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CARLOS HENRIQUE DE OLIVEIRA LIMA
IMPACTO DE SISTEMAS DE CONTROLE DE PRAGAS SOBRE A
COMUNIDADE DE ARTRÓPODES NA CULTURA DA MELANCIA
Dissertação apresentada à Universidade Federal do Tocantins - UFT, como parte das exigências do Programa de Pós graduação em Produção Vegetal, para obtenção do título de Magister Scientiae.
GURUPI
TOCANTINS – BRASIL
2012
ii
CARLOS HENRIQUE DE OLIVEIRA LIMA
IMPACTO DE SISTEMAS DE CONTROLE DE PRAGAS SOBRE A
COMUNIDADE DE ARTRÓPODES EM MELANCIA
Dissertação apresentada à Universidade Federal do Tocantins - UFT, como parte das exigências do Programa de Pós graduação em Produção Vegetal, para obtenção do título de Magister Scientiae.
APROVADA EM: 30 de janeiro de 2012.
Prof.° Gil Rodrigues dos Santos
(Co orientador)
Prof.° Marcelo Coutinho Picanço
Prof.° Marcelo Coutinho Picanço
(Co orientador)
Prof.° Danival José de Souza
Prof.° Renato de Almeida Sarmento
(Orientador)
Prof.° Marçal Pedro Neto
iii
“Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira
minta, e os campos não produzam mantimento,... todavia eu me alegro no
Senhor, exulto no Deus da minha Salvação.”
Habacuque. 3:17-18.
Dedico esta conquista:
A Deus por suprir tudo e sempre.
A toda minha família, em especial ao meu filho Pablo e
minha esposa Fabiola, por serem o meu paz e motivação.
iv
AGRADECIMENTOS
À Deus, que na sua auto suficiência me gerou e acrescentou tudo em minha
vida, além de ter me ensinado que o temor do Senhor é o principio da sabedoria.
À Universidade Federal do Estado do Tocantins, pela oportunidade de
capacitação e renovar os meus conhecimentos.
Ao professor Renato de Almeida Sarmento, pela dedicação e zelo na minha
orientação acadêmica.
Ao professor Marcelo Coutinho Picanço, pela parceria, montagem do modelo
de trabalho e toda atenção dispensada.
Ao professor Gil Rodrigues dos Santos, pelo apoio na minha co- orientação. E
a sua equipe do Laboratório de Fitopatologia da UFT, em especial à Anielli Souza
Pereira por toda ajuda na condução dos experimentos.
Ao pesquisador Marçal Pedro Neto, por toda ajuda e conselhos.
Ao professor Danival José de Souza, pela ajuda na condução dos
experimentos e identificação das formigas.
Ao pessoal do Laboratório de Manejo Integrado de Pragas e Acarologia da
UFT, Wennder, Altieres, Cleibi, Renata, Diogenes, Manoel, Marcus, Daniela, Laila, e a
todos os técnicos e funcionários.
A Equipe do Departamento de Entomologia- Setor de Manejo Integrado de
Pragas da Universidade Federal de Viçosa, Júlio, Mateus, Tarcisio, Ricardo, Antônio e
v
em especial ao Doutorando Jander Fagundes Rosado, pela ajuda no desenvolvimento
das análises estatística e interpretação dos resultados. Obrigado por serem minha
família esse tempo que passei em Viçosa.
A minha esposa Fabiola Cardoso Neves e ao meu filho Pablo Cardoso Lima,
por serem a minha maior motivação.
Aos meus pais Admilson de Oliveira Lima e Maria Helena Alves de Oliveira, por
terem me ensinado o caminho da educação e conhecimento, mesmo não tendo a
mesma oportunidade dada a mim.
A toda minha família e amigos, por sempre ter me apoiado, ajudado, e me dado
forças para prosseguir sempre.
Aos companheiros da ADAPEC/TO, pela disponibilidade, torcida e apoio para
que eu pudesse realizar mais uma etapa da vida acadêmica.
A Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia do Estado do Tocantins, por
conceder-me apoio financeiro para a realização deste trabalho.
vi
BIOGRAFIA
CARLOS HENRIQUE DE OLIVEIRA LIMA, filho de Admilson de Oliveira Lima e
Maria Helena Alves de Oliveira, nasceu em Gurupi, Tocantins, em 17 de novembro.
Em 2002 concluiu o segundo grau profissionalizante em Técnico em
Agropecuária, na Fundação Bradesco Escola de Canuanã em Formoso do Araguaia.
Em fevereiro de 2004 ingressou no curso de Agronomia pela Universidade Federal do
Tocantins concluindo no mesmo mês do ano de 2009.
Desde setembro de 2005, faz parte do quadro de funcionários concursados da
Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Tocantins - ADAPEC/TO.
Em fevereiro de 2010, ingressou no programa de Pós graduação em Produção
Vegetal, nível de Mestrado pela Universidade Federal do Tocantins, sob orientação do
Prof.° Renato de Almeida Sarmento, submetendo-se a defesa de dissertação em
janeiro de 2012.
vii
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS ......................................................................................... iv
BIOGRAFIA ....................................................................................................... vi
SUMÁRIO ......................................................................................................... vii
RESUMO GERAL ............................................................................................... 9
REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................. 11
LITERATURA CITADA: .................................................................................... 16
RESUMO .......................................................................................................... 18
ABSTRACT ....................................................................................................... 20
INTRODUÇÃO .................................................................................................. 22
2. MATERIAL E METODOS.............................................................................. 25
2.1. Condições Experimentais ....................................................................... 25
2.2. Delineamento experimental e amostragem dos artrópodes ................... 26
2.3. Análise dos dados .................................................................................. 26
3. RESULTADOS .............................................................................................. 30
3.1. Espécies de artrópodes com capacidade preditiva dos impactos dos
tratamentos .................................................................................................... 30
3.2. Impacto dos tratamentos sobre a abundância total dos artrópodes ....... 30
3.3. Impacto dos tratamentos sobre as principais espécies de artrópodes,
custo de controle de pragas e produtividade da melancia ............................. 31
4. DISCUSSÃO ................................................................................................. 40
CONCLUSÕES ................................................................................................. 46
LITERATURA CITADA ..................................................................................... 47
8
9
RESUMO GERAL
A melancia pertencente à família das cucurbitáceas, classificada como
[Citrullus lanatus (Thunb.) Matsum & Nakai, é uma planta herbácea de hábito
rasteiro, as folhas são lobadas, A planta é monóica, mas podem apresentar
flores hermafroditas. O fruto é uma baga indeiscente de cores e tamanhos
variados. O Brasil é o quarto maior produtor mundial de melancia com 1,87
milhões de toneladas, ficando atrás da China, Turquia e Irã com 56,65, 3,68 e
3,47 milhões de toneladas. A produção tocantinense do fruto chega a 87 mil
toneladas no ano 2010, sendo que os municípios de Formoso do Araguaia e
Lagoa da Confusão são responsáveis por 95% da produção estadual. Um dos
fatores que tem contribuído para o aumento do custo de produção agrícola é o
constante uso de defensivos. Entre as pragas primárias associados à cultura
da melancia, citam-se a mosca - branca Bemisia tabaci (Hemiptera:
Aleyrodidae), a broca das cucurbitáceas (Diaphania nitidalis e Diaphania
hyalinata)(Lepidoptera: Crambidae), o Pulgão (Aphis gossypii)(Hemiptera:
Aphididae), moscas minadoras (Liriomyza sativae e Liriomyza huidobrensis)
(Diptera: Agromyziidae). Como pragas secundária da cultura são identificados
a lagarta-rosca (Agrotis ipsilon), a vaquinha (Diabrotica speciosa) (Coleoptera:
Chrysomelidae), e o ácaro-rajado (Tetranychus urtica) (Acari:Tetranychidae). A
maioria são espécies polífagas e causam danos às plantas injetando toxinas e
vírus que diminuem consideravelmente a produção. O uso de inseticida sem
10
um parâmetro preciso e específico para cada situação eleva os custos de
produção. O tiametoxam, imidaclorprido e o malathion, atuam de forma
semelhantes, interferindo na transmissão dos impulsos nervoso, levando à
paralisia e morte dos insetos. O cultivo manejado com MIP traz conseqüências
positivas no agroecossistema, pois diminui a populações praga e mantém
presente populações de inimigos naturais importantes. Trabalhos científicos
que comparem os dois sistemas (MIP e Convencional) de aplicação de
defensivos em cucurbitáceas são escassos e informações que acrescentem o
ponto de vista ecológico, econômico e sociológico, são muito importantes.
Palavras- Chave: Citrullus lanatus, pragas das cucurbitáceas, impacto
ambiental, época de cultivo, custo de produção.
11
REVISÃO DE LITERATURA
A melancia é uma planta herbácea de hábito rasteiro, que emite a partir
do caule várias ramificações longas que podem chegar a 10 metros nas
espécies não domesticadas, com derivações mais curtas e opostas alternando
ao longo dos seus nós (Souza et al., 2008).
As folhas são lobadas recortadas em três e quatro partes, alcançando
certa de 20 cm comprimento, expostas a partir de cada nó formando grupos
com as gavinhas e flores. A planta é monóica, mas podem apresentar flores
hermafroditas, fazendo polinização cruzada ou autopolinização que é feita
predominantemente por insetos (Souza et al., 2008).
O fruto é uma baga indeiscente de cores e tamanhos variados de acordo
com a espécie, podendo ser esférico, oval ou cilíndrico e pesar de 1 a 25 kg, o
consumo do fruto é dos mais variados, podendo ser aproveitado todas as
partes como a casca, polpa e sementes (Souza et al., 2008).
Segundo o último levantamento feito pela FAO em 2010, o Brasil
aparecia como o quarto maior produtor mundial de melancia com 1,87milhões
de toneladas, ficando atrás da China, Turquia e Irã com 56,65, 3,68 e 3,47
milhões de toneladas. A produção de melancia por região de acordo com
dados do IBGE (2010) coloca a região sul como responsável por 34%, seguido
da região sudeste, centro-oeste, nordeste e norte com 25, 15, 14 e 12% na
12
sequência. A produção tocantinense do fruto chega a 87 mil toneladas, os
principais municípios produtores ficam localizados na região sul do estado:
Formoso do Araguaia e Lagoa da Confusão com 42,7 e 41,6 mil toneladas
respectivamente, juntos equivalem 95% da produção do estado, Gurupi na
quinta posição responde por 576 toneladas (IBGE, 2010).
Um dos fatores que tem contribuído para o aumento do custo de
produção agrícola é o constante uso de defensivos, o que tem contribuído para
o surgimento de organismos pragas cada vez mais resistentes e especializados
em quebrar as defesas da planta. Ainda segundo Brechelt (2004) o Manejo
Integrado de Pragas surgiu com o objetivo de minimizar o uso de agrotóxicos,
combinado medidas biológicas, técnicas de cultivo e melhoramento genético
das plantas cultivadas.
Como insetos praga associados à cultura da melancia, citam-se a mosca
- branca Bemisia tabaci (Hemiptera: Aleyrodidae), broca das cucurbitáceas
(Diaphania nitidalis e Diaphania hyalinata)(Lepidoptera: Crambidae), Pulgão
(Aphis gossypii)(Hemiptera: Aphididae), moscas minadoras (Liriomyza sativae
e Liriomyza huidobrensis) (Diptera: Agromyziidae), além de pragas secundárias
como a lagarta-rosca (Agrotis ipsilon), a vaquinha (Diabrotica speciosa)
(Coleoptera: Chrysomelidae) e o ácaro-rajado (Tetranychus urtica)
(Acari:Tetranychidae), (Costa et al., 2008; Alencar e Dias, 2010).
Nos últimos anos a mosca branca, pulgões e tripes têm alcançado
notoriedade em cultivos de cucurbitáceas, são espécies polífagas e se
adaptam a diferentes condições climáticas, o que torna o controle químico na
maioria das vezes ineficiente, esses insetos causam danos às plantas injetando
13
toxinas e vírus, diminuindo consideravelmente as produções (Costa et al.,
2008).
Os vírus mais comuns em melancia no Brasil são, os potyvirus PRSV-W
(Papaya ringspot vírus strain watermelon), ZYMV (Zucchini yellow mosaic
vírus), WMV-2 (Watermelon mosaic vírus-2), o cucumovirus CMV (Cucumber
mosaic virus), e o tospovirus ZLCV (Zucchini lethal chlorosis virus), estas
doenças causam redução do limbo foliar, com formação de mosaicos,
enfezamento, deformação dos frutos e alteração de sua coloração acarretando
redução da produtividade (Costa et al., 2008 e Rezende e Giampan, 2005).
Entre as pragas secundárias, são listadas a lagartas rosca e os insetos
conhecidos como vaquinhas na fase jovem são importantes, pois contribuem
para a diminuição do estande na lavoura atacando as raízes e caule das
plantas causando sua morte, as vaquinhas adultas afetam a planta em todas as
fases da cultura causando desfolha (Costa et al., 2008).
O percevejo Geocoris sp. (Hemiptera: Lygaeidae) é um excelente
predador de artrópodes pequenos e ovos e larvas de lepidópteros (Pereira et
al., 2008; Bastos e Torres, 2005). A preocupação com a manutenção da
população desses percevejos deveria ser levada em consideração em qualquer
sistema de controle de pragas.
O uso de inseticida sem um parâmetro preciso e específico para cada
situação eleva os custos de produção e traz uma série de problemas
ambientais, desestrutura os níveis tróficos de ecossistemas e favorece a
ressurgência de pragas (Picanço et al., 2008).
É muito importante conhecer os produtos e seus mecanismos de ação
adotados no controle de pragas. Inseticidas utilizados no experimento, como o
14
tiametoxam tem ação sistêmica, do grupo dos neonicotinóides, da família
nitroguanidina, tem ação o sistema nervoso dos insetos, levando os à morte,
sendo o produto eficiente para o controle de D. speciosa e sugadores (Pereira,
2010).
O inseticida imidaclorprido é também pertencente ao grupo dos
neonicotinóides, mata o inseto causando hiper excitabilidade do sistema
nervoso central e é utilizado no controle de sugadores (Faria, 2009). O
malathion é pertencente ao grupo dos organofosforados, tem largo espectro de
ação e atua de forma semelhante aos neonicotinóides, interferindo na
transmissão dos impulsos nervoso, levando à paralisia e morte (Faria, 2009 e
Potenza, 2005). As variações climáticas também exercem influência sobre a
dinâmica populacional de insetos, sendo um fator importante antes da
introdução de qualquer cultura a campo (Loos et al., 2005).
Todos os inseticidas influenciam na comunidade de artrópodes de forma
diferente. Pela sensibilidade a alterações no ecossistema os artrópodes, são
utilizados como bio-indicadores, alterações da abundância, diversidade e
composição deste grupo medem a perturbação do ambiente (Wink et al., 2005).
O cultivo manejado com MIP traz conseqüências positivas no
agroecossistema, pois diminui a populações praga a níveis que não venham
causar dano à cultura ao mesmo tempo em que mantém presente populações
de inimigos naturais importantes. Isso ocorre porque o uso de produtos
químicos não é utilizado descontroladamente, assim evita a resistência dos
insetos praga, o mesmo não acontece com o cultivo manejado com aplicações
semanais de inseticidas.
Trabalhos científicos que comparem os dois sistemas (MIP e
Convencional) de aplicação de defensivos em cucurbitáceas são escassos e
15
informações que acrescentem o ponto de vista ecológico, econômico e
sociológico, são muito importantes.
16
LITERATURA CITADA:
ALENCAR, J. A. & DIAS, R. C. S. Sistema de Produção de Melancia. 2010. Disponível em: , Acesso em 19 de janeiro de 2012.
BASTOS, C. S. & TORRES, J. B. Controle biológico e o manejo de pragas do algodoeiro. Circular técnico 72. Campina Grande, PB 2005.
BRECHELT, A. Manejo Ecológico de Pragas e Doenças. Manual, n 1, p 33, 2004.
COSTA, J.N.M. et al. Pragas da melancia. In: SOUZA, F. F. Cultivo da melancia em Rondônia. Porto Velho. Embrapa Rondônia. 2008, ed1, p 50-58.
FAO. Produção mundial de melancia 2010. Disponível em: . Acesso em: 19 de janeiro de 2012.
FARIA, Á. B. D. C. Revisão sobre alguns grupos de inseticidas utilizados no manejo integrado de pragas florestais. Ver. Ambiência. Guarapuava, v. 5, n. 2, p. 345-358, 2009.
IBGE, 2010. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em: Acesso em 19 de janeiro de 2012.
LOOS, Rodolfo A. et al . Identificação e quantificação dos componentes de perdas de produção do tomateiro. Hortic. Bras., Brasília, v. 22, n. 2, June 2004 .
PEREIRA, A. M. C.; BUENO, V. H. P.; SOARES, D. A. Desenvolvimento ninfal de Geocoris punctipes (Say) ( Hemíptera: Lygaeidade) em temperatura alternante. In: XXII CONGRESSO BRASILEIRO DE ENTOMOLOGIA, Uberlândia. Anais do XXII Congresso Brasileiro de Entomologia.Uberlândia, 2008.
PEREIRA, M. A. Tiametoxam em plantas de cana de açúcar, feijoeiro, soja, laranjeira, e cafeeiro: parâmetros de desenvolvimento e aspectos bioquímicos. 2010. 124f. Tese (Doutorado em- Fitotecnia)- Faculdade de Engenharia Agronômica , Universidade de São Paulo – Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Piracicaba, 2010.
17
PICANÇO, M. C. et al. Inseticidas, acaricidas e molucicidas no manejo integrado de pragas. In: ZAMBOLIN, L. Produtos fitossanitários (fungicidas, inseticidas, acaricidas e herbicidas). 2008. ed 1, cap 13, p 541-574.
POTENZA, M. R. Controle químico do pulgão Takecallis Taiwanus (Takahashi) (Homoptera: Aphididae) em bambu ornamental (Bambusa Gracilis Horti). Arq. Inst. Biol. São Paulo, v. 72, n. 3, p. 495-497,2005.
REZENDE, J. A. M. e J. S. GIAMPAN. Manejo integrado de viroses da melancia. In: SANTOS, G. R. (Ed.). Manejo integrado de doenças da melancia. VIÇOSA: UFV; DFP, 2005, p.71.
SOUZA, F. D. F. Cultivo da melancia em Rondônia. Porto Velho: Embrapa Rondônia: 103 p. 2008
WINK, C. et al. Insetos edáficos como indicadores da qualidade ambiental. Rev. Ciências Agroveterinárias, Lages, v. 4, n. 1, p. 60-71. 2005.
18
RESUMO
LIMA, Carlos H. Oliveira, M.S., Universidade Federal do Tocantins, janeiro de 2011. IMPACTO DE SISTEMAS DE CONTROLE DE PRAGAS SOBRE A COMUNIDADE DE ARTROPODES NA CULTURA DA MELANCIA. Orientador: Renato de Almeida Sarmento. Co-Orientadores: Marcelo Coutinho Picanço, Gil Rodrigues dos Santos.
Uma das preocupações atuais da humanidade com relação aos sistemas
produtivos é a sua sustentabilidade. Nos sistemas produtivos agrícolas um dos
maiores problemas é o ataque de pragas. Para minimizar o problema causado
pelo ataque de pragas às culturas os agricultores utilizam sistemas de controle.
O objetivo do presente trabalho foi estudar a viabilidade econômica e o impacto
de sistemas de controle de pragas sobre a comunidade de artrópodes na
cultura de melancia em época chuvosa e seca. Os sistemas de controle de
pragas foram: aplicação semanal de inseticidas (ASI), programa de manejo
integrado de pragas (MIP) e a testemunha onde não houve aplicação de
inseticidas. No MIP o controle das pragas foi realizado quando as pragas
atingiram o nível de controle. Durante os cultivos foram monitoradas as
populações de pragas e de inimigos naturais. Ao final do cultivo avaliou-se a
produtividade da cultura. Os custos de controle das pragas foram calculados.
Na época chuvosa os três tratamentos tiveram impacto diferente sobre a
comunidade de artrópodes. Já na época seca o MIP e a ASI apresentaram
impactos semelhantes. Os fitófagos Diabrotica speciosa (Germar) (Coleoptera:
Chrysomelidae) e Aphis gossypii Glover (Hemiptera: Aphididae) e o predador
19
Geocoris sp. (Hemiptera: Lygaeidae) foram as espécies com capacidade
preditiva dos impactos dos tratamentos. O MIP e a ASI reduziram as
populações de D. speciosa, A. gossypii e Geocoris sp. A produtividade da
melancia foi maior no MIP e no sistema com ASI. No MIP houve redução de 72
e 78% das pulverizações e cerca de 50% do custo de controle de pragas em
relação ao sistema ASI nas épocas seca e chuvosa, respectivamente.
Palavras- Chave: Citrullus lanatus, manejo integrado de pragas, época de
cultivo, custo de produção, impacto ambiental.
20
ABSTRACT
LIMA, Carlos H. Oliveira, M.S., Federal University of Tocantins, January, 2011. PEST CONTROL SYSTEM IMPACT ON THE ARTHROPODS COMMUNITY IN THE WATERMELON CULTIVATION. Adviser: Renato de Almeida Sarmento. Co-Advisers: Marcelo Coutinho Picanço and Gil Rodrigues dos Santos.
One of the current mankind concerns about the productivity systems is their
sustainability. One of the biggest problems in the agricultural productive
systems is the pest attack. To minimize the problem caused by the pest attack
to the crops the farmers used the control system. The objective in this present
work was to study the economical viability and the impact of the pest control
system on the arthropods community in watermelon cultivation during the rainy
and dry seasons. The pest control systems were: weekly application of
insecticide (ASI), pest integrated management program (MIP) and the witness
where there was no insecticide application. The pest control in the MIP was
achieved when the pests reached the control level. During the cultivation the
population of pests and natural enemies were monitored. The crops productivity
was assessed at the end of the cultivation. The pest control costs were
calculated. During the rainy season the three treatments presented different
impact on the arthropods community. On the other hand, during the dry season
the MIP and the ASI presented similar impacts. The phytophagous Diabrotica
speciosa (Germar) (Coleoptera: Chrysomelidae) and Aphis gossypii Glover
(Hemiptera: Aphididae) and the predator Geocoris sp. (Hemiptera: Lygaeidae)
21
were the species with predictive capacity of the treatment impacts. The MIP and
the ASI made the D. speciosa, A. gossypii and Geocoris sp. population
decrease. The watermelon productivity was better in the MIP and in the ASI
system. In the MIP there was a reduction of 72 and 78% of the pulverization
and around 50% of the pest control cost in relation to the ASI systems during
both rainy and dry seasons, respectively.
Key words: Citrullus lanatus, pest integrated management, crops season,
production cost, environmental impact.
22
INTRODUÇÃO
Uma das grandes preocupações atuais da humanidade com relação aos
sistemas produtivos é a sua sustentabilidade. Os sistemas produtivos
sustentáveis se caracterizam por apresentar viabilidade econômica e
possibilitarem a preservação do ambiente.Um dos maiores problema nos
sistemas produtivos agrícolas é o ataque de pragas. A importância das pragas
se deve ao fato de que seu ataque pode reduzir parcialmente ou totalmente a
produção das culturas (Picanço et al., 2007; Bergamim Filho, 2008).
Para minimizar o problema causado pelo ataque de pragas às culturas,
os agricultores utilizam sistemas de controle, sendo o mais usual a aplicação
periódica de pesticidas. Neste sistema apesar de muitas vezes obter um
controle eficiente das pragas há um aumento dos custos de produção e
poluição do ambiente devido ao grande uso de pesticidas. Uma alternativa a
esse sistema é o emprego de programas de manejo integrado de pragas (MIP)
(Picanço et al., 2004; Picanço et al., 2007).
A adoção do sistema de manejo integrado de pragas (MIP) preconiza a
manutenção e incremento dos fatores de mortalidade natural das pragas,
integrando táticas de controle com base em parâmetros técnicos, econômicos e
ecológicos (Pedigo, 1988; Dent, 1993). Neste sistema um inseto é considerado
praga quando ocasiona dano econômico e o controle químico deve ser usado
com base em níveis de tomada de decisão (Pedigo, 1988; Higley e Pedigo,
1996).
23
Na avaliação da sustentabilidade dos sistemas de controle de pragas
nos agroecossistemas devemos avaliar a sua viabilidade econômica e os seus
impactos sobre as espécies alvo (as pragas) e espécies não-alvo. Entre as
espécies não-alvo mais importantes nos agroecossistemas estão os inimigos
naturais das pragas. Nas lavouras, o controle biológico é realizado por
predadores, parasitóides e entomopatógenos. Quando preservados, estes
organismos são capazes de manter a população das pragas abaixo do nível de
dano econômico durante a maior parte do cultivo (Picanço et al., 2004).
Entre os cultivos em que é urgente o emprego de programas de manejo
integrado de pragas estão as culturas frutíferas. Estas culturas são importantes
na alimentação humana por serem fonte de vitaminas, energia, fibras e
constituírem fator essencial na manutenção da saúde e longevidade das
pessoas. Neste grupo de culturas é mais importante ainda que o controle de
pragas seja realizado de forma sustentável, já que seus frutos são geralmente
consumidos "in natura". (FAO, 2010).
Uma das culturas frutíferas mais consumidas no mundo é a melancia
[Citrullus lanatus (Thunb.) Matsum & Nakai]. Os cultivos de plantas frutíferas
anuais são realizados durante o ano inteiro, devido à variação nas condições
climáticas as comunidades de artrópodes geralmente são diferentes nos
agroecossistemas como também os custos envolvidos no controle de pragas
(Dufault et al., 2006).
Apesar da importância dos sistemas de controle de pragas no cultivo de
melancia, praticamente nada se conhece sobre a viabilidade econômica e o
impacto destes sistemas na comunidade de artrópodes nesta cultura, sobretudo
nas regiões tropicais. Assim, no presente trabalho, nós estudamos a viabilidade
24
econômica e o impacto de sistemas de controle de pragas sobre a comunidade
de artrópodes na cultura de melancia em plantios no período seco e chuvoso.
25
2. MATERIAL E METODOS
2.1. Condições Experimentais
Este trabalho foi conduzido no Campus Universitário de Gurupi da
Universidade Federal de Tocantins, em Gurupi (11°43’45”S, 49°04’07” e
altitude de 280 m), estado do Tocantins em 2011. O clima durante o
experimento está ilustrado na Figura1.
O primeiro cultivo foi realizado em uma área de 1462 m², onde a
adubação foi realizada levando em consideração a análise do solo e
recomendação para cultura feita por Filgueira et. al (1999). O controle de
plantas de ocorrência espontâneas foi realizado, através de capina manual. O
segundo cultivo foi realizado em uma área de 1501m², com o mesmo manejo
da cultura sendo uma repetição ao longo do tempo.
O solo onde se instalou os dois experimentos é um Latossolo Vermelho
– Amarelo Distrófico (Tabela 1). Os tratamentos utilizados foram: programa de
manejo integrado de pragas (MIP), aplicação semanal de inseticidas (ASI) e a
testemunha na qual não foi feita a aplicação de inseticidas.
Os inseticidas utilizados foram Malathion 500 CE e Nuprid 700 WG, no
cultivo manejado com MIP e no cultivo manejado com ASI foi utilizado somente
o Actara 250WG, as aplicações foram sempre realizadas após as 17 horas.
26
2.2. Delineamento experimental e amostragem dos artrópodes
O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados, com
três tratamentos e quatro repetições.
O primeiro cultivo foi composto por parcelas de 10 x 10 m, contendo 16
plantas, e espaçamento entre blocos foram de três metros de comprimento. No
segundo cultivo as parcelas tinham área de 6 x 10 m, com total de 15 plantas
cada, e mesmo espaçamento entre blocos.
As populações de artrópodes do dossel das plantas foram amostrados
através de batedura de bandeja plástica branca (35x30x5cm), nos ponteiros
das ramas de 5 plantas por parcela Pereira et. al (2007). Os insetos coletados
nas avaliações eram colocados conservados em álcool 70%, para posterior
identificação.
Para determinação da produtividade, foram colhidos todos os frutos das
parcelas que não tivessem nenhuma lesão e que pesassem mais de 5 kg em
balança de precisão.
2.3. Análise dos dados
Os dados coletados nas parcelas sem tratamentos foram inicialmente
submetidos a uma seleção que determina quais espécies têm maior poder de
explicação da variância observada (PROC STEPDISC com seleção
STEPWISE; SAS Institute, 2004). As espécies foram selecionadas de acordo
com o nível de significância do teste F da análise de covariância, em que as
espécies escolhidas agem como co-variáveis e os tratamentos como variáveis
dependentes; e pela correlação quadrada parcial predizendo os efeitos do
tratamento a partir das espécies, controlada pelo efeito já causado pelas
espécies selecionadas pelo modelo (SAS Institute, 2004).
27
Os dados das espécies selecionadas foram submetidos à análise de
variáveis canônicas (CVA), que é uma técnica de ordenação indireta que reduz
a dimensionalidade do conjunto dos dados originais em um conjunto de
variáveis que podem ser usadas para ilustrar graficamente as posições
relativas e as orientações das médias das respostas da comunidade em cada
tratamento sob comparação Pereira et. al (2007). A significância da diferença
(indicada pela ordenação) entre grupos é devido à comparação dois a dois dos
tratamentos pelo teste F aproximado (p < 0,05), usando a distância de
Mahalanobis entre as respectivas classes de médias canônicas Pereira et al
(2007). As análises foram feitas usando o procedimento CANDISC do pacote
estatístico do SAS (SAS Institute, 2004).
28
Tabela 1. Composição química e textual do latossolo utilizado no experimento
nas duas épocas de cultivo.
Características* Época chuvosa Época da seca
pH em H2O 5,4 5,9
P (mg.dm-3) 19 18
K+ (mg/dm³) 21 15
H + Al (cmol/dm³) 2,5 2,9
Al3+ (cmol/dm³) 0,00 0,03
Ca2+ (cmol/dm³) 2,1 2,1
Mg2+ (cmol/dm³) 0,8 0,3
CTC total (cmol/dm³) 5,4 5,4
V (%) 54 46
m (%) 0,0 1,2
Matéria orgânica (%) 23,7 18,8
Textura
Areia (%) 70 77
Silte (%) 5,7 1,7
Argila (%) 24 21
*Análises realizadas no Laboratório de Análises Físicas e Químicas de Solo da
Universidade Federal do Tocantins.
29
Te
mp
era
tura
(°C
)
10
20
30
40
50MáximaMédiaMínima
Um
ida
de
Re
lativa
(%
)
0
20
40
60
80
100
120
Máxima Média Mínima
Pre
cip
ita
çã
o (
mm
/dia
)
0
20
40
60
80
100
09 abril 09 maio 09 junho 09 julho 09 agosto 09 setembro
Figura 1. Dados climáticos coletados durante o experimento pela Estação
Metereológica da UFT - Gurupi.
30
3. RESULTADOS
3.1. Espécies de artrópodes com capacidade preditiva dos impactos dos
tratamentos
Das 22 espécies de artrópodes observadas no dossel das plantas de
melancia 10 espécies apresentaram frequência média de ocorrência nas duas
épocas de cultivo maior que 10%. Dessas 10 espécies, cinco são fitófagas e
cinco são predadoras. Os artrópodes de maior freqüência de ocorrência em
cada guilda foram o fitófago Diabrotica speciosa (Germar) (Coleoptera:
Chrysomelidae) e o predador Geocoris sp. (Hemiptera: Lygaeidae) (Tabela 2).
Os fitófagos D. speciosa e Aphis gossypii Glover (Hemiptera: Aphididae)
e o predador Geocoris sp. foram as espécies que melhor explicaram a variação
observada entre os tratamentos (Tabela 2).
Baseando-se nos coeficientes canônicos, as espécies que mais
contribuíram para a divergência entre os tratamentos nos eixos canônicos
foram D. speciosa (eixo 1 nas duas épocas e eixo 2 na época seca), A.
gossypii (eixos 1 e 2 na época seca) e Geocoris sp. (eixo 2 nas duas épocas)
(Tabela 3). Portanto, os fitófagos D. speciosa e A. gossypii e o predador
Geocoris sp. foram as principais espécies com capacidade preditiva dos
impactos dos tratamentos.Estas espécies possibilitam o entendimento dos
efeitos dos sistemas de controle de pragas nas duas épocas de cultivo.
3.2. Impacto dos tratamentos sobre a abundância total dos artrópodes
A análise de variáveis canônicas indicou diferenças significativas entre
31
os tratamentos nos cultivos nas épocas chuvosa (Wilks’ lambda = 0,001 e F =
19,54 e graus de liberdade (gl) (numerador/denominador) = 6/14 e P
32
MIP em relação ao sistema com ASI nas épocas seca e chuvosa,
respectivamente (Figura 4B e Tabela 5). O custo de controle de pragas no MIP
foi cerca de 50 e 62% menor do que no sistema com ASI nas épocas seca e
chuvosa, respectivamente (Figura 4C e Tabela 5).
33
Tabela 2. Frequência e abundância (média ± erro padrão) dos artrópodes no
dossel das plantas de melancia sem aplicação de inseticidas em duas épocas
de cultivo
Artropódes Frequência Abundância (indivíduos/ amostra)
média (%) Época chuvosa Época seca
Fitófagos
Aphis gossypii 58,75 3,95 ± 0,91 1,63 ± 0,26
Bemisia tabaci 31,25 1,17 ± 0,36 0,41 ± 0,08
Circulifer sp. 15,00 0,33 ± 0,09 0,19 ± 0,06
Diabrotica speciosa 78,75 1,74 ± 0,17 1,21 ± 0,11
Thrips palmi 37,50 0,86 ± 0,20 6,91 ± 1,24
Predadores
Arachnida 25,00 0,33 ± 0,09 0,33 ± 0,07
Eriopis connexa 35,00 1,74 ± 0,17 0,45 ± 0,08
Formicidae 30,00 1,17 ± 0,36 0,44 ± 0,09
Geocoris sp. 37,50 3,95 ± 0,91 0,40 ± 0,06
Orius sp. 16,25 0,86 ± 0,20 0,29 ± 0,11
34
Tabela 3. Resumo da seleção STEPWISE com procedimento STEPDISC do SAS STEPWISE, visando selecionar as espécies de
artrópodes a serem incluídas na análise de variáveis canônicas obtendo-se a máxima discriminação entre os tratamentos.
Variáveis
(espécies de artrópodes)
R2 parcial Analise de covariância Correlação quadrada parcial
F p Média p
Fitófagos
Diabrotica speciosa 0,076 20,05
35
Tabela 4. Eixos canônicos e seus coeficientes (entre a estrutura canônica) do
efeito do sistema de controle de pragas sobre as espécies de artrópodes
selecionadas pelo STEPWISE com procedimento STEPDISC do SAS nas duas
épocas de cultivo da melancia
Espécies de artrópodes Época chuvosa Época seca
eixo 1 eixo 2 eixo 1 eixo 2
Fitófagos
Diabrotica speciosa 6,93 -2,45 2,13 -3,76
Aphis gossypii 0,80 0,49 2,22 2,20
Predador
Geocoris sp. -1,99 6,52 0,34 2,31
F 19,54 9,53 4,08 3,66
Graus de liberdade
(numerador/denominador)
(6/14) (2/8) (6/14) (2/8)
P
36
Primeiro Eixo Canônico
-3 -2 -1 0 1 2 3 4
-1.5
-1.0
-0.5
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
-20 -15 -10 -5 0 5 10 15
-3
-2
-1
0
1
2
3
MIP CALENDÁRIOTESTEMUNHA
Se
gu
nd
o E
ixo
Ca
nô
nic
o
Época Chuvosa
Época Seca
Figura 2. Diagrama de ordenação (CVA) da comunidade de artrópodes no
dossel das plantas de melancia em função do sistema de controle de pragas
em duas épocas de cultivo. Os tratamentos dentro do mesmo circulo não
diferem, entre si, pelo teste F (P < 0,05) baseado na distância de Mahalanobis.
37
D.
sp
ecio
sa/
am
ostr
a
0,00
0,50
1,00
1,50
2,00
Época chuvosa Época seca
Ge
oco
ris s
p./
am
ostr
a
0,00
0,15
0,30
0,45
Sem inseticidas MIP
a
a
bb
a
a
b
b
b
b
a
a
(A)
(B)
de inseticidasAplicação semanal
Figura 3. Densidade (média ± erro padrão) de (A) Diabrotica speciosa e (B)
Geocoris sp. no dossel de plantas de melancia em função do sistema de
controle de pragas em duas épocas de cultivo. Os histogramas numa época de
cultivo seguidos pela mesma letra minúscula possuem médias que não
diferem, entre si pelo teste Tukey a P < 0,05.
38
Pro
du
tivid
ad
e (
ton
.ha
-1)
0
10
20
30
40
Época chuvosa Época seca
Cu
sto
(R
$.h
a-1
)
0
800
1600
2400
Sem inseticidas MIP
a
ab
b
b
aa
(A)
de inseticidasAplicação semanal
Nú
me
ro d
e a
plic
açõ
es
0
5
10
15
(B)
(C)
Figura 4. (A) produtividade (média ± erro padrão) da melancia, número de
aplicações de inseticidas e (C) custo de controle de pragas em função do
sistema de controle de pragas em duas épocas de cultivo. Os histogramas
numa época de cultivo seguidos pela mesma letra minúscula possuem médias
que não diferem, entre si, pelo teste Tukey a P < 0,05.
39
Tabela 5. Custo de controle das pragas da melancia nas épocas chuvosa e seca no MIP e no sistema com aplicação semanal de inseticidas (ASI),
nas áreas produtoras de melancia no estado do Tocantins
Custos com mão de obra nas aplicações Custos com equipamentos nas aplicações
Itens Custo mensal (R$)
Custo por hora R$)
Custo por aplicação (R$/ha)
Itens Custo (R$)
Vida útil (meses)
Custo por aplicação (R$/ha)
Salário (Sl) 622,00 62,76 Equipamento de proteção individual
52,80 12 0,44 FGTS (8% do Sl) 49,76 5,02 INSS (12% do Sl) 49,76 5,02 Luvas 3,90 12 0,03 Férias (1/3 do Sl/ano) 17,28 1,74 Botas 16,90 12 0,18 13° salário 51,83 5,23 Pulverizador 139,00 36 0,56 Subtotal por aplicação (R$/ha) 79,77 (1)* 1,21 (2)*
Custos com comi inseticidas nas aplicações Custo total das aplicações Inseticidas Dose/ha Preço
(R$/L ou R$/kg)
Custo por aplicação
(R$/ha) (3)*
Custo por aplicação
(R$/ha) (4)
*
Época chuvosa Época seca N** Custo por cultivo (R$/ha) N** Custo por cultivo (R$/ha) MIP ASI MIP AS MIP ASI MIP ASI
Tiametoxan 250 WG 120 g 375,00 54,00 134,98 0 18 0,00 2429,64 0 18 0,00 2429,64 Imidacloprido 700 WG 300 g 666,67 200,00 280,98 3 0 842,94 0,00 4 0 1123,92 0,00 Malathion 500 CE 165 mL 38,00 6,27 87,25 1 0 87,25 0,00 1 0 87,25 0,00 Totais 4 18 930,19 2429,64 5 18 1211,17 2429,64
* (4) = (1) + (2) + (3). ** N = número de aplicações de inseticidas durante uma época de cultivo.
40
4. DISCUSSÃO
Observou-se que as espécies de artrópodes de maior ocorrência no
dossel das plantas de melancia foram os fitófagos D. speciosa e A. gossypii e o
predador Geocoris sp. Segundo Costa et. al (2008), vaquinhas e pulgões
causam danos à parte área e transmitem viroses. As principais espécies de
vaquinhas associados à cultura da melancia pertencem ao gênero Diabrotica,
Acalyma, Omophoita e Cerotoma, sendo a primeira mais abundante, e notável
também pelo forrageio e coleta de pólens. Na fase larval estes insetos podem
ainda atacar as raízes das plantas (Ventura e Mikami, 2008).
Os pulgões vivem na região abaxial das folhas e dos brotos mais jovens,
sugando a seiva e por conseqüência injetando toxinas e transmitindo viroses,
sendo as mais comuns em melancia no Brasil, os potyvirus PRSV-W (Papaya
ringspot vírus strain watermelon), ZYMV (Zucchini yellow mosaic vírus), WMV-2
(Watermelon mosaic vírus-2), o cucumovirus CMV (Cucumber mosaic virus), e
o tospovirus ZLCV (Zucchini lethal chlorosis virus), estas doenças causam
redução do limbo foliar, com formação de mosaicos, enfezamento, deformação
dos frutos e alteração de sua coloração acarretando redução da produtividade
(Costa et al., 2008; Rezende e Giampan 2005)
O percevejo da família Lygaeidae é um excelente predador de
artrópodes pequenos como ácaros, pulgões, tripes, mosca branca, larva de
coleóptero e ovos e larvas de lepidópteros (Pereira et al., 2008; Bastos e
Torres, 2005). Essa é a primeira vez que o percevejo Geocoris sp. é citado
41
como predador em potencial na cultura da melancia e de um modo geral, em
cucurbitáceas.
A D. speciosa é sempre citada como praga secundaria mas ultimamente
essa praga vem aumentando sua importância em todas as culturas
principalmente em cucurbitáceas, pelo fato de que plantas desta família
produzem uma substância que esta sendo muito pesquisa como armadilha
para crisomelídeos, chamada cucurbitacina. Essa substância é tóxica para
outros insetos e funciona como estimulante para estes se alimentarem de
forma compulsiva reduzindo a sua movimentação (Mikami e Venturai, 2008).
Tanto na época chuvosa quanto na época seca o MIP e a ASI tiveram
impacto sobre a comunidade de artrópodes. A utilização do MIP, visa a
redução da população de insetos praga incrementando fatores de mortalidade
natural das pragas, com base em parâmetros, ecológicos, econômicos,
sociológicos e técnicos (Martins et al., 2005). A aplicação de inseticida no MIP
é realizado sempre que a densidade do inseto praga alcança o nível de
controle, procurando sempre uma maneira de preservar os inimigos naturais.
Na aplicação de defensivos realizada semanalmente, de forma
convencional, os produtores na maioria das vezes utilizam um produto que
tenha largo espectro de ação e cause redução da população não somente dos
insetos praga, mas também dos insetos não- alvos desequilibrando o
agroecossistema e comprometendo a dinâmica populacional dos inimigos
naturais. Soares et. al (2007), observou que este método torna a cultura
favorável a ressurgência de pragas primárias, aparecimento de surtos de
pragas secundárias e resistência aos produtos utilizados.
Não existem trabalhos científicos que comparem os dois sistemas de
aplicação de defensivos em cucurbitáceas, o que torna ainda mais importante o
42
presente trabalho, por acrescentar informações importantes do ponto de vista
ecológico, econômico e sociológico.
O cultivo manejado com MIP traz conseqüências positivas no
agroecossistema, pois diminui a população praga a níveis que não venham
causar dano a cultura ao mesmo tempo em que mantém presente, populações
de inimigos naturais importantes, ao passo que ajuda evitar a resistência dos
insetos praga. O mesmo não acontece com o cultivo manejado com ASI, pois
tem ação sobre os insetos não alvos, o que pode acarretar problemas como os
já citados, assim como podem ocorrer surtos populacionais e recorrência das
pragas por adquirirem resistência e por desaparecer os artrópodes
pertencentes ao guildas dos predadores.
Para os artrópodes mais importantes na cultura da melancia foi
verificado que os sistemas de controle de pragas tiveram impactos tanto sobre
espécies fitófagas (D. speciosa e A. gossypii) como predadora (Geocoris sp.).
A população do fitófago D. speciosa foi menor com a aplicação semanal de
inseticida tiametoxan. Então este inseticida exerceu controle sobre adultos de
D. speciosa.
Ferreira et. al (2011) estudaram o controle de D. speciosa com sementes
tratadas com tiametoxan observou até 73% de controle desta praga aos 22
dias após a emergência. Azeredo e Cassino (2010), testando diferentes doses
de tiametoxan para controle de pragas da batata concluem que, além de
controlar de forma eficiente D. speciosa, o produto se mostrou seletivo a alguns
inimigos naturais como o Geocoris sp. Este produto é muito utilizado pelos
agricultores da região produtora de melancia do estado, em praticamente todas
as fases da cultura. Seu efeito tem sido demonstrado somente em pré-
emergência e como regulador de crescimento em plantas.
43
O tiametoxam é um inseticida de ação sistêmica, do grupo dos
neonicotinóides, da família nitroguanidina, tem ação sobre o receptor nicotínico
dos insetos, lesando o sistema nervoso, levando os a morte, sendo o produto
eficiente para o controle de D. speciosa (Pereira, 2010).
A D. speciosa é uma praga polifaga com habito migratório por isso, o
controle químico muitas vezes é insatisfatório, provocando prejuízos
econômicos e fazendo com que aumente cada vez mais o uso de defensivos,
provocando desequilíbrios ambientais e contaminação dos humanos (Stüpp et
al, 2006).
A população do fitófago A. gossypii foi menor no MIP e com ASI, em
relação às parcelas sem aplicação de inseticidas. Então os inseticidas usados
nestes sistemas de controle de pragas (imidacloprido, malathion e tiametoxan)
foram eficientes no controle de A. gossypii.
Zagonel et. al (2002),comparando o efeito de imidaclorprido e
tiametoxan em pulgões, também verificou que ambos tiveram eficiência de 98%
de controle. Estes valores também são semelhantes ao encontrados por Ávila e
Godoy (2005); Fernandes et. al (2008). O malathion tem efeitos consideráveis
sobre a população de pulgões (Potenza, 2005).
O inseticida imidaclorprido é também pertencente ao grupo dos
neonicotinóides, mata o inseto causando hiper excitabilidade do sistema
nervoso central devido à transmissão contínua e descontrolada de impulsos
nervosos sendo utilizado para o controle de fitófagos (Faria, 2009). O malathion
é pertencente ao grupo dos organofosforados, tem largo espectro de ação e
atua de forma semelhante aos neonicotinóides, atuam interferindo na
transmissão dos impulsos nervoso, levando os a paralisia e morte (Faria,
2009).
44
Os pulgões expelem uma substância açucarada, que favorecem o
aparecimento de fungos e formigas que se alimentam dessas substâncias e
fornecem proteção, ao passo que injeta toxinas e transmite viroses à planta.
Com a preocupação em relação ao surgimento de resistência de pragas aos
inseticidas, ocorrência de danos ambientais, eliminação de organismos
benéficos e intoxicação humana, causados pelas pulverizações freqüentes de
agrotóxicos, têm sido buscadas novas formas de controle dessa praga
(Szymczak et al., 2009).
A população do predador Geocoris sp. foi menor no MIP e com a
aplicação semanal de inseticidas em relação as plantas sem aplicação de
inseticidas. Então os inseticidas usados nestes sistemas de controle de pragas
(imidacloprido, malathion e tiametoxan) tiveram impacto negativo sobre o
predador Geocoris sp.
Dantas et. al (2009), verificaram que percevejos predadores alimentados
com ovos e lagartas contaminados com tiametoxam, e em contato obtiveram
mortalidade de cerca de 80% dos insetos e porcentagem de ovoposição de
mais ou menos 15% em concentrações mais altas. O Tiametoxan tem efeitos
residuais, é muito tóxico à percevejos predadores diminuindo a taxa de
sobrevivência destes insetos e sobre a taxa de predação desde o primeiro dia
de pulverização (Torres et al., 2002). Resultados semelhantes também foram
obtidos por Mourão (2008), que observou média de 70% de mortalidade de
percevejos predadores sobe contato e ingestão de imidaclorprido.
De maneira geral, estes inseticidas influenciam na população de
percevejos predadores pelo contato com os defensivos e pela alimentação de
outros insetos, causando mortalidade e diminuição da fertilidade do mesmo.
45
Esses percevejos predadores são muito importantes na composição da
entomofauna por preservar o equilíbrio do agroecossistema e prevenindo os
surtos e ressurgência de pragas (Torres et al., 2002). Para diminuir o efeito dos
inseticidas utilizados sobre os percevejos predadores sugere-se a aplicação no
final da tarde e manter na área onde será introduzida a cultura plantas
florísticas, que possam contribuir com o aumento de predadores antes mesmo
de começar a exploração da cultura principal ou mesmo o uso de plantas iscas
para as pragas com pulverização de defensivos nestas.
As maiores produtividades da melancia foram obtidas com o uso do MIP
e a ASI. Entretanto com o uso do MIP ocorreu redução de cerca de 2/3 das
aplicações de inseticidas em relação ao ASI e de 50% ou mais do custo de
controle de pragas.
Vários são os fatores que contribuem para diminuição da produtividade.
Sabe-se que dentre todos os fatores os organismos pragas tem uma
contribuição muito grande para ocorrência de perdas em culturas. Este fato
explica a produção no cultivo manejado com ASI e MIP serem mais altas do
que no cultivo sem aplicação de inseticidas, a redução observada é resultado
de perdas ocasionadas por insetos praga.
O cultivo manejado com os preceitos do MIP é mais vantajoso do que
cultivos convencionais, porque, diminui o custo de produção devido aumento
de populações de inimigos naturais, diminuindo a necessidade de uso de
inseticidas e custos com aplicação como mão de obra. O MIP alcança
produtividades semelhantes a cultivos convencionais, conseguindo receita
liquida maior.
O clima úmido contribui naturalmente para o aumento de populações de
insetos praga, por isso o estudo de populações de artrópodes em diferentes
46
épocas e formas de cultivos é muito importante. Conhecer as interações
ecológicas para manutenção do agroecossistema em diferentes épocas e
formas de cultivos visa maiores produtividades e diminuição de custos
decorrentes de surtos e recorrência de pragas pela ineficiência de algumas
formas de controle e resistência desses organismos aos defensivos.
CONCLUSÕES
O manejo integrado de pragas para a cultura da melancia é viável
economicamente, pois apresenta menores custos e maior produtividade.
O manejo integrado de pragas influência na comunidade de artrópodes
em melancia, porém em menor grau que métodos de cultivo convencional, o
número de pulverizações é reduzido e o equilíbrio dos níveis tróficos no
sistema agrícola é mantido.
47
LITERATURA CITADA
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