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Resiliência de paciente em tratamento ao câncer de próstataResilience of a patient under treatment for prostate cancer
Ingrid dos Santos de Almeida – ingrid_almeida95@outlook.comPriscila de Oliveira Guimarães – pri.guimaraes@live.com
Vanessa Leal Assem – waneessaa2010@hotmail.comGraduandas do Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium
Prof. Dr. José Ricardo Lopes Garcia – UniSALESIANO – jricardogarcia@uol.com.brProf. Ma. Jovira Maria Sarraceni – UniSALESIANO – jo@unisalesiano.edu.br
RESUMO
Este trabalho aborda reflexões acerca da resiliência em indivíduos adoecidos pelo câncer de próstata, envolvendo questões relacionadas ao homem contemporâneo e a sua relação com a doença. Tem por objetivo principal investigar a influência da resiliência no tratamento ao câncer de próstata e identificar as formas de enfrentamento da doença. Foi utilizado o método de pesquisa clínico-qualitativo e a psicanálise para a análise de resultados. Utilizou-se a entrevista semiestruturada com cinco pacientes, abordando questões relacionadas ao tratamento e enfrentamento de pacientes com câncer de próstata ou que tenham encerrado o tratamento em até um ano no momento da pesquisa e seu conteúdo foi gravado em áudio para a sua transcrição posteriormente. A proposta de tratamento suscita medo e ansiedade nos indivíduos diagnosticados com câncer de próstata, gerando pensamentos de finitude. Durante o processo de tratamento é comum os pacientes se sentirem invadidos e ameaçados com a possibilidade da perda da masculinidade e virilidade, visto que esse é um constructo social enraizado no homem no contemporâneo que mesmo em processo de mudanças desses ideais sociais, busca por meios próprios as formas de superar as adversidades, caracterizando dessa forma, o homem resiliente.
Palavras-chave: Câncer de próstata. Homem contemporâneo. Resiliência. Masculinidade.
ABSTRACT
This work presents observations on resilience in individuals with prostate cancer, involving issues related to contemporary man and his relationship with this disease. Its main purpose is to investigate the influence of resilience in the treatment of prostate cancer and identify ways to face this disease. The clinical-qualitative research and the psychoanalysis methods were used to analyze the results. We used the semi-structured interview with five patients, addressing issues related to the treatment and how do they deals with it or patients who ended the treatment within a year. Its content was recorded in audio for its transcription later. The treatment purpose raises fear and anxiety in individuals diagnosed with prostate cancer, generating thoughts of finitude. During the treatment process, it is common for patients to feel invaded and threatened with the possibility of loss of their masculinity and virility, since it is a social ideal rooted in the contemporary man who, even in the
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process of changing of social ideals, seeks his own ways of overcoming adversities, thus characterizing the resilient man. Key words: Prostate cancer, Contemporary man, Resilience, Masculinity
INTRODUÇÃO
Segundo o Instituto Nacional do Câncer José Alencar Gomes da Silva – INCA
(2016), o câncer de próstata é o quarto tipo de câncer mais comum. Se comparado
ao sexo masculino, é considerado o segundo mais frequente. Esses dados são
baseados na população brasileira.
O câncer é ainda uma doença estigmatizada, com viés para a finitude.
Existem várias manifestações psíquicas suscitadas diante do diagnóstico como o
medo, ansiedade, depressão, tristeza, isolamento e também o preconceito. O câncer
de próstata especificamente está associado à invasão da masculinidade e virilidade,
por se tratar de um órgão que traz representações do universo masculino e mexe
com o imaginário deste público.
O homem diante do tratamento ao câncer de próstata, sente-se angustiado
frente a possiblidade de interferência no aspectos biopsicossociais. No que se refere
no campo da sexualidade, o indivíduo tem grande preocupação relacionada à
impotência sexual, visto que esta pode ser considerada uma ameaça à concepção
de masculinidade criada socialmente.
A resiliência surge como um aspecto positivo perante o tratamento do câncer,
pois auxilia a ressignificação dos eventos traumáticos, propiciando ao indivíduo uma
melhora significativa no seu quadro, através da aceitação do diagnóstico e
tratamento. Segundo Melillo e Ojeda (2005) a resiliência torna-se um atributo da
saúde mental, promovendo subsídio e manutenção da mesma. Contribui para o
desenvolvimento da aptidão humana de enfrentamento das adversidades, saindo
delas evoluído.
O presente trabalho possui como objetivo a investigação da influência da
resiliência no tratamento ao câncer de próstata, a fim de conhecer as formas de
enfrentamento dessa adversidade. A pesquisa desenvolve-se a partir do seguinte
problema: qual a influência da resiliência no tratamento ao câncer de próstata?
O trabalho desenvolvido possui como proposta a utilização do método de
pesquisa clínico-qualitativa. Baseia-se no aprofundamento dos fenômenos
2
psíquicos, isto é, o pesquisador apreende as ansiedades e angústias para que seja
realizada uma compreensão e interpretação do conteúdo psíquico. (TURATO, 2003).
O instrumento utilizado trata-se da entrevista semiestruturada e o discurso
dos participantes foram gravados em áudio e posteriormente transcritos.
1 Câncer de próstata
Segundo Small (2005) o câncer de próstata é definido como uma doença não
epidérmica, mais frequente entre a população masculina, apresentando cerca de
200.000 novos casos a cada ano nos Estados Unidos, com aproximadamente
32.000 mortes no país. De acordo com o INCA (2017) a incidência dessa patologia é
maior em países desenvolvidos.
A próstata trata-se de um órgão da região pélvica, localizado abaixo da bexiga
urinária, passando sua dimensão por meio da área prostática da uretra. É
constituída por uma musculatura lisa, tecido fibroso e glândulas. (DANGELO;
FATTINI, 2011).
Small (2005) destaca que alguns fatores são consideráveis para o aumento
do risco do câncer de próstata, tais como o histórico familiar, idade, raça afro-
americana e fatores nutricionais.
No estágio inicial, se a doença estiver restrita apenas a próstata, grande parte
dos pacientes não possuem sintomas. Os indicativos do câncer de próstata são
observados com maior evidência na existência da neoplasia local em estado
avançado com o crescimento desordenado para outros órgãos, sendo observados
através da disfunção miccional, como a ausência de força do fluxo urinário ou fluxo
descontínuo (SMALL, 2005).
1.2 Diagnóstico e tratamento
Segundo Maia (2012) o diagnóstico precoce do câncer de próstata auxilia nos
resultados positivos ao tratamento da doença e consequentemente a cura. Porém,
isso torna-se viável através da realização do exame de toque retal, associado ao
exame de sangue antígeno prostático específico (PSA) de forma periódica,
possibilitando a diminuição de erro no diagnóstico em 8%.
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Para um diagnóstico preciso, de acordo com os sintomas apresentados, o
médico necessita fazer a junção de todas as informações sobre o processo e
histórico da doença no paciente. Os exames utilizados para constatação, incluindo a
sintomatologia, toque retal e PSA são: ultrassonografia transretal, ressonância
magnética, tomografia computadorizada, ecografia, urografia, endoscopia urinária e
biópsia. (MAIA, 2012).
Após o paciente ser diagnosticado com o câncer de próstata, é realizada a
avaliação do grau da doença. Diante dos diversos tratamentos as neoplasias
malignas são estabelecidas formas terapêuticas com o objetivo de controle
oncológico juntamente com a manutenção da qualidade de vida. (DORNAS et al,
2008).
Paiva (2008) também aponta que para definir o tipo de tratamento, é
necessário levar em conta a singularidade de cada paciente, considerado as
variáveis, idade, estadiamento do tumor, dimensões da próstata, os anseios e os
recursos técnicos que se despõe.
Crippa et al (2009) sugere que deve-se adotar tratamentos tradicionalistas ,
como o tratamento hormonal, para casos onde a expectativa de sobrevida seja
inferior a dez anos, seja pelo fator idade, ou por consequência de comorbidades.
Entretanto, quando a expectativa de sobrevida for superior a dez anos, e o paciente
tiver as condições adequadas, deve optar-se pelo tratamento curativo radical.
1.3 Aspectos psicológicos do câncer
Moscheta e Santos (2012) afirmam que o paciente diagnosticado com câncer
de próstata tem sua vida modificada nos âmbitos físicos, psíquicos e sociais. Essas
mudanças ocorrem durante o processo de enfrentamento da doença, desde o
diagnóstico, ao tratamento e a reabilitação. Vieira (2010) reforça esse pensamento
reconhecendo que o diagnóstico e o tratamento do câncer de próstata geram
grandes alterações na vida do indivíduo acometido pela doença.
No diagnóstico Moscheta e Santos (2012) afirmam ser frequente casos em
que o paciente se sinta estigmatizado, levando-se em conta o fato de que muitas
vezes a doença é associada à morte. Considera-se também o fato do câncer de
próstata acometer um órgão específico, esse responsável pelas funções sexuais
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masculinas o que pode gerar sofrimento psíquico relacionado a questões da
sexualidade.
Em relação ao tratamento são evidenciadas dificuldades resultantes de
procedimentos terapêuticos, como a prostatectomia radical, quimioterapia e
radioterapia. É comum que ao final dessas intervenções terapêuticas o indivíduo
apresente sinais físicos e psicológicos, como a diminuição da libido, impotência
sexual e incontinência urinária. (MOSCHETA E SANTOS, 2012).
Kubler-Ross (1969) define especificamente cada etapa de enfretamento da
doença terminal, a partir do diagnóstico até a morte. 1) Negação e isolamento:
Refere-se ao período inicial onde ocorre sofrimento psíquico diante do diagnóstico
sendo frequentemente identificado questionamentos de negação; 2) Raiva: É
comum observar nesse período o sentimento de revolta na busca de compreender o
motivo da doença, apresentando hostilidade com a família e cuidadores; 3)
Barganha: O paciente estabelece acordos internos como forma de aumentar sua
expectativa de vida; 4) Depressão: É a circunstância de intenso sofrimento psíquico
para o paciente e a família, pois é o momento de preparo para a morte e as
vivências de perdas em decorrência da doença. Nesse período o paciente apresenta
humor depressivo; 5) Aceitação: Os indivíduos podem apresentar aceitação de sua
vida a partir do apoio dos familiares nos estágios anteriores, nesse momento
realizam uma despedida dos entes queridos com serenidade preparando-se para o
processo da morte.
2 Resiliência
O termo resiliência é originário da física, de acordo com o dicionário Aurélio
da língua portuguesa ‘’Resiliência [do ingl. Resilience] s.f.1. Fis. Propriedade pela
qual a energia armazenada em um corpo deformado é devolvida quando cessa a
tensão causadora de uma deformação elástica’’. (FERREIRA, 1986, p.1493).
Souza e Cerveny (2006) citam que na década de 70 o termo resiliência
passou a utilizado na área da saúde, com análise de indivíduos que mesmo sendo
submetidos a eventos considerados traumáticos, propícios para o surgimento de
doenças psíquicas, não adoeciam conforme era previsto.
Grotberg (2005) define a resiliência como a ‘’Capacidade humana de
enfrentar, vencer e ser fortalecido por experiências de adversidade’’. (MELILLO;
5
OJEDA e colbs, 2005, p. 15). Segundo a autora a maior parte das demais definições
do termo resiliência é variável dessa.
2.1 Resiliência e psicanálise
A psicanálise descreve a resiliência a partir do traumatismo gerado e da
capacidade do aparelho intrapsíquico do indivíduo de criar novas condições
psíquicas como forma de enfrentamento. (CABRAL; LEVANDOWSKI, 2013).
De acordo com Ferenczi (1992) o trauma é constituído por um acontecimento
iniciado por um elemento externo, capaz de desencadear alterações no aparelho
psíquico do indivíduo, de forma desestruturante.
O trauma é originado por situações que provocam sentimentos aflitivos, como
intensas dores físicas, angústia, susto ou vergonha e está relacionado à
vulnerabilidade do indivíduo afetado. O traumatismo psíquico atua como um agente
causador da histeria, na qual pode ser desencadeada por diversos traumas e não
apenas um específico. (FREUD, 1969).
O psicanalista Cyrulnik (2004) descreve que atualmente o traumatismo é
considerado como uma ocorrência atroz, na qual impede o indivíduo de um
crescimento previsível e sadio. Segundo o autor, o indivíduo que vivenciou situações
traumáticas consegue se reestabelecer, devido aos mecanismos de defesa
interiorizados na primeira infância. De acordo com o autor a elaboração do processo
de resiliência ocorre inicialmente por meio de etapas nas quais basicamente
abrange o acolhimento e as representações do traumatismo ainda na infância, para
que posteriormente o indivíduo possa tecer a resiliência em outras situações na vida
adulta.
Na infância, as crianças que possuem um apego seguro, apresentam melhor
prognóstico de desenvolvimento e melhor resiliência, devido à construção de
recursos internos, proporcionando a construção de seu ego resiliente. A figura de
apego (pai, mãe ou cuidador do bebê) proporciona proteção, crescimento emocional
e aprendizagem. Isso só será possível caso a criança tenha um tutor da resiliência
como um continente psíquico durante os primeiros momentos de vida. (CYRULNIK,
2004)
A elaboração de um traumatismo ou a diminuição de afeto direcionado a
mesma, está relacionada à reação energética ao fato. O uso da linguagem
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proporciona o descarregamento dos afetos, como substituta da ação, resultando na
ab-reação. Ao indivíduo que não reage ou reprime uma reação, o afeto mantém-se
associado à lembrança do trauma, não proporcionando um efeito inteiramente
catártico. (FREUD, 1969).
A ab-reação, não é considerada com uma única ferramenta para o
enfrentamento de um trauma psíquico. A recordação do traumatismo, no qual não foi
ab-reagido, se aprofunda no complexo de associações, defrontando com
experiências que o contradiz, possibilitando retificar outras representações. Através
do processo de associação é possível ocasionar uma diminuição ou ausência do
afeto ligado ao trauma. (FREUD, 1969).
A psicanálise contribui muito ao escrever sobre os efeitos do traumatismo no
psíquico ao destacar a importância da fantasia (ressignificação) na origem da
angústia humana. Na clínica psicanalítica, isso ocorre por meio da ressignificação do
traumatismo e posteriormente nos impactos produzidos, também na temporalidade
representacional que constitui um período de análise como forma de enfrentar o
trauma. (CREMASCO, 2008).
2.2 Câncer de próstata e resiliência
Receber o diagnóstico do câncer e dar início ao tratamento gera grande
estresse no paciente oncológico, afetando sua qualidade de vida e repercutindo nos
âmbitos: físicos, psíquicos e também nas relações sociais. No aspecto psicológico
do bem estar global do indivíduo, alguns pacientes são acometidos pela depressão,
gerando assim um mau prognóstico. (ARMANDO, 2010).
No contexto do adoecer por câncer, indivíduos resilientes apresentam a
capacidade do enfrentamento à adversidade, de forma a encará-la como um
aprendizado e como uma nova possibilidade de viver. Para isso, utilizam
mecanismos de defesa, como proteção, assim como seus familiares, tais como a fé,
coragem, crenças pessoais, pensamento positivo e o anseio pela cura. Outros se
apoiam na confiança no médico, acolhimento recebido pelos amigos e familiares.
(RODRIGUES; POLIDORI, 2011).
Rodrigues e Polidori (2011) também afirmam que “em pacientes oncológicos,
a resiliência é definida como a capacidade de superar e ressignificar positivamente
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as situações adversas, manejando a doença e o tratamento ao longo do tempo” (p.
620).
A partir do momento que o indivíduo procura ajustar sua conduta como meio
de resposta às situações que demonstram riscos, é nessa contrapartida que a
resiliência se apresenta, indicando o risco como algo necessário, para que se
avaliem atitudes resilientes (DELL’AGLIO, 2011).
Dessa forma, a resiliência possibilita que o indivíduo tenha maior
entendimento em relação ao transcurso do adoecer e recuperação do sobrevivente
acometido pelo câncer de próstata, permitindo que o sujeito enfrente a doença de
maneira otimista e confiante, possibilitando o aumentando de sua qualidade de vida.
(PINTO, 2014).
3 O homem contemporâneo
A construção histórica do gênero masculino ocorreu de forma diferenciada do
feminino. O homem ocupava um papel de destaque, sendo possível transitar e
conviver em espaços públicos, enquanto às mulheres cabia apenas a vida privada
com funções limitadas. Entretanto, atualmente o homem contemporâneo vivência
uma fase distinta da antiguidade, com as mudanças na identidade que pode ser
considerada, para muitos, um momento de crise. Isso iniciou a partir da década de
60, em decorrência do início das reivindicações e estabelecimento de movimentos
feministas, nos quais geraram modificações do modelo patriarcal e
consequentemente alterou a identidade masculina construída historicamente.
(SILVA et al., 2007).
O novo modelo do homem contemporâneo está pautado na demonstração
dos sentimentos e não em sua contenção. Além disso, possui o direito de manifestar
suas emoções, de amar, de ser sensível e não apenas agressivo, ainda que
publicamente, e sem se envergonhar. Outra possibilidade é a de participar da
educação dos filhos, atividades domésticas e possuir renda inferior a de sua
companheira. (SILVA, 2006).
Ao homem atual, são permitidas falhas no desempenho sexual, a
passividade, a ser dominado e alternatividade nas identidades sexuais, como a
homossexualidade, bissexualidade e transexualidade. Atualmente nos deparamos
com uma nova conceituação desse homem, o metrossexual como forma de rotular o
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homem contemporâneo, no qual apresenta-se centrado e dispondo cuidados com a
saúde, estética, cuidados com a aparência física e vestimentas, entretanto sem
alterar a sua identidade, orientação sexual e masculinidade. (SILVA, 2006).
3.1 Sexualidade
Segundo Araújo (2002), a sexualidade foi, e é construída socialmente,
envolvendo impactos produzidos, na postura e ligações sociais. A prática sexual no
decorrer da história sempre foi cercada de tabus e repreensão, objetivando a
manutenção da moral dos sujeitos, fundada na ideologia social, ocasionando
mudanças sociedade.
Com as mudanças ocorridas na sociedade, a intimidade do homem sofreu
modificações, viabilizando ao homem o contato com o desconhecido, como o toque
afetivo, proximidade com os demais, troca de carinho, compreensão e amparo.
Apesar de todas as mudanças ocorridas em relação ao conceito de
masculinidade, ainda existem barreiras em relação à prevenção e cuidados a saúde
do homem, como no caso do câncer de próstata. Pois, entre as medidas preventivas
destaca-se o toque retal, no qual mexe com o imaginário masculino, visto que o
mesmo traz o medo de sentir dor, sendo ela física e simbólica. A possibilidade de
ser penetrado traz representações de invasão e violação de seu espaço e mesmo
aqueles que possuem mais acesso a informações, podem demonstrar a resistência
e constrangimento em relação ao exame. (GOMES, 2003).
3.2 O homem e a doença
Rouquayrol (2006) frisa o fato de que desde os primórdios se concebe a ideia,
dito popular, que homens são fisicamente mais fortes, em seu aspecto físico, que as
mulheres, no entanto o índice de sobrevivência é menor do que as mesmas.
Estudos comparativos entre sexos mostram que os homens possuem mais
vulnerabilidade a doenças em relação às mulheres, visto que os mesmos retardam a
busca por serviços de saúde, assim contribuindo significativamente para as altas
taxas de morbimortalidade (BRASIL, 2008).
Diniz (2008) sugere que o homem não apresenta o hábito frequentar serviços
de atenção básica, isso porque a prevenção não é incluída em seu dia-dia. A busca
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desses indivíduos se da quando já adoecidos, sendo que assim morrem mais
precocemente.
Para Meirelles e Hohl (2009) os homens não apreciam ir ao médico, com
exceção do urologista, as outras especialidades recebem maior número de mulheres
que homens. Ainda segundo os autores, o fato dos homens negligenciarem a saúde
tem haver com as raízes culturais, essa resistência pode ser atribuída ao fato de
muitas vezes ser relacionada à concepção que a doença é uma ‘’fraqueza’’ que se
contrasta com a masculinidade.
CONCLUSÃO
A partir da pesquisa, foi possível observar que o diagnóstico do paciente
oncológico é recebido com grande pesar tanto para o indivíduo quanto para a
família, pois gera grande carga de angústia, visto que o diagnóstico de câncer traz
representações de morte e finitude.
Muitas vezes, o diagnóstico do câncer de próstata é obtido tardiamente pela
resistência presente no homem em relação à prevenção e aos cuidados com a
saúde. Porém, a crise da masculinidade possibilitou mudanças significativas no
processo saúde-doença do homem, tais como a manifestação de sentimentos,
cuidados com a saúde, prevenção, cuidados estéticos, participação ativa na criação
dos filhos e dos afazeres domésticos.
Esses avanços contribuíram para o enfrentamento do tratamento, pois
desmistifica algumas concepções errôneas acerca da forma como ocorre a
terapêutica. Também contribuiu para desestigmatizar a visão de que o homem que
busca o autocuidado perde a sua masculinidade e virilidade.
O tratamento do câncer de próstata provoca sofrimentos físicos e psíquicos
para o homem. Muitos vivenciam a ansiedade, depressão, isolamento e a tristeza
em decorrência de todo o processo. Além disso, convivem com os desconfortos
físicos como a incontinência urinária, impotência sexual, enjoos, náuseas, tontura e
alopecia. Todos esses sintomas afetam a qualidade de vida do homem adoecido.
O novo cenário em que o homem está inserido foi evidenciado através da
pesquisa realizada, pois no levantamento do público alvo não houve oposições e
limitadores dos convidados a falarem sobre a temática do câncer de próstata. Isso
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reafirma a teoria discutida, em que coloca o homem como ativo frente ao processo
de mudanças, confirmando a influência positiva da resiliência nessa vivência.
A resiliência se insere nesse contexto como facilitadora da elaboração
psíquica do adoecido, proporcionando a capacidade de enfrentamento e reabilitação
frente às adversidades, contribuindo para a manutenção da qualidade de vida e na
recuperação. Os elementos resilientes encontrados nos discursos referem-se ao
apoio familiar, as crenças e a busca ou manutenção por outras atividades e
ocupações, nas quais tornam o homem ativo frente a doença.
De acordo com os resultados obtidos na pesquisa, observou-se a importância
de projetos de políticas públicas voltada para o público masculino. Oferecer aporte
para que os homens possam receber informações acerca da importância da
prevenção, isso iniciando nas unidades básicas de saúde, tendo em vista que essa é
a assistência primária que acolhe a maior parte da demanda municipal. Promover
palestras, encontros com profissionais da saúde e o público masculino, visando
sanar as dúvidas, desmistificar concepções errôneas acerca dos exames e
tratamentos.
A proposta de intervenção está voltada em facilitar o acesso à porta de
entrada aos homens nas UBS, visto que torna-se referência em tratamento aos
pacientes que utilizam os serviços, para posteriormente serem encaminhados e
orientados aos serviços especializados. Por isso, a importância de realizar
atividades educativas no serviço primário, para que a resistência masculina seja
diminuída frente ao tema que ainda gera preconceitos, favorecendo a realização dos
exames preventivos de câncer de próstata.
Ao oferecer acesso a informações sobre exames e terapêuticas, favorece a
aquisição de conhecimentos, e consequentemente diminui a ansiedade e angústia
diante de uma hipótese diagnóstica. Diante disso, ocorrerá uma abertura ao homem
para expor suas demandas para o profissional capacitado aos cuidados.
No âmbito individual, propõe-se acompanhamento psicoterápico, que
contribuirá para aquisições de meios de enfrentamento, de questões secundárias a
doença. Oferecendo espaço onde o homem ganha voz, para falar sobre sentimentos
e angústias, evitando a negação da doença, o que favorece o processo de
tratamento. Contribuindo para elaboração psíquica do processo saúde-doença.
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