse várias vezes que é preciso “denunciar essa cultura que
descarta as pessoas transformando-as em bens de consumo, que torna os excluídos,
mais do que explorados, em resíduos e sobras”, mesmo que seja o único grito possível.
E “uma das causas desta situação está na relação estabelecida com o dinheiro,
porque aceitamos pacificamente o seu domínio sobre nós e as nossas sociedades. A
crise financeira que atravessamos faz-nos esquecer de que, na sua origem, há uma
crise antropológica profunda: a negação da primazia do ser humano. Criamos novos
ídolos. A adoração do antigo bezerro de ouro, (cf. Ex 32, 1-35), encontrou uma nova e
cruel versão no fetichismo do dinheiro e na ditadura duma economia sem rosto e sem
um objetivo verdadeiramente humano.” (EG 55)
O Deus de Jesus de Nazaré, que vocês afirmam estar vivo no meio de nós, é o
Deus dos pobres. Esse Deus promove outro mundo que nós chamamos de Reino
messiânico. Está do lado dos pobres e marginalizados, liberta da dívida, protege as
viúvas, os órfãos e os estrangeiros, condenando os proprietários quando não
cumprem essas exigências. Questiona de modo radical as próprias autoridades,
incluindo as autoridades do próprio templo.
Vamos olhar ao nosso redor e ver os sinais de sua presença. Faz escuro, é
verdade, mas nós temos motivos para seguir na estrada cantando, porque temos
esperança de que a última palavra não será da injustiça e da morte. Senão, vejamos:
- Vocês lembraram o encontro de Francisco com os Movimentos populares, lá
no Vaticano. Foi um acontecimento que nunca tinha acontecido. E “é um sinal, um
grande sinal: vocês vieram colocar na presença de Deus, da Igreja, dos povos, uma
realidade muitas vezes silenciada. Os pobres não só padecem a injustiça, mas também
lutam contra ela”, disse o papa. E aconteceu um outro em Santa Cruz de La Sierra, na
Bolívia, onde disse com todas as letras: “Atrevo-me a dizer que o futuro da
humanidade está, em grande medida, nas vossas mãos, na vossa capacidade de vos
organizar e promover alternativas criativas na busca diária dos “3 Ts” (trabalho, teto,
terra), e também na vossa participação como protagonistas nos grandes processos de
mudança nacionais, regionais e mundiais. Não se acanhem!"
- Em Túnis, capital da Tunísia, onde começou a Primavera árabe, a revolta dos
povos daquela região contra a opressão e a exploração transformada em insurreição,
de 24 a 28 de março de 2015, aconteceu o Fórum Social Mundial, continuação de um
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grande movimento mundial contra o neoliberalismo que teve seu primeiro encontro
em Porto Alegre, em 2001, afirmando e reafirmando que Outro Mundo é Possível,
além de necessário e cada vez mais urgente.
- No mundo inteiro vem crescendo a luta contra o poder econômico,
contestando a legitimidade do imperialismo, que promove guerras, desrespeita a
natureza, gera a miséria só para garantir os seus lucros. São as mobilizações dos
pobres; eleições de governos populares que, com todas os seus limites e suas
contradições, vêm implementando políticas públicas em favor dos que sempre
estiveram fora das ações do Estado; Comunidades Cristãs resgatando o papel da
política como ação em defesa do bem comum, presentes nas lutas por Reformas
estruturais importantes, como a Reforma Política, o Plebiscito Constituinte...
- Sim, nós somos parte das lutas para que nenhuma família fique sem Teto,
nenhum camponês sem Terra e nenhum trabalhador sem Direitos.
- Abrimos a mão, mesmo no escuro, e vamos ao encontro de quem está do
nosso lado. Aprendemos a ver no escuro! Somos nós, companheiras e companheiros,
a rebeldia necessária para forçar o dia. Reconhecemo-nos como comunidades de
iguais: novas formas de ser igreja no meio do povo, na luz de mártires da caminhada:
Cristo vivo ressuscitado na humana solidariedade e no amor pelo mundo e seus
viventes.
- Cantamos a luta e a esperança no trabalho de base, na educação popular, na
espiritualidade, nas diversas experiências da agricultura agroecológica, na economia
solidária, na formação permanente, na celebração dos saberes de ervas medicinais e
valorização das sementes nativas e crioulas; com estas práticas adiantamos o dia,
iluminamos nosso cotidiano... Ninguém acende uma luz para ficar escondida! (Lc 8,
16).
- Sonhamos com a sociedade do Bem Viver e do Bem Conviver, rumo à Terra
sem Males, como debatemos muito na 5ª Semana Social Brasileira e nas organizações
populares. Nós somos o povo da esperança, o povo da Páscoa. O Outro Mundo
Possível somos nós! A outra Igreja possível somos nós! (Pedro Casaldáliga).
Tantos desafios! Tantos caminhos e possibilidades. Tempo de deserto, sim, e
tempo das profecias. É hora de reafirmarmos o nosso radical compromisso com a vida
e as gerações futuras. É hora de reafirmarmos a promessa de Jesus: “Eu vim para que
todos tenham vida e a tenham em abundância.” (Jo 10,10)
Quando estavam perto do vilarejo para onde iam, ele deu a entender que
seguiria adiante. Mas eles insistiam: “Fique conosco, pois já é tarde e o dia está
terminando.” Então Ele entrou para ficar com eles. E, estando à mesa, tomou o pão,
abençoou, partiu e deu a eles. Então os seus olhos se abriram e o reconheceram.
Foi no exercício concreto da solidariedade, oferecendo hospitalidade, que
aconteceu a experiência derradeira. Uma experiência nova e poderosa se impôs
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às/aos discípulas/os: sentiram que Jesus, morto como subversivo, segundo a Lei (Dt
21,22-23) considerado maldito pelo próprio Deus, estava vivo. Os invadiu uma certeza
estranha: que Deus dera a cara por Jesus, e se empenhava em reivindicar seu nome e
sua honra. Jesus está vivo, não puderam reduzi-lo à morte. Deus o ressuscitou, o fez
sentar-se a sua direita, confirmando a veracidade e o valor de sua vida, de sua palavra,
de sua Causa. Jesus tinha razão, e não a tinham os que o expulsaram deste mundo e
desprezaram sua Causa. Deus está do lado de Jesus, respalda a Causa do Crucificado.
O Crucificado foi ressuscitado! Vive! A morte não tinha nenhum poder sobre Ele.
Estava vivo. E não podiam senão confessá-Lo e segui-Lo, assumindo sua Causa,
obedecendo a Deus antes que aos homens, ainda que custasse a morte.
Na mesma hora se levantaram e voltaram a Jerusalém. E aí encontraram
reunidos os Onze e seus/suas companheiros/as, que diziam: “Realmente o Senhor
ressuscitou!” E contaram o que tinha acontecido pelo caminho e como o haviam
reconhecido quando ele partiu o pão.
Era alegria demais nascendo dos gestos de Partilha que acontecem onde os/as
pequenos/as confiam nos/as pequenos/as e se unem na luta por seus direitos,
gerando e gestando alternativas de vida e de liberdade, com o aval de Deus, que
fecunda seus esforços.
E crer na Ressurreição é a afirmação contundente da validez suprema da Causa
de Jesus. É crer que sua palavra, seu projeto e sua Causa (o Reino) expressam o valor
fundamental de nossa vida, à altura mesmo de Deus (à direita do Pai), pela qual é
necessário viver e lutar até dar a vida. E o importante não é crer em Jesus, senão crer
como Jesus. Não é ter fé em Jesus, mas ter a fé de Jesus: sua atitude diante da
história, sua opção pelos pobres, sua proposta, sua luta decidida, sua Causa...
Questões para refletir:
1. Que sinais de morte existem no nosso dia-a-dia, que ferem o projeto de Deus?
2. Quais os sinais de vida percebemos, que atestam que Jesus está vivo e caminha
conosco, e são força na caminhada, mesmo quando tudo pareça tão difícil?
3. A que ações essa fé no Crucificado-Ressuscitado nos impulsiona?
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Oficina 2- Identidade das CEBs
CEBs: Comunidades Eclesiais de Base *3
Quando um brasileiro chega às paróquias das Filipinas, logo lhe perguntam a
respeito do caminho das pequenas comunidades. No México, quando se elaboram os planos de pastoral, o ponto de referência são as Comunidades Eclesiais de Base do Brasil.
Entre as forças emergentes da Igreja nestes últimos anos, há a experiência significativa das Comunidades Eclesiais de Base. São grupos que amadureceram e ganharam sua legitimidade como forças vivas da Igreja num momento particularmente difícil e, ao mesmo tempo, glorioso da Igreja da América Latina. As Comunidades Eclesiais de Base representam, ainda hoje, um ponto de referência para muitas Igrejas espalhadas pelo mundo todo e adquiriram um estatuto legítimo nos documentos da Igreja oficial. Hoje, no entanto, nos perguntamos sobre a real consistência dessas comunidades e quais rumos estão trilhando.
O que são as CEBs?
Houve um tempo em que não havia muita necessidade de explicar o significado
da sigla “CEBs”. Fazia parte do imaginário e do vocabulário de muitos cristãos católicos. Suscitava entusiasmos e esperanças, assim como perplexidades e interrogações. Mas hoje, muitos nem lembram mais dos difíceis e duros anos da ditadura militar no Brasil e nem participaram do processo de democratização. Foi naquela época que pipocaram, em todo país, pequenas comunidades ligadas principalmente à Igreja Católica. Querendo ou não, contribuíram de diferentes maneiras para o processo de democratização.
Eram grupos de pessoas que, morando no mesmo bairro ou nos mesmos povoados, se encontravam para refletir e transformar a realidade à luz da Palavra de Deus e das motivações religiosas. Daí o nome das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Começavam também a reivindicar pequenas melhorias nos bairros, mas, ao mesmo tempo, iniciavam uma caminhada para tomar consciência da situação social e política. Queriam a transformação da sociedade. Inspiradas no método “Paulo Freire” de alfabetização de adultos, executavam uma metodologia que levasse da conscientização à ação.
O prof. Faustino Luiz Couto Teixeira, especialista sobre a assunto, escreve que “nos anos 70 e início dos 80, falava-se muito do impacto da atuação das CEBs no campo sócio-político, enquanto geradoras de uma nova consciência das camadas populares e fator de grande importância no processo de libertação dos pobres.” Em outras palavras, essas pequenas comunidades cristãs, de 20 a 100 membros, eram consideradas um novo sujeito popular (Petrini, 1984), capaz de reverter a situação de
3 Frei Flávio Guerra- Teólogo, Assessor das CEBs.
Frei João Osmar- Biblista, Assessor das CEBs, Rede de Comunidades Santa Clara-PoA.
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pobreza e apontando para uma nova sociedade, justa e fraterna. Depois veio a abertura democrática e o fim da ditadura, houve a crise no Leste europeu e a queda do modelo socialista-burocrático; houve a afirmação do capitalismo em sua fase neoliberal, tendo como consequências mais exclusão e pobreza. Foi na segunda metade dos anos 80 e nos anos 90, que as CEBs tiveram que repensar a sua identidade.
Mais especificamente no interior da Igreja Católica, as CEBs queriam rever uma estrutura muito piramidal, de cima para baixo. Incentivadas pelo Concílio Vaticano II (1962-1965), vislumbravam uma maior participação dos leigos e um processo mais participativo de tomada de decisões. Ao redor da imagem de “povo de Deus”, que foi caracterizada pelo Concílio, as comunidades sentiram-se parte ativa na construção de uma sociedade com vida digna para todos e todas, sinais do Reino de Deus no meio de nós. Houve quem aplaudisse e quem desqualificasse essa atitude como algo que ameaçasse destruir a estrutura de dois mil anos da Igreja. Falava-se da prioridade do carisma sobre a instituição (L. Boff) e usava-se o método das ciências sociais para analisar a Igreja.
Substituir a tradicional filosofia pelas ciências sociais representava o risco de introduzir a análise marxista dentro da Igreja. Começou-se, então, a falar do perigo comunista na Igreja e muitos ficaram alarmados. Até o Departamento de Estado Norte-americano pronunciou-se, contundentemente, através de dois documentos chamados “Santa Fé”: “a Teologia da Libertação e suas células (as CEBs) representam uma doutrina política disfarçada de crença religiosa, com um significado antipapal e antilivre empresa, destinadas a debilitar a independência da sociedade frente ao controle estatal” (Santa Fé II).
Traços característicos das CEBs
Mesmo que se tenha certa dificuldade em encontrar traços homogêneos e
constantes em todas as CEBs, há alguns elementos que, em geral, podem ser detectados.
Um elemento é a territorialidade, isto é, as pessoas de uma comunidade estão situadas num território geográfico específico. É muito fácil que se conheçam e que estabeleçam relações e contatos. “Base” significa propriamente essa concentração de pessoas num povoado ou num bairro. As experiências históricas mostram que, muitas vezes, foram essas comunidades que ajudaram a reivindicar serviços básicos, como água, luz e esgoto, e a reorganizar a vida do bairro.
A leitura e a reflexão sobre a Palavra de Deus é outro traço característico das CEBs. Muitas comunidades começaram como reuniões bíblicas que iluminavam a vida das pessoas. Na medida em que a vida comunitária se organizava, foi introduzido também o culto dominical ou a celebração da Eucaristia.
A participação e a discussão dos problemas em forma de assembleia caracterizaram muitas Comunidades de Base. A metodologia participativa inclui a colaboração de todos e todas na discussão, na solução e no encaminhamento concreto do problema. Se, por exemplo, o tema é o desemprego, há no final um compromisso concreto que é assumido por todos: preparam-se cestas com alimentos básicos que são distribuídos aos desempregados.
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Esse espírito desencadeou a emergência de ministérios leigos que foram se multiplicando a partir das exigências da comunidade: há ministros da Palavra, ministros da Eucaristia, ministros da pastoral da moradia, do trabalho, do menor. Muitos serviços englobam mulheres e homens em clubes e pequenas organizações: hortas comunitárias, clubes de mães, alfabetização de adultos e, muitas vezes, grupos de sustentação dos movimentos populares.
Estes serviços destacam o compromisso das CEBs com os mais pobres e a relação consequente entre fé professada e vida concreta. É propriamente o compromisso com as camadas mais desfavorecidas da população que tornaram as CEBs profundamente ativas no campo social. O pobre não é visto como problema, mas como solução no processo de construir uma nova sociedade.
Por fim, o horizonte para o qual as CEBs se deslocam é a prática concreta de Jesus e o sonho de testemunhar o Reino de Deus. Termos como justiça, fraternidade, solidariedade, compromisso e caminhada revelam, de um lado o seguimento de Jesus e, de outro, a vontade de ver o projeto de Deus se realizando concretamente.
Alguns desafios das CEBs
“Nos anos 90 – conta Pe. Fernando – as CEBs entraram numa vida submersa.
Durante a época da ditadura, quando tudo estava submerso, as CEBs brilhavam. Agora que não há mais ditadura, as CEBs imergiram no fundo”. Essa vida submersa e clandestina é revelada pela pouca visibilidade institucional e pela pouca relevância que as comunidades têm nos meios de comunicação e no campo eclesial. Mesmo não ocupando muito espaço na preocupação dos bispos e na metodologia pastoral, “as CEBs – diz Pe. Fernando – continuam tendo um forte vínculo com as lutas populares, com as ONGs (Organizações Não Governamentais), com os grupos de mulheres e lá onde a vida está mais esmagada (AIDs...)”.
Ainda, as CEBs estão dando mais espaços à questão étnica. Negros e indígenas são de casa nas CEBs. É aqui que os grupos fazem descobertas das próprias raízes e levantam a cabeça. O momento é muito mais sapiencial que profético. Trata-se de um dinamismo subterrâneo em que a seiva continua correndo e produzindo vida, a qual, porém não é visível senão na vida da planta que cresce vigorosa. Isto acontece “mesmo que os novos padres não apoiem e atuem mais como funcionários da instituição”.
CEBs e politica nos anos 90
“Há certo desencanto das comunidades com a questão política. Antes de tudo,
o modelo econômico neoliberal e a falta de um projeto alternativo das esquerdas fazem com que as CEBs fiquem recuadas e decepcionadas. A grande atenção das comunidades se desloca mais para o local. Lá onde é possível a participação popular, os orçamentos comunitários, a pressão e a atuação direta nas prefeituras e nos Estados, as CEBs se movem com mais força e entusiasmo. Na grande política há muita decepção. Até os grandes partidos, historicamente ligados à mudança social, estão sem perspectivas e projetos. Imagine as bases.” Como nos situamos neste momento político?
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“Nossas comunidades, que tempos atrás tinham nascido como Comunidades Eclesiais de Base, estão ultimamente muito apáticas no compromisso social e muito centradas na celebração. Parece que o povo das comunidades não reage mais como antigamente. E pensar que hoje há muito mais pobreza e sofrimento. Até parece que há uma alergia a todo e qualquer compromisso de transformação da sociedade. A verdade é que as lideranças antigas não se preocuparam com o surgimento de novas lideranças e, também, que muitos ficaram desencantados diante dos poucos resultados. O horizonte encurtou.
Há cansaço, mas mais do que isso: indiferença. E a pobreza vai aumentando. O problema é que o espaço da Igreja virou um espaço fechado, voltado para dentro. Grandes celebrações em que as emoções são levadas ao extremo e.... nada mais. Certo, não dá para repetir aquilo que foi nos anos 70, mas é necessário encontrar novos caminhos. É sofrimento demais no meio do nosso povo.
Há algum compromisso social presente, como uma tentativa de reconstruir a alfabetização de adultos ou um trabalho com crianças. Mas é somente uma minoria que toma a iniciativa e o resto não quer nada com nada. A verdade é que a Igreja está sempre mais se fechando sobre si mesma. Quer juntar gente para quê? Se não é em vista do testemunho do Reino, do olhar aberto sobre a realidade, não leva a lugar nenhum”.
(*) Escrito por Frei Flávio Guerra para o 12º Encontro Estadual de CEBs em
Pelotas, de 1º a 04 de maio de 2008. Os grifos são de Frei João Osmar.
Mais algumas informações para ajudar na reflexão:
- Quando Frei Flávio escreveu este texto, recém tinha saído o Documento de Aparecida, resultado da V Conferência Geral do Episcopado Latino Americano e Caribenho, realizada no Santuário Nacional em Aparecida do Norte, São Paulo, Brasil. Esse documento passou a influenciar toda a Igreja do Continente, bem como o mundo todo. O coordenador da Equipe de Redação do Documento Final era o Cardeal Jorge Bergoglio, de Buenos Aires, que mais tarde virou Papa Francisco, levando o dito Documento para o âmbito mundial. A própria eleição do Papa Francisco, em março de 2013, após a surpreendente renúncia de Bento XVI, está provocando grandes mudanças na Igreja, tanto interna como externamente, com sérias repercussões na ação pastoral, com novos ares favoráveis às CEBs. - Aqui no Brasil também já saíram três edições das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja (2007 a 2011; 2011 a 2015 e 2015 a 2019). Também foram publicados os documentos “Comunidade de Comunidades Uma Nova Paróquia” - 2013 (Estudo 104) e “Comunidade de Comunidades Uma Nova Paróquia – A conversão Pastoral da Paróquia” - 2014 (Doc 100), com repercussões significativas na vida e na organização das Comunidades Eclesiais de Base e na Igreja no Brasil como um todo. - Em termos de articulação da CEBs, aqui no RS, foi realizado o 13º Encontro Estadual em Santa Maria, em julho de 2012 e estamos preparando o 14º, que acontecerá de 21 a 24 de abril de 2016, em Farroupilha, diocese de Caxias do Sul. Em nível nacional, já foram realizados o 12º Intereclesial em Porto Velho, Rondônia, em 2009 e o 13º Intereclesial em Juazeiro do Norte, Ceará, em 2013. O 14º Intereclesial será em Londrina, Paraná, em janeiro de 2º17.
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- Em termos sócio-políticos, aqui no Brasil tem se consolidado a democracia com eleições periódicas dentro dos marcos legais, confirmando um Governo de cunho popular, já no seu quarto mandato, que trouxe grandes transformações socioeconômicas para a população da base da sociedade. Com a política de distribuição de renda conseguiu-se tirar da miséria milhões de famílias e outras tantas da linha da pobreza, elevando-as para a “classe média” e incluindo-as no mercado de consumo. Houve um aumento real no poder aquisitivo do Salário Mínimo Nacional e o Brasil chegou, em 2014 naquilo que se chama “pleno emprego”, quando menos de 5% da população economicamente ativa está desempregada e buscando emprego. Em finais de 2014, a ONU retirou o Brasil do “Mapa da Fome”. - Neste ano de 2015, o Brasil está vivendo momentos de turbulência política, com a Reeleição da Presidenta Dilma (outubro de 2014) sendo contestada violentamente pela Oposição e pelos grandes meios de Comunicação, gerando instabilidade social. Milhares de pessoas têm saído às ruas com bandeiras as mais diversas e sem uma pauta nacional que as unifique. Para o cidadão comum fica difícil entender o que está acontecendo de fato. - É dentro deste ambiente que somos chamados a ser e a viver como CEBs e como Igreja Rede de Comunidades, interagindo com a Sociedade. Tanto é que a Campanha da Fraternidade de 2015 trouxe como tema: “Igreja e Sociedade” e como lema: “Eu vim para Servir”, deixando claro que o fundamental na Igreja é a sua ação na sociedade, para fora, e não para dentro, numa espécie de automanutenção. A razão de ser da Igreja é Evangelizar. “A Igreja é chamada a sair de si mesma para ir às periferias, não só geográficas, mas também existenciais: mistério do pecado, dor, injustiça, ignorância, indiferença religiosa, pensamento e toda a forma de miséria” (Papa Francisco). E esse é também o tema do 28º Encontro de CEBs-ArquiPOA: “CEBs: Fermento de Transformação da Sociedade”. Questões para aprofundamento:
1) O que mais chamou a atenção na leitura das considerações sobre as CEBs feitas pelo Frei Flávio em 2008?
2) Quais são as características das CEBs hoje, levando em conta o texto do Frei Flávio e as mudanças que já aconteceram na Igreja e na Sociedade nos últimos anos?
3) Será que o “Jeito de ser Igreja” das CEBs ainda tem sentido, ou alguma relevância no atual contexto Eclesial e Social em que estamos vivendo? Justifique suas afirmações.
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Oficina 3 - Fé e Política
Pequeno apontamento sobre Fé e Política4
Duas palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo parecem resumir uma vida de fé. A
primeira é “Aquilo que fizerdes ao mais humilde dos meus irmãos a mim o fareis” (Mt
25,40) e a segunda é “Ide, pois: de todas as nações fazeis discípulos” [...] “Quanto a
mim, eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos tempos” (Mt
28,20).
O reconhecimento de Deus na/o outra/o, especialmente no povo pobre, na
“multidão sem pastor”, injustiçada e excluída socialmente, é a condição de
possibilidade da vida de uma verdadeira fé - perdoado o exagero da metáfora - como
forma de reconhecer a consagração da vida com que o próprio Deus se fez presente,
pela Sua Encarnação, em cada um/a das/os suas/seus filhas/os.
Nesta recomendação estão presentes quantas/os necessitam prioridade de a-
tenção (cuidado), com-preensão (a própria palavra induz prender, abraçar), com-
paixão (extrema dedicação, interesse), carecendo de prest-ação, ou seja, movimento
do tipo lava-pés ou do bom samaritano.
Há um poder-serviço visivelmente presente aí, de puro amor, disponibilidade e
gratuidade, capaz de discernir os sinais dos tempos com a estratégia da pomba e a
tática da serpente, inclusive para enfrentar o que ou quem está levando gente para a
morte na cruz e não para a vida da ressurreição.
Jesus Cristo não discrimina nem separa ninguém nessas duas mensagens. Papa,
padres, religiosas/os ou leigas/os, indistintamente, estão sendo aí chamadas/os a
viver como ressuscitadas/os, diariamente testemunhando uma con-sagração, tanto da
vida própria, como templos do Espírito Santo na forma recomendada por São Paulo,
quanto da vida de todas/os as/os filhas/os de Deus.
Pela Encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo, portanto, sagradas se tornaram
todas as pessoas, sem exceção. Assim, fiéis somente se consagram para consagrar a
vida, atendendo a um convite de Jesus ressuscitado: Ide, ponham-se em movimento.
O testemunho da continuidade da sua Presença, agora, não é o de um defunto, está
disseminado entre todas/os seus/suas filhas/os. Se a morte morreu, como aconteceu
com Nosso Senhor, os movimentos por Ele recomendados e sustentados nessas boas
novas, todo o ato ou fato ameaçando ou sacrificando vida tem de ser vencido por essa
ressurreição. Acreditar nela e viver sob sua inspiração divina é condição absoluta de
fé.
4 Jacques Távora Alfonsin- Advogado dos movimentos sociais, procurador aposentado do
estado do Rio Grande do Sul e membro da ONG Acesso, Cidadania e Direitos Humanos.
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A Presença dEssa, agora, é plural, Vida con-sagrada, ou seja, revivida em todas
as vidas, fazendo-se próxima de todas elas.
Existe, pois, um forte componente político na fé, que adverte com muita clareza
e segurança a vida consagrada como consagração de vida: as duas boas novas de
Jesus Cristo acima lembradas indicam não se poder substituir o movimento pela
ordem estática, nem considerar os dogmas como cláusulas pétreas incapazes de uma
interpretação de reajuste, conforme a história esteja carente de vida e de vida
ressuscitada. Bem como aconselhava Dom Hélder Câmara: “Coloque o seu ouvido no
chão e ouça os ruídos em volta. O Mestre anda circulando”.
Quem anda circulando não está parado e esse chão é feito de história, riscada
de toda a espécie de conflito entre poderes, políticos, econômicos e sociais, sendo
necessário um esforço permanente para se identificar e combater aqueles da espécie
que crucificou Nosso Senhor, ideologicamente sustentados até pela lei. Continuam
crucificando os humildes, dos quais Ele fala e defende. Em nome da segurança do ter
não hesitam em matar a liberdade do ser.
O específico, então, da vida de fé é o dar testemunho de fé na vida, quando se
tem consciência de que essa é sagrada porque Deus admitiu o sacrifício da própria
para ressuscitar em cada fiel a multiplicação dela. Viver, mal comparando, como quem
recebe um mandato de Deus (mandato é uma palavra que vem do latim, significando
mão dada!), talvez não para uma consagração de vida ser diferente da vida de todas
as outras pessoas não crentes, mas sim para sinalizar (sacramento), servir de exemplo,
como uma luz de orientação para vidas escuras, como o sal do tempero indispensável
ao sabor de consumir-se, como o amor apaixonado por Deus se revela em cada
eucaristia (“fazei isso em memória de mim”) em cada palavra (a pá que lavra...) em
cada missão de construção do Reino, por verdade, justiça, amor e paz.
Trata-se, pois, de um mandato inquestionavelmente político também, não
alienado à espera descompromissada de uma eternidade feliz, como se essa pudesse
abusar do Crucificado, ignorando a política que o assassinou e que continua
crucificando gente pelas mesmas razões invocadas para condená-lo.
Assim, a vida de fé somente se consagra consagrada a essa outra con-sagração:
Encarnada na/o próxima/o, garante uma tal ventura, gozo, uma tal felicidade, que
todo o sacrifício da cruz nela presente já antecipa, paradoxalmente, vivermos como
ressuscitadas/os, vacinadas/os contra a rotina da acomodação imposta por toda a
injustiça geradora de dor e morte. Sem jamais perdermos a fé no Deus que prometeu
estar junto conosco todos os dias, transformando nosso poder-serviço político, a Ele
devido para a construção do Seu Reino, numa vida vivida sob um “jugo
extraordinariamente suave e um fardo extraordinariamente leve”, pelo simples fato
de sabermos estar sempre em Sua Infinitamente Amorosa Companhia.
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CEBS: Povo de Deus, Fermento, Transformação e Vida5
1983
“1. Dias 19 e 20 MAR 83, no Salão Paroquial da Igreja da Vila São Pedro,
localizado na Estrada João de Oliveira Remião, 4444 – Lomba do Pinheiro – PORTO
ALEGRE/RS, foi realizado o VI ENCONTRO DE COMUNIDADES ECLESIAIS DE BASE –
CEBs da Arquidiocese local, que teve como tema central ‘POVO UNIDO, SEMENTE DE
UMA NOVA SOCIEDADE’. 2. Os participantes do Encontro, em número aproximado de
200 (duzentas) pessoas, após a abertura dos trabalhos, foram divididos em diversos
grupos para a discussão da pauta do evento, da qual constava o ‘estudo da conjuntura
política, econômica e social e a prática das CEBs’.”
O parágrafo acima é transcrição literal do Informe Nº 11-523/83, SCI/SSP/RS –
Supervisão Central de Informações, da Secretaria de Segurança Pública do Estado do
Rio Grande do Sul, registrado como E2/III EX – APA/SNI (Serviço Nacional de
Informações), com carimbo de CONFIDENCIAL. Acompanham o registro dos serviços
de espionagem da ditadura militar duas matérias de Zero Hora, de 20 e 21 de março
de 1983: “CEBS – o povo está cansado de injustiças – Procissão encerrou encontro de
CEBs –“; “Reunião na Lomba do Pinheiro concluiu que a união é a saída para buscar
sociedade mais justa.”
Os serviços de espionagem fazem registro especial de alguns presentes: o ex-frei
Selvino Heck, Pe. Pedrinho Guareschi, Ana Isabel Alves Godoy, militante comunitária,
Íria Charão Rodrigues, das CEBs, frei Mário Schuh, frei Alcindo Dalcin.
A metodologia, segundo os registros: “Na abordagem dos assuntos, os
presentes, orientados por ‘animadores pastorais’, fizeram uso do método de análise
preconizado por Puebla (Ver – Julgar – Agir -), que se baseia, fundamentalmente, no
diagnóstico (Ver) dos problemas que afligem os pobres (trabalhadores), estudo das
causas e consequências (Julgar) destes e adoção de medidas (Agir), visando minimizá-
los e/ou solucioná-los”.
2015
Vai acontecer o 28º Arquidiocesano de CEBs, em 7 e 8 de novembro. O tema é:
“CEBs – Fermento de Transformação da Sociedade”. O lema: “Povo de Deus,
dialogando com as Realidades a Serviço da Vida”.
VER EM 1983:
“Entre o que mais inquieta a classe trabalhadora foi salientado o problema do
salário mínimo (baixos salários), que, segundo o Pe. Pedrinho Guareschi, é tão
insustentável e pode ser definido como salário de fome. Hoje em dia, o salário mínimo
5 Selvino Heck - Membro da Coordenação Nacional do Movimento Fé e Política e Assessor
Especial da Secretaria Geral da Presidência da República
26
é tão insustentável que sabemos de casos em que duas pessoas trabalham e, mesmo
assim, a família passa fome. O povo está cansado do regime de injustiças sociais que o
cerca.”
A luta era por democracia, eleições diretas, liberdade de expressão e
organização, contra a prisão, a tortura e o exílio -, por direitos e dignidade – salário,
emprego, a injustiça social.
VER EM 2015:
Hoje o salário mínimo não é o problema principal: ganhou forte poder aquisitivo
e aumento real nos últimos anos. Diminuíram a fome e a miséria. Um dos problemas
são as políticas públicas, deficientes, como no caso da saúde, educação, transporte
público e mobilidade urbana.
As pessoas vivem melhor, em geral, em termos de emprego, renda. Mas muitas
vezes, com mais qualidade de vida, surge o consumismo, permanece o individualismo,
há menos sentido de trabalho solidário. As pessoas pensam mais em si e menos na
comunidade. Cada um quer cuidar mais de sua vida e menos da vida dos outros.
Não se fazem hoje Encontros de CEBs com espionagem presente e registro dos
participantes. O problema não é a falta ou ausência de democracia. Mas a
participação nas comunidades, nos grupos de reflexão, nas associações de bairro, nos
sindicatos, nos partidos, às vezes, têm diminuído.
As mobilizações sociais, em 2013, pediram qualidade dos serviços públicos, e em
2015 são por avanços na democracia contra a corrupção e por reformas,
principalmente a política.
QUESTÕES PARA CONVERSAR:
1. Quais são os três principais avanços no seu grupo de reflexão e comunidade?
2. Quais são os três principais problemas e necessidades do Rio Grande e do
Brasil?
3. O que mudou da realidade de 1983 em relação à realidade de 2015?
JULGAR EM 1983:
Segundo os registros do DOPS, no estudo das causas e consequências dos
problemas abordados, os presentes concluíram que “todos os membros da nossa
sociedade devem ter os mesmos direitos, sem diferenças (sociedade igualitária e
fraterna) e que o culpado pelas injustiças cometidas contra os trabalhadores é o
sistema econômico brasileiro, o capitalismo, bem como o grupo que faz as leis que nós
somos obrigados a obedecer, o governo e os militares”.
Todos se lembraram das muitas falas de Jesus Cristo, registradas na Bíblia,
pregando a fraternidade entre os homens que “devem ter os mesmos direitos, sem
diferenças”.
27
A falta de democracia impedia avanços nos direitos do povo. Quando havia
crescimento econômico, não era acompanhado com melhor salário e melhoria de
condições de vida para a classe trabalhadora e a maioria do povo.
JULGAR EM 2015:
O sistema capitalista continua forte. O Brasil continua um dos países com mais
desigualdade econômica e social, embora a desigualdade tenha diminuído nos últimos
anos. O consumismo e o individualismo são marca da sociedade contemporânea. As
CEBs continuam sendo um dos espaços para a transformação, ligando a fé à realidade
concreta, chamando à participação e à vivência comunitária. Disse o papa Francisco:
“Temos de construir uma economia na qual o bem das pessoas, e não o dinheiro, seja
o centro.”
As palavras de Jesus, - vida, vida em abundância - e a prática da Igreja Primitiva
são referência e fermento para a transformação da sociedade. Um novo homem e
uma nova mulher estão em construção, a partir da fé que dialoga com a realidade do
mundo e vislumbra o Reino de justiça, fraternidade, comunhão e solidariedade.
As Reformas de Base, que foram impedidas pelo golpe militar, continuam
necessárias e estão na agenda dos movimentos sociais, pastorais populares em 2015.
A democracia não garante por si só Reformas nem a garantia e ampliação dos direitos.
Ao mesmo tempo, valores como a solidariedade, o respeito às diferenças, a
construção coletiva e comunitária continuam como desafio.
Em 2015, a crise não é democrática, mas econômica, no mundo, social na
Europa, política, de descrédito crescente, cultural, de valores, e ambiental, com as
secas e as mudanças climáticas.
QUESTÕES PARA CONVERSAR:
1. Como entender e explicar as diferentes crises em 2015?
2. O que é ser fermento transformador hoje e como viver e construir os valores
evangélicos?
3. Quais são os sinais do Reino no século XXI, como interpretá-los e que palavras
Jesus diria hoje?
AGIR EM 1983:
Nos registros policiais, “após as discussões quanto à ação que será desenvolvida
(Agir) para fazer frente às ‘injustiças contra os pobres’, baseados nos preceitos da
Teologia da Libertação e com o uso das estratégias da luta não-violenta (Ver Informe
11-456/83/SCI/SSP/RS – 24 mar 83), os participantes do Encontro decidiram que ‘a
organização e a união dos trabalhadores é a única saída que temos para buscar uma
sociedade mais justa, fraterna e igualitária, onde não existirão os extremos de riqueza
e de pobreza’.”
28
Um compromisso final, segundo a espionagem: “Como encerramento do
Encontro, foi realizada uma procissão do local do evento até a Vila Nova São Carlos,
onde foi rezada uma missa em solidariedade aos posseiros que para lá foram
transferidos após serem desalojados para a construção da estação de transbordo da
Av. Bento Gonçalves.”
Relata Zero Hora: “O VI Encontro das CEBs terminou com um ato de fé e,
especialmente, muita esperança: seus 240 participantes venceram todas as subidas e
descidas que separam as paradas 11 e 13 da Lomba do Pinheiro, numa procissão que
foi engrossando a cada esquina, e juntaram-se aos moradores da Vila Nova São Carlos
para firmar mais um laço forte na luta dos trabalhadores por melhores condições de
vida. Entre as orações e os cânticos religiosos, uma palavra corria de boca em boca:
organização. Pois, a união dos trabalhadores é sua única saída para buscar uma
sociedade mais justa. Seja esta organização através de um sindicato, de uma
associação de bairros ou mesmo de uma CEB.”
AGIR EM 2015:
Em plena democracia, a juventude promoveu grandes mobilizações em 2013,
exigindo reformas e politicas públicas de qualidade. O Plebiscito Popular por uma
Constituinte Exclusiva e Soberana sobre o Sistema Político e o Projeto de Lei de
Iniciativa Popular da reforma politica e eleições limpas tiveram a CNBB na linha de
frente e mobilizaram pastorais, CEBs e movimentos sociais. Há uma intensa
mobilização social e política, uma parte exigindo avanços, outra parte pregando
recuos na politica econômica e social.
A ação concreta, a participação, a vivência prática podem levar à transformação
da sociedade e “dialogam com as realidades a serviço da vida”. O papa Francisco
disse, em entrevista: “Estou convencido de que é necessário que os homens e as
mulheres se comprometam, em todos os níveis, na sociedade, na política, nas
instituições e na economia, colocando no centro o bem comum. Nunca resolveremos
os problemas do mundo sem uma solução dos problemas dos pobres. São necessários
programas, mecanismos e processos orientados a uma melhor distribuição dos
recursos, à criação de empregos, à promoção integral dos excluídos. A Igreja está
movida unicamente pelas palavras de Jesus. Quer oferecer seu aporte à construção de
um mundo no qual uns ajudem os outros e no qual uns cuidem dos outros.”
QUESTÕES PARA RESPONDER:
1. O que as CEBs devem fazer para construírem um ‘povo unido’ e serem
semente e fermento transformador da sociedade?
2. As ações de 1983 ainda têm sentido em 2015?
3. Quais os maiores desafios e as ações prioritárias das CEBs neste momento da
história?
29
Oficina 4 - CEBs e a Igualdade de Gênero
Gênero, Feminismo e Diversidades6
Ao iniciar esta conversa não temos como não pararmos e fazermos, antes ainda
de entrar neste texto, uma rápida avaliação, cochicho e reflexão sobre alguns
conceitos e sentimentos:
Hoje ser mulher, para quem é mulher, como é??? Ser homem macho, hoje,
como é??? O que consideramos “comum”, “normal”???? E o que é o diferente para
nós???
Algumas definições básicas, para aprofundarmos a nossa reflexão:
Sexo – refere-se ao dado físico-biológico, marcado pela presença do aparelho
genital e outras características fisiológicas que diferenciam os seres humanos, como
macho e fêmea, homem e mulher.
Gênero - refere-se ao dado social, são regras e padrões de construção corporal
e comportamentos que configuram a identidade social das pessoas, resultando nas
identificações como feminino e masculino, nos quais os moldes ideais tem sido,
mulher e homem. Assim vemos que as diferenças são naturais, mas as desigualdades
são culturais. Portanto ser mulher e ser homem são construções culturais.
Sexualidade – refere-se ao lado sexual, que se define pelas práticas eróticas-
sexuais nas quais as pessoas se envolvem, bem como pelo desejo e atração que leva a
sua expressão (ou não) através de determinadas práticas.
Feminismo - através do movimento (social, filosófico e político) iniciado pelas
mulheres por volta de 1848, na luta pelos seus direitos, começou a se perceber e
problematizar as desigualdades. Esse movimento fortalecido há mais de 200 anos
pelas mulheres feministas em todo o mundo, tem apresentado um novo modelo de
relação entre homens e mulheres e novas concepções do que é ser feminino e
masculino. Feminismo é a ideia radical de que mulheres são gente!!!
Corporeidade – termo mais recente, mas muito importante que não se refere
apenas ao corpo humano como conjunto de órgãos e partes, mas o ser humano
enquanto presença corporal e a sua relação consigo mesmo, com as outras pessoas,
com a natureza e com a divindade. É a forma como existimos e damos significado a
nossa existência.
Podemos conversar um pouco sobre estas definições??? Elas são únicas???
Como tratamos as diferentes????
6 Adelaide Klein- Assessora do CEBI.
30
Muito tem sido produzido de conteúdo sobre o tema sexo, gênero,
sexualidade e diversidades, mas ainda se percebe que temos limitações, em nossas
análises e debates. Sim, tenho certeza, que as respostas serão as mais diversas
possíveis, mas uma coisa é certa, apesar das muitas lutas e conquistas, iniciadas pelas
feministas, ainda hoje as mulheres carregam fardos pesados demais, ainda hoje
sofrem as mais diferentes formas de violências de gênero, tão somente por serem
mulheres. A cada dia continuamos vendo a não valorização, ou a desvalorização, das
mulheres em detrimento dos homens, no trabalho, na política, nas igrejas (algumas
mais do que outras), na sociedade. E quando a mulher conquista um espaço de
destaque, ainda assim não é valorizada da mesma forma que os homens (tem
deputado, inclusive, eleito pelo povo, que sugere as empresas que remunere menos
as mulheres pois, afinal elas hoje têm direito a licença maternidade). A sociedade
patriarcal, centrada na figura do homem (patér - pai) ainda hoje trata as mulheres de
forma desigual, e nós mulheres, por vivermos nesta sociedade, muitas vezes somos
co-responsáveis em alimentar estas diferenças, a desvalorização e a violência contra
as mulheres. Os homens, também são aprisionados por preconceitos e discriminados
se não forem os mais fortes, racionais e seguros.
Quando nós mulheres educamos, e quase sempre fica para nós a tarefa de
educar os filhos e filhas, educamos de forma diferente os meninos das meninas,
permitimos falas do tipo: “homem não chora”, para os meninos, e para as meninas
dizemos, “isso não é coisa de menina fazer”, jogar bola, brincar com os meninos na
rua. As meninas precisam ajudar nas tarefas da casa, os meninos são dispensados, os
meninos ganham carrinhos e bolas, as meninas, bonecas e panelinhas. O que
realmente estamos propondo para estas crianças??? Os meninos são educados para
serem “machos”, “pegar todas as meninas” e as meninas foram educadas para
obedecerem aos pais e depois aos maridos, pois muitas ainda hoje são educadas para
o casamento, como se isso fosse a única opção que uma menina, uma mulher poderá
ter da vida!!!
Na Igreja Católica (ICAR) o modelo de mulher que nos é ensinada é o de Maria,
humilde, calada, ouvia e guardava tudo em seu coração, virgem, pura, sem vontades,
ou desejos, mesmo que tenha tido um papel fundamental na história e na nossa fé,
pelo papel fundamental de entrega, do seu sim, de trazer ao mundo Jesus Cristo, o
nosso Salvador. Não acentuando nunca a Maria jovem, forte e corajosa, que fez
opções, que tinha uma experiência marcante de Deus, que recita o Magníficat...
Podemos cantar, “Minha alma engrandece o Deus libertador.....” É urgente
resgatarmos o texto da Bíblia que nos fala da criação: “Façamos o homem a nossa
imagem e semelhança. E Deus criou o homem à sua imagem; à imagem de Deus ele o
criou; e os criou homem e mulher” (Gn 1,26-27). Não tem distinção, ambos fomos
criados à imagem de Deus.
Vamos pensar rápido: em nossas comunidades, temos mulheres de
destaque??? São muitas??? Quais são as funções que costumam desempenhar???
31
Isso é bom ou ruim??? Como nós estimulamos isso em nossas comunidades???
Educamos e compartilhamos de experiências que estimulem as meninas, os
meninos, as mulheres e os homens para a vida de igualdade em sociedade, no
trabalho, na política e nas atividades da comunidade???
Vamos olhar novamente para a Bíblia, já chamaram a nossa atenção textos que
falam os nomes dos homens, mas e as mulheres no antigo e no novo testamento,
onde estão? Normalmente aparecem como filha de..., irmã de..., a mulher de… Já
pararam para pensar que entre os discípulos de Jesus poderiam estar mulheres? Por
que “os discípulos de Emaús” sempre lemos como sendo dois homens?? A
Samaritana, não tem nome, como será que ela se chamava??? E a mulher siro-fenícia
(Mc 7,24-30), que peitou Jesus, com um diálogo forte, insistente e perseverante,
fazendo ele repensar o “seu discurso”, a sua prática. A teimosia desta mulher salvou a
vida da filha. E nós mulheres e homens, para salvar nossos filhos e filhas, até onde
vamos??? Sabemos o nome das parteiras do Egito, que enfrentaram o faraó,
deixando nascer os meninos hebreus que elas deveriam matar, possibilitando com
isso a vida de Moisés e a libertação do povo hebreu, conquistando a terra prometida,
onde corre leite e mel. Quais outras mulheres de que temos referência na Bíblia?
A Leitura Popular da Bíblia tem estimulado a leitura sob a ótica de gênero, e
também, da diversidade. Muitas Teólogas e Teólogos de diferentes igrejas têm
contribuído imensamente para esta leitura: Lúcia Weiller, Elza Tamez, Elaine
Neufeldt, Vanda Diefeld, Ivone Gebara, Mercedes Lopes, Nancy Cardoso, André
Muskopff, Ivoni Richter Raimer, Maria Soave, Belinha... entre outros e outras tantas,
que nos trazem a desconfiança, a desconstrução dos textos, e a reconstrução dos
mesmos, dando vida às mulheres escondidas ou desconstituídas, ressaltando a
importância e valorização destas mulheres na história da salvação. Por que uma
mulher, amada por Jesus, discípula dele, é tratada ainda hoje apenas como
prostituta, e não como a 1ª testemunha da ressurreição de Jesus??? Já nos demos
conta disso tudo???
Isso mostra que a linguagem utilizada na Bíblia, reforça uma linguagem
androcêntrica (universalizando normas masculinas), gerando na sociedade, por
milhares de anos, culturas e religiões patriarcais presentes ainda hoje, e sendo
proclamadas, ensinadas em nosso meio. Quem de nós já não vivenciou situações
destas??? Quantas vezes somos maioria em algum espaço, e somos tratadas pelo
gênero masculino??? Como nós dialogamos??? Nossas falas são inclusivas???
Ajudamos a “bater” em mulheres, que se vestem para “provocar” homens, e por
isso podem ser assediadas ou violentadas??? Pensemos!!!
O Movimento das mulheres, e mais recentemente das Diversidades Sexuais,
tem avançado a duras penas. As leis, o uso fundamentalista da Bíblia, e outros
instrumentos não tem permitido o avanço da garantia dos direitos. Os Direitos
Humanos, instrumento de política de Estado, têm “apanhado” duramente para que
todas as pessoas, com suas especificidades, tenham espaço, respeito, dignidade, ou
32
seja, tenham os seus direitos respeitados. Por isso os movimentos, as organizações
são fundamentais ainda hoje. A Lei Maria da Penha, (Lei Nº. 11.340/2006), foi um
grande marco na vida das mulheres, mas ainda não contempla todas as necessidades.
As Políticas Públicas de Estado precisam avançar também em questões que dizem
respeito ao corpo das mulheres e homens.
Por isso acreditamos que a nossa caminhada, alimentada pela nossa fé, deve
colaborar no avanço da garantia destes direitos. O Papa Francisco tem aberto
discussões que até então estavam longe do debate no âmbito da Igreja, e hoje
começam, mesmo que de forma tímida ainda, a ganhar espaço, ouvindo os diferentes
grupos, acolhendo, pensando na valorização, reatando e se reaproximando das
queridas e bravas teólogas. A Leitura Feminista da Bíblia poderá nos ajudar muito
nisso, resgatando e fortalecendo o Sagrado feminino, criando novas referências e
simbologias que não sejam apenas masculinas e empoderando as mulheres a se
organizarem e a lutarem por seus direitos. Alguns espaços e movimentos como o
Centro de Estudos Bíblicos (CEBI) e a organização Católica pelo Direito de Decidir têm
contribuído vastamente em publicações e formações, nesta perspectiva. Como
desafio, podemos discutir quais as possibilidades de organizar em nossos grupos,
estudos e reflexões nesta perspectiva?
REFERÊNCIAS
- Bíblia Sagrada – Edição Pastoral
- “Quando sexo, gênero e sexualidade se encontram” Andrré Musskopf
- “Cartilha Prevenção e enfrentamento à Violência Doméstica contra as Mulheres” -
Igreja Episcopal Anglicana do Brasil – Serviço Anglicano de Diaconia e
Desenvolvimento – SADD
- “Teologia Feminista – Tecendo Fios de Ternura e Resistência” - ESTEF/2008
- Palavra Na Vida - PNV 205/ 2005 – “Mulheres dando a luz a nós mesmas” Jane
Dwyer e Tea Frigério - Centro de Estudo Bíblicos (CEBI)
- Palavra Na Vida – PNV 304/ 2013 – “Maria Madalena a Discípula Amada” – Fátima
Maria Carvalho Rocha de Moura - Centro de Estudo Bíblicos (CEBI)
-“As Mulheres no Movimento de Jesus o Cristo” Elza Tames – Editora Sinodal/ 2004;
-“De Baixo e De Dentro - Crenças Latino Americanas” Diego Irarrazaval – Editora
Nhanduti / 2007
-“Mulheres Desafiam as Igrejas Cristãs” Sibyla Baeske – Editora Vozes / 2001
- Almanaque da Mulher - “A Incrível Jornada” Central Única dos Trabalhadores e
Trabalhadoras / 2009
-“Costurando Saberes e Experiências de Mulheres – Uma Perspectiva Histórico-
teológica” Scheila dos Santos Dreher – Centro de Estudos Bíblicos / 2009
33
Oficina 5 - CEBs e Juventudes
Coragem e Ousadia - Entre o medo da novidade e o
Projeto do Reino7
Esse texto foi escrito por muitas mãos, em momentos distintos desses últimos
quatro anos. Momentos de muitas transformações sociais, políticas, culturais,
eclesiais, etc. Anos de muitos protestos, de reivindicações por melhores condições de
vida, organização do povo, de democracia e participação popular. Mas também de
manipulações, conservadorismo, intolerâncias.
Esse texto foi escrito por muitas mãos... Mas antes de ser escrito ele foi vivido.
Foi vivido por uma diversidade de jovens, de diversas raças, credos, sexos, orientação
sexual, idades, culturas... Reunimos aqui alguns fragmentos de reflexões feitas em
momentos distintos desses últimos quatro anos, e esse texto foi surgindo assim,
costurando nossas experiências vividas e refletidas no trabalho com as juventudes.
Nem todas essas vivências foram boas. Mas são sementes de novidades que nos
cercam e desafiam a mudanças.
Falar de/sobre/com as juventudes é falar sobre coragem e ousadia, falar sobre o
medo que temos dos ventos novos. Falar sobre a vida das juventudes é falar sobre o
Projeto do Reino de Deus, aqui e agora!
A realidade juvenil é uma das dimensões mais importantes para compreender o
comportamento humano dos nossos dias. Em primeiro lugar temos que entender que
estamos falando em juventudes, isso mesmo, no plural, porque as juventudes são
diversas, têm suas características próprias que levam em consideração as diversas
influências sociais e midiáticas da atualidade, durante a formação de suas identidades,
e são essas características que as reúnem em grupos de acordo com seus interesses
próprios.
Em vários campos da predominante vida urbana, compreendida aqui, por toda
indústria cultural presente nos meios de comunicação de massa e que influenciam
também os ambientes rurais, a vida destas juventudes marcam as identidades da
maioria da população através das linguagens, da música, da moda, das redes sociais,
das participações e transformações sociais e politicas, entre outras.
7 Jaiane Seulin Kroth- Graduanda em Teologia, integrante da Ong Católicas pelo Direito de
Decidir.
Pe. Edson André Thomassin - Pároco da Rede de Comunidades São João Batista de São
Leopoldo, Ong Trilha Cidadã.
Marcelo Soares de Moura - Articulação das CEBs, integrante dos movimentos MIRE
[Movimento Mística e Revolução] e da REJU-Sul [Rede Ecumênica de Juventude].
34
Um dos aspectos dessa realidade são os avanços das políticas públicas
de/para/com as juventudes que, como qualquer outro/a cidadão/ã têm a necessidade
de políticas de Estado e de Governo específicas para o pleno exercício de sua
cidadania e de seus direitos, como por ex.: No ano de 2010, aconteceu a inclusão do
termo “juventude” na constituição brasileira, a chamada PEC da Juventude, que
indicou a necessidade de aprovação de Marcos Legais no país: o Estatuto da
Juventude e o Plano Nacional de Juventude. O Estatuto é fundamental, pois define
quais são os direitos específicos desse período da vida, marcado pela faixa etária de
15 a 29 anos, é um marco para constituir uma nova compreensão sobre o que é ser
jovem, período que carrega estereótipos negativos, visto como problema ou mera
fase de transição da infância para a vida adulta. Chegou a hora da sociedade e do
Estado reconhecerem os/as jovens como portadores/as de direitos específicos e que
são capazes de participar da construção de um país melhor. Prova dessa participação
e busca de direitos, são os grandes protestos no Brasil e no mundo, que geraram em
pouco tempo transformações gigantescas que a muito se buscava.
Desde 2008, com o agravamento da grande crise financeira mundial, que levou
muitas empresas a falência (principalmente grandes bancos norte-americanos e
europeus) e deixando diversos países em grave crise econômica, o povo começou a se
erguer contra esse sistema que endeusa o capital, explora e mata, para que os ricos
mantenham sua posição social e obtenham seus lucros. Em dezembro de 2010, um
jovem tunisiano, Mohamed Bouazizi, ateou fogo ao próprio corpo como forma
extrema de protesto contra as condições de vida no país em que morava. Ele não
sabia, mas o ato desesperado, que terminou com a própria vida, daria consequência
ao que, mais tarde, viria a ser chamado de Primavera Árabe (onda revolucionária de
manifestações e protestos que vêm ocorrendo no Oriente Médio e no Norte da
África). No total entre países que passaram e que ainda estão passando por suas
revoluções, somam-se à Tunísia: Líbia, Egito, Argélia, Iêmen, Marrocos, Bahrein, Síria,
Jordânia e Omã. Nos EUA, jovens americanos organizaram o Occupy Wall Street,
movimento de protesto contra a desigualdade econômica e social, a ganância, a
corrupção e a indevida influência das empresas - sobretudo do setor financeiro – no
governo dos Estados Unidos.
Assim como na Espanha surgiu o Movimento Indignados, que reivindicavam
uma mudança na política e na sociedade espanhola, no decorrer dos protestos, surgiu
uma série de reivindicações políticas, econômicas e sociais heterogêneas, reflexo do
desejo de seus participantes de mudanças profundas no modelo democrático e
econômico vigente, o fim da corrupção e o respeito pelos direitos básicos, como
habitação, trabalho, cultura, saúde, educação, participação política. Em 2012, cerca de
51,4% dos jovens estavam desempregados na Espanha. Desse movimento foi criado
em 2014 o “Podemos”, partido politico de esquerda comprometido com as causas do
povo espanhol. Somam-se a estes, protestos no Chile, na Venezuela, Grécia, Portugal,
México...
35
No Brasil, em 2013, as juventudes também foram às ruas. Conhecidos como
Jornadas de Junho, os protestos a partir de 2012 são as maiores mobilizações no país
desde as manifestações do “Fora Collor!”, em 1992 e as “Diretas Já!”, em 1985.
Inicialmente restrito a poucos milhares de participantes, os atos pela redução das
passagens nos transportes públicos ganharam grande apoio popular em meados de
junho, em especial após a forte repressão policial contra os manifestantes. Em seu
ápice, milhões de brasileiros estavam nas ruas protestando não apenas pela redução
das tarifas e contra a violência policial, mas também por uma grande variedade de
temas como os gastos públicos em grandes eventos esportivos internacionais, a má
qualidade dos serviços públicos, as PECs 37 e 33, "cura" gay, ato médico, gastos com a
Copa das Confederações FIFA de 2013 e com a Copa do Mundo FIFA de 2014, e a
indignação com a corrupção política em geral. Os protestos geraram grande
repercussão nacional e internacional. Os protestos no Brasil dialogam com os
protestos a nível internacional, não se trata de um evento, de algo breve ou de uma
estação do ano, trata-se de um período de transformações históricas nos rumos da
política mundial.
É bem verdade que, mesmo no desejo de mudança e espírito protagonista dessa
geração de jovens brasileiros que foram as ruas, muito há que se questionar. As
manifestações pelo passe livre tinham caráter classista, mas essa pauta classista se
perdeu em 2015. A prova disso são as reivindicações conservadoras de direita, como a
redução da maioridade penal, a criminalização do aborto, volta da Ditadura, pena de
morte, entre outras reivindicações. Mas, podemos observar duas vertentes de
protestos, uma organizada por forte influência das classes média e rica do Brasil que
deixaram de lutar por mudanças conjunturais, pelo bem comum da população e
começaram claramente um ataque de ódio direto a presidenta Dilma e seu partido.
Outra vertente é a das manifestações e greves, organizadas pelos movimentos sociais
e centrais sindicais, que continuam reivindicando pautas mais democráticas como os
direitos trabalhistas da população, contra a redução da maioridade penal, contra a
aprovação da PL 4330 (projeto de lei sobre a total liberação da Terceirização do
trabalho em empresas públicas e privadas), entre outras.
Muitos jovens foram às ruas por causa de suas insatisfações sim, mas a grande
maioria não sabia por que estava protestando. Era uma juventude vazia, despolitizada
e manipulada. Mas com ímpeto e explosão de energia fabulosos, característicos da
idade, que bem canalizados e orientados, podem contribuir e muito nas
transformações populares.
Junto a isso, verificamos ainda, infelizmente, que a sociedade consumista-
capitalista quer a juventude unicamente como massa de manobra e não a felicidade
do e da jovem em si. As juventudes são postas em estado de marginalização pela
sociedade, pois, dela não recebe os direitos necessários para a garantia de uma vida
digna como educação, saúde, acesso a políticas de lazer, primeiro emprego, cultura
etc. Acessa a esses direitos, aqueles que podem pagar por eles. Ainda, na sociedade
36
atual, como se não bastasse essa marginalização da juventude criada pelo sistema
social e econômico, se quer penalizar as juventudes porque elas transgridem as leis de
“boa convivência”. Evidenciamos isso agora com a aprovação em 31 de março de
2015 na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos deputados, a redução
da maioridade penal de 18 para 16 anos (decisão que ainda deve ser julgada em
outras instâncias do parlamento). Quer dizer, a sociedade além de excluir a juventude
de acessar direitos básicos, ainda quer culpá-la pela realidade de violência que ela é
protagonista. Essa mesma sociedade que culpabiliza a juventude de ser protagonista
da violência é a que violenta a juventude negando seus direitos básicos. Diante desta
conjuntura é que temos que pensar na vida das juventudes. Olhar para as juventudes
marginalizadas e ir ao seu encontro é seguir ao mandamento do próprio Cristo, que
foi ao encontro dos/as excluídos/as de seu tempo, especialmente das mulheres, dos
pobres, pecadores, todos aqueles que não cabiam no sistema social de pureza exigido
pelas leis que estavam cada vez mais distante da vida do povo.
Junto a esses aspectos sociais atuais, temos que analisar outra característica que
diz respeito diretamente as nossas comunidades, o pertencimento religioso. Temos
consciência também que o pertencimento religioso tem se distanciado bastante das
novas gerações, apesar da grande tendência de um sincretismo místico presente nas
rodas juvenis. É cada vez maior o número de jovens que não estão ligados a nenhuma
instituição religiosa específica, mas, que são inspirados por uma mística e dizem
acreditar em Deus ou ter outras crenças. É própria das juventudes a busca contínua
por uma expressão de fé que dê sentido às suas vidas.
Tal afastamento tem a ver, acima de tudo, porque nossas comunidades, em sua
maioria, são bastante “adultas” no modo de viver. Até encontramos jovens em nossas
comunidades, mas de um lado não são plenamente valorizados ou então, por outro
lado, são os/as “bem quistos/as” porque cumprem os desejos dos adultos (clero,
religiosos/as, leigos/as) que gostam de dizer como deve ser uma comunidade. Adultos
que não levam em consideração que os e as jovens desejam ser eles mesmos, e que
devem ser sujeitos/as de suas próprias histórias. Deve-se acreditar e apostar
efetivamente no protagonismo juvenil. É pecado uma comunidade querer ser
evangelizadora de jovens e não acreditar no protagonismo e nos sonhos dos e das
jovens.
Há também o cenário dos ventos alienantes da realidade religiosa juvenil,
reduzindo-os apenas a eventos de massa, retiros emotivos, com músicas
marcadamente espiritualistas, sendo algumas com ritmos próximos às baladas jovens,
como estratégia comportamental, mas que pouco se diferem na qualidade dos
conteúdos teológicos. Estas práticas erroneamente são justificadas como se fossem o
querer da “galera”. Ora, está é uma leitura reducionista e sem critério para uma
eficácia evangelizadora, mais presa na ideia do momento, do que no critério do
processo educativo da fé.
37
Por isso, as Comunidades Eclesiais de Base, portadoras de diferentes realidades
da vida do povo de Deus, têm a responsabilidade de alastrar o caminho da geração
jovem. Não apenas na separação de um espaço para estes, mas, acima de tudo,
reconciliar com a realidade do povo que hoje tem mais a ver com a vida jovem que em
outros momentos.
Como obrigatoriedade nossa devemos incentivar a criação de grupos de jovens
realmente sintonizados com uma compreensão de pastoral e de vida comunitária que
visa relacionar a fé e a vida. Investir na formação de assessores/as que consigam
acompanhar e orientar esses grupos. Ajudar a refletir junto com o povo as realidades
locais das juventudes e de forma comunitária criar mecanismos que resolvam seus
problemas conjunturais. Temos também que acolher essas diferentes juventudes que
são marginalizadas muitas vezes até por nossas igrejas, como é o caso dos e das
jovens gays e lésbicas. É dever de nossas comunidades abrirem-se as mudanças,
compreender e acolher essas juventudes, sem moralismos e preconceitos.
Por fim, eis o projeto que temos que assumir: Somos responsáveis pelo
encantamento com as vidas dos e das jovens de nossas comunidades, permitindo que
estes/as se tornem comunidades jovens onde a coragem e ousadia protagonista dê
direito de voz e vez, acompanhando-os na realização de seus projetos de vidas
pessoal-comunitário. Uma Comunidade Eclesial de Base que valoriza a presença
jovem, torna-se lugar de felicidade para todas as pessoas.
1- Você sabe quais são as características das juventudes presentes na sua
comunidade (igreja/bairro)?
2- Quais são os maiores problemas que essas juventudes enfrentam no cotidiano da
comunidade (violência, drogas, evasão escolar, preconceito, falta de emprego,
etc...)? E como a comunidade se organiza para resolver esses problemas? Há
projetos sociais destinados aos/as jovens em suas comunidades? Quais?
3- Os e as jovens participam dos espaços de poder e decisão da comunidade? São
vistos como sujeitos/as e respeitados/as pelos membros da comunidade?
REFERÊNCIAS.
- O Divino no Jovem- Elementos Teologais para uma Evangelização da Cultura
Juvenil - Pe. Hilário Dick. IPJ/ 2006
- Doc 85, Evangelização da Juventude- Desafios e Perspectivas Pastorais. CNBB/2007
- http://www.brasilescola.com/geografia/primavera-Arabe.htm
- http://pt.wikipedia.org/wiki/Occupy_Wall_Street
- https://18razoes.wordpress.com/quem-somos/
-http://www.cartacapital.com.br/politica/reducao-da-maioridade-penal-e-aprovada-
na-ccj-7975.html
38
Oficina 6 - CEBs e o Diálogo Inter-religioso
Ecumenismo e Diálogo Inter-religioso: Celebrando a Vida no
Caminho da Paz8
Por que buscar o diálogo ecumênico e inter-religioso?
O ponto de partida para todos os “por quês” em termos de fé cristã está na
revelação bíblica do Primeiro e Segundo Testamentos. Esta revelação nasce da vida e
da experiência histórica do Povo de Deus e suas comunidades. Tudo inicia em nossa
visão da vontade criadora de Deus. Deus não propõe uma criação apenas para um
povo, ou para algumas pessoas escolhidas. A Vida como vontade criadora de Deus cria
a comunhão universal, global e vital entre todos os elementos da natureza e do
próprio universo (sol, lua, estrelas, etc.). Na primeira narrativa sobre o sentido da
criação, organizada didaticamente em sete dias (Gn 1,1-2,4a), vemos que as pessoas
humanas nem mesmo tem um dia exclusivo, mas compartilham o sexto dia com todas
as criaturas que respiram ar (Gn 1,24), isto é, que partilham o “sopro de vida”
(considerando que na época não se tinha a noção de que os peixes também
respiravam e que havia mamíferos aquáticos). Portanto, a Vida é o ponto de partida
do grande diálogo entre tudo, todas e todos! Não é possível a vida sem este diálogo,
nem em sua origem, menos ainda em sua preservação e integridade.
Porém, como também registram as Escrituras Sagradas, nossa humanidade
custou a entender. Após a fundação de Jerusalém pelo Rei Davi (aprox. 1000 a.C.) e
especialmente depois da construção do Templo para YHWH (Javé ou SENHOR),
cresceu a ideia de o povo Israelita teria algum tipo de relação de exclusividade com
Deus (aprox. 960 a.C.). Alguns profetas denunciaram a pretensão de que nada poderia
acontecer ao povo de Judá por que ali estava a “Casa do SENHOR” (cf. Jr 7,1-11). O
erro desta visão exclusivista ficou logo evidente quando o Império Babilônico destruiu
completamente o Templo e mandou para o exílio a elite religiosa e política (2 Rs
24,12-16). Durante este tempo de exílio (entre 587 e 538 a.C) o povo exilado teve que
viver entre pessoas de outros povos, com outras divindades e rituais, com outra visão
de mundo, de vida e de humanidade. Além do mais ficou dividido internamente entre
os que foram para o Exílio (goláh) e os que ficaram na terra. De novo, a história e a
vida demonstraram a necessidade do ecumenismo e diálogo inter-religioso! Foi um rei
8 Dom Humberto Maiztegui Gonçalves- Bispo da Diocese Meridional (Porto Alegre RS) da Igreja
Episcopal Anglicana do Brasil, Doutor em Teologia (Biblista), professor no Centro de Estudos Anglicanos
(SETEK – Polo I) e na Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana (ESTEF).
39
persa, Ciro, e seus sucessores (cf. Is 45,1; Esd 1 e 6) que possibilitaram o retorno do
Exílio e a reconstrução do Templo!
Quando Jesus inicia seu movimento do Reino de Deus (Mc 1,4) ele o faz em um
contexto em que percebe haver “grande fé” em pessoas de outras religiões. Um caso
especialmente esclarecedor neste sentido é a narrativa da Mulher Cananéia ou Siro-
Fenícia que buscava a cura da sua filha gravemente enferma (Mc 7,24-39 e Mt 15,21-
18). A narrativa da comunidade de Mateus mostra a mulher desconstruindo
primeiramente o argumento exclusivista da precedência (primeiros aos “filhos”, ou
aos “escolhidos”) com o argumento inclusivo, ecumênico e inter-religioso, da
urgência, isto é, não são os primeiros que devem ser atendidos, mas aquelas pessoas
que mais precisam! A defensa da igualdade de direito para judeus e “não judeus” em
compartilhar da mesa da Vida, traz uma nova visão da fé. A narrativa termina dizendo
“mulher, grande é tua fé” (15,28a) e “seja feito como desejas ou segundo tua
vontade” (15,28b).
Quando a Igreja Cristã começa a se organizar como tal, há de novo tendências
exclusivistas que impunham condições e normas para aquelas pessoas que não eram
originárias do judaísmo (chamadas de “gentios”, isto é, “dos povos”). A “circuncisão”
foi o foco desta discussão, de falta de ecumenismo interno, sendo concluída com a
abertura ecumênica no chamado “Concilio de Jerusalém” que Lucas resgata em Atos
15. Por outro lado, o apóstolo Paulo, cujo ministério entre os povos mostrou a
necessidade da inclusão ecumênica dos homens não circuncidados e suas famílias,
também mostrou, segundo relata Lucas em Atos, a necessidade do diálogo com as
divindades gregas, profundamente respeitadas, sem deixar por isso de pregar a Boa
Nova de Deus em Cristo (cf. At 19 e 29).
Depois disso, houve uma nova “imperialização” da Igreja Cristã, reaparecendo
exclusivismo dentro de tradições consideradas tanto “católicas” (que deviam ser
ecumênicas, pois “católico” é o mesmo que “universal”), quanto “evangélicas” (que
deviam ser ecumênicas para ser coerentes ao Evangelho). A criação, após a tragédia
da Segunda Guerra Mundial e suas bombas atômicas (1940-1945), fez surgir o
Conselho Mundial de Igrejas (CMI).
Dentro deste contexto, o Papa João XXIII convocou o Concílio Ecumênico
Vaticano II entre 1962 e 1965), provocando profundas mudanças dentro da Igreja
Católica Apostólica Romana (ICAR) e em muitas outras. Destes dois movimentos
surgem depois conselhos ecumênicos regionais, como o Conselho Latino Americano
de Igrejas (CLAI) e nacionais, como o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC),
além de diversas organizações ecumênicas de serviço como o Centro de Estudos
Bíblicos (CEBI), a CESE (Coordenadoria Ecumênicas de Serviços), o CESEP (Centro
Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular), e mais recente o Fórum
Ecumênico Brasil (FE Brasil), entre outros.
Nosso mundo contemporâneo, totalmente globalizado, tecnológico, desigual,
violento, destruidor do meio ambiente, tensionado por novos imperialismos e
40
prevalecimentos, vive, dentro da fé cristã, o flagelo dos exclusivismos ou
“eclesiocentrísmos”, em todas suas tradições. Parece que ainda não aprendemos as
muitas lições que Deus nos deu durante a história! As Comunidades Eclesiais de Base
são, em sua prática, ecumênicas e inter-religiosas por inspiração divina e têm uma voz
profética neste mundo.
1 - É necessário novamente levantar a voz apontando para o ecumenismo e diálogo
inter-religioso?
2 - Quais os desafios deste diálogo para que se promova a paz, a transformação da
realidade à luz da vontade libertadora de Deus?
3 - Quais as experiências bem sucedidas deste diálogo que podemos tomar como
sinais ou pontos de partida para este desafio?
A prática ecumênica da REJU: Fé, Incidência e Utopias9
Entre sociedades marcadas por conflitos motivados por radicais convicções
religiosas, conflitando com o racionalismo, que nega a existência de um deus
absoluto, temido e soberano ou limita as crenças a simples mitos para mentes pouco
esclarecidas... Por que crer? As religiões merecem espaço na dinâmica atual na vida
das juventudes?
Crítica e transgressora dos limites do que é genericamente considerado sagrado,
as juventudes da REJU, motivadas por sua fé em seus dogmas, doutrinas e ideologias,
se unem a uma incidência política, compreendendo-se como sujeito de direitos e
alertando que há espaço para que as manifestações distintas convivam em harmonia
e não só isso, transformem a realidade.
Desde 2007, como iniciativa do Fórum Ecumênico do Brasil, hoje FE ACT Brasil10,
a REJU, organizada em rede, une pessoas, em uma dinâmica de abertura e
horizontalidade; portanto, não hierárquica, entre as/os participantes. Na REJU há a
figura de facilitadoras/es regionais e nacional, jovens que mediam contatos entre
indivíduos e instituições em três níveis11. Contudo, o protagonismo e liderança para
9 Edoarda S. Scherer- Facilitadora Nacional da REJU – Rede Ecumênica da Juventude. E-mail:
rejunacional@gmail.com 10
Fórum Ecumênico do Brasil membro da ACT Aliança: composto por conselhos: CONIC, CLAI, CMI; Igrejas: ICAR, IECLB, IEAB, IPI, IPU, Igreja Metodista e Igreja Ortodoxa Siriana; por parceiros: PAD - Processo de Articulação e Diálogo entre Agências Ecumênicas Européias e seus Parceiros no Brasil e por organismos Ecumênicos: ASTE, CEBI, CECA, CENACORA, CEDITER, CESE, CESEP, FLD, Koinonia – Presença Ecumênica e Serviço e PROFEC. 11
Três níveis de mobilização: Local (município, bairro, comunidade de fé, associações); Regional (Estados) e Nacional (composta pelo conjunto das regionais e a atuação junto as instituições parceiras).
41
falar, propor ações em benefício dos objetivos da REJU é legítimo a qualquer
integrante da rede.
Para a REJU a prática ecumênica congrega pessoas em causas comuns, pois o
ecumenismo é compreendido em seu sentido mais amplo, como um movimento, uma
ação: a busca para se construir uma casa (oikoumene, no caso nosso planeta)
realmente justa e sustentável para todas as pessoas e a criação.
Ser ecumênica/o, portanto, é um compromisso, uma mística, que acontece em
três dimensões: de unidade intra-religiosa, em que se busca construir uma interação e
respeito no interior de cada tradição religiosa e comunidade de pertença (ex.: a
unidade das cristãs e dos cristãos); a unidade inter-religiosa, em que se procura
estabelecer pontes de diálogo, fraternidade/solidariedade e interação por ações
transformadoras entre pessoas de distintas vivências de fé; a unidade na luta pela
justiça, paz e integridade da criação. Assim, o ecumenismo proposto e vivido pela
REJU vai além do diálogo cristão e institucional, integrando jovens de distintas
expressões de fé e espiritualidade, com e sem vivências religiosas, falando desde
distintos lugares e diferentes modos de viver e atuar no mundo.
Durante o biênio de 2015-201612 unimos as lutas específicas através de eixos de
atuação: Enfrentamento ao Extermínio da Juventude Negra; Sexualidades e Lutas
Feministas; Estado Laico e Superação de Intolerâncias; Democratização das
Comunicações; Desenvolvimento e Justiça Socioambiental.
Neste variado mosaico de objetivos e pautas o potencial de rede se revela, uma
vez que iniciativas ocorrem a todo instante. É necessário torná-las visíveis através da
denúncia, compartilhamento de ações e da formação contínua. Fazendo-se presente
em Conselhos de Juventude, na Igreja, na comunidade, paróquia, Ilê, Templo, escola,
faculdade, na rua, na praça, enfim, onde a vida acontece.
A mística da REJU é este encontro: do sagrado particular somado ao respeito
pela alteridade do/a outro/a. Pela simples convivência, presencial ou virtual,
preconceitos são desconstruídos, dando lugar a amizade, respeito e confiança por
cada sujeito, cada história, manifestação de fé ou esperança na vida.
O maior desafio da REJU talvez esteja nesta incessante prática da manutenção
do diálogo, pelo sagrado, demonstrando que as religiões são caminhos, que ainda
hoje, existem e fazem bem a história, que ocorre a cada minuto, cheia de
ambiguidades, de avanços, conquistas e retrocessos. Aceitando as diversas lutas, nos
colocamos contra qualquer espécie de intolerância e fanatismo. Cheios de anseios,
expectativas, construímos novas trajetórias, cientes de que estamos em um processo
que não se esgota. A fé é essência que não limita, mas enriquece a vida. Todos/as
podem contribuir... Pois o ecumenismo ocorre de maneira prática e cotidiana e na
incidência política orientada pela justiça e a alteridade, no sonho por se viver “outros
mundos possíveis”.
12
Saiba mais: http://reju.org.br/
42
Oficina 7- CEBs e a Sustentabilidade Econômica e Ambiental
Qual será nosso futuro?13
Esta pergunta me foi feita, há poucos dias, por um agricultor, líder em
produtividade no seu ramo e modelo em bem fazer no seu negócio, que segue à risca,
entre outros, os preceitos de sustentabilidade ambiental. Na verdade, estava
perplexo, porque nos últimos oito anos, seu módulo produtivo só havia acumulado
resultados positivos, inclusive durante aqueles períodos de inclemente estiagem,
quando não se conhece flagelo maior. Ocorre que, aquela fartura de pastagens de
outrora, viu-se, fortemente, ameaçada pelo ataque de uma nova praga, Helicoverpa
armigera, que devora mais capim do que seu poderoso rebanho leiteiro é capaz de
consumir.
Diante desse cenário, em que o agricultor vê o seu negócio ameaçado pela
possibilidade de prejuízos, frente à infestação da sua lavoura pela praga, a adoção de
veneno é a atitude mais óbvia a ser tomada.
Tanto isso é verdade que, em 2012, só no estado de Goiás, foram gastos mais de
600 milhões de reais, para combater essa, ou similar praga que ameaçava grandes
culturas no centro-oeste do país. O uso generalizado de agrotóxicos, nos leva a
concluir que boa parte deste veneno acaba contaminando as águas e o alimento que
servimos à mesa.
Frente a isso, o mais grave, é que tudo indica que esta praga, até pouco tempo
desconhecida dos técnicos, dos manuais de controle de pragas, ou mesmo da
academia, possa ser dependente dos aminoácidos e da quebra do equilíbrio dinâmico,
patrocinada pelo plantio de culturas transgênicas.
Não bastando ainda, quando em nosso cardápio incluímos um peito de frango,
obviamente, pensando em consumir um prato mais saudável, nos deparamos com um
alimento que sofreu mudanças na sua produção, deixando de ser uma atividade de
pequena escala, passando para um modo de produção muito semelhante a uma linha
de montagem. Vejamos, quando uma galinha tem seu mapa genético programado
para completar seu ciclo em sete anos, àquele que foi servido no prato teve um ciclo
de 28 dias, quiçá 42 dias, excepcionalmente. A dúvida que fica é saber se este
alimento estará suprindo, adequadamente, nossas necessidades nutricionais ou
genéticas, de forma a garantir o consumo saudável.
São apenas dois casos, entre tantos que poderíamos enumerar. Eles ameaçam o
nosso futuro. Há remédio? Sim, mas, antes de tudo, devemos mudar nossas práticas e
13 Carlos Atílio Todeschini- Secretário de Meio Ambiente da Cidade de Canoas.
43
nossa cultura. Mudar o conceito de desenvolvimento é primordial. O desenvolvimento
sustentável não pode ser concebido como necessidade de manter o ritmo de
produção industrial, como o que acontece, hoje, na China, ou para dar sustentação ao
padrão de consumo dos EUA. Se mantido este modelo, o planeta entrará em colapso,
a curto prazo, tanto pela exaustão dos recursos naturais, bem como pela poluição do
solo, do ar e da água.
O desenvolvimento sustentável deve se guiar pela ideia de promover boas
práticas e uma cultura de proteção e preservação do planeta e dos seus recursos
naturais. Alargar os horizontes e os potenciais, a fim de sustentar a presente e as
futuras gerações, são atitudes que devem nortear estes encaminhamentos.
Por isso, cada um deve fazer sua parte, estimulando e apoiando a reciclagem
dos resíduos domésticos, através da coleta, separação e processamento destes; ao
investir, fortemente, na educação ambiental; ao criar programas de controle da
qualidade da água nos mananciais (em especial tratando os esgotos) e da qualidade
do ar; ao produzir alimentos não transgênicos, livres de agrotóxicos e saudáveis para o
consumo; ao plantar e cuidar das árvores nativas; construir novos parques, além de
ampliar e qualificar as áreas verdes e os espaços públicos; ao apresentar novos
modelos de transporte, sustentáveis, como aeromóvel, bicicleta, metrô e outros
modais limpos, bem como estimular a democracia participativa e o controle social em
todos os níveis da atividade pública.
Outra luta importante é impulsionar novas fontes de energia, as chamadas
fontes de energia renováveis. Por exemplo, no lugar do petróleo poluidor e da energia
nuclear devastadora, buscar energias renováveis, como a energia solar, eólica ou
hidrogênio. Mas elas não interessam aos capitalistas, porque são gratuitas, difíceis de
vender e, no momento, o que interessa ao capitalismo global são os petrodólares que
devastam, poluem, geram guerras e disputas imperialistas.
Os dois pés na aldeia e de mãos dadas com toda a Terra
(Contribuições transcritas do texto “Ecologia e Socialismo”, de Michael Löwy)
Atenção, porém para falsos problemas. Por exemplo, que a degradação do meio
ambiente é culpa de nosso consumismo, que cada um de nós consome muito, que é
necessário reduzir o consumo para proteger o meio ambiente. Isso responsabiliza os
indivíduos e redime o sistema. É verdade que o consumo dos indivíduos é um
problema, mas o consumo do sistema capitalista, do militarismo capitalista, da lógica
de acumulação do capital, é muito maior. Então, em vez de apregoar a autolimitação
individual, é necessário chamar à organização para lutar contra o sistema capitalista,
que é um sistema essencialmente predador, e que cria desiquilíbrios ambientais com
consequências trágicas, antes de mais nada para os pobres.
44
Outra visão equivocada é aquela que declara que a culpa é do ser humano, que
mediante o antropocentrismo e o humanismo se pôs no centro e desprezou os outros
seres vivos. Esta concepção causa falsos problemas. É do interesse da humanidade, da
sobrevivência dos seres humanos, dos homens e das mulheres, preservar o meio do
qual dependem inevitavelmente.
A perspectiva ecológica, compreendida na sua radicalidade, implica a construção
de uma sociedade mais humana, justa, igualitária, democrática e capaz de estabelecer
uma relação harmoniosa dos seres humanos entre si e com o meio ambiente, com a
natureza.
Não basta estabelecer este objetivo, essa utopia revolucionária. É preciso
começar a construir esse futuro desde já. É necessário participar de todas as lutas,
inclusive das mais modestas. É importante ir construindo a relação entre as lutas
sociais e as ambientais, pois elas tendem a concordar, unidas ao redor de objetivos
comuns. Por exemplo, as comunidades indígenas ou camponesas que enfrentam as
multinacionais desenvolvem um combate anti-imperialista, mas também social e
ecológico. A luta pelo transporte coletivo moderno e gratuito é um combate para
avançar na solução do problema da poluição do ar. Conquistar uma rede de
transporte público gratuito significa que a circulação de automóveis vai diminuir, que
a poluição será menor, que o ar se tornará mais respirável.
Economia Solidária e Feminista: Por uma vida melhor14
Economia: o cuidado com a casa
A palavra “economia” vem de duas palavras gregas: “Oikos”, que significa casa,
lugar, e “Nomia” que significa regras, normas. A origem da ideia de economia,
portanto, estava ligada ao cuidado com a casa e com o lugar em que se vive, provendo
o que é necessário para a vida. E, disso, as mulheres entendem muito bem. A casa
representa o espaço de produção e reprodução da vida, administrado pelas mulheres,
onde elas assumem um papel central no cuidado com filhos, família e suas
necessidades básicas e afetivas. É o lugar do trabalho doméstico cotidiano e contínuo,
indispensável a todos/as nós. E havia um tempo na história em que a comunidade era
a extensão da casa e a “economia”, a extensão dos cuidados à comunidade.
14 Helena Bonumá- Guayí (“Semente” no idioma guarani), Coordenadora do Projeto de Fomento
à Rede de Economia Solidária e Feminista
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Hoje, no entanto, a palavra “economia” serve para nominar uma área do
conhecimento e da prática social que dá conta das relações de produção em nossa
sociedade, o estudo de como as pessoas produzem, como distribuem a produção e o
consumo, como se relacionam no mercado, etc. Essa ideia de economia tem a
pretensão de neutralidade e de objetividade, quase como se suas relações fossem
decorrência “natural” do funcionamento da sociedade. Mas sabemos que as práticas
e as políticas econômicas não estão fora do lugar e do tempo em que acontecem. Ao
contrário, são produtos dos diferentes contextos e da história e, portanto, refletem e
reproduzem suas contradições. Se vivemos num sistema que se assenta em classes
sociais desiguais e no patriarcalismo, as relações econômicas da sociedade refletem e
reproduzem esse padrão.
No capitalismo, a lógica do mercado tem como objetivo central o lucro.
Desvaloriza o esforço necessário para a reprodução humana, a preservação da vida, os
cuidados, o trabalho doméstico e todo o trabalho realizado fora da lógica
mercantil/monetária que, pela histórica divisão sexual do trabalho, tem sido
responsabilidade das mulheres. A divisão desigual destas responsabilidades entre
homens e mulheres, somadas à sua invisibilidade e desvalorização, contribuem para
que uma série de práticas sociais necessárias para a produção da vida, não sejam
consideradas relevantes na esfera econômica. E o resultado é que “economia”
aparece como algo do universo masculino, da qual as mulheres pouco participam e
pouco entendem.
Economia Feminista
A economia feminista questiona essa situação e denuncia o viés androcêntrico
(centrado no homem) e o caráter abstrato da teoria econômica, cego a uma parte
importante da realidade concreta de produção da vida em nossa sociedade. Como
alternativa, a economia feminista propõe uma profunda transformação na economia,
que integre todas as dimensões, tendo como princípio básico a satisfação das
necessidades humanas, a igualdade entre homens e mulheres e a inclusão da
solidariedade nas estruturas e relações econômicas, tendo como objetivo maior o
bem viver de tod@s.
Assim, a economia feminista critica o modelo da economia capitalista, baseada
na dominação masculina, na busca do lucro a qualquer preço e na exploração do
trabalho. Para isso, procura demonstrar que, para a garantia da vida, é necessário
muito mais do que as relações mercantis que se estabelecem no mercado, é
necessário considerar o grande volume de trabalho doméstico e de cuidados que as
mulheres realizam para manter suas famílias como trabalho necessário para a
sustentabilidade e o bem estar da sociedade, reconhecendo que isto também faz
parte da economia e entendendo que ambas as esferas se influenciam mutuamente.
46
Mas reconhecer o trabalho reprodutivo como econômico não significa
enquadrá-lo no modelo mercantil, pensando-o na lógica do lucro e das vantagens. O
trabalho reprodutivo tem características próprias não comparáveis às do mercado,
como os afetos, a segurança emocional, a dimensão subjetiva, além de todos os
cuidados, que também são fundamentais para a sustentabilidade da vida. Por tudo
isso, para a economia feminista é necessária uma ruptura com a lógica capitalista.
Economia Solidária
Nessa perspectiva, a economia solidária assume uma importância estratégica
como alternativa real de desenvolvimento. A economia solidária tem entre seus
princípios a cooperação, a centralidade do ser humano, o respeito à diversidade, a
valorização do saber local, o cuidado com o meio ambiente e com as pessoas, a justiça
social, além da proposta da autogestão que garante a quem trabalha o poder de
decisão sobre seu trabalho.
O capitalismo, ao contrário, se baseia numa divisão entre quem produz e quem
se beneficia dos resultados da produção – e estes têm o poder de decidir. Essa
separação tem origem nas desigualdades econômicas que resultam nas diferenças
entre classes sociais. No capitalismo, o que vigora é a busca do lucro acima de
qualquer coisa, a competitividade, o consumismo, a concentração de renda e de
riquezas, o individualismo e a lei do mais forte – e o mercado capitalista é o lugar
privilegiado dessas relações, em prejuízo das trocas necessárias para a garantia da
vida e do bem-estar das pessoas e da sociedade como um todo.
A economia solidária se apoia na colaboração e no reconhecimento social e
econômico das iniciativas associativas para produzir, comercializar e consumir. Assim,
possibilita a integração entre produção, gestão e comercialização, mesmo que um
coletivo não realize todas estas ações de forma associativa como, por exemplo, a
agricultura familiar ou parcelas do artesanato. O importante é que promove a
integração do saber com o fazer, agrega o planejamento com a gestão e a execução
da produção e as formas de circulação, sejam elas mercantis ou não. A economia
solidária fomenta soluções coletivas e criativas, a partir da definição de
responsabilidades e de compromissos e, ao integrar produção com consumo constrói
uma relação de maior proximidade entre produtores e consumidores.
A autogestão é uma forma de organizar a produção e as relações de trabalho
sem chefes e patrões, com todas e todos decidindo juntos e compartilhando os
resultados e as responsabilidades. E é um aprendizado complexo, pois vivemos numa
sociedade capitalista, onde vigora a lógica do lucro, da competição e do
individualismo. Então deve ser um esforço consciente, cotidiano e organizado.
Desafios Comuns: Um novo olhar para construir
um outro mundo é possível
47
Um ponto em comum entre a economia feminista e a economia solidária é sua
vocação contrária à lógica do capital e uma compreensão dos sistemas produtivos que
vai além dos limites dos mercados, tendo como referências as necessidades humanas,
o bem viver e a preservação do meio ambiente e do planeta onde habitamos.
Também são valores de ambas a solidariedade, a necessidade de redistribuição
equânime das tarefas, bem como a reciprocidade dos direitos e deveres.
Mas embora todos estes valores estejam presentes, eles ainda não estão
consolidados como prática social, pois resultam de uma construção coletiva que
precisa de tempo e de experiência concreta acumulada, e que não está livre de
conflitos e de contradições e da influência contrária do mundo em que vivemos.
A responsabilidade com as tarefas reprodutivas continua centralmente com as
mulheres, o que faz com que muitas delas tenham menos condições de produção em
seus empreendimentos. Se comparada aos empreendimentos masculinos, sua
produção é mais reduzida e menos valorizada, sendo os segmentos mais vulneráveis
da economia solidária.
Portanto, em alguns aspectos importantes, a economia solidária ainda reflete a
desigualdade da sociedade, e este é um dos desafios estruturais que devem ser
enfrentados a partir de políticas afirmativas de valorização e fomento ao trabalho
produtivo das mulheres e da extensão das práticas solidárias e autogestionárias à
esfera do trabalho reprodutivo também.
Outro diferencial da economia solidária é a relação com a realidade local, com o
desenvolvimento sustentável, onde a renda gerada fica no lugar, favorecendo a
comunidade inteira.
Nesta perspectiva, a economia solidária tem um potencial importante de
responder a demandas sociais às quais o mercado não atende. Para isso, uma relação
orgânica com o poder público é muito importante.
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Cantos das CEBs
1- Mantra do 28º Intereclesial /:Comunidade Eclesial de Base, fermento de transformação:/ 2- /: Você que está chegando, bem vindo, seja bem vindo:/Só estava faltando você aqui. Só estava faltando você, só estava faltando você aqui. Bem vindo ao nosso encontro. 3- Bem-vindo, irmão. Você completa nossa alegria. Sinta-se bem! Seja feliz em nossa companhia! 4. Seja bem-vindo, bem-vindo seja, olê, lê, ô. Seja bem-vindo, bem-vindo seja, olê, lê, á. /:Pouco me importa que você venha do sul ou do norte. A casa é sua, meu irmão, olê, lê, á:/ Pode entrar, pode sentar, olê, lê, ô. Pode entrar, pode sentar, olê, lê, á. 6- Bem vindo irmão você completa nossa alegria. Sinta-se bem, seja feliz em nossa companhia. 7- Você que eu encontro a cada passo, merece o calor do meu abraço. /:Paz e Bem, meu irmão, Paz e Bem minha irmã, Paz no Senhor:/. MANTRAS 8- Vem Santo Espírito Vem, com sua força e ação, vem recriar novamente a obra da criação. 9- Onde reina o amor, fraterno amor. Onde reina o amor, Deus aí está... 10- Ó luz, do Senhor que vem sobre a terra, inunda meu ser, permanece em nós. 11- Desde a manhã preparo uma oferenda /: e fico Senhor a espera do teu sinal:/ 12- O sol nasceu, é um novo dia, bendito seja Deus, quanta alegria.
13- Indo e vindo trevas e luz, tudo é graça Deus nos conduz. 14- Que arda como brasa, Tua Palavra nos renove, esta chama que a boca, proclama. 15 - Tua Palavra é lâmpada, para meus pés, Senhor. /:Lâmpada para meus pés Senhor, luz, para meu caminho:/. 16-/: Escuta Israel, Javé teu Deus vai falar:/. /:Fala Senhor, Javé, Israel quer te escutar:/ 17- Nós estamos aqui prá saber algo mais. Conhecer quem és tu, quem sou eu e você... 18-Deus te abençoe, Deus te proteja, Deus te dê a paz, Deus te dê a paz. 19- Deus nos abençõe, Deus nos dê a paz. A paz que só o amor é que nos traz. (2x) A paz na nossa vida, no nosso coração e a benção para toda criação. A paz na nossa casa nas ruas, no país e a benção da justiça que Deus quis. A paz pra quem viaja, a paz pra quem ficou e a benção do conforto a quem chorou. A paz entre as igrejas e nas religiões e a benção da irmandade entre as nações. A paz pra toda Terra e a terra ao lavrador e a benção da fartura e do louvor. 21- CANÇÃO DA CHEGADA 1. Estamos aqui, Senhor, viemos de todo lugar. Trazendo um pouco do que somos pra nossa fé partilhar. Trazendo o nosso louvor, um canto de alegria. Trazendo a nossa vontade de ver raiar um novo dia. 2. Estamos aqui, Senhor, cercando esta mesa comum. Trazendo idéias diferentes, mas em Cristo somos um. E quando sairmos daqui nós vamos para voltar na força da esperança e na coragem de lutar.
22- /: A FÉ ESTÁ NO PÉ, MEU IRMÃO.
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A fé está no pé, minha irmã. É o Deus da caminhada, meus irmãos. Que sustenta nossa fé: / 1. O Deus de nossa fé é um Deus de caminhada, que chama Abraão e manda pôr o pé na estrada. O fato é que a palavra se faz caminho, ação, e age na história, gerando a libertação. 2. Vendo o sofrimento do seu povo no Egito. Ouvindo atentamente o desespero do seu grito, revela-se a Moisés e manda o povo libertar. Pois ele tem direito a vida nova conquistar. 3. «O Verbo se fez carne» em Jesus de Nazaré. É Deus que se faz gente assim como a gente é. No jeito de viver Jesus vai tomar partido, mostrando que seu Reino é do pobre e oprimido. 4. Alguns não aceitaram um Deus pobre e despojado. No alto de uma cruz Jesus fora pendurado. E quando parecia que a vitória era da morte, Deus o ressuscitou, mudando assim a nossa sorte. 5. O Espírito de Deus forjador de nossa história garante no presente a certeza da vitória. E mostra que o povo desta América sofrida exige uma Igreja com Ele comprometida. 6. Em cada liturgia, em cada celebração fazemos a memória desta grande comunhão. Com Deus que se partilha e nos convida a partilhar. Por isso, meus irmãos, o nosso Deus vamos louvar.
23-TEU NOME, MARIA /:Como é bonito teu nome, ó Maria, cantando a vida, quanta alegria!:/ /:No teu nome o nome de cada mulher que na vida busca sempre o que Deus quer:/ 2. /:Como é bonito teu rosto, ó Maria.
Paz e ternura, luz irradia.:/ /:Nos teus olhos todo jovem pode ver, a certeza do futuro renascer: 3. /:Como são lindas tuas mãos, ó Maria. Porta-estandarte da estrela guia.:/ /:Uma mão pra consolar quem está chorando. E a outra encorajar quem está lutando:/ 4. /:Como são belos teus pés, ó Maria, descendo os montes, paz anuncias.:/ /:Companheira mais fiel deste meu povo nos caminhos do amanhã, do mundo novo:/ 5. /:Como é bendito teu ventre, ó Maria, trazendo o fruto da profecia.:/ /: Quem na vida ao amor se faz fiel é profeta do divino Emanuel:/ Final: Como é bonito te ver, ó Maria.. . 24- Abre a janela, meu bem. Vem ver o dia que vem. Deixa o sol entrar e o vento falar que eu te quero bem! (bis) 1. Deixa a brisa da manhã te abraçar, ver a rosa no canteiro a te sorrir. Vou pedir galo campina pra cantar. Vou mandar te dar bom dia o Bem-te-vi. 2. Essa vida só é vida com amor. Acordado é o melhor jeito de sonhar. Que o carinho seja sempre o bom sabor e a razão pra toda hora começar. 3. Se a saudade ou cansaço te abater. Busque a força no segredo da paixão. Não me esqueça, que eu não vou te esquecer. Somos um neste país que é o coração. 25-Rosto gaúcho das CEB’s Comunidade eclesial de base, novo jeito de ser cristão, Povo de Deus do Rio Grande a caminho da libertação! Na base desta nação, com base na união, o povo aguenta o repuxo/ Vivendo em
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comunidade, com fé e simplicidade, é a igreja do gaúcho. Na roda do chimarrão, buscamos a solução pra muita dificuldade/ Somos povo hospitaleiro, no garrão sul brasileiro lutamos por liberdade. Sofrido trabalhador derramando seu suor, o gaúcho faz história/ Sepé Índio valente, nas lutas do presente honramos tua memória. 26- Utopia Quando o dia da paz renascer/ quando o sol da esperança brilhar/ eu vou cantar/ quando o povo nas ruas sorrir/ e a roseira de novo florir/ eu vou cantar./ Quando as cercas caírem no chão/ quando as mesas se encherem de pão/ eu vou cantar/ quando os muros que cercam os jardins/ destruídos, então os jasmins/ vão perfumar. /: Vai ser tão bonito/ se ouvir a canção/ cantada de novo/ no olhar da gente a certeza do irmão/ reinado do povo:/ Quando as armas da destruição/ destruídas em cada nação/ eu vou sonhar/ e o decreto que encerra a opressão/ assinado só no coração/ vai triunfar./ Quando a voz da verdade se ouvir/ e a mentira não mais existir/ será o enfim/ tempo novo de eterna justiça/ sem mais ódio sem sangue ou cobiça/ vai ser assim. 27 - Quebrando as algemas O povo de Deus vai quebrando as algemas/ e de passo em passo começa a andar/ está resgatando sua identidade/ mais cedo ou mais tarde vai se libertar. América Latina de gente sofrida/ cultura oprimida, discriminação/ mas há esperança na luta da gente/ que gera semente de libertação. Mulher no trabalho, marginalizada/ no lar é tratada com imposição/ mas luta com garra, com fé e firmeza/ pra ter a certeza, da libertação.
O pobre operário que gera a riqueza/ olha a sua mesa vazia de pão/ embora oprimido não perde o trajeto/ buscando o projeto de libertação. O nosso negro é discriminado/ o índio é tratado com humilhação/ na rua vagando há crianças carentes/ que esperam urgente a libertação. Nas CEB's se vê uma grande ameaça/ porque elas abraçam o sofrido povão/ mas pra Jesus Cristo, que é nosso guia/ apressam o dia da libertação. 28 - Eu sou feliz é na comunidade /: Eu sou feliz é na comunidade, na comunidade eu sou feliz:/ A nossa comunidade se reúne todo o dia/ E a nossa comunidade se transforma em alegria. Nós cantamos um bendito, depois um pelo sinal/ Uma lê o Evangelho, e todos vamos comentar. Os pobres fizeram um plano, isso eles querem ganhar/ Lutar pelos direitos, para a vida melhorar. 29- Axé Irá chegar um novo dia/ um novo céu/ uma nova terra/ um novo mar/ e neste dia os oprimidos/ numa só voz a liberdade irão cantar! Na nova terra, o negro não vai ter corrente/ e o nosso Índio vai ser visto como gente/ na nova terra o negro, o Índio e o mulato/ o branco e todos vão comer no mesmo prato. Na nova terra a mulher terá direitos, não sofrerá humilhações nem preconceitos/ o seu trabalho todos vão valorizar, nas decisões ela irá participar. Na nova terra o fraco, o pobre e o injustiçado/ serão juízes deste mundo de pecado/ na nova terra o forte, o grande e o prepotente/ irão chorar até ranger todos os dentes.
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Na nova terra os povos todos irmanados, com sua cultura e seus direitos respeitados/ farão da vida um bonito amanhecer, com igualdade no direito de viver. 30– Momento novo Deus chama a gente pra um momento novo/ de caminhar junto com seu povo/ é hora de transformar o que não dá mais/ sozinho, isolado, ninguém é capaz. /: Por isso vem/ entra na roda com a gente/ também você é muito importante!:/ Vem! Não é possível crer que tudo é fácil/ há tanta força que produz a morte/ gerando dor, tristeza e desolação/ é necessário unir o cordão. Na força que hoje faz brotar a vida/ atua em nós pela sua graça/ é Deus quem nos convida para trabalhar/ o amor repartir e as forças juntar. 31– Animados pela fé O teu povo, Senhor, está sofrendo/ caminhando de um lado para outro/ uma vida mais justa está querendo/ pois, senão, vai migrar até estar morto. Animados pela fé e bem certos da vitória/ Vamos fincar nosso pé e fazer a nossa história/ E fazer a nossa história animados pela fé! Deste jeito que a coisa está andando/ o sistema escraviza e nos domina/ ele é o mal que está nos desviando/ da verdade que Cristo hoje ensina. A estrutura da nossa sociedade/ força o povo para a migração/ os da roça vão para a cidade/ sempre em busca de melhor situação. 32 – Baião das comunidades Somos gente nova vivendo a união/ Somos povo semente da nova nação, ê, ê!/ Somos gente nova vivendo o amor/ Somos comunidade, povo do senhor, ê, ê!
Vou convidar os meus irmão trabalhadores/ operários, lavradores, biscateiros e outros mais/ e juntos vamos celebrar a confiança/ nossa luta é na esperança de ter terra pão e paz. Vou convidar os índios que ainda existem/ as tribos que ainda insistem no direito de viver/ e juntos vamos, reunidos na memória/ celebrar nossa vitória que vai ter de acontecer. Convido os negros, irmãos no sangue e na sina/ seu gingado nos ensina a dançar a redenção/ de braços dados no terreiro da irmandade/ vamos sambar de verdade enquanto chega a razão. Vou convidar a criançada a juventude/ tocadores me ajudem, vamos cantar por aí/ o nosso canto vai encher todo país/ velho vai dançar feliz, quem chorou vai ter que rir. 33 - Igreja é povo Igreja é povo que se organiza/ Gente oprimida buscando a libertação, em Jesus Cristo a ressurreição. O operário lutando pelo direito/ de reaver a direção do sindicato/ O pescador vendo a morte dos seus rios, já se levanta contra esse desacato. É gente humilde, é gente pobre, mas é forte/ dizendo a Cristo, meu irmão muito obrigado/ Pelo caminho que você nos indicou, pra ser um povo feliz e libertado. 34 – Bendito dos romeiros Bendita e louvada seja, esta santa romaria/:Bendito o povo que marcha, bendito o povo que marcha, tendo Cristo como guia:/ /:Sou, sou teu, Senhor, sou povo novo, retirante, lutador. Deus dos peregrinos, dos pequeninos, Jesus Cristo redentor:/ No Egito antigamente no meio da escravidão/: Deus libertou o seu povo, hoje ele passa de novo gritando a libertação:/
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Para a Terra prometida o povo de Deus marchou/: Moisés andava na frente, hoje Moisés é gente quando enfrenta a opressão:/ Caminheiros na estrada, muita cerca prende o chão/: Todo arame e porteira merecem corte e fogueira, são frutos da maldição:/ Quem é fraco, Deus dá força, quem tem medo sofre mais/: Quem se une ao companheiro vence todo cativeiro é feliz e tem a paz:/ Mãos ao alto, voz unida, nosso canto se ouvirá/: Nos caminhos do sertão clamando por terra e pão ninguém mais nos calará:/ 35 - Pai Nosso dos mártires Pai Nosso, dos pobres marginalizados/ Pai Nosso, dos mártires, dos torturados. Teu nome é santificado naqueles que morrem defendendo a vida/ Teu nome é glorificado quando a injustiça é nossa medida/ Teu reino é de liberdade, de fraternidade, paz e comunhão/ Maldita toda violência que devora a vida pela repressão. /: Ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô:/ Queremos fazer tua vontade és o verdadeiro Deus libertador/ Não vamos seguir as doutrinas corrompidas pelo poder opressor/ Pedimo-te o pão da vida, o pão da segurança, o pão das multidões/ O pão que traz humanidade, que constrói o homem em vez de canhões. /: Ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô:/ Perdoa-nos quando por medo, ficamos calados diante da morte/ Perdoa e destrói os reinos em que a corrupção é a lei mais forte/ Protege-nos da crueldade, do esquadrão da morte, dos prevalecidos/ Pai Nosso, revolucionário, parceiro dos pobres, Deus dos oprimidos. /: Ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô:/ 36 - Ofertório do povo Quem disse que não somos nada, que não temos nada para oferecer?/: Repare nossas
mãos abertas trazendo as ofertas do nosso viver:/
A fé do homem peregrino que busca um destino e um pedaço de chão/ A luta do povo oprimido que abre caminho transforma a nação./:Ô, ô, ô, ô, recebe Senhor. :/ Coragem de quem dá a vida seja oferecida neste vinho e pão/ É força que destrói a morte, muda nossa sorte é ressurreição./: Ô, ô, ô, ô, recebe Senhor. :/ 37- Pão da Igualdade Se calarem a voz dos profetas/ as pedras falarão/ Se fecharem uns poucos caminhos/ mil trilhas nascerão. Muito tempo não dura a verdade,/ nestas margens estreitas de mais/ Deus criou o infinito pra vida ser sempre mais!/ É Jesus neste pão de igualdade viemos pra comungar com a luta sofrida do povo que quer ser voz, ter vez lugar/ Comungar é tornar-se um perigo: viemos pra incomodar/ com fé e a união nossos passos um dia vão chegar! O espírito é o vento incessante/ que nada há de prender/ Ele sopra até no absurdo que a gente não quer ver. No banquete da festa de uns poucos/ só rico se sentou/ Nosso Deus ficou ao lado dos pobres/ colhendo o que sobrou. O poder tem origens na areia/ o tempo a faz cair/ A união é rocha que o povo/ usou para construir. 38 – Canção de Maria /:Virá um dia em que todos ao levantar a vista veremos nesta terra reinar a liberdade:/ Minha alma engrandece o Deus libertador/ Se alegra meu espírito em Deus meu Salvador/ Pois ele se lembrou do seu povo oprimido, e fez de sua serva a mãe dos esquecidos.
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Imenso é o seu amor, sem fim sua bondade/ Pra todos que na terra lhe seguem na humildade/ Bem forte é nosso Deus, levanta o seu braço, espalha os soberbos, destrói todo pecado. Derruba os poderosos dos seus tronos erguidos/ Com sangue e suor de seu povo oprimido/ E farta os famintos, levanta os humilhados, arrasa os opressores, os ricos e os malvados. Protege o seu povo com todo o carinho/ Fiel é seu amor, em todo o caminho/ Assim é o Deus vivo que marcha na história, bem junto do seu povo, em busca da vitória. Louvemos nosso Pai, Deus da libertação/ Que acaba com a injustiça, miséria e opressão/ Louvemos os irmãos que lutam com valia, fermentando a história, virá o grande dia. 39 - Quando o Espírito de Deus soprou Quando o espirito de Deus soprou/ o mundo inteiro se iluminou/ a esperança na Terra brotou/ e um povo novo deu-se as mãos e caminhou. Lutar e crer, vencer a dor/ louvar o Criador/ justiça e paz hão de reinar/ e viva o amor. Quando Jesus a Terra visitou/ a boa nova da justiça anunciou/ o cego viu, o surdo escutou/ e os oprimidos das correntes libertou. Nosso poder está na união/ o mundo novo vem de Deus e dos irmãos/ vamos lutando contra a divisão/ e preparando a festa da libertação. Cidade e campo se transformarão/ jovens unidos na esperança gritarão/ a força nova é o poder do amor/ nossa fraqueza é força em Deus libertador. 40 – Sepé Tiaraju Nas missões dos Sete Povos nasceu um dia Sepé, trazendo uma cruz na testa, cicatriz sinal de fé/ Quando o sol batia nele, essa cruz
resplandecia /: Por isso lhe deram o nome TIARAJU, a luz do dia:/ Quando o exército da Espanha e Portugal chegou aqui, pra expulsar dos Sete Povos toda gente Guarani/ TIARAJU que era cacique reuniu os seus guerreiros /: E sem medo dos canhões atacou só com lanceiros:/ TIARAJU morreu peleando no arroio Caiboaté, mas depois noutro combate todos viram São Sepé/ Que vinha morrer de novo junto à gente Guarani /: Pra embeber seu sangue todo neste chão onde eu nasci:/ Mais um valente guerreiro a morrer pelo seu pago, é por isso que seu nome no Rio Grande é sagrado/ São Sepé subiu pro ceú, sua cruz ficou azul /: Cai a noite ela rebrilha, ele é o Cruzeiro do Sul:/ Sepé Tiaraju, Sepé Tiaraju, Sepé Tiaraju! 41 - Negra Mariama /:Negra Mariama, Negra Mariama Chama :/ Negra Mariama chama pra enfeitar/ o andor porta–estandarte para ostentar/ a imagem Aparecida em nossa escravidão/ com o rosto dos pequenos, cor de quem é irmão. Negra Mariama chama pra cantar/ que Deus uniu os fracos pra se levantar/ e derrubou dos tronos os latifundiários que escravizam pra se regalar. Negra Mariama chama pra dançar/ saravá-esperança até o sol raiar/ no samba está presente o sangue derramado/ o grito e o silêncio dos martirizados. Negra Mariama chama pra lutar/ em nossos movimentos sem desanimar/ levanta a cabeça dos espoliados/ nossa companheira, chama pra avançar. 42 – Liberdade vem e canta Liberdade vem e canta e saúda esse novo sol que vem/ canta com alegria o escondido amor que no peito tem/: mira o céu azul espaço aberto pra te acolher:/
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Liberdade vem e pisa neste firme chão de verde ramagem/ canta louvando as flores que ao bailar do vento fazem sua mensagem/: mira essas flores abraço aberto pra te acolher:/ Liberdade vem e pousa nesta dura América triste e vendida/ canta com os sues gritos nossos filhos mortos e paz ferida/: mira esse lugar desejo aberto pra te acolher:/ Liberdade, liberdade, és o desejo que nos faz viver/ és o grande sentido de uma vida pronta para morrer/ mira o nosso chão banhado em sangue pra reviver/: mira a nossa América banhada em morte pra renascer:/ 43 – Ninguém pode prender um sonho Ninguém pode prender um sonho/ e impedir alguém de sonhar/ ninguém pode cortar a esperança/ de um povo sofrido a lutar/ ninguém pode abafar o grito do oprimido clamando Javé/ Deus que salva e liberta seu povo/ que ergue o caído e alimenta sua fé/:Ô, ô, ô, ô, Lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá:/
Todo sonho alimenta a história/ e a vitória do povo a chegar/ vamos juntos que nesse caminho/ ninguém sobra ou fica pra trás/ para ver este mundo florido/ criança sorrindo sem fome e sem dor/ é preciso cuidar bem da vida/ que vida sofrida se eleva em clamor/:Ô, ô, ô, ô, Lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá:/ Ninguém pode prender um sonho/ como a luz do sol que nasceu/ ele brilha, inventando caminhos/ e desvela o que a noite escondeu/ ninguém pode abafar o grito/ de quem sofre tanto de tanto suor/ pela luz, pela paz a justiça/ que anda a procura de um mundo melhor/:Ô, ô, ô, ô, Lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá:/ 44 - Que bonito é /:Que bonito é, que bonito é que nós somos irmãos:/ /: Se tu és meu irmão, somos filhos de Deus, se tu és meu irmão, nós somos ainda filhos de Deus:/ /: Me segura na minha mão, me segura na minha mão vamos trabalhar:/ /: Se tu vai trabalhar, junto com nós, eu tenho a certeza que o Senhor vai te abençoar:/
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Informações sobre o 28° Encontro Arquidiocesano de CEBs
A Rede de Comunidades Sagrado Coração de Jesus de Canoas acolhe o 28°
Encontro Arquidiocesano das Comunidades Eclesiais de Base da Arquidiocese de Porto
Alegre.
O encontro será realizado dias 07 e 08 de novembro de 2015, no Salão da
Comunidade Sagrado Coração de Jesus, que se localiza na Rua Marechal Mallet, 112 –
Bairro Harmonia / Canoas.
Observações:
*Critérios para ser delegado/a: Pessoas com engajamento nas comunidades eclesiais, nas lutas do povo e organizações populares. Pessoas com outros credos, porém comprometidas com lutas pela justiça. Pessoas que estão inseridas nas pastorais sociais com trabalho de base e comprometimento comunitário.
*O que trazer: copo ou caneca, prato, talheres (garfo e faca), um alimento para partilha (pão, cuca ou bolachas…), material de higiene pessoal. *Hospedagem solidária nas casas das famílias das comunidades - trazer uma lembrança (em agradecimento) para a família hospedeira. (Se você necessita de hospedagem).
*Contribuição Solidária para cobrir os custos do encontro: R$ 20,00 (vinte reais) - A ser entregue junto com a ficha de inscrição. Crianças até 10 anos são isentas.
Se você deseja tirar mais alguma dúvida sobre o encontro, entre em contato com a
liderança de sua comunidade responsável pelas inscrições, ou com os contatos abaixo:
-Vicariato de Porto Alegre: Waldir Bohn Gass - celular (51) 92227787
e-mail: w.gass@terra.com.br
-Vicariato de Gravataí: Adelaide Klein - Celular (51) 81360191
e-mail: adelaideklein@gmail.com
-Vicariato de Canoas: Ir Antonia Resende- Celular (051) 82656942
e-mail: antonia@escolafatima.com.br
-Rede de Comunidades Sagrado Coração de Jesus: Fr. Wilson – (51) 99911668 ou
Secretaria – (51) 34722883
E-mails: sagradocor@ig.com.br ou casadapartilhapoa@gmail.com
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Cronograma do 28° Encontro Arquidiocesano das CEBs
Sábado (07 de Novembro) Domingo (08 de Novembro)
7:30- Acolhida - café da manhã - credenciamento. 8:30- Acolhida por Vicariatos - animação. 9:00- Mística de Abertura. 10:00 - Partilha da Caminhada dos Vicariatos. 10:40 - Pontos convergentes e divergentes 11:00 - Análise de Conjuntura- A Sociedade em que Vivemos. 12:00 - Almoço. 13:30 - Retorno com animação- Fila do povo. 14:30 - Encaminhamentos pras Oficinas. 16:30 - Retorno- Lanche da tarde. 17:00 - Plenária com partilha das oficinas. 18:00 - Fila do povo. 18:45 - Amarração da assessoria - Síntese do dia. 19:00 - Mística de encerramento do dia- Memória dos/as Mártires da Caminhada. 19:30 - Ida para as famílias que irão hospedar.
Café da manhã nas famílias. 8:00 - Acolhida. 8:30 - Oração da Manhã - Ofício Divino das Comunidades. 9:00 - Plenária por Vicariatos (Compromissos). 10:30 - lanche 11:00 - Celebração de Envio. (Leitura da Carta do encontro e compromissos assumidos) 12:30 - Almoço 13h30 - Proposta de termos um momento de descontração com músicas e danças após o almoço, com sorteios de prêmios e muita diversão e integração entre os/as delegados/as...
*Horários podem ser flexibilizados de acordo com a necessidade das atividades.
TODOS SOMOS IRMÃOS!
PARTICIPE COM SUA
SOLIDARIEDADE
Contatos: (51) 3223.2555
www.mensageirodacaridade.org
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Oração do 28° Encontro Arquidiocesano de CEBs
Deus da vida, nós Te louvamos e agradecemos porque criaste toda a
natureza, e nos criaste homem e mulher à Tua imagem e semelhança.
Nunca cansas de revelar o Teu amor por nós.
Renovamos a nossa disposição de sermos sempre mais
fermento transformador em nossa sociedade,
no seguimento de Jesus de Nazaré,
impulsionados pela força criadora do Teu Espírito.
Como CEBs, buscamos viver e testemunhar o teu Reino.
Queremos fortalecer a vivência comunitária da fé,
manifestando o Teu amor, Tua solidariedade e
Tua misericórdia.
Queremos enxergar com os Teus olhos todas as realidades e
diversidades de dons, de pessoas, de expressões de fé, ajudando a
construir um mundo novo onde reine a igualdade, a justiça e a paz...
a civilização do amor!
Tudo isso fazemos em comunhão com Jesus Cristo,
Teu filho e nosso irmão.
Amém, Axé, Awerê, Aleluia!