Post on 07-Apr-2016
Barras do Marataoã
João Pinheiro
Barras ficou distante. Além é o [mato da anta
Foto – acervo Rosa da Cunha Barros
Quantas flores no campo. Aí, como [geme e canta
O rio no seu leito. As águas preguiçosasSão como um desferir de queixas nemerosas...
Pelas ribas, que grita! Ai, que alacres rumores
de irerês, jacanãs e martins-pescadores!
Jacarés ondulando ao sabor da correnteAcendem de onde em onde o vivo olhar [fulgente...
Do vasto mufumbal, em granidos insanos,Agitam-se a fugir assustados “ciganos”.
Inquietas a bordar estranhas silhuetas,
No saibro faiscante, esvoaçam borboletas
[Garças...
[Xexéus... Que olor! Que [límpido descante
Na velha Gameleira! E adiante... Adiante
O pequeno... Mungindo ao longo das estradas
Há reses a passear, tranquilas, descuidadas,
Longe, quase a roçar pelas nuvens [opacas.
Passam agéis, cantando, esguias [curicacas...
Raro um muriciseiro, os braços retorcidos
Sacode em angustura, em súplices gemidos.,
Baixo, tagarelando, às soltas, nos [moitiços,
Debicam periquitos frutos outoniços.
Ovelha a balir... O “agreste” [pardacento
É um vasto tapiz de ônix e [ouro poento.
Arapongas... Tetéus Em rápidas [carreiras,
Esguicham seriemas, as vozes altaneiras.
Timoratas, alçando os vôos trepidantes,Elevam-se inambus rumorosas, aflantes.
E o pequeno... Que sonho! As palmas [sacudindoFreme o buritizal... E o brejo. Ah, como [é lindo!
A linfa, a acachoar em [murmúria cascata,
Lembra um veio de pura e [liquefeita prata.
Roças...
[Canaviais...
O carro... Dois a dois,
Eis, surge, a grande roda encangada dos bois.
JOÃO PINHEIRO• Nasceu em Barras do
Marataoã, em 1877. Faleceu no Rio de
Janeiro –GB, em 1946, quando se encontrava
a passeio na então capital do País. Poeta, contista, historiador e
crítico literário do Chão de Estrelas da História de Barras.
Coligido da Antologia dos Poetas Piauienses, de Wílson Carvalho Gonçalves, Teresina-PI, 2006.