Bourdieu 2

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Curso sobre Pierre BourdieuEstudo de Temas Contemporâneos

Roteiro da aula 2 de 4 - 25 de março de 2010

Prof. Dr. Fábio Fonseca de CastroFaculdade de Comunicação - UFPA

Na aula anterior vimos que a “prática” – conceito central da obra de Bourdieu, corresponde à relação entre o “campo” e o “habitus”.

Também vimos que o elemento mais comum para a estruturação dessa relação é o “capital”. Estudamos também os conceitos de

“campo” e de “habitus”.

Este slideshare é apenas o roteiro da aula. Não inclui tudo o que vimos no curso e, portanto, serve apenas como orientação geral para o seminário realizado.

Nesta segunda aula do curso nos dedicaremos a estudar o conceito de “capital” em Bourdieu.

Para fazê-lo, precisamos começar compreendendo três elementos teóricos de

fundo, as noções de “percepção ontológica”, de “conflito social” e de “ideologia”.

O 1º elemento:

Percepção ontológicaPercepção ontológica é uma noção proveniente da fenomenologia, que sugere que é necessário superar a

perspectiva metafísica, que separa os elementos da realidade em substância ou essência. Não haveria diferença concreta

entre eles, somente relação e multidimensionalidade.

Bourdieu procura construir uma perspectiva ontológica, por meio da qual compreende o

espaço social como uma realidade dinâmica e multidimensional.

– Dinâmica porque está em permanente mutação. – Multidimencional, porque se dá em múltiplos

planos

Quando comparamos as visões de Marx e de Bourdieu a respeito do processo de dominação, veremos que, sem possuir essa perspectiva ontológica, Marx via a

dominação como uma realidade absoluta, enquanto Bourdieu a interpreta

como uma dinâmica “relacional”.

O 2º elemento:

Conflito social,Conflito social, por sua vez, é uma noção que advém diretamente do pensamento marxista e que refere a relação de disputa entre

classes. Porém, há, também, uma diferença entre o pensamento marxista e Bourdieu. Para Marx, o que determina o

pertencimento a uma classe é a condição ser proprietário ou não dos meios de produção. Em Bourdieu não, porque, para ele, o capital é mais complexo, possuindo uma dimensão que não é

somente material, mas também simbólica.

Para Bourdieu, como predomina, nas relações sociais, a prática – portanto uma dinâmica pré-

reflexiva – o que há, antes, é uma situação geral de “inconsciência de classe”... Isso significa que

é impossível, para alguém, ter consciência, simplesmente, de que pertence a uma “classe

social”...

Para Bourdieu o material é simbólico e o simbólico é material.

Na prática, não há diferença entre eles.

O 3º elemento:

O terceiro elemento é a ideologiaideologia, outra noção proveniente do pensamento marxista. Bourdieu evita usar esse termo, repleto de significados divergentes.

Considera que o termo não leva em conta o processo de naturalização que domina as relações práticas.

No lugar de ideologia, Bourdieu usa a palavra illusioillusio.

Com esses três elementos teóricos em mente, podemos, mais facilmente,

compreender como Bourdieu explica o capitalcapital.

Ontologicamente falando, há muitos planos de capital superpostos. Não há como dizer que um deles – o

econômico, por exemplo – predomina sobre os demais.

Há, juntamente com ele, o capital social, o capital cultural, o capital simbólico e quantas outras formas de

capital decorrerem de uma determinada prática e constituírem valor, ontologicamente, para uma

determinada sociedade.

Cada forma de capital possui fatores diferenciados. Assim, por exemplo, no capital social esses fatores

são conferidos sob forma de prestígio, favorecimento ou cooperação. Isso em geral, porque sempre vai depender da vida prática da sociedade observada.

As pessoas, na sua estratégia social, organizam a sua carteira de capitais,m agregando apostas e

conquistas em planos superpostos.

Ilustração copiada do site Out of the Crooked Timber.

Ilustração copiada do site Conversa na Varanda.

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