Post on 30-Jul-2022
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FISIOTERAPIA
CARACTERÍSTICAS BIOMECÂNICAS DOS PÉS DURANTE A
MARCHA DE CRIANÇAS TIPÍCAS E COM SÍNDROME DE DOWN
Kelli Cristina de Castro
São Carlos 2012
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FISIOTERAPIA
CARACTERÍSTICAS BIOMECÂNICAS DOS PÉS DURANTE A
MARCHA DE CRIANÇAS TIPÍCAS E COM SÍNDROME DE DOWN
Kelli Cristina de Castro
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia da Universidade Federal de São Carlos como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Fisioterapia.
Orientadora: Profª. Drª. Paula Hentschel Lobo da Costa
Projeto desenvolvido com apoio CAPES
São Carlos 2012
Ficha catalográfica elaborada pelo DePT da Biblioteca Comunitária da UFSCar
C355cb
Castro, Kelli Cristina de. Características biomecânicas dos pés durante a marcha de crianças tipícas e com síndrome de Down / Kelli Cristina de Castro. -- São Carlos : UFSCar, 2012. 73 f. Dissertação (Mestrado) -- Universidade Federal de São Carlos, 2012. 1. Fisioterapia. 2. Biomecânica. 3. Down, Síndrome de. 4. Marcha Infantil. I. Título. CDD: 615.82 (20a)
DEDICATÓRIA
A Deus, aos meus pais, Neuza e José Roberto, ao meu irmão
Marcio pelo apoio, paciência, força e incentivo que me deram para que
nunca desistisse do meu objetivo.
AGRADECIMENTOS A Deus por me tranquilizar e amparar nos momentos difíceis,me dando força
para superar as dificuldades e sempre me direcionando no caminho certo.
A minha orientadora Profa. Dra. Paula H. Lobo da Costa, sempre presente em
todos os momentos de minha trajetória com sua sabedoria e ensinamentos.
Obrigada por acreditar em mim e contribuir ao meu crescimento profissional e
por ser também um exemplo de profissional a ser seguido.
Aos meus pais Neuza e José Roberto, por sempre estarem presentes em
minha vida e torcendo para que tudo de certo, que são pessoas humildes que
não tiveram estudo, mas que sempre se esforçaram para que eu pudesse ter
essa oportunidade de ter uma profissão e seguir além.
Muito obrigada, Amo Vocês!
Ao meu namorado, amigo e companheiro Pablo Borelli, por sempre estar
presente em todos os momentos da minha vida, por compreender nos
momentos de ausência, mas sempre me apoiando em todos os momentos e
por me ajudar nas coletas, obrigada. Amo muito Você!
Ao meu irmão Marcio, que sempre pude contar com sua ajuda em qualquer
momento. A minha cunhada Adriana e meu irmão que com muito amor me
tornaram Titia de uma subrinha tão linda a Melissa, trazendo muita alegria para
a família. Eu amo vocês!
Aos meus avós Rosa e José, Luzia (in memória) que são minha inspiração
para viver. Amores da minha vida!
As minhas amigas Andreia L., Suellen, Andreia B. e Jamilli que nos
tornamos amigas desde a especialização e que mesmo distantes hoje, sei
que sempre pude contar com vocês. A Andreia L. por sempre me aconselhar e
apoiar quando precisei. Obrigada
As minhas amigas de laboratório (NAM) Giovana e Fernanda por sempre me
ajudarem em tudo e em qualquer momento que precisei ao longo deste estudo,
sempre me animando nos momentos difíceis e me apoiando a seguir em frente
e o grande aprendizado que me ofereceram. Muito obrigada!
Ao Kleber que me ajudou nas coletas. Obrigada pelas palavras de conforto e
otimismo.
Aos colegas de laboratório Silmara, Joice e Eduardo que ajudaram nas
coletas.
A Nayara e Vanessa pela ajuda no processamento.
As minhas amigas da pós Adriana, Silvinha e Lívia sempre dispostas a
ajudarem e ao mesmo para dar risadas nos momentos de descontração.
Obrigada
Aos casais de amigos Silsam & Alex, Patricia & welligton, Paula Gaúcha,
Isabel & Diego, Aline & Diego, Daniela & Diego que sempre me trazem
alegrias quando estamos juntos e certeza de amizade infinita.
Aos pais das crianças, pela confiança por permitir a participação de seus filhos
na pesquisa.
As crianças o meu obrigado, tenho muito carinho por todas algumas
conhecidas a longo tempo e outras que conheci através da pesquisa.
A CAPES pelo auxilio financeiro.
E a todos que de alguma forma estiveram presentes durante nessa trajetória e
me ajudaram chegar até aqui.
Muito Obrigada !
“Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você
não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em
entender, viver ultrapassa qualquer entendimento”.
Clarice Lispector
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Coleta de dados na escola, plataforma EMED embutida em passarela
de EVA. ............................................................................................................ 21
Figura 2: a) Representação das áreas do pé: ................................................. 23
Figura 3: Marcadores reflexíveis ...................................................................... 42
Figura 4: Medição do ângulo entre os segmentos pé–perna no contato inicial
com o solo. ....................................................................................................... 43
Figura 5: Curvas médias (± desvios-padrão) para a componente vertical ....... 49
Figura 6: Curvas médias (± desvios-padrão) para a componente ântero-
posterior). ......................................................................................................... 50
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Valores médios e desvios-padrão das características das crianças. 25
Tabela 2: Classificação do arco plantar - Índice Chipaux-Smirak (ICS). .......... 25
Tabela 3: Médias e desvios-padrão para Área de Contato durante a Marcha
(AC) - [cm²]. ...................................................................................................... 26
Tabela 4: Médias e desvios-padrão para o Pico de Pressão durante a marcha
(PP) - [kPa]. ...................................................................................................... 26
Tabela 5: Médias e desvios-padrão para a Integral Força-Tempo (IFT) - [N.s].27
Tabela 6: Dados antropométricos .................................................................... 46
Tabela 7: Experiência com o andar independente (em meses) de cada criança.
......................................................................................................................... 47
Tabela 8: Valores médios (desvios-padrão) das variáveis discretas das forças
de reação do solo. ............................................................................................ 48
Tabela 9: Valores médios (desvio-padrão) dos parâmetros temporais. ........... 48
Tabela 10: Valores médios dos coeficientes de Variação (CV) para as curvas
da componente vertical (Fz) e da componente ântero-posterior (Fy).. ............. 50
Tabela 11: Projeção do ângulo do segmento perna-pé do grupo de crianças
típicas (GT) e com Síndrome de Down (SD). ................................................... 51
LISTA DE APÊNDICES
Apêndice A: Comitê de Ética Estudo I ............................................................. 65
Apêndice B: Comitê de Ética Estudo II ............................................................. 66
Apêndice C: Termo de Consentimento ............................................................ 68
Apêndice D: Questionário de Anamnese ......................................................... 71
Apêndice E:Protocolo Dinamometria ................................................................ 72
Apêndice F:Protocolo Cinemetria ..................................................................... 73
Sumário
1. CONTEXTUALIZAÇÃO……………………………………………………………………………..12
2. ESTUDO I ............................................................................................................................ 15
CARACTERIZAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DOS PÉS DE CRIANÇAS DA EDUCAÇÃO
INFANTIL ................................................................................................................................. 15
2.1 Introdução.............................................................................................................................. 17
2.2 Material e Métodos ......................................................................................................... 20
2.2.3 Variáveis selecionadas ............................................................................................... 21
2.2.4 Processamento e Análise dos Dados ......................................................................... 24
2.3 Resultados............................................................................................................................. 25
2.4 Discussão .............................................................................................................................. 27
2.4.1 Índice do Arco ................................................................................................................. 28
2.4.2 Largura do mediopé ........................................................................................................ 29
2.4.3 Comprimento do pé ........................................................................................................ 30
2.4.4 Área de contato .............................................................................................................. 31
2.4.5 Pico de pressão .............................................................................................................. 32
2.4.6 Integral força-tempo ........................................................................................................ 33
2.5 Conclusão.............................................................................................................................. 35
3. ESTUDO II ........................................................................................................................... 36
CARACTERIZAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DOS PÉS DE CRIANÇAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL.....................................................................................................................................36
3.1 Introdução .......................................................................................................................... 38
3.2 Material e métodos ............................................................................................................ 40
3.2.1 Participantes ............................................................................................................... 40
3.2.2 Procedimentos ............................................................................................................ 41
3.2.3 Protocolo experimental ............................................................................................... 44
3.2.4 Processamento dos dados ......................................................................................... 45
3.3 Resultados............................................................................................................................. 46
3.3.1 Variáveis Discretas......................................................................................................47
3.3.2 Comportamento cinético das forças de reação ao solo .............................................. 49
3.3.3 Ângulo do Segmento Pé-Perna .................................................................................. 51
3.4 Discussão .............................................................................................................................. 52
3.5 Conclusão.............................................................................................................................. 55
4. Referências ............................................................................................................................. 56
5. Apêndices ................................................................................................................................ 64
12
1. CONTEXTUALIZAÇÃO
Após o nascimento de um bebê todos os sistemas biológicos esforçam-
se para adaptar-se aos fatores ambientais. O bebê deve ser capaz em primeiro
lugar de controlar o corpo em pé, antes de dominar as mudanças posturais
dinâmicas necessárias para a locomoção ereta.
O período de desenvolvimento da marcha infantil é caracterizado pelo
controle imaturo da postura, grande variabilidade cinemática, irregularidades
em parâmetros espaço-temporais, ampla base de apoio e frequentes quedas
(HALLEMANS et al., 2005). O domínio da posição em pé representa o primeiro
marco desenvolvimental na busca do bebê pela estabilidade postural. É a
indicação de que o controle da musculatura já foi obtido até o ponto em que a
força da gravidade não pode mais fixar limitações insuperáveis sobre o
movimento, ocorrendo assim a locomoção (HALLEMANS et al., 2005).
Aos três anos de idade, aproximadamente, as instabilidades posturais e
a falta de força muscular são superadas e o andar torna-se relativamente mais
estável e regular. Contudo, mudanças sutis continuam ocorrendo até os sete
ou oito anos de idade (HALLEMANS et al., 2005; HAUSDORFF et al., 1999).
A estrutura estática e a função dinâmica dos pés infantis também passa
por mudanças desenvolvimentais no mesmo período de desenvolvimento da
marcha e, nesse sentido, pode-se admitir que ambos os processos influenciem-
se mutuamente (BOSCH et al., 2007). Para tanto, seria interessante
acompanhar as mudanças que ocorrem na morfologia dos pés ao mesmo
tempo em que se monitora as mudanças nas características da marcha infantil.
13
Sistemas biomecânicos de baropodometria são ideias para este fim, pois
além de descrever a estrutura e a funcionalidade dos pés, além de
assimiladores de carga e geradores de impulso para a marcha, permitem inferir
sobre características desenvolvimentais do andar, se empregados em crianças
que se encontrem nas idades iniciais do desenvolvimento da marcha. Como
estes são portáteis, é possível transportá-los até as escolas, onde estão muitas
crianças desde dos 3 anos de idade, conhecidas como escolas de educação
infantil.
Nesse contexto, o Estudo 1 foi elaborado originalmente para monitorar a
marcha e o desenvolvimento dos pés, a cada três meses ao longo de um ano,
de crianças que se encontravam em idades em que ocorriam as principais
mudanças desenvolvimentais nos pés e na marcha. Para tanto, recebemos a
colaboração de Dieter Rosembaum e Kerstin Bosch da Clínica e Policlínica de
Ortopedia Geral do Hospital Universitário da Universidade de Münster,
Alemanha, que, graças ao apoio financeiro do governo alemão, trouxeram o
equipamento (Sistema EMED, Novel, Alemanha) em visita ao Núcleo
Multidisciplinar de Análise do Movimento da UFSCar.
Portanto, o estudo I precisou ser limitado e ficou restrito ao período em
que tínhamos o equipamento em mãos. Assim, o Estudo 1 teve como objetivo
avaliar um grupo de crianças da educação infantil, a fim de caracterizar e
classificar a estrutura e função dos pés.
14
Contudo crianças com Síndrome de Down tem uma disfunção genética
caracterizada por disfunções motoras como frouxidão ligamentar, hipotonia
muscular, déficits de equilíbrio que afetam o controle postural e também a
aquisição da marcha (GIMENEZ et al., 2004).
A maioria destas crianças apresenta distúrbios ortopédicos,
musculoesqueléticos e atrasos na aquisição de marcos motores. Estas são
frequentemente acompanhadas por fisioterapeutas, a fim de promover o
desenvolvimento neuropsicomotor. No entanto, a intervenção neuropediátrica é
considerada concluída após a aquisição da marcha (PAU et al., 2012). Assim,
seria interessante avaliar o desenvolvimento da marcha de crianças com
Síndrome de Down no período de refinamento da habilidade do andar, a fim de
acompanhar e monitorar mudanças no padrão de movimento nos primeiros
anos do andar independente.
Estudos sobre o desenvolvimento da marcha em crianças com Síndrome
de Down são escassos. Em geral empregam metodologias qualitativas,
provavelmente pela facilidade de aplicação, e faixas etárias maiores, talvez
pela dificuldade de recrutamento. O único estudo encontrado avaliou a
cinemática do andar em crianças com Síndrome de Down com idades entre 9 e
12 anos (RIGOLDI, GALLI e ALBERTINI, 2011).
Assim, o Estudo 2 teve como objetivo descrever a cinética e cinemática
do apoio inicial do pé ao solo por meio de forças de reação do solo durante o
andar de crianças com Síndrome de Down, a fim de avaliar se há
irregularidades nesse apoio ou se esse evento ocorre de maneira diversa da
crianças típicas ou semelhantes no desenvolvimento da marcha.
15
1. ESTUDO I
CARACTERIZAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DOS PÉS DE
CRIANÇAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL
Resumo
Avaliar o desenvolvimento dos pés em crianças entre dois e seis anos de idade
pode ser uma das tarefas de profissionais da Saúde inseridos na Educação
Infantil. Nessa faixa etária ocorrem as principais mudanças na estrutura dos
pés e a avaliação destas pode contribuir para a identificação precoce de
disfunções que podem exigir intervenção. O objetivo do presente estudo foi
avaliar a estrutura estática e a função dinâmica dos pés de um grupo de
escolares da educação infantil, a fim de classificá-los de acordo com um perfil
de referência. Foram avaliadas 25 crianças saudáveis (idade média de 3,4 ±
0,65 anos) que andaram na passarela, passando sobre a plataforma de
pressão. A função dinâmica dos pés foi avaliada pela FRS e a estrutura
estática dos pés foi avaliada por meio da plantigrafia. Os resultados
evidenciaram que o índice do arco, a largura do mediopé e o pico de pressão
na região do mediopé são maiores nas crianças avaliadas em nosso estudo,
quando comparadas com um estudo de referência. Tais resultados sugerem
que em alguns aspectos tanto a estrutura quanto a função dos pés ainda não
estão plenamente desenvolvidos nessas crianças como o esperado para a
idade.
Palavras –chave: pés infantis, pressões plantares, saúde na escola.
16
Abstract
The developmental evaluation in children’s feet between the age of two and six
years-old may be one of Health Professionals duty in a pre-school. In this age
the more important changes in children’s feet occur and it may be important to
identify dysfunctions that require intervention as soon as possible. Thus the
purpose of this study was to evaluate the static structure and dynamic function
of pre-school children’s feet in order to classify them according to a reference
profile. Twenty five healthy children (mean age of 3.4 ± 0.65 years) had their
feet anthropometry measured to classify the static foot structure and plantar
pressures measured with a platform to evaluate dynamic foot function. The
results evidenced that our children showed increased arch índex, midfoot width
and peak pressure over the midfoot and decreased force-time integral for the
forefoot, compared to a reference study. Thus, our results suggest that our
children in some aspects present foot structure and function not as developed
as expected for their age.
Key words: children´s feet, plantar pressures, school health.
17
2.1 Introdução
No período da primeira infância, as características biomecânicas do
andar passam por grandes mudanças até atingirem um comportamento estável
e mais regular por volta dos cinco anos de idade (UNGER, ROSENBAUM,
2004
Ao nascer os bebês possuem pés planos funcionais e coxins gordurosos
na superfície plantar que protegem as estruturas cartilaginosas frágeis. A
assimilação de cargas mecânicas para a adoção da postura em pé, bem como
para o início das tentativas do andar, desencadeiam o processo de ossificação
e remodelagem ósseas dos pés. Ambos os processos são combinados à
reabsorção dos coxins gordurosos e levam à formação dos arcos plantares
longitudinais (MAIER, 1961). Sendo assim, a estrutura dos pés e seu
desenvolvimento também são influenciados pela adoção da postura ereta e
pelo inicio da marcha independente que emergem aproximadamente aos 10
meses (NIETHARD, 1997).
Antes de adquirir o andar maduro a amplitude do passo aumenta duas
vezes até atingir a idade dos cinco anos e triplica até os oito, desde os
primeiros passos independentes do bebê (MAIER, KILLMANN, 2003).
No andar, os pés exercem papeis fundamentais, tais como: suporte de
peso e assimilação de cargas durante os impactos com o solo, geração e
transmissão de força propulsiva para a locomoção e também estabelecem a
interação com o terreno, a fim de corrigir o equilíbrio, manter a postura bípede
e adaptar a irregularidades do solo.
18
De maneira geral, pés e suas superfícies plantares, além de
promoverem os movimentos locomotores adequados (EILIS, BEHRENS,
MERS, THORWESTEN, VÖLKER, ROSEMBAUM, 2004) exercem papel muito
importante na propriocepção, determinando a orientação corporal e
especificando condições de suporte, complementarmente a outros sistemas
como o visual e o vestibular (ROLL, KAVOUNOUDIAS, ROLL, 2002).
O desenvolvimento da estrutura dos pés em geral é somente
considerado quando há limitações nas funções locomotoras ou de equilíbrio
nas crianças, fatos que levam pais e responsáveis a buscar atendimento
especializado. Entre os dois e seis anos de idade ocorrem as maiores
mudanças na estrutura e função dos pés (UNGER, ROSENBAUM, 2004) e
como a maioria dessas crianças frequentam a educação infantil, pode-se dizer
que o ambiente escolar seja propício para o acompanhamento do
desenvolvimento e das condições de saúde infantis de maneira geral e dos pés
em particular. O profissional da Saúde pode contribuir nessa avaliação,
levantando casos que possivelmente necessitem intervenção especializada
principalmente nos anos iniciais.
No Brasil ainda não há dados de referencia para subsidiar esse tipo de
avaliação e para o acompanhamento da intervenção, especialmente no
desenvolvimento infantil. Assim o objetivo do presente estudo foi avaliar um
grupo de crianças da educação infantil a fim de caracterizar e classificar a
estrutura e função dos pés.
19
2.2 Material e Métodos
2.2.1 Participantes
Foram convidados para participar 30 crianças, das quais 3 não foram
autorizadas pelos pais e duas foram excluídas por perderem o interesse em
realizar as avaliações, portanto participaram deste estudo 25 crianças com
idade média de 3,4 (±0,71) anos, idade mínima de 2 anos e máxima de 4
anos, ambos os sexos .
Foi calculado o indice de massa corporal (IMC) no percentil 85, sendo
que o cálculo do IMC (IMC = peso / (altura)2) e este classificado para idade
conforme o Portal TeleSaúde Brasil. A classificação é feita com base em
percentis conforme a idade e sexo da criança. O percentil indica a posição
relativa do IMC da criança em relação a outras da mesma idade e sexo. O
quadro abaixo apresenta as categorias de classificação de IMC para crianças
na faixa etária (DUNCAN, SCHMIDT, GIUGLIANI, 2004).
Baixo IMC para idade IMC adequado ou Eutrófico Sobrepeso Obesidade
< Percentil 3 ≥ Percentil 3 e < Percentil 85 ≥ Percentil 85 e < Percentil 97 ≥ Percentil 97
As crianças recrutadas em escolas de educação infantil do município de
São Carlos, SP- Brasil . O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de São Carlos
(Parecer no. 523/2009) (Apêndice A). Os pais ou responsáveis assinaram um
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, concordando com a participação
de seus filhos na pesquisa. Como critério de inclusão através da inspeção
visual e relato dos pais, nenhuma das crianças apresentava alterações de
20
origem musculoesquelética ou neurológica que afetasse a estimulação pelo
comando verbal para a realização da atividade do andar que comprometessem
a participação no estudo.
Todas as crianças autorizadas pelos pais realizaram uma única sessão
experimental. Apenas foram analisados os dados de crianças que
compreenderam integralmente os comandos verbais relacionados à realização
das tarefas da marcha com passagem sobre o instrumento de medidas,
descrito a seguir.
2.2.2 Instrumentos e Procedimentos
Todas as avaliações foram feitas nas dependências das escolas, em
intervalos de recreio, em dias e horários combinados previamente com a
direção e a professora de cada classe. Nenhuma criança precisou deslocar-se
até a universidade ou o laboratório.
Inicialmente foram realizadas as mensurações da massa corporal por
meio de uma balança digital e da estatura com uma fita métrica presa à parede
do pátio com precisão em milímetros. Em seguida, a estrutura dos pés foi
avaliada por meio da plantigrafia (pedígrafo da marca Salvapé), realizada nos
pés direito e esquerdo. Para tanto, as crianças eram posicionadas em pé e
orientadas para olhar para frente e não se movimentar durante 5 segundos.
Essas avaliações foram realizadas sempre pelo mesmo experimentador.
No mesmo dia foram adquiridos dados da função dos pés por meio da
baropodometria dinâmica. Para tanto, foi utilizada uma plataforma de pressão
plantar (EMED ST 4, Novel, Alemanha) de 4 sensores/cm2, com frequência de
amostragem de 50 Hz. Para a aquisição desses dados, as crianças
permaneceram descalças e foram posicionadas em uma passarela de EVA de
21
7 metros de comprimento e 2 cm de espessura, no centro da qual estava a
plataforma de pressão, nivelada com a passarela de EVA, montada no
ambiente da escola (Figura 1).
Figura 1: Coleta de dados na escola, plataforma EMED embutida em passarela de EVA.
Três avaliadores acompanharam as sessões experimentais, um
monitorava o equipamento, o segundo permanecia no início da passarela com
a criança e o terceiro no final da passarela estimulando-a com comandos
verbais para que andasse sem interrupções. Antes do início das coletas, as
crianças praticavam duas vezes para se familiarizar com o ambiente e com os
comandos dos testes. Em seguida, foram realizadas as tentativas do andar em
velocidade auto-selecionada e avaliadas 5 tentativas válidas dadas quando a
criança pisava com um único pé sobre a área de medição da plataforma de
pressão plantar.
2.2.3 Variáveis Selecionadas
As variáveis usadas para descrever a função dinâmica dos pés,
derivadas das medidas de pressão plantar durante o andar, foram: a área de
contato, pico de pressão e integral força-tempo para diferentes áreas plantares.
22
A área de contato (cm²) refere-se à área da superfície plantar cujos sensores
de pressão são ativados em função do contato, em geral usada para classificar
a estrutura e verificar o efeito de diferentes tipos de intervenção na postura dos
pés (GULDEMON, 2008). O pico de pressão (kPa) é o valor máximo de
pressão exercido em cada área plantar especificada e é usado como indicador
de carga local (FILIPPIN, SACCO, BARBOSA E LOBO DA COSTA, 2006). A
integral força-tempo (N.s) é o produto da pressão média pelo intervalo de
tempo no qual foi exercida e, assim, costuma ser usada como indicadora de
estresse tecidual local (GULDEMON , 2008).
As áreas plantares foram selecionadas de acordo com o estudo de
BOSCH et al. (2007) em: área total do pé, retropé (M01), mediopé (M02),
antepé (M03), halux (M04) e dedos (M05) (Figura 2a).
A estrutura dos pés foi avaliada por meio das seguintes medidas:
comprimento do pé sem os dedos (medido do calcanhar até os metatársicos),
largura do mediopé e índice do arco, através do Índice de Chippaux-Smirak
(ICS). Esse índice é considerado o mais apropriado para a verificação da
estrutura do arco plantar em crianças na faixa etária do presente estudo
(ONODERA et al., 2008).
O ICS é obtido, traçando-se duas retas, uma tangente aos pontos mais
mediais na região das cabeças dos metatarsos e do calcanhar e outra tangente
aos pontos mais laterais nas mesmas regiões, em seguida, traça-se um
segmento de reta (a) entre o ponto mais medial e o mais lateral na região das
cabeças dos metatarsos, de forma a demarcar a maior largura da impressão
nesta região. Em seguida traça-se outro segmento paralelo a este (b), na
menor largura do pé na região do arco plantar longitudinal medial ou do
23
mediopé. Medem-se ambos os segmentos (a e b) e divide-se o último pelo
primeiro, obtendo-se uma porcentagem (Figura 2b). Quanto maior o ICS, mais
plano é o pé (ONODERA, et al., 2008; QUEEN, et al., 2007). Os valores de
referência para o ICS independente da idade são: 0 cm = pé cavo; 0,01 a 0,29
cm = pé normal; 0,30 a 0,39 cm = pé intermediário; 0,40 a 0,44 cm = pé
rebaixado; maior que 0,45 cm = pé plano (PEZZAN, SACCO, JOÃO, 2009).
a) b)
Figura 2: a) Representação das áreas do pé: retropé (M01), mediopé (M02),
antepé (M03), halux (M04), dedos (M05). b) Cálculo do Índice Chipaux-Smirak;
a: maior largura na região das cabeças dos metatarsos; b: menor largura na
região do arco longitudinal, sendo b paralelo a. Calcula-se razão entre o
comprimento b pelo a.
24
2.2.4 Processamento e Análise dos Dados
Para a análise de dados foi feita a média dos valores de cinco tentativas
válidas para cada criança. Uma vez que não houve diferenças significativas
entre os pés direito e esquerdo para as variáveis selecionadas, estes valores
foram agrupados para efeito do cálculo das médias, o mesmo já observado por
outros autores (BOSCH et al., (2007); LIU et al., (2005); BERTSCH et al.,
(2004); UNGER, ROSENBAUM, (2004)). Os valores médios foram comparados
e classificados de acordo com os percentis descritos no estudo de Bosch et al.
(2007), dado que não foram encontrados estudos nacionais que
estabelecessem referências de crescimento e desenvolvimento comparáveis.
Bosch et al. (2007) realizaram um estudo longitudinal com crianças que
foram acompanhadas desde a aquisição da marcha até o 48º mês de idade,
usando o mesmo método de medição do presente estudo. Esses
estabeleceram curvas de crescimento como referências para definir o
desenvolvimento da estrutura e da função dinâmica dos pés infantis.
25
2.3 Resultados
Na Tabela 1 estão apresentados os dados antropométricos e da
estrutura estática dos pés.
Tabela 1: Valores médios e desvios-padrão das características das crianças.
n = 25 Média
DP
Idade (meses) 41,76 ±8,29
Estatura (cm) 101,94 ±8,29
Massa corporal (kg) 16,87 ±1,8
Índice de massa Corporal – IMC Percentil < 85
Comprimento do pé sem os dedos (cm) 13,44
Largura do mediopé (cm) 6,15 ±0,56
Na Tabela 2 estão os resultados da classificação do arco plantar,
calculado pelo Índice Chipaux Smirak – ICS.
Tabela 2: Classificação do arco plantar - Índice Chipaux-Smirak (ICS).
Classificação Amostra ICS
n = 25
Normal 18% 0,22 (±0,07)
Rebaixado ou intermediário 16% 0,37 (±0,03)
Plano 66% 0,61 (±0,12)
Foi observado que das 25 crianças avaliadas a maioria possuía pés
considerados planos e somente 18% tinham pés com arco normal, de acordo
com o índice utilizado.
Na Tabela 3 estão os resultados das áreas de contato.
26
Tabela 3: Médias e desvios-padrão para Área de Contato durante a marcha
(AC) - [cm²].
N = 25
AC - Total 67,79 (±9,55)
AC – Retropé 15,78 (±1,90)
AC - Mediopé 15,83 (±4,50)
AC - Antepé 25,34 (±3,61)
AC - Hálux 5,66 (±0,80)
AC - Dedos 5,09 (±1,37)
Na Tabela 4 estão os resultados para os picos de pressão nas
respectivas áreas.
Tabela 4: Médias e desvios-padrão para o Pico de Pressão durante a marcha
(PP) - [kPa].
N = 25
PP - Total 278,55 (±60,39)
PP - Retropé 245,43 (±77,89)
PP - Mediopé 94,00 (±24,24)
PP - Antepé 153,44 (±33,28)
PP - Hálux 205,71 (±53,88)
PP - Dedos 95,09 (±40,63)
27
Na Tabela 5 estão os resultados para integral força-tempo.
Tabela 5: Médias e desvios-padrão para a Integral Força-Tempo (IFT) - [N.s].
n 25
IFT - Total 69,59 (±10,52)
IFT - retropé 24,82 (±5,57)
IFT - Mediopé 8,43 (±3,93)
IFT - Antepé 29,07 (±6,99)
IFT - Halux 7,05 (±2,57)
IFT - Dedos 2,58 (±1,68)
2.4 Discussão
Medidas de pressões plantares têm se tornado importantes para o
estabelecimento da função dos pés em situações dinâmicas como o andar. A
distribuição de pressão entre a sola dos pés e o chão tem fornecido
informações valiosas para a identificação de perfis fisiológicos e para a
avaliação de intervenções sobre patologias que afetam os pés e suas funções
de suporte e locomoção.
Idealmente, valores de referência deveriam estar disponíveis
nacionalmente para o julgamento dos resultados, a fim de se conhecer os
limites da normalidade e avaliar eventuais problemas que requeiram
intervenção. Porém, a discussão dos resultados do presente estudo será
baseada na comparação com os estudos desenvolvimentais de Bosch et al.
(2007) e Bosch et al. (2010), uma vez que não existe um estudo nacional
equivalente.
28
2.4.1 Índice do Arco
Observou-se que a maioria dos pés avaliados foram classificados como
planos, de acordo com o índice utilizado. Onodera et al. (2008) avaliaram
indivíduos de faixas etárias entre 3 e 10 anos e calcularam o índice do arco,
testando diferentes metodologias, a fim de identificar o melhor método de
cálculo do índice do arco em crianças. Foram testados os seguintes índices: 1)
Staheli; 2) pressão plantar de ângulo alfa; 3) Cavanagh e Rodgers; 4) Chipaux-
Smirak. As autoras concluíram que o índice Chipaux-Smirak (ICS) é o mais
apropriado para a avaliação da área do mediopé em crianças na faixa etária do
nosso estudo, pois possui cinco níveis de classificação, entre os quais três são
referentes à identificação de aplainamento do arco plantar e, assim, permite o
acompanhamento de mudanças sutis ao longo do crescimento.
Souza, João e Sacco (2007) também foram às escolas e avaliaram 156
crianças obesas com idades de 4 a 10 anos para a caracterização do arco
longitudinal medial. Os autores também concluíram que o índice Chipaux-
Smirak (ICS) foi o mais preciso para avaliar o arco longitudinal em crianças
obesas, pois permitiu identificar melhor o rebaixamento do arco. No entanto a
obesidade dessas crianças não permitem uma comparação com os resultados
do presente estudo.
Bertsch et al. (2004) avaliaram durante 12 meses um grupo de crianças
a partir da aquisição do andar independente. Com avaliações trimestrais
realizadas também pó meio da plataforma de pressão plantar, encontraram
uma diminuição do índice do arco ao longo do primeiro ano do andar
independente, indicando rápidas mudanças na estrutura dos pés em direção à
formação do arco plantar. Para a medida do arco plantar foi utilizado o índice
29
de Cavanagh e Rodgers (1987) que, comparado com o ICS, contém somente
três níveis de classificações e pode não ter sido tão sensível para a
identificação maiores diferenças na estrutura do arco plantar ao longo do
período avaliado.
Para o grupo de crianças deste estudo, que são mais jovens que as de
Souza, João e Sacco (2007) e mais velhas que as de Bertsch et al. (2004),
observou-se 66% de arcos plantares de tipo plano, o que pode indicar que o
processo de adequação de cargas ainda está em andamento para a maioria
das crianças, o que devem ser finalizado por volta dos 7 anos.
De acordo com Perry (2005) quando o índice do arco não se modifica ao
longo dos anos pode haver alongamento exagerado da fáscia plantar ou
mesmo enfraquecimento de estruturas como plantar longo e tibial anterior e
posterior, fibular longo, flexores e abdutor do hálux, flexor curto dos dedos e
fáscia plantar acarretando uma pronação excessiva do pé, desalinhamento a
articulação subtalar e levando a uma sobrecarga na região plantar. Assim o
acompanhamento do índice do arco é clinicamente importante nessa faixa
etária.
2.4.2 Largura do mediopé
Neste estudo foram encontrados valores médios para a largura de médio
pé de 6,15 cm (± 0,56) que, quando comparados aos resultados de Bosch e
colaboradores (2007) para a mesma faixa etária, os resultados encontram-se
no percentil 97. Assim, o resultado do grupo de crianças avaliado, que é
destacadamente alto para a faixa etária, pode estar relacionado com hábito da
30
utilização regular ou não de calçado e mesmo quanto ao tipo de calçado
utilizado (YUNG-HUI & WEI-HSIEN, 2005).
O aumento da largura do mediopé parece estar relacionado à obesidade
infantil (FILIPPIN, et al., 2007). Pois quanto maior o peso da criança, maior a
largura do mediopé. Quando crianças obesas entre 9 e 11 anos foram
comparadas a eutróficas, observou-se maiores larguras do mediopé para o
grupo de obesos, indicando maior contato nessa região plantar e sugerindo um
aplainamento do arco longitudinal medial.
2.4.3 Comprimento do pé sem os dedos
Valores médios para o comprimento do pé neste estudo foram de 13,44
cm (±0,83) e encontram-se no percentil 3 do estudo de Bosch et al. (2007) para
a mesma faixa etária. Assim, as crianças do presente estudo possuem pés de
comprimentos menores para a mesma faixa etária.
No entanto as crianças alemãs estuda por Bosch et al (2007)
apresentaram pés mais compridos e estreitos, comparadas às do presente
estudo que, para a mesma faixa etária, que apresentaram pés mais curtos e
largos. Diferenças étnicas e mesmo culturais podem explicar esse resultado.
Não se sabe se uma base de apoio menor em comprimento cria
dificuldades de controle de equilíbrio estático e mais instabilidade postural, pois
as medidas de oscilação ântero-posterior do centro de pressão são em geral
normalizadas pelo comprimento do pé (BARELA, POLASTRI, GODOI, 2000).
Apenas um estudo prospectivo poderia identificar se pés de menor
comprimento estão associados a limitações no controle do equilíbrio estático.
Por outro lado, o controle postural estático é regulado por diferentes
31
mecanismos proprioceptivo e exteroceptivos que poderiam compensar um
menor comprimento de pé, portanto, essa característica não deve ser crítica
nesse contexto.
Essa variável tem possivelmente implicações na fabricação de calçados
infantis. Apenas um estudo de âmbito nacional seria capaz de identificar as
reais necessidades quanto à numeração dos calçados infantis que poderiam
acomodar as rápidas mudanças de comprimento e largura que ocorrem na
primeira infância como, por exemplo, inserir meios números para o
comprimento do calçado e ainda medidas diferentes na largura dos calçados.
Isso certamente traria mais conforto e saúde, favorecendo a mobilidade dos
pés no período de crescimento.
2.4.4 Área de contato
A medida da área de contato dinâmica foi crescente desde o retropé,
seguidos pelo mediopé, até o antepé, com valores equivalentes aos
encontrados na literatura (BOSCH et al., 2007). Em termos relativos, a área do
mediopé das crianças deste estudo representou aproximadamente 23,4% da
área total do pé em contato com o solo e devem decrescer com a idade. Bosch,
Gerb e Rosenbaum (2010) mostraram que a área de contato do médiopé
decresce com a idade, sendo de 30% da área total do pé no início do andar
independente e de 18% ao nove anos. Por outro lado, as demais áreas de
contato do pé crescem com a idade. Os resultados deste estudo para a área de
contato do mediopé encontram-se entre os percentis 50 e 97 do estudo citado.
Bertsch et al. (2004) e Bosch et al. (2007) sugerem que a redução que ocorre
32
na área de contato no mediopé deve-se a mudanças estruturais em direção à
formação do arco longitudinal medial.
2.4.5 Pico de pressão
Os maiores picos no retropé, seguidos do antepé e hálux encontrados
nesse estudo correspondem às mudanças esperadas que ocorrem durante o
rolamento do pé na fase de apoio da marcha (BOSCH et al., 2010). Bosch et al.
(2010) observaram que nos três primeiros meses do andar independente as
maiores pressões ocorrem no hálux e gradualmente estas pressões elevadas
migram para as regiões do retropé e antepé.
Quanto aos valores de pico de pressão na área total do pé, os autores
citados observaram aumento gradual desde o início do andar independente até
os nove anos de idade (BOSCH et al., 2010). Para as diferentes áreas
plantares também foi observado o crescimento gradual dos picos de pressão
ao longo dos dez primeiros anos de vida. Na região do mediopé, os picos de
pressão deste estudo são próximos ao percentil 97 dos estudos de Bosch et al.
(2007; 2010) para a mesa faixa etária, sugerindo valores mais elevados de
cargas nessa região do que o esperado para a idade.
De acordo com os autores citados esperava- se que os maiores picos de
pressão fossem na região do retropé que realiza a recepção de carga, bem
como na região do antepé durante a propulsão da marcha. Os valores elevados
para os picos de pressão no mediopé encontrados neste estudo sugerem que o
rolamento do pé talvez ainda não ocorra de maneira adequada quanto a
distribuição de carga nas regiões plantares.
33
Unger e Rosenbaum (2004) avaliaram diferenças nas funções dinâmicas
dos pés que pudessem estar relacionadas ao sexo em crianças a partir do
primeiro ano do andar independente. Constataram que há uma redução
gradual dos picos de pressão e que meninas apresentam em média menores
picos de pressão no mediopé do que meninos. Por outro lado, os meninos
apresentaram maiores picos de pressão na área do retropé, o que sugere que
estes tendem a ter um processo mais longo de desenvolvimento da função
dinâmica dos pés.
Este estudo não comparou os resultados por sexo, em virtude do
pequeno número de crianças participantes, porém a discussão quanto ao sexo
pode ser útil e revelar que meninos devem ser avaliados por um período maior
de tempo, já que o desenvolvimento de meninos é mais lento comparado ao
das meninas.
Comparando os resultados de área do mediopé e pico de pressão na
mesma área com o encontrado na literatura, pode-se considerar que os arcos
plantares das crianças do presente estudo não estejam completamente
formados, resultando em possíveis limitações na funcionalidade do rolamento
do pé durante a fase de apoio.
2.4.6 Integral força-tempo
Os resultados para a integral força-tempo (IFT) mostraram que o
processo do rolamento do pé encontra-se em pleno desenvolvimento, pois a
região do antepé apresentou os maiores valores entre as áreas. Para a região
do antepé, os valores de integral força-tempo deste estudo encontram-se
abaixo do percentil terceiro para a mesma idade do estudo de Bosch et al.
34
(2007). Modificações no rolamento do pé afetam as demais fases da marcha,
provocando alterações cinemáticas como consequência, tais como maiores
flexões de joelho, menores dorsiflexões de tornozelos e força propulsiva, além
de passo de menor amplitude (PERRY, 2005).
Para a região do mediopé os valores encontram-se entre os percentis 50
e 97, variando portanto de um perfil adequado até muito elevado para a idade.
(BOSCH et al. 2007).
Bosch et al. (2007) observaram que as principais mudanças na IFT na
região do antepé em direção ao aperfeiçoamento da função de rolamento do pé
ocorrem entre o terceiro e sexto mês do andar independente, havendo 25% de
aumento nessa variável durante esse período.
Bertsch et al. (2004), por sua vez, observaram que no primeiro ano do
andar independente ocorre um aumento na IFT do hálux de 2% e do antepé de
aproximadamente 13% e com redução proporcional no mediopé. Liu et al.
(2005) encontraram valores de IFT para o antepé duas vezes maiores que no
retropé em crianças de 6 a 16 anos. Esses resultados evidenciam a
transferência de carga que ocorre do mediopé para o antepé com o
desenvolvimento da marcha. Portanto, os resultados da integral força-tempo do
presente estudo indicam que ainda há mudanças a acontecer na função
dinâmica dos pés das crianças participantes, em direção ao desenvolvimento
da função do antepé e hálux na propulsão.
A busca por referências para a comparação destes resultados revelou a
inexistência de estudos longitudinais sobre o desenvolvimento da estrutura e
da função dinâmica dos pés da população infantil brasileira. Nesse sentido, a
comparação não leva em conta aspectos étnicos e culturais que poderiam
35
influenciar as variáveis estudadas. Outras limitações dizem respeito à pequena
amostra que não permite generalizar os resultados e ao caráter transversal que
impossibilita compreender o desenvolvimento dos pés como processo, mas
apenas identificar o perfil das crianças avaliadas.
A obtenção de dados normativos para a população brasileira requer
amostras grandes de pés saudáveis e a dificuldade para se obtê-los se deve a
diversos fatores, tais como as diferenças entre os sistemas de medição, os
protocolos de medição, as características das populações, regiões estudadas,
o que dificulta a comparação de dados e a verificação da condição normal
nesse estudo. Portanto, apenas estudos que empregaram a mesma
metodologia foram utilizados para efeito de comparação.
2.5 Conclusão
De maneira geral, as comparações feitas permitem classificar o perfil
estrutural e dinâmico dos pés do grupo de crianças avaliadas e, sendo assim, é
possível afirmar que os resultados encontrados evidenciam que há aspectos da
estrutura e da função dos pés que ainda não estão plenamente desenvolvidos
para a idade, tais como pés planos e altas pressões na região do médiopé.
Idealmente, esses aspectos deveriam ser acompanhados e avaliados com
regularidade. A falta de estudos nacionais como padrão de referencia para a
população infantil limita a abrangência das conclusões desse estudo.
36
3. ESTUDO II
ESTUDO DO CONTATO INICIAL DO PÉ AO SOLO NA MARCHA
DE CRIANÇAS COM SÍNDROME DE DOWN
Resumo
O presente estudo tem por objetivo descrever o apoio inicial do pé na marcha
de crianças com Síndrome de Down e de crianças típicas através de forças de
reação ao solo e da cinemática do contanto inicial do pé ao solo, a fim de
avaliar se há alterações na forma deste contato que possam prejudicar a
propulsão da marcha. Os resultados preliminares demonstraram que para os
grupos estudados não houve diferenças na maioria das variáveis selecionadas,
exceto uma redução na fase propulsiva da força de reação horizontal para as
crianças com Síndrome de Down, além desta também apresentarem menor
amplitude de dorsiflexão de tornozelo no início do contato.
Palavras- chaves: Força de reação ao solo, andar, Síndrome de Down.
37
Abstract
The purpose of the present study is to describe the foot strike pattern during
walking in a group of typical children and one with Down Syndrom. Ground
reaction forces were measured in order to identify whether there are propulsion
deficits in children with Down Syndrom. The preliminary results indicate no
differences between both groups in the most of the selected variables. One
exception was found for the propulsion phase of the horizontal reaction force
that was reduced in the group with Down Syndrom, which also showed reduced
dorsilfexion of the ankle joint at foot strike compared to the typical group.
Key words: Ground reaction forces, walking, Down Syndrom,
38
3.1 Introdução
O andar independente ocorre por volta dos 12 meses de idade em
crianças sem desordens neuro-motoras. Nas crianças com Síndrome de Down
ocorre um atraso no desenvolvimento neuropsicomotor que afeta a idade de
aquisição da marcha independente que ocorre por volta dos 2 anos de idade
(ARAUJO, SCARTEZINI, KREBS, 2007).
As primeiras tentativas do andar independente caracterizam-se por uma
marcha com base larga de apoio, pés em rotação lateral e joelhos levemente
flexionados. Concomitantemente, a formação da estrutura dos pés e seu
desenvolvimento também são influenciados pela idade de adoção da postura
ereta e do início da marcha independente (NIETHARD, 1997).
No andar, os pés exercem papeis fundamentais, tais como: suporte de
peso, assimilação de cargas durante os impactos com o solo, geração e
transmissão de força propulsiva, além de estabelecerem a interação com o
terreno, a fim de corrigir o equilíbrio e a postura bípede, avaliando
irregularidades do solo (ONODERA et al 2008; IVANENKO, DOMINICI,
LACQUANITI, 2007.).
De maneira geral, pés e suas superfícies plantares, além de
promoverem os movimentos locomotores adequados (EILIS, et al, 2004),
exercem papel muito importante na propriocepção, determinando a orientação
corporal e especificando condições de suporte, complementarmente a outros
sistemas como o visual e o vestibular (ROLL, KAVOUNOUDIAS, ROLL, 2002).
Além disso, mudanças desenvolvimentais nas funções dinâmicas dos pés
provavelmente contribuem para a aquisição da marcha (ROSENBAUM, et al.
39
2005), pois tais funções também respondem ao campo gravitacional e às
forças reativas do ambiente.
Uma vez que o segmento do pé é o primeiro elemento receptor de
impacto no andar (HALLEMANS et al., 2006) e aquele que proporciona a
interação com o ambiente, a já conhecida incidência de pés planos em crianças
com Síndrome de Down (SOARES, LEMOS, BARROS, 2003) pode ser vista
como fator que potencialmente limite o desenvolvimento da função da marcha
nestas crianças.
Nesse contexto da função dos pés, um dos eventos mais críticos no
andar é o contato inicial com o solo que no padrão maduro é realizado pelo
calcanhar. Porém, patologias neuromotoras ou ortopédicas limitam essa forma
de contato e muitas vezes afetam os demais eventos de aplainamento do pé,
apoio plantar total, retirada do calcanhar e dos dedos (PERRY, 2005),
fundamentais para a função bem sucedida da marcha. Se alterada a amplitude
de movimento do tornozelo durante o contato inicial da marcha, pode haver
dificuldades nas fases subsequentes de movimento, comprometendo toda a
função de absorção de impactos e propulsão do passo.
A fisioterapia é iniciada precocemente em crianças com Síndrome de
Down (SD), porém é bem conhecido que quando estas adquirem o andar,
geralmente o tratamento é interrompido. As características próprias do andar
de crianças com SD, tais como a base de apoio alargada, déficits no equilíbrio
e na coordenação dos movimentos, já foram descritas e avaliadas através de
instrumentos qualitativos (ARAUJO, SCARTEZINI, KREBS, 2007; REZENDE,
40
BETELI, SANTOS, 2005), porém estas podem ser quantificadas através da
dinamometria e cinemetria.
Assim, o objetivo do presente estudo é descrever a cinética e cinemática
do apoio inicial ao solo através de forças de reação do solo durante o andar de
crianças com Síndrome de Down, a fim de avaliar se há irregularidades nesse
apoio ou se esse evento ocorre de maneira diversa da de crianças típicas de
mesmo grau de desenvolvimento da marcha.
3.2 Material e métodos
O presente estudo pretende quantificar variáveis biomecânicas que
descrevem o apoio inicial do andar de crianças com Síndrome de Down. Para
tanto, serão empregados os métodos da dinamometria e da cinemetria.
3.2.1 Participantes
Participaram do estudo 13 crianças típicas com idades 3 anos e 9 meses
(±1,0 ano) e 11 crianças com Síndrome de Down (trissomia 21) com idades 4
anos e 1 mês (±0,9 ano) (Tabela 6). As crianças típicas tiveram como critérios
de inclusão a ausência de desordens neuromotoras ou ortopédicas. Foram
incluídas as crianças com Síndrome de Down que compreendiam os comandos
verbais necessários aos procedimentos experimentais e que já andavam
independentemente há dois anos, a fim de poderem ser comparadas às típicas
quanto à experiência com a marcha.
Os participantes foram selecionados através do contato com instituições
pré-escolares e unidades de reabilitação em intervenção precoce do município
41
de São Carlos. O projeto foi previamente aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa com Seres Humanos da Universidade (protocolo n°443/2010),
(Apêndice B). Os pais voluntários foram previamente informados e esclarecidos
a respeito dos objetivos desta pesquisa, sobre o protocolo experimental e os
riscos mínimos de desconforto, tropeços, quedas. Em caso de aceitação plena,
os responsáveis assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(Apêndice C) para a participação desta pesquisa, autorizando a aplicação do
protocolo experimental proposto para este estudo (Apêndice E-F).
3.2.2 Procedimentos
As resultantes das forças de reação do solo representam a soma
algébrica da aceleração da massa de todos os segmentos corporais (WINTER,
1991). Seus comportamentos dinâmicos são importantes descritores do padrão
do andar e serão úteis para a comparação da forma da interação como solo
das crianças com Síndrome de Down e típicas.
O método da dinamometria foi usado para a aquisição das forças de
reação do solo (FRS). Duas plataformas de força da marca Bertec (BERTEC
Corporation - modelo 4060-08) dispostas em série sobre uma passarela
antiderrapante de cinco metros de comprimento foram utilizadas. Após o
procedimento de calibração das plataformas, os dados foram amostrados a
uma frequência de 100 Hz. Os dados da plataforma de força foram filtrados
com filtro digital Butterworth de quarta ordem, com frequência de corte entre 3 -
5 Hz e normalizados pelo respectivo peso corporal do participante e pelo tempo
total de apoio.
42
As magnitudes das forças de reação do solo em suas componentes
ortogonais (Fz = vertical e Fy = ântero-posterior) e respectivos cursos
temporais e impulsos foram mensurados durante as fases de apoio do andar.
A fim de caracterizar a forma com que cada criança realiza o contato
inicial com o solo durante o andar, foi utilizada uma câmera digital (Sony XDR-
XR150) para a descrição no plano sagital da projeção do ângulo formado entre
os segmentos perna e pé. Estes segmentos são considerados corpos rígidos e
foram definidos por marcadores refletivos aderidos por fita dupla face no
trocânter maior, linha interarticular do joelho, maléolo lateral e cabeça do quinto
metatarso, unilateralmente (Figura 3). Mas só foram utilizados os marcadores
da linha articular do joelho calcâneo e 5° metatársico. A câmera tem frequência
de amostragem de 60 Hz.
Figura 3: Marcadores refletíveis
Através da cinemetria planar foi quantificado o ângulo entre os
segmentos perna e pé no instante do primeiro contato com o solo no andar.
43
Três tentativas bem sucedidas em que cada criança apoiava sobre a
plataforma de força foram utilizadas para análise. Essas tentativas foram
carregadas no software Kinovea – 0.8.15 (http://www.kinovea.org/en/), e por
meio desse programa foram selecionados os instantes do primeiro contato do
pé direito com o solo. Todos os contatos selecionados pertenciam ao ciclo da
marcha em que a criança passava pelas plataformas de força, localizadas no
meio da passarela. Em seguida, foram identificados os marcadores refletivos e
formada a geometria do apoio, através da projeção de um ângulo no plano da
imagem, cujo vértice é o ponto anatômico do maléolo lateral e as semi-retas
são os pontos anatômicos do quinto metatarso e da linha articular do joelho
(Figura 4).
Criança Típica
Criança com Síndrome de Down
Figura 4: Medição do ângulo entre os segmentos pé–perna no contato inicial com o solo.
As caracterizações antropométricas das crianças foram feitas com uma
trena específica para medida dos comprimentos dos membros inferiores. A
44
massa corporal foi aferida através de balança digital e a estatura através de
medida direta com estadiômetro.
3.2.3 Protocolo experimental
Foram retiradas quatro crianças com SD das análises de dados por
terem apresentado dificuldade em realizar a tarefa solicitada ou por terem
passo de amplitude pequena demais para as dimensões da plataforma de
força, assim apenas 7 crianças concluíram o protocolo experimental.
O protocolo experimental consistiu de um questionário de anamnese que
foi respondido pelos pais ou responsáveis (Apêndice D). Em seguida, foram
realizadas as medidas antropométricas e o registro em vídeo de toda a coleta
de dados do andar com passagens sobre a plataforma de força.
Antes do início das coletas de dados, as crianças eram vestidas com
shorts de lycra preto e posteriormente eram colocados o marcadores. Em
seguida eram estimuladas a realizar o andar sobre a passarela no laboratório
com a finalidade de se adaptar às condições de testes. Após esse período de
habituação, foram consideradas tentativas válidas aquelas em que a criança
pisava somente com um dos pés sobre uma das plataformas de força. Foram
coletadas no mínimo três tentativas válidas de apoio sobre a plataforma para
cada criança, nos pés direito e esquerdo. Ao final da coleta era mensurados os
dados antropométricos. A velocidade de deslocamento foi auto-selecionada
pelas crianças e o tempo de apoio sobre a plataforma usado para a estimativa
da velocidade média empregada por cada criança. A duração de cada sessão
de coleta de dados foi de aproximadamente 50 minutos.
45
3.2.4 Processamento dos dados
Para as forças de reação do solo, o primeiro pico da componente vertical
descreve o toque inicial ao solo e é definido aqui como Fz1. O valor mínimo
desta componente corresponde a Fz2 e o segundo pico, que coincide com a
retirada do pé do solo, como Fz3 (Figura 1 (a)). Similarmente para a
componente ântero-posterior, Fy1 é força de reação posterior máxima, na fase
de frenagem, quando o calcanhar toca o solo e Fy2 é a força de reação anterior
máxima que ocorre na fase de propulsão (Figura 5 (b)).
As magnitudes das forças de reação foram normalizadas pelo peso
corporal e a duração das tentativas pelo tempo de apoio. Os parâmetros
temporais correspondentes às variáveis da força de reação foram definidos
como tz1, tz2, tz3 (direção vertical) e ty1, ty2 (direção horizontal ântero-
posterior) (Figura 5 (a) e (b)).
a) b)
Figura 5: Representação gráfica do comportamento das componentes vertical (a) e horizontal
(b) da FRS (LEVADA & LOBO DA COSTA, 2012).
46
Para o comportamento cinético foi calculada a variabilidade das curvas
das forças de reação do solo através do coeficiente de variação (CV), calculado
entre as tentativas individuais para cada sujeito de acordo com Winter (1991).
Os dados foram processados pelo programa Origin 8.1 (OriginLab Corporation,
USA). O tratamento estatístico foi realizado pelo programa SigmaPlot v.12
(Microsoft, USA). Após verificada a normalidade dos dados por meio do teste
de Shapiro-Wilk, utilizou- se o teste Teste-T para amostras independentes para
a variável da força vertical e para as demais variáveis foi utilizado o teste de
Mann-Whitney, devido à distribuição aleatória dos dados. O nível de
significância utilizado foi de 5%, a fim de identificar diferenças significativas
entre os grupos.
3.3 Resultados
As Tabelas 6 e 7, abaixo, apresentam a caracterização dos participantes
deste estudo, com idade, estatura, massa e a experiência com o andar
independente, respectivamente. Esta última foi informada na anamnese
preenchida pelos pais.
Tabela 6: Dados antropométricos
Típicas Síndrome Down
Idade (anos) 4 (±1,1) 4 (±0,9)
Estatura (m) 1,1 (±0,02) 1,00 (±0,07)
Massa (kg) 20,1 (±5,49) 17.7 (±3,4)
n 13 7
47
Tabela 7: Tempo de aquisição do andar independente (em meses) de cada
criança.
T = para criança típica e SD = para criança com Síndrome de Down.
Sujeito Sexo Idade cronológica
(meses) Tempo de aquisição
do andar (meses)
T1 Masculino 41 29
T2 Feminino 47 35
T3 Masculino 50 38
T4 Feminino 52 40
T5 Feminino 62 50
T6 Masculino 47 33
T7 Feminino 53 43
T8 Feminino 50 38
T9 Masculino 44 32
T10 Masculino 43 31
T11 Feminino 75 64
T12 Masculino 37 26
T13 Masculino 45 33
n = 13 Média
49,7 37,8
Desvio padrão
(±9,8) (±10,1)
SD1 Masculino 73 59
SD2 Masculino 51 27
SD3 Masculino 47 23
SD4 Masculino 53 33
SD5 Feminino 38 18
SD6 Feminino 66 42
SD7 Masculino 49 26
n= 7 Média
53,9 32,6
Desvio padrão (±11,9) (±13,9)
3.3.1 Variáveis Discretas
A Tabela 8 apresenta os valores médios e os desvios-padrão de
variáveis selecionadas das forças de reação do solo em suas componentes
vertical e anteroposterior para ambos os grupos.
48
Tabela 8: Valores médios (desvios-padrão) das variáveis discretas das
forças de reação do solo, normalizadas pelo peso corporal.
Componentes da FRS GT (%PC) GSD (%PC) p-valor
Fz1 118,67 (±7,80) 129,12(±7,99) 0,156
Fz2 71,46(±5,75) 83,91(±2,33) 0,029*
Fz3 105,39(±12,08) 105,98(±2,56) 0,95
Fy1 15,04(±10,09) 12,92(±3,9) 0,342
Fy2 22,26(±14,62) 13,40(±2,04) 0,235
n 13 7
*p ≤ 5%
GT: Grupos típicos
GSD: Grupo Síndrome de Down
A tabela 9 apresenta os valores médios e os desvios-padrão dos
parâmetros temporais das FRS em porcentagem do tempo total de apoio para
ambos os grupos.
Tabela 9: Valores médios (desvio-padrão) dos parâmetros temporais,
normalizados pela porcentagem da fase de apoio.
Componente da FRS GT (% apoio) GSD (%apoio) Valor p
Tz1 28,07(±2,90) 30,22(±1,54) 0,263
Tz2 48,26(±3,89) 48,2(±2,39) 0,976
Tz3 68,59(±1,51) 67,33(±0,47) 0,755
Ty1 24,53 (±8,75) 29,24(±3,25) 0,526
Ty2 74,71(±5,21) 69,88(±3,51) 0,042* Duração da fase de
apoio (s) 0,68(±0,07) 0,64(±0,03) 0,48
n 13 7
*p ≤ 5%
49
3.3.2 Comportamento cinético das forças de reação ao solo
As observações do comportamento da curva permitem verificar se há
diferenças no padrão das forças de reação do solo e, assim, na interação do
indivíduo com o ambiente durante o andar.
As Figuras 6 e 7 exemplificam as curvas médias (± desvios- padrão)
para as componentes vertical e ântero-posterior, respectivamente, da força de
reação do solo do grupo de crianças Típicas e Síndrome de Down.
0 25 50 75 100
0
25
50
75
100
125
150
Co
mp
on
en
te V
ert
ica
l (n
orm
aliz
ad
a p
elo
PC
)
Tempo de Apoio %
Andar -GT
0 25 50 75 100
0
25
50
75
100
125
150
Co
mp
on
en
te V
ert
ica
l (n
orm
aliza
da
pe
lo P
C)
Tempo de Apoio %
Andar - GSD
Figura 6: Curvas médias (± desvios-padrão) para a componente vertical (normalizada pelo
peso corporal) da FRS para o grupo típico (GT, em preto) e o Grupo com Síndrome de Down
(SD, em verde).
50
0 25 50 75 100
-20
-10
0
10
20
Co
mp
on
en
te â
nte
ro-p
oste
rio
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orm
aliz
ad
a p
elo
PC
)
Tempo de Apoio %
Andar - GT
0 25 50 75 100
-20
-10
0
10
20
Co
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on
en
te â
nte
ro-p
oste
rio
r (n
orm
aliz
ad
a p
elo
PC
)
Tempo de Apoio %
Andar - GSD
Figura 7: Curvas médias (± desvios-padrão) para a componente ântero-posterior (normalizada
pelo peso corporal) da FRS para o grupo típico (GT, em preto) e o Grupo com Síndrome de
Down (SD, em verde).
A Tabela 10 apresenta valores médios dos coeficientes de variação para
as componentes vertical e ântero-posterior nos dois grupos. Foi calculada a
variabilidade entre as tentativas de cada sujeito e feita a média de todos os
sujeitos dentro dos grupos.
Tabela 10: Valores médios dos coeficientes de Variação (CV) para as curvas
da componente vertical (Fz) e da componente ântero-posterior (Fy).
Coeficiente de Variação (%)
CV das Componentes GT GSD
p-valor
vertical 7,2 (±5,5) 17,2 (±17,6) 0,772
ântero-posterior 62,7 (±25,3) 63,3 (±11,5) 0,615
N 13 7
*p ≤ 5%
A variabilidade das componentes ântero-posterior e vertical não foi
estatisticamente diferente entre os grupos, porém nota-se que a uma tendência
para valores maiores para a componente vertical do grupo de crianças com
Síndrome de Down.
51
3.3.3 Ângulo do Segmento Pé-Perna
Os ângulos foram medidos através de um software para análise
qualitativa do movimento humano, de acesso livre, já mencionado.
Tabela 11: Projeção do ângulo do segmento perna-pé do grupo de crianças
típicas (GT) e com Síndrome de Down (SD).
Segmento Pé-Perna GT GSD p-valor
(projeção do ângulo em graus) 120,13 (±14,14) 146,24 (±5,43) 0,001*
n 13 7 *p ≤ 5%
O ângulo entre os segmentos perna e pé na posição neutra é de 90°. No
presente estudo caracterizamos a presença de uma dorsiflexão de tornozelo
uma diminuição do ângulo na posição neutra e sempre que aumentar ocorre
uma flexão-plantar de tornozelo.
Os resultados indicam que as crianças estudadas do grupo com SD
realizam o contato inicial com o solo com maiores flexões-plantares,
caracterizando um apoio inicial realizado pelo antepé e ou pontas dos dedos
(PERRY, 2005; SUTHERLAND 1999). Tais desvios causados pela posição do
pé podem afetar todo o curso da fase de apoio e, consequentemente, a
produção de propulsão a cada ciclo.
No entanto, este resultado precisa ser avaliado com cautela, pois trata-
se de uma medida feita no plano da imagem, além disso, não podemos
discorrer sobre o comportamento do complexo perna-pé, pois não temos as
variações desse ângulo ao longo do tempo de apoio. Por outro lado, esse dado
preliminar nos estimula a continuar medindo esse comportamento através da
cinemetria tridimensional, pelo software DVIDEOW (FIGUEIROA et al., 2003).
52
3.4 Discussão
O presente estudo descreveu as curvas de força de reação ao solo
vertical e ântero-posterior da fase de apoio durante o andar e observou a
angulação pé –perna no primeiro contato com o solo de crianças com síndrome
de down e típicas.
O andar é caracterizado por uma sequência regular de movimentos,
adaptável e aparentemente simples, fundamental para a interação de crianças
com o ambiente e a promoção dos desenvolvimentos motor, social e cognitivo
(BARROSO, WU, ULRICH, 2007).
Atualmente, aceita-se que o desenvolvimento de padrões mais
coordenados de marcha em crianças ocorra à medida que o sistema neuro-
músculo-esquelético responde às experiências no contexto funcional e às
mudanças nas propriedades biomecânicas intrínsecas do organismo (THELEN,
1986). Essa abordagem integrativa teve início com os estudos de Bernstein
(1967), que considerava que a estrutura dos movimentos humanos voluntários
só poderia ser descrita e compreendida pela interação complexa entre
elementos dos domínios da fisiologia, anatomia e mecânica. O presente estudo
optou por quantificar variáveis que descrevem o evento da marcha que gera a
interface entre o organismo e o ambiente: o contato inicial com o solo.
As crianças com Síndrome de Down apresentam deficiência física
associada a doenças musculoesqueléticas, frouxidão ligamentar, hipotonia
muscular generalizada, atraso no desenvolvimento neuropsicomotor com
aquisição tardia de marcos motores (ARAUJO, SCARTEZINI, KREBS, 2007;
PAU et al. 2012; GALLI et al, 2008). Além disso, dificuldades de equilíbrio,
53
mobilidade, deformidades de joelhos e pés afetam 30% dessas crianças (PAU
et al. 2012). Tais fatores podem também contribuir para o atraso na aquisição
do andar independente e fazer com que o padrão de marcha dessas crianças
apresente características atípicas até os cinco anos de idade (BARROSO, WU,
ULRICH, 2007).
No andar infantil o aumento da flexão do joelho no contato inicial e
mudanças no padrão de movimento do tornozelo já são reconhecidos como
fatores que limitam o rolamento do pé na fase de apoio (PARKER BRONKS,
1980). Além disso, a forma de se realizar esse apoio pode ser irregular,
ocorrendo em alguns passos com o calcanhar, em outros com a área plantar
total e mesmo com as pontas dos pés (HALLEMANS et al , 2006). Quando
crianças que apresentem ambos os comportamentos não são estimuladas
adequadamente, esse quadro se prolonga e pode gerar futuras consequências
posturais e mais atrasos motores (RIGOLDI, GALLI, ALBERTINI, 2011).
Recentemente, Pau et al. (2012) avaliaram comparativamente as
pressões plantares durante o andar de 99 crianças saudáveis e 99 com SD. Os
resultados evidenciaram maior pressão na área do mediopé e antepé das
crianças com SD na fase de contato inicial do andar, fato que confirma a
diferença na geometria do apoio inicial das crianças SD. Ainda relataram esses
autores que com o passar do tempo e descontinuidade da intervenção houve
um aumento ainda maior da área de pressão no mediopé, demonstrando uma
clara tendência a prejuízos ainda maiores à função da marcha, podendo
desencadear problemas posturais e mesmo artroses futuras.
54
Galli et al. (2008) observaram aumento da flexão de joelho e flexão
plantar no contato inicial da marcha em crianças de 6 a 15 anos com SD.
Esses autores atribuíram essas características a insuficiência de extensores de
tornozelo gerando instabilidade no apoio dos pés com consequente diminuição
do passo e da velocidade. Da mesma maneira as crianças com SD do presente
estudo apresentaram maiores flexões plantares no contato inicial do que as
típicas. Adicionalmente menores valores para a fase propulsiva da componente
horizontal da força de reação do solo, para as crianças com SD estão de
acordo com a noção de perda de propulsão por provável insuficiência dos
extensores.
Podemos destacar em nossos resultados que as crianças com SD
apresentaram maior flexão-plantar de tornozelo no contato inicial, o que já foi
evidenciado por Galli et al (2008). Adicionalmente, observamos uma diminuição
da força de reação na fase de propulsão, fato ainda não relatado pela literatura
especializada, que seja de nosso conhecimento. É importante destacar que
apenas um sistema de pressões plantares, poderia confirmar como ocorre o
rolamento do pé na fase de apoio do andar de crianças SD. Idealmente, este
deveria ser associado à plataforma de força e ao processamento de imagens
para se obter uma descrição precisa e completa desse evento do ciclo doa
marcha.
Apesar de apresentarmos no momento apenas resultados preliminares
quanto ao comportamento dos segmentos perna e pé, avaliamos que o déficit
de amplitude articular de tornozelo no início do apoio possa estar relacionado
com a redução propulsiva ao final do apoio. Adicionalmente, podemos supor
55
que a diminuição para o tempo necessário até o pico propulsivo da
componente horizontal observada no presente estudo (dada pelo tempo de
apoio para atingir a Fy2, Tabela 8) também pode estar relacionado à
diminuição do impulso para a propulsão.
Assim, o interesse clínico em identificar fatores de alterações, tanto na
funcionalidade do pé, quanto no padrão da marcha pode promover uma
intervenção fisioterápica específica, a fim não apenas de alcançar metas
desenvolvimentais, mas também buscar o alinhamento biomecânico, evitando
distúrbios futuros.Portanto, optamos por comparar as crianças com Síndrome
de Down com crianças típicas, semelhantes quanto ao tempo de experiência
com a marcha independente.
3.5 Conclusão
Apesar das limitações do presente estudo, os resultados parciais
mostraram que mesmo que a cinética do padrão da marcha de crianças com
Síndrome de Down seja típica, No entanto o contato inicial do solo visto pela
cinemática demonstra alteração deste primeiro contato do pé com o solo assim,
podendo haver prejuízos propulsivos que precisam ser melhor investigados,
cujas consequências precisariam ser levados em conta em contextos clínicos.
Os resultados parciais evidenciaram semelhanças no padrão das forças de
reação ao solo da marcha entre os grupos, no entanto o contato inicial do pé
com o solo evidenciou maiores flexões plantares para o grupo com síndrome
de down, que pode resultar em prejuízos propulsivos.
56
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64
5. Apêndices
65
Apêndice A: Comitê de ética
66
Apêndice B : Comitê de ética
67
68
Apêndice C – Termo de Consentimento
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Nome do Projeto: ESTUDO DO DESENVOLVIMENTO DA MARCHA EM
CRIANÇAS COM SÍNDROME DE DOWN
O objetivo desse estudo é verificar as mudanças na forma do andar, à medida
que as crianças aprendem a andar sozinhas. A tarefa a ser realizada pela criança será
caminhar sobre uma passarela no laboratório e, ao longo do caminho, que será livre de
qualquer forma de obstáculo, as crianças deverão pisar sobre uma placa fixa no chão e
ao nível do solo. Nesse trajeto, todos os cuidados para que não haja quedas ou tropeços
serão tomados rigorosamente. Imagens de vídeo serão tomadas ao mesmo tempo, e,
para tanto, serão fixados seis pequenos marcadores de isopor nos membros inferiores.
Na ocorrência de qualquer tipo de desconforto apresentado pela criança em qualquer
momento da coleta de dados, esta poderá ser dispensada sem nenhuma restrição. E, caso
ocorra desistência, não haverá prejuízo para o participante e para o pesquisador.
A participação na realização desse projeto torna-se importante, pois os
resultados obtidos poderão ajudar a elaborar protocolos de reabilitação motora mais
adequados às crianças com Síndrome de Down. É importante ressaltar que ao aceitar
participar do presente projeto, todos os dados obtidos serão mantidos em completo
sigilo e somente poderão ser utilizados para fins científicos, resguardando assim, sua
privacidade.
Todos os procedimentos de avaliação serão conduzidos por um profissional
experiente, garantindo sua integridade física e moral. As crianças que participarão do
projeto deverão estar acompanhas pelos pais ou responsáveis durante todo o período de
coleta de dados no laboratório.
69
Uma cópia desse termo será entregue a você, juntamente com o telefone e
endereço do pesquisador principal, tornando viáveis quando necessários
esclarecimentos das dúvidas sobre o projeto e sua participação, agora ou em qualquer
momento.
______________________________________________
Kelli Cristina de Castro (Aluna-pesquisadora)
Rua: Dr. Alderico Vieira Perdigão, 1015 Bairro: Jardim Cruzeiro do Sul
Telefone: (16) 33519573 / (16) 97129953
Profª Drª Paula Hentschel Lobo da Costa (Pesquisadora responsável) Docente do
Departamento de Educação Física e Motricidade Humana
Telefone: (16) 33518774
70
CONSENTIMENTO FORMAL PARA PARTICIPAÇÃO EM PROJETO DE
PESQUISA.
Eu, ___________________________________________________________________,
responsável pelo menor ___________________________________________________
Portadora do RG _____________________________________, residente à
______________________________________________________________________,
bairro _________________________________na cidade de ____________________,
estado _________ telefone__________________.
Autorizo a participação de meu (minha) filho (a) no projeto. Após
esclarecimentos por parte da pesquisadora, tenho pleno conhecimento dos
procedimentos a serem utilizados, da relevância desse estudo e de que meu (minha)
filho (a) não sofrerá qualquer dano físico, psíquico, moral ou social. Além disso, terei
total liberdade de abandonar a pesquisa caso não concorde com algum procedimento ou
se assim desejar. Permito que toda a avaliação seja filmada e que esses dados possam
ser utilizados para divulgação científica, respeitando o código de ética da instituição,
com garantia de que meu (minha) filho (a) não será identificado(a) em hipótese alguma.
Declaro que li e entendi todas as informações contidas neste documento.
São Carlos, ___________de ______________2010.
______________________________
Assinatura do Responsável
71
Apêndice D - Questionário de Anamnese
Questionário de Anamnese
Nome:
Endereço:
Telefone de Contato:
Nome do Responsável:
Idade do Responsável: Profissão do Responsável:
Idade: Data de Nascimento:
Peso: Estatura:
Data da Coleta:
Dados Valores em Centímetros
Comprimento Membro Inferior Direito
Comprimento Membro Inferior Esquerdo
Distância entre as Espinhas Iliacas
Comprimento do Pé Esquerdo
Largura do Pé Esquerdo
Comprimento do Pé Direito
Largura do Pé Direito
Questões Resposta
Idade Gestacional
Tipo de Parto
Intercorrências durante a gestação
Peso ao Nascimento (kg)
Altura do Nascimento (cm)
Intercorrências após a gestação
Faz o uso de algum medicamento
Alimentação
Idade que sentou pela primeira vez
Idade que começou a andar com apoio
Idade que começou a andar sem apoio
Observações
DADOS DO SUJEITO
DADOS ANTROPOMÉTRICOS
ANAMINESE
72
Apêndice E – Protocolo Dinamometria
Protocolo de Avaliação “Dinamometria”
Nome:
Idade: Data da Coleta:
Peso:
Atividade Realizada: Gait
Tentativa Plataforma 1 Plataforma 2 Sentido do
Movimento
Validade Observação
01 Plat1Plat2
02 Plat1Plat2
03 Plat1Plat2
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20
Dados dos Sujeitos
73
Apêndice F – Protocolo Cinemetria
Protocolo de Avaliação “Cinemetria”
Atividade Realizada: Gait
Tentativa Sentido do Movimento Validade Número
Mostrado
Observação
01 Plataforma 1 Plataforma2
02 Plataforma 1 Plataforma2
03 Plataforma 1 Plataforma2
04 Plataforma 1 Plataforma2
05 Plataforma 1 Plataforma2
06 Plataforma 1 Plataforma2
07 Plataforma 1 Plataforma2
08 Plataforma 1 Plataforma2
09 Plataforma 1 Plataforma2
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