ÁVIDA ESPINGARDA -...

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ÁVIDA ESPINGARDA

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Infothes Informação e Tesauro

P682 Pietroforte, Antonio Vicente Seraphim, Org.Ávida espingarda. / Organização de Antonio Vicente Seraphim Pietroforte. – São Paulo: Annablume, 2009. (Coleção [e] Editorial – Feito nas Letras, 1).132 p.ISBN 978-85-7419-941-21. Literatura Brasileira. 2. Poesia. 3. Antologia. I. Título. II. Série. III. Renata Taño. IV. Eduardo Vilar. V. Ellen Maria. VI. Gustavo Vinagre Alves. VII. Juliana Amato. VIII. Ana Cristina Joaquim. IX. Monique Prevedel. X. Ivan Antunes

CDU 869.0(81)CDD 890

Catalogação elaborada por Wanda Lucia Schmidt – CRB-8-1922

ÁVIDA ESPINGARDA1ª edição: Agosto de 2009

A Coleção FEITO NAS LETRAS é coordenada porAntonio Vicente S. Pietroforte

PaginaçãoAline Pires Luz

CapaVanderley Mendonça

Ilustração da CapaThais Arcangelo Toledo

[e] editorial ØAntonio Vicente S. Pietroforte

Eva Batlickova Gustavo Bernardo Ivan Antunes

José Roberto Barreto Vanderley Mendonça

[e] editorialé uma publicação da

ANNABLUME editora . comunicação Rua Martins, 300 . Butantã

05511-000 . São Paulo . SP . Brasil Tel. e Fax. (011) 3812-6764 – Televendas 3031-1754

www.annablume.com.br

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ANTONIO VICENTE SERAPHIM PIETROFORTE

Organizador

ÁVIDA ESPINGARDARenata Taño, Eduardo Vilar, Ellen MariaGustavo Vinagre Alves, Juliana Amato

Ana Cristina Joaquim,Monique Prevedel, Ivan Antunes

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PALAVRA DE ORGANIZADOR

Antes de tudo, a decisão de organizar uma antologia de poe -tas estudantes de Letras é subjetiva. Fiz porque sim, mas quisfazer para colocar, à disposição do público leitor de poesia, aexpressão dada a ela por estudantes com formação acadêmicanessa área. Longe de ser a única a contribuir para isso, nossaantologia está inserida em um sistema de textos e discursos for-mado por outras publicações, como revistas literárias, jornaisestudantis, livros de produção independente, etc.

Quem pratica literatura na cidade de São Paulo, verifica quehá centros de concentração desse tipo de atividade. Há a Casadas Rosas, que oferece cursos e promove saraus; há debates e ofi -cinas literárias na Biblioteca Alceu Amoroso Lima e na Livrariada Vila; há, entre os muitos saraus da periferia, o da Cooperifae o sarau do Bar do Binho; há o grêmio literário da Faculdadede Direito São Francisco. Como alguns alunos e professores decursos superiores de Letras freqüentam esses lugares, e tambémfazem literatura, seja prosa, seja poesia, tive vontade de produziruma coleção que, entre outras publicações, que já existem, fosseporta voz do modo de escrever desse tipo de profissional.

Esse primeiro volume da coleção Feito nas Letras é umaantologia de poesia; escolhi os poemas e os poetas entre meusalunos de graduação dos cursos de Letras, da Faculdade deFilosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de SãoPaulo.

Certo dia, em meados de 2008, perguntei nas minhas salas deaula quem escrevia poesia e recebi textos de alguns alunos. Dessemodo, descobri os poemas da Renata Taño, do Eduardo Vilar eda Monique Prevedel. Em seguida, fui ao encontro de algunsalunos, cujos poemas havia lido antes – a Ellen Maria e o Gus -tavo Vinagre Alves há tempos me mostravam contos e poesias, oGustavo, inclusive, participa da M(ai)s – Antologia SadoMaso -

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quis ta da literatura brasileira, organizada por mim e pelo GlaucoMattoso em 2008. Dele também veio o contato com a JulianaAmato; foi o Gustavo quem me apresentou seus poemas.

Quando, no final de 2008, fiz o prefácio da antologia SantoLargo Treze, li a poesia do Ivan Antunes e resolvi convidá-lo aparticipar. O Ivan é um velho amigo, há algum tempo acom-panho seu trabalho como estudante e ativista da literatura nobairro de Santo Amaro. Por último, minha querida amigaNatália Guirado sugeriu que eu visitasse o blog da Ana CristinaJoaquim, que, depois de resistir um pouco, resolveu publicarseus poemas no livro.

Para concluir, quero agradecer a esses oito poetas o voto deconfiança, e dar minha palavra de organizador de que vale apena divulgar, com mais intensidade, a literatura que vem daacademia.

ANTONIO VICENTE SERAPHIM PIETROFORTE nasceu em 1964, na cidadede São Paulo. Formado em Português e Lingüística, é professor Livre Docente emSemiótica pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade deSão Paulo, onde leciona desde 2002 no Departamento de Lingüística. Na áreaacadêmica, é autor dos livros Semiótica visual – os percursos do olhar (1ª ed 2004, 2ªed 2007, Contexto); Análise do texto visual – a construção da imagem (1ª ed 2007,2ª ed 2008, Contexto); Tópicos de semiótica – modelos teóricos e aplicações (2008,Annablume). É autor de Amsterdã SM (romance, 2007, DIX), O retrato do artistaenquanto foge (poesias, 2007, Dix), Pápeis convulsos (contos, 2008, Dix), Palavraquase muro (poesias, 2008, Demônio Negro), Concretos e delirantes (poesia, 2008,Demônio Negro), Irmão Noite, irmã Lua (romance, 2008, Dix). Junto com Glauco Mattoso, organizou a antologia M(ai)S – antologiaSadoMasoquista da Literatura Brasileira (2008, Dix); participa, ao lado de MarceloMontenegro, Delmo Montenegro, Marcelo Sahea, Paulo Scott, Caco Pontes, ThiagoPonce de Moraes e Luís Venegas da coletânea Fomes de formas (poesia, 2008,Demônio Negro); participa, ao lado de Ademir Assunção e Carlos Carah, do livro Amusa chapada (poesias, 2008, Demônio Negro).

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IMAGINAR-SE OUTRO, PELA SAUDADE

Lilian Jacoto

Isso que escrevi como título é um apontamento que fiz quan-do li, pela primeira vez, esta antologia. Aconteceu-me uma von-tade de mostrar estes textos aos amigos, aos colegas de vida, poe-sia e boêmia: tão a ver este com Fulano, outro ali com Beltrana...Tão a ver com o que já vivemos na talvez melhor idade, quandotudo se sente à flor da pele e à flor da letra: quando a poesia chegafácil à língua, aos ouvidos... Façamos, então, como Ellen Maria,um brinde “À melhor idade da vida. Aos presentes.”

Um brinde também ao organizador da coletânea, o AntônioVicente, meu amigo dos tempos da graduação (de vida, boêmia epoesia), quando ele era tão ou ainda mais irreverente e doce doque é hoje. Brindemos, Antônio, ao privilégio de podermos estarainda junto aos alunos, e sempre...

Este volume de experiências-poema rabisca, no entanto, o per - fil de uma geração distinta do que era a minha: mais livre e solta,tão aberta ao devir – “gosto da janela aberta e do vazio imperma -nente” (citando, de novo, a Ellen Maria); com uma cer ta aceitaçãoda tristeza sem drama, mas também mais confusa, difusa nas pul-sões – é mais ou menos o que confessa o verso de Renata Taño(“não sei como se ama”) mas que procura, nessa ignorância que éde todos os poetas, “dar à vida uma resposta à altura”.

Predomina nos poemas uma oralidade solta, mas que não es -correga para o murmúrio, antes dota de beleza a fala emocionada,ébria e vagabunda: “minhas palavras não tem nenhuma nenhumpermeio”, já avisa Eduardo Vilar, autor do belo poema “Ma resia”.E há também sonetos, haikais, grafismos – formas várias de con-verter a dor (no sentido genérico que essa palavra tem, como emPessoa) em beleza e ficção. No haikai “Ocupado”, o mesmo Vilardá uma receita minimalista para superar os finais de semestre:“quando tudo passar/eu passo pra poesia”.

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Merecem também destaque os poemas “Aniversário”, em queMonique Prevedel faz lembrar o interseccionismo, no cruzamen-to de paisagens; o “morador de rua”, de Ivan Antunes, com seujogo/luta/dança construído apenas de cachaça, faca e pedra; e ogenial soneto “Culinário” de Gustavo Vinagre Alves, de fazer inve-ja à face obscena de Bocage.

A leveza é, por sinal, também uma constante nesse perfil maro-to, muito por conta do humor que a poesia não consente a qual-quer um. Enquanto Ellen Maria cria um eu-lírico que de clara,singelamente, “vivo aos puns / comendo feijão”, Ana Cris tina Joa -quim arremata seu poema assim: “E o macaquinho que tanto gos-tou de fumar haxixi / Hare Shiva, vixi...”. Mas também garanteleveza ao texto o prazer construído na própria edificação poética,já catártica – é o caso do metapoema “Alívio”, de MoniquePrevedel, que rima a chegada ao sentido (“aliviante transparên-cia”) com o ato de “tirar os sapatos, com urgência”.

Da mesma forma o erotismo, tema incontornável, que percorreo livro em diferentes tons, com “alternações de chama e cinza”(Ellen Maria), não escapa ao tratamento predominantemente ma -roto, como nos versos de Juliana Amato – “Minhas mãos são páli -das / As suas são muitas”–, ou na devassidão de Gustavo Vina greAlves, pelo sujeito que declara “A vontade de dizer eu te amo, massomos vagabundos demais para isso”.

Pra pedir a saideira, e já meio embriagada com toda essa maro-tice poética, quero brindar ao conjunto da obra, pela apresentaçãodos poetas em ciclos de aproximadamente dez textos para cadaautor – o que permite conhecê-los razoavelmente, ou ao menosque tracem, cada um, seu perfil autoral.

Este livro merece ser conhecido pelos pares, alunos daFaculdade de Letras da USP, mas também circular lá fora, paraque alguns nomes que aqui estão cresçam e apareçam, e um dia,quem sabe, me concedam um autógrafo. Será que eles vão se lem-brar da gente, Antônio?

LILIAN JACOTO é professora do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da FFLCH – USP.

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ÁVIDA ESPINGARDA

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A OBSCURIDADE DA FLOR

RENATA TAÑO

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RENATA TAÑO nasceu em São Paulo, no ano de 1986. Estudou naEscola Waldorf, de São Paulo, lugar propício para o desenvolvimento dascriatividades e habilidades artísticas. É bailarina e investigadora de Fla -men co e cultura latina. Cursa letras (Português – Espanhol) na FFLCH eleciona espanhol.

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Que imenso mareio sinto...

perfume da flor noturna!

o vento me toca o dorso

por que ninguém se lembra como se deslizam as mãos sobre esse corpo?

somente vento e carinho

esquecimento das minhas intenções...

há uma caixa dourada guardada debaixo da árvore.

agora tenho a noite os bêbados soltos no chão, algumas vezes, perdida, escuto a voz do poeta, que me traz as notas,a sinfonia sem nome ou lugar, somente o perfume da flor.

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É necessário úteropernas que sejam fortes,ou que assim se tornem com o tempoquase uma possessão

dar o que há de darporque é mais que mulher.quase a aparição do selvagem.

ter mais notas que a música frenética,mais fôlego, mais energiaperpassar cada veia, cada artéria dar à vida uma resposta à altura

do útero,do inclassificáveldo indefinível

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Grito com as palavras grito a tinta talho meu desespero na folha

grito com angústias para fazer tremer os olhos sem música sem som sem harmonia para cavar um silêncio

grito com os pés, os ossos, o corpo grito com as notas com os braços, à exaustão

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Há um aviso certeiroindicador dos limitespropício ao reconhecimento

os muros crescem sozinhosao redor do jardimo clima torna-se ameno e vegetativo

a explosão da sementeimpõe a humanidade do corpoas sensações se tornam intensas e desconexas

amadurece o grãoo desprendimento da não gestação nos desloca a olhar

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Como na roleta russaeu me preparopara a buleria

um duelo?

emaranhada nos doze temposse esbarrar no compassocaio

se embaralho passo

esticar o verso para o cantador

não rodo naquela caixinha de músicaé picardia e astúcia

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La muerte del gusano?

o gusanito caiu da árvore e, pensando estar em seu habitat, carregou suas listras em direção à rua

a lesma a lesma a lesma a lesma a lesma a lesma

observo o deslocar do molenga

a pressa não espera os carros com seus pneumáticos surgiram ferozes

a lesma lesma lesma a les ma les ma les ma

os sulcos da borracha confundiram-se com as listras da lesma. o viscoso líquido verde manchou o asfalto manchou minha dignidade me manchou os lábios com gosto de sebo de ranço de consentimento de egoísmo

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Lembro de coisas soltas... o homem tinha uma galinha em uma sacola. dizia coisas da vida, a vida tão particular e ao mesmo tempo tão igual a outras vidas de homens assim, como ele. era um fruto de minha terra, aquecia o coração, ao mesmo tempo, o sol adormecia o corpo.

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Eu, definitivamente, não sei amar você. dói, explode, alucina nem sei como se ama.

cinzas, no dia do enterro as pretas eu deixo para os dias sem escrúpulos.

menos qualquer coisa que me mantenha perto.

só quando te vejo dormir. só para correr e esquecer.

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Em minhas veias abertashá mais que caminhos, que mapas,países extirpados,incas vítimas de flecha.

há línguasque não cabem no mesmo verso.rimas que não casam,povos que se exilam.

filhos órfãos do latimdissidentes da pangéia.

cumprimentarão os gatos?pedirão desculpas ao mendigo?

minha motonetanão precisa gasolina.

fronteira...palavra estranha. soa como tiro de metralha.rasga a carne,enviesavasavasa

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Agora sim:ballet russo,vinho espumantecamarón y fitosete vezes ao dia.

agora sim:pálpebras molhadascuíca vaziarazão que não explicao que se passara.

agora sim: agora sim:um racho um talhono riacho no tecidoroxo todo.

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BARBA, CABELO E VENTO

EDUARDO VILAR

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EDUARDO VILAR nasceu em Santos, no ano de 1988. Eduardo come -çou a escrever poesia aos 18 anos em um blog, quase como terapia. Depoisde um tempo percebeu que já não dava para largar o que já havia se tor-nado mais que um hábito. Cursa Letras na USP há pouco mais de umano. Sabe que ainda tem muito o que descobrir sobre literatura e que opouco que conhece é muito fascinante. (eduardo.vilar@usp.br)

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eu andei deixando a barba crescer...tava sem fazer nada em casa, na vida,nesses tempos em que eu andei deixando a barba crescer...saí de casa pra fazer o que tinha que fazere esqueci o guarda-chuva de propósito .acho que a chuva me faz bem.tinha resolvido tomar uma cerveja,já estava de barba mesmo...cerveja me faz lembrar dela... de uma música...eu sei que tudo isso é meio egocêntrico, autobiográfico,poético,só porque eu botei em versossó porque eu saí de casaassim, mais bonitopra poder pensar melhor como ela é bonita,e como eu ficava bonito assim, ao lado dela.

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PRETO E BRANCO

inspirado no filme Stranger Than Paradise

meu cabelo cresce e eu só o corto não há muito o que fazer

tudo além desta poesia é nada e tudo vai bem

não havia monstros nos fundos da casa

não há muito o diferente da gente nem de tudo isso

tudo é distração a vida é um ir e vir do zíper da braguilha

todo lugar é tudo igual um paraíso

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nada está acontecendo exceto duas coisas ou uma

nós não temos dinheiro é uma questão de sorte

tudo é solto e tudo é espaço até que nos apertemos por laços frouxos

não há nada demais e tudo isso, bem, é tudo

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Ô ISADORA

preste atenção sem perdão de palavrabem lhe quero integrada de meu desejo por inteirominhas palavras não tem nenhuma nenhum permeio

eu tenho muito apreço pela sua apariçãopor todo um seu passeado consciente que eu saudável

fica doenteeu abro o guarda-chuva mesmo que não chova a sua

companhiaô Isadora

o tom da tua voz tem o doce tem a tua vozconstitui a própria fruta da tua bocaárvore frutífera que me fere muitoô Isadora

te quero e me entregoo meu apego pela mãotu me deixa todo bicho afora riso afloraô Isadora!

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MARESIA

mirando os montesde um ponto, não sei de ondeme vem as saudades dos horizontesque nós dividíamos na ponta do caismomentos feito haikaise sentimentos que não sei mais

a paz da Serra cresceno meio do dilemanos entrecortandomeu mar, oceanolínguas e lábios sãoondas e rochas seentrecruzando

a ti, meu afagode você, descasode milênios, ondulandoaté quando? vocêe eu, oceanosociando

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BONS TEMPOS

Uma vezquebrei a cara feio.De um tombo sótorci o pulso,esfolei o joelho.Um tremendo susto.

Daí eu me disse:“já sei o que vou ser”.Decidi ser triste,e para isso não precisavaesperar crescer.

Triste, fui assimpor alguns minutos longos,completos e azuis minutos...

Mas a vida é toda pintada de uma corque não dá pra dizer.Arrombando o meu coraçãoinvadiram-me sentimentos mil.Minha tristeza tão apreciadafoi se fazendo em pedaços, desbotando...Eu me debatia, queria resistir,mas não pude, por algum motivotinha de ser assim.

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Entrei num estranho e alegre lutoe vivi o tempo de um dia como pude.Depois, nem liguei muito.

Agora, as lembrançasdaquela velha tristezame vêm apenas nos dias de finados,quando relembro aqueles bons tempose me sinto nostálgico.

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HAIKAIS

passos pela ruaas nuvens escondemparte da lua

mil traços na sombrade meus passos – da paredemeu eco me assombra

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vento nos carvalhosescolhas: perdem-se as folhasmas ficam os galhos

seguindo entre os carrosuma sacola era plumavácuo e ventos... calmos

róseo orienterente ao horizonte – osol por trás dos montes

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OCUPADO

quando tudo passareu passo pra poesia

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TORPEDO SMS(Save My Soul)

ELLEN MARIA

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ELLEN MARIA tem 22 anos, é estudante do quarto ano de letrasPortuguês/Espanhol, seu primeiro livro foi escrito aos onze anos e conta ahistória de um gato e uma banana que eram primos (nunca foi e nuncaserá publicado), participou das antologias Vide Verso, Retratos Urbanos,Sentido Inverso e Palavras Veladas, todos pela editora Andross, escreve noblog http://ritepramim.zip.net e não quer parar por aí.

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UM BRINDE

Aos fins de rolês intermináveis. À frigideira com tampa.À cantora talentosa e tatuada. Aos sambas.À vitória de goleada. À segunda divisão.Aos sites de downloads inesgotáveis. À inspiração.

Aos celulares pós-pagos. À família que te adora.Aos dicionários. À melhor hora.À missão dos revolucionários. Aos abraços dados sem esforço.Aos casacos doados. Aos beijos todos.

Aos almoços na bandeja. Aos encontros inesperados.À timidez esquecida. Aos amigos encalhados.À melhor idade da vida. Aos presentes.À primeira cerveja. Aos ausentes.

À coluna sem dor. Ao sexo selvagem.Ao salário na conta. À incrível viagem.À tecnologia de ponta. À lembrança do carnaval.À promessa de amor. À pílula anticoncepcional.

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POIÉSIS

vivo aos puns comendo feijão

poesia, te escrevia:flor!

semana passa sexta-feiracu cheio

peidos pelo ar

breja num bar da augustabreja no bar de casamaconha na sacada

eu te amo, você desaparece em seguidaum pouco de glicose para não vomitar

necessidade louca & neuróticaquerendo sexo silenciosopolisipoum anal para não acordarquem dorme no sofá

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que seja doce – repetem os dragõesamor líquido sólido pastosoalternações de chama e cinza

subir a calcinhasujaguardar o pintosujo

peidos pelo ar

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FORMATO MÍNIMO

(Canção para Pedro)

– Se a vida é um bailepor que não me concedes

outra dança?

– Reino de ontemcoberto de Cinzas pisado a chinelas

feneceu.

– Se a vida é docepor que não me tornas

uma diabética?

– A flecha lançadao gozo derramadoa palavra pronunciada

já foi.

– Ainda acredito em algo.

– Tudo apodrece antes da morte.

– Um romance de veludo...

– Acabou-se no frio.

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PICO NA VEIA

Falei pra eles que não tenho medo de nadaCobra, eu jogo no matoRato, acho um baratoBarata, ataco e matoDrogado, eu bato um papoEscuro, eu aproveitoDoença, eu soco o peitoSolidão, eu dou um jeitoLadrão, eu nem suspeitoAltura, eu acho graçaMangüaça, com tempo passaFantasma, a gente enlaçaSogra, a vista embaçaTubarão, eu me sustentoNa velhice, me aposentoFuracão, pra mim é ventoCasamento, eu só lamento

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CONDIÇÃO MENOR IGUAL A DOIS

Meu grilo é maior que o seusossego, Carolina,como pode ter tanta certeza de que é certo e eternose eu quase acho que amar é erradoque viver é um acidente?Convença-me de que estou equivocada.

Meu sorriso é maior que o seu,Carolina,porque você me esperava enquanto eu não imaginavaa sua existênciavocê só me procurava enquanto eu achavaque o que eu achava era o melhor que me podia aparecer.Grande surpresa eu tive.

Seu calor é maior que a minha dúvida, CarolinaSua pele branca, arma brancasua e me faz suar.Assim você acaba comigo.

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Sua arquitetura é tão precisa quanto a minhaliteratura, Carolinavocê diz que eu completo o teu avessocom meu verso, eu duvidoEsse nosso caso não rasoainda vai me tirar da métrica.

Seu kung fu não é maior que a minhayoga, CarolinaMinha vata, pitta e kapha não competemcom seu karma.Não me sobra nada contigo.

Meu medo é maior que o seudesejo, Carolinaolhares tortuosos me torturam.Não sei não sentir falta do que tinhaeu posso ter me precipitado.

Sua cobertura é maior que a minhaabertura, Carolinatalvez eu me arrependa dessa sentença,mas não nasci convicta para constância.Gosto da janela aberta e do vazio impermanente.

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a noite desaba espalhando pelo céu seu manto negro furadinho

o jantar acaba saciando nossa fome poética errante perfeita

minha vista embaçatudo agora tem mais graça minha vida está completa

o lençol se espalha esquentando teu sangueo teu corpo ao meu ladinho

de repente fez-se a calma estou ligado a tua almacom a chegada do silêncio vou ficando quietinha quietinha

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em uma manhã mornaminha branda amantecom medo da broncame abandonou.

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TORPEDO SMS(Save My Soul)

é bom me acostumar, a vida é cruelprojeto Luxúria é o lugaresticamos em algum motel

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POR NOCAUTE

Me pediam para tirar o lixo, eu não tirava. Rogavam socorro na cozinha, eu fingia que não ouvia. De birra, minha cama não arrumava. Queria ficar sozinha.Nada de companhia.

Foi nessa época, que perdi a minha sombra, lembra?Nem ela me aturava. Um caso perdido, minha mãe dizia. Você precisa melhorar seus modos. E eu ouvia? Nada.

Se vinha visita em casa, eu me escondia. Se mesmo assim, me achavam, não cumprimentava. Beijo no rosto então, idéia negada. Um terror de menina. Vai virar um adulto-problema. Terapia não ajuda esporte tampouco adianta.

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BÉLLE-ÉPOQUE

Nasci depois que Foucault morreudepois de duas guerrasdepois do Titanicdepois da quebra de 29.

Não vi o Santos de ouro dos anos 70a festa livre de Woodstocko calhambeque de Robertoa vassourinha do presidente Jânio.

Perdi a queda do Império Romanoa pedra na cruz de Cristoa conquista dos muçulmanosa maçã de Isaac Newton.

Não fui analisada por Freuddisputada por Tróiaqueimada na fogueiramusa grega ou Monalisa.

Não cavalguei o cavalo de D. PedroNão passeei com sofistas iludidosNão estudei evolução em GalápagosNão festejei Tiradentes morto esquartejado.Só li nos livros.

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ÁVIDA ESPINGARDA

GUSTAVO VINAGRE ALVES

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GUSTAVO VINAGRE é carioca naturalizado paulistano, ariano com as -cendente em áries, e faz graduação em Letras na USP. Atualmente, traba -lha em seu primeiro livro de poemas “Marfim Cariado” e em um do cu -men tário sobre uma banda sapatão. É diretor do curta-metragem Pé ro las.Adora Woody Allen e quer ter um gato Sphynx – aquele sem pêlos – parachamar de Sindri. Mantém o blog www.marfimcariado.blo gspot .com.

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soldado, cabeça, capacetedireita – pega ávida espingardaesquerda – sacode seu cacete

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que saudade de ser negro,de quando eu era negro e forte,de quando minhas coxas mal cabiam na mesma cadeira,eu esbanjava eu.mal cabia em mim...respirava e parecia faltar ar para os outros,o tronco infla, o peito estufa,mais belo que o David.narinas soberbas eu tinha,lábios suntuosos como meus palácios.vinham me dar de comer frutas exóticas tão comuns,era tão preto, que acreditava o sangue ser azul.quando me vestia, era de branco. de resto, andava nu.meus braços eram grandes, fortes, capazes de enlaçar

duas, três...meu sexo tomava conta do saguão.aquilo era a concretude do eu,aquilo é que eram batidas de coração, que se ouviam

por quilômetros.aquilo sim era existir.que saudade...

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bigode roçandoem cima da bocao meu e o seu

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AMORCIDADE

É querer o desconhecer com tanta veemência –celular vibra, é ele de voz misteriosa.Desconhecido a tela diz, coração reverbera...

Espera, fala pouco, marca um encontro e fala pouco,cada dia grão de areia conhecê-lo, sê elo,sê parecido, sê eu, seu! e se tu fores forever

me amarei em você, digo, me amarrei em você,gato! Vem sempre aqui? Você quer falar de mim, hein?Aí você diz: que nem eu, que nem eu, que nem eu...

Conversando, sem tua voz, no escuro barulhentoda balada preenShiiiio! silêncio com o que ouvir queria, ria, ria, ria...espero que da minha piadinha.

Pedi um trago, depois de um mês veio a nossa trégua.Medi-me à régua – arre Ego! – já era conhecido,Passou a ex-conhecido. Celular desligado.

Conhecer: você é díspare. Cissiparidade.Sem par, sem idade, a cidade é um mar de possíveis mistérios, lençóis, silêncios, vazios, ...

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ANTROPOFAGIA

Para Glauco Mattoso

Sobre antropofagia sempre lembra,ao falar dos modernos – Tão legais...Também de tribos, velhos canibais,que na janta, matar era um emblema.

Isso, pra todo mundo, hoje, é problema.São poemas modernos, ancestraisHumano no cardápio, não, jamaisMas pro cu vou mandar o estratagema

de literal maneira, inteiro enguloo pé, sem drama ou dor, do Abaporuno punho dum negão feliz eu pulo

É antropANALfagia. Ai, ai, uh!digo verso ao peidar, com muito orgulhocomo homem, bem melhor, se pelo cu.

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GO – LINGUAGEM EM JAPONÊS

Quando de fogo-tentáculos aspalavras se esticarem (em vão)(ou não) e tudo for dito, linguagem

o que por dizer faltará? Se suaschinesas muralhas erguer-se-ãoideogramáticas ou não, folhagens

frondosas floridas e anti-escassasdepois de já ter dito ex-caças de jeit`outros, que faltará cassar?

Quando a nomear não houver mais coisase o tudo virar o nada inaudito–inaudigo, o que, o que direis?

Dirás do nada como os esquimóse suas dezenas de branco deneve e o nada aos poucos de nu

ances, tal qual um ancestral, que aprendea falar, revestir-se-á, com osnovos vocábulos recém-formados

que designam o tudo que saiu do nada, que é o tudo esgotado–dito, que é o nada nomeado-repleto.

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FREEDOM

aparecer é uma luta, parede.o peixe, na rede, pula; surra.a voz, substrato último na geologia da rua, fina.a criança cala quando o pai ralha.

a parede cai.a surra desmantela a rede.a rua ainda é, de madrugada.o pai morre do coração.

não sem luta.não sem surra.não sem noite.não sem morte.

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CULINÁRIO

Molho branco, requeijão, maionese:é sabido que o creme não compensa.Branco e mole me causa a mais imensarepulsa: chantilly ou cream cheese.

Marshmallow é dos poucos que apetecem.Nojo, asco, ojeriza: É ofensacomer, sem engolir, estando à mesa.Na boca, ostra aturo, mas não desce.

Maior pecado é não engolir porra,melhor manjar que existe, meu pudim.Salgada, doce, amarga, grito “orra”,

é sempre bom o jato, nunca ruim,pela boca, de sêmen, quando esporra.“Goza na minha cara, goza, sim?”

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Cada amor tem uma sintaxea boca encaixa diferente, como uma palavra se encaixa diferenteem outra palavra.

Cada amor tem um sentir-se. Há o que já foi aprendido,mas que precisa ser readaptado, nunca desaprendido.

É como falar.É contínuo, mas as gírias mudam.É linguagem, mas em outra língua.

De início, tenta aplicar o repertório daquele amante no novo: em parte, criam-se ruídos – atritos de corpos

meio desconhecidosem parte, dá certo... Reciclagem positiva de caso antigo.

Até que um amor novinho vai surgindo, único, sozinho...Comunicação. Comum ação a dois.Amar é um idioleto intransferível entre duas pessoas.

Falar de amor sempre é discutir linguagem.

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AMORDOSE

Cigarro, erva, coca –sinto todos esses sabores em sua boca

Por isso,

gosto de você.

Não existe ranço de guarda-chuva,quando nossas salivas viciadas se encontram.

Seu sabor impera, base de todos os outros, de encontro ao meu.

Dormimos apertados para ver se passa.

Nem dormimos e nem passa.

Seu olho revira branco enquanto cochila por dois minutos.

A vontade é dizer eu te amo, mas somos vagabundos demais para isso.

Eu te amo é overdose certeira.

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MEDÉIA QUER CACHAÇA

JULIANA AMATO

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JULIANA AMATO nasceu em São Paulo, em 1987, com o sol em Câncer,a Lua em Áries e ascendente em Virgem. Faz graduação em Letras na USPsem saber muito bem o porquê. Tem poemas publicados no Tablóide CaféLiterário e no Jornal da Praça, da praça Benedito Calixto. Sem saber muitobem o porquê atuou, ao lado de Gustavo Vinagre, no curta-metragem Pé -ro las, exibido no festival Mix Brasil e agora em diversos festivais interna-cionais. Em parceria com a artista plástica Natália Lemos, criou o blog 3x2em Vladivostok, que está no ar, um pouco desatualizado. Risos. Há um anomantém o blog Medéia quer Cachaça (http://julianamato.blo gspot. co m) eesse anda firme.

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ritual diáriode auto-flageloe delírioelaera

elanunca vestia azultalvez issosignifiquealguma coisa

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EXPERIMENTO 1

uma dor daqui e outrade lá. o passado, quelá habita, passado quehabitaqui. daqui, a partir daqui o futuro. não.futuro tão-sem-futuro apartir de agora tão sem a

r. uma dor daqui fruto dofrio daqui fruto da falta delá. falta lá. Medéia, me dá.diz o que é lá, o que tem ese. o que não tem e diz oque me vem. assim, oracularmente. calma e vemdizer o que tem além de

lá.

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um despertadorum relógiode pontoou qualquer outra coisamacabrae insuportavelmentesevera

poderia muito bem, eu,ser bedel de escola,legislador,ou qualquer outra coisade sobrancelhasconstantementetensas

apesar de combatertodo o externoque assim se apresente

apesar dequerer sergaivota

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despertar teia depois do sonho-águavocê tem pés lindos, diziae a lama, meu bem, e a lama?você precisa parar de ser tão auto-destrutivaassim: A U T O D E S T R U T I V A.

os olhos secam e não há mais distinçãode tempos

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eles poderiam – muito bemser Mickey & Mallorymasa vontade de ficar deitados na cama o dia todo inibe a vontadede matar

(aí o filósofo diz que é o amor o oposto da morte, e não a vidamas isso não importa,não agora)

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as cicatrizes estão aí. Abertasà mostrafrágil égua-filhote– à noite envelheceu 9

Sim, cigarro entre os dedosvocê. on the rocks:Agora tenho 35

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Singela, as luvas brancasNosso sobrado, nosso sobradoNo Ouvidor enquanto dorme o Barão

Minhas mãos são pálidasAs suas são muitas

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início – guerraamplitude 17 grause, senhores, orgulhem-sedela abandonada no altar

faca na barriga como rasgo para cima

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FIM ACONTECEM:

A CIDADECONTINUACIDADE

OS OLHOS NÃOSECARAM NÃO

PARARAM DEPISCAR

...

HOJE INVERNA

LIBERTAÇÃO É O CONTRÁRIO

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EXTERNA

sol, muitoela saltandodo ônibusem movimento

corta

internaela escrevendoa despedida

corta

ela no parquee ele, e elameio assim, meiomeios

close

cartas de umamãopara a outra

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corta

ela:– a destemida, aqui,(batendo no peito)sempre teve pavorde examede sangue

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VAGAS E ERÓTICAS

ANA CRISTINA JOAQUIM

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ANA CRISTINA JOAQUIM é paulistana e catanduvense e, por isso, seusotaque é um pouco caipira. Não sabe ao certo quando nasceu e se afinamuito bem com pessoas de 8, 9 anos, e também com gente muito velha(o que dificulta ainda mais uma sondagem em torno da sua idade). Nãotem nenhuma publicação anterior e tampouco consciência do que faz poraqui. Quando não está jogando conversa pra fora ou dormindo horas afio, é estudante de letras e de filosofia. Ela acha que as duas coisas sãopraticamente uma coisa só, e que, se bobear, a ciência também é essa mes -ma coisa. Passa muito tempo pensando sobre isso.

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QUINTA-FEIRA DOZE

nem sequer respirou pois, como se sabe.até canta em voz alta, resolveu.os olhos palpitantes e a pupila:(virados para dentro puderam ver quando uma luzinha-furta-cor atingiu bem a boca do estômago)de modo que.assim não pôde. DECIDIU.já não sabe mas se.nem quando ou.embora dizia que “certamente”: exclamava

(há dois dias apenas)

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PRELÚDIO

Andou pensandoDe que maneira e se háO momento preciso (e, já, duas vezes sóbria esta semana):Me bastaQuanto? (...uma vez mais seria suficiente ou nenhuma)Não seiNada disso(A pensar sofrida na tarde-sexta-feira-frouxa: pela última vez).

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VOCÊ

e esse maldito mecanismo de desconstruçãodistraída?rebelde.sim traída do sim. assimilaçãopedra de toque do entendimento,entediada, entretidaMENTEsubdesi subtaMENTE

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DE SER TÃO IDÉIAS

Você tinha olhos abertos olhos estateladosTinha olhos como quem olha uma jacae era meio a meio mulher e era meio a meio (meio) homempois não podíamosfranzinha como quem olha uma jaca estateladadebaixo e por todos os lados de mime sob meu travesseiro olhava como quem olha estateladaseus olhosvocê tinha olhosvocê via uma jacae então pensamos e tínhamos medode ser jaca de ser tão estateladas (logo nós, ambas)que era eu só eu era sozinhae debaixo de mim por mim que idéias essasessas de você que tinha.

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LARANJAS

era lá no mundo encantamento(e mais essa agora)soube como simplesmente se sabe(como se já não bastasse)– essas sabedorias que me poupem –e o tormento me pergunto aquele de saberpor haver descoberto o acordo que se fazentre o vermelho e o amarelo(pensava quando disseram – ainda por cima! –

que havia nuances)porque, bem, aquela história de jacas estateladase o resto que sempre ainda estaria por vir(éramos quentes)

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SUJA

E eu, assim, TÃO. Desamparada, né?! Às vezes agente fica...

Condenada a sentir o cheiroda primavera ENCHARCADAJogo sujo, São PedroSujo! Primavera imunda vazando pelos bueirosE eu, logo hoje...Tão herege

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ERA ASSIM:

um pé na frente do outro.e odores.CORESo pé: os dois, ESCANCARADAE o macaquinho que tanto gostou de fumar haxixiHare Shiva, vixi...

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A ROSA DO MEU JARDIM

(...) se me falarem de rosas não me falem de rosas–falem-me da espinhosa arte de ser rosa (...)

Herberto Helder

A rosa se chama assim. A Rosa é murcha. A Rosa temsessenta e poucos. MUITOS.(só vinte e dois nos peitinhos).A Rosa é sodomita. A Rosa é assassina. A Rosa é ladrona (sic). Ela é traficante. A Rosa tem três maridos: dois deles jazem. Um no xadrez.A Rosa é o demônio em carne-e-osso ela me disse.Essa rosa tem muitos espinhos. Que ferem de morte (MORTE). O Primeiro foi: veneno de rato NA SOPA (dele). A Rosa é um anjo que veio para nos salvar eu lhe disse.A Rosa é uma rosa.O perfume da Rosa à exaustão.A Rosa tem um caralho grande GRANDE. A Rosa anda de salto fino.A Rosa tem os pés inchados.

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Ela tem varizes.A Rosa é uma boa pessoa ela disse eu não sou não você não fez por mal eu disse a Rosa fez por amor.

POR AMOR.A Rosa tem olhos quase brancos. A Rosa tem a pupila dilatada. A Rosa mexe a língua e parece cobra: jararaca. A Rosa é o demônio eu pensei ela disse

eu sou o demônio.O CAPETA.O CARAMUNHÃO.O PAZUZU.Agente precisa da Rosa. Agente sente saudades da Rosa. ROSA.

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UMAS E OUTRAS

Eram elas. Eram duas. De frente de costas de lado de quatro: Eram todas.

As noites. Os dias. As duas. Às quatro. Do dia da noite. E se olhavam.Ora diziam quando calavam.Calabouço de bocas – calaboucas: vermelhas lilases

e frias caladas.De si para si. “De modo que fica tudo entre nós”. DUAS.

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O FODEDOR

Às tortas, você me diz sempreDiz-que-sim-diz-que-nãoMe confunde-e-funde: me fode pesarosoPesar rançosamente. E fluido: funde-fodeCala-a-boca e dedo em riste: me fode!

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POTES DE TEMPO

MONIQUE PREVEDEL

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MONIQUE PREVEDEL SOUZA, na verdade Monique Sueli da SilvaSouza, não sabe o que é e provavelmente não poderá saber. É Prevedel,mas na verdade não é. É uma paulista Ítalo-portuga-brasileira canhota eescorpiana. Encontra nos gatos e nos pequenos fatos do cotidiano suamaior fonte de inspiração. Trabalhou com jornalismo musical na revistaCover Baixo e ganhou o primeiro lugar no concurso de poesia de seu colé-gio, na primeira série. Preocupa-se com o meio ambiente e preza pela qual-idade de vida, mesmo que o sono e os doces sejam sua perdição. Es pec -tadora assídua de jogos de videogame, pode ser jornalista, escritora, pro-fessora, poetisa, redatora, tecladista, modelo e também jogadora de fute-bol, às vezes. Se acha um paradoxo, mas ela não tem certeza de nada disso.Dedica seus poemas aos diversos fatores que lhe ficaram: das vivências, dosamores, dos gatos, dos professores, pessoas quentes e também o contrário.

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ALÍVIO

Ai que estas palavras,Quando adquirem sentidoEntre o suor de rimas lavradasE a dor de um sentimento transmitidoDão-me, de repente, a aliviante transparênciaComo o tirar dos sapatos,

com urgência.

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AMOR DEDICADO

Os amores estão como fumaçasque invadem o ambiente das outras, impregnam no cheiro, na roupa e no cabelo de quem

passa por elas.Provocam a atenção de incomodar.

Quem dera os amores de hojefossem tão determinados aficar comuma pessoaaté ela banhar-se.

Duraria mais do que a dedicação dos oferecidos a amar...

E seria teimoso. Deixar-seia levarcom o ventomais forte.

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ANIVERSÁRIO

É um dia como outro qualquer, só que mais triste.

Comemorava minhas primaverasquando em mim era outono

E as folhas caíam.

Sol lá fora, mas as nuvens carregadas do corpo, da almanão se deixavam levar.

Era uma escolha: ou poema ou lágrimas

Até que a natureza, por compaixãodeu-me como presente chuva em gotas fartas.

Eu escolhi o poemae a natureza, lágrimas.

20/11/05 – 1:10 am

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SOL: CÉU SEM LUZ

As mágoas da vidafizeram-me aurora.E de você, pedra.

Gumes opondo-se,mas fisicamente, não.Corpo, Carne, Clímaxxtase.

Da janela gradeada vi um arco-írisLevantei-me.Palavras faiscadas,Iguais aos olharesDisfarcei.Muito tarde.

O Sol fechara-seNão enxerguei a minha candidez no espelho,Pois já não queria olhar os olhos postos.

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O AMOR NÃO EVOLUI

No começo, instintoAh, e depois também!Mas não tão físico, sucintoe sim o bem querer de alguém.

Era o macho e a fêmea, de fatoPassou a homem e mulher entãomas é só outro jeito, o mesmo atoagora precisam primeiro dar as mãos.

Segue cego e sem lógicaÀs vezes, o tempo torna afime a distância dá mais mágica.

Ele-ela e vice-versa, sempre assimO amor não evolui; sem glóriajá a possui quando supõe não ter fim.

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AOS SINISTROS

Ora! Dizem quando algo é bem feitoque alguém o fez com destrezase cometem erros‘não fizeram direito’assim como estes mesmosacordam com ocorrespondente pé de seu leito.

Qual não é a belezade ver a ponta da canetaà frente da mão esquerda!

Abre caminho, enlaceiasim, a linha torta e perneta!

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FALTA SUA RIMA

Ainda na camacom o sol já na cara,o coração reclamaa sua falta disparaNo peito nu.

Coceiras no corpo denunciam,entre a colorida coberta,a falta que seus beijos faziamna boca entreabertaO lábio cru.

Inspirações, venham!Assim, preto-no-brancoE, para você, meus poemas contenhama expressão do encantoDum negro anu.

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INSPIRAÇÃO

Um amor bom mesmo, de cortesiaDaquele com suspiro de explosãoSem terapia, recíproco e do beijo bom que arrepiaBoa poesia acho que esse não gera não.

Maravilha é um amor em que os amantes velam-se,de antemãoem moedas-sintaxescom paixão recém-cambiadas...

Largam as frases e metáforas em demasiaPassam para o passado do futuro que fariam,o imperfeito indicando o que antes faziam,só para viver o presente do futuro que farão.Faremos.

Um amor que gera algo digno de poema e melodiaSem suores, desilusão ou banho de água fria,Não existe, não está ou deixouRecado dizendo que já se foi.

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A NOSSA INTERROGAÇÃO

para Gustavo “Hi”

O razoar desarrazoado de respostas – sim, não, talvezTalvez sim, talvez não.E se será sempre uma certeza.

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FAZER E PAGAR

Tantas dívidas ignorantesIgnoradasEu numa dúvida impotenteMe nomeio: Dividida no MeioIgnoreiDisfarcei,Paguei, – não em espécieCom a punição mais que devidaSofri de verdade.A Vida virou dádiva.

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TECO TELECO TECO

IVAN ANTUNES

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IVAN ANTUNES. O poeta que mais falta em saraus nasceu em SãoPaulo no ano de 1984 na região do Largo 13 de Maio, Santo Amaro; porlá já nasceu vendendo plano de saúde, posteriormente fazendo poesia.Aliena-se com a conclusão do curso de Letras (Português/ Lingüística) ecom o Corinthians. Foi um dos idealizadores e organizadores do Sarauê!(Sarau da Faculdade de Letras/USP). Auxiliou na organização das ediçõesda FLAP (Festa Literária Aberta ao Público). Tem textos publicados nolivro do I Festival de Literatura da Faculdade de Letras – USP (Dix,2006); Antologia Vacamarela (2007); II Festival de Letras da USP(Humanitas, 2008); Revista Áporo (2008/2009) e na Antologia SantoLargo 13 (Dix,2008). Coordenou o projeto “As 13 visões do Largo 13 deMaio” premiado pelo VAI em 2008; ex-funcionário público, ex-estagiáriodo Paço Cultural Júlio Guerra (Casa Amarela), atual coordenador de pro-dução editorial da editora Annablume e quer ainda retomar a tentativa desomar positivamente para a educação brasileira. É o ganhador do IIIFestival de Literatura da Faculdade de Letras – USP (2009). Vai ver que éa pedra no teu sapato, vai ver que é a corda do coração, enquanto tiverforça, pulsa. www.otatubola.blogspot.com

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MORADOR DE RUA

eu tomo cachaça e brigo com a facaeu tomo a faca e brigo com a cachaçaeu cachaça na faca e brigo no tomoeu tomo na briga e faca na cachaçaeu dou uma pedrada e danço com cachaçaeu dou com a cachaça e danço com a pedradaeu pedrada na cachaça e dou com dançoeu dou na briga e cachaça na pedrada

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LARGO TREZE DE MAIO

leva capa do celularleva dvd barato quatro meu é umgelada coca geladagelada brahma geladaamendoim do he-mancome o meu aqui faz nenémvem o carro do pão doce tem pão de creme de côcotem pão de creme de milhoatestado de saúdefaço dez o atestadofaço exame de vista, dentistaolha ótica ótica ótica tiaeu compro: ourodólar euro ouro

bom dia senhor!posso falar um minuto?posso te ajudar um minuto?posso te assaltar um minuto?posso te surrar um minuto?posso te matar um minuto?cheguei hoje afim de vendasó não quero é caroçohoje faço promoção

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vendo aqui a banca inteiraolha o cafezim com leite(amendoim do japonês)é caldo de cana do bacanatapioca toda doceo carro do pão doce vai passaré o queijo das minas do mineirotem saúde tem plano de saúdeultrassom faz na hora senhora?chega cá gato, namora, amá, rola? brincá de fazê fiô?é dez: garanto a diversão.amai-vos sempre uns aos outroscontribua sempre teu reinofoge dos pecados da carnea lê l uia l uia

“— VEM RÁPA”vai paupolíciasem papo

fim da sinfoniapopular

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NÁUFRAGO DE SÃO VICENTE

por barracas armadas na praça do povocomilanças de acarajé da tia baianacom pimenta da mistura das meninasno sorriso malandro do trombadabuscando trombar com sereiasde algum canto maravilhosoou por sobre o trio-elétrico de espumas carnavalescasestático num quiosque de sol e luaum convencimento tentado ao som de marchasavante por cima por mãos por baixono ouvido um sorrisodo mar brisa de uma noite

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PAIXÃO A TI ATARI

a do lar do lado de lásó pensa em bisbilhotara tela do televisor ao ver a possibilidadede jogar o come-comebusca um joystick poderosoe debruça na janelapra trepar no telhadoe na voltaamassa o toldo pra chegar no varale ver o mirrado musculosodo pinto pequenochacoalha o corpotira-roupa-põeinventa tarefa novarebolosaescova todo chãobisbilhota a silhueta masculinasem camisaaperta os seus botõessem trocar de cartuchointerage toda todapra fazer o tal joguinho

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MURO

os carros passandono muro eu mijando

o galo cantandono muro eu mijando

depois de um anono muro eu mijando

mulata sambandoos carros passandoo galo cantandono muro eu mijando

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FALTA DE INSISTÊNCIA

para o Cléston e para os desamores dos amigos meus

o folião na sala puxa cadeira bate o papo e bate a mão nopeito da foliona esbarrada boa por sem não sei querer.a foliona arruma o jeito de ficar na modavontade é de dar suspirada pelo foliãomasinventa prosa . não sei.inventa um charrrme . não sei.joga o cabelo. não sei.sorri por cima. não sei.olha pro auto não sabeque rebola e macaqueia com não sei por todo ladoe irrita até não sei quem.resolve pelo dietético de não sei o quê.faz pinta de modelofaz cara de boneca, mas não sabe e fala nada.toda charme. não sei.toda farsa do que sabetoda insistência naufragadao folião sai da sala pela puta mais próxima.

dia seguinte pensamento por cima da foliona:– desiste fácil fácil...

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BALÉ

entre sapatilhas de bronzeacomodavam-se fios de lãcadarçosmisturados as pernaspermaneciamcabos de açocom aquela vontadede dançar

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UM MINUTO

o breuo fogoo breuo vôoo br euo psil ên ciosó o psil ên ciosóo estranhoo fire ouve o fire ouve o fireo céu ne gr oo br a sil negr ocancela sonh o ouve o fire otapa da chuva o bote suicida do pilot oa pir a ex plo did ada vida realsente a dora sente a dósó sentemais nada

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TECO TELECO TECO

o motor telecotecavao odor batia forte com as janelas fechadascigarroo queimado das engrenagens pouco lubrificadasentorpecia o arde barulhonão sabia do que se tratavasó sentia o ranger do ferro no ferrodo osso no bancodo tranco do trepidar da engrenagemquente no trânsitoda travada e tarada marginala misturada fumaçade gente do motor do carroda gente parecia não parar

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MOTIVO

sem motepermaneçosempoemaao pédo ouvidouma me acessavários me cansamalguns me aquecemnão me esquecemarrumo milhões de idéiasbolo trilhões de planosum único motivoa motivouminha estadia na terra não terminagermina semente trepadeira parede a cima

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S U M Á R I O

APRESENTAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 05PREFÁCIO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 07

RENATA TAÑOA obscuridade da flor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 11

– Que imenso mareio sinto... . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 13– É necessário útero . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 14– Grito com as palavras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 15– Há um aviso certeiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 16– Como na roleta russa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 17– La muerte del gusano? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 18– Lembro de coisas soltas... . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 19– Eu, definitivamente, não sei amar você . . . . . . . Pág. 20– Em minhas veias abertas . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 21– Agora sim: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 22

EDUARDO VILARBarba, cabelo e vento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 23

– eu andei deixando a barba crescer... . . . . . . . . . . Pág. 25– Preto e Branco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 26– Ô Isadora . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 28– Maresia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 29– Bons tempos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 30– Haikais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 32– Ocupado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 34

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ELLEN MARIATorpedo SMS (Save My Soul) . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 35

– Um brinde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 37– Poiésis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 38– Formato Mínimo (Canção para Pedro) . . . . . . . Pág. 40– Pico na Veia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 41– Condição menor igual a dois . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 42– a noite desaba. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 44– em uma manhã morna. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 45– Torpedo SMS (Save My Soul) . . . . . . . . . . . . . . Pág. 46– Por nocaute . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 47– Belle-Époque . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 48

GUSTAVO VINAGRE ALVESÁvida Espingarda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 49

– soldado, cabeça, capacete . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 51– que saudade de ser negro . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 52– bigode roçando . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 53– Amorcidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 54– Antropofagia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 55– Go – linguagem, em japonês . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 56– Freedom. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 57– Culinário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 58– cada amor tem uma sintaxe . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 59– Amordose. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 60

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JULIANA AMATOMedéia quer cachaça . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 61

– ritual diário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 63– Experimento 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 64– um despertador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 65– despertar teia depois do sonho-água . . . . . . . . . . Pág. 66– eles poderiam – muito bem . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 67– as cicatrizes estão aí. Abertas . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 68– Singela, as luvas brancas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 69– início – guerra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 70– Fim acontecem. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 71– Externa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 72

ANA CRISTINA JOAQUIMVagas e eróticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 75

– Quinta-feira doze . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 77– Prelúdio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 78– Você . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 79– De ser tão idéias. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 80– Laranjas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 81– Suja . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 82– Era assim:. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 83– A Rosa do meu jardim . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 84– Umas e outras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 86– O fodedor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 87

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MONIQUE PREVEDELPotes de tempo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 089

– Alívio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 091– Amor dedicado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 092– Aniversário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 093– Sol: céu sem luz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 094– O amor não evolui . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 095– Aos sinistros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 096– Falta sua rima . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 097– Inspiração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 098– A nossa interrogação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 099– Fazer e pagar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 100

IVAN ANTUNESTeco Teleco Teco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 101

– Morador de rua . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 103– Largo Treze de Maio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 104– Náufrago de São Vicente . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 106– Paixão a ti atari . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 107– Muro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 108– Falta de Insistência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 109– Balé . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 110– Um minuto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 111– Teco teleco teco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 112– Motivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 113

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